PARÓQUIAS DE NISA
Quinta-feira, 01 de abril de 2021
Quinta-feira Santa
LITURGIA
A Missa do Crisma celebra-se com
paramentos brancos e diz-se Glória e pf. próprio.
L 1 Is 61, 1-3a. 6a. 8b-9; Sal 88 (89), 21-22. 25 e 27
L 2 Ap 1, 5-8
Ev Lc 4, 16-21
MISSA
VESPERTINA DA CEIA DO SENHOR
Branco.
Missa própria, Glória, pf. da Eucaristia.
L 1 Ex 12, 1-8. 11-14; Sal 115 (116), 12-13. 15-16bc. 17-18
L 2 1 Cor 11, 23-26
Ev Jo 13, 1-15
* Aqueles que participam na Missa vespertina, não dizem Vésperas.
* Amanhã é dia de jejum e abstinência.
* Completas dep. II Vésp. dom.
MISSA
ANTÍFONA
DE ENTRADA cf. Gal. 6,
14
Toda a nossa glória está na cruz de Nosso senhor Jesus Cristo. N’Ele está a
nossa salvação, vida e ressurreição. Por Ele fomos salvos e livres.
ORAÇÃO COLECTA
Senhor nosso Deus, que nos reunistes para celebrar a Ceia santíssima em que o
vosso Filho Unigénito, antes de Se entregar à morte, confiou à Igreja o
sacrifício da nova e eterna aliança, fazei que recebamos, neste sagrado
banquete do seu amor, a plenitude da caridade e da vida. Por Nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I Ex 12, 1-8.11-14
Leitura do Livro do Êxodo
Naqueles dias, o Senhor disse a Moisés e a Aarão na terra do Egipto: «Este mês
será para vós o princípio dos meses; fareis dele o primeiro mês do ano. Falai a
toda a comunidade de Israel e dizei-lhe: No dia dez deste mês, procure cada
qual um cordeiro por família, uma rês por cada casa. Se a família for pequena
demais para comer um cordeiro, junte-se ao vizinho mais próximo, segundo o número
de pessoas, tendo em conta o que cada um pode comer. Tomareis um animal sem
defeito, macho e de um ano de idade. Podeis escolher um cordeiro ou um cabrito.
Deveis conservá-lo até ao dia catorze desse mês. Então, toda a assembleia da
comunidade de Israel o imolará ao cair da tarde. Recolherão depois o seu
sangue, que será espalhado nos dois umbrais e na padieira da porta das casas em
que o comerem. E comerão a carne nessa mesma noite; comê-la-ão assada ao fogo,
com pães ázimos e ervas amargas. Quando o comerdes, tereis os rins cingidos,
sandálias nos pés e cajado na mão. Comereis a toda a pressa: é a Páscoa do
Senhor. Nessa mesma noite, passarei pela terra do Egipto e hei-de ferir de
morte, na terra do Egipto, todos os primogénitos, desde os homens até aos animais.
Assim exercerei a minha justiça contra os deuses do Egipto, Eu, o Senhor. O
sangue será para vós um sinal, nas casas em que estiverdes: ao ver o sangue,
passarei adiante e não sereis atingidos pelo flagelo exterminador, quando Eu
ferir a terra do Egipto. Esse dia será para vós uma data memorável, que haveis
de celebrar com uma festa em honra do Senhor. Festejá-lo-eis de geração em
geração, como instituição perpétua».
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Salmo 115 (116), 12-13.15-16bc.17-18 (R. cf.
1 Cor 10, 16)
Refrão: O cálice de bênção é comunhão do
Sangue de Cristo. Repete-se
Como agradecerei ao Senhor
tudo quanto Ele me deu?
Elevarei o cálice da salvação,
invocando o nome do Senhor. Refrão
É preciosa aos olhos do Senhor
a morte dos seus fiéis.
Senhor, sou vosso servo, filho da vossa serva:
quebrastes as minhas cadeias. Refrão
Oferecer-Vos-ei um sacrifício de louvor,
invocando, Senhor, o vosso nome.
