PARÓQUIAS DE NISA
Domingo, 04 outubro de 2020
XXVII domingo do
tempo comum
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LITURGIA:
DOMINGO
XXVII DO TEMPO COMUM
Verde – Ofício do domingo (Semana
III do Saltério). Te Deum.
+ Missa própria, Glória, Credo, pf. dominical.
L 1 Is 5, 1-7; Sal 79 (80), 9 e 12. 13-14. 15-16. 19-20
L 2 Filip 4, 6-9
Ev Mt 21, 33-43
* Proibidas as Missas de defuntos, excepto a exequial.
* Em todas as Dioceses de Portugal – Começa a Semana Nacional da Educação
Cristã.
* Na Diocese de Leiria-Fátima – Ofertório para o «Dia anual da Diocese».
* Na Diocese do Porto – Ofertório para o Fundo de Ajuda aos Sacerdotes.
* Na Ordem Franciscana – S. Francisco de Assis, diácono, Fundador e Titular –
SOLENIDADE
* Na Ordem dos Franciscanos Capuchinhos – Seráfico Pai São Francisco de Assis,
diácono – SOLENIDADE
* Na Ordem Hospitaleira de S. João de Deus (Hospital de S. João de Deus de
Montemor-o-Novo) – Aniversário da Dedicação da Igreja própria – SOLENIDADE
* II Vésp. do domingo – Compl. dep. II Vésp. dom.
Missa
ANTÍFONA DE ENTRADA Est
13, 9.10-11
Senhor, Deus omnipotente,
tudo está sujeito ao vosso poder
e ninguém pode resistir à vossa vontade.
Vós criastes o céu e a terra e todas as maravilhas
que estão sob o firmamento.
Vós sois o Senhor do universo.
ORAÇÃO COLECTA
Deus eterno e omnipotente, que, no vosso amor infinito,
cumulais de bens os que Vos imploram
muito além dos seus méritos e desejos, pela vossa misericórdia,
libertai a nossa consciência de toda a inquietação
e dai-nos o que nem sequer ousamos pedir.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I Is 5, 1-7
«A vinha do Senhor do Universo é a casa de Israel»
Esta primeira leitura ajuda-nos a compreender depois a do Evangelho, que nos
vai falar dos vinhateiros homicidas. A vinha de que uma e outra leitura nos
fala é a casa de Israel, o povo de Deus. O Senhor cuida deste povo como o bom
agricultor cuida das suas vinhas. Mas este povo nem sempre correspondeu ao
carinho que o Senhor teve para com ele.
Leitura do Livro
de Isaías
Vou cantar, em nome do meu amigo, um cântico de amor à sua vinha. O meu amigo
possuía uma vinha numa fértil colina. Lavrou-a e limpou-a das pedras, plantou-a
de cepas escolhidas. No meio dela ergueu uma torre e escavou um lagar. Esperava
que viesse a dar uvas, mas ela só produziu agraços. E agora, habitantes de
Jerusalém, e vós, homens de Judá, sede juízes entre mim e a minha vinha: Que
mais podia fazer à minha vinha que não tivesse feito? Quando eu esperava que
viesse a dar uvas, porque é que apenas produziu agraços? Agora vos direi o que
vou fazer à minha vinha: vou tirar-lhe a vedação e será devastada; vou
demolir-lhe o muro e será espezinhada. Farei dela um terreno deserto: não
voltará a ser podada nem cavada, e nela crescerão silvas e espinheiros; e hei de
mandar às nuvens que sobre ela não deixem cair chuva. A vinha do Senhor do
Universo é a casa de Israel e os homens de Judá são a plantação escolhida. Ele
esperava retidão e só há sangue derramado; esperava justiça e só há gritos de
horror.
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Salmo 79 (80), 9.12.13-14.15-16.19-20 (R. Is
5, 7a)
Refrão: A vinha do Senhor é a casa de
Israel. Repete-se
Arrancastes uma videira do Egipto,
expulsastes as nações para a transplantar.
Estendia até ao mar as suas vergônteas
e até ao rio os seus rebentos. Refrão
Porque lhe destruístes a vedação,
de modo que a vindime
quem quer que passe pelo caminho?
