PARÓQUIAS
DE NISA
Sexta, 30 de novembro de 2018
Sexta da XXXIV semana do tempo comum
Ofício: II
semana
SEXTA-FEIRA da semana XXXIV
S. André, Apóstolo – FESTA
Vermelho – Ofício da festa. Te Deum.
Missa própria, Glória, pf. dos Apóstolos.
L 1 Rom 10, 9-18; Sal 18 A, 2-3. 4-5
Ev Mt 4, 18-22
* Proibidas as Missas de defuntos, excepto a exequial.
* Na Diocese de Beja – Aniversário da entrada solene de D. José João dos Santos
Marcos.
S. ANDRÉ, Apóstolo
Nota
Histórica
André,
natural de Betsaida, foi primeiramente discípulo de João Baptista e depois
seguiu a Cristo, a quem apresentou também seu irmão Pedro. Juntamente com
Filipe introduziu à presença de Jesus uns gentios que O queriam ver, e foi ele
também que indicou o rapaz que tinha os peixes e o pão. Segundo uma tradição,
depois do Pentecostes pregou em diversas regiões e foi crucificado na Acaia.
MISSA
ANTÍFONA
DE ENTRADA cf. Mt 4,
18-19
Caminhando Jesus junto ao mar da Galileia,
viu dois irmãos, Pedro e André, e chamou-os, dizendo:
Vinde comigo; farei de vós pescadores de homens.
Diz-se o Glória.
ORAÇÃO COLECTA
Nós Vos suplicamos, Deus omnipotente,
que, assim como o apóstolo Santo André
foi na terra pregador do Evangelho e pastor da vossa Igreja,
seja também no Céu poderoso intercessor junto de Vós.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I Rom 10, 9-18
«A fé vem da pregação
e a pregação é o anúncio da palavra de Cristo»
Leitura da
Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
Irmãos:
Se confessares com a tua boca que Jesus é o Senhor
e se acreditares em teu coração
que Deus O ressuscitou dos mortos,
serás salvo.
Pois com o coração se acredita para obter a justiça
e com a boca se professa a fé para alcançar a salvação.
Na verdade, a Escritura diz:
«Todo aquele que acreditar no Senhor
não será confundido».
Não há diferença entre judeu e grego:
todos têm o mesmo Senhor,
rico para com todos os que O invocam.
Portanto, todo aquele que invocar o nome do Senhor
será salvo.
Mas como hão-de invocar Aquele em quem não acreditam?
E como hão-de acreditar n’Aquele de quem não ouviram falar?
E como hão-de ouvir falar, se não houver quem lhes pregue?
E como hão-de pregar, se não forem enviados?
Está escrito:
«Como são formosos os pés dos que anunciam o Evangelho!».
Mas nem todos obedecem ao Evangelho,
como Isaías diz:
«Senhor, quem acreditou na nossa pregação?».
A fé, portanto, vem da pregação
e a pregação é o anúncio da palavra de Cristo.
Mas pergunto: Não a teriam ouvido?
Ao contrário, como diz a Escritura:
«A sua voz ressoou por toda a terra
e as suas palavras até aos confins do mundo».
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Salmo 18 A (19 A), 2-3.4-5 (R. 5a)
Refrão: A sua mensagem ressoou por toda a terra.
Os céus proclamam a glória de Deus
e o firmamento anuncia a obra das suas mãos.
O dia transmite ao outro esta mensagem
e a noite a dá a conhecer à outra noite.
Não são palavras nem linguagem,
cujo sentido se não perceba.
O seu eco ressoou por toda a terra
e a sua notícia até aos confins do mundo.
ALELUIA Mt 4, 19
Refrão: Aleluia. Repete-se
Vinde comigo, diz o Senhor,
e farei de vós pescadores de homens. Refrão
EVANGELHO Mt 4, 18-22
«Eles deixaram logo as redes e seguiram Jesus»
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Caminhando Jesus ao longo do mar da Galileia,
viu dois irmãos:
Simão, chamado Pedro, e seu irmão André,
que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores.
Disse-lhes Jesus:
«Vinde e segui-Me
e farei de vós pescadores de homens».
Eles deixaram logo as redes e seguiram-n’O.
Um pouco mais adiante, viu outros dois irmãos:
Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João,
que estavam no barco, na companhia de seu pai Zebedeu,
a consertar as redes.
Jesus chamou-os
e eles, deixando o barco e o pai, seguiram-n’O.
Palavra da salvação.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Aceitai, Deus omnipotente,
com estes dons que Vos apresentamos
na festa de Santo André,
a humilde oferta de nós mesmos
e transformai-os para nós em fonte de vida.
Por Nosso Senhor.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO cf. Jo 1, 41-42
Disse André a Simão Pedro, seu irmão:
Encontrámos o Messias, que é Cristo.
E André levou-o a Jesus.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Fortalecei-nos, Senhor, pela comunhão do vosso sacramento,
para que, a exemplo do apóstolo Santo André,
trazendo sempre em nós os sofrimentos da paixão de Cristo,
mereçamos viver com Ele na glória celeste.
Por Nosso Senhor.
«A vida está cheia de
alegrias, mas é preciso ter arte para as saber ver»
ORAÇÃO BÍBLICA
Reza a PALAVRA do
dia
1. Leitura: Lê, respeita,
situa o que lês
- Detém-te no conteúdo de fé e da
passagem que leste
2. Meditação: Interioriza, dialoga, atualiza o que leste
- Deixa que a passagem da Palavra
de Deus que leste “leia a tua vida”
3. Oração: Louva o Senhor, suplica, escuta
- Dirige-te a Deus que te falou
através da Sua Palavra
LEITURA:
________________________
LEITURA DO EVANGELHO:
MEDITAÇÃO:
ORAÇÃO: Ajuda-nos, Senhor, a gostar de nós mesmos, simplesmente
porque tu nos amas.
AGENDA
18.00 horas: Missa em
Alpalhão
18.00 horas: Missa em
Nisa.
A VOZ DO PASTOR
XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos
Roma, 3-28 de outubro de 2018
Os jovens, a fé e o discernimento vocacional
DOCUMENTO FINAL
INTRODUÇÃO
O acontecimento sinodal que vivemos
1. «Derramarei o meu Espírito sobre toda
a criatura. Os vossos filhos e as vossas filhas hão de profetizar; os vossos
jovens terão visões, e os vossos velhos terão sonhos» (At 2,17; cf. Jl 3,1).
Foi a experiência que fizemos neste Sínodo[1],
caminhando juntos e pondo-nos à escuta da voz do Espírito. Ele maravilhou-nos
com a riqueza dos seus dons, cumulou-nos com a sua coragem e a sua força para
levar ao mundo a esperança.
Caminhámos juntos, com o sucessor de
Pedro, que nos confirmou na fé e nos fortaleceu no entusiasmo da missão. Mesmo provindo
de contextos muito diferentes do ponto de vista cultural e eclesial, sentimos
desde o início uma sintonia espiritual, um desejo de diálogo e uma verdadeira
empatia. Trabalhámos juntos, partilhando aquilo que nos vinha ao coração,
comunicando as nossas preocupações, não escondendo as nossas dificuldades.
Muito participantes criaram em nós comoção e compaixão evangélica: sentimo-nos
um só corpo, que sofre e se alegra. Queremos partilhar com todos a experiência
de graça que vivemos e transmitir às nossas Igrejas e ao mundo inteiro a
alegria do Evangelho.
A presença dos jovens assinalou uma
novidade: por meio deles ressoou no Sínodo a voz de toda uma geração.
Caminhando com eles, peregrinos ao túmulo de Pedro, experimentámos que a
proximidade cria as condições para que a Igreja seja espaço de diálogo e
testemunho de fraternidade que fascina. A força desta experiência supera
qualquer fadiga e fraqueza. O Senhor continua a repetir-nos: «Não temais, Eu
estou convosco.»
O processo de preparação
2. Tivemos grande benefício dos
contributos dos Episcopados e dos relatórios de pastores, religiosos, leigos,
peritos, educadores e muitos outros. Desde o início, os jovens foram envolvidos
no processo sinodal: o Questionário on-line, muitos contributos pessoais e
sobretudo a Reunião pré-sinodal, que foi o sinal eloquente. O seu contributo
foi essencial, tal como na narração dos pães e dos peixes: Jesus conseguiu
realizar o milagre graças à disponibilidade de um rapaz que ofereceu
generosamente tudo quanto tinha (cf. Jo 6,8-11).
Todos os contributos foram sintetizados
no Instrumentum laboris, que constituiu a base sólida de confronto durante as
semanas da Assembleia. Ora, o Documento final reúne o resultado deste processo
e relança-o para o futuro: exprime aquilo que os Padres sinodais reconheceram, interpretaram
e escolheram à luz da Palavra de Deus.
O Documento final da Assembleia sinodal
3. É importante esclarecer a relação
entre o Instrumentum laboris e o Documento final. O primeiro é o ponto de
referência unitário e sintético destes dois anos de escuta; o segundo é o fruto
do discernimento realizado e recolhe os núcleos temáticos generativos sobre os
quais os Padres sinodais se concentraram com particular intensidade e paixão.
Por isso, reconhecemos a diversidade e a complementaridade destes dois textos.
O presente Documento foi oferecido ao
Santo Padre[2]
e também a toda a Igreja como fruto deste Sínodo. Uma vez que o percurso
sinodal não está ainda concluído e prevê uma fase de concretização, o Documento
final será um mapa para orientar os próximos passos que a Igreja é chamada a
seguir.
Proémio
Jesus caminhava com os discípulos de
Emaús
4. Consideramos o episódio dos
discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13-35) um texto paradigmático para compreender a
missão eclesial em relação às jovens gerações. Esta página exprime bem aquilo
que experimentámos no Sínodo e o que gostaríamos que cada Igreja particular
pudesse viver em relação aos jovens. Jesus caminha com dois discípulos que não
compreenderam o sentido da sua vivência e se afastaram de Jerusalém e da
comunidade. Para estar na sua companhia, percorre a estrada com eles. Interroga-os
e coloca-se em paciente escuta da sua versão dos factos, para os ajudar a reconhecer
aquilo que estão a viver. Depois, com afeto e firmeza, anuncia-lhes a Palavra,
levando-os a interpretar os acontecimentos que viveram à luz das Escrituras. Ao
entardecer, aceita o convite para ficar com eles: entra na sua noite. Na escuta,
o seu coração aquece e a sua mente ilumina-se; na fração do pão, os seus olhos
abrem-se. São eles próprios que escolhem retomar sem demora o caminho na
direção contrária, para regressar à comunidade, partilhando a experiência do
encontro com o Ressuscitado.
Em continuidade com o Instrumentum
laboris, o Documento final está dividido em três partes marcadas por este
episódio. A primeira parte é intitulada «Caminhava com eles» (Lc 24,15) e
procura iluminar o que os Padres sinodais reconheceram do contexto em que os
jovens estão inseridos, evidenciando os pontos de força e os desafios. A
segunda parte, «Os seus olhos abriram-se» (Lc 24,31), é interpretativa e
fornece algumas chaves de leitura fundamentais do tema sinodal. A terceira
parte, com o título «Partiram imediatamente» (Lc 24,33), recolhe as escolhas
para uma conversão espiritual, pastoral e missionária.
I PARTE
«Caminhava com eles»
5. «Nesse mesmo dia, dois dos discípulos
iam a caminho de uma aldeia chamada Emaús, que ficava a cerca de duas léguas de
Jerusalém; e conversavam entre si sobre tudo o que acontecera. Enquanto
conversavam e discutiam, aproximou-se deles o próprio Jesus e pôs-se com eles a
caminho» (Lc 24,13-15).
Nesta passagem, o evangelista fotografa a
necessidade dos dois viajantes de procurar um sentido para os acontecimentos
que viveram. Sublinha-se a atitude de Jesus que se pôs a caminho com eles. O
Ressuscitado deseja fazer estrada juntamente com cada jovem, acolhendo as suas
expectativas, mesmo que desiludidas, e as suas esperanças, mesmo que inadequadas.
Jesus caminha, escuta, partilha.
Capítulo I
Uma Igreja à escuta
Escutar e ver com empatia
O valor da escuta
6. A escuta é um encontro de liberdades,
que requer humildade, paciência, disponibilidade para compreender, empenho para
elaborar de modo novo as respostas. A escuta transforma o coração daqueles que
a vivem, sobretudo quando se colocam numa atitude interior de sintonia e
docilidade ao Espírito. Por isso, não é apenas uma recolha de informações, nem
uma estratégia para conseguir um objetivo, é antes a forma pela qual o próprio
Deus se relaciona com o seu povo. De facto, Deus vê a miséria do seu povo e
escuta o seu lamento, deixa-se tocar no íntimo e desce para libertá-lo (cf. Ex
3,7-8). Então a Igreja, por meio da escuta, entra no movimento de Deus que, no
Filho, vem ao encontro de cada ser humano.
Os jovens desejam ser escutados
7. Os jovens são chamados a fazer
continuamente escolhas que orientam a sua existência; exprimem o desejo de
serem escutados, reconhecidos, acompanhados. Muitos sentem que a sua voz não é
interessante e útil no âmbito social e eclesial. Em vários contextos,
regista-se uma fraca atenção aos seus gritos, sobretudo quando vêm dos mais
pobres e explorados, e também a falta de adultos disponíveis e capazes de
escutar.
A escuta na Igreja
8. Não faltam na Igreja iniciativas e
experiências consolidadas através das quais os jovens podem sentir-se
acolhidos, escutados e fazer ouvir a sua voz. No entanto, o Sínodo reconhece
que nem sempre a comunidade eclesial sabe evidenciar a atitude que o
Ressuscitado teve em relação aos discípulos de Emaús, quando, antes de iluminá-los
com a Palavra, lhes perguntou: «Que palavras são essas que trocais entre vós,
enquanto caminhais?» (Lc 24,17). Prevalece ainda a tendência de fornecer
respostas pré-elaboradas e receitas prontas, sem deixar surgir as perguntas juvenis
na sua novidade e recolher nisso a provocação.
A escuta torna possível uma troca de
dons, num contexto de empatia. Isso permite aos jovens dar à comunidade a sua
contribuição, ajudando-a a adquirir sensibilidades novas e a colocar perguntas
inéditas. Ao mesmo tempo, põe as condições para um anúncio do Evangelho que
atinja verdadeiramente o coração de modo incisivo e fecundo.
A escuta dos pastores e dos leigos
qualificados
9. A escuta constitui um momento
qualificante do ministério dos pastores, e em primeiro lugar dos bispos, que
muitas vezes se encontram sobrecarregados com muitos compromissos e têm
dificuldade em encontrar um tempo adequado para este indispensável serviço. Muitos
notaram a falta de pessoas especialistas e dedicadas ao acompanhamento. Crer no
valor teológico e pastoral da escuta implica uma reflexão para renovar as
formas com as quais ordinariamente o ministério presbiteral se exprime e uma
verificação das suas prioridades. Além disso, o Sínodo reconhece a necessidade
de preparar consagrados e leigos, homens e mulheres, que sejam qualificados
para o acompanhamento dos jovens. O carisma da escuta que o Espírito Santo faz
surgir nas comunidades poderia também receber uma forma de reconhecimento
institucional para o serviço eclesial.
As diversidades de contextos e culturas
Um mundo plural
10. A própria composição do Sínodo
tornou visível a presença e a contribuição das diversas regiões do mundo,
evidenciando a beleza de ser Igreja universal. Mesmo num contexto de
globalização crescente, os Padres sinodais pediram que se evidenciassem as
muitas diferenças entre contextos e culturas, mesmo dentro de um mesmo país.
Existe uma pluralidade de mundos juvenis, a tal ponto que em alguns países se tende
a utilizar o termo «juventude» no plural. Além disso, a faixa etária
considerada no presente Sínodo (16-29 anos) não representa um conjunto
homogéneo, pois é composta por grupos que vivem situações peculiares.
Todas estas diferenças incidem
profundamente sobre a experiência concreta que os jovens vivem: de facto, dizem
respeito às diversas fases da idade evolutiva, às formas da experiência
religiosa, à estrutura da família e ao seu relevo na transmissão da fé, às
relações intergeracionais – como por exemplo o papel dos idosos e o respeito
que lhes é devido –, às modalidades de participação na vida social, à atitude
em relação ao futuro, à questão ecuménica e inter-religiosa. O Sínodo reconhece
e acolhe a riqueza das diversidades das culturas e coloca-se ao serviço da
comunhão do Espírito.
Mudanças em ação
11. De particular relevância é a
diferença relativa às dinâmicas demográficas entre os países de alta
natalidade, nos quais os jovens representam uma quota significativa e crescente
da população, e aqueles em que o seu peso vai diminuindo. Uma ulterior
diferença deriva da história, que torna diferentes os países e continentes de
antiga tradição cristã, cuja cultura é portadora de uma memória que não se pode
perder, dos países e continentes marcados por outras tradições religiosas e nos
quais o cristianismo é uma presença minoritária, e às vezes recente. Noutros
territórios, as comunidades cristãs e os jovens que delas fazem parte são
perseguidos.
Exclusões e marginalizações
12. Há também entre os países e no
interior de cada um deles diferenças determinadas pela estrutura social e pela
disponibilidade económica, que separam, por vezes de um modo claro, aqueles que
têm acesso a uma quantidade crescente de oportunidades oferecidas pela
globalização, daqueles que, pelo contrário, estão à margem da sociedade ou no
mundo rural e sofrem os efeitos de formas de exclusão e descarte. Vários intervenientes
assinalaram a necessidade de a Igreja assumir corajosamente estas pessoas e
participar na construção de alternativas que removam exclusões e marginalizações,
reforçando o acolhimento, o acompanhamento e a integração. Para isso é
necessário ter consciência da indiferença que marca a vida também de muitos
cristãos, a fim de superá-la com o aprofundamento da dimensão social da fé.
Homens e mulheres
13. Não se pode esquecer a diferença
entre homens e mulheres, com os seus dons peculiares, as sensibilidades
específicas e experiências do mundo. Esta diferença pode ser um âmbito no qual
nascem formas de domínio, exclusão e discriminação, das quais toda a sociedade
e a própria Igreja precisam de se libertar.
A Bíblia apresenta o homem e a mulher
como parceiros iguais diante de Deus (cf. Gn 5,2): qualquer dominação e
discriminação baseada no sexo ofende a dignidade humana. Ela apresenta também a
diferença entre os sexos como um mistério tão constitutivo do ser humano quanto
irredutível a estereótipos. A relação entre homem e mulher é assim compreendida
nos termos de uma vocação a viver em conjunto na reciprocidade e no diálogo, na
comunhão e na fecundidade (cf. Gn 1,27-29; 2,21-25) em todos os âmbitos da
experiência humana: vida de casal, trabalho, educação e outros ainda. À sua
aliança, Deus confiou a terra.
A colonização cultural
14. Muitos Padres sinodais provenientes
de contextos não ocidentais mostraram como nos seus países a globalização
trouxe consigo formas de colonização culturais, que desenraízam os jovens das
pertenças culturais e religiosas donde provêm. É preciso um compromisso por
parte da Igreja para acompanhá-los nesta passagem, sem que percam os traços
mais preciosos da própria identidade.
Há diferentes interpretações do processo
de secularização. Para alguns, esse processo é vivido como uma preciosa oportunidade
para purificar-se de uma religiosidade de hábitos ou fundada em identidades
étnicas e nacionais, para outros representa um obstáculo à transmissão da fé.
Nas sociedades secularizadas, assistimos também a uma redescoberta de Deus e da
espiritualidade. Isto constitui para a Igreja um estímulo a recuperar a
importância dos dinamismos próprios da fé, do anúncio e do acompanhamento
pastoral.
Um primeiro olhar à Igreja de hoje
O compromisso educativo da Igreja
15. Não são poucas as regiões onde os
jovens veem a Igreja como uma presença viva e envolvente, que é significativa
também para os seus coetâneos não crentes ou de outras religiões. As
instituições educativas da Igreja procuram acolher todos os jovens,
independentemente das suas escolhas religiosas, proveniência cultural e
situação pessoal, familiar ou social. Deste modo, a Igreja dá uma contribuição
fundamental à educação integral dos jovens nas mais diversas partes do mundo.
Isto realiza-se através da educação nas escolas de qualquer ordem ou grau e nos
centros de formação profissional, nos colégios e nas universidades, mas também
nos centros juvenis e nos «oratórios»; tal compromisso realiza-se também
através do acolhimento dos refugiados e migrantes, bem como nos vários empenhos
no campo social. Em todas estas presenças, a Igreja une a obra educativa e a
promoção humana com o testemunho e o anúncio do Evangelho. Quando é inspirada
para o diálogo intercultural e inter-religioso, a ação educativa da Igreja é
apreciada também pelos não-cristãos como forma de autêntica promoção humana.
As atividades da pastoral juvenil
16. No caminho sinodal veio ao de cima a
necessidade de qualificar vocacionalmente a pastoral juvenil, considerando
todos os jovens como destinatários da pastoral vocacional. Sublinhou-se também
a necessidade de desenvolver processos pastorais completos, que, desde a infância,
levem à vida adulta e insiram na comunidade cristã. Constatou-se ainda que
diversos grupos paroquiais, movimentos e associações juvenis realizam um
processo eficaz de acompanhamento e de formação dos jovens na sua vida de fé.
A Jornada Mundial da Juventude – nascida
de uma profética intuição de São João Paulo II, o qual continua a ser um ponto
de referência para os jovens do terceiro milénio –, os encontros nacionais e
diocesanos, desempenham um papel importante na vida de muitos jovens, porque
oferecem uma experiência viva de fé e de comunhão, que os ajuda a enfrentar os
grandes desafios da vida e a assumir responsavelmente o seu lugar na sociedade
e na comunidade eclesial. Estas convocações podem assim orientar para o
acompanhamento pastoral ordinário das comunidades, onde o acolhimento do
Evangelho deve ser aprofundado e traduzido em escolhas de vida.
O peso da gestão administrativa
17. Muitos Padres sublinharam que o peso
das tarefas administrativas absorve de modo excessivo e, por vezes, sufocante
as energias de muitos pastores; isto representa um dos motivos que dificultam o
encontro com os jovens e o seu acompanhamento. Para tornar mais evidente a
prioridade dos compromissos pastorais e espirituais, os Padres sinodais
insistem na necessidade de repensar as modalidades concretas do exercício do
ministério.