Cumprirei as minhas promessas ao Senhor,
na presença de todo o povo. Refrão
LEITURA II 1 Cor 11, 23-26 A libertação definitiva já chegou: «O nosso
Cordeiro Pascal que é Cristo, foi imolado»! (I Cor. 5, 7). Possuídos por essa
certeza, desde o começo da Igreja os cristãos se reuniam para celebrar o
Memorial do Sacrifício redentor de Cristo, a Eucaristia, por Ele instituída
como Páscoa da Nova Aliança.
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: o Senhor Jesus, na noite em que
ia ser entregue, tomou o pão e, dando graças, partiu-o e disse: «Isto é o meu
Corpo, entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim». Do mesmo modo, no fim
da ceia, tomou o cálice e disse: «Este cálice é a nova aliança no meu Sangue.
Todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de Mim». Na verdade, todas as
vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciareis a morte do
Senhor, até que Ele venha.
Palavra do Senhor.
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO Jo 13, 34
Refrão: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai. Repete-se
Dou-vos um mandamento novo, diz o Senhor:
Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Refrão
EVANGELHO Jo 13, 1-15
«Amou-os até ao fim»
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Antes
da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo
para o Pai, Ele, que amara os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim. No
decorrer da ceia, tendo já o Demónio metido no coração de Judas Iscariotes,
filho de Simão, a ideia de O entregar, Jesus, sabendo que o Pai Lhe tinha dado
toda a autoridade, sabendo que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-Se
da mesa, tirou o manto e tomou uma toalha, que pôs à cintura. Depois, deitou
água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a
toalha que pusera à cintura. Quando chegou a Simão Pedro, este disse-Lhe:
«Senhor, Tu vais lavar-me os pés?». Jesus respondeu: «O que estou a fazer, não
o podes entender agora, mas compreendê-lo-ás mais tarde». Pedro insistiu:
«Nunca consentirei que me laves os pés». Jesus respondeu-lhe: «Se não tos
lavar, não terás parte comigo». Simão Pedro replicou: «Senhor, então não
somente os pés, mas também as mãos e a cabeça». Jesus respondeu-lhe: «Aquele
que já tomou banho está limpo e não precisa de lavar senão os pés. Vós estais
limpos, mas não todos». Jesus bem sabia quem O havia de entregar. Foi por isso
que acrescentou: «Nem todos estais limpos». Depois de lhes lavar os pés, Jesus
tomou o manto e pôs-Se de novo à mesa. Então disse-lhes: «Compreendeis o que
vos fiz? Vós chamais-Me Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque o sou. Se Eu, que
sou Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos
outros. Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu fiz, vós façais também».
Palavra da salvação.
ANTÍFONA Jo. 13, 34
Dou-vos um mandamento novo, diz o Senhor:
Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Concedei-nos, Senhor, a graça de participar dignamente nestes mistérios, pois
todas as vezes que celebramos o memorial deste sacrifício realiza-se a obra da
nossa redenção. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco
na unidade do Espírito Santo.
PREFÁCIO DA SANTÍSSIMA EUCARISTIA
A Eucaristia, memorial do sacrifício de
Cristo
V.
O Senhor esteja convosco.
R. Ele está no meio de nós.
V. Corações ao alto.
R. O nosso coração está em Deus.
V. Dêmos graças ao Senhor nosso Deus.
R. É nosso dever, é nossa salvação.
Senhor, Pai santo, Deus eterno e
omnipotente, é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação dar-Vos graças,
sempre e em toda a parte, por Cristo, nosso Senhor. Verdadeiro e eterno
sacerdote, oferecendo-Se como vítima de salvação, instituiu o sacrifício da
nova aliança e mandou que o celebrássemos em sua memória. O seu Corpo, por nós
imolado, é alimento que nos fortalece; e o seu Sangue, por nós derramado, é
bebida que nos purifica. Por isso, com os Anjos e os Arcanjos e todos os coros
celestes, proclamamos a vossa glória, cantando numa só voz:
Santo, Santo, Santo, Senhor Deus do
universo…
ANTÍFONA DA COMUNHÃO cf. 1 Cor 11, 24.25
Isto é o meu Corpo, entregue por vós;
este é o cálice da nova aliança no meu Sangue, diz o Senhor.
