sexta-feira, 30 de novembro de 2018







PARÓQUIAS DE NISA


Sábado 1 de dezembro de 2018



SÁBADO da semana XXXIV (manhã)
Santa Maria no Sábado – MF
Verde ou br. – Ofício da féria ou da memória.
Missa à escolha

L 1 Ap 22, 1-7; Sal 94 (95), 1-2. 4-5. 6-7
Ev Lc 21, 34-36


* Em Portugal – Feriado nacional.
* Em todas as dioceses de Portugal – B. Maria Clara do Menino Jesus, virgem e Fundadora – MF
* Na Diocese de Bragança-Miranda – Todos os Santos e Beatos da Diocese – MO
* Na Diocese de Vila Real – Assembleia sacerdotal e sufrágio pelos bispos e presbíteros falecidos.
* Na Companhia de Jesus – SS. Edmundo Campion e Roberto Southwel, presbíteros, e Companheiros, mártires – MO
* Na Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição – B. Maria Clara do Menino Jesus, virgem e fundadora – FESTA
* Na Fraternidade das Irmãzinhas de Jesus de Carlos de Foucauld ­– B. Carlos de Foucauld, presbítero – MF

MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA Salmo 84, 9
O Senhor fala de paz ao seu povo e aos seus fiéis
e a todos os que a Ele se convertem de coração sincero.


ORAÇÃO COLECTA
Despertai, Senhor, a vontade dos vossos fiéis,
para que, correspondendo mais generosamente
à acção da graça divina,
recebamos maiores auxílios da vossa bondade.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


LEITURA I (anos pares) Ap 22, 1-7
«Nunca mais haverá noite,
porque brilhará sobre eles a luz do Senhor Deus»


Leitura do Livro do Apocalipse

O Anjo do Senhor mostrou-me a mim, João, um rio de água viva, resplandecente como cristal, que brotava do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da praça da cidade, entre os dois braços do rio, está a árvore da vida; produz doze colheitas, uma em cada mês, e as suas folhas servem para curar as nações. Toda a maldição deixará de existir. O trono de Deus e do Cordeiro estará na cidade e os seus servos prestar-Lhe-ão culto; verão a sua face e o seu nome estará escrito nas suas frontes. Nunca mais haverá noite, nem precisarão da luz da lâmpada nem da luz do sol, porque brilhará sobre eles a luz do Senhor Deus e reinarão pelos séculos dos séculos. Disse-me o Anjo: «Estas palavras são fiéis e verdadeiras. O Senhor Deus, que inspira os profetas, enviou o seu Anjo para mostrar aos seus servos o que há de acontecer muito em breve: ‘Eu virei sem demora. Felizes aqueles que observam as palavras da profecia deste livro’».


Palavra do Senhor.


SALMO RESPONSORIAL Salmo 94 (95), 1-2.4-5.6-7 (R. 1 Cor 16, 22b e Ap 22, 20c)
Refrão: Marana tha!
Vinde, Senhor Jesus. Repete-se


Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos a Deus, nosso Salvador.
Vamos à sua presença e dêmos graças,
ao som de cânticos aclamemos o Senhor. Refrão

Em sua mão estão as profundezas da terra
e pertencem-Lhe os cimos das montanhas.
D’Ele é o mar, foi Ele quem o fez,
d’Ele é a terra firme, que suas mãos formaram. Refrão

Vinde, prostremo-nos em terra,
adoremos o Senhor que nos criou.
O Senhor é o nosso Deus
e nós o seu povo, as ovelhas do seu rebanho. Refrão


ALELUIA Lc 21, 36
Refrão: Aleluia. Repete-se

Vigiai e orai em todo o tempo,
para vos apresentardes sem temor
diante do Filho do homem. Refrão


EVANGELHO Lc 21, 34-36
«Vigiai, para que possais livrar-vos
de tudo isto que está para acontecer»


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Tende cuidado convosco, não suceda que os vossos corações se tornem pesados com a intemperança, a embriaguês e as preocupações da vida e esse dia não vos surpreenda subitamente como uma armadilha; porque ele atingirá todos os que habitam sobre a face da terra. Portanto, vigiai e orai em todo o tempo, para que possais livrar-vos de tudo isto que está para acontecer e comparecer sem temor diante do Filho do homem».


Palavra da salvação.


ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Recebei, Senhor, estes dons sagrados
que nos mandastes oferecer em honra do vosso nome
e fazei que, obedecendo sempre aos vossos mandamentos,
nos tornemos também nós
uma oblação agradável aos vossos olhos.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


ANTÍFONA DA COMUNHÃO Salmo 116, 1-2
Louvai o Senhor, povos de toda a terra,
porque é eterna a sua misericórdia.

Ou Mt 28, 20
Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos, diz o Senhor.


ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Deus todo-poderoso e eterno,
não permitais que se separem de Vós
aqueles a quem destes a graça
de participar neste divino sacramento.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



«Ajudar os outros é investir  nos valores da própria vida»




ORAÇÃO BÍBLICA

Reza a PALAVRA do dia



1. Leitura: Lê, respeita, situa o que lês
     - Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste

 2. Meditação: Interioriza, dialoga, atualiza o que leste
      - Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua vida” 

 3. Oração: Louva o Senhor, suplica, escuta
      - Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra



LEITURA:

 
________________________

LEITURA DO EVANGELHO

MEDITAÇÃO: Ap 22, 1-7: Toda esta passagem, como a maior parte das que lemos nos dias anteriores, usa expressões simbólicas, inspiradas geralmente de outros livros da Sagrada Escritura. Hoje é a visão da Cidade celeste, a nova Jerusalém. Nela só há vida, que procede de Deus, como o rio corre vindo da nascente. Nela não haverá nada que seja maldição; tudo é graça, tudo é dom, tudo é encanto da intimidade de Deus com seus filhos. E tudo nos é anunciado com palavras vindas de Deus, para que esperemos esse dia na fidelidade e no desejo de que Ele venha. É também assim a oração que o salmo nos faz cantar, com o refrão que é a última palavra de toda a Sagrada Escritura.

Lc 21, 34-36: Aquele dia sem ocaso, que sucederá aos dias que andamos vivendo sobre a terra, há-de ser esperado na vigilância e na oração, como numa longa Vigília Pascal, até que o sol nasça e a luz eterna brilhe para sempre em nossos corações. Aqui nos conduziu, a esta expectativa jubilosa, a longa caminhada do Tempo Comum, para nos fazer entrar, com desejos ainda mais fortes da vinda do Dia do Senhor, no Advento, em que a tarde deste dia, o último do Tempo Comum, nos irá introduzir. À tarde, com a Hora de Vésperas, começa esse Tempo do Advento, em que toda a oração se resume na mesma palavra com que terminou o Tempo litúrgico anterior: «Veni! Vinde!»

ORAÇÃO: Ajuda-nos, Senhor, a gostar de nós mesmos, simplesmente porque tu nos amas.






AGENDA

15.00 horas: Missa na Falagueira
15.00 horas: Missa em Monte Claro
16.00 horas: Missa no Pardo
18.00 horas: Missa em Apalhão
18.00 horas: Missa em Nisa – Espírito Santo.





A VOZ DO PASTOR



quinta-feira, 29 de novembro de 2018







PARÓQUIAS DE NISA


Sexta, 30 de novembro de 2018







Sexta da XXXIV semana do tempo comum

Ofício: II semana




SEXTA-FEIRA da semana XXXIV

S. André, Apóstolo – FESTA
Vermelho – Ofício da festa. Te Deum.
Missa própria, Glória, pf. dos Apóstolos.

L 1 Rom 10, 9-18; Sal 18 A, 2-3. 4-5
Ev Mt 4, 18-22

* Proibidas as Missas de defuntos, excepto a exequial.
* Na Diocese de Beja – Aniversário da entrada solene de D. José João dos Santos Marcos.


S. ANDRÉ, Apóstolo


 Nota Histórica
André, natural de Betsaida, foi primeiramente discípulo de João Baptista e depois seguiu a Cristo, a quem apresentou também seu irmão Pedro. Juntamente com Filipe introduziu à presença de Jesus uns gentios que O queriam ver, e foi ele também que indicou o rapaz que tinha os peixes e o pão. Segundo uma tradição, depois do Pentecostes pregou em diversas regiões e foi crucificado na Acaia.

MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA cf. Mt 4, 18-19
Caminhando Jesus junto ao mar da Galileia,
viu dois irmãos, Pedro e André, e chamou-os, dizendo:
Vinde comigo; farei de vós pescadores de homens.

Diz-se o Glória.


ORAÇÃO COLECTA
Nós Vos suplicamos, Deus omnipotente,
que, assim como o apóstolo Santo André
foi na terra pregador do Evangelho e pastor da vossa Igreja,
seja também no Céu poderoso intercessor junto de Vós.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


LEITURA I
Rom 10, 9-18
«A fé vem da pregação
e a pregação é o anúncio da palavra de Cristo»

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos

Irmãos:
Se confessares com a tua boca que Jesus é o Senhor
e se acreditares em teu coração
que Deus O ressuscitou dos mortos,
serás salvo.
Pois com o coração se acredita para obter a justiça
e com a boca se professa a fé para alcançar a salvação.
Na verdade, a Escritura diz:
«Todo aquele que acreditar no Senhor
não será confundido».
Não há diferença entre judeu e grego:
todos têm o mesmo Senhor,
rico para com todos os que O invocam.
Portanto, todo aquele que invocar o nome do Senhor
será salvo.
Mas como hão-de invocar Aquele em quem não acreditam?
E como hão-de acreditar n’Aquele de quem não ouviram falar?
E como hão-de ouvir falar, se não houver quem lhes pregue?
E como hão-de pregar, se não forem enviados?
Está escrito:
«Como são formosos os pés dos que anunciam o Evangelho!».
Mas nem todos obedecem ao Evangelho,
como Isaías diz:
«Senhor, quem acreditou na nossa pregação?».
A fé, portanto, vem da pregação
e a pregação é o anúncio da palavra de Cristo.
Mas pergunto: Não a teriam ouvido?
Ao contrário, como diz a Escritura:
«A sua voz ressoou por toda a terra
e as suas palavras até aos confins do mundo».

Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL Salmo 18 A (19 A), 2-3.4-5 (R. 5a)
Refrão: A sua mensagem ressoou por toda a terra.


Os céus proclamam a glória de Deus
e o firmamento anuncia a obra das suas mãos.
O dia transmite ao outro esta mensagem
e a noite a dá a conhecer à outra noite.

Não são palavras nem linguagem,
cujo sentido se não perceba.
O seu eco ressoou por toda a terra
e a sua notícia até aos confins do mundo.


ALELUIA Mt 4, 19
Refrão: Aleluia. Repete-se
Vinde comigo, diz o Senhor,
e farei de vós pescadores de homens. Refrão


EVANGELHO Mt 4, 18-22
«Eles deixaram logo as redes e seguiram Jesus»


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Caminhando Jesus ao longo do mar da Galileia,
viu dois irmãos:
Simão, chamado Pedro, e seu irmão André,
que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores.
Disse-lhes Jesus:
«Vinde e segui-Me
e farei de vós pescadores de homens».
Eles deixaram logo as redes e seguiram-n’O.
Um pouco mais adiante, viu outros dois irmãos:
Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João,
que estavam no barco, na companhia de seu pai Zebedeu,
a consertar as redes.
Jesus chamou-os
e eles, deixando o barco e o pai, seguiram-n’O.

Palavra da salvação.


ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS

Aceitai, Deus omnipotente,
com estes dons que Vos apresentamos
na festa de Santo André,
a humilde oferta de nós mesmos
e transformai-os para nós em fonte de vida.
Por Nosso Senhor.


ANTÍFONA DA COMUNHÃO cf. Jo 1, 41-42
Disse André a Simão Pedro, seu irmão:
Encontrámos o Messias, que é Cristo.
E André levou-o a Jesus.


ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Fortalecei-nos, Senhor, pela comunhão do vosso sacramento,
para que, a exemplo do apóstolo Santo André,
trazendo sempre em nós os sofrimentos da paixão de Cristo,
mereçamos viver com Ele na glória celeste.
Por Nosso Senhor.




«A vida está cheia de alegrias, mas é preciso ter arte para as saber ver»




ORAÇÃO BÍBLICA

Reza a PALAVRA do dia



1. Leitura: Lê, respeita, situa o que lês
     - Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste

 2. Meditação: Interioriza, dialoga, atualiza o que leste
      - Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua vida” 

 3. Oração: Louva o Senhor, suplica, escuta
      - Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra



LEITURA:

 
________________________

LEITURA DO EVANGELHO

MEDITAÇÃO: 

ORAÇÃO: Ajuda-nos, Senhor, a gostar de nós mesmos, simplesmente porque tu nos amas.






AGENDA

18.00 horas: Missa em Alpalhão
18.00 horas: Missa em Nisa.





A VOZ DO PASTOR



XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos
Roma, 3-28 de outubro de 2018

Os jovens, a fé e o discernimento vocacional

DOCUMENTO FINAL



INTRODUÇÃO

O acontecimento sinodal que vivemos

1. «Derramarei o meu Espírito sobre toda a criatura. Os vossos filhos e as vossas filhas hão de profetizar; os vossos jovens terão visões, e os vossos velhos terão sonhos» (At 2,17; cf. Jl 3,1). Foi a experiência que fizemos neste Sínodo[1], caminhando juntos e pondo-nos à escuta da voz do Espírito. Ele maravilhou-nos com a riqueza dos seus dons, cumulou-nos com a sua coragem e a sua força para levar ao mundo a esperança.
Caminhámos juntos, com o sucessor de Pedro, que nos confirmou na fé e nos fortaleceu no entusiasmo da missão. Mesmo provindo de contextos muito diferentes do ponto de vista cultural e eclesial, sentimos desde o início uma sintonia espiritual, um desejo de diálogo e uma verdadeira empatia. Trabalhámos juntos, partilhando aquilo que nos vinha ao coração, comunicando as nossas preocupações, não escondendo as nossas dificuldades. Muito participantes criaram em nós comoção e compaixão evangélica: sentimo-nos um só corpo, que sofre e se alegra. Queremos partilhar com todos a experiência de graça que vivemos e transmitir às nossas Igrejas e ao mundo inteiro a alegria do Evangelho.
A presença dos jovens assinalou uma novidade: por meio deles ressoou no Sínodo a voz de toda uma geração. Caminhando com eles, peregrinos ao túmulo de Pedro, experimentámos que a proximidade cria as condições para que a Igreja seja espaço de diálogo e testemunho de fraternidade que fascina. A força desta experiência supera qualquer fadiga e fraqueza. O Senhor continua a repetir-nos: «Não temais, Eu estou convosco.»

O processo de preparação

2. Tivemos grande benefício dos contributos dos Episcopados e dos relatórios de pastores, religiosos, leigos, peritos, educadores e muitos outros. Desde o início, os jovens foram envolvidos no processo sinodal: o Questionário on-line, muitos contributos pessoais e sobretudo a Reunião pré-sinodal, que foi o sinal eloquente. O seu contributo foi essencial, tal como na narração dos pães e dos peixes: Jesus conseguiu realizar o milagre graças à disponibilidade de um rapaz que ofereceu generosamente tudo quanto tinha (cf. Jo 6,8-11).
Todos os contributos foram sintetizados no Instrumentum laboris, que constituiu a base sólida de confronto durante as semanas da Assembleia. Ora, o Documento final reúne o resultado deste processo e relança-o para o futuro: exprime aquilo que os Padres sinodais reconheceram, interpretaram e escolheram à luz da Palavra de Deus.

O Documento final da Assembleia sinodal

3. É importante esclarecer a relação entre o Instrumentum laboris e o Documento final. O primeiro é o ponto de referência unitário e sintético destes dois anos de escuta; o segundo é o fruto do discernimento realizado e recolhe os núcleos temáticos generativos sobre os quais os Padres sinodais se concentraram com particular intensidade e paixão. Por isso, reconhecemos a diversidade e a complementaridade destes dois textos.

O presente Documento foi oferecido ao Santo Padre[2] e também a toda a Igreja como fruto deste Sínodo. Uma vez que o percurso sinodal não está ainda concluído e prevê uma fase de concretização, o Documento final será um mapa para orientar os próximos passos que a Igreja é chamada a seguir.

Proémio

Jesus caminhava com os discípulos de Emaús

4. Consideramos o episódio dos discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13-35) um texto paradigmático para compreender a missão eclesial em relação às jovens gerações. Esta página exprime bem aquilo que experimentámos no Sínodo e o que gostaríamos que cada Igreja particular pudesse viver em relação aos jovens. Jesus caminha com dois discípulos que não compreenderam o sentido da sua vivência e se afastaram de Jerusalém e da comunidade. Para estar na sua companhia, percorre a estrada com eles. Interroga-os e coloca-se em paciente escuta da sua versão dos factos, para os ajudar a reconhecer aquilo que estão a viver. Depois, com afeto e firmeza, anuncia-lhes a Palavra, levando-os a interpretar os acontecimentos que viveram à luz das Escrituras. Ao entardecer, aceita o convite para ficar com eles: entra na sua noite. Na escuta, o seu coração aquece e a sua mente ilumina-se; na fração do pão, os seus olhos abrem-se. São eles próprios que escolhem retomar sem demora o caminho na direção contrária, para regressar à comunidade, partilhando a experiência do encontro com o Ressuscitado.
Em continuidade com o Instrumentum laboris, o Documento final está dividido em três partes marcadas por este episódio. A primeira parte é intitulada «Caminhava com eles» (Lc 24,15) e procura iluminar o que os Padres sinodais reconheceram do contexto em que os jovens estão inseridos, evidenciando os pontos de força e os desafios. A segunda parte, «Os seus olhos abriram-se» (Lc 24,31), é interpretativa e fornece algumas chaves de leitura fundamentais do tema sinodal. A terceira parte, com o título «Partiram imediatamente» (Lc 24,33), recolhe as escolhas para uma conversão espiritual, pastoral e missionária.

I PARTE
«Caminhava com eles»

5. «Nesse mesmo dia, dois dos discípulos iam a caminho de uma aldeia chamada Emaús, que ficava a cerca de duas léguas de Jerusalém; e conversavam entre si sobre tudo o que acontecera. Enquanto conversavam e discutiam, aproximou-se deles o próprio Jesus e pôs-se com eles a caminho» (Lc 24,13-15).
Nesta passagem, o evangelista fotografa a necessidade dos dois viajantes de procurar um sentido para os acontecimentos que viveram. Sublinha-se a atitude de Jesus que se pôs a caminho com eles. O Ressuscitado deseja fazer estrada juntamente com cada jovem, acolhendo as suas expectativas, mesmo que desiludidas, e as suas esperanças, mesmo que inadequadas. Jesus caminha, escuta, partilha.

Capítulo I
Uma Igreja à escuta

Escutar e ver com empatia

O valor da escuta

6. A escuta é um encontro de liberdades, que requer humildade, paciência, disponibilidade para compreender, empenho para elaborar de modo novo as respostas. A escuta transforma o coração daqueles que a vivem, sobretudo quando se colocam numa atitude interior de sintonia e docilidade ao Espírito. Por isso, não é apenas uma recolha de informações, nem uma estratégia para conseguir um objetivo, é antes a forma pela qual o próprio Deus se relaciona com o seu povo. De facto, Deus vê a miséria do seu povo e escuta o seu lamento, deixa-se tocar no íntimo e desce para libertá-lo (cf. Ex 3,7-8). Então a Igreja, por meio da escuta, entra no movimento de Deus que, no Filho, vem ao encontro de cada ser humano.

Os jovens desejam ser escutados

7. Os jovens são chamados a fazer continuamente escolhas que orientam a sua existência; exprimem o desejo de serem escutados, reconhecidos, acompanhados. Muitos sentem que a sua voz não é interessante e útil no âmbito social e eclesial. Em vários contextos, regista-se uma fraca atenção aos seus gritos, sobretudo quando vêm dos mais pobres e explorados, e também a falta de adultos disponíveis e capazes de escutar.

A escuta na Igreja

8. Não faltam na Igreja iniciativas e experiências consolidadas através das quais os jovens podem sentir-se acolhidos, escutados e fazer ouvir a sua voz. No entanto, o Sínodo reconhece que nem sempre a comunidade eclesial sabe evidenciar a atitude que o Ressuscitado teve em relação aos discípulos de Emaús, quando, antes de iluminá-los com a Palavra, lhes perguntou: «Que palavras são essas que trocais entre vós, enquanto caminhais?» (Lc 24,17). Prevalece ainda a tendência de fornecer respostas pré-elaboradas e receitas prontas, sem deixar surgir as perguntas juvenis na sua novidade e recolher nisso a provocação.
A escuta torna possível uma troca de dons, num contexto de empatia. Isso permite aos jovens dar à comunidade a sua contribuição, ajudando-a a adquirir sensibilidades novas e a colocar perguntas inéditas. Ao mesmo tempo, põe as condições para um anúncio do Evangelho que atinja verdadeiramente o coração de modo incisivo e fecundo.

A escuta dos pastores e dos leigos qualificados

9. A escuta constitui um momento qualificante do ministério dos pastores, e em primeiro lugar dos bispos, que muitas vezes se encontram sobrecarregados com muitos compromissos e têm dificuldade em encontrar um tempo adequado para este indispensável serviço. Muitos notaram a falta de pessoas especialistas e dedicadas ao acompanhamento. Crer no valor teológico e pastoral da escuta implica uma reflexão para renovar as formas com as quais ordinariamente o ministério presbiteral se exprime e uma verificação das suas prioridades. Além disso, o Sínodo reconhece a necessidade de preparar consagrados e leigos, homens e mulheres, que sejam qualificados para o acompanhamento dos jovens. O carisma da escuta que o Espírito Santo faz surgir nas comunidades poderia também receber uma forma de reconhecimento institucional para o serviço eclesial.

As diversidades de contextos e culturas

Um mundo plural

10. A própria composição do Sínodo tornou visível a presença e a contribuição das diversas regiões do mundo, evidenciando a beleza de ser Igreja universal. Mesmo num contexto de globalização crescente, os Padres sinodais pediram que se evidenciassem as muitas diferenças entre contextos e culturas, mesmo dentro de um mesmo país. Existe uma pluralidade de mundos juvenis, a tal ponto que em alguns países se tende a utilizar o termo «juventude» no plural. Além disso, a faixa etária considerada no presente Sínodo (16-29 anos) não representa um conjunto homogéneo, pois é composta por grupos que vivem situações peculiares.
Todas estas diferenças incidem profundamente sobre a experiência concreta que os jovens vivem: de facto, dizem respeito às diversas fases da idade evolutiva, às formas da experiência religiosa, à estrutura da família e ao seu relevo na transmissão da fé, às relações intergeracionais – como por exemplo o papel dos idosos e o respeito que lhes é devido –, às modalidades de participação na vida social, à atitude em relação ao futuro, à questão ecuménica e inter-religiosa. O Sínodo reconhece e acolhe a riqueza das diversidades das culturas e coloca-se ao serviço da comunhão do Espírito.