A situação das paróquias
18. Embora seja a primeira e a principal
forma de ser Igreja no território, diversas vozes indicaram que a paróquia
deixou de ser um lugar relevante para os jovens, sendo necessário repensar a
vocação missionária. O seu fraco significado nos espaços urbanos, o pouco
dinamismo das propostas, juntamente com as mudanças espácio-temporais dos
estilos de vida pedem uma renovação. Mesmo que haja várias tentativas de inovação,
diversas vezes a torrente da vida juvenil aflui às margens da comunidade, sem a
encontrar.
A iniciação à vida cristã
19. Muitos salientaram que os percursos
de iniciação cristã nem sempre conseguem introduzir os rapazes, adolescentes e
jovens na beleza da experiência de fé. Quando a comunidade se torna um lugar de
comunhão e uma verdadeira família dos filhos de Deus, ela exprime uma força
generativa que transmite a fé; onde, pelo contrário, ela cede à lógica da
delegação e prevalece a organização burocrática, a iniciação cristã é entendida
erroneamente como um curso de instrução religiosa que habitualmente termina com
o sacramento da Confirmação. É, por isso, urgente repensar a fundo a catequese
e a ligação entre transmissão familiar e comunitária da fé, tendo presente os
processos pessoais de acompanhamento.
A formação de seminaristas e consagrados
20. Os seminários e as casas de formação
são lugares de grande importância onde os jovens, chamados ao sacerdócio e à
vida consagrada, aprofundam a sua escolha vocacional e a amadurecem no
seguimento. Por vezes, estes ambientes não têm em adequada consideração as
experiências precedentes dos candidatos, depreciando a sua importância. Isto
bloqueia o crescimento da pessoa e pode levar ao aparecimento de atitudes
formais, para lá do desenvolvimento dos dons de Deus e da conversão profunda do
coração.
Capítulo II
Três nós cruciais
As novidades do ambiente digital
Uma realidade invasiva
21. O ambiente digital caracteriza o
mundo contemporâneo. Uma boa parte da humanidade vive imersa nele de maneira
ordinária e contínua. Não se trata só de «usar» instrumentos de comunicação,
mas de viver numa cultura amplamente digital, que tem impactos profundíssimos
na noção de tempo e de espaço, na perceção de si, dos outros e do mundo, no
modo de comunicar, de aprender, de informar-se, de estar em relação com os
outros. Uma aproximação à realidade que privilegia a imagem em detrimento da
escuta e da leitura influencia o modo de aprender e o desenvolvimento do
sentido crítico. É já evidente que «o ambiente digital não é um mundo paralelo
ou puramente virtual, mas faz parte da realidade quotidiana de muitas pessoas,
especialmente dos mais jovens»[3].
A rede de oportunidades
22. A internet e as redes sociais são
uma praça onde os jovens passam muito tempo e se encontram facilmente, mesmo se
nem todos têm o mesmo acesso, em particular em algumas regiões do mundo. No
entanto, estes meios constituem uma extraordinária oportunidade de diálogo,
encontro e permuta entre as pessoas, para além do acesso à informação e ao
conhecimento. Ademais, o mundo digital é um lugar de participação sociopolítica
e de cidadania ativa, e pode facilitar a circulação de informação independente
capaz de tutelar eficazmente as pessoas mais vulneráveis, revelando as
violações dos seus direitos. Em muitos países, a internet e as redes sociais representam
já um lugar irrenunciável para reunir e envolver os jovens, também em
iniciativas e atividades pastorais.
O lado obscuro da rede
23. O mundo digital é também um
território de solidão, manipulação, exploração e violência, até ao caso extremo
da dark web. Os media digitais podem criar dependência, isolamento e
progressiva perda de contacto com a realidade concreta, dificultando o
desenvolvimento de relações interpessoais autênticas. Novas formas de violência
difundem-se através das redes sociais, como por exemplo o ciberbullying; a web é
também um canal de difusão da pornografia e de exploração das pessoas para fins
sexuais, ou através dos jogos da sorte.
24. Por fim, operam no mundo digital
gigantescos interesses económicos, capazes de realizar formas de controlo tão
subtis quanto invasivas, criando mecanismos de manipulação das consciências e
do processo democrático. O funcionamento de muitas plataformas acaba frequentemente
por favorecer o encontro entre pessoas que pensam da mesma maneira,
dificultando o confronto entre as diferenças. Estes circuitos fechados
facilitam a difusão de informações e notícias falsas, fomentando preconceitos e
ódio. A proliferação das fake news [notícias falsas] é expressão de uma cultura
que perdeu o sentido da verdade e manipula os factos para interesses
particulares. A reputação das pessoas é posta em causa através de processos sumários
on-line. O fenómeno atinge também a Igreja e os seus pastores.
Os migrantes como paradigma do nosso
tempo
Um fenómeno pluriforme
25. Os fenómenos migratórios representam
a nível mundial um fenómeno estrutural, e não uma emergência transitória. As
migrações podem acontecer dentro do próprio país ou entre países diversos. A
preocupação da Igreja incide sobretudo sobre aqueles que fugiram da guerra, da
violência, da perseguição política ou religiosa, dos desastres naturais
ocorridos e também das mudanças climáticas e da pobreza extrema: muitos deles
são jovens. Em geral, estão à procura de oportunidades para si e para a própria
família. Sonham um futuro melhor e desejam criar as condições para se
realizarem.
Muitos Padres sinodais sublinharam que
os migrantes são um «paradigma» capaz de iluminar o nosso tempo e em particular
a condição juvenil, e recordam-nos a condição originária da fé, isto é, a de
sermos «estrangeiros e peregrinos sobre a terra» (Heb 11,13).
Violência e vulnerabilidade
26. Outros migrantes partem atraídos
pela cultura ocidental, nutrindo por vezes expectativas irrealistas que os
levam a grandes desilusões. Traficantes sem escrúpulos, frequentemente ligados
a cartéis da droga e das armas, exploram a fragilidade dos migrantes, que ao
longo do seu percurso encontram muitas vezes a violência, o tráfico, o abuso
psicológico e também físico, e sofrimentos indizíveis. Salienta-se a particular
vulnerabilidade dos migrantes menores não acompanhados e a situação daqueles
que são obrigados a passar muitos anos nos campos de refugiados e que
permanecem bloqueados muito tempo nos países de passagem, sem poderem continuar
o curso de estudos nem mostrar os próprios talentos. Em alguns países de
chegada, os fenómenos migratórios causam alarme e medo, muitas vezes fomentados
e explorados para fins políticos. Deste modo, difunde-se uma mentalidade
xenófoba, fechada e revirada sobre si mesma, à qual é preciso reagir com decisão.
Histórias de separação e de encontro
27. Os jovens que migram experimentam a
separação do próprio contexto de origem e muitas vezes também um desenraizamento
cultural e religioso. A fratura diz respeito também às comunidades de origem,
que perdem os elementos mais vigorosos e empreendedores, e às famílias, em
particular quando migra um ou ambos os genitores, deixando os filhos no país de
origem. A Igreja tem um papel importante de referência para os jovens destas
famílias separadas. Mas as dos migrantes contam também histórias de encontro
entre pessoas e culturas: para as comunidades e sociedades de destino são uma
oportunidade de enriquecimento e de desenvolvimento humano integral de todos.
As iniciativas de acolhimento que dizem respeito à Igreja têm um papel
importante deste ponto de vista e podem revitalizar as comunidades capazes de as
realizar.
O papel profético da Igreja
28. Graças às diversas proveniências dos
Padres, sobre o tema dos migrantes, o Sínodo interpretou o encontro de muitas perspetivas,
em particular entre países de partida e países de chegada. Além disso, soou o
grito de alarme das Igrejas cujos membros foram obrigados a fugir da guerra e
das perseguições, e que veem nestas migrações forçadas uma ameaça para a sua
própria existência. O próprio facto de incluir no seu interior todas estas
diversas perspetivas coloca a Igreja em condições de exercer um papel profético
nos confrontos da sociedade sobre o tema das migrações.
Reconhecer e reagir a todos os tipos de
abuso
Ser verdadeiro e pedir perdão
29. Os diversos tipos de abuso cometidos
por alguns bispos, sacerdotes, religiosos e leigos provocam naqueles que são vítimas,
entre elas muitos jovens, sofrimentos que podem durar toda a vida e a que não
poderá remediar arrependimento algum. Tal fenómeno está espalhado na sociedade,
diz respeito também à Igreja e representa um sério obstáculo à sua missão. O
Sínodo insiste no firme empenho para a adoção de medidas rigorosas de prevenção
que impeçam a sua repetição, a partir da seleção e da formação daqueles a quem
serão confiadas tarefas de responsabilidade e educativas.
Ir à raiz
30. Existem diversos tipos de abuso: de
poder, económicos, de consciência, sexuais. Torna-se evidente o dever de
erradicar as formas de exercício da autoridade onde tais casos acontecem e de opor-se
à falta de responsabilidade e transparência com que muitos casos foram geridos.
O desejo de domínio, a falta de diálogo e de transparência, as formas de vida
dupla, o vazio espiritual e também a fragilidade psicológica são o terreno onde
prospera a corrupção. O clericalismo, em particular, «nasce de uma visão elitista
e excludente da vocação, que interpreta o ministério recebido mais como um
poder a ser exercido do que como um serviço gratuito e generoso a oferecer; e
isto leva a julgar que se pertence a um grupo que possui todas as respostas e
já não precisa de escutar e aprender mais nada, ou então finge escutar»[4].
Gratidão e encorajamento
31. O Sínodo agradece àqueles que têm a
coragem de denunciar imediatamente o mal: ajudam a Igreja a ter consciência do
que aconteceu e da necessidade de reagir com decisão. Considera e encoraja
também o empenho sincero de numerosos leigas e leigos, sacerdotes, consagrados,
consagradas e bispos que cada dia se dedicam com honestidade e dedicação ao
serviço dos jovens. A sua ação é uma floresta que cresce sem fazer barulho. Até
muitos dos jovens presentes no Sínodo manifestaram gratidão por aqueles que os
acompanharam e reforçaram a grande necessidade de haver pessoas de referência.
O Senhor Jesus, que nunca abandona a sua
Igreja, oferece-lhe a força e os instrumentos para um novo caminho. Confirmando
a orientação de oportunas «medidas e sanções necessárias»[5] e conscientes de
que a misericórdia exige a justiça, o Sínodo reconhece que enfrentar a questão
dos abusos em todos os seus aspetos, também com a preciosa ajuda dos jovens,
pode ser deveras uma oportunidade para uma reforma de âmbito epocal.
Capítulo III
Identidade e relações
Família e relações intergeracionais
A família como ponto de referência
privilegiado
32. A família continua a representar o
principal ponto de referência para os jovens. Os filhos apreciam o amor e o
cuidado dos pais, tomam a peito os laços familiares e esperam conseguir formar,
por sua vez, uma família. Claro que o aumento de separações, divórcios,
segundas uniões e famílias monoparentais pode causar nos jovens grandes
sofrimentos e crises de identidade. Por vezes, são encarregados de
responsabilidades que não são proporcionais à sua idade e obrigam-nos a
tornar-se adultos antes do tempo. Os avós oferecem frequentemente um contributo
decisivo no afeto e na educação religiosa: com a sua sabedoria são um elo decisivo
na relação entre as gerações.
A importância da maternidade e da
paternidade
33. Mães e pais têm papéis distintos,
mas igualmente importantes como pontos de referência na formação dos filhos e na
transmissão da sua fé. A figura materna continua a ter um papel que os jovens
consideram essencial para o seu crescimento, mesmo se isso não é
suficientemente reconhecido no contexto cultural, político e laboral. Muitos
pais desenvolvem com dedicação o seu papel, mas não podemos esquecer que, em alguns
contextos, a figura paterna é ausente ou efémera, e noutros é opressiva ou
autoritária. Estas ambiguidades refletem-se também no exercício da paternidade
espiritual.
O relacionamento entre gerações
34. O Sínodo reconhece a dedicação de
muitos pais e educadores que se dedicam a fundo na transmissão dos valores,
apesar das dificuldades do contexto cultural. Em diversas regiões, o papel dos
idosos e a reverência para com os antepassados são um eixo na educação e
contribuem fortemente para a formação da identidade pessoal. Mesmo a família alargada
– que em algumas culturas é a família em sentido próprio – tem um papel
importante. No entanto, alguns jovens sentem as tradições familiares como
opressoras e fogem disso sob o impulso de uma cultura globalizada que, às vezes,
os deixa sem pontos de referência. Por sua vez, noutras partes do mundo, entre
jovens e adultos não existe um verdadeiro conflito geracional, mas uma
recíproca estranheza. Às vezes os adultos não procuram ou não conseguem
transmitir os valores fundantes da existência ou assumem estilos joviais,
quebrando a relação entre as gerações. Deste modo, o relacionamento entre
jovens e adultos corre o risco de permanecer no plano afetivo, sem tocar a
dimensão educativa e cultural.
Jovens e raízes culturais
35. Os jovens são projetados para o
futuro e enfrentam a vida com energia e dinamismo. Porém, são também tentados a
concentrar-se na fruição do presente e, por vezes, tendem a dar pouca atenção à
memória do passado donde provêm, em particular dos muitos dons transmitidos
pelos pais, pelos avós e pela bagagem cultural da sociedade onde vivem. Ajudar
os jovens a descobrir a riqueza viva do passado, fazendo memória disso e
servindo até para as próprias escolhas e possibilidades, é um verdadeiro ato de
amor para com eles em vista do seu crescimento e das escolhas que são chamados
a fazer.
Amizade e relacionamento entre pares
36. Juntamente com as relações intergeracionais,
não nos podemos esquecer daquelas entre coetâneos, que representam uma
experiência fundamental de interação e de progressiva emancipação do contexto
familiar de origem. A amizade e o confronto, muitas vezes até nos grupos mais
ou menos estruturados, oferecem a oportunidade de reforçar competências sociais
e relacionais num contexto em que não se é avaliado e criticado. A experiência
de grupo constitui também um grande recurso para a partilha da fé e para a
ajuda recíproca no testemunho. Os jovens são capazes de orientar outros jovens
e de viver um verdadeiro apostolado no meio dos próprios amigos.
Corpo e afetividade
Mudanças em ação
37. Os jovens reconhecem ao corpo e à
sexualidade uma importância essencial para a sua vida e no percurso de
crescimento da sua identidade, dado que são imprescindíveis para viver a
amizade e a afetividade. Todavia, no mundo contemporâneo, verificamos fenómenos
em rápida evolução sobre eles. Antes de mais, os desenvolvimentos da ciência e
das tecnologias biomédicas incidem fortemente sobre a perceção do corpo,
transmitindo a ideia que este pode ser modificado sem limites. A capacidade de
intervir no ADN, a possibilidade de inserir elementos artificiais no organismo
(cyborg) e o desenvolvimento das neurociências constituem um grande recurso,
mas levantam ao mesmo tempo questões antropológicas e éticas. Um acolhimento
acrítico da aproximação tecnocrática ao corpo diminui a consciência da vida
como dom e o sentido do limite da criatura, que pode ser desviada ou
instrumentalizada por dinamismos económicos e políticos[6].
Além disso, em alguns contextos juvenis,
difunde-se o fascínio por comportamentos de risco como instrumento para se
explorar a si próprio, procurar emoções fortes e obter reconhecimento. Juntamente
com o permanecer de fenómenos antigos, como a sexualidade precoce, a
promiscuidade, o turismo sexual e o culto exagerado do aspeto físico,
constata-se hoje a difusão invasiva da pornografia digital e a exibição do
próprio corpo on-line. Tais fenómenos, a que estão expostas as novas gerações,
constituem um obstáculo para um sereno amadurecimento. Eles indicam dinâmicas
sociais inéditas, que influenciam as experiências e as escolhas pessoais, dando
espaço a uma espécie de colonização ideológica.
A receção dos ensinamentos morais da
Igreja
38. É este o contexto onde as famílias
cristãs e as comunidades eclesiais procuram deixar aos jovens a descoberta da
sexualidade como um grande dom habitado pelo Mistério, para viverem as relações
segundo a lógica do Evangelho. Porém, nem sempre conseguem traduzir este desejo
numa adequada educação afetiva e sexual, que não se limite a intervenções
esporádicas e ocasionais. Onde esta educação foi realmente assumida como uma
escolha propositiva, veem-se resultados positivos que ajudam os jovens a
perceber a relação entre a sua adesão de fé em Jesus Cristo e o modo de viver a
afetividade e as relações interpessoais. Tais resultados pedem e encorajam a um
maior investimento de energias eclesiais neste campo.
As perguntas dos jovens
39. A Igreja, sobre tal matéria, tem uma
rica tradição sobre a qual construir e da qual propor o próprio ensinamento:
por exemplo, o Catecismo da Igreja Católica, a teologia do corpo desenvolvida
por São João Paulo II, a Encíclica Deus caritas est de Bento XVI, a Exortação
Apostólica Amoris laetitia de Francisco. Mas os jovens, também aqueles que
conhecem e vivem tais ensinamentos, manifestam o desejo de receber da Igreja
uma palavra clara, humana e empática. Na verdade, a moral sexual é muitas vezes
causa de incompreensão e de afastamento da Igreja, porquanto é percebida como
um espaço de juízo e de condenação. Face às mudanças sociais e aos modos de
viver a afetividade e a multiplicidade das perspetivas éticas, os jovens
mostram-se sensíveis ao valor da autenticidade e da dedicação, mas estão muitas
vezes desorientados. Eles manifestam, mais particularmente, um desejo explícito
de confronto sobre as questões relacionadas com a diferença entre identidade
masculina e feminina, com a reciprocidade entre homens e mulheres, com a
homossexualidade.
Formas de vulnerabilidade
O mundo do trabalho
40. O mundo do trabalho continua a ser
um âmbito onde os jovens exprimem a sua criatividade e a capacidade de inovar.
Ao mesmo tempo, experimentam formas de exclusão e marginalização. A primeira e
mais grave é o desemprego juvenil, que em alguns países atinge níveis exorbitantes.
Além de os tornar pobres, a falta de trabalho corta, nos jovens, a capacidade
de sonhar e de esperar e priva-os da possibilidade de dar um contributo ao
desenvolvimento da sociedade. Em muitos países esta situação prende-se com
algumas faixas da população juvenil que estão desprovidas de adequadas
capacidades profissionais, também por causa do défice do sistema educativo e
formativo. Muitas vezes a precariedade ocupacional que atinge os jovens tem que
ver com os interesses económicos que exploram o trabalho.
Violência e perseguições
41. Muitos jovens vivem em contextos de
guerra e sofrem a violência numa inumerável variedade de formas: raptos,
extorsões, criminalidade organizada, tráfico de seres humanos, escravatura e
exploração sexual, estupros de guerra, etc. Outros jovens, por causa da sua fé,
lutam para encontrar um lugar nas suas sociedades e sofrem vários tipos de
perseguições, até à morte. São numerosos os jovens que, por coerção ou falta de
alternativas, vivenciam e cometem crimes e violências: crianças-soldados,
bandos armados e criminosos, tráfico de droga, terrorismo, etc. Esta violência
destrói muitas vidas jovens. Abusos e dependências, tal como violência e
marginalização, estão entre as razões que levam os jovens à prisão, com uma
particular incidência em alguns grupos étnicos e sociais. Todas estas situações
questionam e interpelam a Igreja.
Marginalização e privação social
42. Ainda mais numerosos no mundo são os
jovens que sofrem formas de marginalização e exclusão social, por razões
religiosas, étnicas ou económicas. Recordamos a difícil situação de
adolescentes e jovens que ficam grávidas e a chaga do aborto, assim como a
difusão do HIV, as diversas formas de dependência (drogas, jogos da sorte, pornografia,
etc.) e a situação das crianças e rapazes da rua, a quem faltam casa, família e
recursos económicos; merecem particular atenção os jovens encarcerados. Vários
intervenientes sublinharam a necessidade de a Igreja valorizar a capacidade dos
jovens excluídos e os contributos que eles podem oferecer às comunidades. A
Igreja quer estar corajosamente ao seu lado, acompanhando-os ao longo dos
percursos de reapropriação da própria dignidade e de um papel na construção do
bem comum.
A experiência do sofrimento
43. Contrariamente a um estereótipo
difundido, também o mundo juvenil está profundamente marcado pela experiência
da vulnerabilidade, da deficiência, da doença e da dor. Em muitos países
cresce, sobretudo entre os jovens, a difusão de formas de mal-estar
psicológico, depressão, doença mental e desordens alimentares, ligadas a vivências
de profunda infelicidade ou à incapacidade de encontrar um lugar no seio da
sociedade, não esquecendo o trágico fenómeno dos suicídios. Os jovens que vivem
estas diversas condições de privação e as suas famílias contam com o apoio das
comunidades cristãs, as quais nem sempre estão adequadamente capacitadas para
os acolher.
O recurso da vulnerabilidade
44. Muitas destas situações são o
produto da «cultura do descarte»: os jovens estão entre as primeiras vítimas. Todavia,
esta cultura pode atingir também os jovens, as comunidades cristãs e os seus
responsáveis, contribuindo assim para a degradação humana, social e ambiental
que atinge o nosso mundo. Para a Igreja trata-se de um apelo à conversão, à
solidariedade e a uma renovada ação educativa, estando presente de modo
particular nestes contextos de dificuldade. Também os jovens que vivem nestas
situações possuem recursos preciosos para partilhar com a comunidade e
ensinam-nos a nos confrontarmos com o limite, ajudando-nos a crescer em
humanidade. É inesgotável a criatividade com a qual a comunidade animada pela
alegria do Evangelho se pode tornar uma alternativa à privação e às situações
de dificuldade. Deste modo, a sociedade pode experimentar que as pedras
rejeitadas pelos construtores podem tornar-se pedras angulares (cf. Sl 118,22; Lc
20,17; At 4,11; 1Pe 2,4.7).
