PARÓQUIAS DE NISA
Domingo, 04 de abril de 2021
Domingo de Páscoa
LITURGIA
DOMINGO DE PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR
+ Missa própria, Glória, sequência, Credo, pf. I da
Páscoa.
L 1 At 10, 34a. 37-43; Sal 117 (118), 1-2. 16ab-17. 22-23
L 2 Col 3, 1-4 ou 1 Cor 5, 6b-8
Ev Jo 20, 1-9
* Na Missa vespertina pode ler-se Lc 24, 13-35.
* Hoje são proibidas todas as outras celebrações, e todas as Missas de
defuntos.
* Proibidas as Missas em oratórios privados.
* Com as Vésperas do Domingo da Ressurreição encerra-se o Tríduo Pascal.
* Hoje, e durante toda a oitava, Completas dom. (dep. I ou II Vésperas),
antífona Este é o dia, com oração da Ressurreição.
* No fim das Completas e em vez da oração O Anjo do Senhor, diz-se a antífona
Rainha do céu, durante todo o Tempo Pascal.
DOMINGO DE PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO
DO SENHOR
MISSA
ANTÍFONA DE ENTRADA Salmo
139, 18.5-6
Ressuscitei e estou convosco para sempre; pusestes sobre mim a vossa mão: é
admirável a vossa sabedoria.
Ou Lc 24, 34; cf. Ap 1, 5
O Senhor ressuscitou verdadeiramente. Aleluia. Glória e louvor a Cristo para
sempre. Aleluia.
Diz-se o Glória.
ORAÇÃO COLECTA
Senhor Deus do universo, que neste dia, pelo vosso Filho Unigénito, vencedor da
morte, nos abristes as portas da eternidade, concedei-nos que, celebrando a
solenidade da ressurreição do Senhor, renovados pelo vosso Espírito,
ressuscitemos para a luz da vida. Por Nosso Senhor.
Leitura I Act. 10, 34a, 37-43
Leitura dos Atos
dos Apóstolos
Naqueles dias, Pedro tomou a palavra e disse: «Vós sabeis o que aconteceu em
toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo que João pregou: Deus
ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem
e curando a todos os que eram oprimidos pelo Demónio, porque Deus estava com
Ele. Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez no país dos judeus e em
Jerusalém; e eles mataram-n'O, suspendendo-O na cruz. Deus ressuscitou-O ao
terceiro dia e permitiu-Lhe manifestar-Se¬, não a todo o povo, mas às
testemunhas de antemão designadas por Deus, a nós que comemos e bebemos com
Ele, depois de ter ressuscitado dos mortos. Jesus mandou-nos pregar ao povo e
testemunhar que Ele foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos. É
d'Ele que todos os profetas dão o seguinte testemunho: quem acredita n’Ele
recebe pelo seu nome a remissão dos pecados».
Palavra do Senhor.
Salmo Responsorial Sal. 117(118), 1-2, 16ab-17, 22-23
Refrão: Este é o dia que o Senhor fez:
exultemos e cantemos de alegria. Repete-se
Ou: Aleluia. Repete-se
Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Israel:
é eterna a Sua misericórdia. Refrão
A mão do Senhor fez prodígios,
a mão do Senhor foi magnífica.
Não morrerei, mas hei de viver,
para anunciar as obras do Senhor. Refrão
A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
e é admirável aos nossos olhos. Refrão
Leitura II Col. 3, 1-4
Pelo seu Batismo, o cristão morreu para o
pecado e ressuscitou com Cristo para uma vida nova. Desde esse momento, recebeu
a missão de, à semelhança de Cristo, conduzir os homens e todas as coisas para
o Pai.
Leitura da
Epístola do apóstolo S. Paulo aos Colossenses
Irmãos: Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo Se
encontra, sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da
terra. Porque vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.
Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar, então também vós vos haveis
de manifestar com Ele na glória.
Palavra do Senhor.