Mudanças em ação

11. De particular relevância é a diferença relativa às dinâmicas demográficas entre os países de alta natalidade, nos quais os jovens representam uma quota significativa e crescente da população, e aqueles em que o seu peso vai diminuindo. Uma ulterior diferença deriva da história, que torna diferentes os países e continentes de antiga tradição cristã, cuja cultura é portadora de uma memória que não se pode perder, dos países e continentes marcados por outras tradições religiosas e nos quais o cristianismo é uma presença minoritária, e às vezes recente. Noutros territórios, as comunidades cristãs e os jovens que delas fazem parte são perseguidos.

Exclusões e marginalizações

12. Há também entre os países e no interior de cada um deles diferenças determinadas pela estrutura social e pela disponibilidade económica, que separam, por vezes de um modo claro, aqueles que têm acesso a uma quantidade crescente de oportunidades oferecidas pela globalização, daqueles que, pelo contrário, estão à margem da sociedade ou no mundo rural e sofrem os efeitos de formas de exclusão e descarte. Vários intervenientes assinalaram a necessidade de a Igreja assumir corajosamente estas pessoas e participar na construção de alternativas que removam exclusões e marginalizações, reforçando o acolhimento, o acompanhamento e a integração. Para isso é necessário ter consciência da indiferença que marca a vida também de muitos cristãos, a fim de superá-la com o aprofundamento da dimensão social da fé.

Homens e mulheres

13. Não se pode esquecer a diferença entre homens e mulheres, com os seus dons peculiares, as sensibilidades específicas e experiências do mundo. Esta diferença pode ser um âmbito no qual nascem formas de domínio, exclusão e discriminação, das quais toda a sociedade e a própria Igreja precisam de se libertar.
A Bíblia apresenta o homem e a mulher como parceiros iguais diante de Deus (cf. Gn 5,2): qualquer dominação e discriminação baseada no sexo ofende a dignidade humana. Ela apresenta também a diferença entre os sexos como um mistério tão constitutivo do ser humano quanto irredutível a estereótipos. A relação entre homem e mulher é assim compreendida nos termos de uma vocação a viver em conjunto na reciprocidade e no diálogo, na comunhão e na fecundidade (cf. Gn 1,27-29; 2,21-25) em todos os âmbitos da experiência humana: vida de casal, trabalho, educação e outros ainda. À sua aliança, Deus confiou a terra.

A colonização cultural

14. Muitos Padres sinodais provenientes de contextos não ocidentais mostraram como nos seus países a globalização trouxe consigo formas de colonização culturais, que desenraízam os jovens das pertenças culturais e religiosas donde provêm. É preciso um compromisso por parte da Igreja para acompanhá-los nesta passagem, sem que percam os traços mais preciosos da própria identidade.
Há diferentes interpretações do processo de secularização. Para alguns, esse processo é vivido como uma preciosa oportunidade para purificar-se de uma religiosidade de hábitos ou fundada em identidades étnicas e nacionais, para outros representa um obstáculo à transmissão da fé. Nas sociedades secularizadas, assistimos também a uma redescoberta de Deus e da espiritualidade. Isto constitui para a Igreja um estímulo a recuperar a importância dos dinamismos próprios da fé, do anúncio e do acompanhamento pastoral.

Um primeiro olhar à Igreja de hoje

O compromisso educativo da Igreja

15. Não são poucas as regiões onde os jovens veem a Igreja como uma presença viva e envolvente, que é significativa também para os seus coetâneos não crentes ou de outras religiões. As instituições educativas da Igreja procuram acolher todos os jovens, independentemente das suas escolhas religiosas, proveniência cultural e situação pessoal, familiar ou social. Deste modo, a Igreja dá uma contribuição fundamental à educação integral dos jovens nas mais diversas partes do mundo. Isto realiza-se através da educação nas escolas de qualquer ordem ou grau e nos centros de formação profissional, nos colégios e nas universidades, mas também nos centros juvenis e nos «oratórios»; tal compromisso realiza-se também através do acolhimento dos refugiados e migrantes, bem como nos vários empenhos no campo social. Em todas estas presenças, a Igreja une a obra educativa e a promoção humana com o testemunho e o anúncio do Evangelho. Quando é inspirada para o diálogo intercultural e inter-religioso, a ação educativa da Igreja é apreciada também pelos não-cristãos como forma de autêntica promoção humana.

As atividades da pastoral juvenil

16. No caminho sinodal veio ao de cima a necessidade de qualificar vocacionalmente a pastoral juvenil, considerando todos os jovens como destinatários da pastoral vocacional. Sublinhou-se também a necessidade de desenvolver processos pastorais completos, que, desde a infância, levem à vida adulta e insiram na comunidade cristã. Constatou-se ainda que diversos grupos paroquiais, movimentos e associações juvenis realizam um processo eficaz de acompanhamento e de formação dos jovens na sua vida de fé.
A Jornada Mundial da Juventude – nascida de uma profética intuição de São João Paulo II, o qual continua a ser um ponto de referência para os jovens do terceiro milénio –, os encontros nacionais e diocesanos, desempenham um papel importante na vida de muitos jovens, porque oferecem uma experiência viva de fé e de comunhão, que os ajuda a enfrentar os grandes desafios da vida e a assumir responsavelmente o seu lugar na sociedade e na comunidade eclesial. Estas convocações podem assim orientar para o acompanhamento pastoral ordinário das comunidades, onde o acolhimento do Evangelho deve ser aprofundado e traduzido em escolhas de vida.

O peso da gestão administrativa

17. Muitos Padres sublinharam que o peso das tarefas administrativas absorve de modo excessivo e, por vezes, sufocante as energias de muitos pastores; isto representa um dos motivos que dificultam o encontro com os jovens e o seu acompanhamento. Para tornar mais evidente a prioridade dos compromissos pastorais e espirituais, os Padres sinodais insistem na necessidade de repensar as modalidades concretas do exercício do ministério.

A situação das paróquias

18. Embora seja a primeira e a principal forma de ser Igreja no território, diversas vozes indicaram que a paróquia deixou de ser um lugar relevante para os jovens, sendo necessário repensar a vocação missionária. O seu fraco significado nos espaços urbanos, o pouco dinamismo das propostas, juntamente com as mudanças espácio-temporais dos estilos de vida pedem uma renovação. Mesmo que haja várias tentativas de inovação, diversas vezes a torrente da vida juvenil aflui às margens da comunidade, sem a encontrar.

A iniciação à vida cristã

19. Muitos salientaram que os percursos de iniciação cristã nem sempre conseguem introduzir os rapazes, adolescentes e jovens na beleza da experiência de fé. Quando a comunidade se torna um lugar de comunhão e uma verdadeira família dos filhos de Deus, ela exprime uma força generativa que transmite a fé; onde, pelo contrário, ela cede à lógica da delegação e prevalece a organização burocrática, a iniciação cristã é entendida erroneamente como um curso de instrução religiosa que habitualmente termina com o sacramento da Confirmação. É, por isso, urgente repensar a fundo a catequese e a ligação entre transmissão familiar e comunitária da fé, tendo presente os processos pessoais de acompanhamento.

A formação de seminaristas e consagrados

20. Os seminários e as casas de formação são lugares de grande importância onde os jovens, chamados ao sacerdócio e à vida consagrada, aprofundam a sua escolha vocacional e a amadurecem no seguimento. Por vezes, estes ambientes não têm em adequada consideração as experiências precedentes dos candidatos, depreciando a sua importância. Isto bloqueia o crescimento da pessoa e pode levar ao aparecimento de atitudes formais, para lá do desenvolvimento dos dons de Deus e da conversão profunda do coração.

Capítulo II
Três nós cruciais

As novidades do ambiente digital

Uma realidade invasiva

21. O ambiente digital caracteriza o mundo contemporâneo. Uma boa parte da humanidade vive imersa nele de maneira ordinária e contínua. Não se trata só de «usar» instrumentos de comunicação, mas de viver numa cultura amplamente digital, que tem impactos profundíssimos na noção de tempo e de espaço, na perceção de si, dos outros e do mundo, no modo de comunicar, de aprender, de informar-se, de estar em relação com os outros. Uma aproximação à realidade que privilegia a imagem em detrimento da escuta e da leitura influencia o modo de aprender e o desenvolvimento do sentido crítico. É já evidente que «o ambiente digital não é um mundo paralelo ou puramente virtual, mas faz parte da realidade quotidiana de muitas pessoas, especialmente dos mais jovens»[3].

A rede de oportunidades

22. A internet e as redes sociais são uma praça onde os jovens passam muito tempo e se encontram facilmente, mesmo se nem todos têm o mesmo acesso, em particular em algumas regiões do mundo. No entanto, estes meios constituem uma extraordinária oportunidade de diálogo, encontro e permuta entre as pessoas, para além do acesso à informação e ao conhecimento. Ademais, o mundo digital é um lugar de participação sociopolítica e de cidadania ativa, e pode facilitar a circulação de informação independente capaz de tutelar eficazmente as pessoas mais vulneráveis, revelando as violações dos seus direitos. Em muitos países, a internet e as redes sociais representam já um lugar irrenunciável para reunir e envolver os jovens, também em iniciativas e atividades pastorais.

O lado obscuro da rede

23. O mundo digital é também um território de solidão, manipulação, exploração e violência, até ao caso extremo da dark web. Os media digitais podem criar dependência, isolamento e progressiva perda de contacto com a realidade concreta, dificultando o desenvolvimento de relações interpessoais autênticas. Novas formas de violência difundem-se através das redes sociais, como por exemplo o ciberbullying; a web é também um canal de difusão da pornografia e de exploração das pessoas para fins sexuais, ou através dos jogos da sorte.

24. Por fim, operam no mundo digital gigantescos interesses económicos, capazes de realizar formas de controlo tão subtis quanto invasivas, criando mecanismos de manipulação das consciências e do processo democrático. O funcionamento de muitas plataformas acaba frequentemente por favorecer o encontro entre pessoas que pensam da mesma maneira, dificultando o confronto entre as diferenças. Estes circuitos fechados facilitam a difusão de informações e notícias falsas, fomentando preconceitos e ódio. A proliferação das fake news [notícias falsas] é expressão de uma cultura que perdeu o sentido da verdade e manipula os factos para interesses particulares. A reputação das pessoas é posta em causa através de processos sumários on-line. O fenómeno atinge também a Igreja e os seus pastores.

Os migrantes como paradigma do nosso tempo

Um fenómeno pluriforme

25. Os fenómenos migratórios representam a nível mundial um fenómeno estrutural, e não uma emergência transitória. As migrações podem acontecer dentro do próprio país ou entre países diversos. A preocupação da Igreja incide sobretudo sobre aqueles que fugiram da guerra, da violência, da perseguição política ou religiosa, dos desastres naturais ocorridos e também das mudanças climáticas e da pobreza extrema: muitos deles são jovens. Em geral, estão à procura de oportunidades para si e para a própria família. Sonham um futuro melhor e desejam criar as condições para se realizarem.
Muitos Padres sinodais sublinharam que os migrantes são um «paradigma» capaz de iluminar o nosso tempo e em particular a condição juvenil, e recordam-nos a condição originária da fé, isto é, a de sermos «estrangeiros e peregrinos sobre a terra» (Heb 11,13).

Violência e vulnerabilidade

26. Outros migrantes partem atraídos pela cultura ocidental, nutrindo por vezes expectativas irrealistas que os levam a grandes desilusões. Traficantes sem escrúpulos, frequentemente ligados a cartéis da droga e das armas, exploram a fragilidade dos migrantes, que ao longo do seu percurso encontram muitas vezes a violência, o tráfico, o abuso psicológico e também físico, e sofrimentos indizíveis. Salienta-se a particular vulnerabilidade dos migrantes menores não acompanhados e a situação daqueles que são obrigados a passar muitos anos nos campos de refugiados e que permanecem bloqueados muito tempo nos países de passagem, sem poderem continuar o curso de estudos nem mostrar os próprios talentos. Em alguns países de chegada, os fenómenos migratórios causam alarme e medo, muitas vezes fomentados e explorados para fins políticos. Deste modo, difunde-se uma mentalidade xenófoba, fechada e revirada sobre si mesma, à qual é preciso reagir com decisão.

Histórias de separação e de encontro

27. Os jovens que migram experimentam a separação do próprio contexto de origem e muitas vezes também um desenraizamento cultural e religioso. A fratura diz respeito também às comunidades de origem, que perdem os elementos mais vigorosos e empreendedores, e às famílias, em particular quando migra um ou ambos os genitores, deixando os filhos no país de origem. A Igreja tem um papel importante de referência para os jovens destas famílias separadas. Mas as dos migrantes contam também histórias de encontro entre pessoas e culturas: para as comunidades e sociedades de destino são uma oportunidade de enriquecimento e de desenvolvimento humano integral de todos. As iniciativas de acolhimento que dizem respeito à Igreja têm um papel importante deste ponto de vista e podem revitalizar as comunidades capazes de as realizar.

O papel profético da Igreja

28. Graças às diversas proveniências dos Padres, sobre o tema dos migrantes, o Sínodo interpretou o encontro de muitas perspetivas, em particular entre países de partida e países de chegada. Além disso, soou o grito de alarme das Igrejas cujos membros foram obrigados a fugir da guerra e das perseguições, e que veem nestas migrações forçadas uma ameaça para a sua própria existência. O próprio facto de incluir no seu interior todas estas diversas perspetivas coloca a Igreja em condições de exercer um papel profético nos confrontos da sociedade sobre o tema das migrações.

Reconhecer e reagir a todos os tipos de abuso

Ser verdadeiro e pedir perdão

29. Os diversos tipos de abuso cometidos por alguns bispos, sacerdotes, religiosos e leigos provocam naqueles que são vítimas, entre elas muitos jovens, sofrimentos que podem durar toda a vida e a que não poderá remediar arrependimento algum. Tal fenómeno está espalhado na sociedade, diz respeito também à Igreja e representa um sério obstáculo à sua missão. O Sínodo insiste no firme empenho para a adoção de medidas rigorosas de prevenção que impeçam a sua repetição, a partir da seleção e da formação daqueles a quem serão confiadas tarefas de responsabilidade e educativas.

Ir à raiz

30. Existem diversos tipos de abuso: de poder, económicos, de consciência, sexuais. Torna-se evidente o dever de erradicar as formas de exercício da autoridade onde tais casos acontecem e de opor-se à falta de responsabilidade e transparência com que muitos casos foram geridos. O desejo de domínio, a falta de diálogo e de transparência, as formas de vida dupla, o vazio espiritual e também a fragilidade psicológica são o terreno onde prospera a corrupção. O clericalismo, em particular, «nasce de uma visão elitista e excludente da vocação, que interpreta o ministério recebido mais como um poder a ser exercido do que como um serviço gratuito e generoso a oferecer; e isto leva a julgar que se pertence a um grupo que possui todas as respostas e já não precisa de escutar e aprender mais nada, ou então finge escutar»[4].

Gratidão e encorajamento

31. O Sínodo agradece àqueles que têm a coragem de denunciar imediatamente o mal: ajudam a Igreja a ter consciência do que aconteceu e da necessidade de reagir com decisão. Considera e encoraja também o empenho sincero de numerosos leigas e leigos, sacerdotes, consagrados, consagradas e bispos que cada dia se dedicam com honestidade e dedicação ao serviço dos jovens. A sua ação é uma floresta que cresce sem fazer barulho. Até muitos dos jovens presentes no Sínodo manifestaram gratidão por aqueles que os acompanharam e reforçaram a grande necessidade de haver pessoas de referência.
O Senhor Jesus, que nunca abandona a sua Igreja, oferece-lhe a força e os instrumentos para um novo caminho. Confirmando a orientação de oportunas «medidas e sanções necessárias»[5] e conscientes de que a misericórdia exige a justiça, o Sínodo reconhece que enfrentar a questão dos abusos em todos os seus aspetos, também com a preciosa ajuda dos jovens, pode ser deveras uma oportunidade para uma reforma de âmbito epocal.

Capítulo III
Identidade e relações

Família e relações intergeracionais

A família como ponto de referência privilegiado

32. A família continua a representar o principal ponto de referência para os jovens. Os filhos apreciam o amor e o cuidado dos pais, tomam a peito os laços familiares e esperam conseguir formar, por sua vez, uma família. Claro que o aumento de separações, divórcios, segundas uniões e famílias monoparentais pode causar nos jovens grandes sofrimentos e crises de identidade. Por vezes, são encarregados de responsabilidades que não são proporcionais à sua idade e obrigam-nos a tornar-se adultos antes do tempo. Os avós oferecem frequentemente um contributo decisivo no afeto e na educação religiosa: com a sua sabedoria são um elo decisivo na relação entre as gerações.

A importância da maternidade e da paternidade

33. Mães e pais têm papéis distintos, mas igualmente importantes como pontos de referência na formação dos filhos e na transmissão da sua fé. A figura materna continua a ter um papel que os jovens consideram essencial para o seu crescimento, mesmo se isso não é suficientemente reconhecido no contexto cultural, político e laboral. Muitos pais desenvolvem com dedicação o seu papel, mas não podemos esquecer que, em alguns contextos, a figura paterna é ausente ou efémera, e noutros é opressiva ou autoritária. Estas ambiguidades refletem-se também no exercício da paternidade espiritual.

O relacionamento entre gerações

34. O Sínodo reconhece a dedicação de muitos pais e educadores que se dedicam a fundo na transmissão dos valores, apesar das dificuldades do contexto cultural. Em diversas regiões, o papel dos idosos e a reverência para com os antepassados são um eixo na educação e contribuem fortemente para a formação da identidade pessoal. Mesmo a família alargada – que em algumas culturas é a família em sentido próprio – tem um papel importante. No entanto, alguns jovens sentem as tradições familiares como opressoras e fogem disso sob o impulso de uma cultura globalizada que, às vezes, os deixa sem pontos de referência. Por sua vez, noutras partes do mundo, entre jovens e adultos não existe um verdadeiro conflito geracional, mas uma recíproca estranheza. Às vezes os adultos não procuram ou não conseguem transmitir os valores fundantes da existência ou assumem estilos joviais, quebrando a relação entre as gerações. Deste modo, o relacionamento entre jovens e adultos corre o risco de permanecer no plano afetivo, sem tocar a dimensão educativa e cultural.

Jovens e raízes culturais

35. Os jovens são projetados para o futuro e enfrentam a vida com energia e dinamismo. Porém, são também tentados a concentrar-se na fruição do presente e, por vezes, tendem a dar pouca atenção à memória do passado donde provêm, em particular dos muitos dons transmitidos pelos pais, pelos avós e pela bagagem cultural da sociedade onde vivem. Ajudar os jovens a descobrir a riqueza viva do passado, fazendo memória disso e servindo até para as próprias escolhas e possibilidades, é um verdadeiro ato de amor para com eles em vista do seu crescimento e das escolhas que são chamados a fazer.

Amizade e relacionamento entre pares

36. Juntamente com as relações intergeracionais, não nos podemos esquecer daquelas entre coetâneos, que representam uma experiência fundamental de interação e de progressiva emancipação do contexto familiar de origem. A amizade e o confronto, muitas vezes até nos grupos mais ou menos estruturados, oferecem a oportunidade de reforçar competências sociais e relacionais num contexto em que não se é avaliado e criticado. A experiência de grupo constitui também um grande recurso para a partilha da fé e para a ajuda recíproca no testemunho. Os jovens são capazes de orientar outros jovens e de viver um verdadeiro apostolado no meio dos próprios amigos.

Corpo e afetividade

Mudanças em ação

37. Os jovens reconhecem ao corpo e à sexualidade uma importância essencial para a sua vida e no percurso de crescimento da sua identidade, dado que são imprescindíveis para viver a amizade e a afetividade. Todavia, no mundo contemporâneo, verificamos fenómenos em rápida evolução sobre eles. Antes de mais, os desenvolvimentos da ciência e das tecnologias biomédicas incidem fortemente sobre a perceção do corpo, transmitindo a ideia que este pode ser modificado sem limites. A capacidade de intervir no ADN, a possibilidade de inserir elementos artificiais no organismo (cyborg) e o desenvolvimento das neurociências constituem um grande recurso, mas levantam ao mesmo tempo questões antropológicas e éticas. Um acolhimento acrítico da aproximação tecnocrática ao corpo diminui a consciência da vida como dom e o sentido do limite da criatura, que pode ser desviada ou instrumentalizada por dinamismos económicos e políticos[6].
Além disso, em alguns contextos juvenis, difunde-se o fascínio por comportamentos de risco como instrumento para se explorar a si próprio, procurar emoções fortes e obter reconhecimento. Juntamente com o permanecer de fenómenos antigos, como a sexualidade precoce, a promiscuidade, o turismo sexual e o culto exagerado do aspeto físico, constata-se hoje a difusão invasiva da pornografia digital e a exibição do próprio corpo on-line. Tais fenómenos, a que estão expostas as novas gerações, constituem um obstáculo para um sereno amadurecimento. Eles indicam dinâmicas sociais inéditas, que influenciam as experiências e as escolhas pessoais, dando espaço a uma espécie de colonização ideológica.

A receção dos ensinamentos morais da Igreja

38. É este o contexto onde as famílias cristãs e as comunidades eclesiais procuram deixar aos jovens a descoberta da sexualidade como um grande dom habitado pelo Mistério, para viverem as relações segundo a lógica do Evangelho. Porém, nem sempre conseguem traduzir este desejo numa adequada educação afetiva e sexual, que não se limite a intervenções esporádicas e ocasionais. Onde esta educação foi realmente assumida como uma escolha propositiva, veem-se resultados positivos que ajudam os jovens a perceber a relação entre a sua adesão de fé em Jesus Cristo e o modo de viver a afetividade e as relações interpessoais. Tais resultados pedem e encorajam a um maior investimento de energias eclesiais neste campo.