Capítulo IV
Ser jovem hoje
Aspetos da cultura juvenil hodierna
Originalidade e especificidade
45. As jovens gerações são portadoras de
uma aproximação à realidade com traços específicos. Os jovens pedem para ser
acolhidos e respeitados na sua originalidade. Entre os traços específicos mais
evidentes da cultura dos jovens, assinalaram-se a preferência concordada pela
imagem em detrimento de outras linguagens comunicativas, a importância de
sensações e emoções como via de aproximação à realidade e a prioridade do
concreto e do prático em relação à análise teórica. São de grande importância
as relações de amizade e a pertença a grupos de coetâneos, cultivadas também
graças às redes sociais. Os jovens são geralmente portadores de uma abertura
espontânea no confronto com a diversidade, que os torna atentos às temáticas da
paz, da inclusão e do diálogo entre culturas e religiões. Numerosas experiências
de muitas partes do mundo testemunham que os jovens sabem ser pioneiros do
encontro e diálogo intercultural e inter-religioso, na perspetiva da
convivência pacífica.
Compromisso e participação social
46. Se bem que de forma diferente em
relação às gerações passadas, o compromisso social é um traço específico dos
jovens de hoje. Ao lado de alguns indiferentes, existem muitos outros que estão
disponíveis para se empenharem em iniciativas de voluntariado, cidadania ativa
e solidariedade social, de acompanhar e encorajar para fazer emergir os talentos,
as competências e a criatividade dos jovens e incentivar à tomada de
responsabilidades por parte deles. O compromisso social e o contacto direto com
os pobres são uma ocasião fundamental de descoberta ou aprofundamento da fé e de
discernimento da própria vocação. Tem força e está muito difundida a
sensibilidade pelos temas ecológicos e pela sustentabilidade, que a Encíclica Laudato
si’ soube catalisar. Foi assinalada também a disponibilidade para o compromisso
no campo político para a construção do bem comum, que nem sempre a Igreja soube
acompanhar, oferecendo oportunidades de formação e espaços de discernimento. Em
relação à promoção da justiça, os jovens pedem à Igreja um compromisso sério e
coerente, que erradique qualquer conivência com uma mentalidade mundana.
Arte, música e desporto
47. O Sínodo reconhece e considera a
importância que os jovens dão à expressão artística em todas as suas formas: são
muitos os jovens que usam, neste campo, os talentos recebidos, promovendo a
beleza, a verdade e a bondade, crescendo em humanidade e na relação com Deus.
Para muitos a expressão artística é também uma autêntica vocação profissional.
Não podemos esquecer que durante séculos a «via da beleza» foi considerada uma
das modalidades privilegiadas de expressão da fé e de evangelização.
Bastante peculiar é a importância da
música, que representa um verdadeiro ambiente no qual os jovens estão
constantemente imersos, bem como uma cultura e uma linguagem capazes de suscitar
emoções e de plasmar a identidade. A linguagem musical representa também um
recurso pastoral que interpela de modo particular a liturgia e a sua renovação.
A homologação dos gostos em chave comercial corre às vezes o risco de
comprometer a relação com as formas tradicionais de expressão musical e também
litúrgica.
Igualmente significativo é o relevo que
entre os jovens tem a prática desportiva, de que a Igreja não deve desvalorizar
as potencialidades educativas e formativas que contém, mantendo uma sólida
presença neste campo. O mundo do desporto precisa de ser ajudado a superar a
ambiguidade que o atravessa, como a mitificação dos campeões, a dependência das
lógicas comerciais e da ideologia do sucesso a todo o custo. Deste modo,
reafirma-se o valor do acompanhamento e do apoio aos deficientes na prática
desportiva.
Espiritualidade e religiosidade
Os vários contextos religiosos
48. A experiência religiosa dos jovens está
fortemente influenciada pelo contexto social e cultural em que vivem. Em alguns
países, a fé cristã é uma experiência comunitária forte e viva que os jovens
partilham com alegria. Noutras regiões de antiga tradição cristã, a maioria da
população católica não vive uma real pertença à Igreja; porém, não faltam
minorias criativas e experiências que revelam um renascimento pelo interesse
religioso, em reação a uma visão reducionista e sufocante. Noutros lugares
ainda, os católicos, juntamente com outras denominações cristãs, são uma
minoria, que sofre por vezes discriminação e até perseguição. Por fim, existem
contextos onde se sente um crescimento das seitas ou de formas de religiosidade
alternativa; aqueles que as seguem não raras vezes ficam desiludidos e
tornam-se avessos a tudo o que é religioso. Se em algumas regiões os jovens não
têm a possibilidade de exprimir publicamente a sua fé ou não lhes é reconhecida
a própria liberdade religiosa, noutros lugares sente-se o peso de escolhas do
passado – também políticas –, que ameaçaram a credibilidade eclesial. Não é
possível falar da religiosidade dos jovens sem ter em conta todas estas
diferenças.
A busca religiosa
49. Em geral, os jovens declaram que
estão à procura do sentido da vida e demonstram interesse pela espiritualidade.
No entanto, essa procura configura-se mais como uma busca de bem-estar
psicológico do que como uma abertura ao encontro com o Mistério do Deus vivo. Em
algumas culturas, em particular, muitos consideram a religião como uma questão
privada e selecionam, das diversas tradições espirituais, os elementos que se
coadunam com as suas convicções. Deste modo, difunde-se um certo sincretismo,
que se desenvolve no pressuposto relativista de que todas as religiões são
iguais. A adesão a uma comunidade de fé não é vista por todos como a via privilegiada
de acesso ao sentido da vida, e é sustentada e, por vezes, substituída por
ideologias ou pela busca de sucesso no campo profissional e económico, na
lógica de uma autorrealização material. No entanto, permanecem vivas algumas
práticas mantidas pela tradição, como as peregrinações aos santuários, que por
vezes envolvem massas muito numerosas de jovens, e expressões da piedade
popular, frequentemente ligadas à devoção a Maria e aos Santos, que conservam a
experiência de fé de um povo.
O encontro com Jesus
50. A mesma variedade se verifica na
relação dos jovens com a figura de Jesus. Muitos reconhecem-no como Salvador e
Filho de Deus e, frequentemente, sentem-no próximo através de Maria, sua mãe, e
comprometem-se num caminho de fé. Outros não têm uma relação pessoal com Ele,
mas consideram-no como um homem bom e uma referência ética. Outros, ainda,
encontram-no através de uma forte experiência do Espírito. No entanto, para
outros é uma figura do passado sem relevância existencial ou muito distante da
experiência humana.
Se, para muitos jovens, Deus, a religião
e a Igreja se apresentam como palavras vazias, eles são sensíveis à figura de
Jesus, quando é apresentada de modo atraente e eficaz. De diversas formas
também, os jovens de hoje dizem-nos: «Queremos ver Jesus» (Jo 12,21), manifestando
assim a sã inquietação que caracteriza o coração de cada ser humano: «A
inquietação da investigação espiritual, a inquietação do encontro com Deus e a
inquietação do amor»[7].
O desejo de uma liturgia viva
51. Em diversos contextos, os jovens
católicos pedem propostas de oração e momentos sacramentais capazes de
intercetar a sua vida quotidiana, através de uma liturgia fresca, autêntica e
alegre. Em tantas partes do mundo, a experiência litúrgica é o principal recurso
para a identidade cristã e tem uma participação ampla e convicta. Os jovens
reconhecem aí um momento privilegiado de experiência de Deus e da comunidade
eclesial, e um ponto de partida para a missão. Noutros lugares, porém,
assiste-se a um certo afastamento dos sacramentos e da Eucaristia dominical,
entendida mais como preceito moral do que como feliz encontro com o Senhor
Ressuscitado e com a comunidade. Em geral, constata-se que mesmo quando se
oferece a catequese sobre os sacramentos, é fraco o acompanhamento educativo
para viver a celebração com profundidade, para entrar na riqueza mistérica dos
seus símbolos e dos seus ritos.
Participação e protagonismo
Os jovens desejam protagonismo
52. Perante as contradições da
sociedade, muitos jovens desejam pôr a render os seus talentos, competências e
criatividade e estão disponíveis para assumirem responsabilidades. Entre os
temas que maioritariamente têm a peito, surgem a sustentabilidade social e
ambiental, as discriminações e o racismo. O envolvimento dos jovens tem com
frequência aproximações inéditas, explorando também as potencialidades da
comunicação digital em termos de mobilização e pressão política: difusão de
estilos de vida e modelos de consumo e investimento críticos, solidários e
atentos ao ambiente; novas formas de compromisso e de participação na sociedade
e na política; novas modalidades de welfare que proteja os sujeitos mais
frágeis.
As razões de uma distância
53. O Sínodo está consciente de que um
número consistente de jovens, pelas mais diversas razões, não pede nada à Igreja
porque não a consideram significativa para a sua existência. Pelo contrário,
outros pedem expressamente que os deixem em paz, pois sentem a sua presença
como fastidiosa e até irritante. Tal pedido não nasce, muitas vezes, de um
desprezo acrítico e impulsivo, mas tem as suas raízes também em razões sérias e
respeitáveis: os escândalos sexuais e económicos; a falta de preparação dos
ministros ordenados que não sabem cativar adequadamente a sensibilidade dos
jovens; o fraco cuidado na preparação da homilia e na apresentação da Palavra
de Deus; o papel passivo dado aos jovens no interior da comunidade cristã; a
dificuldade da Igreja em dar razões das suas posições doutrinais e éticas em
relação à sociedade contemporânea.
Os jovens na Igreja
54. Os jovens católicos não são
meramente destinatários da ação pastoral, mas membros vivos do único corpo
eclesial, batizados onde vive e age o Espírito do Senhor. Eles contribuem e
enriquecem aquilo que a Igreja é, e não só aquilo que faz. São o seu presente e
não apenas o seu futuro. Os jovens são protagonistas em muitas atividades
eclesiais, onde oferecem generosamente o próprio serviço, em particular na
animação da catequese e da liturgia, no cuidado para com os mais pequenos e no
voluntariado para com os pobres. Também movimentos, associações e congregações
religiosas oferecem aos jovens oportunidades de compromisso e
corresponsabilidade. Às vezes, a disponibilidade dos jovens encontra um certo
autoritarismo e desconfiança dos adultos e pastores, que não reconhecem suficientemente
a sua criatividade e têm dificuldades em partilhar as responsabilidades.
As mulheres na Igreja
55. Surge também nos jovens o pedido
para que haja um maior reconhecimento e valorização das mulheres na sociedade e
na Igreja. Muitas mulheres desempenham um papel insubstituível nas comunidades
cristãs, mas em muitos lugares há dificuldade em dar-lhes lugar nos processos de
tomada de decisão, mesmo quando eles não requerem especificamente responsabilidades
ministeriais. A ausência da voz e do olhar feminino empobrece o debate e o
caminho da Igreja, subtraindo ao discernimento um contributo precioso. O Sínodo
recomenda que todos se tornem mais conscientes da urgência de uma inevitável
mudança, também a partir de uma reflexão antropológica e teológica sobre a
reciprocidade entre homens e mulheres.
A missão dos jovens em relação aos seus
coetâneos
56. Em vários contextos existem grupos
de jovens, muitas vezes expressão de associações e movimentos eclesiais que são
muito ativos na evangelização dos seus coetâneos graças a um claro testemunho
de vida, a uma linguagem acessível e à capacidade de criar laços autênticos de
amizade. Tal apostolado consegue levar o Evangelho a pessoas que dificilmente
se juntariam numa pastoral juvenil ordinária e contribui para amadurecer a
própria fé daqueles que se empenham. Por isso, isto deve ser apreciado,
apoiado, acompanhado com sabedoria e integrado na vida das comunidades.
Desejo de uma comunidade eclesial mais
autêntica e fraterna
57. Os jovens pedem que a Igreja brilhe
pela autenticidade, exemplaridade, competência, corresponsabilidade e
solidariedade cultural. Por vezes, este pedido parece uma crítica, mas quase
sempre assume a forma positiva de um empenho pessoal por comunidade fraterna,
acolhedora, alegre e empenhada profeticamente, na luta contra a injustiça
social. Entre as expectativas dos jovens sobressai, em particular, o desejo de que
na Igreja se adote um estilo de diálogo menos paternalista e mais genuíno.
II PARTE
«Os seus olhos abriram-se»
58. «E, começando por Moisés e seguindo
por todos os Profetas, explicou-lhes, em todas as Escrituras, tudo o que lhe
dizia respeito. Ao chegarem perto da aldeia para onde iam, fez menção de seguir
para diante. Os outros, porém, insistiam com Ele, dizendo: “Fica connosco, pois
a noite vai caindo e o dia já está no ocaso.” Entrou para ficar com eles. E,
quando se pôs à mesa, tomou o pão, pronunciou a bênção e, depois de o partir,
entregou-lho. Então, os seus olhos abriram-se e reconheceram-no; mas Ele
desapareceu da sua presença» (Lc 24,27-31).
Depois de os ter escutado, o Senhor
dirige aos dois viajantes uma «palavra» incisiva e decisiva, autorreveladora e
transformadora. E assim, com doçura e fortaleza, o Senhor entra na sua morada,
permanece com eles e partilha o pão da vida: é o sinal eucarístico que permite
aos dois discípulos abrir finalmente os olhos.
Um novo Pentecostes
A ação do Espírito Santo
59. O Espírito Santo acende o coração,
abre os olhos e suscita a fé dos dois viajantes. Ele opera desde o princípio da
criação do mundo para que o projeto do Pai de recapitular tudo em Cristo atinja
a sua plenitude. Age em cada tempo e em cada o lugar, na verdade dos contextos
e das culturas, suscitando também no meio das dificuldades e sofrimentos o compromisso
pela justiça, a busca da verdade, a coragem da esperança. Por isso, São Paulo
afirma que «toda a criação geme e sofre as dores de parto até ao presente» (Rm
8,22). O desejo de vida no amor e a santa inquietação que habita o coração dos
jovens fazem parte do grande desejo veemente de toda a criação à plenitude da
alegria. Em cada um deles, também naqueles que não conhecem Cristo, o Espírito
Criador age para os conduzir à beleza, à bondade e à verdade.
O Espírito rejuvenesce a Igreja
60. A juventude é um período original e
estimulante da vida, que o próprio Jesus viveu, santificando-a. A Mensagem aos
jovens do Concílio Vaticano II (7 de dezembro de 1965) apresentou a Igreja como
a «verdadeira juventude do mundo», que possui «a capacidade de congratular-se
naquilo que começa, de dar-se sem querer nada em troca, de renovar-se e de
tornar a partir para novas conquistas». Com a sua frescura e a sua fé, os
jovens contribuem para mostrar aquele rosto da Igreja onde se reflete «o grande
Vivente, o Cristo eternamente jovem». Não se trata de criar uma nova Igreja
para os jovens, mas sobretudo de redescobrir com eles a juventude da Igreja,
abrindo-nos à graça de um novo Pentecostes.
O Espírito na vida do crente
61. A vocação do cristão é seguir Cristo
passando pelas águas do Batismo, recebendo o selo da Confirmação e tornando-se
na Eucaristia parte do seu Corpo: «Vem o Espírito Santo, o fogo depois da água
e tornar-vos-eis pão, isto é, Corpo de Cristo»[8].
No percurso da iniciação cristã é, sobretudo, a Confirmação que permite aos
crentes reviver a experiência pentecostal de uma nova efusão do Espírito para o
crescimento e a missão. É importante redescobrir a riqueza deste sacramento,
apreender a sua ligação à vocação pessoal de cada batizado e à teologia dos
carismas, cuidando melhor disto na pastoral, para que não se torne um momento
formal e pouco significativo. Cada caminho vocacional tem o Espírito Santo como
protagonista: Ele é o «mestre interior», por quem deixar-se conduzir.
Uma autêntica experiência de Deus
62. A primeira condição para o
discernimento vocacional no Espírito é uma autêntica experiência de fé em
Cristo morto e ressuscitado, recordando que ela «não é luz que dissipa todas as
nossas trevas, mas lâmpada que guia os nossos passos na noite, e isto basta para
o caminho»[9].
Nas comunidades cristãs, corremos por vezes o risco de propor, sem intenção, um
teísmo ético e terapêutico, que responde à necessidade de segurança e de
conforto do ser humano, mais do que um encontro vivo com Deus à luz do
Evangelho e na força do Espírito. Se é verdade que a vida se revela apenas
através da vida, torna-se claro que os jovens têm necessidade de encontrar
comunidades cristãs enraizadas realmente na amizade com Cristo, que nos guia ao
Pai na comunhão do Espírito Santo.
Capítulo I
O dom da juventude
Jesus jovem entre os jovens
A juventude de Jesus
63. «Jovem entre os jovens para ser
exemplo para os jovens e consagrá-los ao Senhor»[10], Cristo
santificou a juventude pelo simples facto de a ter vivido. A narração bíblica
apresenta um só episódio da juventude de Jesus (cf. Lc 2,41-52), que foi vivida
sem alarido, na simplicidade e no trabalho quotidiano em Nazaré, de tal forma
que ficou conhecido como «o carpinteiro» (Mc 6,3) e «o filho do carpinteiro» (Mt
13,55).
Contemplando a sua vida, podemos ver
melhor a bênção da juventude: Jesus teve uma incondicional confiança no Pai,
fez amizade com os seus discípulos e permaneceu fiel até nos momentos de crise.
Manifestou uma profunda compaixão na relação com os mais débeis, especialmente
os pobres, os doentes, os pecadores e os excluídos. Teve a coragem de enfrentar
as autoridades religiosas e políticas do seu tempo; fez a experiência de
sentir-se incompreendido e descartado; sentiu medo do sofrimento e conheceu a
fragilidade da Paixão; dirigiu o próprio olhar para o futuro confiando-se nas
mãos seguras do Pai e na força do Espírito. Em Jesus todos os jovens podem
reencontrar-se com os seus medos e as suas esperanças, as suas incertezas e os
seus sonhos, e a Ele podem confiar-se. Será para eles fonte de inspiração
contemplar os encontros de Jesus com os jovens.
Com o olhar do Senhor
64. A escuta de Cristo e a comunhão com
Ele permitem, também aos pastores e aos educadores, amadurecer uma leitura sapiente
desta fase da vida. O Sínodo procurou olhar os jovens com a atitude de Jesus,
para discernir na sua vida os sinais da ação do Espírito. Na verdade, cremos
que também hoje Deus fala à Igreja e ao mundo por meio dos jovens, da sua
criatividade e do seu empenho, como também dos seus sofrimentos e da procura de
ajuda. Com eles, podemos ler mais profeticamente a nossa época e reconhecer os
sinais dos tempos; por isso, os jovens são um dos «lugares teológicos» onde o
Senhor nos dá a conhecer algumas das suas expectativas e desafios para
construir o amanhã.
Características da idade juvenil
65. A juventude, fase do desenvolvimento
da personalidade, é marcada pelos sonhos que vão ganhando corpo, pelas relações
que adquirem cada vez mais consistência e equilíbrio, pelas tentativas e
experiências e pelas escolhas que constroem gradualmente um projeto de vida.
Nesta fase da vida, os jovens são chamados a projetar-se em frente sem cortar
as raízes, a criar autonomia, mas não na solidão. O contexto social, económico
e cultural nem sempre oferece condições favoráveis. Muitos jovens santos
fizeram brilhar os traços da idade juvenil em toda a sua beleza e foram na sua
época verdadeiros profetas da mudança; o seu exemplo mostra do que são capazes os
jovens quando se abrem ao encontro com Cristo.
Também os jovens com deficiências ou
marcados pela doença podem oferecer um contributo precioso. O Sínodo convida as
comunidades a dar espaço a iniciativas que os reconheçam e lhes permitam ser protagonistas,
por exemplo, com o uso da língua gestual para os surdos, itinerários
catequéticos oportunamente preparados, experiências associativas ou de inserção
laboral.
A sã inquietação dos jovens
66. Os jovens são portadores de uma
inquietação que deve ser antes de mais acolhida, respeitada e acompanhada,
apostando com convicção na sua liberdade e responsabilidade. A Igreja sabe por
experiência que o seu contributo é fundamental para a sua renovação. Os jovens,
em certos aspetos, podem estar mais à frente do que os pastores. Na manhã de
Páscoa, o jovem Discípulo Amado chegou em primeiro lugar ao sepulcro,
precedendo, na sua corrida, a Pedro, entorpecido pela idade e pela traição (cf.
Jo 20,1-10); de modo semelhante na comunidade cristã, o dinamismo juvenil é uma
energia renovadora para a Igreja, porque a ajuda a sacudir das costas pesos e
lentidões, abrindo-se ao Ressuscitado. Ao mesmo tempo, a atitude do Discípulo
Amado indica que é importante permanecerem ligados à experiência dos idosos,
reconhecer o papel dos pastores e não seguir em frente sozinhos. Deste modo,
haverá aquela sintonia de vozes que é fruto do Espírito.
Os jovens feridos
67. A vida dos jovens, como a de todos, está
marcada também pelas feridas. São as feridas das derrotas da própria história,
dos desejos frustrados, das discriminações e injustiças sofridas, de não se
sentir amado ou reconhecido. São feridas do corpo e da psique. Cristo, que
aceitou percorrer a paixão e a morte, por meio da sua cruz fez-se próximo de
todos os jovens que sofrem. Existem depois as feridas morais, o peso dos
próprios erros, a culpa de ter falhado. Reconciliar-se com as próprias feridas
é hoje mais do que condição necessária para uma vida boa. A Igreja é chamada a
apoiar todos os jovens nas suas provas e a promover ações pastorais adequadas.
Tornar-se adulto
A idade das escolhas
68. A juventude é uma fase da vida que
deve terminar para dar espaço à idade adulta. Tal passagem não acontece de modo
puramente cronológico, mas implica um caminho de amadurecimento, que nem sempre
é facilitado pelo ambiente onde vivem os jovens. Em muitas regiões, difundiu-se
uma cultura do provisório que favorece um prolongamento indefinido da
adolescência e o adiamento das decisões; o medo do definitivo gera assim uma
espécie de paralisia na tomada de decisão. No entanto, a juventude não pode ficar
um tempo suspenso: ela é a idade das escolhas, e esse é precisamente o seu
fascínio e o seu maior dever. Os jovens tomam decisões no âmbito profissional,
social, político, e outras mais radicais que darão à sua existência uma
configuração determinante. É sobre esta última asserção que se fala mais
propriamente de «escolhas de vida»: na verdade, é a própria vida, na sua
singularidade irrepetível, que aí recebe orientação definitiva.
