PARÓQUIAS DE NISA
Quarta, 07 outubro de 2020
XXVII semana do
tempo comum
*****************
LITURGIA:
QUARTA-FEIRA
da semana XXVII
Nossa
Senhora do Rosário – MO
Branco – Ofício da memória.
Missa da memória, pf. de Nossa Senhora.
L 1 Gal 2, 1-2. 7-14; Sal 116 (117), 1. 2
Ev Lc 11, 1-4
ou
L 1 Act 1, 12-14; Sal Lc 1, 46-47. 48-49. 50-51. 52-53. 54-55
Ev Lc 1, 26-38
* Na Diocese de Bragança-Miranda – Aniversário da Dedicação da Igreja Catedral
(2001). Na Catedral – SOLENIDADE; nas outras igrejas da Diocese – FESTA
* Na Diocese de Portalegre-Castelo Branco – Aniversário da tomada de posse de
D. Antonino Eugénio Fernandes Dias.
* Na Ordem de São Domingos – Nossa Senhora do Rosário – FESTA; no Convento de
Fátima – SOLENIDADE
* Na Congregação das Missionárias da Caridade – Aniversário da fundação da
Congregação (1946).
* Na Congregação das Missionárias Dominicanas do Rosário – Nossa Senhora do
Rosário, Titular da Congregação – SOLENIDADE
NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO
Nota
Histórica:
Esta comemoração
foi instituída pelo Papa S. Pio V no aniversário da vitória obtida pelos
cristãos na batalha naval de Lepanto e atribuída ao auxílio da Santa Mãe de
Deus, invocada com a oração do Rosário (1571). A celebração deste dia é um
convite a todos os fiéis para que meditem os mistérios de Cristo, em companhia
da Virgem Maria, que foi associada de modo muito especial à encarnação, à
paixão e à ressurreição do Filho de Deus.
Missa
ANTÍFONA
DE ENTRADA cf. Lc 1,
28.42
Avé, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco,
bendita sois Vós entre as mulheres
e bendito é o fruto do vosso ventre.
ORAÇÃO COLECTA
Infundi, Senhor, a vossa graça em nossas almas, para que nós, que, pela
anunciação do Anjo, conhecemos a encarnação de Cristo, vosso Filho, pela sua
paixão e morte na cruz e com a intercessão da bem-aventurada Virgem Maria,
alcancemos a glória da ressurreição. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I (anos pares) Gal 2, 1-2.7-14
«Reconheceram a graça que me foi concedida»
S. Paulo continua a justificar a sua missão apostólica. Depois da sua primeira
viagem missionária, apresentou-se aos outros Apóstolos, em Jerusalém, e
submeteu-se diante deles ao exame sobre a doutrina que pregava. Obteve deles a
aprovação, garantia de que o Evangelho que anunciava era autêntico. Apesar
disso, vê-se obrigado a defender certas posições, que ele considera
fundamentais, perante o próprio S. Pedro, o qual ainda se mostrava um pouco
mais ligado ás tradições da lei judaica.
Leitura da
Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas
Irmãos: Passados catorze anos, subi novamente a Jerusalém com Barnabé e fiz-me
acompanhar também de Tito. Eu subi para lá, de acordo com uma revelação, e
expus o Evangelho que prego entre os gentios, numa reunião particular com os
principais dirigentes, para me assegurar de não correr ou não ter corrido em
vão. Viram então que me estava confiada a evangelização dos que não eram
judeus, como a Pedro a dos que eram judeus. – De facto, Aquele que exercera em
Pedro a sua acção em ordem ao apostolado entre os judeus, tinha-a exercido em
mim em ordem aos gentios –. Por isso, Tiago, Pedro e João, que eram
considerados como as colunas, ao reconhecerem a graça que me fora concedida,
estenderam-nos as mãos, a mim e a Barnabé, em sinal de acordo: Nós seríamos
para os gentios e eles para os judeus. Só nos pediram que nos lembrássemos dos
seus pobres, o que eu procurei pôr em prática com grande diligência. Mas quando
Pedro veio a Antioquia, opus-me a ele abertamente, porque era digno de censura.
