PARÓQUIAS DE NISA
Sábado, 03 de abril de 2021
Sábado Santo
LITURGIA
SÁBADO SANTO
Roxo.
Ofício próprio.
* Hoje, antes da Vigília Pascal, a sagrada comunhão só pode ser levada como
Viático.
* Na Diocese de Mindelo (Cabo Verde) – Aniversário da Ordenação episcopal de D.
Ildo Augusto dos Santos Lopes Fortes (2011).
* As Completas são omitidas por aqueles que participam na Vigília Pascal.
MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA:
1. Leitura: - Lê, respeita, situa o
que lês.
- Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste
2.
Meditação: - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.
- Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua
vida” 2020.11.28
3. Oração: - Louva o Senhor,
suplica, escuta.
- Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.
LEITURAS:
AGENDA DO DIA
14.00 horas: Funeral em
Nisa
14.45 horas: Momento de
oração no Lar de Arez.
_______
Horários da Vigília
Pascal:
22.00 horas: Vigília
Pascal em Nisa
22.00 horas: Vigília
Pascal em Alpalhão
22.00 horas: Vigília
Pascal em Tolosa
A VOZ DO PASTOR:
QUE VOS PARECE?.... ELE NÃO VIRÁ À FESTA?
Face ao que ia
acontecendo, o diz-que-diz aumentava. As reuniões entre os senhores dos
diversos poderes multiplicavam-se. Os conhecedores da psicologia das multidões
manipulavam o povo. A unanimidade política apontava o crime: “se o deixarmos
continuar assim, todos acreditarão nele”. Dito e feito, para manterem o seu
rame-rame subserviente e a sua posição privilegiada, “decidiram matar Jesus”. E
os que já passeavam pelo recinto da festa perguntavam-se curiosos: ‘Que vos
parece? Ele não virá à festa?”.
Sim, Jesus foi à
festa. Ele começou a sua vida pública numa festa, nas Bodas de Caná. Também a
vai terminar numa festa, a da Páscoa. Mas não é próprio da festa transmitir e
cultivar sentimentos de alegria e amizade? Pois é, mas não foi o caso. Costuma
apresentar-se três forças como indispensáveis para que o homem sinta defendidas
a sua vida e a sua honra. São elas a força da amizade, a força da justiça e a
força da compaixão ou piedade. Quando estas virtudes desaparecem do convívio
social, nem sequer a santidade é respeitada. E Jesus foi traído por todas elas
e mais algumas! Todos preferiram salvaguardar a sua “grandeza”, a sua
autoridade, o seu prestígio em reles subserviência ou dominados pelo medo e
cobardia.
A AMIZADE EVAPOROU-SE. Jesus Cristo
foi traído pela amizade, sim. A amizade provoca a união dos homens e leva a
auxiliarem-se mutuamente nos trabalhos da vida. Este sentimento que nos une, a
amizade, tem as suas leis, leis que ela não pode abandonar sem se trair a si
própria. É próprio da amizade proteger aquele a quem se dedica, defender o
amigo, não abandonar, não negar, não vender, não atraiçoar, evitar tudo aquilo
que se possa confundir com indiferença. É próprio da amizade ser reconhecida
como valor e valor essencial. No entanto, os discípulos foram indiferentes à
dor e à preocupação do Amigo. Jesus, perturbado, sentiu necessidade de presença
e apoio em momentos tão trágicos da sua vida: “A minha alma está numa tristeza
de morte, ficai aqui e vigiai comigo”. O Evangelista Lucas, que era médico e
sabia o que era a hematidrose, diz que “o seu suor se tornou como gotas de
sangue, que caiam no chão”. Jesus sua sangue e reza... Eles dormem… Judas foi
procurar a quem vender e entregar Jesus por uma gorjeta e com um beijo… É a
amizade convertida em indiferença e ódio, em brutalidade e ingratidão. Os
outros abandonam o Mestre, todos fogem. Jesus vai sozinho para a casa de Anás.
Pedro, meio sorrateiro e a curtir o medo à distância, ao aproximar-se mais um
pouco, nega o Mestre: “Uma das criadas olhou-o de frente e disse-lhe: ‘tu
também estava com Jesus o Nazareno’. Mas ele negou: ‘Não sei nem entendo o que
dizes’. A criada, vendo-o de novo, começou a dizer aos presentes: ‘este é um
deles’. Mas ele negou segunda vez. Pouco depois, os presentes diziam também a
Pedro: ‘Na verdade, tu és deles, pois também és galileu’. Mas ele começou a
dizer imprecações e a jurar: ‘Não conheço esse homem de quem falais”.
Abandonar, renegar o amigo, é doloroso e triste. Vender, entregar o amigo aos
próprios inimigos é a maior das infâmias! Tal como outrora, quantas vezes os
amigos de hoje se convertem nos inimigos de amanhã!
A JUSTIÇA PREFERIU
BARRABÁS. Se faltou a amizade, esperava-se que a justiça salvaguardasse a vida
e a honra de Jesus, a sua inocência. Pode o juiz não ser amigo do réu, mas tem
a obrigação de o julgar segundo o direito e as leis vigentes. Mas Jesus, se
traído pela amizade dos seus, foi também traído pela própria justiça. As
irregularidades praticadas contra Jesus no Sinédrio são mais que muitas. Há
irregularidade no júri constituído, todos são suspeitos, pois eram inimigos de
Cristo, fariseus fanáticos, escribas orgulhosos, juízes e acusadores ao mesmo
tempo. Há irregularidades no andamento dum processo onde “procuravam um
testemunho contra Jesus para lhe dar a morte, mas não o encontravam”. Não há
ninguém que o defenda, são todos acusadores, todos. Os depoimentos são de
falsas testemunhas que nem sequer concordam nas afirmações: “Muitos
testemunhavam falsamente contra Ele, mas os seus depoimentos não eram concordes”.