A existência sobre o sinal da missão
69. O Papa Francisco convida os jovens a
pensar a própria vida no horizonte da missão: «Muitas vezes, na vida, perdemos
tempo a questionar-nos: “Quem sou eu?” E podes passar a vida inteira a
questionar-te quem és, procurando saber quem és. Mas a pergunta que deves
colocar é esta: “Para quem sou eu?”»[11]. Esta afirmação
ilumina de modo profundo as escolhas de vida, porque pede que a assumamos no
horizonte libertador do dom de si. É esta a única estrada para conseguir uma
felicidade autêntica e duradoura! Efetivamente, «a missão no coração do povo não
é uma parte da minha vida ou um ornamento que posso pôr de lado; não é um
apêndice ou um momento entre tantos outros da minha vida. É algo que não posso
arrancar do meu ser, se não me quero destruir. Eu sou uma missão nesta terra, e
para isso estou neste mundo»[12].
Uma pedagogia capaz de interpelar
70. A missão é uma bússola segura para o
caminho da vida, mas não é um «navegador», que mostra antecipadamente todo o
percurso. A liberdade traz sempre consigo uma dimensão de risco que deve ser
valorizada com coragem e acompanhada com gradualidade e sabedoria. Muitas
páginas do Evangelho mostram-nos Jesus que convida a ousar, a fazer-se ao
largo, a passar da lógica da observância dos preceitos à do dom generoso e
incondicional, sem esconder a exigência de tomar para si a própria cruz (cf. Mt
16,24). Ele é radical: «dá tudo e pede tudo: dá um amor total e pede um coração
indiviso»[13].
Evitando iludir os jovens com propostas minimalistas ou de sufocá-los com um
conjunto de regras que dão uma imagem redutora e moralista do Cristianismo,
somos chamados a investir na sua capacidade e educá-los para assumirem as suas
responsabilidades, certos de que também os erros, os falhanços e as crises são
experiências que podem fortalecer a sua humanidade.
O verdadeiro sentido da autoridade
71. Para levar a cabo um verdadeiro
caminho de amadurecimento, os jovens precisam de adultos autorizados. No seu
sentido etimológico, a auctoritas indica a capacidade de fazer crescer; não
exprime a ideia de um poder diretivo, mas de uma verdadeira força generativa.
Quando Jesus encontrava os jovens, qualquer que fosse a situação ou condição,
até estando já mortos, de um modo ou outro dizia-lhes: «Levanta-te! Cresce!» E
a sua palavra realizava aquilo que dizia (cf. Mc 5,41; Lc 7,14). No episódio da
cura do epilético endemoninhado (cf. Mc 9,14-29), que evoca tantas formas de
alienação dos jovens de hoje, torna-se claro que o estender de mão de Jesus não
é para tirar a liberdade, mas para ativá-la e resgatá-la. Jesus exercita
plenamente a sua autoridade: não quer outra coisa que o crescimento do jovem,
sem nenhuma possessão, manipulação e sedução.
A ligação com a família
72. A família é a primeira comunidade de
fé onde, para além dos limites e insuficiências, o jovem experimenta o amor de
Deus e começa a discernir a própria vocação. Os Sínodos precedentes e a
sucessiva Exortação Apostólica Amoris laetitia não cessam de sublinhar que a
família, enquanto Igreja doméstica, tem o dever de viver a alegria do Evangelho
na vida quotidiana e fazer com que todos os membros participem segundo a sua
condição, permanecendo abertos à dimensão vocacional e missionária.
Porém, nem sempre as famílias educam os
filhos a ver o futuro numa lógica vocacional. Por vezes, a procura de prestígio
social ou do sucesso pessoal, a ambição dos pais ou a tendência para determinar
as escolhas dos filhos invadem o espaço de discernimento e condicionam as
decisões. O Sínodo reconhece a necessidade de ajudar as famílias a assumir de
modo mais evidente uma conceção da vida como vocação. A passagem evangélica de
Jesus adolescente (cf. Lc 2,41-52), obediente aos pais, mas capaz de
distanciar-se deles para ocupar-se das coisas do Pai, pode dar ideias preciosas
para pensar de modo evangélico as relações familiares.
Chamados à liberdade
O Evangelho da liberdade
73. A liberdade é condição essencial
para qualquer escolha de vida autêntica. No entanto, ela pode correr o risco de
ser incompreendida, também porque nem sempre adequadamente apresentada. A
própria Igreja acaba por aparecer para muitos jovens como uma instituição que
impõe regras, proibições e obrigações. Porém, Cristo «libertou-nos para a
liberdade» (Gl 5,1), fazendo-nos passar do regime da Lei para o do Espírito. À
luz do Evangelho, é hoje oportuno reconhecer com mais clareza que a liberdade é
constitutivamente relacional e mostrar que as paixões e as emoções são
relevantes na medida em que orientam para o autêntico encontro com o outro. Uma
tal perspetiva confirma claramente que a verdadeira liberdade é compreensível e
possível apenas em relação à verdade (cf. Jo 8,31-32) e sobretudo à caridade
(cf. 1Cor 13,1-3; Gl 5,13): a liberdade é ser si-mesmo no coração de um outro.
Uma liberdade dialogal
74. Através da fraternidade e da
solidariedade vividas, especialmente com os últimos, os jovens descobrem que a
autêntica liberdade nasce do sentirem-se acolhidos e cresce no dar espaço ao
outro. Fazem uma experiência análoga quando se empenham a cultivar a sobriedade
e o respeito pelo ambiente. A experiência do reconhecimento recíproco e do
empenho partilhado leva-os a descobrir que o seu coração é habitado por um
apelo silencioso ao amor que provém de Deus. Deste modo, torna-se mais fácil
reconhecer a dimensão transcendente que a liberdade traz originariamente
consigo e que, em contacto com as experiências mais intensas da vida – o
nascimento e a morte, a amizade e o amor, a culpa e o perdão –, se revela mais
claramente. São exatamente estas experiências que ajudam a reconhecer que a natureza
da liberdade é radicalmente dialogal.
A liberdade e a fé
75. Há mais de cinquenta anos atrás, São
Paulo VI introduziu a expressão «diálogo da salvação» e interpretou a missão do
Filho no mundo como expressão de um «formidável pedido de amor». Acrescentou,
porém, que somos «livres para corresponder ou fechar os ouvidos»[14].
Nesta perspetiva, o ato de fé pessoal surge como livre e libertador: será o
ponto de partida para uma aproximação gradual dos conteúdos da fé. Por isso, a
fé não é um elemento que se acrescenta como se fosse externo à liberdade, mas realiza
o grande desejo da consciência para a verdade, o bem e a beleza, encontrando-os
plenamente em Jesus. O testemunho de tantos jovens mártires do passado e do
presente, que teve grande impacto no Sínodo, é a prova mais convincente de que
a fé nos torna livres nos confrontos com as potências deste mundo, com as suas
injustiças e até diante da morte.
A liberdade ferida e redimida
76. A liberdade humana está marcada
pelas feridas do pecado pessoal e pela concupiscência. Mas quando, graças ao
perdão e à misericórdia, a pessoa toma consciência dos obstáculos que a
aprisionam, cresce em maturidade e pode empenhar-se com mais lucidez nas
escolhas definitivas da vida. Numa perspetiva educativa, é importante ajudar os
jovens a não desanimarem frente a erros e falhanços, mesmo se humilhantes,
porque fazem parte integrante do caminho para uma liberdade mais madura,
consciente da própria grandeza e fragilidade.
Porém, o mal não tem a última palavra: «Tanto
amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito» (Jo 3,16). Ele
amou-nos até à morte e resgatou, assim, a nossa liberdade. Morrendo por nós na
cruz, derramou o Espírito, e «onde está o Espírito do Senhor, aí está a
liberdade» (2Cor 3,17): uma liberdade nova, pascal, que se realiza no dom
quotidiano de si.
Capítulo II
O mistério da vocação
A procura da vocação
Vocação, viagem e descoberta
77. O relato do chamamento de Samuel
(cf. 1Sm 3,1-18) permite perceber os traços fundamentais do discernimento: a
escuta e o reconhecimento da iniciativa divina, uma experiência pessoal, uma
compreensão progressiva, um acompanhamento paciente e respeitoso do mistério concretizado,
um destino comunitário. A vocação não se impõe a Samuel como um destino a
suportar; é uma proposta de amor, um envio missionário numa história de quotidiana
confiança recíproca.
Tal como para o jovem Samuel, assim
também para cada homem e cada mulher, a vocação, mesmo tendo momentos fortes e
privilegiados, comporta uma longa viagem. A Palavra do Senhor exige tempo para
ser compreendida e interpretada; a missão a que ela chama revela-se
gradualmente. Os jovens estão fascinados pela aventura da descoberta
progressiva de si. Eles aprendem de boa vontade com as atividades que
desenvolvem, com os encontros e com as relações, pondo-se à prova no quotidiano.
Precisam, no entanto, de ser ajudados a unir as diversas experiências e a
lê-las numa perspetiva de fé, vencendo o risco da dispersão e reconhecendo os
sinais com os quais Deus fala. Na descoberta da vocação, nem tudo é logo claro,
porque a fé «“vê” na medida em que caminha, em que entra no espaço aberto pela
Palavra de Deus»[15].
Vocação, graça e liberdade
78. Ao longo dos séculos, a compreensão
teológica do mistério da vocação conheceu acentuações diversas, de acordo com o
contexto social e eclesial onde o tema era desenvolvido. No entanto, em todos
eles foi reconhecido o carácter analógico do termo «vocação» e as muitas
dimensões que conotam a realidade que isso designa. Isto leva, algumas vezes, a
evidenciar aspetos singulares, com perspetivas que nem sempre souberam
salvaguardar com equilíbrio a complexidade do conjunto. Para compreender em
profundidade o mistério da vocação que encontra em Deus a sua origem última,
somos chamados a purificar o nosso imaginário e a nossa linguagem religiosa,
reencontrando a riqueza e o equilíbrio da narração bíblica. O entrelaçamento
entre a escolha divina e a liberdade humana, em particular, é pensado fora de
qualquer determinismo e de qualquer «extrinsecismo». A vocação nem é um guião
já escrito que o ser humano deveria simplesmente recitar, nem uma improvisação
teatral sem esboço. Dado que Deus nos chama a ser amigos e não servos (cf. Jo 15,13),
as nossas escolhas concorrem de modo real para o desenvolvimento histórico do
seu projeto de amor. A economia da salvação, por sua vez, é um Mistério que nos
supera infinitamente; por isso só a escuta do Senhor pode revelar-nos aquilo a que
somos chamados a ser nessa economia. Nesta perspetiva, a vocação surge realmente
como um dom de graça e de aliança, como o segredo mais belo e precioso da nossa
liberdade.
Criação e vocação
79. Afirmando que todas as coisas foram
criadas por meio de Cristo e em vista dele (cf. Cl 1,16), a Escritura ajuda a
ler o mistério da vocação como uma realidade que indica a própria criação de Deus.
Deus criou com a sua Palavra, que «chama» ao ser e à vida e, depois, «distingue»
no caos do indistinto, imprimindo ao cosmo a beleza da ordem e a harmonia da
diversidade. Se já São Paulo VI afirmara que «cada vida é vocação»[16],
Bento XVI insistiu sobre o facto de que o ser humano é criado como ser
dialógico: a Palavra criadora «chama cada um em termos pessoais, revelando
assim que a própria vida é vocação em relação a Deus»[17].
Para uma cultura vocacional
80. Falar da existência humana em termos
vocacionais permite evidenciar alguns elementos que são muito importantes para
o crescimento de um jovem: significa excluir que isso seja determinado pelo
destino ou fruto do acaso, ou que seja um bem privado a gerir pelo próprio. Se
no primeiro caso não há vocação porque não há o reconhecimento de um destino
digno da existência, no segundo, um ser humano pensado «sem laços» torna-se «sem
vocação». Por isso, é importante criar as condições para que em todas as comunidades
cristãs, a partir da consciência batismal dos seus membros, se desenvolva uma
verdadeira cultura vocacional e um constante compromisso em rezar pelas
vocações.
A vocação de seguir Jesus
O fascínio de Jesus
81. Muitos jovens são fascinados pela
figura de Jesus. A sua vida parece-lhes boa e bela, porque pobre e simples,
feita de amizades sinceras e profundas, gasta generosamente com os irmãos,
nunca fechada para ninguém, mas sempre disponível ao dom. A vida de Jesus
permanece também hoje profundamente atraente e inspiradora; é para todos os
jovens uma provocação que interpela. A Igreja sabe que tal se deve ao facto de
Jesus ter uma ligação profunda com cada ser humano, porque «Cristo Senhor, novo
Adão, na mesma revelação do mistério do Pai e do seu amor, manifesta plenamente
o homem ao próprio homem e descobre-lhe a sua altíssima vocação»[18].
Fé, vocação e discipulado
82. De facto, Jesus não só fascinou com
a sua vida, como também chamou explicitamente à fé. Ele encontrou homens e
mulheres que reconheceram nos seus gestos e nas suas palavras o modo justo de
falar de Deus e de se relacionar com Ele, conduzindo àquela fé que leva à
salvação: «Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz» (Lc 8,48). Por sua vez,
outros que o encontraram foram chamados a tornar-se seus discípulos e
testemunhas. Ele não escondeu a quem quer ser seu discípulo a exigência de tomar
a própria cruz todos os dias e de segui-lo num caminho pascal de morte e
ressurreição. A fé testemunhal continua a viver na Igreja, sinal e instrumento
de salvação para todos os povos. A pertença à comunidade de Jesus conheceu
sempre diversas formas de seguimento. A grande parte dos discípulos viveu a fé nas
condições ordinárias da vida quotidiana; outros, porém, inclusive algumas
figuras femininas, partilharam a existência itinerante e profética do Mestre (cf.
Lc 8,1-3); desde o início, os Apóstolos tiveram um papel particular na
comunidade e foram associados a Ele no seu ministério de orientação e de pregação.
A Virgem Maria
83. Entre todas as figuras bíblicas que
ilustram o mistério da vocação, Maria é contemplada de modo singular. Jovem mulher
que com o seu «sim» tornou possível a encarnação, criando as condições para que
tantas outras vocações eclesiais pudessem ser geradas, ela permanece como a primeira
discípula de Jesus e o modelo de todo o discipulado. Na sua peregrinação de fé,
Maria seguiu o seu Filho até junto à cruz e, depois da Ressurreição, acompanhou
a Igreja nascente no Pentecostes. Como mãe e mestra misericordiosa, continua a
acompanhar a Igreja e a implorar o Espírito que vivifica cada vocação. Por
isso, é evidente que o «princípio mariano» tem um papel eminente e ilumina toda
a vida da Igreja nas suas diversas manifestações. Ao lado da Virgem, também a
figura de José, seu esposo, constitui um modelo exemplar de resposta
vocacional.
Vocação e vocações
Vocação e missão da Igreja
84. Não é possível entender plenamente o
significado da vocação batismal se não se considera que ela é para todos, sem
excluir ninguém, um chamamento à santidade. Tal apelo implica necessariamente o
convite a participar na missão da Igreja, que tem como finalidade fundamental a
comunhão com Deus e entre todas as pessoas. De facto, as vocações eclesiais são
expressões múltiplas e articuladas, mediante as quais a Igreja realiza o seu
chamamento a ser sinal real do Evangelho acolhido numa comunidade fraterna. As
diversas formas de seguimento de Cristo exprimem, cada uma a seu modo, a missão
de testemunhar o acontecimento de Jesus, no qual cada homem e cada mulher encontram
a salvação.
A variedade dos carismas
85. São Paulo, nas suas cartas volta,
muitas vezes a este tema, referindo-se à imagem da Igreja como corpo
constituído por vários membros e pondo em realce que cada membro é necessário e
ao mesmo tempo relativo ao conjunto, dado que só a unidade de todos torna o corpo
vivo e harmónico. A origem desta comunhão é encontrada, pelo Apóstolo, no
próprio mistério da Santíssima Trindade: «Há diversidade de dons, mas o
Espírito é o mesmo; há diversidade de serviços, mas o Senhor é o mesmo» (1Cor
12,4-6). O Concílio Vaticano II e o sucessivo magistério oferecem indicações
preciosas para elaborar uma correta teologia dos carismas e dos ministérios na
Igreja, de modo a acolher com gratidão e a valorizar com sabedoria os dons da
graça que o Espírito faz continuamente surgir na Igreja para rejuvenescê-la.
Profissão e vocação
86. Para muitos jovens, a orientação
profissional é vivida num horizonte vocacional. Não raras vezes se recusam
propostas de trabalho aliciantes que não estão em sintonia com os valores
cristãos, e a escolha de percursos formativos é feita de forma a fazer
frutificar os talentos pessoais ao serviço do Reino de Deus. O trabalho é para
muitos ocasião de reconhecer e valorizar os dons recebidos: desta forma, os
homens e as mulheres participam ativamente no mistério trinitário da criação,
redenção e santificação.
A família
87. As duas recentes assembleias
sinodais sobre a família, donde surgiu a Exortação Apostólica Amoris laetitia,
ofereceram um rico contributo acerca da vocação da família na Igreja e o contributo
insubstituível que as famílias são chamadas a dar no testemunho do Evangelho
através do amor mútuo, da geração e da educação dos filhos. Ao mencionar-se a
riqueza contida nos recentes documentos, sublinha-se a importância de retomar
essa mensagem para redescobrir e tornar compreensível aos jovens a beleza da
vocação nupcial.
A vida consagrada
88. O dom da vida consagrada, na sua
forma, quer contemplativa quer ativa, que o Espírito suscita na Igreja, tem um
particular valor profético porquanto é testemunho alegre da gratuidade do amor.
Quando as comunidades religiosas e as novas fundações vivem autenticamente a
fraternidade, elas tornam-se escolas de comunhão, centros de oração e de
contemplação, lugares de testemunho de diálogo intergeracional e intercultural,
e espaços para a evangelização e a caridade. A missão de muitos consagrados e
consagradas que cuidam dos últimos, nas periferias do mundo, manifesta
concretamente a dedicação de uma Igreja em saída. Se em algumas regiões
experimenta a redução numérica e a dificuldade do envelhecimento, a vida
consagrada continua a ser fecunda e criativa também através da
corresponsabilidade com tantos leigos que partilham o espírito e a missão dos
diversos carismas. A Igreja e o mundo não podem passar sem este dom vocacional,
que constitui um grande recurso para o nosso tempo.
O ministério ordenado
89. A Igreja teve sempre um cuidado
especial pelas vocações ao ministério ordenado, na consciência de que este
último é um elemento constitutivo da sua identidade e é necessário para a vida
cristã. Por isso, ela sempre cultivou uma atenção específica pela formação e
pelo acompanhamento dos candidatos ao presbiterado. A preocupação de muitas
Igrejas pela sua diminuição numérica torna necessária uma renovada reflexão
sobre as vocações ao ministério ordenado e sobre uma pastoral vocacional que
saiba mostrar o fascínio da pessoa de Jesus e do seu chamamento para ser pastor
da sua grei. Também a vocação ao diaconado permanente requer maior atenção,
porque constitui um recurso de que ainda não foram exploradas todas as
potencialidades.
A condição dos solteiros (single)
90. O Sínodo refletiu sobre a condição
das pessoas que vivem como solteiros (single), reconhecendo que com este termo
se podem indicar situações de vida muito diversas entre si. Tal situação pode
depender de muitas razões, voluntárias ou involuntárias, e de fatores
culturais, religiosos e sociais. Pode ainda exprimir uma gama de percursos
muito ampla. A Igreja reconhece que tal condição, assumida numa lógica de fé e
de dom, pode tornar-se um dos muitos caminhos através dos quais atua a graça do
Batismo e se caminha em direção àquela santidade a que todos somos chamados.
Capítulo III
A missão de acompanhar
A Igreja que acompanha
Perante as escolhas
91. No mundo contemporâneo,
caracterizado por um pluralismo cada vez mais evidente e por uma disponibilidade
de opções cada vez mais ampla, o tema das escolhas coloca-se com particular
força e a diversos níveis, sobretudo perante itinerários de vida cada vez menos
lineares, caracterizados por grande precariedade. De facto, muitas vezes, os
jovens movem-se entre abordagens extremas e ingénuas: desde o considerarem-se
perante um destino já escrito e inexorável, ao sentirem-se subjugados por um
ideal de excelência abstrato, num quadro de competição desregrada e violenta.
Daí que acompanhar para conseguir fazer
escolhas válidas, estáveis e bem fundadas seja um serviço considerado muito
necessário. Estar presente, apoiar e acompanhar o itinerário para escolhas
autênticas é, para a Igreja, um modo de exercitar a própria função materna, gerando
para a liberdade dos filhos de Deus. Tal serviço não é mais do que a
continuação do modo como o Deus de Jesus Cristo age na relação com o seu povo:
através de uma presença constante e cordial, uma proximidade dedicada e amável
e uma ternura sem limites.
Partir juntos o pão
92. Como ensina a narrativa dos
discípulos de Emaús, acompanhar requer a disponibilidade para fazer juntos um
troço da estrada, estabelecendo uma relação significativa. A origem do termo «acompanhar»
reenvia para o pão partido e partilhado (cum pane), com toda a sua riqueza
simbólica humana e sacramental. Por isso, é a comunidade no seu conjunto o
sujeito principal do acompanhamento, até porque no seu seio se desenvolve a
trama de relações que pode apoiar a pessoa no seu caminho e fornecer-lhe pontos
de referência e de orientação. O acompanhamento no crescimento humano e cristão
para a vida adulta é uma das formas com que a comunidade se mostra capaz de se
renovar e de renovar o mundo.
A Eucaristia é memória viva do acontecimento
pascal, lugar privilegiado da evangelização e da transmissão da fé em vista da
missão. Na assembleia reunida na celebração eucarística, a experiência de ser
pessoalmente tocados, instruídos e curados por Jesus acompanha cada um no seu
percurso de crescimento pessoal.
Ambientes e tarefas
93. Além dos membros da família, são
chamados a desempenhar um papel de acompanhamento todas as pessoas significativas
nos diversos âmbitos da vida dos jovens, como professores, animadores,
treinadores e outras figuras de referência, também as profissionais.
Sacerdotes, religiosos e religiosas, mesmo não tendo o monopólio do
acompanhamento, possuem um dever específico que brota da sua vocação e que
devem redescobrir, como foi pedido pelos jovens na Assembleia sinodal, em nome
de tantos outros. A experiência de algumas Igrejas sublinha o papel dos
catequistas como acompanhadores das comunidades cristãs e dos seus membros.