Devastou-a o javali da selva
e serviu de pasto aos animais do campo. Refrão
Deus dos Exércitos, vinde de novo,
olhai dos céus e vede, visitai esta vinha.
Protegei a cepa que a vossa mão direita plantou,
o rebento que fortalecestes para Vós. Refrão
Não mais nos apartaremos de Vós:
fazei-nos viver e invocaremos o vosso nome.
Senhor Deus dos Exércitos, fazei-nos voltar,
iluminai o vosso rosto e seremos salvos. Refrão
LEITURA II Filip 4, 6-9
«Ponde isto em prática e o Deus da paz estará convosco»
No meio de todos os valores deste mundo, que realmente o sejam, os cristãos não
devem ter medo de os apreciar e deles se servirem. Tudo são dons do Deus da
paz, Criador e Senhor de todos eles. Assim respondia o Apóstolo aos primeiros
cristãos que viviam no meio dos pagãos e não sabiam, por vezes, como haviam de
proceder em relação aos valores que encontravam na civilização deles.
Leitura da
Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses
Irmãos: Não vos inquieteis com coisa alguma. Mas, em todas as circunstâncias,
apresentai os vossos pedidos diante de Deus, com orações, súplicas e acções de
graças. E a paz de Deus, que está acima de toda a inteligência, guardará os
vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus. Quanto ao resto,
irmãos, tudo o que é verdadeiro e nobre, tudo o que é justo e puro, tudo o que
é amável e de boa reputação, tudo o que é virtude e digno de louvor é o que deveis
ter no pensamento. O que aprendestes, recebestes, ouvistes e vistes em mim é o
que deveis praticar. E o Deus da paz estará convosco.
Palavra do Senhor.
ALELUIA cf. Jo 15, 16
Refrão: Aleluia. Repete-se
Eu vos escolhi do mundo, para que vades e deis fruto
e o vosso fruto permaneça, diz o Senhor. Refrão
EVANGELHO Mt 21, 33-43
«Arrendará a vinha a outros vinhateiros»
Usando a mesma comparação que já encontrámos na primeira leitura, Jesus como
que faz o julgamento do seu povo, que, no fim de ter sido, já tantas vezes,
infiel a Deus ao longo do Antigo Testamento, agora O rejeita a Ele, o próprio
Filho que Deus lhe enviou. O resultado será que outros virão a aproveitar do
dom que eles rejeitaram. Foi assim que os pagãos, estranhos até então ao povo
de Deus, vieram a entrar no seu povo, a Igreja de Cristo, a que hoje
pertencemos.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo:
«Ouvi outra parábola: Havia um proprietário que plantou uma vinha, cercou-a com
uma sebe, cavou nela um lagar e levantou uma torre; depois, arrendou-a a uns
vinhateiros e partiu para longe. Quando chegou a época das colheitas, mandou os
seus servos aos vinhateiros para receber os frutos. Os vinhateiros, porém,
lançando mão dos servos, espancaram um, mataram outro, e a outro
apedrejaram-no. Tornou ele a mandar outros servos, em maior número que os
primeiros. E eles trataram-nos do mesmo modo. Por fim, mandou-lhes o seu
próprio filho, dizendo: ‘Respeitarão o meu filho’. Mas os vinhateiros, ao verem
o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro; matemo-lo e ficaremos com a sua
herança’. E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e mataram-no. Quando vier o
dono da vinha, que fará àqueles vinhateiros?». Eles responderam: «Mandará matar
sem piedade esses malvados e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe
entreguem os frutos a seu tempo». Disse-lhes Jesus: «Nunca lestes na Escritura:
‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; tudo isto
veio do Senhor e é admirável aos nossos olhos’? Por isso vos digo: Ser-vos-á
tirado o reino de Deus e dado a um povo que produza os seus frutos».
Palavra da salvação.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Aceitai, Senhor, o sacrifício que Vós mesmo nos mandastes oferecer e, por estes
sagrados mistérios que celebramos,
confirmai em nós a obra da redenção. Por Nosso Senhor.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO Lam 3, 25
O Senhor é bom para quem n’Ele confia,
para a alma que O procura.