Ou I Cor 5, 6b-8
Para significar o começo de uma nova
existência, que teve lugar com a libertação do Egipto, os judeus celebravam a
Páscoa com pão sem fermento, pois deitavam para fora de casa o fermento antigo.
Leitura da Primeira
Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos: Não sabeis que um pouco de fermento leveda toda a massa? Purificai-vos
do velho fermento, para serdes uma nova massa, visto que sois pães ázimos.
Cristo, o nosso cordeiro pascal, foi imolado. Celebremos a festa, não com
fermento velho, nem com fermento de malícia e perversidade, mas com os pães
ázimos da pureza e da verdade.
Palavra do Senhor.
SEQUÊNCIA PASCAL
À Vítima pascal
Ofereçam os cristãos
sacrifícios de louvor
O Cordeiro resgatou as ovelhas:
Cristo, o Inocente,
reconciliou com o Pai os pecadores.
A morte e a vida
travaram um admirável combate:
depois de morto,
vive e reina o Autor da vida.
Diz-nos, Maria:
Que viste no caminho?
Vi o sepulcro de Cristo vivo,
e a glória do ressuscitado.
Vi as testemunhas dos Anjos,
vi o sudário e a mortalha.
Ressuscitou Cristo, minha esperança:
precederá os seus discípulos na Galileia.
Sabemos e acreditamos:
Cristo ressuscitou dos mortos:
Ó Rei vitorioso,
tende piedade de nós.
ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO I Cor 5, 7b-8a
Refrão: Aleluia. Repete-se
Cristo, nosso Cordeiro Pascal, foi imolado:
celebremos a festa do Senhor. Refrão
Evangelho Jo 20, 1-9
Pedro e João, juntamente com Madalena,
são as primeiras testemunhas do túmulo vazio, naquela manhã de Páscoa. Não foi,
porém, muito facilmente que eles chegaram à conclusão de que Jesus estava vivo.
A sua fé será progressiva, caminhará entre incredulidade e dúvidas. Só perante
as ligaduras e o lençol, cuidadosamente dobrados, o que excluía a hipótese de
roubo, se lhes começam a abrir os olhos para a realidade.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. João
No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao
sepulcro e viu a pedra retirada do sepulcro. Correu então e foi ter com Simão
Pedro e com o outro discípulo que Jesus amava e disse-lhes: «Levaram o Senhor
do sepulcro e não sabemos onde O puseram». Pedro partiu com o outro discípulo e
foram ambos ao sepulcro. Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo
antecipou-se, correndo mais depressa do que Pedro, e chegou primeiro ao
sepulcro¬. Debruçando-se, viu as ligaduras no chão, mas não entrou. Entretanto,
chegou também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no sepulcro e viu as ligaduras
no chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não com as
ligaduras, mas enrolado à parte. Entrou também o outro discípulo que chegara
primeiro ao sepulcro:¬ viu e acreditou. Na verdade, ainda não tinham entendido
a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos.
Palavra da Salvação.
Em vez deste Evangelho
pode ler-se o que se leu na Vigília da Noite Santa. Nas Missas Vespertinas pode
ler-se o Evangelho de Lc 24, 13-15.
EVANGELHO (Facultativo para as
Missas Vespertinas) Lc. 24, 13-35
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. Lucas
Dois
dos discípulos de Jesus iam a caminho duma povoação chamada Emaús, que ficava a
duas léguas de Jerusalém. Conversavam entre si sobre tudo o que tinha sucedido.
Enquanto falavam e discutiam, Jesus aproximou-Se deles e pôs-Se com eles a
caminho. Mas os seus olhos estavam impedidos de O reconhecerem. Ele
perguntou-lhes: «Que palavras são essas que trocais entre vós pelo caminho?».