Acompanhar a inserção na sociedade
94. O acompanhamento não pode limitar-se
ao percurso de crescimento espiritual e às práticas da vida cristã. Por isso, é
igualmente frutuoso o acompanhamento ao longo do percurso de progressiva tomada
de responsabilidade no seio da sociedade, por exemplo, no âmbito profissional
ou de compromisso sociopolítico. Neste sentido, a Assembleia sinodal recomenda
a valorização da doutrina social da Igreja. Dentro da sociedade e da comunidade
eclesial, cada vez mais interculturais e multirreligiosas, é necessário um acompanhamento
específico na relação com a diversidade, que a valorize como enriquecimento
mútuo e possibilidade de comunhão fraterna, contra a dúplice tentação da perda
identitária e do relativismo.
O acompanhamento comunitário, de grupo e
pessoal
Uma tensão fecunda
95. Há uma complementaridade
constitutiva entre o acompanhamento pessoal e o comunitário, que toda a
espiritualidade ou sensibilidade eclesial é chamada a articular de forma
original. Será, sobretudo, em alguns momentos particularmente delicados, como
por exemplo a fase do discernimento em relação às escolhas de vida fundamentais
ou a passagem de momentos críticos, que o acompanhamento pessoal direto
resultará particularmente fecundo. De qualquer modo, permanece importante
também na vida quotidiana como via para aprofundar a relação com o Senhor.
Sublinha-se também a urgência de
acompanhar pessoalmente seminaristas e jovens sacerdotes, religiosos em
formação, como também os casais no caminho de preparação para o Matrimónio e,
nos primeiros tempos, depois da celebração do sacramento, inspirando-se no
catecumenato.
O acompanhamento comunitário e de grupo
96. Jesus acompanhou o grupo dos seus
discípulos, partilhando com eles a vida de cada dia. A experiência comunitária põe
em evidência qualidades e limites de cada pessoa e faz crescer a consciência
humilde de que, sem a partilha dos dons recebidos para o bem de todos, não é
possível seguir o Senhor.
Esta experiência continua na prática da
Igreja, que vê os jovens inseridos em grupos, movimentos e associações de
vários tipos, onde experimentam o ambiente caloroso e acolhedor e a intensidade
de relações que desejam. Na verdade, a inserção deste tipo é de particular
importância uma vez concluído o percurso de iniciação cristã, porque oferece
aos jovens o terreno para continuar o amadurecimento da própria vocação cristã.
Nestes ambientes deve ser encorajada a presença dos pastores, para assim garantir
um acompanhamento adequado.
Nos grupos, educadores e animadores
representam um ponto de referência em termos de acompanhamento, enquanto as
relações de amizade que se desenvolvem entre eles constituem o terreno para um
acompanhamento entre pares.
O acompanhamento espiritual pessoal
97. O acompanhamento espiritual é um
processo que procura ajudar a pessoa a integrar progressivamente as diversas
dimensões da vida para seguir o Senhor Jesus. Neste processo articulam-se três
instâncias: a escuta da vida, o encontro com Jesus e o diálogo misterioso entre
a liberdade de Deus e a da pessoa. Quem acompanha acolhe com paciência, suscita
as perguntas mais verdadeiras e reconhece os sinais do Espírito na resposta dos
jovens.
No acompanhamento espiritual pessoal
aprende-se a reconhecer, interpretar e escolher na perspetiva da fé, na escuta
de quanto o Espírito sugere na vida de cada dia[19]. O carisma do
acompanhamento espiritual, também na tradição, não está necessariamente ligado
ao ministério ordenado. Hoje mais do que nunca são necessários orientadores
espirituais, pais e mães com uma profunda experiência de fé e de humanidade, e
não apenas preparados intelectualmente. O Sínodo deseja que haja também uma
redescoberta neste âmbito do grande recurso generativo da vida consagrada, em
particular a feminina, e dos leigos, adultos e jovens, bem formados.
Acompanhamento e sacramento da
Reconciliação
98. O sacramento da Reconciliação tem um
papel indispensável para avançar na vida de fé, que está marcada não só pelo
limite e pela fragilidade, como também pelo pecado. O ministério da Reconciliação
e o acompanhamento espiritual devem ser oportunamente distintos, porque têm
finalidades e formas diferentes. É pastoralmente oportuna uma sã e sábia
gradualidade de percursos penitenciais, com o envolvimento de uma pluralidade
de figuras educativas, que ajudem os jovens a ler a própria vida moral, a
amadurecer um correto sentido do pecado e, sobretudo, a abrir-se à alegria
libertadora da misericórdia.
Um acompanhamento integral
99. Além disso, o Sínodo reconhece a
necessidade de promover um acompanhamento integral, em que os aspetos espirituais
são bem integrados com os humanos e sociais. Como explica o Papa Francisco, «o
discernimento espiritual não exclui as contribuições de sabedorias humanas,
existenciais, psicológicas, sociológicas ou morais; mas transcende-as»[20].
Trata-se de elementos que devem ser acolhidos de forma dinâmica e no respeito
pelas diversas espiritualidades e culturas, sem exclusões nem confusões.
O acompanhamento psicológico e
psicoterapêutico, se aberto à transcendência, pode revelar-se fundamental para
um caminho de integração da personalidade, reabrindo ao possível crescimento
vocacional alguns aspetos da personalidade, fechados ou bloqueados. Os jovens
vivem toda a riqueza e a fragilidade de serem um «canteiro aberto». A elaboração
psicológica poderia não só ajudar a percorrer de novo com paciência a própria
história, como também reabrir perguntas para se conseguir um equilíbrio afetivo
mais estável.
O acompanhamento na formação ao
ministério ordenado e à vida consagrada
100. Ao acolher os jovens nas casas de
formação ou seminários, é importante verificar um suficiente enraizamento numa
comunidade, uma estabilidade nas relações de amizade com os pares, no empenho no
estudo ou no trabalho, no contacto com a pobreza e o sofrimento. No
acompanhamento espiritual é decisivo iniciar à oração e ao trabalho interior,
aprendendo o discernimento, antes de mais, na própria vida, também através de
renúncia e de ascese. O celibato pelo Reino (cf. Mt 19,12) deveria ser
entendido como um dom a reconhecer e a verificar na liberdade, alegria,
gratuidade e humildade, antes da admissão às ordens ou da primeira profissão. O
contributo da psicologia deve ser tido como ajuda para a maturação afetiva e a
integração da personalidade, a inserir no itinerário formativo segundo a
deontologia profissional e o respeito pela liberdade efetiva de quem está em
formação. A figura do reitor ou de quem é responsável pela formação torna-se
cada vez mais importante para unificar o caminho formativo, para levar a um
discernimento realista, consultando todas as pessoas envolvidas na formação e
para decidir em relação à eventualidade de interromper o caminho formativo
ajudando a ir por outra via vocacional.
Terminada a fase inicial da formação, é
preciso assegurar a formação permanente e o acompanhamento de sacerdotes,
consagrados e consagradas, sobretudo os mais jovens. Estes são frequentemente
confrontados com desafios e responsabilidades desproporcionadas. O dever de os acompanhar
não diz respeito só aos próprios delegados, mas deve ser exercitado pessoalmente
pelos bispos e superiores.
Acompanhadores de qualidade
Chamados a acompanhar
101. De muitos modos os jovens
pediram-nos para qualificar a figura dos acompanhadores. O serviço de
acompanhamento é uma autêntica missão, que pede a disponibilidade apostólica de
quem a exerce. Como o diácono Filipe, o acompanhador é chamado a obedecer ao
chamamento do Espírito, saindo e abandonando o recinto dos muros de Jerusalém,
figura da comunidade cristã, para se dirigir a um lugar deserto e inóspito,
talvez perigoso, onde deve correr para alcançar um carro. Conseguindo-o, deve
encontrar o modo de entrar em relação com o viajante estrangeiro, para suscitar
uma pergunta que talvez espontaneamente nunca teria sido formulada (cf. At 8,26-40).
Em suma, acompanhar requer pôr-se à disposição do Espírito do Senhor e de quem
é acompanhado, com todas as qualidades e capacidades próprias, e depois ter a
coragem de afastar-se com humildade.
O perfil do acompanhador
102. O bom acompanhador é uma pessoa
equilibrada, de escuta, de fé e de oração, a que se juntam as próprias
fraquezas e fragilidades. Por isso, sabe ser acolhedor para com os jovens que
acompanha, sem moralismos nem falsas indulgências. Quando é necessário sabe
oferecer também a palavra da correção fraterna.
A consciência de que acompanhar é uma
missão que requer um profundo enraizamento na vida espiritual ajudá-lo-á a
manter-se livre no relacionamento com os jovens que acompanha: respeitará o
êxito do seu percurso, apoiando-os com a oração e alegrando-se com os frutos
que o Espírito produz naqueles que lhe abrem o coração, sem procurar impor a
própria vontade e as próprias preferências. Será igualmente capaz de estar ao
serviço, em vez de ocupar o centro da cena e assumir atitudes possessivas e
manipuladoras que criam dependência e não liberdade nas pessoas. Este profundo
respeito será também a melhor garantia contra os riscos de plágio e de abusos
de qualquer tipo.
A importância da formação
103. Para desenvolver o próprio serviço,
o acompanhador terá necessidade de cultivar a própria vida espiritual,
alimentando a relação com Aquele que lhe confiou a missão. Ao mesmo tempo
precisará de sentir o apoio da comunidade eclesial de que faz parte. Será
importante que receba uma formação específica para este ministério particular e
que possa beneficiar, por sua vez, de acompanhamento e de supervisão.
Por fim, foram recordados os traços
caracterizadores do nosso ser Igreja que são muito apreciados pelos jovens: a
disponibilidade e a capacidade de trabalho em equipa; desta forma é-se mais
significativo, eficaz e incisivo na formação dos jovens. Tal competência no
trabalho comunitário requer o amadurecimento de virtudes relacionais
específicas: a disciplina da escuta e a capacidade de dar espaço ao outro, a
prontidão no perdão e a disponibilidade de se envolver segundo uma autêntica
espiritualidade de comunhão.
Capítulo IV
A arte de discernir
A Igreja, ambiente para discernir
Uma constelação de significados na
variedade das tradições espirituais
104. O acompanhamento vocacional é
dimensão fundamental de um processo de discernimento por parte da pessoa que é
chamada a escolher. O termo «discernimento» é usado numa pluralidade de
aceções, às vezes ligadas entre si. Num sentido mais geral, discernimento
indica o processo pelo qual se tomam decisões importantes; num segundo sentido,
mais específico da tradição cristã e sob o qual nos deteremos particularmente,
corresponde à dinâmica espiritual pela qual uma pessoa, um grupo ou uma comunidade
procuram reconhecer e acolher a vontade de Deus no concreto da sua situação:
«Examinai tudo, guardai o que é bom» (1Ts 5,21). Enquanto atenção para
reconhecer a voz do Espírito e para acolher o seu chamamento, o discernimento é
uma dimensão essencial do estilo de vida de Jesus, uma atitude de fundo mais do
que um ato pontual.
Ao longo da história da Igreja, as
diversas espiritualidades encararam o tema do discernimento com diversas
acentuações também na relação com as diversas sensibilidades carismáticas e
épocas históricas. Durante o Sínodo, verificámos alguns elementos comuns, que
não eliminam a diversidade das linguagens: a presença de Deus na vida e na
história de cada pessoa; a possibilidade de reconhecer a ação; o papel da
oração, da vida sacramental e da ascese; o confronto contínuo com as exigências
da Palavra de Deus; a liberdade sobre as certezas adquiridas; o exame constante
da vida quotidiana; a importância de um acompanhamento adequado.
O reenvio constitutivo à Palavra e à
Igreja
105. Enquanto «atitude interior que se
enraíza num ato de fé»[21],
o discernimento reenvia constitutivamente à Igreja, cuja missão é fazer com que
cada homem e cada mulher encontrem o Senhor que já trabalha na sua vida e no
seu coração.
O contexto da comunidade eclesial
favorece um clima de confiança e de liberdade na procura da própria vocação num
ambiente de recolhimento e de oração; oferece oportunidades concretas para a
releitura da própria história e da descoberta dos próprios dons e das próprias
vulnerabilidades à luz da Palavra de Deus; permite o confronto com testemunhos
que encarnam diversas opções de vida. Também o encontro com os pobres solicita
o aprofundamento de quanto é essencial na existência, enquanto os sacramentos –
sobretudo a Eucaristia e a Reconciliação – alimentam e apoiam quem se encaminha
para a descoberta da vontade de Deus.
O horizonte comunitário está sempre
implicado em cada discernimento, nunca reduzível apenas à dimensão individual.
Ao mesmo tempo, cada discernimento pessoal interpela a comunidade,
solicitando-a a pôr-se à escuta daquilo que o Espírito lhe sugere através da
experiência espiritual dos seus membros: como cada crente, também a Igreja está
sempre em discernimento.
A consciência em discernimento
Deus fala ao coração
106. O discernimento chama a atenção para
quanto acontece no coração de cada homem e de cada mulher. Nos textos bíblicos
usa-se o termo «coração» para indicar o ponto central da interioridade da
pessoa, onde a escuta da Palavra que Deus constantemente lhe dirige se torna
critério de avaliação da vida e das escolhas (cf. Sl 139). A Bíblia considera a
dimensão pessoal, mas ao mesmo tempo sublinha a comunitária. Também o «coração
novo» prometido pelos profetas não é um dom individual, mas diz respeito a todo
o Israel, em cuja tradição e história salvífica o crente é inserido (cf. Ez 36,26-27).
Os Evangelhos continuam na mesma linha: Jesus insiste na importância da
interioridade e põe no coração o centro da vida moral (cf. Mt 15,18-20).
A ideia cristã de consciência
107. O apóstolo Paulo enriquece aquilo
que a tradição bíblica elaborou a propósito do coração, pondo-o em relação com
o termo «consciência», que assume da cultura do seu tempo. É na consciência que
se colhe o fruto do encontro e da comunhão com Cristo: uma transformação
salvífica e o acolhimento de uma nova liberdade. A tradição cristã insiste na
consciência como lugar privilegiado de uma intimidade especial com Deus e de
encontro com Ele, onde a sua voz se torna presente: «A consciência é o núcleo
mais secreto do homem e o santuário onde ele está a sós com Deus, cuja voz
ressoa no seu íntimo»[22].
Esta consciência não coincide com o sentir imediato e superficial, nem com uma «consciência
de si»: atesta uma presença transcendente, que cada um encontra na própria interioridade,
mas da qual não dispõe.
A formação da consciência
108. Formar a consciência é o caminho de
toda a vida, na qual se aprende a ter os mesmos sentimentos de Jesus Cristo,
assumindo os critérios das suas escolhas e as intenções do seu agir (cf. Fl 2,5).
Para chegar à dimensão mais profunda da consciência, segundo a visão cristã, é
importante um cuidado com a interioridade, que compreende, antes de mais,
tempos de silêncio, de contemplação orante e de escuta da Palavra, o sustento
da prática sacramental e do ensinamento da Igreja. Além disso, é preciso uma
prática habitual do bem, verificada no exame de consciência: um exercício em
que não se trata apenas de identificar os pecados, mas também de reconhecer a
obra de Deus na própria experiência quotidiana, na vivência da história e das
culturas onde se está inserido, no testemunho de tantos outros homens e
mulheres que nos precederam ou nos acompanham com a sua sabedoria. Tudo isto
ajuda a crescer na virtude da prudência, articulando a orientação global da
existência com as escolhas concretas, na serena consciência dos próprios dons e
dos próprios limites. O jovem Salomão pediu este dom mais do que qualquer outra
coisa (cf. 1Rs 3,9).
A consciência eclesial
109. A consciência de cada crente na sua
dimensão mais pessoal está sempre em relação com a consciência eclesial. É só através
da mediação da Igreja e da sua tradição de fé que podemos aceder ao autêntico
rosto de Deus que se revela em Jesus Cristo. O discernimento espiritual
apresenta-se assim como o sincero trabalho da consciência, no próprio empenho
em conhecer o bem possível como base para decidir responsavelmente no correto
exercício da razão prática, no interior e à luz da relação pessoal com o Senhor
Jesus.
A prática do discernimento
A familiaridade com o Senhor
110. Enquanto encontro com o Senhor que
se torna presente na intimidade do coração, o discernimento pode ser entendido
como autêntica forma de oração. Por isso, requer tempos adequados de
recolhimento, seja na regularidade da vida quotidiana, seja em momentos
privilegiados, como retiros, cursos de exercícios espirituais, peregrinações,
etc. Um discernimento sério alimenta-se de todas as ocasiões de encontro com o
Senhor e de aprofundamento da familiaridade com Ele, nas diversas formas em que
se torna presente: os sacramentos, e, em particular, a Eucaristia e a
Reconciliação; a escuta e a meditação da Palavra de Deus, a Lectio divina na
comunidade; a experiência fraterna da vida comum; o encontro com os pobres, com
os quais o Senhor se identifica.
As disposições do coração
111. Abrir-se à escuta da voz do
Espírito requer disposições interiores precisas: a primeira é a atenção do
coração, favorecida por um silêncio e por um esvaziamento que requer uma
ascese. Também fundamentais são a consciência, a aceitação de si e o arrependimento,
unidos à disponibilidade de pôr ordem na própria vida, abandonando aquilo que
possa tornar-se obstáculo, e recuperar a liberdade interior necessária para
fazer escolhas orientadas apenas pelo Espírito Santo. Um bom discernimento
requer também atenção aos movimentos do próprio coração, crescendo na
capacidade de reconhecê-los e de lhes dar um nome. Por fim, o discernimento
requer a coragem de se empenhar na luta espiritual, pois não deixarão de
manifestar-se tentações e obstáculos que o Maligno põe no nosso caminho.
O diálogo de acompanhamento
112. As diversas tradições espirituais
concordam no facto de que um bom discernimento requer um regular confronto com
um orientador espiritual. Trazer a experiência da própria vivência de uma forma
autêntica e pessoal favorece o esclarecimento. Ao mesmo tempo, o acompanhador
assume uma função essencial de confronto externo, tornando-se mediador da
presença materna da Igreja. Trata-se de uma delicada função já abordada no
capítulo precedente.
A decisão e a confirmação
113. O discernimento como dimensão do
estilo de vida de Jesus e dos seus discípulos permite processos concretos que
levam a sair da indeterminação, assumindo a responsabilidade das decisões. Por
isso, os processos de discernimento não podem durar indefinidamente, seja nos
casos de percursos pessoais, seja nos comunitários e institucionais. À decisão
segue-se uma fase também fundamental de atuação e de verificação na vida
quotidiana. Será assim indispensável prosseguir numa fase de atenta escuta das
ressonâncias interiores para acolher a voz do Espírito. O confronto com o
concreto reveste-se de uma importância específica nesta fase. Em particular,
várias tradições espirituais assinalam o valor da vida fraterna e do serviço
aos pobres como laboratório das decisões assumidas e como lugar onde a pessoa
se revela plenamente a si mesma.
III PARTE
«Partiram imediatamente»
114. «Disseram, então, um ao outro: “Não
nos ardia o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as
Escrituras?” Levantando-se, voltaram imediatamente para Jerusalém e encontraram
reunidos os Onze e os seus companheiros, que lhes disseram: “Realmente o Senhor
ressuscitou e apareceu a Simão!” E eles contaram o que lhes tinha acontecido
pelo caminho e como Jesus se lhes dera a conhecer, ao partir o pão» (Lc 24,32-35).
Da escuta da Palavra passa-se à alegria
de um encontro que enche o coração, dá sentido à existência e infunde nova
energia. Os rostos iluminam-se e o caminho retoma vigor: é a luz e a força da
resposta vocacional que se faz missão para a comunidade e o mundo inteiro. Sem
demora e sem medo, os discípulos retomaram o caminho para encontrar os irmãos e
testemunhar o seu encontro com Jesus ressuscitado.
Uma Igreja jovem
Um ícone de ressurreição
115. Em continuidade com a inspiração pascal
de Emaús, o ícone de Maria Madalena (cf. Jo 20,1-18) ilumina o caminho que a
Igreja quer fazer com e para os jovens, como fruto deste Sínodo: um caminho de
ressurreição que conduz ao anúncio e à missão. Habitada por um profundo desejo
do Senhor, desafiando a escuridão da noite, Madalena corre ao encontro de Pedro
e do outro discípulo; o seu movimento ativa o deles, a sua dedicação feminil
antecipa o caminho dos Apóstolos e abre-lhes a via. Na madrugada daquele dia, o
primeiro da semana, acontece a surpresa do encontro: Maria procurou porque
amava, mas encontra porque é amada. O Ressuscitado faz-se reconhecer chamando-a
pelo nome e pede-lhe que não o detenha, porque o seu Corpo ressuscitado não é
um tesouro para aprisionar, mas um Mistério para partilhar. Assim, ela torna-se
a primeira discípula missionária, a apóstola dos Apóstolos. Sarada das suas
feridas (cf. Lc 8,2) e testemunha da ressurreição, é a imagem da Igreja jovem
que sonhamos.
Caminhar com os jovens
116. A paixão em procurar a verdade, a
admiração face à beleza do Senhor, a capacidade de partilhar e a alegria do
anúncio vivem também hoje no coração de tantos jovens que são membros vivos da
Igreja. Por isso, não se trata de fazer qualquer coisa «para eles», mas de
viver em comunhão «com eles», crescendo juntos na compreensão do Evangelho e na
procura das formas mais autênticas para vivê-lo e testemunhá-lo. A participação
responsável dos jovens na vida da Igreja não é opcional, mas uma exigência da
vida batismal e um elemento indispensável para a vida de cada comunidade. As dificuldades
e fragilidades dos jovens ajudam-nos a ser melhores, as suas perguntas
desafiam-nos, as suas dúvidas interpelam-nos sobre a qualidade da nossa fé. Também
as suas críticas nos são necessárias, porque não raras vezes através delas
escutamos a voz do Senhor que nos pede conversão do coração e renovação das
estruturas.