Fazei isto em memória de Mim.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Deus eterno e omnipotente, que hoje nos alimentastes na Ceia do vosso Filho,
saciai-nos um dia na ceia do reino eterno. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA:
1. Leitura: - Lê, respeita, situa o
que lês.
- Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste
2.
Meditação: - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.
- Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua
vida” 2020.11.28
3. Oração: - Louva o Senhor,
suplica, escuta.
- Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.
LEITURAS: Ex 12, 1-8.11-14: Com o banquete pascal, o povo hebreu revivia,
todos os anos, a libertação do Egipto e a sua constituição como «povo», em
consequência dessa ação libertadora de Deus. Através desse rito pascal, que
consistia na imolação de um cordeiro, agradeciam também todas as outras
intervenções salvíficas de Deus, ao longo dos séculos, e proclamavam a sua
esperança na libertação definitiva.
1 Cor 11, 23-26:
Ao celebrarem, porém, o Memorial da Morte do Senhor nem sempre os cristãos
estavam unidos na caridade, como acontecia em Corinto, 25 anos após a morte do
Senhor. Por isso, Paulo lhes lembra que a Eucaristia e a Igreja, o Corpo
sacramental e o Corpo Místico, estão intimamente ligados. Uma Eucaristia
celebrada entre divisões deixaria de ser o sinal da união de todos os homens em
Cristo.
Jo
13, 1-15: Pelo
Seu gesto, que constitui um dos momentos importantes da Ceia Pascal, Jesus
manifesta-nos, concretamente, a Sua realidade de «Servo», ou seja a Sua
humilhação, que atingirá o limite extremo na Cruz. Recorda-nos, na hora da Sua
passagem para o Pai, onde está a essência da Sua doutrina. Manda aos Seus
discípulos que, como Ele e com Ele, estejam ao serviço humilde, generoso e
eficaz dos irmãos.
AGENDA DO DIA
10.00 horas Missa
Crismal em Castelo Branco
14.00 horas: Funeral em
Nisa
17.00 horas: Missa da Ceia
do Senhor em Gáfete
18.00 horas: Missa da Ceia
do Senhor em Nisa
18.00 horas: Missa da Ceia
do Senhor em Alpalhão
18.00 horas: Missa da Ceia
do Senhor em Tolosa.
A VOZ DO PASTOR:
E
CADA UM VOLTOU PARA SUA CASA!...
Há frases a que nunca damos qualquer importância,
mesmo que as leiamos vezes sem conta. Mas lá chega um momento em que nos fazem
acordar como se de um relógio despertador se tratasse. Levantam-nos da soneira
e levam o pensamento para voos sem fim. Isso acontece, sobretudo, quando lemos
a Sagrada Escritura. Mesmo que conheçamos certos livros e passagens, há sempre
novas perspetivas a descobrir, novas lições a tirar, passagens que, apesar de
tantas vezes lidas e escutadas, nunca nos disseram nada. Mas chega um momento
em que nos fazem abrir as janelas ao ar fresco da vida, trazem luz,
sacodem-nos, levam-nos a outras paragens. É a riqueza da Palavra de Deus, de
Deus que sempre nos surpreende e toca no ombro. Há dias, o Evangelho da
Eucaristia terminava dizendo que “e cada um voltou para sua casa”.
Oh! Que frase tão comezinha e nada importante, é
verdade! Mas o silêncio feito depois de a escutar, fê-la ecoar no sótão
pensante e pôs-me a divagar. Neste voltar a casa, a casa pode ser entendida
como a pátria, a terra natal, à qual nem sempre há gosto em voltar, sobretudo,
se, por falta de condições, até se foi obrigado a sair de lá, ou, como neste
momento, muitos não poderão regressar por causa da pandemia. Mas deixemos essa
dimensão e fixemo-nos na outra casa, na casa de família. Pode-se voltar para
casa vindo de muitos lugares: do trabalho, do cinema, do baile, da tasca, da
noite, do café, do casino, da criminalidade, da casa do vizinho, da festa, do
estrangeiro... Atendendo às circunstâncias de cada um, esse voltar a casa, pode
não trazer consigo o sentimento de alegria, do desejo do encontro. Pode trazer
tristeza e até rancor. Tristeza, por tantas e tantas razões. Talvez por saber
que tem gente doente em casa, a sofrer, e não sabe o que lhe há de fazer,
porque não tem pão na mesa para dar aos filhos e acaba de ser despedido do
emprego, porque o amor e a paz deixaram de existir lá dentro daquelas paredes,
porque...porque... Mas quem volta a casa pode também vir carregado de más
intenções, de revolta, de desejo de violência, de ajuste de contas, de
desprezo, vingança.... É verdade que tudo isso, aqui ou ali, pode acontecer.
