PARÓQUIAS DE NISA
Segunda, 05 outubro de 2020
XXVII semana do
tempo comum
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LITURGIA:
SEGUNDA-FEIRA
da semana XXVII
Santa Faustina Kowalska – MF
Verde ou br. – Ofício da féria ou da memória.
Missa à escolha (cf. p. 19, n. 18).
L 1 Gal 1, 6-12; Sal 110 (111), 1-2. 4-5. 7-8. 9-10ac
Ev Lc 10, 25-37
* Na Ordem dos Franciscanos Capuchinhos – Comemoração de todos os Irmãos da
Ordem, pais e benfeitores falecidos – MO
* Na Ordem de São Domingos – B. Raimundo de Cápua, presbítero – MF
* Na Congregação Salesiana – B. Alberto Marvelli – MF
* Na Congregação do Santíssimo Redentor – B. Francisco Xavier Seelos,
presbítero – MO
* Na Ordem Cartusiana – I Vésp. de S. Bruno.
Missa
ANTÍFONA DE ENTRADA Est
13, 9.10-11
Senhor, Deus omnipotente, tudo está sujeito ao vosso poder
e ninguém pode resistir à vossa vontade.
Vós criastes o céu e a terra e todas as maravilhas
que estão sob o firmamento.
Vós sois o Senhor do universo.
ORAÇÃO COLECTA
Deus eterno e omnipotente, que, no vosso amor infinito,
cumulais de bens os que Vos imploram
muito além dos seus méritos e desejos, pela vossa misericórdia,
libertai a nossa consciência de toda a inquietação
e dai-nos o que nem sequer ousamos pedir.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I (anos pares) Gal 1, 6-12
«Não recebi ou aprendi o Evangelho de nenhum homem,
mas por uma revelação de Jesus Cristo»
Começamos hoje a leitura da Epístola aos Gálatas. A razão de ser desta epístola
é a afirmação de que a fé em Jesus Cristo inaugura uma era nova e a de que os
cristãos já não estão, por isso, sujeitos aos preceitos da lei de Moisés. Esta
afirmação tinha já causado reacção em certos cristãos vindos de entre os
Judeus; é por isso que S. Paulo começa a sua carta por afirmar a sua autoridade
de Apóstolo, como hoje se lê, a fim de as suas palavras não deixarem dúvidas
nos seus leitores.
Leitura da
Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas
Irmãos: Surpreende-me que tão depressa tenhais abandonado Aquele que vos chamou
pela graça de Cristo, para passar a outro evangelho. Não que haja outro
evangelho; mas há pessoas que vos perturbam e pretendem mudar o Evangelho de
Cristo. Mas se alguém – ainda que fosse eu próprio ou um Anjo do Céu – vos
anunciar um evangelho diferente daquele que nós vos anunciamos, seja anátema.
Como já vo-lo dissemos, volto a dizê-lo: Se alguém vos anunciar um evangelho
diferente daquele que recebestes, seja anátema. Estarei eu agora a captar o
favor dos homens ou o de Deus? Acaso pro¬curo agradar aos homens? Se eu ainda
pretendesse agradar aos homens, não seria servo de Cristo. Quero que saibais,
irmãos: o Evangelho anunciado por mim não é de inspiração humana, porque não o
recebi ou aprendi de nenhum homem, mas por uma revelação de Jesus Cristo.
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Salmo 110 (111), 1-2.4-5.7-8.9-10ac (R. 5b)
Refrão: O Senhor recorda a sua aliança
para sempre. Repete-se
Ou: Aleluia. Repete-se
Louvarei o Senhor de todo o coração,
no conselho dos justos e na assembleia.
Grandes são as obras do Senhor,
admiráveis para os que nelas meditam. Refrão
Instituiu um memorial das suas maravilhas:
o Senhor é misericordioso e compassivo.
Deu sustento àqueles que O temem
e jamais esquecerá a sua aliança. Refrão
Fiéis e justas são as obras das suas mãos,
são imutáveis todos os seus preceitos,
irrevogáveis pelos séculos dos séculos,
estabelecidos na rectidão e na verdade. Refrão
Enviou a redenção ao seu povo,
firmou com ele uma aliança eterna;
santo e venerável é o seu nome,
o louvor do Senhor permanece para sempre. Refrão
ALELUIA Jo 13, 34
Refrão: Aleluia. Repete-se
Dou-vos um mandamento novo, diz o Senhor:
amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Refrão
EVANGELHO Lc 10, 25-37
«Quem é o meu próximo?»