O desejo de atingir todos os jovens
117. No Sínodo interrogámo-nos sempre
sobre os jovens, tendo em mente não apenas aqueles que fazem parte da Igreja e
trabalham ativamente nela, mas também todos os que têm outras visões da vida,
professam outra fé ou se declaram alheios ao horizonte religioso. Todos os
jovens, nenhum excluído, estão no coração de Deus e, por isso, também no coração
da Igreja. No entanto, reconhecemos com sinceridade que nem sempre esta
afirmação que sai dos nossos lábios encontra real expressão na nossa ação
pastoral: muitas vezes, permanecemos fechados nos nossos ambientes, onde a sua
voz não chega, ou dedicamo-nos a atividades menos exigentes e mais
gratificantes, sufocando aquela sã inquietação pastoral que nos faz sair das
nossas alegadas seguranças. No entanto, o Evangelho pede-nos para ousar, e
queremos fazê-lo sem presunção e sem proselitismo, testemunhando o amor do
Senhor e estendendo a mão a todos os jovens do mundo.
Conversão espiritual, pastoral e
missionária
118. O Papa Francisco recorda-nos
frequentemente que isso não é possível sem um sério caminho de conversão.
Estamos conscientes de que não se trata apenas de dar origem a novas atividades
e não queremos escrever «planos apostólicos expansionistas, meticulosos e bem
traçados, típicos de generais derrotados»[23]. Sabemos que,
para sermos credíveis, devemos viver uma reforma da Igreja, que implica purificação
do coração e mudanças de estilo. A Igreja deve realmente deixar-se enformar
pela Eucaristia que celebra como cume e fonte da sua vida: a forma de um pão
composto por muitas espigas e partido para a vida do mundo. O fruto deste
Sínodo, a escolha que o Espírito nos inspirou por meio da escuta e do
discernimento, é caminhar com os jovens, indo ao encontro de todos para
testemunhar o amor de Deus. Podemos descrever este processo falando de
sinodalidade para a missão, ou seja, sinodalidade missionária: «A implementação
de uma Igreja sinodal é pressuposto indispensável para um novo balanço
missionário que envolva todo o povo de Deus»[24].
Trata-se da profecia do Concílio
Vaticano II, que ainda não tínhamos assumido em toda a sua profundidade e
desenvolvido nas suas implicações quotidianas, para a qual nos chamou o Papa
Francisco, afirmando: «O caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que
Deus espera da Igreja do terceiro milénio»[25]. Estamos
convencidos de que tal escolha, fruto de oração e de diálogo, permitirá à
Igreja, com a graça de Deus, ser e aparecer mais claramente como a «juventude
do mundo».
Capítulo I
A sinodalidade missionária da Igreja
Um dinamismo constitutivo
Os jovens pedem-nos para caminhar juntos
119. A Igreja no seu conjunto, desde o momento
em que este Sínodo decidiu ocupar-se dos jovens, fez uma opção bem precisa:
considera esta missão uma prioridade pastoral epocal onde investir tempo,
energias e recursos. Desde o início do caminho de preparação, os jovens
expressaram o desejo de estarem envolvidos, serem estimados e sentirem-se
coprotagonistas na vida e na missão da Igreja. Neste Sínodo, experimentámos que
a corresponsabilidade vivida com os jovens cristãos é fonte de profunda alegria
também para os bispos. Reconhecemos nesta experiência um fruto do Espírito que
renova continuamente a Igreja e a chama a praticar a sinodalidade como modo de
ser e de agir, promovendo a participação de todos os batizados e das pessoas de
boa vontade, cada um segundo a sua idade, estado de vida e vocação. Neste
Sínodo, experimentámos que a colegialidade que une os bispos cum Petro et sub Petro,
na solicitude para com o povo de Deus, é chamada a articular-se e enriquecer-se
por meio da prática da sinodalidade a todos os níveis.
O processo sinodal continua
120. O termo dos trabalhos da Assembleia
e o documento que reúne os seus frutos não fecham o processo sinodal, mas
constituem uma etapa. Dadas as condições concretas, as possibilidades reais e
as necessidades urgentes dos jovens que são muito diversas entre países e
continentes, mesmo professando uma só fé, convidamos as Conferências Episcopais
e as Igrejas particulares a prosseguirem este percurso, empenhando-se nos
processos de discernimento comunitário que incluem nas deliberações também
aqueles que não são bispos, como fez este Sínodo. O estilo destes percursos
eclesiais deveria compreender a escuta fraterna e o diálogo intergeracional,
com o objetivo de elaborar orientações pastorais particularmente atentas aos
jovens marginalizados e aos que possuem pouco ou nenhum contacto com as
comunidades eclesiais. Desejamos que nestes percursos participem famílias,
institutos religiosos, associações, movimentos e os próprios jovens, de modo que
se difunda a «chama» de quanto experimentámos nestes dias.
A forma sinodal da Igreja
121. A experiência vivida tornou os
participantes do Sínodo conscientes da importância de uma forma sinodal da
Igreja para o anúncio e a transmissão da fé. A participação dos jovens contribuiu
para «acordar» a sinodalidade, que é uma «dimensão constitutiva da Igreja. [...]
Como diz São João Crisóstomo, “Igreja e Sínodo são sinónimos” – pois a Igreja não
é mais do que este “caminhar juntos” do rebanho de Deus pelas sendas da
história ao encontro de Cristo Senhor»[26]. A sinodalidade
caracteriza tanto a vida como a missão da Igreja, que é o povo de Deus
constituído por jovens e idosos, homens e mulheres de todas as culturas e
horizontes, e o Corpo de Cristo, do qual somos membros uns dos outros,
começando por quem é posto à margem e pisado. Ao longo dos intercâmbios e por
meio dos testemunhos, o Sínodo fez emergir alguns traços fundamentais de um
estilo sinodal, ao qual somos chamados a nos convertermos.
122. É nas relações – com Cristo, com os
outros, na comunidade – que se transmite a fé. Também em vista da missão, a
Igreja é chamada a assumir um rosto relacional que ponha no centro a escuta, o
acolhimento, o diálogo, o discernimento comum num processo que transforma a
vida de quem nela participa. «Uma Igreja sinodal é uma Igreja da escuta, ciente
de que escutar “é mais do que ouvir”. É uma escuta recíproca, onde cada um tem
algo a aprender. Povo fiel, Colégio Episcopal, Bispo de Roma: cada um à escuta
dos outros; e todos à escuta do Espírito Santo, o “Espírito da verdade” (Jo
14,17), para conhecer aquilo que Ele “diz às Igrejas” (Ap 2,7)»[27].
Deste modo, a Igreja apresenta-se como «tenda da reunião» na qual está conservada
a arca da aliança (cf. Ex 25): uma Igreja dinâmica e em movimento, que
acompanha caminhando, reforçada por tantos carismas e ministérios. Deste modo,
Deus torna-se presente neste mundo.
Uma Igreja participativa e
corresponsável
123. Um traço característico deste
estilo de Igreja é a valorização dos carismas que o Espírito doa segundo a
vocação e o papel de cada um dos seus membros, por meio de um dinamismo de
corresponsabilidade. Para ativá-lo torna-se necessária uma conversão do coração
e uma disponibilidade para a escuta mútua, que construa um efetivo sentir comum.
Animados por este espírito, poderemos avançar em direção a uma Igreja
participativa e corresponsável, capaz de valorizar a riqueza da variedade que a
compõe, acolhendo com gratidão também os contributos dos fiéis leigos, entre os
quais jovens e mulheres, o da vida consagrada feminina e masculina, e o dos
grupos, associações e movimentos. Ninguém deve ser posto ou pôr-se à parte. É
este o modo de evitar tanto o clericalismo, que exclui muitos dos processos de
tomada de decisão, como a clericalização dos leigos, que os fecha, em vez de os
lançar no empenho missionário no mundo.
O Sínodo pede que se torne efetiva e
ordinária a participação ativa dos jovens nos lugares de corresponsabilidade
das Igrejas particulares, como também nos organismos das Conferências
Episcopais e da Igreja universal. Pede, além disso, que se reforce a atividade da
Secção dos jovens do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, também por
meio da constituição de um organismo de representação jovem a nível
internacional.
Processos de discernimento comunitário
124. A experiência de “caminhar juntos”
como povo de Deus ajuda a compreender sempre melhor o sentido da autoridade na
ótica de serviço. Aos pastores é pedida a capacidade de fazer crescer a
colaboração no testemunho e na missão, e de acompanhar processos de
discernimento comunitário para interpretar os sinais dos tempos à luz da fé e
sob a orientação do Espírito, com o contributo de todos os membros da
comunidade, a partir de quem se encontra marginalizado. Responsáveis eclesiais
com estas capacidades precisam de uma formação específica à sinodalidade.
Parece promissor, neste ponto de vista, estruturar percursos formativos comuns
entre jovens leigos, jovens religiosos e seminaristas, em particular quanto diz
respeito a temáticas como o exercício da autoridade ou o trabalho em equipa.
Um estilo para a missão
A comunhão missionária
125. A vida sinodal da Igreja é
essencialmente orientada para a missão: ela é «o sinal e o instrumento da
íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano»[28], até ao dia em
que Deus será «tudo em todos» (1Cor 15,28). Os jovens, abertos ao Espírito,
podem ajudar a Igreja a levar a cabo a passagem pascal de saída «do “eu”
individualisticamente entendido para o “nós” eclesial, onde cada “eu”, estando
revestido de Cristo (cf. Gl2,20), vive e caminha com os irmãos e as irmãs como
sujeito responsável e ativo na única missão do povo de Deus»[29].
A mesma passagem, por impulso do Espírito e com a orientação dos Pastores, deve
realizar-se na comunidade cristã, chamada a sair da autorreferencialidade do
“eu” da própria autoconservação para o serviço de construção de um “nós”
inclusivo nos relacionamentos com toda a família humana e com toda a criação.
Uma missão em diálogo
126. Esta dinâmica fundamental tem
consequências precisas no modo de concretizar a missão juntamente com os
jovens, que requer que se inicie, com franqueza e sem compromissos, um diálogo
com todos os homens e mulheres de boa vontade. Como afirmara São Paulo VI: «A
Igreja faz-se palavra, faz-se mensagem, faz-se colóquio»[30]. Num mundo marcado
pela diversidade dos povos e pela variedade das culturas, “caminhar juntos” é
fundamental para dar credibilidade e eficácia às iniciativas de solidariedade,
de integração, de promoção da justiça, e para mostrar em que consiste uma
cultura do encontro e da gratuidade.
Os próprios jovens, que vivem
quotidianamente em contacto com os seus coetâneos de outras confissões cristãs,
religiosas, convicções e culturas, estimulam toda a comunidade cristã a viver o
ecumenismo e o diálogo inter-religioso. Isto requer a coragem da parresia no
falar e da humildade no escutar, assumindo a ascese – e, por vezes, o martírio
– que isto implica.
Em direção às periferias do mundo
127. A prática do diálogo e a procura de
soluções partilhadas representam uma clara prioridade numa altura em que os
sistemas democráticos são desafiados por baixos índices de participação e por
uma influência desproporcionada de pequenos grupos de interesse que não têm uma
ampla aceitação na população, com o perigo de derivas reducionistas,
tecnocráticas e autoritárias. A fidelidade ao Evangelho orientará este diálogo
na procura do modo de dar resposta ao duplo grito dos pobres e da terra[31],
a que os jovens mostram particular sensibilidade, inserindo nos processos
sociais a inspiração dos princípios da doutrina social: a dignidade da pessoa, o
destino universal dos bens, a opção preferencial pelos pobres, o primado da
solidariedade, a atenção à subsidiariedade, o cuidado da casa comum. Nenhuma
vocação no seio da Igreja pode colocar-se de fora deste dinamismo comunitário
de saída e de diálogo, e por isso todo o esforço de acompanhamento é chamado a
medir-se por este horizonte, reservando uma atenção privilegiada aos mais
pobres e aos mais vulneráveis.
Capítulo II
Caminhar juntos no quotidiano
Dar estrutura às relações
Da delegação ao envolvimento
128. A sinodalidade missionária não diz
respeito apenas à Igreja a nível universal. A exigência de caminhar juntos,
dando um real testemunho de fraternidade numa vida comunitária renovada e mais
evidente, concerne antes de mais a cada comunidade. Por isso, é preciso
despertar em cada realidade local a consciência de que somos povo de Deus,
responsável por encarnar o Evangelho nos diversos contextos e dentro de todas
as situações quotidianas. Isso implica sair da lógica da delegação que tanto
condiciona a ação pastoral.
Podemos referir-nos, por exemplo, aos
percursos de catequese em preparação para os sacramentos, que constituem um
dever que muitas famílias delegam totalmente na paróquia. Esta mentalidade tem
como consequência que as crianças corram o risco de perceber a fé não como uma
realidade que ilumina a vida quotidiana, mas como um conjunto de noções e
regras que pertencem a um âmbito separado da sua existência. Ao invés, é preciso
caminhar juntos: a paróquia tem necessidade da família para fazer experimentar
aos jovens o realismo quotidiano da fé; por sua vez, a família precisa do
ministério dos catequistas e da estrutura paroquial para oferecer aos filhos
uma visão mais orgânica do cristianismo, para introduzi-los na comunidade e levá-los
a horizontes mais amplos. Por isso, não basta ter as estruturas, se nelas não
se desenvolvem relações autênticas; é a qualidade de tais relações que
efetivamente evangeliza.
A renovação da paróquia
129. A paróquia é necessariamente
envolvida neste processo, para assumir a forma de uma comunidade mais
generativa, num ambiente em que se desenvolve a missão para os últimos. Nesta
particular situação histórica emergem diversos sinais que testemunham que ela, em
vários casos, não consegue corresponder às exigências espirituais dos homens do
nosso tempo, sobretudo por causa de alguns fatores que modificaram
profundamente os estilos de vida das pessoas. De facto, vivemos numa cultura
“sem limites”, marcada por uma nova relação espácio-temporal também motivada
pela comunicação digital e caracterizada por uma contínua mobilidade. Em tal
contexto, uma visão da ação paroquial delimitada apenas pelos seus limites
territoriais e incapaz de cativar com propostas diversificadas os fiéis, e em
particular os jovens, aprisionaria a paróquia num imobilismo inaceitável e numa
preocupante repetição pastoral. Por isso, é preciso repensar pastoralmente a
paróquia, numa lógica de corresponsabilidade eclesial e de impulso missionário,
desenvolvendo sinergias no território. Só assim é que ela poderá abrir-se a um
ambiente significativo que intercete a vida dos jovens.
Estruturas abertas e decifráveis
130. Na mesma direção de uma maior
abertura e partilha, é importante que as comunidades se interroguem para verificar
se os estilos de vida e o uso das estruturas transmitem aos jovens um
testemunho legível do Evangelho. A vida privada de muitos sacerdotes, irmãs,
religiosos e bispos é, sem dúvida, sóbria e comprometida com as pessoas; mas é
quase invisível aos demais, sobretudo aos jovens. Muitos deles acham que o
nosso mundo eclesial é difícil de decifrar; são postos à distância pelas
funções que assumimos e os estereótipos que as acompanham. Façamos de maneira a
que a nossa vida ordinária, em todas as suas expressões, seja mais acessível. A
vizinhança efetiva, a partilha de espaços e de atividades criam as condições
para uma comunicação autêntica, livre de preconceitos. Foi desta forma que
Jesus anunciou o Reino e é por esta via que nos impele hoje o seu Espírito.
A vida da comunidade
Um mosaico de rostos
131. Uma Igreja sinodal e missionária
manifesta-se através de comunidades locais habitadas por muitos rostos. Desde o
início, a Igreja não teve uma forma rígida e aprovada, mas desenvolveu-se como
um poliedro de pessoas com sensibilidades, proveniências e culturas diversas. Deste
modo, ela mostrou que transporta nos vasos de barro da fragilidade humana o
tesouro incomparável da vida trinitária. A harmonia que é dom do Espírito não
elimina as diferenças, mas concorda-as gerando uma riqueza sinfónica. Este
encontro na única fé entre pessoas diversas constitui a condição fundamental
para a renovação pastoral das nossas comunidades. Isso incide no anúncio, na
celebração e no serviço, ou seja, nos âmbitos fundamentais da pastoral
ordinária. A sabedoria popular diz-nos que “para educar uma criança é preciso
uma aldeia”: este princípio vale hoje para todos os âmbitos da pastoral.
A comunidade no território
132. A realização efetiva de uma
comunidade de muitos rostos incide também na inserção no território, na
abertura ao tecido social e no encontro com as instituições civis. Só uma
comunidade unida e plural sabe propor-se de modo aberto e levar a luz do
Evangelho aos âmbitos da vida social que hoje nos desafiam: a questão
ecológica, o trabalho, o sustento da família, a marginalização, a renovação da
política, o pluralismo cultural e religioso, o caminho para a justiça e para a
paz, o ambiente digital. Isto já está a acontecer nas associações e nos
movimentos eclesiais. Os jovens pedem-nos para não encarar estes desafios sozinhos,
mas para dialogar com todos, não para cortar uma fatia de poder, mas para
contribuir para o bem comum.
Querigma e catequese
133. O anúncio de Jesus Cristo, morto e
ressuscitado, que nos revelou o Pai e nos deu o Espírito, é vocação fundamental
da comunidade cristã. Faz parte deste anúncio o convite aos jovens para
reconhecerem na sua vida os sinais do amor de Deus e para descobrirem a comunidade
como lugar de encontro com Cristo. Tal anúncio constitui o fundamento, sempre a
reavivar, da catequese dos jovens e dá-lhes uma qualidade querigmática[32].
Foi considerado importante o compromisso de oferecer itinerários continuados e
orgânicos que saibam integrar um conhecimento vivo de Jesus Cristo e do seu
Evangelho, a capacidade de ler na fé a própria experiência e os acontecimentos
da história, um acompanhamento à oração e à celebração da liturgia, a
introdução à Lectio divina e o apoio ao testemunho da caridade e à promoção da
justiça, propondo assim uma autêntica espiritualidade juvenil.
Os itinerários catequéticos mostram a
íntima conexão da fé com a experiência concreta de cada dia, com o mundo dos
sentimentos e das relações, com as alegrias e as desilusões que se experimentam
no estudo e no trabalho; saibam integrar a doutrina social da Igreja; estejam
abertos às linguagens da beleza, da música e das diversas expressões
artísticas, e às formas da comunicação digital. As dimensões da corporeidade, da
afetividade e da sexualidade foram tidas em grande consideração, uma vez que
existe um entrelaçamento profundo entre educação à fé e educação ao amor. Em
suma, a fé é compreendida como uma prática, isto é, como uma forma de habitar o
mundo.
É urgente que na catequese dos jovens se
renove o empenho pelas linguagens e pelas metodologias, sem nunca perder de
vista o essencial, isto é, o encontro com Cristo, que é o coração da catequese.
Foram muito apreciados o YouCat, o DoCat e materiais semelhantes, sem omitir os
catecismos produzidos pelas várias Conferências Episcopais. Torna-se também necessário
um renovado empenho pelos catequistas, que muitas vezes são jovens ao serviço
de outros jovens, quase seus coetâneos. É importante cuidar adequadamente da
sua formação e fazer com que o seu ministério seja mais reconhecido pela
comunidade.
A centralidade da liturgia
134. A celebração eucarística é geradora
da vida da comunidade e da sinodalidade da Igreja. Ela é lugar de transmissão
da fé e de formação para a missão, em que se torna evidente que a comunidade
vive da graça e não da obra das próprias mãos. Com as palavras da tradição
oriental, podemos afirmar que a liturgia é encontro com o Divino Servidor que
cura as nossas feridas e nos prepara o banquete pascal, convidando-nos a fazer
o mesmo com os nossos irmãos e irmãs. Por isso, reafirma-se claramente que o
empenho em celebrar com simplicidade nobre e com o envolvimento dos diversos
ministros laicais constitui um momento essencial da conversão missionária da Igreja.
Os jovens mostraram saber apreciar e viver com intensidade celebrações
autênticas, nas quais a beleza dos sinais, o cuidado da pregação e o
envolvimento comunitário falam realmente de Deus. É preciso então favorecer a
sua participação ativa, mas mantendo viva a admiração pelo Mistério; ir ao
encontro da sua sensibilidade musical e artística, mas ajudá-los a compreender
que a liturgia não é puramente expressão de si, mas ação de Cristo e da Igreja.
Igualmente importante é acompanhar os jovens a descobrir o valor da adoração
eucarística como prolongamento da celebração, onde se vive a contemplação e a
oração silenciosa.
135. Nos percursos de fé, a prática do
sacramento da Reconciliação tem também grande importância. Os jovens têm
necessidade de sentir-se amados, perdoados, reconciliados, e têm uma secreta
nostalgia do abraço misericordioso do Pai. Por isso, é fundamental que os
presbíteros ofereçam uma generosa disponibilidade para a celebração deste
sacramento. As celebrações penitenciais comunitárias ajudam os jovens a
aproximar-se da confissão individual e tornam mais explícita a dimensão
eclesial do sacramento.
136. Em muitos contextos, a piedade
popular desempenha um papel importante no acesso dos jovens à vida de fé de
forma prática, sensível e imediata. Valorizando a linguagem do corpo e a
participação afetiva, a piedade popular traz consigo o desejo de entrar em
contacto com o Deus que salva, muitas vezes através da mediação da Mãe de Deus
e dos santos.
A peregrinação é para os jovens uma
experiência de caminho que se torna metáfora da vida e da Igreja: contemplando
a beleza da criação e da arte, vivendo a fraternidade e unindo-se ao Senhor na
oração, são assim propostas de novo as melhores condições do discernimento.
A generosidade da diaconia
137. Os jovens podem contribuir para
renovar o estilo das comunidades paroquiais e construir uma comunidade fraterna
e próxima dos pobres. Os pobres, os jovens descartados, os que mais sofrem,
podem tornar-se o princípio de renovação da comunidade. Eles são reconhecidos
como sujeitos da evangelização e ajudam-nos a libertarmo-nos da mundanidade
espiritual. Muitas vezes os jovens são sensíveis à dimensão da diakonia. Muitos
deles estão empenhados ativamente no voluntariado e encontram no serviço o
caminho para encontrar o Senhor. A dedicação aos últimos torna-se, assim, realmente
uma prática da fé, em que se aprende aquele amor “com perda” que se encontra no
centro do Evangelho e que está no fundamento de toda a vida cristã. Os pobres,
os pequenos, os doentes, os idosos são a carne de Cristo sofredor: por isso, pôr-se
ao seu serviço é um modo de encontrar o Senhor e um espaço privilegiado para o
discernimento do próprio chamamento. Uma abertura particular é pedida, em
diversos contextos, aos migrantes e aos refugiados. Com eles é preciso
trabalhar no acolhimento, na proteção, na promoção e na integração. A inclusão
social dos pobres faz da Igreja a casa da caridade.