As perguntas dos jovens

39. A Igreja, sobre tal matéria, tem uma rica tradição sobre a qual construir e da qual propor o próprio ensinamento: por exemplo, o Catecismo da Igreja Católica, a teologia do corpo desenvolvida por São João Paulo II, a Encíclica Deus caritas est de Bento XVI, a Exortação Apostólica Amoris laetitia de Francisco. Mas os jovens, também aqueles que conhecem e vivem tais ensinamentos, manifestam o desejo de receber da Igreja uma palavra clara, humana e empática. Na verdade, a moral sexual é muitas vezes causa de incompreensão e de afastamento da Igreja, porquanto é percebida como um espaço de juízo e de condenação. Face às mudanças sociais e aos modos de viver a afetividade e a multiplicidade das perspetivas éticas, os jovens mostram-se sensíveis ao valor da autenticidade e da dedicação, mas estão muitas vezes desorientados. Eles manifestam, mais particularmente, um desejo explícito de confronto sobre as questões relacionadas com a diferença entre identidade masculina e feminina, com a reciprocidade entre homens e mulheres, com a homossexualidade.

Formas de vulnerabilidade

O mundo do trabalho

40. O mundo do trabalho continua a ser um âmbito onde os jovens exprimem a sua criatividade e a capacidade de inovar. Ao mesmo tempo, experimentam formas de exclusão e marginalização. A primeira e mais grave é o desemprego juvenil, que em alguns países atinge níveis exorbitantes. Além de os tornar pobres, a falta de trabalho corta, nos jovens, a capacidade de sonhar e de esperar e priva-os da possibilidade de dar um contributo ao desenvolvimento da sociedade. Em muitos países esta situação prende-se com algumas faixas da população juvenil que estão desprovidas de adequadas capacidades profissionais, também por causa do défice do sistema educativo e formativo. Muitas vezes a precariedade ocupacional que atinge os jovens tem que ver com os interesses económicos que exploram o trabalho.

Violência e perseguições

41. Muitos jovens vivem em contextos de guerra e sofrem a violência numa inumerável variedade de formas: raptos, extorsões, criminalidade organizada, tráfico de seres humanos, escravatura e exploração sexual, estupros de guerra, etc. Outros jovens, por causa da sua fé, lutam para encontrar um lugar nas suas sociedades e sofrem vários tipos de perseguições, até à morte. São numerosos os jovens que, por coerção ou falta de alternativas, vivenciam e cometem crimes e violências: crianças-soldados, bandos armados e criminosos, tráfico de droga, terrorismo, etc. Esta violência destrói muitas vidas jovens. Abusos e dependências, tal como violência e marginalização, estão entre as razões que levam os jovens à prisão, com uma particular incidência em alguns grupos étnicos e sociais. Todas estas situações questionam e interpelam a Igreja.
Marginalização e privação social

42. Ainda mais numerosos no mundo são os jovens que sofrem formas de marginalização e exclusão social, por razões religiosas, étnicas ou económicas. Recordamos a difícil situação de adolescentes e jovens que ficam grávidas e a chaga do aborto, assim como a difusão do HIV, as diversas formas de dependência (drogas, jogos da sorte, pornografia, etc.) e a situação das crianças e rapazes da rua, a quem faltam casa, família e recursos económicos; merecem particular atenção os jovens encarcerados. Vários intervenientes sublinharam a necessidade de a Igreja valorizar a capacidade dos jovens excluídos e os contributos que eles podem oferecer às comunidades. A Igreja quer estar corajosamente ao seu lado, acompanhando-os ao longo dos percursos de reapropriação da própria dignidade e de um papel na construção do bem comum.

A experiência do sofrimento

43. Contrariamente a um estereótipo difundido, também o mundo juvenil está profundamente marcado pela experiência da vulnerabilidade, da deficiência, da doença e da dor. Em muitos países cresce, sobretudo entre os jovens, a difusão de formas de mal-estar psicológico, depressão, doença mental e desordens alimentares, ligadas a vivências de profunda infelicidade ou à incapacidade de encontrar um lugar no seio da sociedade, não esquecendo o trágico fenómeno dos suicídios. Os jovens que vivem estas diversas condições de privação e as suas famílias contam com o apoio das comunidades cristãs, as quais nem sempre estão adequadamente capacitadas para os acolher.

O recurso da vulnerabilidade

44. Muitas destas situações são o produto da «cultura do descarte»: os jovens estão entre as primeiras vítimas. Todavia, esta cultura pode atingir também os jovens, as comunidades cristãs e os seus responsáveis, contribuindo assim para a degradação humana, social e ambiental que atinge o nosso mundo. Para a Igreja trata-se de um apelo à conversão, à solidariedade e a uma renovada ação educativa, estando presente de modo particular nestes contextos de dificuldade. Também os jovens que vivem nestas situações possuem recursos preciosos para partilhar com a comunidade e ensinam-nos a nos confrontarmos com o limite, ajudando-nos a crescer em humanidade. É inesgotável a criatividade com a qual a comunidade animada pela alegria do Evangelho se pode tornar uma alternativa à privação e às situações de dificuldade. Deste modo, a sociedade pode experimentar que as pedras rejeitadas pelos construtores podem tornar-se pedras angulares (cf. Sl 118,22; Lc 20,17; At 4,11; 1Pe 2,4.7).

Capítulo IV
Ser jovem hoje

Aspetos da cultura juvenil hodierna

Originalidade e especificidade

45. As jovens gerações são portadoras de uma aproximação à realidade com traços específicos. Os jovens pedem para ser acolhidos e respeitados na sua originalidade. Entre os traços específicos mais evidentes da cultura dos jovens, assinalaram-se a preferência concordada pela imagem em detrimento de outras linguagens comunicativas, a importância de sensações e emoções como via de aproximação à realidade e a prioridade do concreto e do prático em relação à análise teórica. São de grande importância as relações de amizade e a pertença a grupos de coetâneos, cultivadas também graças às redes sociais. Os jovens são geralmente portadores de uma abertura espontânea no confronto com a diversidade, que os torna atentos às temáticas da paz, da inclusão e do diálogo entre culturas e religiões. Numerosas experiências de muitas partes do mundo testemunham que os jovens sabem ser pioneiros do encontro e diálogo intercultural e inter-religioso, na perspetiva da convivência pacífica.

Compromisso e participação social

46. Se bem que de forma diferente em relação às gerações passadas, o compromisso social é um traço específico dos jovens de hoje. Ao lado de alguns indiferentes, existem muitos outros que estão disponíveis para se empenharem em iniciativas de voluntariado, cidadania ativa e solidariedade social, de acompanhar e encorajar para fazer emergir os talentos, as competências e a criatividade dos jovens e incentivar à tomada de responsabilidades por parte deles. O compromisso social e o contacto direto com os pobres são uma ocasião fundamental de descoberta ou aprofundamento da fé e de discernimento da própria vocação. Tem força e está muito difundida a sensibilidade pelos temas ecológicos e pela sustentabilidade, que a Encíclica Laudato si’ soube catalisar. Foi assinalada também a disponibilidade para o compromisso no campo político para a construção do bem comum, que nem sempre a Igreja soube acompanhar, oferecendo oportunidades de formação e espaços de discernimento. Em relação à promoção da justiça, os jovens pedem à Igreja um compromisso sério e coerente, que erradique qualquer conivência com uma mentalidade mundana.

Arte, música e desporto

47. O Sínodo reconhece e considera a importância que os jovens dão à expressão artística em todas as suas formas: são muitos os jovens que usam, neste campo, os talentos recebidos, promovendo a beleza, a verdade e a bondade, crescendo em humanidade e na relação com Deus. Para muitos a expressão artística é também uma autêntica vocação profissional. Não podemos esquecer que durante séculos a «via da beleza» foi considerada uma das modalidades privilegiadas de expressão da fé e de evangelização.
Bastante peculiar é a importância da música, que representa um verdadeiro ambiente no qual os jovens estão constantemente imersos, bem como uma cultura e uma linguagem capazes de suscitar emoções e de plasmar a identidade. A linguagem musical representa também um recurso pastoral que interpela de modo particular a liturgia e a sua renovação. A homologação dos gostos em chave comercial corre às vezes o risco de comprometer a relação com as formas tradicionais de expressão musical e também litúrgica.
Igualmente significativo é o relevo que entre os jovens tem a prática desportiva, de que a Igreja não deve desvalorizar as potencialidades educativas e formativas que contém, mantendo uma sólida presença neste campo. O mundo do desporto precisa de ser ajudado a superar a ambiguidade que o atravessa, como a mitificação dos campeões, a dependência das lógicas comerciais e da ideologia do sucesso a todo o custo. Deste modo, reafirma-se o valor do acompanhamento e do apoio aos deficientes na prática desportiva.

Espiritualidade e religiosidade

Os vários contextos religiosos

48. A experiência religiosa dos jovens está fortemente influenciada pelo contexto social e cultural em que vivem. Em alguns países, a fé cristã é uma experiência comunitária forte e viva que os jovens partilham com alegria. Noutras regiões de antiga tradição cristã, a maioria da população católica não vive uma real pertença à Igreja; porém, não faltam minorias criativas e experiências que revelam um renascimento pelo interesse religioso, em reação a uma visão reducionista e sufocante. Noutros lugares ainda, os católicos, juntamente com outras denominações cristãs, são uma minoria, que sofre por vezes discriminação e até perseguição. Por fim, existem contextos onde se sente um crescimento das seitas ou de formas de religiosidade alternativa; aqueles que as seguem não raras vezes ficam desiludidos e tornam-se avessos a tudo o que é religioso. Se em algumas regiões os jovens não têm a possibilidade de exprimir publicamente a sua fé ou não lhes é reconhecida a própria liberdade religiosa, noutros lugares sente-se o peso de escolhas do passado – também políticas –, que ameaçaram a credibilidade eclesial. Não é possível falar da religiosidade dos jovens sem ter em conta todas estas diferenças.

A busca religiosa

49. Em geral, os jovens declaram que estão à procura do sentido da vida e demonstram interesse pela espiritualidade. No entanto, essa procura configura-se mais como uma busca de bem-estar psicológico do que como uma abertura ao encontro com o Mistério do Deus vivo. Em algumas culturas, em particular, muitos consideram a religião como uma questão privada e selecionam, das diversas tradições espirituais, os elementos que se coadunam com as suas convicções. Deste modo, difunde-se um certo sincretismo, que se desenvolve no pressuposto relativista de que todas as religiões são iguais. A adesão a uma comunidade de fé não é vista por todos como a via privilegiada de acesso ao sentido da vida, e é sustentada e, por vezes, substituída por ideologias ou pela busca de sucesso no campo profissional e económico, na lógica de uma autorrealização material. No entanto, permanecem vivas algumas práticas mantidas pela tradição, como as peregrinações aos santuários, que por vezes envolvem massas muito numerosas de jovens, e expressões da piedade popular, frequentemente ligadas à devoção a Maria e aos Santos, que conservam a experiência de fé de um povo.

O encontro com Jesus

50. A mesma variedade se verifica na relação dos jovens com a figura de Jesus. Muitos reconhecem-no como Salvador e Filho de Deus e, frequentemente, sentem-no próximo através de Maria, sua mãe, e comprometem-se num caminho de fé. Outros não têm uma relação pessoal com Ele, mas consideram-no como um homem bom e uma referência ética. Outros, ainda, encontram-no através de uma forte experiência do Espírito. No entanto, para outros é uma figura do passado sem relevância existencial ou muito distante da experiência humana.
Se, para muitos jovens, Deus, a religião e a Igreja se apresentam como palavras vazias, eles são sensíveis à figura de Jesus, quando é apresentada de modo atraente e eficaz. De diversas formas também, os jovens de hoje dizem-nos: «Queremos ver Jesus» (Jo 12,21), manifestando assim a sã inquietação que caracteriza o coração de cada ser humano: «A inquietação da investigação espiritual, a inquietação do encontro com Deus e a inquietação do amor»[7].

O desejo de uma liturgia viva

51. Em diversos contextos, os jovens católicos pedem propostas de oração e momentos sacramentais capazes de intercetar a sua vida quotidiana, através de uma liturgia fresca, autêntica e alegre. Em tantas partes do mundo, a experiência litúrgica é o principal recurso para a identidade cristã e tem uma participação ampla e convicta. Os jovens reconhecem aí um momento privilegiado de experiência de Deus e da comunidade eclesial, e um ponto de partida para a missão. Noutros lugares, porém, assiste-se a um certo afastamento dos sacramentos e da Eucaristia dominical, entendida mais como preceito moral do que como feliz encontro com o Senhor Ressuscitado e com a comunidade. Em geral, constata-se que mesmo quando se oferece a catequese sobre os sacramentos, é fraco o acompanhamento educativo para viver a celebração com profundidade, para entrar na riqueza mistérica dos seus símbolos e dos seus ritos.

Participação e protagonismo

Os jovens desejam protagonismo

52. Perante as contradições da sociedade, muitos jovens desejam pôr a render os seus talentos, competências e criatividade e estão disponíveis para assumirem responsabilidades. Entre os temas que maioritariamente têm a peito, surgem a sustentabilidade social e ambiental, as discriminações e o racismo. O envolvimento dos jovens tem com frequência aproximações inéditas, explorando também as potencialidades da comunicação digital em termos de mobilização e pressão política: difusão de estilos de vida e modelos de consumo e investimento críticos, solidários e atentos ao ambiente; novas formas de compromisso e de participação na sociedade e na política; novas modalidades de welfare que proteja os sujeitos mais frágeis.

As razões de uma distância

53. O Sínodo está consciente de que um número consistente de jovens, pelas mais diversas razões, não pede nada à Igreja porque não a consideram significativa para a sua existência. Pelo contrário, outros pedem expressamente que os deixem em paz, pois sentem a sua presença como fastidiosa e até irritante. Tal pedido não nasce, muitas vezes, de um desprezo acrítico e impulsivo, mas tem as suas raízes também em razões sérias e respeitáveis: os escândalos sexuais e económicos; a falta de preparação dos ministros ordenados que não sabem cativar adequadamente a sensibilidade dos jovens; o fraco cuidado na preparação da homilia e na apresentação da Palavra de Deus; o papel passivo dado aos jovens no interior da comunidade cristã; a dificuldade da Igreja em dar razões das suas posições doutrinais e éticas em relação à sociedade contemporânea.

Os jovens na Igreja

54. Os jovens católicos não são meramente destinatários da ação pastoral, mas membros vivos do único corpo eclesial, batizados onde vive e age o Espírito do Senhor. Eles contribuem e enriquecem aquilo que a Igreja é, e não só aquilo que faz. São o seu presente e não apenas o seu futuro. Os jovens são protagonistas em muitas atividades eclesiais, onde oferecem generosamente o próprio serviço, em particular na animação da catequese e da liturgia, no cuidado para com os mais pequenos e no voluntariado para com os pobres. Também movimentos, associações e congregações religiosas oferecem aos jovens oportunidades de compromisso e corresponsabilidade. Às vezes, a disponibilidade dos jovens encontra um certo autoritarismo e desconfiança dos adultos e pastores, que não reconhecem suficientemente a sua criatividade e têm dificuldades em partilhar as responsabilidades.

As mulheres na Igreja

55. Surge também nos jovens o pedido para que haja um maior reconhecimento e valorização das mulheres na sociedade e na Igreja. Muitas mulheres desempenham um papel insubstituível nas comunidades cristãs, mas em muitos lugares há dificuldade em dar-lhes lugar nos processos de tomada de decisão, mesmo quando eles não requerem especificamente responsabilidades ministeriais. A ausência da voz e do olhar feminino empobrece o debate e o caminho da Igreja, subtraindo ao discernimento um contributo precioso. O Sínodo recomenda que todos se tornem mais conscientes da urgência de uma inevitável mudança, também a partir de uma reflexão antropológica e teológica sobre a reciprocidade entre homens e mulheres.

A missão dos jovens em relação aos seus coetâneos

56. Em vários contextos existem grupos de jovens, muitas vezes expressão de associações e movimentos eclesiais que são muito ativos na evangelização dos seus coetâneos graças a um claro testemunho de vida, a uma linguagem acessível e à capacidade de criar laços autênticos de amizade. Tal apostolado consegue levar o Evangelho a pessoas que dificilmente se juntariam numa pastoral juvenil ordinária e contribui para amadurecer a própria fé daqueles que se empenham. Por isso, isto deve ser apreciado, apoiado, acompanhado com sabedoria e integrado na vida das comunidades.

Desejo de uma comunidade eclesial mais autêntica e fraterna

57. Os jovens pedem que a Igreja brilhe pela autenticidade, exemplaridade, competência, corresponsabilidade e solidariedade cultural. Por vezes, este pedido parece uma crítica, mas quase sempre assume a forma positiva de um empenho pessoal por comunidade fraterna, acolhedora, alegre e empenhada profeticamente, na luta contra a injustiça social. Entre as expectativas dos jovens sobressai, em particular, o desejo de que na Igreja se adote um estilo de diálogo menos paternalista e mais genuíno.

II PARTE
«Os seus olhos abriram-se»

58. «E, começando por Moisés e seguindo por todos os Profetas, explicou-lhes, em todas as Escrituras, tudo o que lhe dizia respeito. Ao chegarem perto da aldeia para onde iam, fez menção de seguir para diante. Os outros, porém, insistiam com Ele, dizendo: “Fica connosco, pois a noite vai caindo e o dia já está no ocaso.” Entrou para ficar com eles. E, quando se pôs à mesa, tomou o pão, pronunciou a bênção e, depois de o partir, entregou-lho. Então, os seus olhos abriram-se e reconheceram-no; mas Ele desapareceu da sua presença» (Lc 24,27-31).
Depois de os ter escutado, o Senhor dirige aos dois viajantes uma «palavra» incisiva e decisiva, autorreveladora e transformadora. E assim, com doçura e fortaleza, o Senhor entra na sua morada, permanece com eles e partilha o pão da vida: é o sinal eucarístico que permite aos dois discípulos abrir finalmente os olhos.

Um novo Pentecostes

A ação do Espírito Santo

59. O Espírito Santo acende o coração, abre os olhos e suscita a fé dos dois viajantes. Ele opera desde o princípio da criação do mundo para que o projeto do Pai de recapitular tudo em Cristo atinja a sua plenitude. Age em cada tempo e em cada o lugar, na verdade dos contextos e das culturas, suscitando também no meio das dificuldades e sofrimentos o compromisso pela justiça, a busca da verdade, a coragem da esperança. Por isso, São Paulo afirma que «toda a criação geme e sofre as dores de parto até ao presente» (Rm 8,22). O desejo de vida no amor e a santa inquietação que habita o coração dos jovens fazem parte do grande desejo veemente de toda a criação à plenitude da alegria. Em cada um deles, também naqueles que não conhecem Cristo, o Espírito Criador age para os conduzir à beleza, à bondade e à verdade.

O Espírito rejuvenesce a Igreja

60. A juventude é um período original e estimulante da vida, que o próprio Jesus viveu, santificando-a. A Mensagem aos jovens do Concílio Vaticano II (7 de dezembro de 1965) apresentou a Igreja como a «verdadeira juventude do mundo», que possui «a capacidade de congratular-se naquilo que começa, de dar-se sem querer nada em troca, de renovar-se e de tornar a partir para novas conquistas». Com a sua frescura e a sua fé, os jovens contribuem para mostrar aquele rosto da Igreja onde se reflete «o grande Vivente, o Cristo eternamente jovem». Não se trata de criar uma nova Igreja para os jovens, mas sobretudo de redescobrir com eles a juventude da Igreja, abrindo-nos à graça de um novo Pentecostes.

O Espírito na vida do crente

61. A vocação do cristão é seguir Cristo passando pelas águas do Batismo, recebendo o selo da Confirmação e tornando-se na Eucaristia parte do seu Corpo: «Vem o Espírito Santo, o fogo depois da água e tornar-vos-eis pão, isto é, Corpo de Cristo»[8]. No percurso da iniciação cristã é, sobretudo, a Confirmação que permite aos crentes reviver a experiência pentecostal de uma nova efusão do Espírito para o crescimento e a missão. É importante redescobrir a riqueza deste sacramento, apreender a sua ligação à vocação pessoal de cada batizado e à teologia dos carismas, cuidando melhor disto na pastoral, para que não se torne um momento formal e pouco significativo. Cada caminho vocacional tem o Espírito Santo como protagonista: Ele é o «mestre interior», por quem deixar-se conduzir.

Uma autêntica experiência de Deus

62. A primeira condição para o discernimento vocacional no Espírito é uma autêntica experiência de fé em Cristo morto e ressuscitado, recordando que ela «não é luz que dissipa todas as nossas trevas, mas lâmpada que guia os nossos passos na noite, e isto basta para o caminho»[9]. Nas comunidades cristãs, corremos por vezes o risco de propor, sem intenção, um teísmo ético e terapêutico, que responde à necessidade de segurança e de conforto do ser humano, mais do que um encontro vivo com Deus à luz do Evangelho e na força do Espírito. Se é verdade que a vida se revela apenas através da vida, torna-se claro que os jovens têm necessidade de encontrar comunidades cristãs enraizadas realmente na amizade com Cristo, que nos guia ao Pai na comunhão do Espírito Santo.

Capítulo I
O dom da juventude

Jesus jovem entre os jovens

A juventude de Jesus

63. «Jovem entre os jovens para ser exemplo para os jovens e consagrá-los ao Senhor»[10], Cristo santificou a juventude pelo simples facto de a ter vivido. A narração bíblica apresenta um só episódio da juventude de Jesus (cf. Lc 2,41-52), que foi vivida sem alarido, na simplicidade e no trabalho quotidiano em Nazaré, de tal forma que ficou conhecido como «o carpinteiro» (Mc 6,3) e «o filho do carpinteiro» (Mt 13,55).
Contemplando a sua vida, podemos ver melhor a bênção da juventude: Jesus teve uma incondicional confiança no Pai, fez amizade com os seus discípulos e permaneceu fiel até nos momentos de crise. Manifestou uma profunda compaixão na relação com os mais débeis, especialmente os pobres, os doentes, os pecadores e os excluídos. Teve a coragem de enfrentar as autoridades religiosas e políticas do seu tempo; fez a experiência de sentir-se incompreendido e descartado; sentiu medo do sofrimento e conheceu a fragilidade da Paixão; dirigiu o próprio olhar para o futuro confiando-se nas mãos seguras do Pai e na força do Espírito. Em Jesus todos os jovens podem reencontrar-se com os seus medos e as suas esperanças, as suas incertezas e os seus sonhos, e a Ele podem confiar-se. Será para eles fonte de inspiração contemplar os encontros de Jesus com os jovens.