Pararam, com ar muito triste, e um deles, chamado Cléofas, respondeu: «Tu és o
único habitante de Jerusalém a ignorar o que lá se passou nestes dias». E Ele
perguntou: «Que foi?». Responderam-Lhe: «O que se refere a Jesus de Nazaré,
profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo; e como os
príncipes dos sacerdotes e os nossos chefes O entregaram para ser condenado à
morte e crucificado. Nós esperávamos que fosse Ele quem havia de libertar
Israel. Mas, afinal, é já o terceiro dia depois que isto aconteceu. É verdade
que algumas mulheres do nosso grupo nos sobressaltaram: foram de madrugada ao
sepulcro, não encontraram o corpo de Jesus e vieram dizer que lhes tinham
aparecido uns Anjos, a anunciar que Ele estava vivo. Alguns dos nossos foram ao
sepulcro e encontraram tudo como as mulheres tinham dito. Mas a Ele não O viram».
Então Jesus disse-lhes «Homens sem inteligência e lentos de espírito para
acreditar em tudo o que os profetas anunciaram! Não tinha o Messias de sofrer
tudo isso para entrar na sua glória?». Depois, começando por Moisés e passando
pelos Profetas, explicou-lhes em todas as Escrituras o que Lhe dizia respeito.
Ao chegarem perto da povoação para onde iam, Jesus fez menção de seguir para
diante. Mas eles convenceram-n'O a ficar, dizendo: «Ficai connosco, porque o
dia está a terminar e vem caindo a noite». Jesus entrou e ficou com eles. E
quando Se pôs à mesa, tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e entregou-lho.
Nesse momento abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-n'O. Mas Ele desapareceu
da sua presença. Disseram então um para o outro: «Não ardia cá dentro o nosso
coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?».
Partiram imediatamente de regresso a Jerusalém e encontraram reunidos os Onze e
os que estavam com eles, que diziam: «Na verdade, o Senhor ressuscitou e
apareceu a Simão». E eles contaram o que tinha acontecido no caminho e como O
tinham reconhecido ao partir o pão.
Palavra da Salvação.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Exultando de alegria pascal, nós Vos oferecemos, Senhor, este sacrifício, no
qual tão admiravelmente renasce e se alimenta a vossa Igreja. Por Nosso Senhor,
Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Prefácio pascal I [mas com maior solenidade neste dia].
ANTÍFONA DA COMUNHÃO 1 Cor 5, 7-8
Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado: celebremos a festa com o pão ázimo
da pureza e da verdade. Aleluia.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Senhor nosso Deus, protegei sempre com paternal bondade a vossa Igreja, para
que, renovada pelos mistérios pascais, mereça chegar à glória da ressurreição.
Por Nosso Senhor.
Na despedida, durante toda a Oitava, diz-se:
Ide em paz e o Senhor vos acompanhe. Aleluia. Aleluia.
R. Graças a Deus. Aleluia. Aleluia.
MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA:
1. Leitura: - Lê, respeita, situa o
que lês.
- Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste
2.
Meditação: - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.
- Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua
vida” 2020.11.28
3. Oração: - Louva o Senhor,
suplica, escuta.
- Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.
LEITURAS:
Act. 10, 34a, 37-43: Diante de pagãos, em casa do centurião
Cornélio, Pedro anuncia o que já lhes havia chegado aos ouvidos: Cristo
ressuscitou! E, completando aquela «boa notícia», garantindo, com o seu
testemunho pessoal, a verdade dos acontecimentos daqueles dias, o Apóstolo
explica-lhes o que eles querem dizer:
–
Jesus de Nazaré, homem que viveu como eles e com Quem Pedro convivera, não é um
simples homem. Ungido do Espírito de Deus, tem a plenitude de Deus em Si. Ele é
o Messias, o Filho de Deus, como o demonstrou pelos milagres por ele mesmo
presenciados e, sobretudo pelo milagre definitivo – a Ressurreição.
Pela Ressurreição, de que Pedro é testemunha,
Jesus de Nazaré é o Juiz dos vivos e dos mortos, é o Salvador de todos os
homens, judeus ou pagãos.
