Paróquias
de Nisa
SEXTA-FEIRA, 5 DE
MARÇO DE 2021
PARÓQUIAS DE NISA
Domingo, 07 de março de 2021
III semana da quaresma
LITURGIA
DOMINGO
III DA QUARESMA
Roxo – Ofício próprio (Semana III do Saltério).
+ Missa própria, Credo, pf. da Quaresma.
L 1 Ex 20, 1-17 ou Ex 20, 1-3. 7-8. 12-17; Sal 18 (19), 8. 9. 10. 11
L 2 1 Cor 1, 22-25
Ev Jo 2, 13-25
Em vez das leituras acima indicadas, podem tomar-se as leituras do Ano A, se
for mais oportuno e devem tomar-se se houver escrutínios de catecúmenos.
* Proibidas todas as Missas de defuntos, mesmo a exequial.
* Em todas as Dioceses de Portugal – Ofertório para a Cáritas Portuguesa.
* Na Diocese de Mindelo (Cabo Verde) – Ofertório para a Fraternidade
Sacerdotal.
* II Vésp. do domingo – Compl. dep. II Vésp. dom.
MISSA
ANTÍFONA
DE ENTRADA Salmo 24,
15-16
Os meus olhos estão voltados para o Senhor,
porque Ele livra os meus pés da armadilha.
Olhai para mim, Senhor, e tende compaixão
porque estou só e desamparado.
Ou Ez 36, 23-26
Quando Eu manifestar em vós a minha santidade,
reunir-vos-ei de todos os povos;
derramarei sobre vós água pura,
e ficareis limpos de toda a iniquidade.
Eu vos darei um espírito novo, diz o Senhor.
Não se diz o Glória.
ORAÇÃO COLECTA
Deus, Pai de misericórdia e fonte de toda a bondade,
que nos fizestes encontrar no jejum,
na oração e no amor fraterno
os remédios do pecado,
olhai benigno para a confissão da nossa humildade,
de modo que, abatidos pela consciência da culpa,
sejamos confortados pela vossa misericórdia.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I – Forma longa Ex 20, 1-17
«A lei foi dada por Moisés» (Jo 1, 17)
Na continuação das passagens especialmente significativas da história da
salvação, lemos hoje a história de Moisés, o condutor do povo de Deus através
do deserto, e aquele por meio de quem o Senhor deu a Lei que há-de orientar
para Si os passos do seu povo. Moisés é, assim, uma figura de Jesus, o
verdadeiro Pastor do Povo de Deus, como no Tempo da Páscoa O iremos contemplar.
Leitura do Livro
do Êxodo
Naqueles
dias, Deus pronunciou todas estas palavras: «Eu sou o Senhor teu Deus, que te
tirei da terra do Egipto, dessa casa de escravidão. Não terás outros deuses
perante Mim. Não farás para ti qualquer imagem esculpida, nem figura do que
existe lá no alto dos céus ou cá em baixo na terra ou nas águas debaixo da
terra. Não adorarás outros deuses nem lhes prestarás culto. Eu, o Senhor teu
Deus, sou um Deus cioso: castigo a ofensa dos pais nos filhos até à terceira e
quarta geração daqueles que Me ofendem; mas uso de misericórdia até à milésima
geração para com aqueles que Me amam e guardam os meus mandamentos. Não
invocarás em vão o nome do Senhor teu Deus, porque o Senhor não deixa sem
castigo aquele que invoca o seu nome em vão. Lembrar-te-ás do dia de sábado,
para o santificares. Durante seis dias trabalharás e levarás a cabo todas as
tuas tarefas. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus. Não farás nenhum
trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo nem a tua
serva, nem os teus animais domésticos, nem o estrangeiro que vive na tua
cidade. Porque em seis dias o Senhor fez o céu, a terra, o mar e tudo o que
eles contêm; mas no sétimo dia descansou. Por isso, o Senhor abençoou e
consagrou o dia de sábado. Honra pai e mãe, a fim de prolongares os teus dias
na terra que o Senhor teu Deus te vai dar. Não matarás. Não cometerás
adultério. Não furtarás. Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo.
Não cobiçarás a casa do teu próximo; não desejarás a mulher do teu próximo, nem
o seu servo nem a sua serva, o seu boi ou o seu jumento, nem coisa alguma que
lhe pertença».