Com o olhar do Senhor

64. A escuta de Cristo e a comunhão com Ele permitem, também aos pastores e aos educadores, amadurecer uma leitura sapiente desta fase da vida. O Sínodo procurou olhar os jovens com a atitude de Jesus, para discernir na sua vida os sinais da ação do Espírito. Na verdade, cremos que também hoje Deus fala à Igreja e ao mundo por meio dos jovens, da sua criatividade e do seu empenho, como também dos seus sofrimentos e da procura de ajuda. Com eles, podemos ler mais profeticamente a nossa época e reconhecer os sinais dos tempos; por isso, os jovens são um dos «lugares teológicos» onde o Senhor nos dá a conhecer algumas das suas expectativas e desafios para construir o amanhã.

Características da idade juvenil

65. A juventude, fase do desenvolvimento da personalidade, é marcada pelos sonhos que vão ganhando corpo, pelas relações que adquirem cada vez mais consistência e equilíbrio, pelas tentativas e experiências e pelas escolhas que constroem gradualmente um projeto de vida. Nesta fase da vida, os jovens são chamados a projetar-se em frente sem cortar as raízes, a criar autonomia, mas não na solidão. O contexto social, económico e cultural nem sempre oferece condições favoráveis. Muitos jovens santos fizeram brilhar os traços da idade juvenil em toda a sua beleza e foram na sua época verdadeiros profetas da mudança; o seu exemplo mostra do que são capazes os jovens quando se abrem ao encontro com Cristo.
Também os jovens com deficiências ou marcados pela doença podem oferecer um contributo precioso. O Sínodo convida as comunidades a dar espaço a iniciativas que os reconheçam e lhes permitam ser protagonistas, por exemplo, com o uso da língua gestual para os surdos, itinerários catequéticos oportunamente preparados, experiências associativas ou de inserção laboral.

A sã inquietação dos jovens

66. Os jovens são portadores de uma inquietação que deve ser antes de mais acolhida, respeitada e acompanhada, apostando com convicção na sua liberdade e responsabilidade. A Igreja sabe por experiência que o seu contributo é fundamental para a sua renovação. Os jovens, em certos aspetos, podem estar mais à frente do que os pastores. Na manhã de Páscoa, o jovem Discípulo Amado chegou em primeiro lugar ao sepulcro, precedendo, na sua corrida, a Pedro, entorpecido pela idade e pela traição (cf. Jo 20,1-10); de modo semelhante na comunidade cristã, o dinamismo juvenil é uma energia renovadora para a Igreja, porque a ajuda a sacudir das costas pesos e lentidões, abrindo-se ao Ressuscitado. Ao mesmo tempo, a atitude do Discípulo Amado indica que é importante permanecerem ligados à experiência dos idosos, reconhecer o papel dos pastores e não seguir em frente sozinhos. Deste modo, haverá aquela sintonia de vozes que é fruto do Espírito.

Os jovens feridos

67. A vida dos jovens, como a de todos, está marcada também pelas feridas. São as feridas das derrotas da própria história, dos desejos frustrados, das discriminações e injustiças sofridas, de não se sentir amado ou reconhecido. São feridas do corpo e da psique. Cristo, que aceitou percorrer a paixão e a morte, por meio da sua cruz fez-se próximo de todos os jovens que sofrem. Existem depois as feridas morais, o peso dos próprios erros, a culpa de ter falhado. Reconciliar-se com as próprias feridas é hoje mais do que condição necessária para uma vida boa. A Igreja é chamada a apoiar todos os jovens nas suas provas e a promover ações pastorais adequadas.

Tornar-se adulto

A idade das escolhas

68. A juventude é uma fase da vida que deve terminar para dar espaço à idade adulta. Tal passagem não acontece de modo puramente cronológico, mas implica um caminho de amadurecimento, que nem sempre é facilitado pelo ambiente onde vivem os jovens. Em muitas regiões, difundiu-se uma cultura do provisório que favorece um prolongamento indefinido da adolescência e o adiamento das decisões; o medo do definitivo gera assim uma espécie de paralisia na tomada de decisão. No entanto, a juventude não pode ficar um tempo suspenso: ela é a idade das escolhas, e esse é precisamente o seu fascínio e o seu maior dever. Os jovens tomam decisões no âmbito profissional, social, político, e outras mais radicais que darão à sua existência uma configuração determinante. É sobre esta última asserção que se fala mais propriamente de «escolhas de vida»: na verdade, é a própria vida, na sua singularidade irrepetível, que aí recebe orientação definitiva.

A existência sobre o sinal da missão

69. O Papa Francisco convida os jovens a pensar a própria vida no horizonte da missão: «Muitas vezes, na vida, perdemos tempo a questionar-nos: “Quem sou eu?” E podes passar a vida inteira a questionar-te quem és, procurando saber quem és. Mas a pergunta que deves colocar é esta: “Para quem sou eu?”»[11]. Esta afirmação ilumina de modo profundo as escolhas de vida, porque pede que a assumamos no horizonte libertador do dom de si. É esta a única estrada para conseguir uma felicidade autêntica e duradoura! Efetivamente, «a missão no coração do povo não é uma parte da minha vida ou um ornamento que posso pôr de lado; não é um apêndice ou um momento entre tantos outros da minha vida. É algo que não posso arrancar do meu ser, se não me quero destruir. Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste mundo»[12].

Uma pedagogia capaz de interpelar

70. A missão é uma bússola segura para o caminho da vida, mas não é um «navegador», que mostra antecipadamente todo o percurso. A liberdade traz sempre consigo uma dimensão de risco que deve ser valorizada com coragem e acompanhada com gradualidade e sabedoria. Muitas páginas do Evangelho mostram-nos Jesus que convida a ousar, a fazer-se ao largo, a passar da lógica da observância dos preceitos à do dom generoso e incondicional, sem esconder a exigência de tomar para si a própria cruz (cf. Mt 16,24). Ele é radical: «dá tudo e pede tudo: dá um amor total e pede um coração indiviso»[13]. Evitando iludir os jovens com propostas minimalistas ou de sufocá-los com um conjunto de regras que dão uma imagem redutora e moralista do Cristianismo, somos chamados a investir na sua capacidade e educá-los para assumirem as suas responsabilidades, certos de que também os erros, os falhanços e as crises são experiências que podem fortalecer a sua humanidade.

O verdadeiro sentido da autoridade

71. Para levar a cabo um verdadeiro caminho de amadurecimento, os jovens precisam de adultos autorizados. No seu sentido etimológico, a auctoritas indica a capacidade de fazer crescer; não exprime a ideia de um poder diretivo, mas de uma verdadeira força generativa. Quando Jesus encontrava os jovens, qualquer que fosse a situação ou condição, até estando já mortos, de um modo ou outro dizia-lhes: «Levanta-te! Cresce!» E a sua palavra realizava aquilo que dizia (cf. Mc 5,41; Lc 7,14). No episódio da cura do epilético endemoninhado (cf. Mc 9,14-29), que evoca tantas formas de alienação dos jovens de hoje, torna-se claro que o estender de mão de Jesus não é para tirar a liberdade, mas para ativá-la e resgatá-la. Jesus exercita plenamente a sua autoridade: não quer outra coisa que o crescimento do jovem, sem nenhuma possessão, manipulação e sedução.

A ligação com a família

72. A família é a primeira comunidade de fé onde, para além dos limites e insuficiências, o jovem experimenta o amor de Deus e começa a discernir a própria vocação. Os Sínodos precedentes e a sucessiva Exortação Apostólica Amoris laetitia não cessam de sublinhar que a família, enquanto Igreja doméstica, tem o dever de viver a alegria do Evangelho na vida quotidiana e fazer com que todos os membros participem segundo a sua condição, permanecendo abertos à dimensão vocacional e missionária.
Porém, nem sempre as famílias educam os filhos a ver o futuro numa lógica vocacional. Por vezes, a procura de prestígio social ou do sucesso pessoal, a ambição dos pais ou a tendência para determinar as escolhas dos filhos invadem o espaço de discernimento e condicionam as decisões. O Sínodo reconhece a necessidade de ajudar as famílias a assumir de modo mais evidente uma conceção da vida como vocação. A passagem evangélica de Jesus adolescente (cf. Lc 2,41-52), obediente aos pais, mas capaz de distanciar-se deles para ocupar-se das coisas do Pai, pode dar ideias preciosas para pensar de modo evangélico as relações familiares.

Chamados à liberdade

O Evangelho da liberdade

73. A liberdade é condição essencial para qualquer escolha de vida autêntica. No entanto, ela pode correr o risco de ser incompreendida, também porque nem sempre adequadamente apresentada. A própria Igreja acaba por aparecer para muitos jovens como uma instituição que impõe regras, proibições e obrigações. Porém, Cristo «libertou-nos para a liberdade» (Gl 5,1), fazendo-nos passar do regime da Lei para o do Espírito. À luz do Evangelho, é hoje oportuno reconhecer com mais clareza que a liberdade é constitutivamente relacional e mostrar que as paixões e as emoções são relevantes na medida em que orientam para o autêntico encontro com o outro. Uma tal perspetiva confirma claramente que a verdadeira liberdade é compreensível e possível apenas em relação à verdade (cf. Jo 8,31-32) e sobretudo à caridade (cf. 1Cor 13,1-3; Gl 5,13): a liberdade é ser si-mesmo no coração de um outro.

Uma liberdade dialogal

74. Através da fraternidade e da solidariedade vividas, especialmente com os últimos, os jovens descobrem que a autêntica liberdade nasce do sentirem-se acolhidos e cresce no dar espaço ao outro. Fazem uma experiência análoga quando se empenham a cultivar a sobriedade e o respeito pelo ambiente. A experiência do reconhecimento recíproco e do empenho partilhado leva-os a descobrir que o seu coração é habitado por um apelo silencioso ao amor que provém de Deus. Deste modo, torna-se mais fácil reconhecer a dimensão transcendente que a liberdade traz originariamente consigo e que, em contacto com as experiências mais intensas da vida – o nascimento e a morte, a amizade e o amor, a culpa e o perdão –, se revela mais claramente. São exatamente estas experiências que ajudam a reconhecer que a natureza da liberdade é radicalmente dialogal.

A liberdade e a fé

75. Há mais de cinquenta anos atrás, São Paulo VI introduziu a expressão «diálogo da salvação» e interpretou a missão do Filho no mundo como expressão de um «formidável pedido de amor». Acrescentou, porém, que somos «livres para corresponder ou fechar os ouvidos»[14]. Nesta perspetiva, o ato de fé pessoal surge como livre e libertador: será o ponto de partida para uma aproximação gradual dos conteúdos da fé. Por isso, a fé não é um elemento que se acrescenta como se fosse externo à liberdade, mas realiza o grande desejo da consciência para a verdade, o bem e a beleza, encontrando-os plenamente em Jesus. O testemunho de tantos jovens mártires do passado e do presente, que teve grande impacto no Sínodo, é a prova mais convincente de que a fé nos torna livres nos confrontos com as potências deste mundo, com as suas injustiças e até diante da morte.

A liberdade ferida e redimida

76. A liberdade humana está marcada pelas feridas do pecado pessoal e pela concupiscência. Mas quando, graças ao perdão e à misericórdia, a pessoa toma consciência dos obstáculos que a aprisionam, cresce em maturidade e pode empenhar-se com mais lucidez nas escolhas definitivas da vida. Numa perspetiva educativa, é importante ajudar os jovens a não desanimarem frente a erros e falhanços, mesmo se humilhantes, porque fazem parte integrante do caminho para uma liberdade mais madura, consciente da própria grandeza e fragilidade.
Porém, o mal não tem a última palavra: «Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito» (Jo 3,16). Ele amou-nos até à morte e resgatou, assim, a nossa liberdade. Morrendo por nós na cruz, derramou o Espírito, e «onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade» (2Cor 3,17): uma liberdade nova, pascal, que se realiza no dom quotidiano de si.

Capítulo II
O mistério da vocação

A procura da vocação

Vocação, viagem e descoberta

77. O relato do chamamento de Samuel (cf. 1Sm 3,1-18) permite perceber os traços fundamentais do discernimento: a escuta e o reconhecimento da iniciativa divina, uma experiência pessoal, uma compreensão progressiva, um acompanhamento paciente e respeitoso do mistério concretizado, um destino comunitário. A vocação não se impõe a Samuel como um destino a suportar; é uma proposta de amor, um envio missionário numa história de quotidiana confiança recíproca.
Tal como para o jovem Samuel, assim também para cada homem e cada mulher, a vocação, mesmo tendo momentos fortes e privilegiados, comporta uma longa viagem. A Palavra do Senhor exige tempo para ser compreendida e interpretada; a missão a que ela chama revela-se gradualmente. Os jovens estão fascinados pela aventura da descoberta progressiva de si. Eles aprendem de boa vontade com as atividades que desenvolvem, com os encontros e com as relações, pondo-se à prova no quotidiano. Precisam, no entanto, de ser ajudados a unir as diversas experiências e a lê-las numa perspetiva de fé, vencendo o risco da dispersão e reconhecendo os sinais com os quais Deus fala. Na descoberta da vocação, nem tudo é logo claro, porque a fé «“vê” na medida em que caminha, em que entra no espaço aberto pela Palavra de Deus»[15].

Vocação, graça e liberdade

78. Ao longo dos séculos, a compreensão teológica do mistério da vocação conheceu acentuações diversas, de acordo com o contexto social e eclesial onde o tema era desenvolvido. No entanto, em todos eles foi reconhecido o carácter analógico do termo «vocação» e as muitas dimensões que conotam a realidade que isso designa. Isto leva, algumas vezes, a evidenciar aspetos singulares, com perspetivas que nem sempre souberam salvaguardar com equilíbrio a complexidade do conjunto. Para compreender em profundidade o mistério da vocação que encontra em Deus a sua origem última, somos chamados a purificar o nosso imaginário e a nossa linguagem religiosa, reencontrando a riqueza e o equilíbrio da narração bíblica. O entrelaçamento entre a escolha divina e a liberdade humana, em particular, é pensado fora de qualquer determinismo e de qualquer «extrinsecismo». A vocação nem é um guião já escrito que o ser humano deveria simplesmente recitar, nem uma improvisação teatral sem esboço. Dado que Deus nos chama a ser amigos e não servos (cf. Jo 15,13), as nossas escolhas concorrem de modo real para o desenvolvimento histórico do seu projeto de amor. A economia da salvação, por sua vez, é um Mistério que nos supera infinitamente; por isso só a escuta do Senhor pode revelar-nos aquilo a que somos chamados a ser nessa economia. Nesta perspetiva, a vocação surge realmente como um dom de graça e de aliança, como o segredo mais belo e precioso da nossa liberdade.

Criação e vocação

79. Afirmando que todas as coisas foram criadas por meio de Cristo e em vista dele (cf. Cl 1,16), a Escritura ajuda a ler o mistério da vocação como uma realidade que indica a própria criação de Deus. Deus criou com a sua Palavra, que «chama» ao ser e à vida e, depois, «distingue» no caos do indistinto, imprimindo ao cosmo a beleza da ordem e a harmonia da diversidade. Se já São Paulo VI afirmara que «cada vida é vocação»[16], Bento XVI insistiu sobre o facto de que o ser humano é criado como ser dialógico: a Palavra criadora «chama cada um em termos pessoais, revelando assim que a própria vida é vocação em relação a Deus»[17].

Para uma cultura vocacional

80. Falar da existência humana em termos vocacionais permite evidenciar alguns elementos que são muito importantes para o crescimento de um jovem: significa excluir que isso seja determinado pelo destino ou fruto do acaso, ou que seja um bem privado a gerir pelo próprio. Se no primeiro caso não há vocação porque não há o reconhecimento de um destino digno da existência, no segundo, um ser humano pensado «sem laços» torna-se «sem vocação». Por isso, é importante criar as condições para que em todas as comunidades cristãs, a partir da consciência batismal dos seus membros, se desenvolva uma verdadeira cultura vocacional e um constante compromisso em rezar pelas vocações.

A vocação de seguir Jesus

O fascínio de Jesus

81. Muitos jovens são fascinados pela figura de Jesus. A sua vida parece-lhes boa e bela, porque pobre e simples, feita de amizades sinceras e profundas, gasta generosamente com os irmãos, nunca fechada para ninguém, mas sempre disponível ao dom. A vida de Jesus permanece também hoje profundamente atraente e inspiradora; é para todos os jovens uma provocação que interpela. A Igreja sabe que tal se deve ao facto de Jesus ter uma ligação profunda com cada ser humano, porque «Cristo Senhor, novo Adão, na mesma revelação do mistério do Pai e do seu amor, manifesta plenamente o homem ao próprio homem e descobre-lhe a sua altíssima vocação»[18].

Fé, vocação e discipulado

82. De facto, Jesus não só fascinou com a sua vida, como também chamou explicitamente à fé. Ele encontrou homens e mulheres que reconheceram nos seus gestos e nas suas palavras o modo justo de falar de Deus e de se relacionar com Ele, conduzindo àquela fé que leva à salvação: «Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz» (Lc 8,48). Por sua vez, outros que o encontraram foram chamados a tornar-se seus discípulos e testemunhas. Ele não escondeu a quem quer ser seu discípulo a exigência de tomar a própria cruz todos os dias e de segui-lo num caminho pascal de morte e ressurreição. A fé testemunhal continua a viver na Igreja, sinal e instrumento de salvação para todos os povos. A pertença à comunidade de Jesus conheceu sempre diversas formas de seguimento. A grande parte dos discípulos viveu a fé nas condições ordinárias da vida quotidiana; outros, porém, inclusive algumas figuras femininas, partilharam a existência itinerante e profética do Mestre (cf. Lc 8,1-3); desde o início, os Apóstolos tiveram um papel particular na comunidade e foram associados a Ele no seu ministério de orientação e de pregação.

A Virgem Maria

83. Entre todas as figuras bíblicas que ilustram o mistério da vocação, Maria é contemplada de modo singular. Jovem mulher que com o seu «sim» tornou possível a encarnação, criando as condições para que tantas outras vocações eclesiais pudessem ser geradas, ela permanece como a primeira discípula de Jesus e o modelo de todo o discipulado. Na sua peregrinação de fé, Maria seguiu o seu Filho até junto à cruz e, depois da Ressurreição, acompanhou a Igreja nascente no Pentecostes. Como mãe e mestra misericordiosa, continua a acompanhar a Igreja e a implorar o Espírito que vivifica cada vocação. Por isso, é evidente que o «princípio mariano» tem um papel eminente e ilumina toda a vida da Igreja nas suas diversas manifestações. Ao lado da Virgem, também a figura de José, seu esposo, constitui um modelo exemplar de resposta vocacional.

Vocação e vocações

Vocação e missão da Igreja

84. Não é possível entender plenamente o significado da vocação batismal se não se considera que ela é para todos, sem excluir ninguém, um chamamento à santidade. Tal apelo implica necessariamente o convite a participar na missão da Igreja, que tem como finalidade fundamental a comunhão com Deus e entre todas as pessoas. De facto, as vocações eclesiais são expressões múltiplas e articuladas, mediante as quais a Igreja realiza o seu chamamento a ser sinal real do Evangelho acolhido numa comunidade fraterna. As diversas formas de seguimento de Cristo exprimem, cada uma a seu modo, a missão de testemunhar o acontecimento de Jesus, no qual cada homem e cada mulher encontram a salvação.

A variedade dos carismas

85. São Paulo, nas suas cartas volta, muitas vezes a este tema, referindo-se à imagem da Igreja como corpo constituído por vários membros e pondo em realce que cada membro é necessário e ao mesmo tempo relativo ao conjunto, dado que só a unidade de todos torna o corpo vivo e harmónico. A origem desta comunhão é encontrada, pelo Apóstolo, no próprio mistério da Santíssima Trindade: «Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; há diversidade de serviços, mas o Senhor é o mesmo» (1Cor 12,4-6). O Concílio Vaticano II e o sucessivo magistério oferecem indicações preciosas para elaborar uma correta teologia dos carismas e dos ministérios na Igreja, de modo a acolher com gratidão e a valorizar com sabedoria os dons da graça que o Espírito faz continuamente surgir na Igreja para rejuvenescê-la.

Profissão e vocação

86. Para muitos jovens, a orientação profissional é vivida num horizonte vocacional. Não raras vezes se recusam propostas de trabalho aliciantes que não estão em sintonia com os valores cristãos, e a escolha de percursos formativos é feita de forma a fazer frutificar os talentos pessoais ao serviço do Reino de Deus. O trabalho é para muitos ocasião de reconhecer e valorizar os dons recebidos: desta forma, os homens e as mulheres participam ativamente no mistério trinitário da criação, redenção e santificação.

A família

87. As duas recentes assembleias sinodais sobre a família, donde surgiu a Exortação Apostólica Amoris laetitia, ofereceram um rico contributo acerca da vocação da família na Igreja e o contributo insubstituível que as famílias são chamadas a dar no testemunho do Evangelho através do amor mútuo, da geração e da educação dos filhos. Ao mencionar-se a riqueza contida nos recentes documentos, sublinha-se a importância de retomar essa mensagem para redescobrir e tornar compreensível aos jovens a beleza da vocação nupcial.

A vida consagrada

88. O dom da vida consagrada, na sua forma, quer contemplativa quer ativa, que o Espírito suscita na Igreja, tem um particular valor profético porquanto é testemunho alegre da gratuidade do amor. Quando as comunidades religiosas e as novas fundações vivem autenticamente a fraternidade, elas tornam-se escolas de comunhão, centros de oração e de contemplação, lugares de testemunho de diálogo intergeracional e intercultural, e espaços para a evangelização e a caridade. A missão de muitos consagrados e consagradas que cuidam dos últimos, nas periferias do mundo, manifesta concretamente a dedicação de uma Igreja em saída. Se em algumas regiões experimenta a redução numérica e a dificuldade do envelhecimento, a vida consagrada continua a ser fecunda e criativa também através da corresponsabilidade com tantos leigos que partilham o espírito e a missão dos diversos carismas. A Igreja e o mundo não podem passar sem este dom vocacional, que constitui um grande recurso para o nosso tempo.

O ministério ordenado

89. A Igreja teve sempre um cuidado especial pelas vocações ao ministério ordenado, na consciência de que este último é um elemento constitutivo da sua identidade e é necessário para a vida cristã. Por isso, ela sempre cultivou uma atenção específica pela formação e pelo acompanhamento dos candidatos ao presbiterado. A preocupação de muitas Igrejas pela sua diminuição numérica torna necessária uma renovada reflexão sobre as vocações ao ministério ordenado e sobre uma pastoral vocacional que saiba mostrar o fascínio da pessoa de Jesus e do seu chamamento para ser pastor da sua grei. Também a vocação ao diaconado permanente requer maior atenção, porque constitui um recurso de que ainda não foram exploradas todas as potencialidades.