Col.
3, 1-4 : Inserido
nas realidades divinas, não pode alhear-se do mundo, nem ficar indiferente aos
esforços dos homens relativamente à construção dum mundo de felicidade, justiça
e paz. Inserido nas realidades da terra, não pode encerrar-se no mundo,
trabalhando só para fins terrenos, esquecido do destino final do homem e do
mundo. Feito nova criatura pela Ressurreição de Cristo, o cristão viverá a vida
de cada dia, sem perder de vista o fim superior, para que foi criado.
Jo 20, 1-9: No seu amor intuitivo,
João é o primeiro a compreender os sinais da Ressurreição. Mas bem depressa
Pedro, que, não por acaso mas intencionalmente, ocupa o primeiro lugar e nos
aparece já nesta manhã como Chefe do Colégio Apostólico, descobre a verdade,
anunciada tão claramente pela Escritura e pelo mesmo Jesus. Depois, em contacto
pessoal com o Ressuscitado, a sua fé tornar-se-á firme como «rocha» inabalável.
AGENDA DO DIA
09.30 horas: Missa em
Amieira do Tejo
10.00 horas: Missa em
Arez
10.45 horas: Missa em
Tolosa
11.00 horas: Missa em
Nisa
12.00 horas: Missa em
Gáfete
12.00 horas: Missa em
Alpalhão
15.00 horas: Missa em
Montalvão
15.00 horas: Missa na
Perulheira
15.00 horas: Missa no Cacheiro
16.30 horas: Missa em
Monte Claro
16.30 horas: Missa no
Arneiro
16.30 horas: Missa em
Pé da Serra.
A VOZ DO PASTOR:
QUE VOS PARECE?.... ELE NÃO VIRÁ À FESTA?
Face ao que ia acontecendo,
o diz-que-diz aumentava. As reuniões entre os senhores dos diversos poderes
multiplicavam-se. Os conhecedores da psicologia das multidões manipulavam o
povo. A unanimidade política apontava o crime: “se o deixarmos continuar assim,
todos acreditarão nele”. Dito e feito, para manterem o seu rame-rame
subserviente e a sua posição privilegiada, “decidiram matar Jesus”. E os que já
passeavam pelo recinto da festa perguntavam-se curiosos: ‘Que vos parece? Ele
não virá à festa?”.
Sim, Jesus foi à festa.
Ele começou a sua vida pública numa festa, nas Bodas de Caná. Também a vai
terminar numa festa, a da Páscoa. Mas não é próprio da festa transmitir e
cultivar sentimentos de alegria e amizade? Pois é, mas não foi o caso. Costuma
apresentar-se três forças como indispensáveis para que o homem sinta defendidas
a sua vida e a sua honra. São elas a força da amizade, a força da justiça e a
força da compaixão ou piedade. Quando estas virtudes desaparecem do convívio
social, nem sequer a santidade é respeitada. E Jesus foi traído por todas elas
e mais algumas! Todos preferiram salvaguardar a sua “grandeza”, a sua
autoridade, o seu prestígio em reles subserviência ou dominados pelo medo e
cobardia.
A AMIZADE EVAPOROU-SE. Jesus Cristo
foi traído pela amizade, sim. A amizade provoca a união dos homens e leva a
auxiliarem-se mutuamente nos trabalhos da vida. Este sentimento que nos une, a
amizade, tem as suas leis, leis que ela não pode abandonar sem se trair a si
própria. É próprio da amizade proteger aquele a quem se dedica, defender o
amigo, não abandonar, não negar, não vender, não atraiçoar, evitar tudo aquilo
que se possa confundir com indiferença. É próprio da amizade ser reconhecida
como valor e valor essencial. No entanto, os discípulos foram indiferentes à
dor e à preocupação do Amigo. Jesus, perturbado, sentiu necessidade de presença
e apoio em momentos tão trágicos da sua vida: “A minha alma está numa tristeza
de morte, ficai aqui e vigiai comigo”. O Evangelista Lucas, que era médico e
sabia o que era a hematidrose, diz que “o seu suor se tornou como gotas de
sangue, que caiam no chão”. Jesus sua sangue e reza... Eles dormem… Judas foi
procurar a quem vender e entregar Jesus por uma gorjeta e com um beijo… É a
amizade convertida em indiferença e ódio, em brutalidade e ingratidão. Os
outros abandonam o Mestre, todos fogem. Jesus vai sozinho para a casa de Anás.