Ou cf. 1 Cor 10, 17
Porque há um só pão, todos somos um só corpo,
nós que participamos do mesmo cálice e do mesmo pão.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Deus todo-poderoso,
que neste sacramento saciais a nossa fome e a nossa sede,
fazei que, ao comungarmos o Corpo e o Sangue do vosso Filho, nos transformemos
n’Aquele que recebemos.
Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
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AGENDA
DO DIA
09.30 horas: Missa em
Amieira do Tejo
10.00 horas: Missa em
Arez
10.45 horas: Missa em
Tolosa
11.00 horas: Missa em
Nisa
12.00 horas: Missa em
Gáfete
12.00 horas: Missa em
Alpalhão
15.30 horas: Missa no Arneiro
15.30 horas: Missa em
Montalvão
15.30 horas: Missa no
Cacheiro.
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A
VOZ DO PASTOR
OUTUBRO:
MÊS DAS MISSÕES
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MENSAGEM
DE SUA SANTIDADE
O PAPA FRANCISCO
PARA O DIA MUNDIAL DAS MISSÕES DE 2020
[18
de outubro de 2020]
«Eis-me
aqui, envia-me» (Is 6, 8)
Queridos irmãos e irmãs!
Desejo manifestar a minha gratidão a Deus pelo empenho com
que, em outubro passado, foi vivido o Mês Missionário Extraordinário em toda a
Igreja. Estou convencido de que isso contribuiu para estimular a conversão
missionária em muitas comunidades pela senda indicada no tema «Batizados e
enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo».
Neste ano, marcado pelas tribulações e desafios causados
pela pandemia do covid-19, este caminho missionário de toda a Igreja continua à
luz da palavra que encontramos na narração da vocação do profeta Isaías: «Eis-me
aqui, envia-me» (Is 6, 8). É a resposta, sempre nova, à pergunta do
Senhor: «Quem enviarei?» (Ibid.). Esta chamada provém do coração de
Deus, da sua misericórdia, que interpela quer a Igreja quer a humanidade na
crise mundial atual. «À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos
surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de
estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas, ao mesmo tempo,
importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de
mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que,
falando a uma só voz, dizem angustiados “vamos perecer” (cf. Mc 4, 38),
assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual
por conta própria, mas só o conseguiremos juntos» (Francisco, Meditação na Praça
de São Pedro,
27/III/2020). Estamos verdadeiramente assustados, desorientados e temerosos. O
sofrimento e a morte fazem-nos experimentar a nossa fragilidade humana; mas, ao
mesmo tempo, todos nos reconhecemos participantes dum forte desejo de vida e de
libertação do mal. Neste contexto, a chamada à missão, o convite a sair de si
mesmo por amor de Deus e do próximo aparece como oportunidade de partilha,
serviço, intercessão. A missão que Deus confia a cada um faz passar do «eu» medroso
e fechado ao «eu» resoluto e renovado pelo dom de si.
No sacrifício da cruz, onde se realiza a missão de Jesus
(cf. Jo 19, 28-30), Deus revela que o seu amor é por todos e cada um
(cf. Jo 19, 26-27). E pede-nos a nossa disponibilidade pessoal para ser enviados,
porque Ele é Amor em perene movimento de missão, sempre em saída de Si mesmo
para dar vida. Por amor dos homens, Deus Pai enviou o Filho Jesus (cf. Jo
3, 16). Jesus é o Missionário do Pai: a sua Pessoa e a sua obra são,
inteiramente, obediência à vontade do Pai (cf. Jo 4, 34; 6, 38; 8,
12-30; Heb 10, 5-10). Por sua vez, Jesus – crucificado e ressuscitado
por nós –, no seu movimento de amor atrai-nos com o seu próprio Espírito, que
anima a Igreja, torna-nos discípulos de Cristo e envia-nos em missão ao mundo e
às nações.