A condição dos solteiros (single)

90. O Sínodo refletiu sobre a condição das pessoas que vivem como solteiros (single), reconhecendo que com este termo se podem indicar situações de vida muito diversas entre si. Tal situação pode depender de muitas razões, voluntárias ou involuntárias, e de fatores culturais, religiosos e sociais. Pode ainda exprimir uma gama de percursos muito ampla. A Igreja reconhece que tal condição, assumida numa lógica de fé e de dom, pode tornar-se um dos muitos caminhos através dos quais atua a graça do Batismo e se caminha em direção àquela santidade a que todos somos chamados.

Capítulo III
A missão de acompanhar

A Igreja que acompanha

Perante as escolhas

91. No mundo contemporâneo, caracterizado por um pluralismo cada vez mais evidente e por uma disponibilidade de opções cada vez mais ampla, o tema das escolhas coloca-se com particular força e a diversos níveis, sobretudo perante itinerários de vida cada vez menos lineares, caracterizados por grande precariedade. De facto, muitas vezes, os jovens movem-se entre abordagens extremas e ingénuas: desde o considerarem-se perante um destino já escrito e inexorável, ao sentirem-se subjugados por um ideal de excelência abstrato, num quadro de competição desregrada e violenta.
Daí que acompanhar para conseguir fazer escolhas válidas, estáveis e bem fundadas seja um serviço considerado muito necessário. Estar presente, apoiar e acompanhar o itinerário para escolhas autênticas é, para a Igreja, um modo de exercitar a própria função materna, gerando para a liberdade dos filhos de Deus. Tal serviço não é mais do que a continuação do modo como o Deus de Jesus Cristo age na relação com o seu povo: através de uma presença constante e cordial, uma proximidade dedicada e amável e uma ternura sem limites.

Partir juntos o pão

92. Como ensina a narrativa dos discípulos de Emaús, acompanhar requer a disponibilidade para fazer juntos um troço da estrada, estabelecendo uma relação significativa. A origem do termo «acompanhar» reenvia para o pão partido e partilhado (cum pane), com toda a sua riqueza simbólica humana e sacramental. Por isso, é a comunidade no seu conjunto o sujeito principal do acompanhamento, até porque no seu seio se desenvolve a trama de relações que pode apoiar a pessoa no seu caminho e fornecer-lhe pontos de referência e de orientação. O acompanhamento no crescimento humano e cristão para a vida adulta é uma das formas com que a comunidade se mostra capaz de se renovar e de renovar o mundo.
A Eucaristia é memória viva do acontecimento pascal, lugar privilegiado da evangelização e da transmissão da fé em vista da missão. Na assembleia reunida na celebração eucarística, a experiência de ser pessoalmente tocados, instruídos e curados por Jesus acompanha cada um no seu percurso de crescimento pessoal.

Ambientes e tarefas

93. Além dos membros da família, são chamados a desempenhar um papel de acompanhamento todas as pessoas significativas nos diversos âmbitos da vida dos jovens, como professores, animadores, treinadores e outras figuras de referência, também as profissionais. Sacerdotes, religiosos e religiosas, mesmo não tendo o monopólio do acompanhamento, possuem um dever específico que brota da sua vocação e que devem redescobrir, como foi pedido pelos jovens na Assembleia sinodal, em nome de tantos outros. A experiência de algumas Igrejas sublinha o papel dos catequistas como acompanhadores das comunidades cristãs e dos seus membros.

Acompanhar a inserção na sociedade

94. O acompanhamento não pode limitar-se ao percurso de crescimento espiritual e às práticas da vida cristã. Por isso, é igualmente frutuoso o acompanhamento ao longo do percurso de progressiva tomada de responsabilidade no seio da sociedade, por exemplo, no âmbito profissional ou de compromisso sociopolítico. Neste sentido, a Assembleia sinodal recomenda a valorização da doutrina social da Igreja. Dentro da sociedade e da comunidade eclesial, cada vez mais interculturais e multirreligiosas, é necessário um acompanhamento específico na relação com a diversidade, que a valorize como enriquecimento mútuo e possibilidade de comunhão fraterna, contra a dúplice tentação da perda identitária e do relativismo.

O acompanhamento comunitário, de grupo e pessoal

Uma tensão fecunda

95. Há uma complementaridade constitutiva entre o acompanhamento pessoal e o comunitário, que toda a espiritualidade ou sensibilidade eclesial é chamada a articular de forma original. Será, sobretudo, em alguns momentos particularmente delicados, como por exemplo a fase do discernimento em relação às escolhas de vida fundamentais ou a passagem de momentos críticos, que o acompanhamento pessoal direto resultará particularmente fecundo. De qualquer modo, permanece importante também na vida quotidiana como via para aprofundar a relação com o Senhor.
Sublinha-se também a urgência de acompanhar pessoalmente seminaristas e jovens sacerdotes, religiosos em formação, como também os casais no caminho de preparação para o Matrimónio e, nos primeiros tempos, depois da celebração do sacramento, inspirando-se no catecumenato.

O acompanhamento comunitário e de grupo

96. Jesus acompanhou o grupo dos seus discípulos, partilhando com eles a vida de cada dia. A experiência comunitária põe em evidência qualidades e limites de cada pessoa e faz crescer a consciência humilde de que, sem a partilha dos dons recebidos para o bem de todos, não é possível seguir o Senhor.
Esta experiência continua na prática da Igreja, que vê os jovens inseridos em grupos, movimentos e associações de vários tipos, onde experimentam o ambiente caloroso e acolhedor e a intensidade de relações que desejam. Na verdade, a inserção deste tipo é de particular importância uma vez concluído o percurso de iniciação cristã, porque oferece aos jovens o terreno para continuar o amadurecimento da própria vocação cristã. Nestes ambientes deve ser encorajada a presença dos pastores, para assim garantir um acompanhamento adequado.
Nos grupos, educadores e animadores representam um ponto de referência em termos de acompanhamento, enquanto as relações de amizade que se desenvolvem entre eles constituem o terreno para um acompanhamento entre pares.

O acompanhamento espiritual pessoal

97. O acompanhamento espiritual é um processo que procura ajudar a pessoa a integrar progressivamente as diversas dimensões da vida para seguir o Senhor Jesus. Neste processo articulam-se três instâncias: a escuta da vida, o encontro com Jesus e o diálogo misterioso entre a liberdade de Deus e a da pessoa. Quem acompanha acolhe com paciência, suscita as perguntas mais verdadeiras e reconhece os sinais do Espírito na resposta dos jovens.
No acompanhamento espiritual pessoal aprende-se a reconhecer, interpretar e escolher na perspetiva da fé, na escuta de quanto o Espírito sugere na vida de cada dia[19]. O carisma do acompanhamento espiritual, também na tradição, não está necessariamente ligado ao ministério ordenado. Hoje mais do que nunca são necessários orientadores espirituais, pais e mães com uma profunda experiência de fé e de humanidade, e não apenas preparados intelectualmente. O Sínodo deseja que haja também uma redescoberta neste âmbito do grande recurso generativo da vida consagrada, em particular a feminina, e dos leigos, adultos e jovens, bem formados.

Acompanhamento e sacramento da Reconciliação

98. O sacramento da Reconciliação tem um papel indispensável para avançar na vida de fé, que está marcada não só pelo limite e pela fragilidade, como também pelo pecado. O ministério da Reconciliação e o acompanhamento espiritual devem ser oportunamente distintos, porque têm finalidades e formas diferentes. É pastoralmente oportuna uma sã e sábia gradualidade de percursos penitenciais, com o envolvimento de uma pluralidade de figuras educativas, que ajudem os jovens a ler a própria vida moral, a amadurecer um correto sentido do pecado e, sobretudo, a abrir-se à alegria libertadora da misericórdia.

Um acompanhamento integral

99. Além disso, o Sínodo reconhece a necessidade de promover um acompanhamento integral, em que os aspetos espirituais são bem integrados com os humanos e sociais. Como explica o Papa Francisco, «o discernimento espiritual não exclui as contribuições de sabedorias humanas, existenciais, psicológicas, sociológicas ou morais; mas transcende-as»[20]. Trata-se de elementos que devem ser acolhidos de forma dinâmica e no respeito pelas diversas espiritualidades e culturas, sem exclusões nem confusões.
O acompanhamento psicológico e psicoterapêutico, se aberto à transcendência, pode revelar-se fundamental para um caminho de integração da personalidade, reabrindo ao possível crescimento vocacional alguns aspetos da personalidade, fechados ou bloqueados. Os jovens vivem toda a riqueza e a fragilidade de serem um «canteiro aberto». A elaboração psicológica poderia não só ajudar a percorrer de novo com paciência a própria história, como também reabrir perguntas para se conseguir um equilíbrio afetivo mais estável.

O acompanhamento na formação ao ministério ordenado e à vida consagrada

100. Ao acolher os jovens nas casas de formação ou seminários, é importante verificar um suficiente enraizamento numa comunidade, uma estabilidade nas relações de amizade com os pares, no empenho no estudo ou no trabalho, no contacto com a pobreza e o sofrimento. No acompanhamento espiritual é decisivo iniciar à oração e ao trabalho interior, aprendendo o discernimento, antes de mais, na própria vida, também através de renúncia e de ascese. O celibato pelo Reino (cf. Mt 19,12) deveria ser entendido como um dom a reconhecer e a verificar na liberdade, alegria, gratuidade e humildade, antes da admissão às ordens ou da primeira profissão. O contributo da psicologia deve ser tido como ajuda para a maturação afetiva e a integração da personalidade, a inserir no itinerário formativo segundo a deontologia profissional e o respeito pela liberdade efetiva de quem está em formação. A figura do reitor ou de quem é responsável pela formação torna-se cada vez mais importante para unificar o caminho formativo, para levar a um discernimento realista, consultando todas as pessoas envolvidas na formação e para decidir em relação à eventualidade de interromper o caminho formativo ajudando a ir por outra via vocacional.
Terminada a fase inicial da formação, é preciso assegurar a formação permanente e o acompanhamento de sacerdotes, consagrados e consagradas, sobretudo os mais jovens. Estes são frequentemente confrontados com desafios e responsabilidades desproporcionadas. O dever de os acompanhar não diz respeito só aos próprios delegados, mas deve ser exercitado pessoalmente pelos bispos e superiores.

Acompanhadores de qualidade

Chamados a acompanhar

101. De muitos modos os jovens pediram-nos para qualificar a figura dos acompanhadores. O serviço de acompanhamento é uma autêntica missão, que pede a disponibilidade apostólica de quem a exerce. Como o diácono Filipe, o acompanhador é chamado a obedecer ao chamamento do Espírito, saindo e abandonando o recinto dos muros de Jerusalém, figura da comunidade cristã, para se dirigir a um lugar deserto e inóspito, talvez perigoso, onde deve correr para alcançar um carro. Conseguindo-o, deve encontrar o modo de entrar em relação com o viajante estrangeiro, para suscitar uma pergunta que talvez espontaneamente nunca teria sido formulada (cf. At 8,26-40). Em suma, acompanhar requer pôr-se à disposição do Espírito do Senhor e de quem é acompanhado, com todas as qualidades e capacidades próprias, e depois ter a coragem de afastar-se com humildade.

O perfil do acompanhador

102. O bom acompanhador é uma pessoa equilibrada, de escuta, de fé e de oração, a que se juntam as próprias fraquezas e fragilidades. Por isso, sabe ser acolhedor para com os jovens que acompanha, sem moralismos nem falsas indulgências. Quando é necessário sabe oferecer também a palavra da correção fraterna.
A consciência de que acompanhar é uma missão que requer um profundo enraizamento na vida espiritual ajudá-lo-á a manter-se livre no relacionamento com os jovens que acompanha: respeitará o êxito do seu percurso, apoiando-os com a oração e alegrando-se com os frutos que o Espírito produz naqueles que lhe abrem o coração, sem procurar impor a própria vontade e as próprias preferências. Será igualmente capaz de estar ao serviço, em vez de ocupar o centro da cena e assumir atitudes possessivas e manipuladoras que criam dependência e não liberdade nas pessoas. Este profundo respeito será também a melhor garantia contra os riscos de plágio e de abusos de qualquer tipo.

A importância da formação

103. Para desenvolver o próprio serviço, o acompanhador terá necessidade de cultivar a própria vida espiritual, alimentando a relação com Aquele que lhe confiou a missão. Ao mesmo tempo precisará de sentir o apoio da comunidade eclesial de que faz parte. Será importante que receba uma formação específica para este ministério particular e que possa beneficiar, por sua vez, de acompanhamento e de supervisão.
Por fim, foram recordados os traços caracterizadores do nosso ser Igreja que são muito apreciados pelos jovens: a disponibilidade e a capacidade de trabalho em equipa; desta forma é-se mais significativo, eficaz e incisivo na formação dos jovens. Tal competência no trabalho comunitário requer o amadurecimento de virtudes relacionais específicas: a disciplina da escuta e a capacidade de dar espaço ao outro, a prontidão no perdão e a disponibilidade de se envolver segundo uma autêntica espiritualidade de comunhão.

Capítulo IV
A arte de discernir

A Igreja, ambiente para discernir

Uma constelação de significados na variedade das tradições espirituais

104. O acompanhamento vocacional é dimensão fundamental de um processo de discernimento por parte da pessoa que é chamada a escolher. O termo «discernimento» é usado numa pluralidade de aceções, às vezes ligadas entre si. Num sentido mais geral, discernimento indica o processo pelo qual se tomam decisões importantes; num segundo sentido, mais específico da tradição cristã e sob o qual nos deteremos particularmente, corresponde à dinâmica espiritual pela qual uma pessoa, um grupo ou uma comunidade procuram reconhecer e acolher a vontade de Deus no concreto da sua situação: «Examinai tudo, guardai o que é bom» (1Ts 5,21). Enquanto atenção para reconhecer a voz do Espírito e para acolher o seu chamamento, o discernimento é uma dimensão essencial do estilo de vida de Jesus, uma atitude de fundo mais do que um ato pontual.
Ao longo da história da Igreja, as diversas espiritualidades encararam o tema do discernimento com diversas acentuações também na relação com as diversas sensibilidades carismáticas e épocas históricas. Durante o Sínodo, verificámos alguns elementos comuns, que não eliminam a diversidade das linguagens: a presença de Deus na vida e na história de cada pessoa; a possibilidade de reconhecer a ação; o papel da oração, da vida sacramental e da ascese; o confronto contínuo com as exigências da Palavra de Deus; a liberdade sobre as certezas adquiridas; o exame constante da vida quotidiana; a importância de um acompanhamento adequado.

O reenvio constitutivo à Palavra e à Igreja

105. Enquanto «atitude interior que se enraíza num ato de fé»[21], o discernimento reenvia constitutivamente à Igreja, cuja missão é fazer com que cada homem e cada mulher encontrem o Senhor que já trabalha na sua vida e no seu coração.
O contexto da comunidade eclesial favorece um clima de confiança e de liberdade na procura da própria vocação num ambiente de recolhimento e de oração; oferece oportunidades concretas para a releitura da própria história e da descoberta dos próprios dons e das próprias vulnerabilidades à luz da Palavra de Deus; permite o confronto com testemunhos que encarnam diversas opções de vida. Também o encontro com os pobres solicita o aprofundamento de quanto é essencial na existência, enquanto os sacramentos – sobretudo a Eucaristia e a Reconciliação – alimentam e apoiam quem se encaminha para a descoberta da vontade de Deus.
O horizonte comunitário está sempre implicado em cada discernimento, nunca reduzível apenas à dimensão individual. Ao mesmo tempo, cada discernimento pessoal interpela a comunidade, solicitando-a a pôr-se à escuta daquilo que o Espírito lhe sugere através da experiência espiritual dos seus membros: como cada crente, também a Igreja está sempre em discernimento.

A consciência em discernimento

Deus fala ao coração

106. O discernimento chama a atenção para quanto acontece no coração de cada homem e de cada mulher. Nos textos bíblicos usa-se o termo «coração» para indicar o ponto central da interioridade da pessoa, onde a escuta da Palavra que Deus constantemente lhe dirige se torna critério de avaliação da vida e das escolhas (cf. Sl 139). A Bíblia considera a dimensão pessoal, mas ao mesmo tempo sublinha a comunitária. Também o «coração novo» prometido pelos profetas não é um dom individual, mas diz respeito a todo o Israel, em cuja tradição e história salvífica o crente é inserido (cf. Ez 36,26-27). Os Evangelhos continuam na mesma linha: Jesus insiste na importância da interioridade e põe no coração o centro da vida moral (cf. Mt 15,18-20).

A ideia cristã de consciência

107. O apóstolo Paulo enriquece aquilo que a tradição bíblica elaborou a propósito do coração, pondo-o em relação com o termo «consciência», que assume da cultura do seu tempo. É na consciência que se colhe o fruto do encontro e da comunhão com Cristo: uma transformação salvífica e o acolhimento de uma nova liberdade. A tradição cristã insiste na consciência como lugar privilegiado de uma intimidade especial com Deus e de encontro com Ele, onde a sua voz se torna presente: «A consciência é o núcleo mais secreto do homem e o santuário onde ele está a sós com Deus, cuja voz ressoa no seu íntimo»[22]. Esta consciência não coincide com o sentir imediato e superficial, nem com uma «consciência de si»: atesta uma presença transcendente, que cada um encontra na própria interioridade, mas da qual não dispõe.

A formação da consciência

108. Formar a consciência é o caminho de toda a vida, na qual se aprende a ter os mesmos sentimentos de Jesus Cristo, assumindo os critérios das suas escolhas e as intenções do seu agir (cf. Fl 2,5). Para chegar à dimensão mais profunda da consciência, segundo a visão cristã, é importante um cuidado com a interioridade, que compreende, antes de mais, tempos de silêncio, de contemplação orante e de escuta da Palavra, o sustento da prática sacramental e do ensinamento da Igreja. Além disso, é preciso uma prática habitual do bem, verificada no exame de consciência: um exercício em que não se trata apenas de identificar os pecados, mas também de reconhecer a obra de Deus na própria experiência quotidiana, na vivência da história e das culturas onde se está inserido, no testemunho de tantos outros homens e mulheres que nos precederam ou nos acompanham com a sua sabedoria. Tudo isto ajuda a crescer na virtude da prudência, articulando a orientação global da existência com as escolhas concretas, na serena consciência dos próprios dons e dos próprios limites. O jovem Salomão pediu este dom mais do que qualquer outra coisa (cf. 1Rs 3,9).

A consciência eclesial

109. A consciência de cada crente na sua dimensão mais pessoal está sempre em relação com a consciência eclesial. É só através da mediação da Igreja e da sua tradição de fé que podemos aceder ao autêntico rosto de Deus que se revela em Jesus Cristo. O discernimento espiritual apresenta-se assim como o sincero trabalho da consciência, no próprio empenho em conhecer o bem possível como base para decidir responsavelmente no correto exercício da razão prática, no interior e à luz da relação pessoal com o Senhor Jesus.

A prática do discernimento

A familiaridade com o Senhor

110. Enquanto encontro com o Senhor que se torna presente na intimidade do coração, o discernimento pode ser entendido como autêntica forma de oração. Por isso, requer tempos adequados de recolhimento, seja na regularidade da vida quotidiana, seja em momentos privilegiados, como retiros, cursos de exercícios espirituais, peregrinações, etc. Um discernimento sério alimenta-se de todas as ocasiões de encontro com o Senhor e de aprofundamento da familiaridade com Ele, nas diversas formas em que se torna presente: os sacramentos, e, em particular, a Eucaristia e a Reconciliação; a escuta e a meditação da Palavra de Deus, a Lectio divina na comunidade; a experiência fraterna da vida comum; o encontro com os pobres, com os quais o Senhor se identifica.

As disposições do coração

111. Abrir-se à escuta da voz do Espírito requer disposições interiores precisas: a primeira é a atenção do coração, favorecida por um silêncio e por um esvaziamento que requer uma ascese. Também fundamentais são a consciência, a aceitação de si e o arrependimento, unidos à disponibilidade de pôr ordem na própria vida, abandonando aquilo que possa tornar-se obstáculo, e recuperar a liberdade interior necessária para fazer escolhas orientadas apenas pelo Espírito Santo. Um bom discernimento requer também atenção aos movimentos do próprio coração, crescendo na capacidade de reconhecê-los e de lhes dar um nome. Por fim, o discernimento requer a coragem de se empenhar na luta espiritual, pois não deixarão de manifestar-se tentações e obstáculos que o Maligno põe no nosso caminho.

O diálogo de acompanhamento

112. As diversas tradições espirituais concordam no facto de que um bom discernimento requer um regular confronto com um orientador espiritual. Trazer a experiência da própria vivência de uma forma autêntica e pessoal favorece o esclarecimento. Ao mesmo tempo, o acompanhador assume uma função essencial de confronto externo, tornando-se mediador da presença materna da Igreja. Trata-se de uma delicada função já abordada no capítulo precedente.

A decisão e a confirmação

113. O discernimento como dimensão do estilo de vida de Jesus e dos seus discípulos permite processos concretos que levam a sair da indeterminação, assumindo a responsabilidade das decisões. Por isso, os processos de discernimento não podem durar indefinidamente, seja nos casos de percursos pessoais, seja nos comunitários e institucionais. À decisão segue-se uma fase também fundamental de atuação e de verificação na vida quotidiana. Será assim indispensável prosseguir numa fase de atenta escuta das ressonâncias interiores para acolher a voz do Espírito. O confronto com o concreto reveste-se de uma importância específica nesta fase. Em particular, várias tradições espirituais assinalam o valor da vida fraterna e do serviço aos pobres como laboratório das decisões assumidas e como lugar onde a pessoa se revela plenamente a si mesma.


III PARTE
«Partiram imediatamente»

114. «Disseram, então, um ao outro: “Não nos ardia o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?” Levantando-se, voltaram imediatamente para Jerusalém e encontraram reunidos os Onze e os seus companheiros, que lhes disseram: “Realmente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!” E eles contaram o que lhes tinha acontecido pelo caminho e como Jesus se lhes dera a conhecer, ao partir o pão» (Lc 24,32-35).
Da escuta da Palavra passa-se à alegria de um encontro que enche o coração, dá sentido à existência e infunde nova energia. Os rostos iluminam-se e o caminho retoma vigor: é a luz e a força da resposta vocacional que se faz missão para a comunidade e o mundo inteiro. Sem demora e sem medo, os discípulos retomaram o caminho para encontrar os irmãos e testemunhar o seu encontro com Jesus ressuscitado.