De facto, antes de terem vindo alguns homens da parte de Tiago, ele comia com
os gentios. Mas depois de eles chegarem, retirava-se e mantinha-se à parte, com
receio dos partidários da circuncisão. Com ele começaram a dissimular também os
outros judeus, de tal modo que até Barnabé se deixou arrastar pela sua
dissimulação. Quando eu vi que eles não procediam corretamente segundo a
verdade do Evangelho, disse a Pedro diante de todos: «Se tu, que és judeu,
vives à maneira dos gentios e não dos judeus, como podes obrigar os gentios a
proceder como os judeus?».
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Salmo 116 (117), 1.2 (R. Mc 16, 15)
Refrão: Ide por todo o mundo e anunciai a
boa nova. Repete-se
Ou: Aleluia. Repete-se
Louvai o Senhor, todas as nações,
aclamai-O, todos os povos. Refrão
É firme a sua misericórdia para connosco,
a fidelidade do Senhor permanece para sempre. Refrão)
ALELUIA Lc 1, 28
Refrão: Aleluia. Repete-se
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é
convosco;
bendita sois Vós entre as mulheres. Refrão
EVANGELHO Lc 1, 26-38
«Conceberás e darás à luz um Filho»
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia
chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José, que era
descendente de David. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela
estava, disse o Anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo». Ela ficou
perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela. Disse-lhe o
Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e
darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e
chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai
David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim».
Maria disse ao Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?». O Anjo
respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te
cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de
Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o
sexto mês daquela a quem chamavam estéril; porque a Deus nada é impossível».
Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua
palavra».
Palavra da salvação.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Tornai-nos dignos, Senhor, de Vos oferecer este santo sacrifício, de modo que,
celebrando fervorosamente os mistérios do vosso Filho, mereçamos alcançar as
suas promessas. Por Nosso Senhor.
Prefácio de Nossa Senhora I [na
festividade] ou II
ANTÍFONA DA COMUNHÃO cf. Lc 1, 31
O Anjo do Senhor disse a Maria:
Conceberás e darás à luz um Filho e o seu nome será Jesus.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Concedei, Senhor nosso Deus, que, ao anunciarmos neste sacramento a morte e a
ressurreição do vosso Filho, O sigamos fielmente na sua paixão e mereçamos
participar na alegria da sua glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
***********
AGENDA
DO DIA
11.00 horas: Funeral em
Tolosa
17.00 horas: Missa em
Gáfete
18.00 horas: Missa em
Nisa
18.00 horas: Missa em Tolosa.
************
A
VOZ DO PASTOR
OUTUBRO:
MÊS DAS MISSÕES
---------------------------------------------------------------
MENSAGEM
DE SUA SANTIDADE
O PAPA FRANCISCO
PARA O DIA MUNDIAL DAS MISSÕES DE 2020
[18
de outubro de 2020]
«Eis-me
aqui, envia-me» (Is 6, 8)
Queridos irmãos e irmãs!
Desejo manifestar a minha gratidão a Deus pelo empenho com
que, em outubro passado, foi vivido o Mês Missionário Extraordinário em toda a
Igreja. Estou convencido de que isso contribuiu para estimular a conversão
missionária em muitas comunidades pela senda indicada no tema «Batizados e
enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo».
Neste ano, marcado pelas tribulações e desafios causados
pela pandemia do covid-19, este caminho missionário de toda a Igreja continua à
luz da palavra que encontramos na narração da vocação do profeta Isaías: «Eis-me
aqui, envia-me» (Is 6, 8). É a resposta, sempre nova, à pergunta do
Senhor: «Quem enviarei?» (Ibid.). Esta chamada provém do coração de
Deus, da sua misericórdia, que interpela quer a Igreja quer a humanidade na
crise mundial atual. «À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos
surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de
estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas, ao mesmo tempo,
importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de
mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que,
falando a uma só voz, dizem angustiados “vamos perecer” (cf. Mc 4, 38),
assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual
por conta própria, mas só o conseguiremos juntos» (Francisco, Meditação na Praça
de São Pedro,
27/III/2020). Estamos verdadeiramente assustados, desorientados e temerosos. O
sofrimento e a morte fazem-nos experimentar a nossa fragilidade humana; mas, ao
mesmo tempo, todos nos reconhecemos participantes dum forte desejo de vida e de
libertação do mal. Neste contexto, a chamada à missão, o convite a sair de si
mesmo por amor de Deus e do próximo aparece como oportunidade de partilha,
serviço, intercessão. A missão que Deus confia a cada um faz passar do «eu»
medroso e fechado ao «eu» resoluto e renovado pelo dom de si.