Nesta parábola se mostra como um estrangeiro entendeu melhor o preceito da
caridade fraterna do que os membros do povo de Deus. O próximo está ao nosso
lado e não é necessário fazer escolhas para o encontrar. A parábola é ainda um
sinal da vocação dos pagãos ao Evangelho. Uma antiga tradição interpreta o bom
Samaritano como sendo o próprio Cristo, que Se abeirou de nós, estranhos a Ele,
para nos curar.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, levantou-se um doutor da lei e perguntou a Jesus para O experimentar:
«Mestre, que hei-de fazer para receber como herança a vida eterna?». Jesus
disse-lhe: «Que está escrito na lei? Como lês tu?». Ele respondeu: «Amarás o
Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, com todas as tuas
forças e com todo o teu entendimento; e ao próximo como a ti mesmo». Disse-lhe
Jesus: «Respondeste bem. Faz isso e viverás». Mas ele, querendo justificar-se,
perguntou a Jesus: «E quem é o meu próximo?». Jesus, tomando a palavra, disse:
«Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores.
Roubaram-lhe tudo o que levava, espancaram-no e foram-se embora, deixando-o
meio morto. Por coincidência, descia pelo mesmo caminho um sacerdote; viu-o e
passou adiante. Do mesmo modo, um levita que vinha por aquele lugar, viu-o e
passou também adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, passou junto dele
e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas
deitando azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para
uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirou duas moedas, deu-as ao
estalajadeiro e disse: ‘Trata bem dele; e o que gastares a mais eu to pagarei
quando voltar’. Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que
caiu nas mãos dos salteadores?». O doutor da lei respondeu: «O que teve
compaixão dele». Disse-lhe Jesus: «Então vai e faz o mesmo».
Palavra da salvação.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Aceitai, Senhor, o sacrifício
que Vós mesmo nos mandastes oferecer
e, por estes sagrados mistérios que celebramos,
confirmai em nós a obra da redenção.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO Lam 3, 25
O Senhor é bom para quem n’Ele confia,
para a alma que O procura.
Ou cf. 1 Cor 10, 17
Porque há um só pão, todos somos um só corpo,
nós que participamos do mesmo cálice e do mesmo pão.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Deus todo-poderoso,
que neste sacramento saciais a nossa fome e a nossa sede,
fazei que, ao comungarmos o Corpo e o Sangue do vosso Filho,
nos transformemos n’Aquele que recebemos.
Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
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AGENDA
DO DIA
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A
VOZ DO PASTOR
OUTUBRO:
MÊS DAS MISSÕES
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MENSAGEM
DE SUA SANTIDADE
O PAPA FRANCISCO
PARA O DIA MUNDIAL DAS MISSÕES DE 2020
[18
de outubro de 2020]
«Eis-me
aqui, envia-me» (Is 6, 8)
Queridos irmãos e irmãs!
Desejo manifestar a minha gratidão a Deus pelo empenho com
que, em outubro passado, foi vivido o Mês Missionário Extraordinário em toda a
Igreja. Estou convencido de que isso contribuiu para estimular a conversão
missionária em muitas comunidades pela senda indicada no tema «Batizados e
enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo».
Neste ano, marcado pelas tribulações e desafios causados
pela pandemia do covid-19, este caminho missionário de toda a Igreja continua à
luz da palavra que encontramos na narração da vocação do profeta Isaías: «Eis-me
aqui, envia-me» (Is 6, 8). É a resposta, sempre nova, à pergunta do
Senhor: «Quem enviarei?» (Ibid.). Esta chamada provém do coração de
Deus, da sua misericórdia, que interpela quer a Igreja quer a humanidade na
crise mundial atual. «À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos
surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de
estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas, ao mesmo tempo,
importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de
mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que,
falando a uma só voz, dizem angustiados “vamos perecer” (cf. Mc 4, 38),
assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual
por conta própria, mas só o conseguiremos juntos» (Francisco, Meditação na Praça
de São Pedro,
27/III/2020). Estamos verdadeiramente assustados, desorientados e temerosos. O
sofrimento e a morte fazem-nos experimentar a nossa fragilidade humana; mas, ao
mesmo tempo, todos nos reconhecemos participantes dum forte desejo de vida e de
libertação do mal. Neste contexto, a chamada à missão, o convite a sair de si
mesmo por amor de Deus e do próximo aparece como oportunidade de partilha,
serviço, intercessão. A missão que Deus confia a cada um faz passar do «eu»
medroso e fechado ao «eu» resoluto e renovado pelo dom de si.