Pastoral juvenil em chave vocacional
A Igreja, uma casa para os jovens
138. Só uma pastoral capaz de se renovar
a partir do cuidado das relações e da qualidade da comunidade cristã será
significativa e atraente para os jovens. A Igreja poderá assim apresentar-se-lhes
como uma casa que acolhe, caracterizada por um clima familiar feito de
confiança e confidência. O anseio pela fraternidade, que tantas vezes emergiu da
escuta sinodal dos jovens, pede à Igreja para ser «mãe para todos e casa para
muitos»[33]:
a pastoral tem o dever de realizar na história a maternidade universal da
Igreja através de gestos concretos e proféticos de acolhimento alegre e quotidiano
que constroem uma casa para os jovens.
A animação vocacional da pastoral
139. A vocação é o fulcro à volta do
qual se integram todas as dimensões da pessoa. Tal princípio não diz respeito
apenas ao crente individual, mas também à pastoral no seu todo. Por isso, é
muito importante esclarecer que só na dimensão vocacional toda a pastoral pode
encontrar um princípio unificador, porque nela encontra a sua origem e o seu
cumprimento. Nos caminhos de conversão pastoral em ação não se pede, por isso,
para reforçar a pastoral vocacional enquanto sector separado e independente,
mas para animar toda a pastoral da Igreja, apresentando com eficácia a
multiplicidade das vocações. De facto, o fim da pastoral é ajudar todos e cada
um, através de um caminho de discernimento, para chegar «à medida completa da
plenitude de Cristo» (Ef 4,13).
Uma pastoral vocacional para os jovens
140. Desde o início do caminho sinodal
surgiu em força a necessidade de qualificar vocacionalmente a pastoral juvenil.
Desta forma, emergem as duas características indispensáveis para uma pastoral
destinada às jovens gerações: é “juvenil”, porque os seus destinatários estão
naquela singular e irrepetível idade da vida que é a juventude; é “vocacional”,
porque a juventude é a fase privilegiada das escolhas de vida e da resposta ao
chamamento de Deus. A “vocacionalidade” da pastoral juvenil não é entendida de
modo exclusivo, mas intensivo. Deus chama em todas as idades da vida – desde o
seio materno à velhice –, mas a juventude é o momento privilegiado para a
escuta, a disponibilidade e o acolhimento da vontade de Deus.
O Sínodo faz uma proposta para que a
nível de Conferência Episcopal Nacional se prepare um “Diretório de pastoral
juvenil” em chave vocacional que possa ajudar os responsáveis diocesanos e locais
a qualificar a sua formação e ação com e para os jovens.
Da fragmentação à integração
141. Embora reconhecendo que a
planificação por sectores pastorais é necessária para evitar a improvisação, em
várias ocasiões os Padres sinodais comunicaram a sua dificuldade por causa de
uma certa fragmentação da pastoral da Igreja. Referiram-se em particular às
várias pastorais que se relacionam com os jovens: pastoral juvenil, familiar, vocacional,
escolar e universitária, social, cultural, caritativa, do tempo livre, etc. A
multiplicação de sectores muito especializados, mas por vezes separados, não
serve para a significância da proposta cristã. Num mundo fragmentado que cria
dispersão e multiplica as pertenças, os jovens precisam de ser ajudados a unificar
a vida, lendo em profundidade as experiências quotidianas e fazendo discernimento.
Se esta é a prioridade, é necessário desenvolver uma maior coordenação e
integração entre os diversos âmbitos, passando de um trabalho por “sectores”
para um trabalho por “projetos”.
A relação frutuosa entre acontecimentos
e vida quotidiana
142. Durante o Sínodo, falou-se, em
muitas ocasiões, da Jornada Mundial da Juventude e também de outros tantos
eventos que se desenvolvem a nível continental, nacional e diocesano, juntamente
com os organizados por associações, movimentos, congregações religiosas e outros
agentes eclesiais. Tais momentos de encontro e de partilha são apreciados por
quase todos, porque oferecem a possibilidade de caminhar na lógica da
peregrinação, de experimentar a fraternidade com todos, de partilhar
alegremente a fé e de crescer na pertença à Igreja. Para muitos jovens foram
uma experiência de transfiguração, em que experimentaram a beleza do rosto do
Senhor e fizeram escolhas de vida importantes. Os melhores frutos destas
experiências recolhem-se na vida quotidiana. Torna-se assim importante projetar
e realizar estas convocações como etapas significativas de um processo virtuoso
mais amplo.
Centros juvenis
143. Espaços específicos dedicados pela
comunidade cristã aos jovens, como os «oratórios», os centros juvenis e outras
estruturas semelhantes, manifestam a paixão educativa da Igreja. Eles
estruturam-se de muitas maneiras, mas permanecem como âmbitos privilegiados em
que a Igreja se torna casa acolhedora para adolescentes e jovens, que podem
descobrir os seus talentos e colocá-los à disposição no serviço. Eles
transmitem um património educativo muito rico, que se deve partilhar em larga
escala, no apoio às famílias e à própria sociedade civil.
No entanto, no dinamismo de uma Igreja
em saída é preciso pensar numa renovação criativa e flexível desta realidade,
passando da ideia de centros estáticos, aonde os jovens podem vir, para a ideia
de sujeitos pastorais em movimento com e em direção aos jovens, isto é, capazes
de os encontrar nos lugares de vida quotidiana – a escola e o ambiente digital,
as periferias existenciais, o mundo rural e o do trabalho, a expressão musical
e artística, etc. –, gerando um novo tipo de apostolado mais dinâmico e ativo.
Capítulo III
Um renovado impulso missionário
Alguns desafios urgentes
144. A sinodalidade é o método pelo qual
a Igreja pode encarar antigos e novos desafios, podendo recolher e pôr em
diálogo os dons de todos os seus membros, a partir dos jovens. Graças aos
trabalhos do Sínodo, na primeira parte deste Documento, delineámos alguns âmbitos
em que é urgente lançar ou renovar o impulso da Igreja na realização da missão
que Cristo lhe confiou e que aqui procuramos encarar de forma mais concreta.
A missão no ambiente digital
145. O ambiente digital representa para
a Igreja um desafio a diversos níveis; por isso, é imprescindível aprofundar o
conhecimento das suas dinâmicas e o seu alcance do ponto de vista antropológico
e ético. Isso requer não só habitá-lo e promover as suas potencialidades
comunicativas em vista do anúncio cristão, como também impregnar de Evangelho
as suas culturas e as suas dinâmicas. Neste sentido, algumas experiências estão
já em curso e devem ser incentivadas, aprofundadas e partilhadas. A prioridade
que muitos atribuem à imagem como veículo comunicativo não poderá deixar de
interrogar as modalidades de transmissão de uma fé que se baseia na escuta da
Palavra de Deus e na leitura da Sagrada Escritura. Os jovens cristãos, «nativos
digitais» como os seus coetâneos, encontram aqui uma autêntica missão, em que
alguns já estão empenhados. São, aliás, os próprios jovens a pedir para serem
acompanhados num discernimento sobre modalidades maduras de vida num ambiente hoje
fortemente digitalizado, que permita colher as oportunidades afastando os
riscos.
146. O Sínodo deseja que na Igreja se
instituam, em níveis adequados, sectores ou organismos próprios para a cultura
e a evangelização digital, que, com o imprescindível contributo dos jovens, promovam
a ação e a reflexão eclesial neste ambiente. Dentre as suas funções, além de
favorecerem o intercâmbio e a difusão de boas práticas a nível pessoal e
comunitário, e o desenvolvimento de instrumentos adequados de educação digital
e de evangelização, poderiam também gerir sistemas de certificação dos sítios
católicos, para impedir a difusão de fake news em relação à Igreja, ou procurar
caminhos para persuadir as autoridades públicas a promover políticas e instrumentos
cada vez mais urgentes para a proteção dos menores na rede.
Migrantes: abater muros e construir
pontes
147. Muitos dos migrantes são jovens. A
difusão universal da Igreja oferece-lhes a grande oportunidade estabelecer um
diálogo entre as comunidades donde eles partem com aquelas aonde chegam,
contribuindo para superar medos e desconfianças, e para reforçar os laços que
as migrações poderão romper. “Acolher, proteger, promover e integrar”, os
quatro verbos com que o Papa Francisco sintetiza as linhas de ação em favor dos
migrantes, são verbos sinodais. Pô-los em ação requer a ação da Igreja a todos
os níveis e envolve todos os membros das comunidades cristãs. Por sua vez, os
migrantes, oportunamente acompanhados, poderão oferecer recursos espirituais,
pastorais e missionários às comunidades que os acolhem. De particular
importância é o compromisso cultural e político, a levar em frente também
através de estruturas próprias, para lutar contra a difusão da xenofobia, do
racismo e da recusa dos migrantes. Os recursos da Igreja Católica são um
elemento vital na luta contra o tráfico de seres humanos, como se evidencia na
obra de muitos religiosos. O papel do Santa Marta Group, que une responsáveis
religiosos e forças policiais, é crucial e representa uma boa prática onde
inspirar-se. Não deve excluir-se o compromisso em garantir o direito efetivo de
permanecer no próprio país às pessoas que não gostariam de migrar, mas que são
forçadas a fazê-lo, e apoiar as comunidades cristãs que as migrações ameaçam esvaziar.
As mulheres na Igreja sinodal
148. Uma Igreja que procura viver em
estilo sinodal não poderá deixar de refletir sobre a condição e o papel das
mulheres no seu seio e, consequentemente, também na sociedade. Os jovens e as
jovens pedem-no com grande força. As reflexões desenvolvidas exigem ser
implementadas através de uma obra de corajosa conversão cultural e de mudança
na prática pastoral quotidiana. Um âmbito de particular importância a este
respeito é o da presença feminina nos organismos eclesiais a todos os níveis,
também em funções de responsabilidade, e da participação feminina nos processos
de decisão eclesial a respeito do papel do ministério ordenado. Trata-se de um
dever de justiça, que encontra inspiração tanto no modo como Jesus se
relacionou com homens e mulheres do seu tempo, como na importância do papel de
algumas figuras femininas na Bíblia, na história da salvação e na vida da
Igreja.
Sexualidade: uma palavra clara, livre,
autêntica
149. No atual contexto cultural, a Igreja
não se cansa de transmitir a beleza da visão cristã da corporeidade e da
sexualidade, tal como nos mostra a Sagrada Escritura, a Tradição e o Magistério
dos últimos Papas. É por isso urgente uma procura de modalidades mais
adequadas, que se traduzam concretamente na elaboração de caminhos formativos
renovados. Ocorre propor aos jovens uma antropologia da afetividade e da
sexualidade capaz também de dar o justo valor à castidade, mostrando com
sabedoria pedagógica o significado mais autêntico para o crescimento da pessoa,
em todos os estados de vida. Trata-se de apostar na escuta empática, no
acompanhamento e no discernimento, na linha indicada pelo Magistério recente.
Por isso, é preciso cuidar da formação de responsáveis pastorais que sejam
credíveis, a partir do amadurecimento das próprias dimensões afetivas e
sexuais.
150. Existem questões relativas ao
corpo, à afetividade e à sexualidade que precisam de uma mais aprofundada
elaboração antropológica, teológica e pastoral, a realizar nas modalidades e nos
níveis mais convenientes, tanto local como universalmente. Entre estas emergem
em particular as relativas à diferença e harmonia entre identidade masculina e
feminina e às tendências sexuais. A este respeito, o Sínodo sublinha que Deus
ama cada pessoa e o mesmo faz a Igreja, renovando o seu compromisso contra toda
a discriminação e violência por motivos sexuais. Reafirma também a determinante
relevância antropológica da diferença e reciprocidade entre o homem e a mulher,
e considera redutor definir a identidade das pessoas a partir unicamente da sua
«orientação sexual»[34].
Existem já, em muitas comunidades
cristãs, caminhos de acompanhamento na fé de pessoas homossexuais: o Sínodo
recomenda que se favoreçam tais percursos. Nestes caminhos, as pessoas são
ajudadas a ler a própria história; a aderir com liberdade e responsabilidade ao
próprio chamamento batismal; a reconhecer o desejo de pertencer e contribuir
para a vida da comunidade; a discernir as melhores formas de realizá-lo. Deste
modo, ajuda-se cada jovem, sem excluir ninguém, a integrar cada vez mais a
dimensão sexual na própria personalidade, crescendo na qualidade das relações e
caminhando para o dom de si.
Economia, política, trabalho, casa comum
151. A Igreja compromete-se na promoção
de uma vida social, económica e política na senda da justiça, da solidariedade
e da paz, tal como os jovens veementemente pediram. Isto requer a coragem de
dar voz a quem não a tem, junto dos líderes mundiais, denunciando corrupções,
guerras, comércio de armas, narcotráfico e exploração dos recursos naturais, convidando
os responsáveis de tudo isto à conversão. Numa perspetiva integral, uma tal
atitude não pode estar separada do compromisso pela inclusão dos mais frágeis,
construindo percursos que lhes permitam não só encontrar resposta para as suas
necessidades, mas também dar o próprio contributo para a construção da
sociedade.
152. Conscientes de que «o trabalho
constitui uma dimensão fundamental da existência do homem sobre a terra»[35]
e que a sua falta é humilhante para muitos jovens, o Sínodo recomenda às Igrejas
locais que favoreçam e acompanhem a inserção dos jovens neste mundo, também
através do apoio de iniciativas de empreendedorismo juvenil. Experiências neste
sentido estão difundidas em muitas Igrejas locais e devem ser apoiadas e incrementadas.
153. A promoção da justiça interpela
também a gestão dos bens da Igreja. Os jovens sentem-se em casa numa Igreja
onde a economia e as finanças são feitas com transparência e coerência.
Escolhas corajosas na perspetiva da sustentabilidade, como indicado na
encíclica Laudato si’, são necessárias, ao passo que a falta de respeito pelo
ambiente cria novas pobrezas, das quais os jovens são as primeiras vítimas. Os
sistemas também se mudam mostrando que é possível um modo diverso de viver a
dimensão económica e financeira. Os jovens encorajam a Igreja a ser profética
neste campo, com as palavras, mas sobretudo através de escolhas que mostrem que
é possível uma economia amiga da pessoa e do ambiente. Juntamente com eles,
podemos fazê-lo.
154. Em relação às questões ecológicas,
será importante oferecer linhas orientadoras para a realização concreta da Laudato
si’ nas práticas eclesiais. Numerosas intervenções sublinharam a importância de
oferecer aos jovens uma formação para o compromisso sociopolítico e o recurso
que a doutrina social da Igreja representa a este respeito. Os jovens
empenhados na política devem ser apoiados e encorajados a trabalhar para uma
real mudança das estruturas sociais injustas.
Nos contextos interculturais e
inter-religiosos
155. O pluralismo cultural e religioso é
uma realidade crescente na vida social dos jovens. Os jovens cristãos oferecem
um belo testemunho do Evangelho quando vivem a sua fé de um modo que transforma
a sua vida e as suas ações quotidianas. São chamados a abrir-se aos jovens de
outras tradições religiosas e espirituais, a manter com eles relações
autênticas que favoreçam o conhecimento mútuo e sarem preconceitos e
estereótipos. Deste modo, eles são os pioneiros de uma nova forma de diálogo
inter-religioso e intercultural, que contribui para libertar as nossas
sociedades da exclusão, do extremismo, do fundamentalismo e também da
manipulação da religião para fins sectários ou populistas. Testemunhas do
Evangelho, estes jovens, com os seus coetâneos, tornam-se promotores de uma
cidadania inclusiva da diversidade e de um compromisso religioso socialmente
responsável e construtivo do vínculo social e da paz.
Recentemente, sob proposta dos jovens,
foram lançadas iniciativas para oferecer a oportunidade de experimentar a
convivência entre pessoas pertencentes a religiões e culturas diversas, para
que todos, num clima de convivialidade e no respeito das respetivas crenças,
sejam atores de um compromisso comum e partilhado na sociedade.
Os jovens para o diálogo ecuménico
156. Porquanto diz respeito ao caminho
de reconciliação entre todos os cristãos, o Sínodo fica agradecido pelo desejo
de muitos jovens fazerem crescer a unidade entre as comunidades cristãs
separadas. Empenhando-se neste sentido, muitas vezes, os jovens aprofundam as
raízes da própria fé e experimentam uma real abertura para aquilo que os outros
possam dar. Intuem que Cristo já nos une, embora permaneçam algumas diferenças.
Como afirmou o Papa Francisco por ocasião da visita ao Patriarca Bartolomeu, em
2014, são os jovens «que hoje nos pedem para avançar rumo à plena comunhão. E
isto, não porque eles ignorem o significado das diferenças que ainda nos
separam, mas porque sabem ver mais além, são capazes de captar o essencial que
já nos une»[36].
Capítulo IV
Formação Integral
Dimensão concreta, complexidade e
integralidade
157. A condição atual é caracterizada
por uma crescente complexidade dos fenómenos sociais e da experiência
individual. No concreto da vida, as mudanças em ação influenciam-se mutuamente
e não podem ser encaradas de forma seletiva. No real tudo está interligado: a
vida familiar e o compromisso profissional, a utilização das tecnologias e o
modo de experimentar a comunidade, a defesa do embrião e a do migrante. A dimensão
concreta fala-nos de uma visão antropológica da pessoa como totalidade e de um
modo de conhecer que não separa, mas capta os nexos, apreende da experiência
relendo-a à luz da Palavra, deixa-se inspirar mais pelos testemunhos exemplares
do que pelos modelos abstratos. Isto requer uma nova aproximação formativa, que
aponte para a integração das perspetivas, torne capaz de perceber o entrelaçamento
dos problemas e saiba unificar as diversas dimensões da pessoa. Esta
aproximação está em profunda sintonia com a visão cristã que contempla na encarnação
do Filho o encontro inseparável do divino com o humano, da terra com o Céu.
Educação, escola e universidade
158. Durante o Sínodo insistiu-se particularmente
no dever decisivo e insubstituível da formação profissional, da escola e da
universidade, também porque se trata de lugares onde a maior parte dos jovens
passa muito do seu tempo. Em algumas partes do mundo, a educação de base é o
primeiro e mais importante pedido que os jovens dirigem à Igreja. Para a
comunidade cristã é importante mostrar uma presença significativa nestes
ambientes com docentes qualificados, capelanias significativas e um compromisso
cultural adequado.
As instituições educativas católicas
merecem uma reflexão particular, pois exprimem a solicitude da Igreja pela
formação integral dos jovens. São espaços preciosos para o encontro do
Evangelho com a cultura de um povo e para o desenvolvimento da investigação. Elas
são chamadas a propor um modelo de formação que seja capaz de fazer a fé dialogar
com as questões do mundo contemporâneo, com as diversas perspetivas
antropológicas, com os desafios da ciência e da técnica, com as mudanças dos
costumes sociais e com o empenho pela justiça.
Uma atenção especial é reservada, nestes
ambientes, à promoção da criatividade juvenil nos campos da ciência e da arte,
da poesia e da literatura, da música e do desporto, do digital e dos media,
etc. Deste modo, os jovens poderão descobrir os seus talentos e pô-los depois à
disposição da sociedade para o bem de todos.
Preparar novos formadores
159. A recente Constituição Apostólica Veritatis
gaudium sobre a universidade e as faculdades eclesiásticas propôs alguns
critérios fundamentais para um projeto formativo que esteja à altura dos
desafios do presente: a contemplação espiritual, intelectual e existencial do querigma,
o diálogo a todos os níveis, a transdisciplinaridade exercida com sabedoria e
criatividade e a necessidade urgente de “criar redes”[37]. Tais
princípios podem inspirar todos os âmbitos educativos e formativos; o seu uso
beneficiará, antes de mais, a formação dos novos educadores, ajudando-os a
abrirem-se a uma visão sapiencial e capaz de integrar experiência e verdade. A
nível mundial, têm um dever fundamental as Universidades Pontifícias e, a nível
continental e nacional, as Universidades Católicas e os centros de estudo. A
verificação periódica, a qualificação exigente e a renovação constante destas
instituições são um grande investimento estratégico para o bem dos jovens e de
toda a Igreja.
Formar discípulos missionários
160. O caminho sinodal insistiu sobre o
desejo crescente de dar espaço e corpo ao protagonismo juvenil. É evidente que
o apostolado dos jovens para com outros jovens não pode ser improvisado, mas
deve ser fruto de um caminho formativo sério e adequado: como acompanhar este
processo? Como oferecer melhores instrumentos aos jovens para que sejam
autênticas testemunhas do Evangelho? Esta pergunta coincide também com o desejo
de muitos jovens de conhecerem melhor a própria fé: descobrirem as suas raízes
bíblicas, perceberem o desenvolvimento histórico da doutrina, o sentido dos
dogmas, a riqueza da liturgia. Isto permite aos jovens refletir sobre as questões
atuais em que a fé é posta em causa, para saber dar a razão da esperança que há
nelas (cf. 1Pe 3,15).
Por isso, o Sínodo propõe a valorização
das experiências de missão juvenil através da instituição de centros de
formação para a evangelização, destinados aos jovens e aos casais jovens, por
meio de uma experiência integral que se concluirá com o envio em missão. Existem
já iniciativas deste tipo em vários territórios, mas pede-se a cada Conferência
Episcopal para estudar a sua viabilidade no seu contexto específico.
Um tempo para acompanhar no
discernimento
161. Ressoou muitas vezes na sala
sinodal um sincero apelo para investir generosamente, para os jovens, em paixão
educativa, mais tempo e também mais recursos económicos. Recolhendo vários
contributos e desejos sentidos durante o debate sinodal, juntamente com a
escuta de experiências qualificadas já concretizadas, o Sínodo propõe com
convicção a todas as Igrejas particulares, às congregações religiosas, aos
movimentos, às associações e a outros agentes eclesiais, oferecer aos jovens
uma experiência de acompanhamento em vista do discernimento. Esta experiência –
cuja duração será fixada de acordo com os contextos e as oportunidades – pode
ser classificada como um tempo destinado ao amadurecimento da vida cristã
adulta. Deveria prever um distanciamento prolongado dos locais e das relações
habituais, e ser construída à volta de pelo menos três eixos indispensáveis:
uma experiência de vida fraterna partilhada com educadores adultos que seja
essencial, sóbria e respeitadora da casa comum; uma proposta apostólica forte e
significativa para viver juntos; uma oferta de espiritualidade radicada na
oração e na vida sacramental. Deste modo, temos todos os ingredientes
necessários para que a Igreja possa oferecer, aos jovens que o queiram, uma
profunda experiência de discernimento vocacional.
