quinta-feira, 8 de outubro de 2020

 


 

PARÓQUIAS DE NISA

 

 

Sexta, 09 outubro de 2020

 

 

XXVII semana do tempo comum

 

 

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LITURGIA:

 

SEXTA-FEIRA da semana XXVII

SS. Dionísio, bispo, e Companheiros, mártires – MF
S. João Leonardo, presbítero – MF
B. João Newman, bispo – MF
Verde, verm. ou br. – Ofício da féria ou da memória.
Missa à escolha (cf. p. 18, n. 18).

L 1 Gal 3, 7-14; Sal 110 (111), 1-2. 3-4. 5-6
Ev Lc 11, 15-26

* Na Diocese do Funchal – Nossa Senhora do Monte, Padroeira principal da cidade do Funchal e secundária da Diocese. No Funchal – SOLENIDADE; nas outras igrejas da Diocese – MO
* Na Ordem Agostiniana – B. António Patrizi, presbítero – MF
* Na Ordem de São Domingos – S. Luís Beltrão, presbítero – MO
* Na Ordem de Cister – B. Vicente de Kadlubeck, bispo – MF
* Nos Irmãos das Escolas Cristãs – SS. Jaime Hilário, Cirilo Bertrão e Companheiros, religiosos, mártires – MF
* Na Congregação da Paixão de Jesus Cristo – S. Inocêncio Canoura Arnau, presbítero e mártir – MF
* Nos Missionários Combonianos do Coração de Jesus, nas Irmãs Missionárias Combonianas, nas Missionárias Seculares Combonianas e nos Leigos Missionários Combonianos – I Vésp. de S. Daniel Comboni, bispo, missionário e Fundador.

 

Missa

 

ANTÍFONA DE ENTRADA Est 13, 9.10-11
Senhor, Deus omnipotente, tudo está sujeito ao vosso poder
e ninguém pode resistir à vossa vontade.
Vós criastes o céu e a terra e todas as maravilhas
que estão sob o firmamento.
Vós sois o Senhor do universo.


ORAÇÃO COLECTA
Deus eterno e omnipotente, que, no vosso amor infinito,
cumulais de bens os que Vos imploram
muito além dos seus méritos e desejos, pela vossa misericórdia,
libertai a nossa consciência de toda a inquietação
e dai-nos o que nem sequer ousamos pedir.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


LEITURA I (anos pares) Gal 3, 7-14
«Os que vivem segundo a fé
são abençoados com Abraão, que acreditou»

É pela fé que os homens se tornam verdadeiros filhos de Abraão, e não apenas pelo sangue nem pela simples prática da lei de Moisés. S. Paulo quer fazê-lo compreender, e, para isso, cita uma série de passagens do Antigo Testamento.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas


Irmãos: Procurai compreender: Os verdadeiros filhos de Abraão são os que vivem segundo a fé. Tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar os gentios pela fé, anunciou previamente a Abraão esta boa nova: «Em ti serão abençoadas todas as nações». Assim, os que vivem segundo a fé são abençoados com Abraão, que acreditou. Na verdade, os que dependem das obras da Lei de Moisés estão sob a maldição, porque está escrito: «Maldito aquele que não cumpre tudo o que está escrito no Livro da Lei». Além disso, é evidente que diante de Deus, ninguém é justificado pela Lei, porque a Escritura diz: «O justo viverá pela fé». A Lei, porém, não se baseia na fé, porque diz: «Quem cumprir aqueles preceitos viverá por eles». Mas Cristo resgatou-nos da maldição da Lei de Moisés, tornando-Se maldição por amor de nós, como está escrito: «Maldito aquele que é suspenso do madeiro». Assim, por meio de Jesus Cristo, a bênção de Abraão se estendeu-se aos gentios e nós recebemos, pela fé, o Espírito prometido.

 
Palavra do Senhor.