No sacrifício da cruz, onde se realiza a missão de Jesus
(cf. Jo 19, 28-30), Deus revela que o seu amor é por todos e cada um
(cf. Jo 19, 26-27). E pede-nos a nossa disponibilidade pessoal para ser
enviados, porque Ele é Amor em perene movimento de missão, sempre em saída de
Si mesmo para dar vida. Por amor dos homens, Deus Pai enviou o Filho Jesus (cf.
Jo 3, 16). Jesus é o Missionário do Pai: a sua Pessoa e a sua obra são,
inteiramente, obediência à vontade do Pai (cf. Jo 4, 34; 6, 38; 8,
12-30; Heb 10, 5-10). Por sua vez, Jesus – crucificado e ressuscitado
por nós –, no seu movimento de amor atrai-nos com o seu próprio Espírito, que
anima a Igreja, torna-nos discípulos de Cristo e envia-nos em missão ao mundo e
às nações.
«A missão, a “Igreja em saída” não é um programa, um intuito
concretizável por um esforço de vontade. É Cristo que faz sair a Igreja de si
mesma. Na missão de anunciar o Evangelho, moves-te porque o Espírito te impele
e conduz (Francisco, Sem Ele nada podemos fazer, 2019, 16-17). Deus é
sempre o primeiro a amar-nos e, com este amor, vem ao nosso encontro e
chama-nos. A nossa vocação pessoal provém do facto de sermos filhos e filhas de
Deus na Igreja, sua família, irmãos e irmãs naquela caridade que Jesus nos
testemunhou. Mas, todos têm uma dignidade humana fundada na vocação divina a
ser filhos de Deus, a tornar-se, no sacramento do Batismo e na liberdade da fé,
aquilo que são desde sempre no coração de Deus.
Já o facto de ter recebido gratuitamente a vida constitui um
convite implícito para entrar na dinâmica do dom de si mesmo: uma semente que,
nos batizados, ganhará forma madura como resposta de amor no matrimónio e na
virgindade pelo Reino de Deus. A vida humana nasce do amor de Deus, cresce no
amor e tende para o amor. Ninguém está excluído do amor de Deus e, no santo
sacrifício de seu Filho Jesus na cruz, Deus venceu o pecado e a morte (cf. Rom
8, 31-39). Para Deus, o mal – incluindo o próprio pecado – torna-se um desafio
para amar, e amar cada vez mais (cf. Mt 5, 38-48; Lc 23, 33-34).
Por isso, no Mistério Pascal, a misericórdia divina cura a ferida primordial da
humanidade e derrama-se sobre o universo inteiro. A Igreja, sacramento
universal do amor de Deus pelo mundo, prolonga na história a missão de Jesus e
envia-nos por toda a parte para que, através do nosso testemunho da fé e do
anúncio do Evangelho, Deus continue a manifestar o seu amor e possa tocar e
transformar corações, mentes, corpos, sociedades e culturas em todo o tempo e
lugar.
A missão é resposta, livre e consciente, à chamada de Deus.
Mas esta chamada só a podemos sentir, quando vivemos[a1] numa relação pessoal de amor com
Jesus vivo na sua Igreja. Perguntemo-nos: estamos prontos a acolher a presença
do Espírito Santo na nossa vida, a ouvir a chamada à missão quer no caminho do
matrimónio, quer no da virgindade consagrada ou do sacerdócio ordenado e, em
todo o caso, na vida comum de todos os dias? Estamos dispostos a ser enviados
para qualquer lugar a fim de testemunhar a nossa fé em Deus Pai misericordioso,
proclamar o Evangelho da salvação de Jesus Cristo, partilhar a vida divina do
Espírito Santo edificando a Igreja? Como Maria, a Mãe de Jesus, estamos prontos
a permanecer sem reservas ao serviço da vontade de Deus (cf. Lc 1, 38)?
Esta disponibilidade interior é muito importante para se conseguir responder a
Deus: Eis-me aqui, Senhor, envia-me (cf. Is 6, 8). E isto respondido não
em abstrato, mas no hoje da Igreja e da história.
A compreensão daquilo que Deus nos está a dizer nestes
tempos de pandemia torna-se um desafio também para a missão da Igreja.