Deturpam as palavras de Jesus acerca do templo do seu corpo. O próprio Caifás
transforma-se em acusador, mente, afirma que Jesus “blasfemou” ao dizer-se o
Messias, o Filho de Deus. No Tribunal de Herodes, é tratado como um louco e
objeto de troça. No Pretório de Pilatos, aparece igualmente injustiçado.
Pilatos impõe-se e faz-se valer com a linguagem deste mundo: “não sabes que
tenho poder para te libertar e te crucificar?”. «Não respondes nada? Vê de
quantas coisas Te acusam». Mas Jesus nada responde, não vale a pena.
Pressionado pelo povo, Pilatos, tenta uma última chance. Valendo-se de uma
tradição que havia pela festa da Páscoa, de ele ou o povo ter o direito de
escolher a liberdade de algum preso, manda buscar um condenado tido como ladrão
e assassino e pergunta ao povo quem quer que lhe solte: Jesus ou Barrabás. O
povo, manipulado pelos populistas, prefere Barrabás, Barrabás foi solto.
Pilatos, forte com os fracos ali representados em Jesus, é subserviente, tem
medo do imperador romano, tem medo das autoridades judaicas, tem medo da
multidão, tem medo da sua própria consciência que o massacra a dizer-lhe que
Jesus é justo e inocente: “Eu não encontro n’Ele nenhum motivo de condenação”.
A própria esposa lhe havia dito: “Não te intrometas no caso desse justo, porque
hoje sofri muito em sonhos por causa dele” (Mt 27,19). No entanto, mais
importante é assegurar os seus próprios interesses. Jesus é condenado à morte,
ridicularizado, flagelado, coroado de espinhos e carregado com a cruz até ao
alto do Calvário. Aí, é pregado na cruz e morre. Como alguém afirma e se
constata, Jesus nunca se descontrola, nunca recua, nunca exerce resistência,
mantém-se sempre sereno e digno, enfrentando o seu destino. Pilatos dá-se conta
dessa coerência de Jesus, mas permanece dividido entre um sentimento de justiça
e a necessidade de satisfazer a multidão e os seus cabecilhas. A justiça não
funcionou.
A COMPAIXÃO TAMBÉM
FOI NEGADA. Faltou, pois, a amizade e a justiça a defender a inocência de
Jesus. Esperar-se-ia que, ao menos, surgisse a compaixão, a piedade, esse
sentimento que leva a ter pena de quem sofre, a respeitar a sua honra e
dignidade. O último refúgio da inocência é a compaixão que a inocência sempre é
capaz de inspirar. Quem se não comove perante os sofrimentos alheios? E quem se
não comove perante os sofrimentos infringidos a um inocente? Com Jesus Cristo
não há compaixão. Algumas mulheres choram impotentes, é verdade. Um homem,
talvez obrigado, ajuda-o a levar a cruz, sim, também é verdade. Mas são muito
poucos aqueles que o seguem até ao Calvário. Os outros não manifestam qualquer
gesto de compaixão. Vede a atitude dos criados dos pontífices, no Sinédrio:
“alguns começaram a cuspir-lhe, a tapar-lhe o rosto com um véu e a dar-Lhe
punhadas, dizendo: ‘advinha’ quem te bateu. E os guardas davam-lhe bofetadas”.
Reparai na atitude dos soldados de Roma aquando da flagelação e da coroação de
espinhos: “Os soldados entrançaram uma coroa com espinhos e colocaram-na na
cabeça de Jesus. Vestiram Jesus com um manto vermelho. Aproximavam-se d’Ele e
diziam: “Salve, rei dos judeus!”. E davam-lhe bofetadas. Vede a reação do povo
quando Pilatos lhe apresenta Cristo sem saber o que lhe havia de fazer:
“Crucifica-o!”. “Crucifica-o!”. Olhai os fariseus, também no Calvário, cheios
de ódio, desafiando-o a que descesse da cruz: “Tu que destruías o templo e o
reedificavas em três dias, salva-Te a Ti mesmo e desce da cruz”. Também os
príncipes dos sacerdotes e os escribas troçavam uns com os outros, dizendo:
‘Salvou os outros e não pode salvar-se a si mesmo! Esse Messias, o rei de
Israel, desça agora da cruz, para nós vermos e acreditarmos’. Até os que
estavam crucificados com Ele o injuriavam”. Tendo perdido “toda a aparência de
um ser humano”, ali está “sem distinção nem beleza para atrair o nosso olhar,
nem aspeto agradável que possa cativar-nos. Desprezado e repelido pelos homens,
homem de dores, acostumado ao sofrimento, era como aquele de quem se desvia o
rosto, pessoa desprezível e sem valor para nós”. Até a própria natureza se
torna mais triste.
Contemplar
a cruz significa assumir a mesma atitude que Jesus assumiu e solidarizar-se com
aqueles que são crucificados neste mundo por causas tão mesquinhas ou sem
qualquer valor. Aprendamos com Jesus a entregar a vida por amor, numa dinâmica
que a morte não pode vencer, porque o amor gera vida nova e faz-nos entrar nos
dinamismos da ressurreição. Na cruz vemos todas as dimensões da nossa vida. A
cruz não é um símbolo, é uma realidade bem concreta.
Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 02-04-2021.
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