«A missão, a “Igreja em saída” não é um programa, um intuito
concretizável por um esforço de vontade. É Cristo que faz sair a Igreja de si
mesma. Na missão de anunciar o Evangelho, moves-te porque o Espírito te impele
e conduz (Francisco, Sem Ele nada podemos fazer, 2019, 16-17). Deus é
sempre o primeiro a amar-nos e, com este amor, vem ao nosso encontro e
chama-nos. A nossa vocação pessoal provém do facto de sermos filhos e filhas de
Deus na Igreja, sua família, irmãos e irmãs naquela caridade que Jesus nos
testemunhou. Mas, todos têm uma dignidade humana fundada na vocação divina a
ser filhos de Deus, a tornar-se, no sacramento do Batismo e na liberdade da fé,
aquilo que são desde sempre no coração de Deus.
Já o facto de ter recebido gratuitamente a vida constitui um
convite implícito para entrar na dinâmica do dom de si mesmo: uma semente que,
nos batizados, ganhará forma madura como resposta de amor no matrimónio e na
virgindade pelo Reino de Deus. A vida humana nasce do amor de Deus, cresce no
amor e tende para o amor. Ninguém está excluído do amor de Deus e, no santo
sacrifício de seu Filho Jesus na cruz, Deus venceu o pecado e a morte (cf. Rom
8, 31-39). Para Deus, o mal – incluindo o próprio pecado – torna-se um desafio
para amar, e amar cada vez mais (cf. Mt 5, 38-48; Lc 23, 33-34).
Por isso, no Mistério Pascal, a misericórdia divina cura a ferida primordial da
humanidade e derrama-se sobre o universo inteiro. A Igreja, sacramento
universal do amor de Deus pelo mundo, prolonga na história a missão de Jesus e
envia-nos por toda a parte para que, através do nosso testemunho da fé e do
anúncio do Evangelho, Deus continue a manifestar o seu amor e possa tocar e
transformar corações, mentes, corpos, sociedades e culturas em todo o tempo e
lugar.
A missão é resposta, livre e consciente, à chamada de Deus.
Mas esta chamada só a podemos sentir, quando vivemos numa relação pessoal de
amor com Jesus vivo na sua Igreja. Perguntemo-nos: estamos prontos a acolher a
presença do Espírito Santo na nossa vida, a ouvir a chamada à missão quer no
caminho do matrimónio, quer no da virgindade consagrada ou do sacerdócio
ordenado e, em todo o caso, na vida comum de todos os dias? Estamos dispostos a
ser enviados para qualquer lugar a fim de testemunhar a nossa fé em Deus Pai
misericordioso, proclamar o Evangelho da salvação de Jesus Cristo, partilhar a
vida divina do Espírito Santo edificando a Igreja? Como Maria, a Mãe de Jesus,
estamos prontos a permanecer sem reservas ao serviço da vontade de Deus (cf. Lc
1, 38)? Esta disponibilidade interior é muito importante para se conseguir
responder a Deus: Eis-me aqui, Senhor, envia-me (cf. Is 6, 8). E isto
respondido não em abstrato, mas no hoje da Igreja e da história.
A compreensão daquilo que Deus nos está a dizer nestes
tempos de pandemia torna-se um desafio também para a missão da Igreja.
Desafia-nos a doença, a tribulação, o medo, o isolamento. Interpela-nos a
pobreza de quem morre sozinho, de quem está abandonado a si mesmo, de quem
perde o emprego e o salário, de quem não tem abrigo e comida. Obrigados à
distância física e a permanecer em casa, somos convidados a redescobrir que
precisamos das relações sociais e também da relação comunitária com Deus. Longe
de aumentar a desconfiança e a indiferença, esta condição deveria tornar-nos
mais atentos à nossa maneira de nos relacionarmos com os outros. E a oração, na
qual Deus toca e move o nosso coração, abre-nos às carências de amor, dignidade
e liberdade dos nossos irmãos, bem como ao cuidado por toda a criação. A
impossibilidade de nos reunirmos como Igreja para celebrar a Eucaristia fez-nos
partilhar a condição de muitas comunidades cristãs que não podem celebrar a
Missa todos os domingos. Neste contexto, é-nos dirigida novamente a pergunta de
Deus – «quem enviarei?» – e aguarda, de nós, uma resposta generosa e convicta:
«Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8). Deus continua a procurar pessoas para
enviar ao mundo e às nações, a fim de testemunhar o seu amor, a sua salvação do
pecado e da morte, a sua libertação do mal (cf. Mt 9, 35-38; Lc
10, 1-11).