Uma Igreja jovem

Um ícone de ressurreição

115. Em continuidade com a inspiração pascal de Emaús, o ícone de Maria Madalena (cf. Jo 20,1-18) ilumina o caminho que a Igreja quer fazer com e para os jovens, como fruto deste Sínodo: um caminho de ressurreição que conduz ao anúncio e à missão. Habitada por um profundo desejo do Senhor, desafiando a escuridão da noite, Madalena corre ao encontro de Pedro e do outro discípulo; o seu movimento ativa o deles, a sua dedicação feminil antecipa o caminho dos Apóstolos e abre-lhes a via. Na madrugada daquele dia, o primeiro da semana, acontece a surpresa do encontro: Maria procurou porque amava, mas encontra porque é amada. O Ressuscitado faz-se reconhecer chamando-a pelo nome e pede-lhe que não o detenha, porque o seu Corpo ressuscitado não é um tesouro para aprisionar, mas um Mistério para partilhar. Assim, ela torna-se a primeira discípula missionária, a apóstola dos Apóstolos. Sarada das suas feridas (cf. Lc 8,2) e testemunha da ressurreição, é a imagem da Igreja jovem que sonhamos.

Caminhar com os jovens

116. A paixão em procurar a verdade, a admiração face à beleza do Senhor, a capacidade de partilhar e a alegria do anúncio vivem também hoje no coração de tantos jovens que são membros vivos da Igreja. Por isso, não se trata de fazer qualquer coisa «para eles», mas de viver em comunhão «com eles», crescendo juntos na compreensão do Evangelho e na procura das formas mais autênticas para vivê-lo e testemunhá-lo. A participação responsável dos jovens na vida da Igreja não é opcional, mas uma exigência da vida batismal e um elemento indispensável para a vida de cada comunidade. As dificuldades e fragilidades dos jovens ajudam-nos a ser melhores, as suas perguntas desafiam-nos, as suas dúvidas interpelam-nos sobre a qualidade da nossa fé. Também as suas críticas nos são necessárias, porque não raras vezes através delas escutamos a voz do Senhor que nos pede conversão do coração e renovação das estruturas.

O desejo de atingir todos os jovens

117. No Sínodo interrogámo-nos sempre sobre os jovens, tendo em mente não apenas aqueles que fazem parte da Igreja e trabalham ativamente nela, mas também todos os que têm outras visões da vida, professam outra fé ou se declaram alheios ao horizonte religioso. Todos os jovens, nenhum excluído, estão no coração de Deus e, por isso, também no coração da Igreja. No entanto, reconhecemos com sinceridade que nem sempre esta afirmação que sai dos nossos lábios encontra real expressão na nossa ação pastoral: muitas vezes, permanecemos fechados nos nossos ambientes, onde a sua voz não chega, ou dedicamo-nos a atividades menos exigentes e mais gratificantes, sufocando aquela sã inquietação pastoral que nos faz sair das nossas alegadas seguranças. No entanto, o Evangelho pede-nos para ousar, e queremos fazê-lo sem presunção e sem proselitismo, testemunhando o amor do Senhor e estendendo a mão a todos os jovens do mundo.

Conversão espiritual, pastoral e missionária

118. O Papa Francisco recorda-nos frequentemente que isso não é possível sem um sério caminho de conversão. Estamos conscientes de que não se trata apenas de dar origem a novas atividades e não queremos escrever «planos apostólicos expansionistas, meticulosos e bem traçados, típicos de generais derrotados»[23]. Sabemos que, para sermos credíveis, devemos viver uma reforma da Igreja, que implica purificação do coração e mudanças de estilo. A Igreja deve realmente deixar-se enformar pela Eucaristia que celebra como cume e fonte da sua vida: a forma de um pão composto por muitas espigas e partido para a vida do mundo. O fruto deste Sínodo, a escolha que o Espírito nos inspirou por meio da escuta e do discernimento, é caminhar com os jovens, indo ao encontro de todos para testemunhar o amor de Deus. Podemos descrever este processo falando de sinodalidade para a missão, ou seja, sinodalidade missionária: «A implementação de uma Igreja sinodal é pressuposto indispensável para um novo balanço missionário que envolva todo o povo de Deus»[24].
Trata-se da profecia do Concílio Vaticano II, que ainda não tínhamos assumido em toda a sua profundidade e desenvolvido nas suas implicações quotidianas, para a qual nos chamou o Papa Francisco, afirmando: «O caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milénio»[25]. Estamos convencidos de que tal escolha, fruto de oração e de diálogo, permitirá à Igreja, com a graça de Deus, ser e aparecer mais claramente como a «juventude do mundo».

Capítulo I
A sinodalidade missionária da Igreja

Um dinamismo constitutivo

Os jovens pedem-nos para caminhar juntos

119. A Igreja no seu conjunto, desde o momento em que este Sínodo decidiu ocupar-se dos jovens, fez uma opção bem precisa: considera esta missão uma prioridade pastoral epocal onde investir tempo, energias e recursos. Desde o início do caminho de preparação, os jovens expressaram o desejo de estarem envolvidos, serem estimados e sentirem-se coprotagonistas na vida e na missão da Igreja. Neste Sínodo, experimentámos que a corresponsabilidade vivida com os jovens cristãos é fonte de profunda alegria também para os bispos. Reconhecemos nesta experiência um fruto do Espírito que renova continuamente a Igreja e a chama a praticar a sinodalidade como modo de ser e de agir, promovendo a participação de todos os batizados e das pessoas de boa vontade, cada um segundo a sua idade, estado de vida e vocação. Neste Sínodo, experimentámos que a colegialidade que une os bispos cum Petro et sub Petro, na solicitude para com o povo de Deus, é chamada a articular-se e enriquecer-se por meio da prática da sinodalidade a todos os níveis.

O processo sinodal continua

120. O termo dos trabalhos da Assembleia e o documento que reúne os seus frutos não fecham o processo sinodal, mas constituem uma etapa. Dadas as condições concretas, as possibilidades reais e as necessidades urgentes dos jovens que são muito diversas entre países e continentes, mesmo professando uma só fé, convidamos as Conferências Episcopais e as Igrejas particulares a prosseguirem este percurso, empenhando-se nos processos de discernimento comunitário que incluem nas deliberações também aqueles que não são bispos, como fez este Sínodo. O estilo destes percursos eclesiais deveria compreender a escuta fraterna e o diálogo intergeracional, com o objetivo de elaborar orientações pastorais particularmente atentas aos jovens marginalizados e aos que possuem pouco ou nenhum contacto com as comunidades eclesiais. Desejamos que nestes percursos participem famílias, institutos religiosos, associações, movimentos e os próprios jovens, de modo que se difunda a «chama» de quanto experimentámos nestes dias.

A forma sinodal da Igreja

121. A experiência vivida tornou os participantes do Sínodo conscientes da importância de uma forma sinodal da Igreja para o anúncio e a transmissão da fé. A participação dos jovens contribuiu para «acordar» a sinodalidade, que é uma «dimensão constitutiva da Igreja. [...] Como diz São João Crisóstomo, “Igreja e Sínodo são sinónimos” – pois a Igreja não é mais do que este “caminhar juntos” do rebanho de Deus pelas sendas da história ao encontro de Cristo Senhor»[26]. A sinodalidade caracteriza tanto a vida como a missão da Igreja, que é o povo de Deus constituído por jovens e idosos, homens e mulheres de todas as culturas e horizontes, e o Corpo de Cristo, do qual somos membros uns dos outros, começando por quem é posto à margem e pisado. Ao longo dos intercâmbios e por meio dos testemunhos, o Sínodo fez emergir alguns traços fundamentais de um estilo sinodal, ao qual somos chamados a nos convertermos.

122. É nas relações – com Cristo, com os outros, na comunidade – que se transmite a fé. Também em vista da missão, a Igreja é chamada a assumir um rosto relacional que ponha no centro a escuta, o acolhimento, o diálogo, o discernimento comum num processo que transforma a vida de quem nela participa. «Uma Igreja sinodal é uma Igreja da escuta, ciente de que escutar “é mais do que ouvir”. É uma escuta recíproca, onde cada um tem algo a aprender. Povo fiel, Colégio Episcopal, Bispo de Roma: cada um à escuta dos outros; e todos à escuta do Espírito Santo, o “Espírito da verdade” (Jo 14,17), para conhecer aquilo que Ele “diz às Igrejas” (Ap 2,7)»[27]. Deste modo, a Igreja apresenta-se como «tenda da reunião» na qual está conservada a arca da aliança (cf. Ex 25): uma Igreja dinâmica e em movimento, que acompanha caminhando, reforçada por tantos carismas e ministérios. Deste modo, Deus torna-se presente neste mundo.

Uma Igreja participativa e corresponsável

123. Um traço característico deste estilo de Igreja é a valorização dos carismas que o Espírito doa segundo a vocação e o papel de cada um dos seus membros, por meio de um dinamismo de corresponsabilidade. Para ativá-lo torna-se necessária uma conversão do coração e uma disponibilidade para a escuta mútua, que construa um efetivo sentir comum. Animados por este espírito, poderemos avançar em direção a uma Igreja participativa e corresponsável, capaz de valorizar a riqueza da variedade que a compõe, acolhendo com gratidão também os contributos dos fiéis leigos, entre os quais jovens e mulheres, o da vida consagrada feminina e masculina, e o dos grupos, associações e movimentos. Ninguém deve ser posto ou pôr-se à parte. É este o modo de evitar tanto o clericalismo, que exclui muitos dos processos de tomada de decisão, como a clericalização dos leigos, que os fecha, em vez de os lançar no empenho missionário no mundo.
O Sínodo pede que se torne efetiva e ordinária a participação ativa dos jovens nos lugares de corresponsabilidade das Igrejas particulares, como também nos organismos das Conferências Episcopais e da Igreja universal. Pede, além disso, que se reforce a atividade da Secção dos jovens do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, também por meio da constituição de um organismo de representação jovem a nível internacional.

Processos de discernimento comunitário

124. A experiência de “caminhar juntos” como povo de Deus ajuda a compreender sempre melhor o sentido da autoridade na ótica de serviço. Aos pastores é pedida a capacidade de fazer crescer a colaboração no testemunho e na missão, e de acompanhar processos de discernimento comunitário para interpretar os sinais dos tempos à luz da fé e sob a orientação do Espírito, com o contributo de todos os membros da comunidade, a partir de quem se encontra marginalizado. Responsáveis eclesiais com estas capacidades precisam de uma formação específica à sinodalidade. Parece promissor, neste ponto de vista, estruturar percursos formativos comuns entre jovens leigos, jovens religiosos e seminaristas, em particular quanto diz respeito a temáticas como o exercício da autoridade ou o trabalho em equipa.

Um estilo para a missão

A comunhão missionária

125. A vida sinodal da Igreja é essencialmente orientada para a missão: ela é «o sinal e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano»[28], até ao dia em que Deus será «tudo em todos» (1Cor 15,28). Os jovens, abertos ao Espírito, podem ajudar a Igreja a levar a cabo a passagem pascal de saída «do “eu” individualisticamente entendido para o “nós” eclesial, onde cada “eu”, estando revestido de Cristo (cf. Gl2,20), vive e caminha com os irmãos e as irmãs como sujeito responsável e ativo na única missão do povo de Deus»[29]. A mesma passagem, por impulso do Espírito e com a orientação dos Pastores, deve realizar-se na comunidade cristã, chamada a sair da autorreferencialidade do “eu” da própria autoconservação para o serviço de construção de um “nós” inclusivo nos relacionamentos com toda a família humana e com toda a criação.

Uma missão em diálogo

126. Esta dinâmica fundamental tem consequências precisas no modo de concretizar a missão juntamente com os jovens, que requer que se inicie, com franqueza e sem compromissos, um diálogo com todos os homens e mulheres de boa vontade. Como afirmara São Paulo VI: «A Igreja faz-se palavra, faz-se mensagem, faz-se colóquio»[30]. Num mundo marcado pela diversidade dos povos e pela variedade das culturas, “caminhar juntos” é fundamental para dar credibilidade e eficácia às iniciativas de solidariedade, de integração, de promoção da justiça, e para mostrar em que consiste uma cultura do encontro e da gratuidade.
Os próprios jovens, que vivem quotidianamente em contacto com os seus coetâneos de outras confissões cristãs, religiosas, convicções e culturas, estimulam toda a comunidade cristã a viver o ecumenismo e o diálogo inter-religioso. Isto requer a coragem da parresia no falar e da humildade no escutar, assumindo a ascese – e, por vezes, o martírio – que isto implica.

Em direção às periferias do mundo

127. A prática do diálogo e a procura de soluções partilhadas representam uma clara prioridade numa altura em que os sistemas democráticos são desafiados por baixos índices de participação e por uma influência desproporcionada de pequenos grupos de interesse que não têm uma ampla aceitação na população, com o perigo de derivas reducionistas, tecnocráticas e autoritárias. A fidelidade ao Evangelho orientará este diálogo na procura do modo de dar resposta ao duplo grito dos pobres e da terra[31], a que os jovens mostram particular sensibilidade, inserindo nos processos sociais a inspiração dos princípios da doutrina social: a dignidade da pessoa, o destino universal dos bens, a opção preferencial pelos pobres, o primado da solidariedade, a atenção à subsidiariedade, o cuidado da casa comum. Nenhuma vocação no seio da Igreja pode colocar-se de fora deste dinamismo comunitário de saída e de diálogo, e por isso todo o esforço de acompanhamento é chamado a medir-se por este horizonte, reservando uma atenção privilegiada aos mais pobres e aos mais vulneráveis.

Capítulo II
Caminhar juntos no quotidiano

Dar estrutura às relações

Da delegação ao envolvimento

128. A sinodalidade missionária não diz respeito apenas à Igreja a nível universal. A exigência de caminhar juntos, dando um real testemunho de fraternidade numa vida comunitária renovada e mais evidente, concerne antes de mais a cada comunidade. Por isso, é preciso despertar em cada realidade local a consciência de que somos povo de Deus, responsável por encarnar o Evangelho nos diversos contextos e dentro de todas as situações quotidianas. Isso implica sair da lógica da delegação que tanto condiciona a ação pastoral.
Podemos referir-nos, por exemplo, aos percursos de catequese em preparação para os sacramentos, que constituem um dever que muitas famílias delegam totalmente na paróquia. Esta mentalidade tem como consequência que as crianças corram o risco de perceber a fé não como uma realidade que ilumina a vida quotidiana, mas como um conjunto de noções e regras que pertencem a um âmbito separado da sua existência. Ao invés, é preciso caminhar juntos: a paróquia tem necessidade da família para fazer experimentar aos jovens o realismo quotidiano da fé; por sua vez, a família precisa do ministério dos catequistas e da estrutura paroquial para oferecer aos filhos uma visão mais orgânica do cristianismo, para introduzi-los na comunidade e levá-los a horizontes mais amplos. Por isso, não basta ter as estruturas, se nelas não se desenvolvem relações autênticas; é a qualidade de tais relações que efetivamente evangeliza.

A renovação da paróquia

129. A paróquia é necessariamente envolvida neste processo, para assumir a forma de uma comunidade mais generativa, num ambiente em que se desenvolve a missão para os últimos. Nesta particular situação histórica emergem diversos sinais que testemunham que ela, em vários casos, não consegue corresponder às exigências espirituais dos homens do nosso tempo, sobretudo por causa de alguns fatores que modificaram profundamente os estilos de vida das pessoas. De facto, vivemos numa cultura “sem limites”, marcada por uma nova relação espácio-temporal também motivada pela comunicação digital e caracterizada por uma contínua mobilidade. Em tal contexto, uma visão da ação paroquial delimitada apenas pelos seus limites territoriais e incapaz de cativar com propostas diversificadas os fiéis, e em particular os jovens, aprisionaria a paróquia num imobilismo inaceitável e numa preocupante repetição pastoral. Por isso, é preciso repensar pastoralmente a paróquia, numa lógica de corresponsabilidade eclesial e de impulso missionário, desenvolvendo sinergias no território. Só assim é que ela poderá abrir-se a um ambiente significativo que intercete a vida dos jovens.

Estruturas abertas e decifráveis

130. Na mesma direção de uma maior abertura e partilha, é importante que as comunidades se interroguem para verificar se os estilos de vida e o uso das estruturas transmitem aos jovens um testemunho legível do Evangelho. A vida privada de muitos sacerdotes, irmãs, religiosos e bispos é, sem dúvida, sóbria e comprometida com as pessoas; mas é quase invisível aos demais, sobretudo aos jovens. Muitos deles acham que o nosso mundo eclesial é difícil de decifrar; são postos à distância pelas funções que assumimos e os estereótipos que as acompanham. Façamos de maneira a que a nossa vida ordinária, em todas as suas expressões, seja mais acessível. A vizinhança efetiva, a partilha de espaços e de atividades criam as condições para uma comunicação autêntica, livre de preconceitos. Foi desta forma que Jesus anunciou o Reino e é por esta via que nos impele hoje o seu Espírito.

A vida da comunidade

Um mosaico de rostos

131. Uma Igreja sinodal e missionária manifesta-se através de comunidades locais habitadas por muitos rostos. Desde o início, a Igreja não teve uma forma rígida e aprovada, mas desenvolveu-se como um poliedro de pessoas com sensibilidades, proveniências e culturas diversas. Deste modo, ela mostrou que transporta nos vasos de barro da fragilidade humana o tesouro incomparável da vida trinitária. A harmonia que é dom do Espírito não elimina as diferenças, mas concorda-as gerando uma riqueza sinfónica. Este encontro na única fé entre pessoas diversas constitui a condição fundamental para a renovação pastoral das nossas comunidades. Isso incide no anúncio, na celebração e no serviço, ou seja, nos âmbitos fundamentais da pastoral ordinária. A sabedoria popular diz-nos que “para educar uma criança é preciso uma aldeia”: este princípio vale hoje para todos os âmbitos da pastoral.

A comunidade no território

132. A realização efetiva de uma comunidade de muitos rostos incide também na inserção no território, na abertura ao tecido social e no encontro com as instituições civis. Só uma comunidade unida e plural sabe propor-se de modo aberto e levar a luz do Evangelho aos âmbitos da vida social que hoje nos desafiam: a questão ecológica, o trabalho, o sustento da família, a marginalização, a renovação da política, o pluralismo cultural e religioso, o caminho para a justiça e para a paz, o ambiente digital. Isto já está a acontecer nas associações e nos movimentos eclesiais. Os jovens pedem-nos para não encarar estes desafios sozinhos, mas para dialogar com todos, não para cortar uma fatia de poder, mas para contribuir para o bem comum.

Querigma e catequese

133. O anúncio de Jesus Cristo, morto e ressuscitado, que nos revelou o Pai e nos deu o Espírito, é vocação fundamental da comunidade cristã. Faz parte deste anúncio o convite aos jovens para reconhecerem na sua vida os sinais do amor de Deus e para descobrirem a comunidade como lugar de encontro com Cristo. Tal anúncio constitui o fundamento, sempre a reavivar, da catequese dos jovens e dá-lhes uma qualidade querigmática[32]. Foi considerado importante o compromisso de oferecer itinerários continuados e orgânicos que saibam integrar um conhecimento vivo de Jesus Cristo e do seu Evangelho, a capacidade de ler na fé a própria experiência e os acontecimentos da história, um acompanhamento à oração e à celebração da liturgia, a introdução à Lectio divina e o apoio ao testemunho da caridade e à promoção da justiça, propondo assim uma autêntica espiritualidade juvenil.
Os itinerários catequéticos mostram a íntima conexão da fé com a experiência concreta de cada dia, com o mundo dos sentimentos e das relações, com as alegrias e as desilusões que se experimentam no estudo e no trabalho; saibam integrar a doutrina social da Igreja; estejam abertos às linguagens da beleza, da música e das diversas expressões artísticas, e às formas da comunicação digital. As dimensões da corporeidade, da afetividade e da sexualidade foram tidas em grande consideração, uma vez que existe um entrelaçamento profundo entre educação à fé e educação ao amor. Em suma, a fé é compreendida como uma prática, isto é, como uma forma de habitar o mundo.
É urgente que na catequese dos jovens se renove o empenho pelas linguagens e pelas metodologias, sem nunca perder de vista o essencial, isto é, o encontro com Cristo, que é o coração da catequese. Foram muito apreciados o YouCat, o DoCat e materiais semelhantes, sem omitir os catecismos produzidos pelas várias Conferências Episcopais. Torna-se também necessário um renovado empenho pelos catequistas, que muitas vezes são jovens ao serviço de outros jovens, quase seus coetâneos. É importante cuidar adequadamente da sua formação e fazer com que o seu ministério seja mais reconhecido pela comunidade.

A centralidade da liturgia

134. A celebração eucarística é geradora da vida da comunidade e da sinodalidade da Igreja. Ela é lugar de transmissão da fé e de formação para a missão, em que se torna evidente que a comunidade vive da graça e não da obra das próprias mãos. Com as palavras da tradição oriental, podemos afirmar que a liturgia é encontro com o Divino Servidor que cura as nossas feridas e nos prepara o banquete pascal, convidando-nos a fazer o mesmo com os nossos irmãos e irmãs. Por isso, reafirma-se claramente que o empenho em celebrar com simplicidade nobre e com o envolvimento dos diversos ministros laicais constitui um momento essencial da conversão missionária da Igreja. Os jovens mostraram saber apreciar e viver com intensidade celebrações autênticas, nas quais a beleza dos sinais, o cuidado da pregação e o envolvimento comunitário falam realmente de Deus. É preciso então favorecer a sua participação ativa, mas mantendo viva a admiração pelo Mistério; ir ao encontro da sua sensibilidade musical e artística, mas ajudá-los a compreender que a liturgia não é puramente expressão de si, mas ação de Cristo e da Igreja. Igualmente importante é acompanhar os jovens a descobrir o valor da adoração eucarística como prolongamento da celebração, onde se vive a contemplação e a oração silenciosa.

135. Nos percursos de fé, a prática do sacramento da Reconciliação tem também grande importância. Os jovens têm necessidade de sentir-se amados, perdoados, reconciliados, e têm uma secreta nostalgia do abraço misericordioso do Pai. Por isso, é fundamental que os presbíteros ofereçam uma generosa disponibilidade para a celebração deste sacramento. As celebrações penitenciais comunitárias ajudam os jovens a aproximar-se da confissão individual e tornam mais explícita a dimensão eclesial do sacramento.

136. Em muitos contextos, a piedade popular desempenha um papel importante no acesso dos jovens à vida de fé de forma prática, sensível e imediata. Valorizando a linguagem do corpo e a participação afetiva, a piedade popular traz consigo o desejo de entrar em contacto com o Deus que salva, muitas vezes através da mediação da Mãe de Deus e dos santos.
A peregrinação é para os jovens uma experiência de caminho que se torna metáfora da vida e da Igreja: contemplando a beleza da criação e da arte, vivendo a fraternidade e unindo-se ao Senhor na oração, são assim propostas de novo as melhores condições do discernimento.