Palavra do Senhor.
LEITURA I – Forma breve Ex 20, 1-3.7-8.12-17
«A lei foi dada por Moisés» (Jo 1, 17)
Leitura do Livro
do Êxodo
Naqueles
dias, Deus pronunciou todas estas palavras: «Eu sou o Senhor teu Deus, que te
tirei da terra do Egipto, dessa casa de escravidão. Não terás outros deuses
perante Mim. Não invocarás em vão o nome do Senhor teu Deus, porque o Senhor
não deixa sem castigo aquele que invoca o seu nome em vão. Lembrar-te-ás do dia
de sábado, para o santificares. Honra pai e mãe, a fim de prolongares os teus
dias na terra que o Senhor teu Deus te vai dar. Não matarás. Não cometerás
adultério. Não furtarás. Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo.
Não cobiçarás a casa do teu próximo; não desejarás a mulher do teu próximo, nem
o seu servo nem a sua serva, o seu boi ou o seu jumento, nem coisa alguma que
lhe pertença».
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Salmo 18 (19), 8.9.10.11 (R. Jo 6, 68 c)
Refrão: Senhor, Vós tendes palavras de
vida eterna. Repete-se
A lei do Senhor é perfeita,
ela reconforta a alma;
as ordens do Senhor são firmes,
dão sabedoria aos simples. Refrão
Os preceitos do Senhor são retos
e alegram o coração;
os mandamentos do Senhor são claros
e iluminam os olhos. Refrão
O temor do Senhor é puro
e permanece para sempre;
os juízos do Senhor são verdadeiros,
todos eles são retos. Refrão
São mais preciosos que o ouro,
o ouro mais fino;
são mais doces que o mel,
o puro mel dos favos. Refrão
LEITURA II 1 Cor 1, 22-25
«Nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os homens,
mas sabedoria de Deus para os que são chamados»
O mistério de Cristo crucificado, embora pareça um escândalo, é, no entanto, a
manifestação da sabedoria de Deus, que assim, na aparente fraqueza do
Crucificado, revela o poder salvador da sua graça.
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo
S. Paulo aos Coríntios
Irmãos: Os judeus pedem milagres e os gregos
procuram a sabedoria. Quanto a nós, pregamos Cristo crucificado, escândalo para
os judeus e loucura para os gentios; mas para aqueles que são chamados, tanto
judeus como gregos, Cristo é poder e sabedoria de Deus. Pois o que é loucura de
Deus é mais sábio do que os homens e o que é fraqueza de Deus é mais forte do
que os homens.
Palavra do Senhor.
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO Jo 3, 16
Refrão: Louvor a Vós, Jesus Cristo,
Rei da eterna glória. Repete-se
Deus amou tanto o mundo
que lhe deu o seu Filho Unigénito;
quem acredita n’Ele tem a vida eterna. Refrão
EVANGELHO Jo 2, 13-25
«Destruí este templo e em três dias o levantarei»
O templo arrasado e levantado em três dias é figura da Morte e da Ressurreição
de Jesus. É Ele o templo verdadeiro. Destruído pelos homens, que Lhe deram a
morte, Deus O levantou, mais glorioso do que antes, ao ressuscitá-l’O de entre
os mortos.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no
templo os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os cambistas sentados às
bancas. Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo, com as
ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as
mesas; e disse aos que vendiam pombas: «Tirai tudo isto daqui; não façais da
casa de meu Pai casa de comércio». Os discípulos recordaram-se do que estava
escrito: «Devora-me o zelo pela tua casa». Então os judeus tomaram a palavra e
perguntaram-Lhe: «Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?». Jesus
respondeu-lhes: «Destruí este templo e em três dias o levantarei». Disseram os
judeus: «Foram precisos quarenta e seis anos para se construir este templo e Tu
vais levantá-lo em três dias?». Jesus, porém, falava do templo do seu corpo.
Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que
tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra de Jesus. Enquanto Jesus
permaneceu em Jerusalém pela festa da Páscoa, muitos, ao verem os milagres que
fazia, acreditaram no seu nome. Mas Jesus não se fiava deles, porque os
conhecia a todos e não precisava de que Lhe dessem informações sobre ninguém:
Ele bem sabia o que há no homem.
Palavra da salvação.