Pedro, meio sorrateiro e a curtir o medo à distância, ao aproximar-se mais um
pouco, nega o Mestre: “Uma das criadas olhou-o de frente e disse-lhe: ‘tu
também estava com Jesus o Nazareno’. Mas ele negou: ‘Não sei nem entendo o que
dizes’. A criada, vendo-o de novo, começou a dizer aos presentes: ‘este é um
deles’. Mas ele negou segunda vez. Pouco depois, os presentes diziam também a
Pedro: ‘Na verdade, tu és deles, pois também és galileu’. Mas ele começou a
dizer imprecações e a jurar: ‘Não conheço esse homem de quem falais”.
Abandonar, renegar o amigo, é doloroso e triste. Vender, entregar o amigo aos
próprios inimigos é a maior das infâmias! Tal como outrora, quantas vezes os
amigos de hoje se convertem nos inimigos de amanhã!
A JUSTIÇA PREFERIU
BARRABÁS. Se faltou a amizade, esperava-se que a justiça salvaguardasse a vida
e a honra de Jesus, a sua inocência. Pode o juiz não ser amigo do réu, mas tem
a obrigação de o julgar segundo o direito e as leis vigentes. Mas Jesus, se
traído pela amizade dos seus, foi também traído pela própria justiça. As
irregularidades praticadas contra Jesus no Sinédrio são mais que muitas. Há
irregularidade no júri constituído, todos são suspeitos, pois eram inimigos de
Cristo, fariseus fanáticos, escribas orgulhosos, juízes e acusadores ao mesmo
tempo. Há irregularidades no andamento dum processo onde “procuravam um
testemunho contra Jesus para lhe dar a morte, mas não o encontravam”. Não há
ninguém que o defenda, são todos acusadores, todos. Os depoimentos são de
falsas testemunhas que nem sequer concordam nas afirmações: “Muitos
testemunhavam falsamente contra Ele, mas os seus depoimentos não eram
concordes”. Deturpam as palavras de Jesus acerca do templo do seu corpo. O
próprio Caifás transforma-se em acusador, mente, afirma que Jesus “blasfemou”
ao dizer-se o Messias, o Filho de Deus. No Tribunal de Herodes, é tratado como
um louco e objeto de troça. No Pretório de Pilatos, aparece igualmente
injustiçado. Pilatos impõe-se e faz-se valer com a linguagem deste mundo: “não
sabes que tenho poder para te libertar e te crucificar?”. «Não respondes nada?
Vê de quantas coisas Te acusam». Mas Jesus nada responde, não vale a pena.
Pressionado pelo povo, Pilatos, tenta uma última chance. Valendo-se de uma
tradição que havia pela festa da Páscoa, de ele ou o povo ter o direito de
escolher a liberdade de algum preso, manda buscar um condenado tido como ladrão
e assassino e pergunta ao povo quem quer que lhe solte: Jesus ou Barrabás. O
povo, manipulado pelos populistas, prefere Barrabás, Barrabás foi solto.
Pilatos, forte com os fracos ali representados em Jesus, é subserviente, tem
medo do imperador romano, tem medo das autoridades judaicas, tem medo da
multidão, tem medo da sua própria consciência que o massacra a dizer-lhe que
Jesus é justo e inocente: “Eu não encontro n’Ele nenhum motivo de condenação”.