Celebrar o Dia Mundial das Missões significa também reiterar
que a oração, a reflexão e a ajuda material das vossas ofertas são
oportunidades para participar ativamente na missão de Jesus na sua Igreja. A
caridade manifestada nas coletas das celebrações litúrgicas do terceiro domingo
de outubro tem por objetivo sustentar o trabalho missionário, realizado em meu
nome pelas Obras Missionárias Pontifícias, que acodem às necessidades
espirituais e materiais dos povos e das Igrejas de todo o mundo para a salvação
de todos.
A Santíssima Virgem Maria, Estrela da Evangelização e
Consoladora dos Aflitos, discípula missionária do seu Filho Jesus, continue a
amparar-nos e a interceder por nós.
Roma, em São João de Latrão, na Solenidade de Pentecostes,
31 de maio de 2020.
Francisco
*********************
UM ANO PASTORAL SOB A AMEAÇA DE MÁ COMPANHIA
Costuma dizer-se que a necessidade aguça o
engenho e quem tem boca vai a Roma. Faz parte da vida a tarefa de nos
desunharmos das situações difíceis e das crises que nos batem à porta. E as
soluções vão surgindo a cada passo, umas mais envergonhadas e tímidas, outras
mais audazes e felizes. No entanto, se algumas se apresentam como beco sem
saída e a reclamar um sinal de sentido proibido, outras há, a maioria, que vão
rasgando caminhos e abrindo portas a novas formas na arte do bem fazer. É
bonito de se ver. Mais interessante é ter a coragem de arriscar, com as cautelas
que a sã prudência exige, mas com a esperança de vencer os adamastores e sentir
a alegria de ter passado além do cabo das tormentas.
Em jornais e páginas da Internet, corre amiúde
o pensamento de Albert Einstein sobre o benefício das crises. Sem querer substituir
os nossos “operários da verdade” e fazedores de opinião sobre tal matéria, e
que são muitos, vou trazer à baila aquele cientista, esse génio da história,
muito inspirado pelos livros de ficção científica, segundo rezam as crónicas, e
cujos pais o levaram ao médico porque não havia maneira de começar a falar. Mas
lá chegou o tempo de falar e falou muito e muito bem, como sabemos. Dizia ele:
“Não podemos querer que as coisas mudem, se sempre fazemos o mesmo. A crise é a
maior bênção que pode acontecer às pessoas e aos países, porque a crise traz
progressos. A criatividade nasce da angústia assim como o dia nasce da noite
escura. É na crise que nascem os inventos, os descobrimentos e as grandes
estratégias. Quem supera a crise supera-se a si mesmo sem ter sido superado.
Quem atribui à crise os seus fracassos e penúrias, violenta o seu próprio
talento e respeita mais os problemas que as soluções. A verdadeira crise, é a
crise da incompetência. O inconveniente das pessoas e dos países é a
dificuldade para encontrar as saídas e as soluções. Sem crises não há desafios,
sem desafios a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crises não há méritos.
É na crise que aflora o melhor de cada um, porque sem crise todo o vento é uma
carícia. Falar da crise é promovê-la, e calar-se na crise é exaltar o
conformismo. Em vez disto, trabalhemos duro. Acabemos de uma vez com a única
crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la”.