SALMO RESPONSORIAL Salmo 110 (111), 1-2.3-4.5-6 (R. 5b)
Refrão: O Senhor recorda a sua aliança para sempre. Repete-se
Ou: Aleluia. Repete-se

Louvarei o Senhor de todo o coração
no conselho dos justos e na assembleia.
São grandes as obras do Senhor,
admiráveis para os que nelas meditam. Refrão

A sua obra é esplendor e majestade
e a sua justiça permanece eternamente.
Instituiu um memorial das suas maravilhas:
o Senhor é misericordioso e compassivo. Refrão

Deu sustento àqueles que O temem
e jamais se esquecerá da sua aliança.
Fez ver ao seu povo a força das suas obras,
para lhe dar a herança das nações. Refrão


ALELUIA Jo 12, 31b-32
Refrão: Aleluia. Repete-se
Chegou a hora em que vai ser expulso
o príncipe deste mundo, diz o Senhor;
e quando Eu for levantado da terra,
atrairei todos a Mim. Refrão


EVANGELHO Lc 11, 15-26
«Se Eu expulso os demónios pelo dedo de Deus,
então o reino de Deus chegou até vós»


Jesus é o Filho de Deus, enviado pelo Pai. As suas obras manifestam que Ele trouxe ao mundo o reino de Deus; as suas obras não são obras do demónio, como queriam os seus inimigos. Quem assim as interpretasse, contradiria a verdade. Uma pequena parábola quer fazer-nos compreender a importância da vigilância na luta contra os espíritos do mal.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, Jesus expulsou um demónio, mas alguns dos presentes disseram: «É por Belzebu, príncipe dos demónios, que Ele expulsa os demónios». Outros, para O experimentarem, pediam-Lhe um sinal do céu. Mas Jesus, que conhecia os seus pensamentos, disse: «Todo o reino dividido contra si mesmo, acaba em ruínas e cairá casa sobre casa. Se Satanás está dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Vós dizeis que é por Belzebu que Eu expulso os demónios. Ora, se Eu expulso os demónios por Belzebu, por quem os expulsam os vossos discípulos? Por isso eles mesmos serão os vossos juízes. Mas se Eu expulso os demónios pelo dedo de Deus, então quer dizer que o reino de Deus chegou até vós. Quando um homem forte e bem armado guarda o seu palácio, os seus bens estão em segurança. Mas se aparece um mais forte do que ele e o vence, tira-lhe as armas em que confiava e distribui os seus despojos. Quem não está comigo está contra Mim e quem não junta comigo dispersa. Quando o espírito impuro sai do homem, anda a vaguear por lugares desertos à procura de repouso. Como não o encontra, diz consigo: ‘Voltarei para a casa de onde saí’. Quando lá chega, encontra-a varrida e arrumada. Então vai e toma consigo sete espíritos piores do que ele, que entram e se instalam nela. E o último estado daquele homem torna-se pior do que o primeiro».


Palavra da salvação.


ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Aceitai, Senhor, o sacrifício
que Vós mesmo nos mandastes oferecer
e, por estes sagrados mistérios que celebramos,
confirmai em nós a obra da redenção.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


ANTÍFONA DA COMUNHÃO Lam 3, 25
O Senhor é bom para quem n’Ele confia,
para a alma que O procura.

Ou cf. 1 Cor 10, 17
Porque há um só pão, todos somos um só corpo,
nós que participamos do mesmo cálice e do mesmo pão.


ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Deus todo-poderoso,
que neste sacramento saciais a nossa fome e a nossa sede,
fazei que, ao comungarmos o Corpo e o Sangue do vosso Filho,
nos transformemos n’Aquele que recebemos.
Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

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AGENDA DO DIA

 

18.00 horas: Missa em Nisa

18.00 horas: Missa em Alpalhão

21.00 horas: Calvário: Reunião com pais das crianças da catequese que apresentam os filhos ao batismo.

 

 

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A VOZ DO PASTOR

 

OUTUBRO:

 

MÊS DAS MISSÕES

 

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MENSAGEM DE SUA SANTIDADE
O PAPA FRANCISCO
PARA O DIA MUNDIAL DAS MISSÕES DE 2020

[18 de outubro de 2020]

 

«Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8)

 

Queridos irmãos e irmãs!

Desejo manifestar a minha gratidão a Deus pelo empenho com que, em outubro passado, foi vivido o Mês Missionário Extraordinário em toda a Igreja. Estou convencido de que isso contribuiu para estimular a conversão missionária em muitas comunidades pela senda indicada no tema «Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo».