No sacrifício da cruz, onde se realiza a missão de Jesus
(cf. Jo 19, 28-30), Deus revela que o seu amor é por todos e cada um
(cf. Jo 19, 26-27). E pede-nos a nossa disponibilidade pessoal para ser
enviados, porque Ele é Amor em perene movimento de missão, sempre em saída de
Si mesmo para dar vida. Por amor dos homens, Deus Pai enviou o Filho Jesus (cf.
Jo 3, 16). Jesus é o Missionário do Pai: a sua Pessoa e a sua obra são,
inteiramente, obediência à vontade do Pai (cf. Jo 4, 34; 6, 38; 8,
12-30; Heb 10, 5-10). Por sua vez, Jesus – crucificado e ressuscitado
por nós –, no seu movimento de amor atrai-nos com o seu próprio Espírito, que
anima a Igreja, torna-nos discípulos de Cristo e envia-nos em missão ao mundo e
às nações.
«A missão, a “Igreja em saída” não é um programa, um intuito
concretizável por um esforço de vontade. É Cristo que faz sair a Igreja de si
mesma. Na missão de anunciar o Evangelho, moves-te porque o Espírito te impele
e conduz (Francisco, Sem Ele nada podemos fazer, 2019, 16-17). Deus é
sempre o primeiro a amar-nos e, com este amor, vem ao nosso encontro e
chama-nos. A nossa vocação pessoal provém do facto de sermos filhos e filhas de
Deus na Igreja, sua família, irmãos e irmãs naquela caridade que Jesus nos
testemunhou. Mas, todos têm uma dignidade humana fundada na vocação divina a
ser filhos de Deus, a tornar-se, no sacramento do Batismo e na liberdade da fé,
aquilo que são desde sempre no coração de Deus.
Já o facto de ter recebido gratuitamente a vida constitui um
convite implícito para entrar na dinâmica do dom de si mesmo: uma semente que,
nos batizados, ganhará forma madura como resposta de amor no matrimónio e na
virgindade pelo Reino de Deus. A vida humana nasce do amor de Deus, cresce no
amor e tende para o amor. Ninguém está excluído do amor de Deus e, no santo
sacrifício de seu Filho Jesus na cruz, Deus venceu o pecado e a morte (cf. Rom
8, 31-39). Para Deus, o mal – incluindo o próprio pecado – torna-se um desafio
para amar, e amar cada vez mais (cf. Mt 5, 38-48; Lc 23, 33-34).
Por isso, no Mistério Pascal, a misericórdia divina cura a ferida primordial da
humanidade e derrama-se sobre o universo inteiro. A Igreja, sacramento
universal do amor de Deus pelo mundo, prolonga na história a missão de Jesus e
envia-nos por toda a parte para que, através do nosso testemunho da fé e do
anúncio do Evangelho, Deus continue a manifestar o seu amor e possa tocar e
transformar corações, mentes, corpos, sociedades e culturas em todo o tempo e
lugar.
A missão é resposta, livre e consciente, à chamada de Deus.
Mas esta chamada só a podemos sentir, quando vivemos[a1] numa relação pessoal de amor com
Jesus vivo na sua Igreja. Perguntemo-nos: estamos prontos a acolher a presença
do Espírito Santo na nossa vida, a ouvir a chamada à missão quer no caminho do
matrimónio, quer no da virgindade consagrada ou do sacerdócio ordenado e, em
todo o caso, na vida comum de todos os dias? Estamos dispostos a ser enviados
para qualquer lugar a fim de testemunhar a nossa fé em Deus Pai misericordioso,
proclamar o Evangelho da salvação de Jesus Cristo, partilhar a vida divina do
Espírito Santo edificando a Igreja? Como Maria, a Mãe de Jesus, estamos prontos
a permanecer sem reservas ao serviço da vontade de Deus (cf. Lc 1, 38)?
Esta disponibilidade interior é muito importante para se conseguir responder a
Deus: Eis-me aqui, Senhor, envia-me (cf. Is 6, 8). E isto respondido não
em abstrato, mas no hoje da Igreja e da história.
A compreensão daquilo que Deus nos está a dizer nestes
tempos de pandemia torna-se um desafio também para a missão da Igreja.