Se isso vale para todos os sectores do
pensamento e da atividade humana, a pastoral é uma nobre e necessária atividade
em prol da humanidade, tem de fazer parte desse arriscar e dum constante resolver,
com competência e criatividade. Mesmo que não seja fácil, é o desafio, é a
provocação. O autor da “Última tentação de Cristo”, referindo-se ao momento da
morte de Cristo na Cruz, em que Ele, dolorosamente, afirma que “Tudo está
consumado!”, esse autor diz que tal grito é um grito triunfal, não porque tudo
finalmente tenha acabado, mas porque, realmente, tudo iria começar. Esta é a génese
da história da evangelização que não nos permite que fiquemos a olhar para o
céu ou a carpir mágoas como profetas da desgraça. Temos de viver como
verdadeiros discípulos, de sair, ir e ensinar, com a força do Espírito. Dois
mil anos depois, a evangelização ainda está a começar. Ela reclama a gratidão
pelo “hoje” desse gesto do amor de Deus para com toda a humanidade. E a Igreja não
pode esquecer que ficou incumbida de anunciar a todos os povos, sempre com o
tal novo vigor, novo entusiasmo, nova linguagem, novas formas de ação, com criatividade,
humildade, alegria, em sinodalidade...
Se as coisas tivessem corrido normalmente, sem
a má companhia da covid-19, a abertura oficial do Ano Pastoral, teria
acontecido no sábado passado, 26 de setembro. Houve, no entanto, uma bela
iniciativa dos jovens diocesanos que em três locais da Diocese, se reuniram, à
noite, em oração ao jeito de Taizé. Reuniram-se em conformidade com as normas
sanitárias, mas muita gente participou através das redes sociais. Foi bonito e
rico de sentido.
Como é do conhecimento de todos, uma das
muitas consequências da pandemia, foi a alteração da data da Jornada Mundial da
Juventude, adiada por um ano, para 2023. Se para muitos é um atraso e um
transtorno, será para outros uma oportunidade, um tempo extra para fazer aquilo
que urge fazer para estarmos prontos a tempo de fazer história neste que será um
dos maiores ou mesmo o maior acontecimento eclesial em Portugal das nossas
vidas.
É para lá que a Igreja portuguesa caminha, a
nossa Diocese também. Queremos que este acontecimento não se limite a acontecer
perto de nós, mas que aconteça connosco, nos jovens que se preparam para
participar presencialmente, mas não só. A Jornada Mundial da Juventude, como
horizonte, não é uma coisa apenas para os mais novos, nem apenas para o Secretariado
Diocesano da Pastoral da Juventude e Vocações, cuja dinâmica muito apreciamos e
tem sido muito persistente mesmo nestes tempos de ação dificultada. É para
todos! Queremos que seja para as comunidades a verdadeira baliza para a qual, todos
unidos e não como qualquer pivô individualista, haveremos de, durante os
próximos anos, apontar as nossas ações e escolhas. Se unidos e sem treinadores
de bancada, se como verdadeira e forte equipa com amor à camisola, venceremos
as resistências de qualquer guarda-redes, em comunhão paroquial e diocesana,
com a força do Espírito.
Queremos que as comunidades estejam despertas
para as exigências e as possibilidades evangelizadoras das pré-jornadas, como
oportunidade de conversão pastoral, pelo acolhimento de jovens que atravessarão
a nossa diocese em direção a Lisboa. Queremos que a dinâmica interrompida, em
março passado, seja retomada com o propósito de perguntar aos jovens: “que
Igreja?”. Que Igreja veem? Que Igreja querem? Que Igreja sonham? E, sobretudo,
com que Igreja se comprometem. Dar espaço e voz aos jovens, aos que estão nas
comunidades e, por meio desses, chegar aos que por lá passaram como
catequizandos e se afastaram, não é uma hipótese, é uma condição sem a qual não
conseguimos ver bem o futuro das nossas comunidades.