Neste ano, marcado pelas tribulações e desafios causados pela pandemia do covid-19, este caminho missionário de toda a Igreja continua à luz da palavra que encontramos na narração da vocação do profeta Isaías: «Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8). É a resposta, sempre nova, à pergunta do Senhor: «Quem enviarei?» (Ibid.). Esta chamada provém do coração de Deus, da sua misericórdia, que interpela quer a Igreja quer a humanidade na crise mundial atual. «À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas, ao mesmo tempo, importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que, falando a uma só voz, dizem angustiados “vamos perecer” (cf. Mc 4, 38), assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos» (Francisco, Meditação na Praça de São Pedro, 27/III/2020). Estamos verdadeiramente assustados, desorientados e temerosos. O sofrimento e a morte fazem-nos experimentar a nossa fragilidade humana; mas, ao mesmo tempo, todos nos reconhecemos participantes dum forte desejo de vida e de libertação do mal. Neste contexto, a chamada à missão, o convite a sair de si mesmo por amor de Deus e do próximo aparece como oportunidade de partilha, serviço, intercessão. A missão que Deus confia a cada um faz passar do «eu» medroso e fechado ao «eu» resoluto e renovado pelo dom de si.

No sacrifício da cruz, onde se realiza a missão de Jesus (cf. Jo 19, 28-30), Deus revela que o seu amor é por todos e cada um (cf. Jo 19, 26-27). E pede-nos a nossa disponibilidade pessoal para ser enviados, porque Ele é Amor em perene movimento de missão, sempre em saída de Si mesmo para dar vida. Por amor dos homens, Deus Pai enviou o Filho Jesus (cf. Jo 3, 16). Jesus é o Missionário do Pai: a sua Pessoa e a sua obra são, inteiramente, obediência à vontade do Pai (cf. Jo 4, 34; 6, 38; 8, 12-30; Heb 10, 5-10). Por sua vez, Jesus – crucificado e ressuscitado por nós –, no seu movimento de amor atrai-nos com o seu próprio Espírito, que anima a Igreja, torna-nos discípulos de Cristo e envia-nos em missão ao mundo e às nações.

«A missão, a “Igreja em saída” não é um programa, um intuito concretizável por um esforço de vontade. É Cristo que faz sair a Igreja de si mesma. Na missão de anunciar o Evangelho, moves-te porque o Espírito te impele e conduz (Francisco, Sem Ele nada podemos fazer, 2019, 16-17). Deus é sempre o primeiro a amar-nos e, com este amor, vem ao nosso encontro e chama-nos. A nossa vocação pessoal provém do facto de sermos filhos e filhas de Deus na Igreja, sua família, irmãos e irmãs naquela caridade que Jesus nos testemunhou. Mas, todos têm uma dignidade humana fundada na vocação divina a ser filhos de Deus, a tornar-se, no sacramento do Batismo e na liberdade da fé, aquilo que são desde sempre no coração de Deus.

Já o facto de ter recebido gratuitamente a vida constitui um convite implícito para entrar na dinâmica do dom de si mesmo: uma semente que, nos batizados, ganhará forma madura como resposta de amor no matrimónio e na virgindade pelo Reino de Deus. A vida humana nasce do amor de Deus, cresce no amor e tende para o amor. Ninguém está excluído do amor de Deus e, no santo sacrifício de seu Filho Jesus na cruz, Deus venceu o pecado e a morte (cf. Rom 8, 31-39). Para Deus, o mal – incluindo o próprio pecado – torna-se um desafio para amar, e amar cada vez mais (cf. Mt 5, 38-48; Lc 23, 33-34). Por isso, no Mistério Pascal, a misericórdia divina cura a ferida primordial da humanidade e derrama-se sobre o universo inteiro. A Igreja, sacramento universal do amor de Deus pelo mundo, prolonga na história a missão de Jesus e envia-nos por toda a parte para que, através do nosso testemunho da fé e do anúncio do Evangelho, Deus continue a manifestar o seu amor e possa tocar e transformar corações, mentes, corpos, sociedades e culturas em todo o tempo e lugar.

A missão é resposta, livre e consciente, à chamada de Deus. Mas esta chamada só a podemos sentir, quando vivemos[a1]  numa relação pessoal de amor com Jesus vivo na sua Igreja. Perguntemo-nos: estamos prontos a acolher a presença do Espírito Santo na nossa vida, a ouvir a chamada à missão quer no caminho do matrimónio, quer no da virgindade consagrada ou do sacerdócio ordenado e, em todo o caso, na vida comum de todos os dias? Estamos dispostos a ser enviados para qualquer lugar a fim de testemunhar a nossa fé em Deus Pai misericordioso, proclamar o Evangelho da salvação de Jesus Cristo, partilhar a vida divina do Espírito Santo edificando a Igreja? Como Maria, a Mãe de Jesus, estamos prontos a permanecer sem reservas ao serviço da vontade de Deus (cf. Lc 1, 38)? Esta disponibilidade interior é muito importante para se conseguir responder a Deus: Eis-me aqui, Senhor, envia-me (cf. Is 6, 8). E isto respondido não em abstrato, mas no hoje da Igreja e da história.