A própria esposa lhe havia dito: “Não te intrometas no caso desse justo, porque
hoje sofri muito em sonhos por causa dele” (Mt 27,19). No entanto, mais
importante é assegurar os seus próprios interesses. Jesus é condenado à morte,
ridicularizado, flagelado, coroado de espinhos e carregado com a cruz até ao
alto do Calvário. Aí, é pregado na cruz e morre. Como alguém afirma e se
constata, Jesus nunca se descontrola, nunca recua, nunca exerce resistência,
mantém-se sempre sereno e digno, enfrentando o seu destino. Pilatos dá-se conta
dessa coerência de Jesus, mas permanece dividido entre um sentimento de justiça
e a necessidade de satisfazer a multidão e os seus cabecilhas. A justiça não
funcionou.
A COMPAIXÃO TAMBÉM
FOI NEGADA. Faltou, pois, a amizade e a justiça a defender a inocência de
Jesus. Esperar-se-ia que, ao menos, surgisse a compaixão, a piedade, esse
sentimento que leva a ter pena de quem sofre, a respeitar a sua honra e
dignidade. O último refúgio da inocência é a compaixão que a inocência sempre é
capaz de inspirar. Quem se não comove perante os sofrimentos alheios? E quem se
não comove perante os sofrimentos infringidos a um inocente? Com Jesus Cristo
não há compaixão. Algumas mulheres choram impotentes, é verdade. Um homem,
talvez obrigado, ajuda-o a levar a cruz, sim, também é verdade. Mas são muito
poucos aqueles que o seguem até ao Calvário. Os outros não manifestam qualquer
gesto de compaixão. Vede a atitude dos criados dos pontífices, no Sinédrio:
“alguns começaram a cuspir-lhe, a tapar-lhe o rosto com um véu e a dar-Lhe
punhadas, dizendo: ‘advinha’ quem te bateu. E os guardas davam-lhe bofetadas”.
Reparai na atitude dos soldados de Roma aquando da flagelação e da coroação de
espinhos: “Os soldados entrançaram uma coroa com espinhos e colocaram-na na
cabeça de Jesus. Vestiram Jesus com um manto vermelho. Aproximavam-se d’Ele e
diziam: “Salve, rei dos judeus!”. E davam-lhe bofetadas. Vede a reação do povo
quando Pilatos lhe apresenta Cristo sem saber o que lhe havia de fazer:
“Crucifica-o!”. “Crucifica-o!”. Olhai os fariseus, também no Calvário, cheios
de ódio, desafiando-o a que descesse da cruz: “Tu que destruías o templo e o
reedificavas em três dias, salva-Te a Ti mesmo e desce da cruz”. Também os
príncipes dos sacerdotes e os escribas troçavam uns com os outros, dizendo:
‘Salvou os outros e não pode salvar-se a si mesmo! Esse Messias, o rei de
Israel, desça agora da cruz, para nós vermos e acreditarmos’. Até os que
estavam crucificados com Ele o injuriavam”. Tendo perdido “toda a aparência de
um ser humano”, ali está “sem distinção nem beleza para atrair o nosso olhar,
nem aspeto agradável que possa cativar-nos. Desprezado e repelido pelos homens,
homem de dores, acostumado ao sofrimento, era como aquele de quem se desvia o
rosto, pessoa desprezível e sem valor para nós”. Até a própria natureza se
torna mais triste.
Contemplar a cruz significa assumir a mesma
atitude que Jesus assumiu e solidarizar-se com aqueles que são crucificados
neste mundo por causas tão mesquinhas ou sem qualquer valor. Aprendamos com
Jesus a entregar a vida por amor, numa dinâmica que a morte não pode vencer,
porque o amor gera vida nova e faz-nos entrar nos dinamismos da ressurreição.
Na cruz vemos todas as dimensões da nossa vida. A cruz não é um símbolo, é uma
realidade bem concreta.
Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 02-04-2021.
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