Com as portas do ano pastoral escancaradas
deste jeito, partimos com esperança jovem, confiando plenamente no Senhor que em
nós também confia. E porque confia em nós, a todos nos envia, em seu nome, com
a força do Espírito Santo, o verdadeiro protagonista da evangelização. Sim, é o
Espírito Santo que acende e guarda a fé nos corações e os detém em suas mãos. É
Ele que “inflama e anima a missão”, que “atrai para Si mesmo a vontade dos
homens”, como afirma o Papa Francisco na Mensagem deste ano às Obras
Missionárias Pontifícias. Aí, Francisco lembra alguns princípios que não
podemos esquecer. Só a atração por Cristo e pelo Espirito Santo pode conquistar
o nosso coração, o coração de quem anuncia e o coração das pessoas a quem
anunciamos. Se esta atração for verdadeira, se este encontro acontecer, a
alegria destas pessoas acaba por as colocar em estado de missão, com memória
agradecida e humilde, sem arrogância, mas aprendendo de Cristo que é “manso e
humilde de coração”. Saberão fazer-se fracos com os fracos, facilitar e não
complicar a vida das pessoas, não colocarão obstáculos ao desejo de Jesus que
reza por cada um e quer salvar a todos a partir da realidade das suas vidas,
com especial preferência pelos humildes e pobres. Saberão que todo o povo de
Deus tem o “instinto” da fé, o sensus
fidei, que o ajuda a não se enganar nas coisas de Deus em que crê, o que
deve merecer o maior respeito pela sua espiritualidade, uma espiritualidade
popular, sim, mas é nela que a maior parte bebe e adere de forma conatural à
iniciativa livre e gratuita de Deus, como afirma o Papa.
Esta atração por Cristo, este encontro com
Ele guiados pelo Espírito, se, de facto, for verdadeiro e fecundo, exclui
muitas tentações em quem anuncia, pois há armadilhas a evitar, como refere Francisco.
Vou sintetizar algumas para aguçar o apetite de todos lerem a referida Mensagem
e a outra para o Dia Mundial das Missões: a autorreferencialidade que funciona
em promoção pessoal e tudo faz em chave de publicidade das próprias iniciativas;
a ânsia de comando com supremacias e funções de controlo como se a Igreja fosse
um produto das nossas análises, programas, acordos e decisões; a ideia tácita
de pertencer a uma aristocracia, a uma
classe superior, elitista, que procura ampliar os seus espaços, segundo os
sistemas e as lógicas mundanas da militância; um certo sentimento de
superioridade e impaciência devido ao facto de o povo talvez até frequentar as
paróquias e os santuários, mas não se comprometer nas organizações eclesiais, passando
a ser isolado e a ser visto como uma massa inerte a precisar de
consciencialização, como se a certeza da fé fosse consequência de um discurso
persuasivo ou de métodos de preparação; a abstração que faz perder o contacto
com a realidade e tudo elabora estrategicamente segundo chaves ideológicas de
preferência promocional, cristalizando tudo num simulacro, incluindo as
referências à fé ou os apelos verbais a Jesus e ao Espírito Santo; o
funcionalismo que tudo aposta em modelos mundanos de eficiência ou estandardiza
todo o anúncio, garantindo a ilusão de resolver os problemas, de ter as coisas
sob controle, de melhorar a administração ordinária do que existe,
esquecendo-se que uma Igreja que tem medo de se abandonar à graça de Cristo e
aposta na eficiência do sistema, já está morta.
Ao iniciarmos o Ano Pastoral com o mês de
outubro pela frente, e que tem como tema missionário a resposta do profeta
Isaías à sua vocação, não esqueçamos que Deus continua a precisar de pessoas
para enviar em seu nome para que anunciem e testemunhem o seu amor pela
humanidade. Mesmo que a uns possa pedir uma resposta mais radical, todos devem
ser capazes de dar a sua resposta firme, sejam quais forem as suas
circunstâncias existenciais: “Aqui estou, Senhor, enviai-me!”, respondeu o
profeta. E nestes tempos de dificuldade, é importante que as próprias famílias
não se esqueçam desta sua generosa disponibilidade e missão junto dos seus,
dentro da própria casa. Como a sociedade seria diferente se cada família se
sentisse e vivesse como pequenina Igreja doméstica, a acolher, a esclarecer e
ensinar, pela palavra e pelo testemunho, de forma feliz e alegre!...
Com saudações amigas e agradecidas para todos
os sacerdotes, diáconos, membros de vida consagrada, agentes da pastoral,
órgãos de corresponsabilidade, movimentos de apostolado e todos os diocesanos, formulo
votos de bom trabalho ao serviço da causa da evangelização. Que todos
encontremos na oração a força que nos une e fortalece na comunhão e na
esperança, na fé e na missão, sob o manto protetor de Maria a Estrela da
Evangelização.
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