Desafia-nos a doença, a tribulação, o medo, o isolamento. Interpela-nos a
pobreza de quem morre sozinho, de quem está abandonado a si mesmo, de quem perde
o emprego e o salário, de quem não tem abrigo e comida. Obrigados à distância
física e a permanecer em casa, somos convidados a redescobrir que precisamos
das relações sociais e também da relação comunitária com Deus. Longe de
aumentar a desconfiança e a indiferença, esta condição deveria tornar-nos mais
atentos à nossa maneira de nos relacionarmos com os outros. E a oração, na qual
Deus toca e move o nosso coração, abre-nos às carências de amor, dignidade e
liberdade dos nossos irmãos, bem como ao cuidado por toda a criação. A
impossibilidade de nos reunirmos como Igreja para celebrar a Eucaristia fez-nos
partilhar a condição de muitas comunidades cristãs que não podem celebrar a
Missa todos os domingos. Neste contexto, é-nos dirigida novamente a pergunta de
Deus – «quem enviarei?» – e aguarda, de nós, uma resposta generosa e convicta:
«Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8). Deus continua a procurar pessoas para
enviar ao mundo e às nações, a fim de testemunhar o seu amor, a sua salvação do
pecado e da morte, a sua libertação do mal (cf. Mt 9, 35-38; Lc
10, 1-11).
Celebrar o Dia Mundial das Missões significa também reiterar
que a oração, a reflexão e a ajuda material das vossas ofertas são
oportunidades para participar ativamente na missão de Jesus na sua Igreja. A
caridade manifestada nas coletas das celebrações litúrgicas do terceiro domingo
de outubro tem por objetivo sustentar o trabalho missionário, realizado em meu
nome pelas Obras Missionárias Pontifícias, que acodem às necessidades
espirituais e materiais dos povos e das Igrejas de todo o mundo para a salvação
de todos.
A Santíssima Virgem Maria, Estrela da Evangelização e
Consoladora dos Aflitos, discípula missionária do seu Filho Jesus, continue a
amparar-nos e a interceder por nós.
Roma, em São João de Latrão, na Solenidade de Pentecostes,
31 de maio de 2020.
Francisco
*********************
UM ANO PASTORAL SOB A AMEAÇA DE MÁ COMPANHIA
Costuma dizer-se que a necessidade aguça o
engenho e quem tem boca vai a Roma. Faz parte da vida a tarefa de nos
desunharmos das situações difíceis e das crises que nos batem à porta. E as
soluções vão surgindo a cada passo, umas mais envergonhadas e tímidas, outras
mais audazes e felizes. No entanto, se algumas se apresentam como beco sem
saída e a reclamar um sinal de sentido proibido, outras há, a maioria, que vão
rasgando caminhos e abrindo portas a novas formas na arte do bem fazer. É
bonito de se ver. Mais interessante é ter a coragem de arriscar, com as
cautelas que a sã prudência exige, mas com a esperança de vencer os adamastores
e sentir a alegria de ter passado além do cabo das tormentas.
Em jornais e páginas da Internet, corre
amiúde o pensamento de Albert Einstein sobre o benefício das crises. Sem querer
substituir os nossos “operários da verdade” e fazedores de opinião sobre tal
matéria, e que são muitos, vou trazer à baila aquele cientista, esse génio da
história, muito inspirado pelos livros de ficção científica, segundo rezam as
crónicas, e cujos pais o levaram ao médico porque não havia maneira de começar
a falar. Mas lá chegou o tempo de falar e falou muito e muito bem, como
sabemos. Dizia ele: “Não podemos querer que as coisas mudem, se sempre fazemos
o mesmo. A crise é a maior bênção que pode acontecer às pessoas e aos países,
porque a crise traz progressos. A criatividade nasce da angústia assim como o
dia nasce da noite escura. É na crise que nascem os inventos, os descobrimentos
e as grandes estratégias. Quem supera a crise supera-se a si mesmo sem ter sido
superado. Quem atribui à crise os seus fracassos e penúrias, violenta o seu
próprio talento e respeita mais os problemas que as soluções. A verdadeira
crise, é a crise da incompetência. O inconveniente das pessoas e dos países é a
dificuldade para encontrar as saídas e as soluções. Sem crises não há desafios,
sem desafios a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crises não há méritos.
É na crise que aflora o melhor de cada um, porque sem crise todo o vento é uma
carícia. Falar da crise é promovê-la, e calar-se na crise é exaltar o
conformismo. Em vez disto, trabalhemos duro. Acabemos de uma vez com a única
crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la”.