A compreensão daquilo que Deus nos está a dizer nestes tempos de pandemia torna-se um desafio também para a missão da Igreja. Desafia-nos a doença, a tribulação, o medo, o isolamento. Interpela-nos a pobreza de quem morre sozinho, de quem está abandonado a si mesmo, de quem perde o emprego e o salário, de quem não tem abrigo e comida. Obrigados à distância física e a permanecer em casa, somos convidados a redescobrir que precisamos das relações sociais e também da relação comunitária com Deus. Longe de aumentar a desconfiança e a indiferença, esta condição deveria tornar-nos mais atentos à nossa maneira de nos relacionarmos com os outros. E a oração, na qual Deus toca e move o nosso coração, abre-nos às carências de amor, dignidade e liberdade dos nossos irmãos, bem como ao cuidado por toda a criação. A impossibilidade de nos reunirmos como Igreja para celebrar a Eucaristia fez-nos partilhar a condição de muitas comunidades cristãs que não podem celebrar a Missa todos os domingos. Neste contexto, é-nos dirigida novamente a pergunta de Deus – «quem enviarei?» – e aguarda, de nós, uma resposta generosa e convicta: «Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8). Deus continua a procurar pessoas para enviar ao mundo e às nações, a fim de testemunhar o seu amor, a sua salvação do pecado e da morte, a sua libertação do mal (cf. Mt 9, 35-38; Lc 10, 1-11).

Celebrar o Dia Mundial das Missões significa também reiterar que a oração, a reflexão e a ajuda material das vossas ofertas são oportunidades para participar ativamente na missão de Jesus na sua Igreja. A caridade manifestada nas coletas das celebrações litúrgicas do terceiro domingo de outubro tem por objetivo sustentar o trabalho missionário, realizado em meu nome pelas Obras Missionárias Pontifícias, que acodem às necessidades espirituais e materiais dos povos e das Igrejas de todo o mundo para a salvação de todos.

A Santíssima Virgem Maria, Estrela da Evangelização e Consoladora dos Aflitos, discípula missionária do seu Filho Jesus, continue a amparar-nos e a interceder por nós.

Roma, em São João de Latrão, na Solenidade de Pentecostes, 31 de maio de 2020.

Francisco

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UM ANO PASTORAL SOB A AMEAÇA DE MÁ COMPANHIA

 

Costuma dizer-se que a necessidade aguça o engenho e quem tem boca vai a Roma. Faz parte da vida a tarefa de nos desunharmos das situações difíceis e das crises que nos batem à porta. E as soluções vão surgindo a cada passo, umas mais envergonhadas e tímidas, outras mais audazes e felizes. No entanto, se algumas se apresentam como beco sem saída e a reclamar um sinal de sentido proibido, outras há, a maioria, que vão rasgando caminhos e abrindo portas a novas formas na arte do bem fazer. É bonito de se ver. Mais interessante é ter a coragem de arriscar, com as cautelas que a sã prudência exige, mas com a esperança de vencer os adamastores e sentir a alegria de ter passado além do cabo das tormentas.

Em jornais e páginas da Internet, corre amiúde o pensamento de Albert Einstein sobre o benefício das crises. Sem querer substituir os nossos “operários da verdade” e fazedores de opinião sobre tal matéria, e que são muitos, vou trazer à baila aquele cientista, esse génio da história, muito inspirado pelos livros de ficção científica, segundo rezam as crónicas, e cujos pais o levaram ao médico porque não havia maneira de começar a falar. Mas lá chegou o tempo de falar e falou muito e muito bem, como sabemos. Dizia ele: “Não podemos querer que as coisas mudem, se sempre fazemos o mesmo. A crise é a maior bênção que pode acontecer às pessoas e aos países, porque a crise traz progressos. A criatividade nasce da angústia assim como o dia nasce da noite escura. É na crise que nascem os inventos, os descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise supera-se a si mesmo sem ter sido superado. Quem atribui à crise os seus fracassos e penúrias, violenta o seu próprio talento e respeita mais os problemas que as soluções. A verdadeira crise, é a crise da incompetência. O inconveniente das pessoas e dos países é a dificuldade para encontrar as saídas e as soluções. Sem crises não há desafios, sem desafios a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crises não há méritos. É na crise que aflora o melhor de cada um, porque sem crise todo o vento é uma carícia. Falar da crise é promovê-la, e calar-se na crise é exaltar o conformismo. Em vez disto, trabalhemos duro. Acabemos de uma vez com a única crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la”.