Diz-se o Credo.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Concedei, Senhor, por este sacrifício,
que, ao pedirmos o perdão dos nossos pecados,
perdoemos também aos nossos irmãos.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO
As aves do céu encontram abrigo e as andorinhas um ninho para os seus filhos,
junto dos vossos altares, Senhor dos Exércitos, meu Rei e meu Deus. Felizes os
que moram em vossa casa e a toda a hora cantam os vossos louvores.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Recebemos, Senhor nosso Deus,
o penhor da glória eterna
e, vivendo ainda na terra, fomos saciados com o pão do Céu.
Nós Vos pedimos humildemente a graça de manifestar na vida
o que celebramos neste sacramento.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
MÉTODO
DE ORAÇÃO BÍBLICA:
1. Leitura: - Lê, respeita, situa o que lês.
- Detém-te no conteúdo de fé e da
passagem que leste
2. Meditação: - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.
- Deixa que a passagem da Palavra de
Deus que leste “leia a tua vida” 2020.11.28
3. Oração: - Louva o Senhor, suplica, escuta.
- Dirige-te a Deus que te falou através
da Sua Palavra.
LEITURAS:. Ex
20, 1-17: Na
continuação das passagens especialmente significativas da história da salvação,
lemos hoje a história de Moisés, o condutor do povo de Deus através do deserto,
e aquele por meio de quem o Senhor deu a Lei que há-de orientar para Si os
passos do seu povo. Moisés é, assim, uma figura de Jesus, o verdadeiro Pastor
do Povo de Deus, como no Tempo da Páscoa O iremos contemplar.
Cor 1, 22-25: O mistério de Cristo crucificado,
embora pareça um escândalo, é, no entanto, a manifestação da sabedoria de Deus,
que assim, na aparente fraqueza do Crucificado, revela o poder salvador da sua
graça.
Jo 2, 13-25: O templo
arrasado e levantado em três dias é figura da Morte e da Ressurreição de Jesus.
É Ele o templo verdadeiro. Destruído pelos homens, que Lhe deram a morte, Deus
O levantou, mais glorioso do que antes, ao ressuscitá-l’O de entre os mortos.
AGENDA DO DIA
10.30 horas: Funeral em Nisa
11.30 horas: Missa transmitida por facebook
(endereço: Zona Pastoral de Nisa)
A VOZ DO PASTOR:
UM GENERAL FURIBUNDO RENDIDO À EVIDÊNCIA
Muito antes do tempo dos afonsinhos, há cerca de
três mil anos mais segundo menos segundo, Israel sofreu as passas do Algarve
com a Síria, ao tempo uma grande potência. Neste tempo da Quaresma em que
cada um é convidado a guerrear-se contra as adversas potências interiores, é
bom reconhecer a capacidade de resistência e deitar mão das armas que conduzam
à vitória. Porque o testemunho, negativo ou positivo, de outros nos pode ajudar
nessa tarefa, hoje apresento-lhes um belo exemplar.
Nos tempos referidos, o exército da Assíria era
comandado por Naamã, um grande estratega, muito aplaudido e confiante nas suas
próprias forças. Um dia, porém, a doença bateu-lhe à porta, ficou fraco e
leproso. A lepra, uma das doenças mais antigas da humanidade, era uma doença
terrível, não só pelos danos ao corpo, mas também porque era atribuída a
libertinagens, pecados, castigos divinos, e sei lá mais o quê!... Sem cura e
contagiosa, ela reclamava o afastamento da comunidade, osso duro de roer e
ruminar , mas era assim, um grilhão difícil de suportar. E que fazer agora com
o ilustre general? O que não fazer? Como sair desta? Eis a questão!... Sim,
essa era a questão de Naamã e dos seus. E qual será a nossa questão nestas
pelejas da Quaresma?
Quando as tropas da Assíria atacaram Israel,
levaram, prisioneira, uma jovenzinha, que ficou ao serviço da esposa de Naamã.