Se isso vale para todos os sectores do
pensamento e da atividade humana, a pastoral é uma nobre e necessária atividade
em prol da humanidade, tem de fazer parte desse arriscar e dum constante
resolver, com competência e criatividade. Mesmo que não seja fácil, é o
desafio, é a provocação. O autor da “Última tentação de Cristo”, referindo-se
ao momento da morte de Cristo na Cruz, em que Ele, dolorosamente, afirma que
“Tudo está consumado!”, esse autor diz que tal grito é um grito triunfal, não
porque tudo finalmente tenha acabado, mas porque, realmente, tudo iria começar.
Esta é a génese da história da evangelização que não nos permite que fiquemos a
olhar para o céu ou a carpir mágoas como profetas da desgraça. Temos de viver
como verdadeiros discípulos, de sair, ir e ensinar, com a força do Espírito.
Dois mil anos depois, a evangelização ainda está a começar. Ela reclama a
gratidão pelo “hoje” desse gesto do amor de Deus para com toda a humanidade. E
a Igreja não pode esquecer que ficou incumbida de anunciar a todos os povos,
sempre com o tal novo vigor, novo entusiasmo, nova linguagem, novas formas de
ação, com criatividade, humildade, alegria, em sinodalidade...
Se as coisas tivessem corrido normalmente,
sem a má companhia da covid-19, a abertura oficial do Ano Pastoral, teria
acontecido no sábado passado, 26 de setembro. Houve, no entanto, uma bela
iniciativa dos jovens diocesanos que em três locais da Diocese, se reuniram, à
noite, em oração ao jeito de Taizé. Reuniram-se em conformidade com as normas
sanitárias, mas muita gente participou através das redes sociais. Foi bonito e
rico de sentido.
Como é do conhecimento de todos, uma das
muitas consequências da pandemia, foi a alteração da data da Jornada Mundial da
Juventude, adiada por um ano, para 2023. Se para muitos é um atraso e um
transtorno, será para outros uma oportunidade, um tempo extra para fazer aquilo
que urge fazer para estarmos prontos a tempo de fazer história neste que será
um dos maiores ou mesmo o maior acontecimento eclesial em Portugal das nossas
vidas.
É para lá que a Igreja portuguesa caminha, a
nossa Diocese também. Queremos que este acontecimento não se limite a acontecer
perto de nós, mas que aconteça connosco, nos jovens que se preparam para
participar presencialmente, mas não só. A Jornada Mundial da Juventude, como
horizonte, não é uma coisa apenas para os mais novos, nem apenas para o
Secretariado Diocesano da Pastoral da Juventude e Vocações, cuja dinâmica muito
apreciamos e tem sido muito persistente mesmo nestes tempos de ação dificultada.
É para todos! Queremos que seja para as comunidades a verdadeira baliza para a
qual, todos unidos e não como qualquer pivô individualista, haveremos de,
durante os próximos anos, apontar as nossas ações e escolhas. Se unidos e sem
treinadores de bancada, se como verdadeira e forte equipa com amor à camisola,
venceremos as resistências de qualquer guarda-redes, em comunhão paroquial e
diocesana, com a força do Espírito.
Queremos que as comunidades estejam despertas
para as exigências e as possibilidades evangelizadoras das pré-jornadas, como
oportunidade de conversão pastoral, pelo acolhimento de jovens que atravessarão
a nossa diocese em direção a Lisboa. Queremos que a dinâmica interrompida, em
março passado, seja retomada com o propósito de perguntar aos jovens: “que
Igreja?”. Que Igreja veem? Que Igreja querem? Que Igreja sonham? E, sobretudo,
com que Igreja se comprometem. Dar espaço e voz aos jovens, aos que estão nas
comunidades e, por meio desses, chegar aos que por lá passaram como catequizandos
e se afastaram, não é uma hipótese, é uma condição sem a qual não conseguimos
ver bem o futuro das nossas comunidades.