Desafia-nos a doença, a tribulação, o medo, o isolamento. Interpela-nos a
pobreza de quem morre sozinho, de quem está abandonado a si mesmo, de quem
perde o emprego e o salário, de quem não tem abrigo e comida. Obrigados à
distância física e a permanecer em casa, somos convidados a redescobrir que
precisamos das relações sociais e também da relação comunitária com Deus. Longe
de aumentar a desconfiança e a indiferença, esta condição deveria tornar-nos
mais atentos à nossa maneira de nos relacionarmos com os outros. E a oração, na
qual Deus toca e move o nosso coração, abre-nos às carências de amor, dignidade
e liberdade dos nossos irmãos, bem como ao cuidado por toda a criação. A
impossibilidade de nos reunirmos como Igreja para celebrar a Eucaristia fez-nos
partilhar a condição de muitas comunidades cristãs que não podem celebrar a
Missa todos os domingos. Neste contexto, é-nos dirigida novamente a pergunta de
Deus – «quem enviarei?» – e aguarda, de nós, uma resposta generosa e convicta:
«Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8). Deus continua a procurar pessoas para
enviar ao mundo e às nações, a fim de testemunhar o seu amor, a sua salvação do
pecado e da morte, a sua libertação do mal (cf. Mt 9, 35-38; Lc
10, 1-11).
Celebrar o Dia Mundial das Missões significa também reiterar
que a oração, a reflexão e a ajuda material das vossas ofertas são
oportunidades para participar ativamente na missão de Jesus na sua Igreja. A
caridade manifestada nas coletas das celebrações litúrgicas do terceiro domingo
de outubro tem por objetivo sustentar o trabalho missionário, realizado em meu
nome pelas Obras Missionárias Pontifícias, que acodem às necessidades
espirituais e materiais dos povos e das Igrejas de todo o mundo para a salvação
de todos.
A Santíssima Virgem Maria, Estrela da Evangelização e
Consoladora dos Aflitos, discípula missionária do seu Filho Jesus, continue a
amparar-nos e a interceder por nós.
Roma, em São João de Latrão, na Solenidade de Pentecostes,
31 de maio de 2020.
Francisco
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UM ANO PASTORAL SOB A AMEAÇA DE MÁ COMPANHIA
Costuma dizer-se que a necessidade aguça o
engenho e quem tem boca vai a Roma. Faz parte da vida a tarefa de nos desunharmos
das situações difíceis e das crises que nos batem à porta. E as soluções vão
surgindo a cada passo, umas mais envergonhadas e tímidas, outras mais audazes e
felizes. No entanto, se algumas se apresentam como beco sem saída e a reclamar
um sinal de sentido proibido, outras há, a maioria, que vão rasgando caminhos e
abrindo portas a novas formas na arte do bem fazer. É bonito de se ver. Mais
interessante é ter a coragem de arriscar, com as cautelas que a sã prudência
exige, mas com a esperança de vencer os adamastores e sentir a alegria de ter
passado além do cabo das tormentas.
Em jornais e páginas da Internet, corre
amiúde o pensamento de Albert Einstein sobre o benefício das crises. Sem querer
substituir os nossos “operários da verdade” e fazedores de opinião sobre tal
matéria, e que são muitos, vou trazer à baila aquele cientista, esse génio da
história, muito inspirado pelos livros de ficção científica, segundo rezam as
crónicas, e cujos pais o levaram ao médico porque não havia maneira de começar
a falar. Mas lá chegou o tempo de falar e falou muito e muito bem, como
sabemos. Dizia ele: “Não podemos querer que as coisas mudem, se sempre fazemos
o mesmo. A crise é a maior bênção que pode acontecer às pessoas e aos países,
porque a crise traz progressos. A criatividade nasce da angústia assim como o
dia nasce da noite escura. É na crise que nascem os inventos, os descobrimentos
e as grandes estratégias. Quem supera a crise supera-se a si mesmo sem ter sido
superado. Quem atribui à crise os seus fracassos e penúrias, violenta o seu
próprio talento e respeita mais os problemas que as soluções. A verdadeira
crise, é a crise da incompetência. O inconveniente das pessoas e dos países é a
dificuldade para encontrar as saídas e as soluções. Sem crises não há desafios,
sem desafios a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crises não há méritos.
É na crise que aflora o melhor de cada um, porque sem crise todo o vento é uma
carícia. Falar da crise é promovê-la, e calar-se na crise é exaltar o
conformismo. Em vez disto, trabalhemos duro. Acabemos de uma vez com a única
crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la”.