Se isso vale para todos os sectores do pensamento e da atividade humana, a pastoral é uma nobre e necessária atividade em prol da humanidade, tem de fazer parte desse arriscar e dum constante resolver, com competência e criatividade. Mesmo que não seja fácil, é o desafio, é a provocação. O autor da “Última tentação de Cristo”, referindo-se ao momento da morte de Cristo na Cruz, em que Ele, dolorosamente, afirma que “Tudo está consumado!”, esse autor diz que tal grito é um grito triunfal, não porque tudo finalmente tenha acabado, mas porque, realmente, tudo iria começar. Esta é a génese da história da evangelização que não nos permite que fiquemos a olhar para o céu ou a carpir mágoas como profetas da desgraça. Temos de viver como verdadeiros discípulos, de sair, ir e ensinar, com a força do Espírito. Dois mil anos depois, a evangelização ainda está a começar. Ela reclama a gratidão pelo “hoje” desse gesto do amor de Deus para com toda a humanidade. E a Igreja não pode esquecer que ficou incumbida de anunciar a todos os povos, sempre com o tal novo vigor, novo entusiasmo, nova linguagem, novas formas de ação, com criatividade, humildade, alegria, em sinodalidade...

Se as coisas tivessem corrido normalmente, sem a má companhia da covid-19, a abertura oficial do Ano Pastoral, teria acontecido no sábado passado, 26 de setembro. Houve, no entanto, uma bela iniciativa dos jovens diocesanos que em três locais da Diocese, se reuniram, à noite, em oração ao jeito de Taizé. Reuniram-se em conformidade com as normas sanitárias, mas muita gente participou através das redes sociais. Foi bonito e rico de sentido.

Como é do conhecimento de todos, uma das muitas consequências da pandemia, foi a alteração da data da Jornada Mundial da Juventude, adiada por um ano, para 2023. Se para muitos é um atraso e um transtorno, será para outros uma oportunidade, um tempo extra para fazer aquilo que urge fazer para estarmos prontos a tempo de fazer história neste que será um dos maiores ou mesmo o maior acontecimento eclesial em Portugal das nossas vidas.

É para lá que a Igreja portuguesa caminha, a nossa Diocese também. Queremos que este acontecimento não se limite a acontecer perto de nós, mas que aconteça connosco, nos jovens que se preparam para participar presencialmente, mas não só. A Jornada Mundial da Juventude, como horizonte, não é uma coisa apenas para os mais novos, nem apenas para o Secretariado Diocesano da Pastoral da Juventude e Vocações, cuja dinâmica muito apreciamos e tem sido muito persistente mesmo nestes tempos de ação dificultada. É para todos! Queremos que seja para as comunidades a verdadeira baliza para a qual, todos unidos e não como qualquer pivô individualista, haveremos de, durante os próximos anos, apontar as nossas ações e escolhas. Se unidos e sem treinadores de bancada, se como verdadeira e forte equipa com amor à camisola, venceremos as resistências de qualquer guarda-redes, em comunhão paroquial e diocesana, com a força do Espírito.

Queremos que as comunidades estejam despertas para as exigências e as possibilidades evangelizadoras das pré-jornadas, como oportunidade de conversão pastoral, pelo acolhimento de jovens que atravessarão a nossa diocese em direção a Lisboa. Queremos que a dinâmica interrompida, em março passado, seja retomada com o propósito de perguntar aos jovens: “que Igreja?”. Que Igreja veem? Que Igreja querem? Que Igreja sonham? E, sobretudo, com que Igreja se comprometem. Dar espaço e voz aos jovens, aos que estão nas comunidades e, por meio desses, chegar aos que por lá passaram como catequizandos e se afastaram, não é uma hipótese, é uma condição sem a qual não conseguimos ver bem o futuro das nossas comunidades.