Esse voltar a casa, porém, também pode suscitar diferentes estados de alma a
quem está em casa. Pode suscitar sentimentos de alegria e de boas-vindas
naqueles que valorizam a família, que a cultivam nos valores e na verdade, que
a promovem cada vez mais como comunidade de vida e de amor, como lugar saudável
de refúgio e acolhimento, de alegria e de paz, de solidariedade e
corresponsabilidade. Mas também pode acontecer que, quem está em casa, esteja
sempre com o coração nas mãos. Pressente que quem está a chegar vem alcoolizado
como de costume, esmurrado porque sempre em zaragatas, violento a exigir a
mísera reforma de seus pais para a sua vida airada, useiro e vezeiro em
violência, truculento com jeitos de quem pode e manda e a pensar que quanto
mais alto fala mais razão tem...pobres filhos, pobres pais, pobre comunidade
familiar!
E cada um voltou para sua casa!... A frase em
questão aparece no contexto da discussão sobre quem era afinal aquele homem
chamado Jesus, o Senhor da vida e da alegria de viver. Os próprios guardas do
Templo, que foram mandatados para o prender, encostaram-se aos outros a ouvir o
que Ele dizia e acabaram por regressar a casa sem o prender. Nunca tinham
ouvido ninguém falar como aquele homem. A pessoa de Jesus fascinava, era
profundamente atraente e inspiradora, nunca fechada a ninguém, sempre
disponível ao dom e à alegria. Multidões sem conta apertavam-se para o ouvir
falar e lhe tocar. A sua fama espalhava-se cada vez mais por toda a região.
Muitos deixavam-se dominar pelo espanto e permaneciam encantados a louvar a
Deus por estarem a ver e ouvir coisas tão extraordinárias e diferentes, como
transformar a água em vinho, multiplicar o pão e o peixe, perdoar os pecados,
ressuscitar os mortos, dar vista aos cegos, curar os coxos, sarar os doentes,
acalmar os ventos e as tempestades.... Outros, sem palavras que os
satisfizesse, limitavam-se a dizer que um grande profeta aparecera entre eles,
que Deus, de facto, tinha visitado o seu povo. Outros, ainda, não menos
maravilhados, também se perguntavam, boquiabertos, de onde é que lhe vinha tanta sabedoria e poder,
pois pensavam conhecê-lo muito bem como o filho do carpinteiro e de Maria. O
impacto que Jesus provocava, não por malabarismos ou excentricidades, mas pelas
maravilhas que operava e pela força empática da sua palavra cheia de serenidade
e beleza, alegrava as multidões e muitos deixavam tudo para o seguir. No
entanto, se uns se maravilhavam com tudo o que estava a acontecer, os que se
julgavam donos da verdade e dos outros, sentiam-se incomodados no seu posto, tornaram-se adversários
rancorosos de Jesus, mesmo que em
desacordo quanto à sua pessoa. Uns diziam: “Ele é realmente o Profeta”,
outros afirmavam: “É o Messias”. Outros, porém, contestavam: “poderá o Messias
vir da Galileia? Não diz a escritura que o Messias será da linhagem de David e
virá de Belém, a cidade de David?”. “De Nazaré poderá vir alguma coisa boa?”.