Acompanhamento para o Matrimónio
162. Salientou-se a importância de
acompanhar os casais ao longo do caminho de preparação para o Matrimónio, tendo
presente que existem diversos modos legítimos de organizar tais itinerários.
Como afirma a Amoris laetitia no n. 207, «não se trata de lhes ministrar o Catecismo
inteiro nem de os saturar com demasiados temas. [...] Trata-se de uma espécie
de “iniciação” ao sacramento do Matrimónio, que lhes forneça os elementos
necessários para poderem recebê-lo com as melhores disposições e iniciar com
uma certa solidez a vida familiar». É importante continuar o acompanhamento das
jovens famílias, sobretudo nos primeiros anos de matrimónio, ajudando-as também
a tornarem-se parte ativa da comunidade cristã.
A formação dos seminaristas e dos
consagrados e consagradas
163. O dever específico da formação
integral dos candidatos ao ministério ordenado e à vida consagrada masculina e
feminina continua a ser um desafio importante para a Igreja. Chama-se a atenção
também para a importância de uma sólida formação cultural e teológica para
consagradas e consagrados. No que respeita aos seminários, o primeiro dever é
obviamente a receção e a tradução operativa da nova Ratio fundamentalis institutionis
sacerdotalis. Durante o Sínodo surgiram alguns sublinhados importantes, que importa
mencionar.
Em primeiro lugar, a escolha dos
formadores: não basta que estejam culturalmente preparados, é preciso que sejam
capazes de relações fraternas, de uma escuta empática e de profunda liberdade
interior. Em segundo lugar, para um acompanhamento adequado será necessário um
sério e competente trabalho em equipas educativas diferenciadas, que incluam
figuras femininas. A constituição destas equipas formativas, nas quais
interajam vocações diversas, é uma pequena, mas preciosa, forma de sinodalidade,
que incide sobre a mentalidade dos jovens na formação inicial. Em terceiro
lugar, a formação deve tentar desenvolver nos futuros pastores e consagrados a
capacidade de exercitar o seu papel de orientação de modo autorizado e não
autoritário, educando os jovens candidatos a doar-se para a comunidade. Merecem
particular atenção alguns critérios formativos: a superação de tendências para o
clericalismo, a capacidade de trabalho em equipa, a sensibilidade pelos pobres,
a transparência de vida, a disponibilidade para deixar-se acompanhar. Em quarto
lugar, é decisiva a seriedade do discernimento inicial, porque muitas vezes os
jovens que se apresentam nos seminários ou noutras casas de formação são
acolhidos sem um conhecimento adequado e uma releitura aprofundada da sua
história. A questão torna-se particularmente delicada no caso de “seminaristas vagantes”:
a instabilidade relacional e afetiva, e a falta de enraizamento eclesial são
sinais perigosos. Descuidar as normas eclesiais a este respeito constitui um comportamento
irresponsável, que pode ter consequências muito graves para a comunidade
cristã. Um quinto ponto refere-se à consistência numérica das comunidades de
formação: nas muito grandes, corre-se o risco da despersonalização do percurso
e de um insuficiente conhecimento dos jovens em caminho, ao passo que as muito
pequenas correm o risco de ser sufocantes e estar submetidas a lógicas de
dependência; nestes casos, a melhor solução é constituir seminários
interdiocesanos ou casas de formação partilhadas entre várias províncias
religiosas, com projetos formativos claros e responsabilidades bem definidas.
164. O Sínodo formula três propostas
para favorecer a renovação.
A primeira diz respeito à formação
conjunta de leigos, consagrados e sacerdotes. É importante ter em contacto permanente
os jovens e as jovens em formação com a vida quotidiana das famílias e das
comunidades, com particular atenção para a presença de figuras femininas e de
casais cristãos, para que a formação esteja radicada no concreto da vida e seja
caracterizada por um traço relacional capaz de interagir com o contexto social
e cultural.
A segunda proposta implica a inserção no
curriculum de preparação para o ministério ordenado e para a vida consagrada de
uma preparação específica relativa à pastoral dos jovens, através de cursos de
formação específicos e experiências vividas de apostolado e de evangelização.
A terceira proposta pede que, dentro de
um autêntico discernimento das pessoas e das situações segundo a visão e o
espírito da Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis, se avalie a
possibilidade de verificar o caminho formativo em sentido experiencial e
comunitário. Isto vale especialmente para a última etapa do percurso, que prevê
a gradual inserção na responsabilidade pastoral. As fórmulas e as modalidades
poderão ser indicadas pelas Conferências Episcopais de cada país, através das
suas Ratio nationalis.
CONCLUSÃO
Chamados a ser santos
165. O conjunto das diversas vocações encontra-se
no único e universal chamamento à santidade, que no fundo não pode ser outro senão
o cumprimento do apelo à alegria do amor que ecoa no coração de cada jovem. Efetivamente,
só a partir da única vocação à santidade se podem articular as diferentes
formas de vida, sabendo que Deus «quer-nos santos e espera que não nos
resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa»[38]. A santidade
encontra a sua fonte inexaurível no Pai, que, por meio do seu Espírito, nos
envia Jesus, «o Santo de Deus» (Mc1,24), o qual veio até nós para nos tornar
santos por meio da amizade com Ele, que traz alegria e paz à nossa vida.
Recuperar em toda a pastoral ordinária da Igreja o contacto vivo com a
existência feliz de Jesus é a condição fundamental para cada renovação.
Despertar o mundo com a santidade
166. Nós devemos ser santos para poder
convidar os jovens a sê-lo. Os jovens pediram bem alto uma Igreja autêntica,
luminosa, transparente, alegre: só uma Igreja dos santos pode estar à altura de
tais pedidos! Muitos deles deixaram-na porque nela não encontraram santidade, mas
mediocridade, presunção, divisão e corrupção. Infelizmente, o mundo está mais
revoltado pelos abusos de algumas pessoas da Igreja do que reavivado pela
santidade dos seus membros: por isso, a Igreja no seu conjunto deve levar a
cabo uma decidida, imediata e radical mudança de perspetiva! Os jovens precisam
de santos que formem outros santos, mostrando assim que «a santidade é o rosto
mais belo da Igreja»[39].
Existe uma linguagem que os homens e as mulheres de cada tempo, lugar e cultura
podem compreender, porque é imediata e evidente: é a linguagem da santidade.
Arrastados pela santidade dos jovens
167. Foi claro desde o início do
percurso sinodal que os jovens são parte integrante da Igreja. Ora, também o
são na sua santidade, que nestes últimos decénios produziu um multiforme
florescimento em todas as partes do mundo: contemplar e meditar durante o
Sínodo a coragem de tantos jovens que renunciaram à sua vida para se manterem
fiéis ao Evangelho foi para nós comovente; escutar os testemunhos dos jovens
presentes no Sínodo, que, no meio de perseguições, escolheram partilhar a
paixão do Senhor Jesus foi regenerante. Através da santidade dos jovens, a
Igreja pode renovar o seu ardor espiritual e o seu vigor apostólico. O bálsamo
da santidade gerada pela vida boa de tantos jovens pode curar as feridas da
Igreja e do mundo, levando-nos à plenitude do amor para a qual desde sempre
fomos chamados: os jovens santos impelem-nos a voltar ao nosso primeiro amor
(cf. Ap 2,4).
VOTAÇÕES DO DOCUMENTO FINAL
COM DIREITO A VOTO = 268
|
VOTAÇÃO DA I E II PARTES
PRESENÇAS = 249 (2/3 dos presentes =
166)
|
|
|
|
|
N.°
|
TÍTULO
|
Placet
|
Non placet
|
|
|
|
|
|
INTRODUÇÃO
|
|
|
1.
|
O acontecimento sinodal que vivemos
|
227
|
1
|
2.
|
O processo de preparação
|
229
|
1
|
3.
|
O Documento final da Assembleia
sinodal
|
191
|
43
|
|
PROÉMIO
|
|
|
4.
|
Jesus caminhava com os discípulos de
Emaús
|
235
|
2
|
|
|
|
|
|
I PARTE
|
|
|
5.
|
«Caminhava com eles»
|
239
|
1
|
|
Capítulo I
Uma Igreja À escuta
|
|
|
|
Escutar e ver com empatia
|
|
|
6.
|
O valor da escuta
|
238
|
2
|
7.
|
Os jovens desejam ser escutados
|
238
|
1
|
8.
|
A escuta na Igreja
|
236
|
5
|
9.
|
A escuta dos pastores e dos leigos
qualificados
|
235
|
7
|
|
As diversidades de contextos e
culturas
|
|
|
10.
|
Um mundo no plural
|
240
|
0
|
11.
|
Mudanças em ação
|
238
|
2
|
12.
|
Exclusões e marginalizações
|
240
|
1
|
13.
|
Homens e mulheres
|
221
|
18
|
14.
|
A colonização cultural
|
233
|
5
|
|
Um primeiro olhar à Igreja de hoje
|
|
|
15.
|
O compromisso educativo da Igreja
|
233
|
2
|
16.
|
As atividades da pastoral juvenil
|
238
|
3
|
17.
|
O peso da gestão administrativa
|
220
|
16
|
18.
|
A situação das paróquias
|
228
|
9
|
19.
|
A iniciação à vida cristã
|
239
|
2
|
20.
|
A formação de seminaristas e
consagrados
|
227
|
12
|
|
Capítulo II
Três nós cruciais
|
|
|
|
As novidades do ambiente digital
|
|
|
21.
|
Uma realidade invasiva
|
235
|
3
|
22.
|
A rede de oportunidades
|
231
|
3
|
23.
|
O lado obscuro da rede
|
232
|
2
|
24.
|
O lado obscuro da rede (bis)
|
235
|
3
|
|
Os migrantes como paradigma do nosso
tempo
|
|
|
25.
|
Um fenómeno pluriforme
|
231
|
7
|
26.
|
Violência e vulnerabilidade
|
234
|
5
|
27.
|
Histórias de separação e de encontro
|
234
|
3
|
28.
|
O papel profético da Igreja
|
235
|
3
|
|
Reconhecer e reagir a todos os tipos
de abuso
|
|
|
29.
|
Ser verdadeiro e pedir perdão
|
208
|
30
|
30.
|
Ir à raiz
|
204
|
31
|
31.
|
Gratidão e encorajamento
|
234
|
8
|
|
Capítulo III
Identidade e relações
|
|
|
|
Família e relações intergeracionais
|
|
|
32.
|
A família como ponto de referência
privilegiado
|
237
|
2
|
33.
|
A importância da maternidade e da
paternidade
|
222
|
18
|
34.
|
O relacionamento entre gerações
|
237
|
1
|
35.
|
Jovens e raízes culturais
|
233
|
4
|
36.
|
Amizade e relacionamento entre pares
|
239
|
2
|
|
Corpo e afetividade
|
|
|
37.
|
Mudanças em ação
|
206
|
33
|
38.
|
A receção dos ensinamentos morais da
Igreja
|
214
|
25
|
39.
|
As perguntas dos jovens
|
195
|
43
|
|
Formas de vulnerabilidade
|
|
|
40.
|
O mundo do trabalho
|
235
|
2
|
41.
|
Violência e perseguições
|
239
|
1
|
42.
|
Marginalização e privação social
|
234
|
3
|
43.
|
A experiência do sofrimento
|
241
|
1
|
44.
|
O recurso da vulnerabilidade
|
235
|
3
|
|
Capítulo IV
Ser jovem hoje
|
|
|
|
Aspetos da cultura juvenil hodierna
|
|
|
45.
|
Originalidade e especificidade
|
238
|
2
|
46.
|
Compromisso e participação social
|
235
|
1
|
47.
|
Arte, música e desporto
|
232
|
7
|
|
Espiritualidade e religiosidade
|
|
|
48.
|
Os vários contextos religiosos
|
239
|
1
|
49.
|
A busca religiosa
|
238
|
1
|
50.
|
O encontro com Jesus
|
238
|
1
|
51.
|
O desejo de uma liturgia viva
|
227
|
9
|
|
Participação e protagonismo
|
|
|
52.
|
Os jovens desejam protagonismo
|
230
|
9
|
53.
|
As razões de uma distância
|
234
|
8
|
54.
|
Os jovens na Igreja
|
235
|
3
|
55.
|
As mulheres na Igreja
|
209
|
30
|
56.
|
A missão dos jovens em relação aos
seus coetâneos
|
237
|
2
|
57.
|
Desejo de uma comunidade eclesial mais
autêntica e fraterna
|
234
|
8
|
|
|
|
|
|
II PARTE
|
|
|
58.
|
«Os seus olhos abriram-se»
|
238
|
1
|
|
Um novo Pentecostes
|
|
|
59.
|
A ação do Espírito Santo
|
234
|
2
|
60.
|
O Espírito rejuvenesce a Igreja
|
236
|
4
|
61.
|
O Espírito na vida do crente
|
238
|
2
|
62.
|
Uma autêntica experiência de Deus
|
240
|
3
|
|
Capítulo I
O dom da juventude
|
|
|
|
Jesus jovem entre os jovens
|
|
|
63.
|
A juventude de Jesus
|
232
|
9
|
64.
|
Com o olhar do Senhor
|
236
|
5
|
65.
|
Características da idade juvenil
|
232
|
7
|
66.
|
A sã inquietação dos jovens
|
232
|
5
|
67.
|
Os jovens feridos
|
235
|
5
|
|
Tornar-se adultos
|
|
|
68.
|
A idade das escolhas
|
238
|
1
|
69.
|
A existência sobre o sinal da missão
|
238
|
2
|
70.
|
Uma pedagogia capaz de interpelar
|
236
|
3
|
71.
|
O verdadeiro sentido da autoridade
|
237
|
1
|
72.
|
A ligação com a família
|
244
|
0
|
|
Chamados à liberdade
|
|
|
73.
|
O Evangelho da liberdade
|
226
|
4
|
74.
|
Uma liberdade responsorial
|
239
|
1
|
75.
|
A liberdade e a fé
|
235
|
0
|
76.
|
A liberdade ferida e redimida
|
238
|
0
|
|
Capítulo II
O mistério da vocação
|
|
|
|
A procura da vocação
|
|
|
77.
|
Vocação, viagem e descoberta
|
237
|
3
|
78.
|
Vocação, graça e liberdade
|
236
|
3
|
79.
|
Criação e vocação
|
235
|
3
|
80.
|
Para uma cultura vocacional
|
230
|
10
|
|
A vocação de seguir Jesus
|
|
|
81.
|
O fascínio de Jesus
|
238
|
1
|
82.
|
Fé, vocação e discipulado
|
237
|
3
|
83.
|
A Virgem Maria
|
236
|
2
|
|
Vocação e vocações
|
|
|
84.
|
Vocação e missão da Igreja
|
230
|
2
|
85.
|
A variedade dos carismas
|
239
|
3
|
86.
|
Profissão e vocação
|
232
|
7
|
87.
|
A família
|
210
|
6
|
88.
|
A vida consagrada
|
227
|
4
|
89.
|
O ministério ordenado
|
231
|
7
|
90.
|
A condição dos solteiros (“single”)
|
212
|
29
|
|
Capítulo III
A MISSÃO DE ACOMPANHAR
|
|
|
|
A Igreja que acompanha
|
|
|
91.
|
Perante as escolhas
|
234
|
2
|
92.
|
Partir juntos o pão
|
238
|
1
|
93.
|
Ambientes e tarefas
|
238
|
3
|
94.
|
Acompanhar a inserção na sociedade
|
241
|
3
|
|
O acompanhamento comunitário, de grupo
e pessoal
|
|
|
95.
|
Uma tensão fecunda
|
243
|
3
|
96.
|
O acompanhamento comunitário e de grupo
|
240
|
3
|
97.
|
O acompanhamento espiritual pessoa
|
241
|
3
|
98.
|
Acompanhamento e sacramento da
Reconciliação
|
239
|
6
|
99.
|
Um acompanhamento integral
|
236
|
5
|
100.
|
O acompanhamento na formação ao
ministério ordenado e à vida consagrada
|
241
|
5
|
|
Acompanhadores de qualidade
|
|
|
101.
|
Chamados a acompanhar
|
239
|
2
|
102.
|
O perfil do acompanhador
|
240
|
4
|
103.
|
A importância da formação
|
237
|
4
|
|
Capítulo IV
A ARTE DE DISCERNIR
|
|
|
|
A Igreja, ambiente para discernir
|
|
|
104.
|
Uma constelação de significados na
variedade das tradições espirituais
|
235
|
3
|
105.
|
O reenvio constitutivo à Palavra e à
Igreja
|
236
|
3
|
|
A consciência em discernimento
|
|
|
|
106.
|
Deus fala ao coração
|
223
|
20
|
|
107.
|
A ideia cristã de consciência
|
219
|
23
|
|
108.
|
A formação da consciência
|
205
|
36
|
|
109.
|
A consciência eclesial
|
205
|
34
|
|
|
A prática do discernimento
|
|
|
|
110.
|
A familiaridade com o Senhor
|
238
|
3
|
|
111.
|
As disposições do coração
|
235
|
4
|
|
112.
|
O diálogo de acompanhamento
|
238
|
2
|
|
113.
|
A decisão e a confirmação
|
238
|
3
|
|
|
|
|
|
|
COM DIREITO A VOTO = 268
VOTAÇÃO DA III PARTE
PRESENÇAS = 248 (2/3 dos presentes =
166)
|
|
|
III PARTE
|
|
|
114.
|
«Partiram imediatamente»
|
242
|
0
|
|
Uma Igreja jovem
|
|
|
115.
|
Um ícone de ressurreição
|
241
|
2
|
116.
|
Caminhar com os jovens
|
241
|
1
|
117.
|
O desejo de atingir todos os jovens
|
223
|
17
|
118.
|
Conversão espiritual, pastoral e
missionária
|
214
|
25
|
|
Capítulo I
A sinodalidade missionária da Igreja
|
|
|
|
|
|
|
|
Um dinamismo constitutivo
|
|
|
119.
|
Os jovens pedem-nos para caminhar
juntos
|
206
|
34
|
120.
|
O processo sinodal continua
|
203
|
39
|
121.
|
A forma sinodal da Igreja
|
191
|
51
|
122.
|
A forma sinodal da Igreja (bis)
|
199
|
43
|
123.
|
Uma Igreja participativa e
corresponsável
|
202
|
38
|
124.
|
Processos de discernimento comunitário
|
208
|
33
|
|
Um estilo para a missão
|
|
|
125.
|
A comunhão missionária
|
215
|
26
|
126.
|
Uma missão em diálogo
|
230
|
10
|
127.
|
Em direção às periferias do mundo
|
228
|
11
|
|
Capítulo II
Caminhar junto no quotidiano
|
|
|
|
Dar estrutura às relações
|
|
|
128.
|
Da delegação ao envolvimento
|
224
|
13
|
129.
|
A renovação da paróquia
|
225
|
11
|
|
|
|
|
|
|
|
|
130.
|
Estruturas abertas e decifráveis
|
222
|
15
|
|
A vida da comunidade
|
|
|
131.
|
Um mosaico de rostos
|
229
|
9
|
132.
|
A comunidade no território
|
229
|
8
|
133.
|
Querigma e catequese
|
231
|
9
|
134.
|
A centralidade da liturgia
|
230
|
10
|
135.
|
A centralidade da liturgia (bis)
|
223
|
15
|
136.
|
A centralidade da liturgia (ter)
|
236
|
4
|
137.
|
A generosidade da diaconia
|
239
|
4
|
|
Pastoral juvenil em chave vocacional
|
|
|
138.
|
A Igreja, uma casa para os jovens
|
236
|
6
|
139.
|
A animação vocacional da pastoral
|
234
|
3
|
140.
|
Uma pastoral vocacional para os jovens
|
233
|
8
|
141.
|
Da fragmentação à integração
|
230
|
8
|
142.
|
A relação frutuosa entre
acontecimentos e vida quotidiana
|
237
|
4
|
143.
|
Centros juvenis
|
232
|
6
|
|
Capítulo III
Um renovado impulso missionário
|
|
|
144.
|
Alguns desafios urgentes
|
222
|
17
|
145.
|
A missão no ambiente digital
|
237
|
3
|
146.
|
A missão no ambiente digital (bis)
|
234
|
6
|
147.
|
Migrantes: abater muros e construir
pontes
|
228
|
12
|
148.
|
As mulheres na Igreja sinodal
|
201
|
38
|
149.
|
Sexualidade: uma palavra clara, livre,
autêntica
|
214
|
26
|
150.
|
Sexualidade: uma palavra clara, livre,
autêntica (bis)
|
178
|
65
|
151.
|
Economia, política, trabalho, casa
comum
|
230
|
7
|
152.
|
Economia, política, trabalho, casa
comum (bis)
|
236
|
1
|
153.
|
Economia, política, trabalho, casa
comum (ter)
|
233
|
6
|
154.
|
Economia, política, trabalho, casa
comum (quater)
|
229
|
6
|
155.
|
Nos contextos interculturais e
inter-religiosos
|
225
|
13
|
156.
|
Os jovens para o diálogo ecuménico
|
228
|
9
|
|
Capítulo IV
Formação Integral
|
|
|
157.
|
Dimensão concreta, complexidade e
integralidade
|
233
|
9
|
158.
|
Educação, escola e universidade
|
230
|
6
|
159.
|
Preparar novos formadores
|
230
|
7
|
160.
|
Formar discípulos missionários
|
230
|
7
|
161.
|
Um tempo para acompanhar no
discernimento
|
229
|
13
|
162.
|
Acompanhamento para o matrimónio
|
231
|
9
|
163.
|
A formação dos seminaristas e dos
consagrados e consagradas
|
217
|
22
|
164.
|
A formação dos seminaristas e dos
consagrados e consagradas (bis)
|
211
|
25
|
|
|
|
|
|
CONCLUSÃO
|
|
|
165.
|
Chamados a ser santos
|
234
|
2
|
166.
|
Despertar o mundo com a santidade
|
216
|
8
|
167.
|
Arrastados pela santidade dos jovens
|
239
|
2
|