A generosidade da diaconia

137. Os jovens podem contribuir para renovar o estilo das comunidades paroquiais e construir uma comunidade fraterna e próxima dos pobres. Os pobres, os jovens descartados, os que mais sofrem, podem tornar-se o princípio de renovação da comunidade. Eles são reconhecidos como sujeitos da evangelização e ajudam-nos a libertarmo-nos da mundanidade espiritual. Muitas vezes os jovens são sensíveis à dimensão da diakonia. Muitos deles estão empenhados ativamente no voluntariado e encontram no serviço o caminho para encontrar o Senhor. A dedicação aos últimos torna-se, assim, realmente uma prática da fé, em que se aprende aquele amor “com perda” que se encontra no centro do Evangelho e que está no fundamento de toda a vida cristã. Os pobres, os pequenos, os doentes, os idosos são a carne de Cristo sofredor: por isso, pôr-se ao seu serviço é um modo de encontrar o Senhor e um espaço privilegiado para o discernimento do próprio chamamento. Uma abertura particular é pedida, em diversos contextos, aos migrantes e aos refugiados. Com eles é preciso trabalhar no acolhimento, na proteção, na promoção e na integração. A inclusão social dos pobres faz da Igreja a casa da caridade.

Pastoral juvenil em chave vocacional

A Igreja, uma casa para os jovens

138. Só uma pastoral capaz de se renovar a partir do cuidado das relações e da qualidade da comunidade cristã será significativa e atraente para os jovens. A Igreja poderá assim apresentar-se-lhes como uma casa que acolhe, caracterizada por um clima familiar feito de confiança e confidência. O anseio pela fraternidade, que tantas vezes emergiu da escuta sinodal dos jovens, pede à Igreja para ser «mãe para todos e casa para muitos»[33]: a pastoral tem o dever de realizar na história a maternidade universal da Igreja através de gestos concretos e proféticos de acolhimento alegre e quotidiano que constroem uma casa para os jovens.

A animação vocacional da pastoral

139. A vocação é o fulcro à volta do qual se integram todas as dimensões da pessoa. Tal princípio não diz respeito apenas ao crente individual, mas também à pastoral no seu todo. Por isso, é muito importante esclarecer que só na dimensão vocacional toda a pastoral pode encontrar um princípio unificador, porque nela encontra a sua origem e o seu cumprimento. Nos caminhos de conversão pastoral em ação não se pede, por isso, para reforçar a pastoral vocacional enquanto sector separado e independente, mas para animar toda a pastoral da Igreja, apresentando com eficácia a multiplicidade das vocações. De facto, o fim da pastoral é ajudar todos e cada um, através de um caminho de discernimento, para chegar «à medida completa da plenitude de Cristo» (Ef 4,13).

Uma pastoral vocacional para os jovens

140. Desde o início do caminho sinodal surgiu em força a necessidade de qualificar vocacionalmente a pastoral juvenil. Desta forma, emergem as duas características indispensáveis para uma pastoral destinada às jovens gerações: é “juvenil”, porque os seus destinatários estão naquela singular e irrepetível idade da vida que é a juventude; é “vocacional”, porque a juventude é a fase privilegiada das escolhas de vida e da resposta ao chamamento de Deus. A “vocacionalidade” da pastoral juvenil não é entendida de modo exclusivo, mas intensivo. Deus chama em todas as idades da vida – desde o seio materno à velhice –, mas a juventude é o momento privilegiado para a escuta, a disponibilidade e o acolhimento da vontade de Deus.
O Sínodo faz uma proposta para que a nível de Conferência Episcopal Nacional se prepare um “Diretório de pastoral juvenil” em chave vocacional que possa ajudar os responsáveis diocesanos e locais a qualificar a sua formação e ação com e para os jovens.

Da fragmentação à integração

141. Embora reconhecendo que a planificação por sectores pastorais é necessária para evitar a improvisação, em várias ocasiões os Padres sinodais comunicaram a sua dificuldade por causa de uma certa fragmentação da pastoral da Igreja. Referiram-se em particular às várias pastorais que se relacionam com os jovens: pastoral juvenil, familiar, vocacional, escolar e universitária, social, cultural, caritativa, do tempo livre, etc. A multiplicação de sectores muito especializados, mas por vezes separados, não serve para a significância da proposta cristã. Num mundo fragmentado que cria dispersão e multiplica as pertenças, os jovens precisam de ser ajudados a unificar a vida, lendo em profundidade as experiências quotidianas e fazendo discernimento. Se esta é a prioridade, é necessário desenvolver uma maior coordenação e integração entre os diversos âmbitos, passando de um trabalho por “sectores” para um trabalho por “projetos”.

A relação frutuosa entre acontecimentos e vida quotidiana

142. Durante o Sínodo, falou-se, em muitas ocasiões, da Jornada Mundial da Juventude e também de outros tantos eventos que se desenvolvem a nível continental, nacional e diocesano, juntamente com os organizados por associações, movimentos, congregações religiosas e outros agentes eclesiais. Tais momentos de encontro e de partilha são apreciados por quase todos, porque oferecem a possibilidade de caminhar na lógica da peregrinação, de experimentar a fraternidade com todos, de partilhar alegremente a fé e de crescer na pertença à Igreja. Para muitos jovens foram uma experiência de transfiguração, em que experimentaram a beleza do rosto do Senhor e fizeram escolhas de vida importantes. Os melhores frutos destas experiências recolhem-se na vida quotidiana. Torna-se assim importante projetar e realizar estas convocações como etapas significativas de um processo virtuoso mais amplo.

Centros juvenis

143. Espaços específicos dedicados pela comunidade cristã aos jovens, como os «oratórios», os centros juvenis e outras estruturas semelhantes, manifestam a paixão educativa da Igreja. Eles estruturam-se de muitas maneiras, mas permanecem como âmbitos privilegiados em que a Igreja se torna casa acolhedora para adolescentes e jovens, que podem descobrir os seus talentos e colocá-los à disposição no serviço. Eles transmitem um património educativo muito rico, que se deve partilhar em larga escala, no apoio às famílias e à própria sociedade civil.
No entanto, no dinamismo de uma Igreja em saída é preciso pensar numa renovação criativa e flexível desta realidade, passando da ideia de centros estáticos, aonde os jovens podem vir, para a ideia de sujeitos pastorais em movimento com e em direção aos jovens, isto é, capazes de os encontrar nos lugares de vida quotidiana – a escola e o ambiente digital, as periferias existenciais, o mundo rural e o do trabalho, a expressão musical e artística, etc. –, gerando um novo tipo de apostolado mais dinâmico e ativo.

Capítulo III
Um renovado impulso missionário

Alguns desafios urgentes

144. A sinodalidade é o método pelo qual a Igreja pode encarar antigos e novos desafios, podendo recolher e pôr em diálogo os dons de todos os seus membros, a partir dos jovens. Graças aos trabalhos do Sínodo, na primeira parte deste Documento, delineámos alguns âmbitos em que é urgente lançar ou renovar o impulso da Igreja na realização da missão que Cristo lhe confiou e que aqui procuramos encarar de forma mais concreta.

A missão no ambiente digital

145. O ambiente digital representa para a Igreja um desafio a diversos níveis; por isso, é imprescindível aprofundar o conhecimento das suas dinâmicas e o seu alcance do ponto de vista antropológico e ético. Isso requer não só habitá-lo e promover as suas potencialidades comunicativas em vista do anúncio cristão, como também impregnar de Evangelho as suas culturas e as suas dinâmicas. Neste sentido, algumas experiências estão já em curso e devem ser incentivadas, aprofundadas e partilhadas. A prioridade que muitos atribuem à imagem como veículo comunicativo não poderá deixar de interrogar as modalidades de transmissão de uma fé que se baseia na escuta da Palavra de Deus e na leitura da Sagrada Escritura. Os jovens cristãos, «nativos digitais» como os seus coetâneos, encontram aqui uma autêntica missão, em que alguns já estão empenhados. São, aliás, os próprios jovens a pedir para serem acompanhados num discernimento sobre modalidades maduras de vida num ambiente hoje fortemente digitalizado, que permita colher as oportunidades afastando os riscos.

146. O Sínodo deseja que na Igreja se instituam, em níveis adequados, sectores ou organismos próprios para a cultura e a evangelização digital, que, com o imprescindível contributo dos jovens, promovam a ação e a reflexão eclesial neste ambiente. Dentre as suas funções, além de favorecerem o intercâmbio e a difusão de boas práticas a nível pessoal e comunitário, e o desenvolvimento de instrumentos adequados de educação digital e de evangelização, poderiam também gerir sistemas de certificação dos sítios católicos, para impedir a difusão de fake news em relação à Igreja, ou procurar caminhos para persuadir as autoridades públicas a promover políticas e instrumentos cada vez mais urgentes para a proteção dos menores na rede.

Migrantes: abater muros e construir pontes

147. Muitos dos migrantes são jovens. A difusão universal da Igreja oferece-lhes a grande oportunidade estabelecer um diálogo entre as comunidades donde eles partem com aquelas aonde chegam, contribuindo para superar medos e desconfianças, e para reforçar os laços que as migrações poderão romper. “Acolher, proteger, promover e integrar”, os quatro verbos com que o Papa Francisco sintetiza as linhas de ação em favor dos migrantes, são verbos sinodais. Pô-los em ação requer a ação da Igreja a todos os níveis e envolve todos os membros das comunidades cristãs. Por sua vez, os migrantes, oportunamente acompanhados, poderão oferecer recursos espirituais, pastorais e missionários às comunidades que os acolhem. De particular importância é o compromisso cultural e político, a levar em frente também através de estruturas próprias, para lutar contra a difusão da xenofobia, do racismo e da recusa dos migrantes. Os recursos da Igreja Católica são um elemento vital na luta contra o tráfico de seres humanos, como se evidencia na obra de muitos religiosos. O papel do Santa Marta Group, que une responsáveis religiosos e forças policiais, é crucial e representa uma boa prática onde inspirar-se. Não deve excluir-se o compromisso em garantir o direito efetivo de permanecer no próprio país às pessoas que não gostariam de migrar, mas que são forçadas a fazê-lo, e apoiar as comunidades cristãs que as migrações ameaçam esvaziar.

As mulheres na Igreja sinodal

148. Uma Igreja que procura viver em estilo sinodal não poderá deixar de refletir sobre a condição e o papel das mulheres no seu seio e, consequentemente, também na sociedade. Os jovens e as jovens pedem-no com grande força. As reflexões desenvolvidas exigem ser implementadas através de uma obra de corajosa conversão cultural e de mudança na prática pastoral quotidiana. Um âmbito de particular importância a este respeito é o da presença feminina nos organismos eclesiais a todos os níveis, também em funções de responsabilidade, e da participação feminina nos processos de decisão eclesial a respeito do papel do ministério ordenado. Trata-se de um dever de justiça, que encontra inspiração tanto no modo como Jesus se relacionou com homens e mulheres do seu tempo, como na importância do papel de algumas figuras femininas na Bíblia, na história da salvação e na vida da Igreja.

Sexualidade: uma palavra clara, livre, autêntica

149. No atual contexto cultural, a Igreja não se cansa de transmitir a beleza da visão cristã da corporeidade e da sexualidade, tal como nos mostra a Sagrada Escritura, a Tradição e o Magistério dos últimos Papas. É por isso urgente uma procura de modalidades mais adequadas, que se traduzam concretamente na elaboração de caminhos formativos renovados. Ocorre propor aos jovens uma antropologia da afetividade e da sexualidade capaz também de dar o justo valor à castidade, mostrando com sabedoria pedagógica o significado mais autêntico para o crescimento da pessoa, em todos os estados de vida. Trata-se de apostar na escuta empática, no acompanhamento e no discernimento, na linha indicada pelo Magistério recente. Por isso, é preciso cuidar da formação de responsáveis pastorais que sejam credíveis, a partir do amadurecimento das próprias dimensões afetivas e sexuais.

150. Existem questões relativas ao corpo, à afetividade e à sexualidade que precisam de uma mais aprofundada elaboração antropológica, teológica e pastoral, a realizar nas modalidades e nos níveis mais convenientes, tanto local como universalmente. Entre estas emergem em particular as relativas à diferença e harmonia entre identidade masculina e feminina e às tendências sexuais. A este respeito, o Sínodo sublinha que Deus ama cada pessoa e o mesmo faz a Igreja, renovando o seu compromisso contra toda a discriminação e violência por motivos sexuais. Reafirma também a determinante relevância antropológica da diferença e reciprocidade entre o homem e a mulher, e considera redutor definir a identidade das pessoas a partir unicamente da sua «orientação sexual»[34].
Existem já, em muitas comunidades cristãs, caminhos de acompanhamento na fé de pessoas homossexuais: o Sínodo recomenda que se favoreçam tais percursos. Nestes caminhos, as pessoas são ajudadas a ler a própria história; a aderir com liberdade e responsabilidade ao próprio chamamento batismal; a reconhecer o desejo de pertencer e contribuir para a vida da comunidade; a discernir as melhores formas de realizá-lo. Deste modo, ajuda-se cada jovem, sem excluir ninguém, a integrar cada vez mais a dimensão sexual na própria personalidade, crescendo na qualidade das relações e caminhando para o dom de si.

Economia, política, trabalho, casa comum

151. A Igreja compromete-se na promoção de uma vida social, económica e política na senda da justiça, da solidariedade e da paz, tal como os jovens veementemente pediram. Isto requer a coragem de dar voz a quem não a tem, junto dos líderes mundiais, denunciando corrupções, guerras, comércio de armas, narcotráfico e exploração dos recursos naturais, convidando os responsáveis de tudo isto à conversão. Numa perspetiva integral, uma tal atitude não pode estar separada do compromisso pela inclusão dos mais frágeis, construindo percursos que lhes permitam não só encontrar resposta para as suas necessidades, mas também dar o próprio contributo para a construção da sociedade.

152. Conscientes de que «o trabalho constitui uma dimensão fundamental da existência do homem sobre a terra»[35] e que a sua falta é humilhante para muitos jovens, o Sínodo recomenda às Igrejas locais que favoreçam e acompanhem a inserção dos jovens neste mundo, também através do apoio de iniciativas de empreendedorismo juvenil. Experiências neste sentido estão difundidas em muitas Igrejas locais e devem ser apoiadas e incrementadas.

153. A promoção da justiça interpela também a gestão dos bens da Igreja. Os jovens sentem-se em casa numa Igreja onde a economia e as finanças são feitas com transparência e coerência. Escolhas corajosas na perspetiva da sustentabilidade, como indicado na encíclica Laudato si’, são necessárias, ao passo que a falta de respeito pelo ambiente cria novas pobrezas, das quais os jovens são as primeiras vítimas. Os sistemas também se mudam mostrando que é possível um modo diverso de viver a dimensão económica e financeira. Os jovens encorajam a Igreja a ser profética neste campo, com as palavras, mas sobretudo através de escolhas que mostrem que é possível uma economia amiga da pessoa e do ambiente. Juntamente com eles, podemos fazê-lo.

154. Em relação às questões ecológicas, será importante oferecer linhas orientadoras para a realização concreta da Laudato si’ nas práticas eclesiais. Numerosas intervenções sublinharam a importância de oferecer aos jovens uma formação para o compromisso sociopolítico e o recurso que a doutrina social da Igreja representa a este respeito. Os jovens empenhados na política devem ser apoiados e encorajados a trabalhar para uma real mudança das estruturas sociais injustas.

Nos contextos interculturais e inter-religiosos

155. O pluralismo cultural e religioso é uma realidade crescente na vida social dos jovens. Os jovens cristãos oferecem um belo testemunho do Evangelho quando vivem a sua fé de um modo que transforma a sua vida e as suas ações quotidianas. São chamados a abrir-se aos jovens de outras tradições religiosas e espirituais, a manter com eles relações autênticas que favoreçam o conhecimento mútuo e sarem preconceitos e estereótipos. Deste modo, eles são os pioneiros de uma nova forma de diálogo inter-religioso e intercultural, que contribui para libertar as nossas sociedades da exclusão, do extremismo, do fundamentalismo e também da manipulação da religião para fins sectários ou populistas. Testemunhas do Evangelho, estes jovens, com os seus coetâneos, tornam-se promotores de uma cidadania inclusiva da diversidade e de um compromisso religioso socialmente responsável e construtivo do vínculo social e da paz.
Recentemente, sob proposta dos jovens, foram lançadas iniciativas para oferecer a oportunidade de experimentar a convivência entre pessoas pertencentes a religiões e culturas diversas, para que todos, num clima de convivialidade e no respeito das respetivas crenças, sejam atores de um compromisso comum e partilhado na sociedade.

Os jovens para o diálogo ecuménico

156. Porquanto diz respeito ao caminho de reconciliação entre todos os cristãos, o Sínodo fica agradecido pelo desejo de muitos jovens fazerem crescer a unidade entre as comunidades cristãs separadas. Empenhando-se neste sentido, muitas vezes, os jovens aprofundam as raízes da própria fé e experimentam uma real abertura para aquilo que os outros possam dar. Intuem que Cristo já nos une, embora permaneçam algumas diferenças. Como afirmou o Papa Francisco por ocasião da visita ao Patriarca Bartolomeu, em 2014, são os jovens «que hoje nos pedem para avançar rumo à plena comunhão. E isto, não porque eles ignorem o significado das diferenças que ainda nos separam, mas porque sabem ver mais além, são capazes de captar o essencial que já nos une»[36].


Capítulo IV
Formação Integral

Dimensão concreta, complexidade e integralidade

157. A condição atual é caracterizada por uma crescente complexidade dos fenómenos sociais e da experiência individual. No concreto da vida, as mudanças em ação influenciam-se mutuamente e não podem ser encaradas de forma seletiva. No real tudo está interligado: a vida familiar e o compromisso profissional, a utilização das tecnologias e o modo de experimentar a comunidade, a defesa do embrião e a do migrante. A dimensão concreta fala-nos de uma visão antropológica da pessoa como totalidade e de um modo de conhecer que não separa, mas capta os nexos, apreende da experiência relendo-a à luz da Palavra, deixa-se inspirar mais pelos testemunhos exemplares do que pelos modelos abstratos. Isto requer uma nova aproximação formativa, que aponte para a integração das perspetivas, torne capaz de perceber o entrelaçamento dos problemas e saiba unificar as diversas dimensões da pessoa. Esta aproximação está em profunda sintonia com a visão cristã que contempla na encarnação do Filho o encontro inseparável do divino com o humano, da terra com o Céu.

Educação, escola e universidade

158. Durante o Sínodo insistiu-se particularmente no dever decisivo e insubstituível da formação profissional, da escola e da universidade, também porque se trata de lugares onde a maior parte dos jovens passa muito do seu tempo. Em algumas partes do mundo, a educação de base é o primeiro e mais importante pedido que os jovens dirigem à Igreja. Para a comunidade cristã é importante mostrar uma presença significativa nestes ambientes com docentes qualificados, capelanias significativas e um compromisso cultural adequado.
As instituições educativas católicas merecem uma reflexão particular, pois exprimem a solicitude da Igreja pela formação integral dos jovens. São espaços preciosos para o encontro do Evangelho com a cultura de um povo e para o desenvolvimento da investigação. Elas são chamadas a propor um modelo de formação que seja capaz de fazer a fé dialogar com as questões do mundo contemporâneo, com as diversas perspetivas antropológicas, com os desafios da ciência e da técnica, com as mudanças dos costumes sociais e com o empenho pela justiça.
Uma atenção especial é reservada, nestes ambientes, à promoção da criatividade juvenil nos campos da ciência e da arte, da poesia e da literatura, da música e do desporto, do digital e dos media, etc. Deste modo, os jovens poderão descobrir os seus talentos e pô-los depois à disposição da sociedade para o bem de todos.

Preparar novos formadores

159. A recente Constituição Apostólica Veritatis gaudium sobre a universidade e as faculdades eclesiásticas propôs alguns critérios fundamentais para um projeto formativo que esteja à altura dos desafios do presente: a contemplação espiritual, intelectual e existencial do querigma, o diálogo a todos os níveis, a transdisciplinaridade exercida com sabedoria e criatividade e a necessidade urgente de “criar redes”[37]. Tais princípios podem inspirar todos os âmbitos educativos e formativos; o seu uso beneficiará, antes de mais, a formação dos novos educadores, ajudando-os a abrirem-se a uma visão sapiencial e capaz de integrar experiência e verdade. A nível mundial, têm um dever fundamental as Universidades Pontifícias e, a nível continental e nacional, as Universidades Católicas e os centros de estudo. A verificação periódica, a qualificação exigente e a renovação constante destas instituições são um grande investimento estratégico para o bem dos jovens e de toda a Igreja.

Formar discípulos missionários

160. O caminho sinodal insistiu sobre o desejo crescente de dar espaço e corpo ao protagonismo juvenil. É evidente que o apostolado dos jovens para com outros jovens não pode ser improvisado, mas deve ser fruto de um caminho formativo sério e adequado: como acompanhar este processo? Como oferecer melhores instrumentos aos jovens para que sejam autênticas testemunhas do Evangelho? Esta pergunta coincide também com o desejo de muitos jovens de conhecerem melhor a própria fé: descobrirem as suas raízes bíblicas, perceberem o desenvolvimento histórico da doutrina, o sentido dos dogmas, a riqueza da liturgia. Isto permite aos jovens refletir sobre as questões atuais em que a fé é posta em causa, para saber dar a razão da esperança que há nelas (cf. 1Pe 3,15).
Por isso, o Sínodo propõe a valorização das experiências de missão juvenil através da instituição de centros de formação para a evangelização, destinados aos jovens e aos casais jovens, por meio de uma experiência integral que se concluirá com o envio em missão. Existem já iniciativas deste tipo em vários territórios, mas pede-se a cada Conferência Episcopal para estudar a sua viabilidade no seu contexto específico.

Um tempo para acompanhar no discernimento

161. Ressoou muitas vezes na sala sinodal um sincero apelo para investir generosamente, para os jovens, em paixão educativa, mais tempo e também mais recursos económicos. Recolhendo vários contributos e desejos sentidos durante o debate sinodal, juntamente com a escuta de experiências qualificadas já concretizadas, o Sínodo propõe com convicção a todas as Igrejas particulares, às congregações religiosas, aos movimentos, às associações e a outros agentes eclesiais, oferecer aos jovens uma experiência de acompanhamento em vista do discernimento. Esta experiência – cuja duração será fixada de acordo com os contextos e as oportunidades – pode ser classificada como um tempo destinado ao amadurecimento da vida cristã adulta. Deveria prever um distanciamento prolongado dos locais e das relações habituais, e ser construída à volta de pelo menos três eixos indispensáveis: uma experiência de vida fraterna partilhada com educadores adultos que seja essencial, sóbria e respeitadora da casa comum; uma proposta apostólica forte e significativa para viver juntos; uma oferta de espiritualidade radicada na oração e na vida sacramental. Deste modo, temos todos os ingredientes necessários para que a Igreja possa oferecer, aos jovens que o queiram, uma profunda experiência de discernimento vocacional.