Nesse animado e desconfiado palanfrório de que nos dá conta o Evangelho, depois
de terem ouvido Jesus e de se terem ouvido uns aos outros, puseram fim à
discussão “e cada um voltou para sua casa”! Se discordavam quanto à pessoa de
Jesus, este voltar a casa transportava neles um pensamento unânime. Todos
magicavam como é que se haveriam de ver livres daquela “pestinha”, espécie de
intruso a quem era preciso fazer calar, prender e matar. No próximo Domingo, na
Leitura da Paixão, à pergunta hipócrita de Pilatos sobre o que havia de fazer a
Jesus, ouvi-los-emos a gritar: “Crucifica-o! Crucifica-o!” Obtido esse objetivo
e muito senhores de si, também “cada um voltou para sua casa!”
Pensando curtir a vida na libertinagem, fora e longe
da casa paterna, também o filho pródigo acabou por voltar para casa. Caindo em
si, constatou que a sua atitude aventureira o fez cair na maior das misérias.
Nostálgico da casa paterna, sentiu o abandono dos amigos da onça, sentiu a
vergonha e a solidão, o vazio e o nada, a tristeza e a fome. Arrependido e
confiante, ganha coragem e decide regressar. Incerto quanto à reação do pai,
ensaiou-se para lhe pedir perdão e que o tratasse como a um simples empregado.
O pai, porém, surpreende-o. Logo que o
vê, corre ao seu encontro, abraça-o, beija-o numa felicidade inaudita que nem
sequer o quer ouvir a pedir perdão e apoio. Reveste-o com a dignidade de filho,
de filho querido e amado com todos os direitos de filho, faz festa e festa
rija. Que bom, o filho tinha regressado!
Esta parábola do pai do filho pródigo, foi-nos
contada por Jesus para nos revelar o amor de Deus por cada um de nós. O pecado,
tantas vezes manifestado no desejo de domínio, na falta de diálogo e
transparência, na corrupção, nas formas de vida dupla, na tibieza ou vazio
espiritual, na apatia e indiferença, faz-nos sentir mal, afasta-nos de Deus,
gera vazio interior, mal estar, desassossega. Mas ninguém pode perdoar os
pecados a si próprio. O perdão pede-se a quem se ofendeu. Pelo pecado, pela
fuga da casa paterna, cava-se uma rutura na comunhão com Deus e com a Igreja, o
que implica a necessidade do perdão de Deus e da reconciliação com a Igreja.
Isto acontece através do sacramento da Confissão. Por maior que seja o pecado,
a misericórdia de Deus é muito maior. Até no alto da cruz Ele perdoa a quem o
matava! É por isso que o perdão dos pecados no sacramento da Confissão deve ser
procurado e recebido “como uma prenda, como um dom do Espírito Santo, que nos
enche da torrente de misericórdia e de graça que brota incessantemente do
Coração aberto de Cristo Crucificado e Ressuscitado”, como afirma o Papa
Francisco. É lá que experimentamos, de novo, a
proximidade, a misericórdia, a surpresa de Deus que vem ao nosso encontro, nos
abraça e dá paz. Não como mera segurança e conforto pessoal, mas como encontro
vivo com Ele na força do Espírito Santo, donde nasce um renovado compromisso na
construção da santidade e de um mundo melhor. Se o Sacramento da Reconciliação,
ou Confissão, for central na vida de cada cristão, tudo será diferente e
poderemos dizer uns dos outros que “cada um voltou para sua casa”, com uma fé
mais adulta e madura, fermento de renovação familiar e social.
Na esperança da Ressurreição, a Quaresma
passa por aí! Feliz Páscoa para todos, com muita saúde, alegria e paz.
Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 26-03-2021.
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QUARESMA - “SAÍA D’ELE UMA FORÇA QUE A TODOS
CURAVA”
Na
Igreja, a Quaresma é, por natureza, um tempo catecumenal, um tempo de
descoberta e redescoberta da fé cristã como relação vital de absoluta confiança
no Senhor Jesus Cristo. Aliás, a Páscoa, celebração da revelação plena de
Cristo para onde a Quaresma nos conduz, só ganhará densidade espiritual e
existencial se a Quaresma se assumir como caminho e exercício de descoberta e
redescoberta da relação com Jesus Cristo. A condição humana, cada um de nós,
surpreende-se, comove-se diante de Jesus Cristo. Ele é, ao mesmo tempo, tão
nosso e tão de Deus, tão humano e tão divino, tão histórico e tão do Céu e da
eternidade. Antes de nos dizermos, já Ele nos conhece. Antes de lhe pedirmos,
já Ele se nos disponibilizou. Com a sua palavra e os seus gestos de
proximidade, cativa-nos. Com o mistério da sua Pessoa, colhe o nosso afeto, a
nossa inteligência, a nossa vontade. Tocados pela sua humanidade, tornamo-nos,
por bênção sua, capazes de tocar a sua divindade. Assim, rendidos e livres,
estabelecemos com Ele uma relação vital de absoluta confiança, por onde,
doravante, passará a vida toda. D’Ele brota uma força que não deixa ninguém
indiferente e cura todos os males.