Com as portas do ano pastoral escancaradas deste jeito, partimos com esperança jovem, confiando plenamente no Senhor que em nós também confia. E porque confia em nós, a todos nos envia, em seu nome, com a força do Espírito Santo, o verdadeiro protagonista da evangelização. Sim, é o Espírito Santo que acende e guarda a fé nos corações e os detém em suas mãos. É Ele que “inflama e anima a missão”, que “atrai para Si mesmo a vontade dos homens”, como afirma o Papa Francisco na Mensagem deste ano às Obras Missionárias Pontifícias. Aí, Francisco lembra alguns princípios que não podemos esquecer. Só a atração por Cristo e pelo Espirito Santo pode conquistar o nosso coração, o coração de quem anuncia e o coração das pessoas a quem anunciamos. Se esta atração for verdadeira, se este encontro acontecer, a alegria destas pessoas acaba por as colocar em estado de missão, com memória agradecida e humilde, sem arrogância, mas aprendendo de Cristo que é “manso e humilde de coração”. Saberão fazer-se fracos com os fracos, facilitar e não complicar a vida das pessoas, não colocarão obstáculos ao desejo de Jesus que reza por cada um e quer salvar a todos a partir da realidade das suas vidas, com especial preferência pelos humildes e pobres. Saberão que todo o povo de Deus tem o “instinto” da fé, o sensus fidei, que o ajuda a não se enganar nas coisas de Deus em que crê, o que deve merecer o maior respeito pela sua espiritualidade, uma espiritualidade popular, sim, mas é nela que a maior parte bebe e adere de forma conatural à iniciativa livre e gratuita de Deus, como afirma o Papa.

Esta atração por Cristo, este encontro com Ele guiados pelo Espírito, se, de facto, for verdadeiro e fecundo, exclui muitas tentações em quem anuncia, pois há armadilhas a evitar, como refere Francisco. Vou sintetizar algumas para aguçar o apetite de todos lerem a referida Mensagem e a outra para o Dia Mundial das Missões: a autorreferencialidade que funciona em promoção pessoal e tudo faz em chave de publicidade das próprias iniciativas; a ânsia de comando com supremacias e funções de controlo como se a Igreja fosse um produto das nossas análises, programas, acordos e decisões; a ideia tácita de pertencer  a uma aristocracia, a uma classe superior, elitista, que procura ampliar os seus espaços, segundo os sistemas e as lógicas mundanas da militância; um certo sentimento de superioridade e impaciência devido ao facto de o povo talvez até frequentar as paróquias e os santuários, mas não se comprometer nas organizações eclesiais, passando a ser isolado e a ser visto como uma massa inerte a precisar de consciencialização, como se a certeza da fé fosse consequência de um discurso persuasivo ou de métodos de preparação; a abstração que faz perder o contacto com a realidade e tudo elabora estrategicamente segundo chaves ideológicas de preferência promocional, cristalizando tudo num simulacro, incluindo as referências à fé ou os apelos verbais a Jesus e ao Espírito Santo; o funcionalismo que tudo aposta em modelos mundanos de eficiência ou estandardiza todo o anúncio, garantindo a ilusão de resolver os problemas, de ter as coisas sob controle, de melhorar a administração ordinária do que existe, esquecendo-se que uma Igreja que tem medo de se abandonar à graça de Cristo e aposta na eficiência do sistema, já está morta.

Ao iniciarmos o Ano Pastoral com o mês de outubro pela frente, e que tem como tema missionário a resposta do profeta Isaías à sua vocação, não esqueçamos que Deus continua a precisar de pessoas para enviar em seu nome para que anunciem e testemunhem o seu amor pela humanidade. Mesmo que a uns possa pedir uma resposta mais radical, todos devem ser capazes de dar a sua resposta firme, sejam quais forem as suas circunstâncias existenciais: “Aqui estou, Senhor, enviai-me!”, respondeu o profeta. E nestes tempos de dificuldade, é importante que as próprias famílias não se esqueçam desta sua generosa disponibilidade e missão junto dos seus, dentro da própria casa. Como a sociedade seria diferente se cada família se sentisse e vivesse como pequenina Igreja doméstica, a acolher, a esclarecer e ensinar, pela palavra e pelo testemunho, de forma feliz e alegre!...

Com saudações amigas e agradecidas para todos os sacerdotes, diáconos, membros de vida consagrada, agentes da pastoral, órgãos de corresponsabilidade, movimentos de apostolado e todos os diocesanos, formulo votos de bom trabalho ao serviço da causa da evangelização. Que todos encontremos na oração a força que nos une e fortalece na comunhão e na esperança, na fé e na missão, sob o manto protetor de Maria a Estrela da Evangelização.

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