Acompanhamento para o Matrimónio

162. Salientou-se a importância de acompanhar os casais ao longo do caminho de preparação para o Matrimónio, tendo presente que existem diversos modos legítimos de organizar tais itinerários. Como afirma a Amoris laetitia no n. 207, «não se trata de lhes ministrar o Catecismo inteiro nem de os saturar com demasiados temas. [...] Trata-se de uma espécie de “iniciação” ao sacramento do Matrimónio, que lhes forneça os elementos necessários para poderem recebê-lo com as melhores disposições e iniciar com uma certa solidez a vida familiar». É importante continuar o acompanhamento das jovens famílias, sobretudo nos primeiros anos de matrimónio, ajudando-as também a tornarem-se parte ativa da comunidade cristã.

A formação dos seminaristas e dos consagrados e consagradas

163. O dever específico da formação integral dos candidatos ao ministério ordenado e à vida consagrada masculina e feminina continua a ser um desafio importante para a Igreja. Chama-se a atenção também para a importância de uma sólida formação cultural e teológica para consagradas e consagrados. No que respeita aos seminários, o primeiro dever é obviamente a receção e a tradução operativa da nova Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis. Durante o Sínodo surgiram alguns sublinhados importantes, que importa mencionar.
Em primeiro lugar, a escolha dos formadores: não basta que estejam culturalmente preparados, é preciso que sejam capazes de relações fraternas, de uma escuta empática e de profunda liberdade interior. Em segundo lugar, para um acompanhamento adequado será necessário um sério e competente trabalho em equipas educativas diferenciadas, que incluam figuras femininas. A constituição destas equipas formativas, nas quais interajam vocações diversas, é uma pequena, mas preciosa, forma de sinodalidade, que incide sobre a mentalidade dos jovens na formação inicial. Em terceiro lugar, a formação deve tentar desenvolver nos futuros pastores e consagrados a capacidade de exercitar o seu papel de orientação de modo autorizado e não autoritário, educando os jovens candidatos a doar-se para a comunidade. Merecem particular atenção alguns critérios formativos: a superação de tendências para o clericalismo, a capacidade de trabalho em equipa, a sensibilidade pelos pobres, a transparência de vida, a disponibilidade para deixar-se acompanhar. Em quarto lugar, é decisiva a seriedade do discernimento inicial, porque muitas vezes os jovens que se apresentam nos seminários ou noutras casas de formação são acolhidos sem um conhecimento adequado e uma releitura aprofundada da sua história. A questão torna-se particularmente delicada no caso de “seminaristas vagantes”: a instabilidade relacional e afetiva, e a falta de enraizamento eclesial são sinais perigosos. Descuidar as normas eclesiais a este respeito constitui um comportamento irresponsável, que pode ter consequências muito graves para a comunidade cristã. Um quinto ponto refere-se à consistência numérica das comunidades de formação: nas muito grandes, corre-se o risco da despersonalização do percurso e de um insuficiente conhecimento dos jovens em caminho, ao passo que as muito pequenas correm o risco de ser sufocantes e estar submetidas a lógicas de dependência; nestes casos, a melhor solução é constituir seminários interdiocesanos ou casas de formação partilhadas entre várias províncias religiosas, com projetos formativos claros e responsabilidades bem definidas.

164. O Sínodo formula três propostas para favorecer a renovação.
A primeira diz respeito à formação conjunta de leigos, consagrados e sacerdotes. É importante ter em contacto permanente os jovens e as jovens em formação com a vida quotidiana das famílias e das comunidades, com particular atenção para a presença de figuras femininas e de casais cristãos, para que a formação esteja radicada no concreto da vida e seja caracterizada por um traço relacional capaz de interagir com o contexto social e cultural.
A segunda proposta implica a inserção no curriculum de preparação para o ministério ordenado e para a vida consagrada de uma preparação específica relativa à pastoral dos jovens, através de cursos de formação específicos e experiências vividas de apostolado e de evangelização.
A terceira proposta pede que, dentro de um autêntico discernimento das pessoas e das situações segundo a visão e o espírito da Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis, se avalie a possibilidade de verificar o caminho formativo em sentido experiencial e comunitário. Isto vale especialmente para a última etapa do percurso, que prevê a gradual inserção na responsabilidade pastoral. As fórmulas e as modalidades poderão ser indicadas pelas Conferências Episcopais de cada país, através das suas Ratio nationalis.

CONCLUSÃO

Chamados a ser santos

165. O conjunto das diversas vocações encontra-se no único e universal chamamento à santidade, que no fundo não pode ser outro senão o cumprimento do apelo à alegria do amor que ecoa no coração de cada jovem. Efetivamente, só a partir da única vocação à santidade se podem articular as diferentes formas de vida, sabendo que Deus «quer-nos santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa»[38]. A santidade encontra a sua fonte inexaurível no Pai, que, por meio do seu Espírito, nos envia Jesus, «o Santo de Deus» (Mc1,24), o qual veio até nós para nos tornar santos por meio da amizade com Ele, que traz alegria e paz à nossa vida. Recuperar em toda a pastoral ordinária da Igreja o contacto vivo com a existência feliz de Jesus é a condição fundamental para cada renovação.

Despertar o mundo com a santidade

166. Nós devemos ser santos para poder convidar os jovens a sê-lo. Os jovens pediram bem alto uma Igreja autêntica, luminosa, transparente, alegre: só uma Igreja dos santos pode estar à altura de tais pedidos! Muitos deles deixaram-na porque nela não encontraram santidade, mas mediocridade, presunção, divisão e corrupção. Infelizmente, o mundo está mais revoltado pelos abusos de algumas pessoas da Igreja do que reavivado pela santidade dos seus membros: por isso, a Igreja no seu conjunto deve levar a cabo uma decidida, imediata e radical mudança de perspetiva! Os jovens precisam de santos que formem outros santos, mostrando assim que «a santidade é o rosto mais belo da Igreja»[39]. Existe uma linguagem que os homens e as mulheres de cada tempo, lugar e cultura podem compreender, porque é imediata e evidente: é a linguagem da santidade.

Arrastados pela santidade dos jovens

167. Foi claro desde o início do percurso sinodal que os jovens são parte integrante da Igreja. Ora, também o são na sua santidade, que nestes últimos decénios produziu um multiforme florescimento em todas as partes do mundo: contemplar e meditar durante o Sínodo a coragem de tantos jovens que renunciaram à sua vida para se manterem fiéis ao Evangelho foi para nós comovente; escutar os testemunhos dos jovens presentes no Sínodo, que, no meio de perseguições, escolheram partilhar a paixão do Senhor Jesus foi regenerante. Através da santidade dos jovens, a Igreja pode renovar o seu ardor espiritual e o seu vigor apostólico. O bálsamo da santidade gerada pela vida boa de tantos jovens pode curar as feridas da Igreja e do mundo, levando-nos à plenitude do amor para a qual desde sempre fomos chamados: os jovens santos impelem-nos a voltar ao nosso primeiro amor (cf. Ap 2,4).

VOTAÇÕES DO DOCUMENTO FINAL


COM DIREITO A VOTO = 268
VOTAÇÃO DA I E II PARTES
PRESENÇAS = 249 (2/3 dos presentes = 166)





N.°
TÍTULO
Placet
Non placet




INTRODUÇÃO
1.
O acontecimento sinodal que vivemos
227
1
2.
O processo de preparação
229
1
3.
O Documento final da Assembleia sinodal
191
43
PROÉMIO
4.
Jesus caminhava com os discípulos de Emaús
235
2




I PARTE
5.
«Caminhava com eles»
239
1
Capítulo I
Uma Igreja À escuta
Escutar e ver com empatia
6.
O valor da escuta
238
2
7.
Os jovens desejam ser escutados
238
1
8.
A escuta na Igreja
236
5
9.
A escuta dos pastores e dos leigos qualificados
235
7
As diversidades de contextos e culturas
10.
Um mundo no plural
240
0
11.
Mudanças em ação
238
2
12.
Exclusões e marginalizações
240
1
13.
Homens e mulheres
221
18
14.
A colonização cultural
233
5
Um primeiro olhar à Igreja de hoje
15.
O compromisso educativo da Igreja
233
2
16.
As atividades da pastoral juvenil
238
3
17.
O peso da gestão administrativa
220
16
18.
A situação das paróquias
228
9
19.
A iniciação à vida cristã
239
2
20.
A formação de seminaristas e consagrados
227
12
Capítulo II
Três nós cruciais
As novidades do ambiente digital
21.
Uma realidade invasiva
235
3
22.
A rede de oportunidades
231
3
23.
O lado obscuro da rede
232
2
24.
O lado obscuro da rede (bis)
235
3
Os migrantes como paradigma do nosso tempo
25.
Um fenómeno pluriforme
231
7
26.
Violência e vulnerabilidade
234
5
27.
Histórias de separação e de encontro
234
3
28.
O papel profético da Igreja
235
3
Reconhecer e reagir a todos os tipos de abuso
29.
Ser verdadeiro e pedir perdão
208
30
30.
Ir à raiz
204
31
31.
Gratidão e encorajamento
234
8
Capítulo III
Identidade e relações
Família e relações intergeracionais
32.
A família como ponto de referência privilegiado
237
2
33.
A importância da maternidade e da paternidade
222
18
34.
O relacionamento entre gerações
237
1
35.
Jovens e raízes culturais
233
4
36.
Amizade e relacionamento entre pares
239
2
Corpo e afetividade
37.
Mudanças em ação
206
33
38.
A receção dos ensinamentos morais da Igreja
214
25
39.
As perguntas dos jovens
195
43
Formas de vulnerabilidade
40.
O mundo do trabalho
235
2
41.
Violência e perseguições
239
1
42.
Marginalização e privação social
234
3
43.
A experiência do sofrimento
241
1
44.
O recurso da vulnerabilidade
235
3
Capítulo IV
Ser jovem hoje
Aspetos da cultura juvenil hodierna
45.
Originalidade e especificidade
238
2
46.
Compromisso e participação social
235
1
47.
Arte, música e desporto
232
7
Espiritualidade e religiosidade
48.
Os vários contextos religiosos
239
1
49.
A busca religiosa
238
1
50.
O encontro com Jesus
238
1

51.
O desejo de uma liturgia viva
227
9
Participação e protagonismo
52.
Os jovens desejam protagonismo
230
9
53.
As razões de uma distância
234
8
54.
Os jovens na Igreja
235
3
55.
As mulheres na Igreja
209
30
56.
A missão dos jovens em relação aos seus coetâneos
237
2
57.
Desejo de uma comunidade eclesial mais autêntica e fraterna
234
8




II PARTE
58.
«Os seus olhos abriram-se»
238
1
Um novo Pentecostes
59.
A ação do Espírito Santo
234
2
60.
O Espírito rejuvenesce a Igreja
236
4
61.
O Espírito na vida do crente
238
2
62.
Uma autêntica experiência de Deus
240
3
Capítulo I
O dom da juventude
Jesus jovem entre os jovens
63.
A juventude de Jesus
232
9
64.
Com o olhar do Senhor
236
5
65.
Características da idade juvenil
232
7
66.
A sã inquietação dos jovens
232
5
67.
Os jovens feridos
235
5
Tornar-se adultos
68.
A idade das escolhas
238
1
69.
A existência sobre o sinal da missão
238
2
70.
Uma pedagogia capaz de interpelar
236
3
71.
O verdadeiro sentido da autoridade
237
1
72.
A ligação com a família
244
0
Chamados à liberdade
73.
O Evangelho da liberdade
226
4
74.
Uma liberdade responsorial
239
1
75.
A liberdade e a fé
235
0
76.
A liberdade ferida e redimida
238
0
Capítulo II
O mistério da vocação
A procura da vocação
77.
Vocação, viagem e descoberta
237
3
78.
Vocação, graça e liberdade
236
3

79.
Criação e vocação
235
3
80.
Para uma cultura vocacional
230
10
A vocação de seguir Jesus
81.
O fascínio de Jesus
238
1
82.
Fé, vocação e discipulado
237
3
83.
A Virgem Maria
236
2
Vocação e vocações
84.
Vocação e missão da Igreja
230
2
85.
A variedade dos carismas
239
3
86.
Profissão e vocação
232
7
87.
A família
210
6
88.
A vida consagrada
227
4
89.
O ministério ordenado
231
7
90.
A condição dos solteiros (“single”)
212
29
Capítulo III
A MISSÃO DE ACOMPANHAR
A Igreja que acompanha
91.
Perante as escolhas
234
2
92.
Partir juntos o pão
238
1
93.
Ambientes e tarefas
238
3
94.
Acompanhar a inserção na sociedade
241
3
O acompanhamento comunitário, de grupo e pessoal
95.
Uma tensão fecunda
243
3
96.
O acompanhamento comunitário e de grupo
240
3
97.
O acompanhamento espiritual pessoa
241
3
98.
Acompanhamento e sacramento da Reconciliação
239
6
99.
Um acompanhamento integral
236
5
100.
O acompanhamento na formação ao ministério ordenado e à vida consagrada
241
5
Acompanhadores de qualidade
101.
Chamados a acompanhar
239
2
102.
O perfil do acompanhador
240
4
103.
A importância da formação
237
4
Capítulo IV
A ARTE DE DISCERNIR
A Igreja, ambiente para discernir
104.
Uma constelação de significados na variedade das tradições espirituais
235
3
105.
O reenvio constitutivo à Palavra e à Igreja
236
3


A consciência em discernimento

106.
Deus fala ao coração
223
20

107.
A ideia cristã de consciência
219
23

108.
A formação da consciência
205
36

109.
A consciência eclesial
205
34

A prática do discernimento

110.
A familiaridade com o Senhor
238
3

111.
As disposições do coração
235
4

112.
O diálogo de acompanhamento
238
2

113.
A decisão e a confirmação
238
3






COM DIREITO A VOTO = 268
VOTAÇÃO DA III PARTE
PRESENÇAS = 248 (2/3 dos presentes = 166)


III PARTE


114.
«Partiram imediatamente»
242
0
Uma Igreja jovem
115.
Um ícone de ressurreição
241
2
116.
Caminhar com os jovens
241
1
117.
O desejo de atingir todos os jovens
223
17
118.
Conversão espiritual, pastoral e missionária
214
25
Capítulo I
A sinodalidade missionária da Igreja

Um dinamismo constitutivo


119.
Os jovens pedem-nos para caminhar juntos
206
34
120.
O processo sinodal continua
203
39
121.
A forma sinodal da Igreja
191
51
122.
A forma sinodal da Igreja (bis)
199
43
123.
Uma Igreja participativa e corresponsável
202
38
124.
Processos de discernimento comunitário
208
33
Um estilo para a missão
125.
A comunhão missionária
215
26
126.
Uma missão em diálogo
230
10
127.
Em direção às periferias do mundo
228
11
Capítulo II
Caminhar junto no quotidiano
Dar estrutura às relações
128.
Da delegação ao envolvimento
224
13
129.
A renovação da paróquia
225
11

130.
Estruturas abertas e decifráveis
222
15
A vida da comunidade
131.
Um mosaico de rostos
229
9
132.
A comunidade no território
229
8
133.
Querigma e catequese
231
9
134.
A centralidade da liturgia
230
10
135.
A centralidade da liturgia (bis)
223
15
136.
A centralidade da liturgia (ter)
236
4
137.
A generosidade da diaconia
239
4
Pastoral juvenil em chave vocacional
138.
A Igreja, uma casa para os jovens
236
6
139.
A animação vocacional da pastoral
234
3
140.
Uma pastoral vocacional para os jovens
233
8
141.
Da fragmentação à integração
230
8
142.
A relação frutuosa entre acontecimentos e vida quotidiana
237
4
143.
Centros juvenis
232
6
Capítulo III
Um renovado impulso missionário
144.
Alguns desafios urgentes
222
17
145.
A missão no ambiente digital
237
3
146.
A missão no ambiente digital (bis)
234
6
147.
Migrantes: abater muros e construir pontes
228
12
148.
As mulheres na Igreja sinodal
201
38
149.
Sexualidade: uma palavra clara, livre, autêntica
214
26
150.
Sexualidade: uma palavra clara, livre, autêntica (bis)
178
65
151.
Economia, política, trabalho, casa comum
230
7
152.
Economia, política, trabalho, casa comum (bis)
236
1
153.
Economia, política, trabalho, casa comum (ter)
233
6
154.
Economia, política, trabalho, casa comum (quater)
229
6
155.
Nos contextos interculturais e inter-religiosos
225
13
156.
Os jovens para o diálogo ecuménico
228
9
Capítulo IV
Formação Integral
157.
Dimensão concreta, complexidade e integralidade
233
9
158.
Educação, escola e universidade
230
6
159.
Preparar novos formadores
230
7
160.
Formar discípulos missionários
230
7
161.
Um tempo para acompanhar no discernimento
229
13
162.
Acompanhamento para o matrimónio
231
9

163.
A formação dos seminaristas e dos consagrados e consagradas
217
22
164.
A formação dos seminaristas e dos consagrados e consagradas (bis)
211
25




CONCLUSÃO
165.
Chamados a ser santos
234
2
166.
Despertar o mundo com a santidade
216
8
167.
Arrastados pela santidade dos jovens
239
2












[1] No presente documento, o termo «Sínodo» quer dizer sempre todo o processo sinodal em ação ou a Assembleia Geral ocorrida de 3 a 28 de outubro de 2018.
[2] cf. Francisco, Constituição Apostólica Episcopalis communio, sobre o Sínodo dos Bispos (15 de setembro de 2018), art. 18, § 1.
[3] Bento XVI, Mensagem para o 47.º Dia Mundial das Comunicações Sociais (24 de janeiro de 2013).
[4] Francisco, Discurso de abertura na XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, 3 de outubro de 2018.
[5] Francisco, Carta ao Povo de Deus, 20 de agosto de 2018.
[6] Cf. Francisco, Carta Encíclica Laudato si’ (24 de maio de 2015), n. 106.
[7] Francisco, Santa Missa de abertura do Capítulo Geral da Ordem de Santo Agostinho, 28 de agosto de 2013.
[8] Agostinho (Santo), Sermão 227.
[9] Francisco, Carta Encíclica Lumen fidei sobre a fé (29 de junho de 2013), n. 57.
[10] Ireneu (Santo), Contra as Heresias, II, 24, 4.
[11] Francisco, Discurso na Vigília de oração em preparação para a Jornada Mundial da Juventude, 8 de abril de 2017.
[12] Idem, Exortação Apostólica Evangelii gaudium sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual (24 de novembro de 2013), n. 273.
[13] Idem, Homilia na Praça de São Pedro (canonizações), de 14 de outubro de 2018.
[14] Paulo VI, Carta Encíclica Ecclesiam suam (6 de agosto de 1964), n. 43.
[15] Francisco, Carta Encíclica Lumen fidei, n. 9.
[16] Cf. Paulo VI, Carta Encíclica Populorum progressio (27 de março de 1967), n. 15.
[17] Bento XVI, Exortação Apostólica Verbum Domini (30 de setembro de 2017), n. 77.
[18] Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral Gaudium et spes sobre a Igreja no mundo atual, n. 22
[19] Cf. Francisco, Exortação Apostólica Evangelii gaudium, nn. 169-173.
[20] Idem, Exortação Apostólica Gaudete et exsultate sobre o chamamento à santidade no mundo atual (19 de março de 2018), n. 170.
[21] Francisco, Discurso de abertura da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, 3 de outubro de 2018.
[22] Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral Gaudium et spes, n. 16.
[23] Francisco, Exortação Apostólica Evangelii gaudium, n. 96.
[24] Comissão Teológica Internacional, A sinodalidade na vida e na missão da Igreja, 2 de março de 2018, n. 9. O documento ilustra, além disso, a natureza da sinodalidade nestes termos: «A dimensão sinodal da Igreja exprime o carácter de sujeito ativo de todos os batizados e juntamente com o papel específico do ministério episcopal em comunhão colegial e hierárquica com o Bispo de Roma. Esta visão eclesiológica convida a promover o desenrolar da comunhão sinodal entre “todos”, “alguns” e “um”. A diversos níveis e de diversas formas, no plano das Igrejas particulares, no seu conjunto a nível regional ou da Igreja universal, a sinodalidade implica o exercício do sensus fidei da universitatis fidelium (todos), o ministério de guia do Colégio dos Bispos, cada um com o seu presbitério (alguns), e o ministério de unidade do Bispo e do Papa (um). Estão assim conjugados, na dinâmica sinodal, o aspeto comunitário que inclui todo o povo de Deus, a dimensão colegial relativa ao exercício do ministério episcopal e o ministério primacial do Bispo de Roma. Esta correlação promove aquela singularis conspiratio entre os fiéis e os Pastores que é ícone da eterna conspiratio vivida na Santíssima Trindade» (n. 64).
[25] Francisco, Discurso na Comemoração do cinquentenário da instituição do Sínodo dos Bispos, 17 de outubro de 2015.
[26] Ibidem.
[27] Ibidem.
[28] Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen gentium sobre a Igreja, n. 1.
[29] Comissão Teológica Internacional, A sinodalidade na vida e na missão da Igreja, 2 de março de 2018, n. 107.
[30] Paulo VI, Carta Encíclica Ecclesiam suam, n. 38.
[31] cf. Francisco, Carta Encíclica Laudato si’, n. 49.
[32] cf. Idem, Exortação Apostólica Evangelii gaudium, n. 164.
[33] Ibidem, n. 287.
[34] Congregação para a Doutrina da Fé, Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre o cuidado pastoral das pessoas homossexuais, 1 de outubro de 1986, n. 16.
[35] São João Paulo II, Carta Encíclica Laborem exercens sobre o trabalho humano (14 de setembro de 1981), n. 4.
[36] Francisco, Intervenção por ocasião da Divina Liturgia, Igreja Patriarcal de São Jorge, Istambul, 30 de novembro de 2014.
[37] cf. Idem, Veritatis gaudium, n. 4, d.
[38] Idem, Exortação Apostólica Gaudete et exsultate, n. 1.
[39] Ibidem, n. 9.