A
fé não é, portanto, uma invenção de religiões. Nenhuma imposição a conseguiria
legitimar. Nenhuma lei a conseguiria impor. Nenhum moralismo a conseguiria
justificar e ser seu alicerce. Nenhuma tradição, por si só, a conseguiria manter.
Tudo isso seriam insuficiências, andaimes solitários sem construção a erguer.
Dom recebido e resposta dada, a fé cristã vai buscar muitas das suas dinâmicas
mais elementares à vida humana. Mas é na surpresa graciosa do encontro com o
dom de Deus em Jesus Cristo que ela se radica como atitude e ritmo. É esta fé,
vivida como bênção, presença de Cristo sentida ao nosso lado, é esta fé que vai
atravessar a nossa vida com as suas graças e desgraças, os seus encantos e
desesperos, as suas alegrias e tristezas. É esta fé, vivida como bênção, que
purifica a nossa vida com paixão, com graciosidade e com ousadia profética de
batizados. É o nosso batismo, que o mesmo é dizer a nossa fé, que está em causa
em cada Quaresma. Conversão e penitência, jejum, esmola e oração são exercícios
batismais da nossa vida cristã porque são expressão da nossa vital confiança em
Jesus Cristo e da nossa reação ao tempo e aos modos da vida.
A
pandemia que atravessamos pode ser bem o contexto de humanidade em que a nossa
fé é chamada a redescobrir-se e a dar fruto. Exigidas pela situação de crise,
há um conjunto de ações que, nos crentes, são autênticos imperativos de
consciência da vida cristã: na solidão, saber ser presença construtiva e não
escravo da desconfiança; no desespero, saber ser força de esperança; na doença,
saber ser cuidador; na dificuldade económica ou social, saber partilhar e
promover; na prossecução do bem comum, saber comprometer-se e fazer caminho em
comum; nas palavras, saber edificar e promover a verdade; nas atitudes
quotidianas, saber eleger e construir a justiça; nas relações pessoais e de
cidadania, saber respeitar e acolher. A pandemia, com a doença e a pressão que
exerce em toda a sociedade, pode tornar-nos hipersensíveis, facilmente
descarriláveis e irascíveis. Pode pressionar-nos e trazer constrangimentos
vários à nossa vida. E é aí que é necessário ter sempre Cristo diante dos
olhos, ter sempre Cristo no coração e nas mãos. Os cristãos não temos de ser
uma maioria social, percentual, para sermos uma maioria virtuosa. Podemos até
ser uma minoria, mas, sem nos acanharmos e ganharmos complexo de seita,
saberemos ser Igreja à dimensão do mundo e à dimensão do próprio Cristo.
Este
ano, e por vontade do Papa Francisco, conjugam-se com a nossa Quaresma o Ano da
“Família Amoris Laetitia” e o Ano de S. José. Na sua Carta Apostólica para este
ano, o Papa Francisco diz-nos que foi com “coração de pai” que José amou Jesus.