Com as portas do ano pastoral escancaradas
deste jeito, partimos com esperança jovem, confiando plenamente no Senhor que
em nós também confia. E porque confia em nós, a todos nos envia, em seu nome,
com a força do Espírito Santo, o verdadeiro protagonista da evangelização. Sim,
é o Espírito Santo que acende e guarda a fé nos corações e os detém em suas
mãos. É Ele que “inflama e anima a missão”, que “atrai para Si mesmo a vontade
dos homens”, como afirma o Papa Francisco na Mensagem deste ano às Obras
Missionárias Pontifícias. Aí, Francisco lembra alguns princípios que não
podemos esquecer. Só a atração por Cristo e pelo Espirito Santo pode conquistar
o nosso coração, o coração de quem anuncia e o coração das pessoas a quem
anunciamos. Se esta atração for verdadeira, se este encontro acontecer, a
alegria destas pessoas acaba por as colocar em estado de missão, com memória
agradecida e humilde, sem arrogância, mas aprendendo de Cristo que é “manso e
humilde de coração”. Saberão fazer-se fracos com os fracos, facilitar e não
complicar a vida das pessoas, não colocarão obstáculos ao desejo de Jesus que
reza por cada um e quer salvar a todos a partir da realidade das suas vidas,
com especial preferência pelos humildes e pobres. Saberão que todo o povo de
Deus tem o “instinto” da fé, o sensus
fidei, que o ajuda a não se enganar nas coisas de Deus em que crê, o que
deve merecer o maior respeito pela sua espiritualidade, uma espiritualidade
popular, sim, mas é nela que a maior parte bebe e adere de forma conatural à
iniciativa livre e gratuita de Deus, como afirma o Papa.
Esta atração por Cristo, este encontro com
Ele guiados pelo Espírito, se, de facto, for verdadeiro e fecundo, exclui
muitas tentações em quem anuncia, pois há armadilhas a evitar, como refere
Francisco. Vou sintetizar algumas para aguçar o apetite de todos lerem a
referida Mensagem e a outra para o Dia Mundial das Missões: a autorreferencialidade
que funciona em promoção pessoal e tudo faz em chave de publicidade das
próprias iniciativas; a ânsia de comando com supremacias e funções de controlo
como se a Igreja fosse um produto das nossas análises, programas, acordos e
decisões; a ideia tácita de pertencer a
uma aristocracia, a uma classe superior, elitista, que procura ampliar os seus
espaços, segundo os sistemas e as lógicas mundanas da militância; um certo
sentimento de superioridade e impaciência devido ao facto de o povo talvez até
frequentar as paróquias e os santuários, mas não se comprometer nas
organizações eclesiais, passando a ser isolado e a ser visto como uma massa
inerte a precisar de consciencialização, como se a certeza da fé fosse
consequência de um discurso persuasivo ou de métodos de preparação; a abstração
que faz perder o contacto com a realidade e tudo elabora estrategicamente
segundo chaves ideológicas de preferência promocional, cristalizando tudo num
simulacro, incluindo as referências à fé ou os apelos verbais a Jesus e ao
Espírito Santo; o funcionalismo que tudo aposta em modelos mundanos de
eficiência ou estandardiza todo o anúncio, garantindo a ilusão de resolver os
problemas, de ter as coisas sob controle, de melhorar a administração ordinária
do que existe, esquecendo-se que uma Igreja que tem medo de se abandonar à
graça de Cristo e aposta na eficiência do sistema, já está morta.
Ao iniciarmos o Ano Pastoral com o mês de
outubro pela frente, e que tem como tema missionário a resposta do profeta
Isaías à sua vocação, não esqueçamos que Deus continua a precisar de pessoas
para enviar em seu nome para que anunciem e testemunhem o seu amor pela
humanidade. Mesmo que a uns possa pedir uma resposta mais radical, todos devem
ser capazes de dar a sua resposta firme, sejam quais forem as suas
circunstâncias existenciais: “Aqui estou, Senhor, enviai-me!”, respondeu o
profeta. E nestes tempos de dificuldade, é importante que as próprias famílias
não se esqueçam desta sua generosa disponibilidade e missão junto dos seus,
dentro da própria casa. Como a sociedade seria diferente se cada família se
sentisse e vivesse como pequenina Igreja doméstica, a acolher, a esclarecer e
ensinar, pela palavra e pelo testemunho, de forma feliz e alegre!...
Com saudações amigas e agradecidas para todos
os sacerdotes, diáconos, membros de vida consagrada, agentes da pastoral,
órgãos de corresponsabilidade, movimentos de apostolado e todos os diocesanos,
formulo votos de bom trabalho ao serviço da causa da evangelização. Que todos
encontremos na oração a força que nos une e fortalece na comunhão e na
esperança, na fé e na missão, sob o manto protetor de Maria a Estrela da
Evangelização.
*************
Sem comentários:
Enviar um comentário