Se isso vale para todos os sectores do
pensamento e da atividade humana, a pastoral é uma nobre e necessária atividade
em prol da humanidade, tem de fazer parte desse arriscar e dum constante
resolver, com competência e criatividade. Mesmo que não seja fácil, é o
desafio, é a provocação. O autor da “Última tentação de Cristo”, referindo-se
ao momento da morte de Cristo na Cruz, em que Ele, dolorosamente, afirma que
“Tudo está consumado!”, esse autor diz que tal grito é um grito triunfal, não
porque tudo finalmente tenha acabado, mas porque, realmente, tudo iria começar.
Esta é a génese da história da evangelização que não nos permite que fiquemos a
olhar para o céu ou a carpir mágoas como profetas da desgraça. Temos de viver
como verdadeiros discípulos, de sair, ir e ensinar, com a força do Espírito.
Dois mil anos depois, a evangelização ainda está a começar. Ela reclama a gratidão
pelo “hoje” desse gesto do amor de Deus para com toda a humanidade. E a Igreja
não pode esquecer que ficou incumbida de anunciar a todos os povos, sempre com
o tal novo vigor, novo entusiasmo, nova linguagem, novas formas de ação, com
criatividade, humildade, alegria, em sinodalidade...
Se as coisas tivessem corrido normalmente,
sem a má companhia da covid-19, a abertura oficial do Ano Pastoral, teria
acontecido no sábado passado, 26 de setembro. Houve, no entanto, uma bela
iniciativa dos jovens diocesanos que em três locais da Diocese, se reuniram, à
noite, em oração ao jeito de Taizé. Reuniram-se em conformidade com as normas
sanitárias, mas muita gente participou através das redes sociais. Foi bonito e
rico de sentido.
Como é do conhecimento de todos, uma das
muitas consequências da pandemia, foi a alteração da data da Jornada Mundial da
Juventude, adiada por um ano, para 2023. Se para muitos é um atraso e um
transtorno, será para outros uma oportunidade, um tempo extra para fazer aquilo
que urge fazer para estarmos prontos a tempo de fazer história neste que será
um dos maiores ou mesmo o maior acontecimento eclesial em Portugal das nossas
vidas.
É para lá que a Igreja portuguesa caminha, a
nossa Diocese também. Queremos que este acontecimento não se limite a acontecer
perto de nós, mas que aconteça connosco, nos jovens que se preparam para
participar presencialmente, mas não só. A Jornada Mundial da Juventude, como
horizonte, não é uma coisa apenas para os mais novos, nem apenas para o
Secretariado Diocesano da Pastoral da Juventude e Vocações, cuja dinâmica muito
apreciamos e tem sido muito persistente mesmo nestes tempos de ação
dificultada. É para todos! Queremos que seja para as comunidades a verdadeira
baliza para a qual, todos unidos e não como qualquer pivô individualista,
haveremos de, durante os próximos anos, apontar as nossas ações e escolhas. Se
unidos e sem treinadores de bancada, se como verdadeira e forte equipa com amor
à camisola, venceremos as resistências de qualquer guarda-redes, em comunhão
paroquial e diocesana, com a força do Espírito.
Queremos que as comunidades estejam despertas
para as exigências e as possibilidades evangelizadoras das pré-jornadas, como
oportunidade de conversão pastoral, pelo acolhimento de jovens que atravessarão
a nossa diocese em direção a Lisboa. Queremos que a dinâmica interrompida, em
março passado, seja retomada com o propósito de perguntar aos jovens: “que
Igreja?”. Que Igreja veem? Que Igreja querem? Que Igreja sonham? E, sobretudo,
com que Igreja se comprometem. Dar espaço e voz aos jovens, aos que estão nas
comunidades e, por meio desses, chegar aos que por lá passaram como
catequizandos e se afastaram, não é uma hipótese, é uma condição sem a qual não
conseguimos ver bem o futuro das nossas comunidades.