Humilde, discreto, trabalhador, sempre pronto a realizar a vontade de Deus,
homem do silêncio como escuta, atento aos sinais de Deus e aos sinais dos
tempos, corajoso, pedagogo e, sobretudo, justo. Em José confrontamo-nos com um
homem que é justo porque se ajustou a Deus. E é por se ajustar a Deus que cedo
aprendeu a pensar como Deus, a agir como Deus, a amar como Deus. A sua fé e a
alegria do seu amor foram o grande motor da sua vida. É também a alegria do
amor que o Papa Francisco nos convida a encontrar na família cristã quando
promove o Ano “Família Amoris Laetitia”. Ele insiste na leitura da Exortação
Apostólica Amoris Laetitia e deseja levar ao aprofundamento da identidade da
família cristã como dom de pessoas e como dom à Igreja e ao mundo. Deseja
promover o acompanhamento dos esposos, a educação integral dos filhos, a
reflexão sobre as luzes e sombras da vida da família cristã, as crises
familiares, a participação das famílias nas estruturas de evangelização e da
Igreja. Tempo de redescoberta e revitalização da nossa fé, a Quaresma deste ano
faz com que se cruzem a fé e a pandemia, a fé e a família, a fé e a gratidão
pelo dom da santidade de S. José.
De
Jesus, na sua Palavra, nos seus gestos, na vida da Igreja como Comunidade,
brota uma força que não deixa ninguém indiferente. Como discípulos de Jesus sempre
em processo de conversão, somos, pois, desafiados a viver mais uma Quaresma,
mais um dom que acontece ao longo da nossa existência. Se a mundaneidade
convida ao ter, ao parecer e ao poder, a Quaresma pede especial atenção ao ser.
É um tempo de penitência e conversão. Um tempo de oração filial que nos ajuda a
limpar, arrumar e romper a dureza do coração, convertendo-nos a Deus e aos
irmãos. Uma oração que leve ao jejum do pecado, à mudança menos boa de estar,
pensar e falar, à privação do que não é essencial, à penitência e austeridade
pessoal, ao sacrifício que liberta. Uma oração que converta e leve àquela
partilha a que chamamos “renúncia quaresmal” e que tem um destino determinado
por cada Bispo diocesano, tornado público no início da Quaresma e, ao longo da
Quaresma, entregue em cada paróquia. Não se trata de renunciar para poupar, não
se trata de um peditório, não se trata de uma recolha de fundos, não se trata
de dar para ficar arrumado e não me incomodarem mais, não se trata de pagar,
não se trata tanto de dar uma esmola a quem a pede ou necessita, embora não se
deva permanecer indiferente e fazer vista grossa. Trata-se duma caminhada
espiritual disciplinada e vivida na alegria da oração, da conversão interior,
do pensar em Deus e nos outros, do sentir a importância da gratuidade e da
fraternidade. Trata-se da mudança de mentalidade e de coração que também se
pode traduzir em renunciar a isto ou àquilo, que, embora se julgue apetecível,
não é necessário, e o seu custo se coloca de parte para a causa social
anunciada. Para além disso, a conversão pode mesmo implicar o aliviar dos
bolsos (Lc 19, 1-10; Lc 18, 18-23). É uma pedagogia familiar de que tantas
crianças e tantos jovens nos dão tão belos testemunhos, renunciando a um bolo,
a um cigarro, a um café, a um programa televisivo, a ser escravo das redes
socias... ou os leva a estudar mais e melhor, a programar momentos de oração, a
visitar o vizinho acamado ou a viver mais comprometido nas causas da fé e do
bem comum, a respeitar os apelos ao confinamento e a vivê-lo com esperança,
pensando na própria saúde e saúde dos outros... Enfim, trata-se de cada um,
pelos caminhos possíveis, viver a Quaresma de tal forma que o conduza à Páscoa,
descobrindo e redescobrindo cada vez mais o gesto do amor de Deus para connosco
manifestado em Cristo Jesus seu Filho.
A Renúncia Quaresmal de 2020, em toda a Diocese, e devido ao ambiente de confinamento rigoroso, foi mesmo residual (1.769,34€). Tinha como destino ajudar à construção de um Centro de Acolhimento e Saúde na Arquidiocese de Kananga, República Democrática do Congo, donde temos dois sacerdotes a trabalhar nesta nossa Diocese. Este ano de 2021, destinamos 60% para o mesmo fim e 40% para o Fundo Social Diocesano, gerido pela Cáritas. De um Arciprestado, chegou à Cúria Diocesana uma verba de renúncia quaresmal atrasada, a qual será enviada para o destino anunciado nessa altura.