Com as portas do ano pastoral escancaradas
deste jeito, partimos com esperança jovem, confiando plenamente no Senhor que
em nós também confia. E porque confia em nós, a todos nos envia, em seu nome,
com a força do Espírito Santo, o verdadeiro protagonista da evangelização. Sim,
é o Espírito Santo que acende e guarda a fé nos corações e os detém em suas
mãos. É Ele que “inflama e anima a missão”, que “atrai para Si mesmo a vontade
dos homens”, como afirma o Papa Francisco na Mensagem deste ano às Obras
Missionárias Pontifícias. Aí, Francisco lembra alguns princípios que não
podemos esquecer. Só a atração por Cristo e pelo Espirito Santo pode conquistar
o nosso coração, o coração de quem anuncia e o coração das pessoas a quem
anunciamos. Se esta atração for verdadeira, se este encontro acontecer, a
alegria destas pessoas acaba por as colocar em estado de missão, com memória
agradecida e humilde, sem arrogância, mas aprendendo de Cristo que é “manso e
humilde de coração”. Saberão fazer-se fracos com os fracos, facilitar e não
complicar a vida das pessoas, não colocarão obstáculos ao desejo de Jesus que
reza por cada um e quer salvar a todos a partir da realidade das suas vidas,
com especial preferência pelos humildes e pobres. Saberão que todo o povo de Deus
tem o “instinto” da fé, o sensus fidei,
que o ajuda a não se enganar nas coisas de Deus em que crê, o que deve merecer
o maior respeito pela sua espiritualidade, uma espiritualidade popular, sim,
mas é nela que a maior parte bebe e adere de forma conatural à iniciativa livre
e gratuita de Deus, como afirma o Papa.
Esta atração por Cristo, este encontro com
Ele guiados pelo Espírito, se, de facto, for verdadeiro e fecundo, exclui
muitas tentações em quem anuncia, pois há armadilhas a evitar, como refere
Francisco. Vou sintetizar algumas para aguçar o apetite de todos lerem a
referida Mensagem e a outra para o Dia Mundial das Missões: a
autorreferencialidade que funciona em promoção pessoal e tudo faz em chave de
publicidade das próprias iniciativas; a ânsia de comando com supremacias e
funções de controlo como se a Igreja fosse um produto das nossas análises,
programas, acordos e decisões; a ideia tácita de pertencer a uma aristocracia, a uma classe superior,
elitista, que procura ampliar os seus espaços, segundo os sistemas e as lógicas
mundanas da militância; um certo sentimento de superioridade e impaciência
devido ao facto de o povo talvez até frequentar as paróquias e os santuários,
mas não se comprometer nas organizações eclesiais, passando a ser isolado e a
ser visto como uma massa inerte a precisar de consciencialização, como se a
certeza da fé fosse consequência de um discurso persuasivo ou de métodos de
preparação; a abstração que faz perder o contacto com a realidade e tudo
elabora estrategicamente segundo chaves ideológicas de preferência promocional,
cristalizando tudo num simulacro, incluindo as referências à fé ou os apelos
verbais a Jesus e ao Espírito Santo; o funcionalismo que tudo aposta em modelos
mundanos de eficiência ou estandardiza todo o anúncio, garantindo a ilusão de
resolver os problemas, de ter as coisas sob controle, de melhorar a
administração ordinária do que existe, esquecendo-se que uma Igreja que tem
medo de se abandonar à graça de Cristo e aposta na eficiência do sistema, já
está morta.
Ao iniciarmos o Ano Pastoral com o mês de
outubro pela frente, e que tem como tema missionário a resposta do profeta
Isaías à sua vocação, não esqueçamos que Deus continua a precisar de pessoas
para enviar em seu nome para que anunciem e testemunhem o seu amor pela
humanidade. Mesmo que a uns possa pedir uma resposta mais radical, todos devem
ser capazes de dar a sua resposta firme, sejam quais forem as suas
circunstâncias existenciais: “Aqui estou, Senhor, enviai-me!”, respondeu o
profeta. E nestes tempos de dificuldade, é importante que as próprias famílias
não se esqueçam desta sua generosa disponibilidade e missão junto dos seus,
dentro da própria casa. Como a sociedade seria diferente se cada família se
sentisse e vivesse como pequenina Igreja doméstica, a acolher, a esclarecer e
ensinar, pela palavra e pelo testemunho, de forma feliz e alegre!...
Com saudações amigas e agradecidas para todos
os sacerdotes, diáconos, membros de vida consagrada, agentes da pastoral,
órgãos de corresponsabilidade, movimentos de apostolado e todos os diocesanos,
formulo votos de bom trabalho ao serviço da causa da evangelização. Que todos
encontremos na oração a força que nos une e fortalece na comunhão e na
esperança, na fé e na missão, sob o manto protetor de Maria a Estrela da
Evangelização.
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