Sem ressentimentos por ter sido deportada - apanágio dos simples e humildes! -,
esta jovem compadeceu-se do doente e falou à sua patroa, que, em Israel,
havia um senhor, o profeta Eliseu, que seria capaz de o curar. Naamã, talvez
incrédulo, .contou ao rei da Assíria o que esta menina havia dito à sua
esposa. O rei animou Naamã, e, como já nesse tempo as havia, até lhe meteu uma
cunha: “Vá. Eu lhe darei uma carta que você entregará ao rei de
Israel”. Animado pela sugestão da jovem, feliz pelo empurrão do rei,
confiante na possibilidade de recuperar a saúde, o general lá partiu, ele e a
sua comitiva. Ao chegar ao destino, logo entrega a carta ao rei de Israel, que
dizia: “Quando receber esta carta, verá que lhe mando o meu servo Naamã para
que o cure da lepra”. Ora, não se reconhecendo com capacidade de curar fosse
quem fosse, o rei de Israel ficou com os azeites, “rasgou as próprias vestes”,
diz o texto. Como gato escaldado de água fria tem medo, pensou que aquilo era
uma engenhosa cilada do rei da Assíria para o tramar. E foi o cabo dos
trabalhos!
Entretanto, Eliseu, o homem de Deus, soube que
o seu rei, o rei de Israel, estava em apuros, não sabia o que fazer perante
aquela comitiva reforçada pela cunha do rei da Assíria. Então, Eliseu comunicou
ao rei de Israel que mandasse o general assírio ter com ele. Ó pernas para que
vos quero!... Dito e feito, o rei, em jeito de quem lhe saiu a sorte grande e mais
qualquer coisa, logo despachou Naamã e toda a comitiva ao encontro de
Eliseu. Eliseu, porém, se queria dizer ao rei de Israel que na sua própria
terra existia um profeta, também quis usar de pedagogia para com o importante
general assírio. Encheu-se de nove horas, empoleirou-se, fez-se caro, não
apareceu para recebeu pessoalmente o famoso militar. E se não o mandou aos
ninhos, mandou alguém dizer-lhe que fosse tomar banho, que fosse mergulhar-se
no rio e ficaria curado: “Vai, lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne
será restaurada, ficarás limpo” (2 Reis 5,10). Naamã, um general de
gabarito, de tantos pergaminhos e feitos heroicos, sentiu-se humilhado, não
gostou, ficou aborrecido e bravo. Esperava um acolhimento pessoal e delicado da
parte do profeta e, com certeza, pensaria que ele fizesse para ali umas
mezinhas, o curasse e mandasse embora são e salvo, tal como hoje, infelizmente,
até entre cristãos, ainda se procura no ler ou deitar das cartas, no bruxedo,
magos, adivinhos e quejandos a solução para os problemas da vida. Não sendo
assim, e tendo-o ele mandado mergulhar no rio Jordão, Naamã bateu o pé e
prendeu o burrinho, qual criança caprichosa. Como se não bastasse, casquinou
para quem quis ouvir que, na sua terra, havia rios muito mais importantes que
aquele e com águas muito mais cristalinas que essas. Apressado e a rabujar, pôs
os pés a caminho para se ir embora e mandar o profeta à fava. Como afirmava
Clemente XIV, “nada mais pequeno do que um grande dominado pelo orgulho”, o que
até dá espetáculo digno de se admirar, pela negativa! Podemos imaginar a fita
deste senhor, que, cheio de importâncias balofas, superioridades
presumidas e preconceitos injustos, até no pedir se manifestava pretensioso e a
querer mandar, seguro que estava no seu amor próprio de quem se julga sempre
com razão!
Os membros da
sua comitiva, embora apreciando a tensão do momento, estavam mais racionais e
mais frescos para resistir ao embate. Encaixaram o recado de Eliseu e deitaram
água na fervura de Naamã. Porque não era coisa difícil, convenceram Naamã a
que, mesmo contrariado, descesse ao rio e se banhasse. Naamã, talvez com
vontade bélica de armar ali mais uma guerra e enfiar o profeta e os presentes
na barca de Caronte, cedeu à força de persuasão dos seus servos. Mesmo
contrariado, lá foi mergulhar sete vezes no Jordão.
Se o profeta foi
“malandro” para o fazer descer à terra, aquilo que para Naamã não fazia sentido
e seria uma humilhação, foi o que realmente o curou. Só quando saiu dos seus
búnqueres e castelos de defesa, só quando desceu das suas importâncias e
orgulho pátrio, só quando resolveu deixar-se de preconceitos e aceitar o que
lhe era proposto, é que foi curado. Vendo-se recauchutado e novo, ficou sem
jeito por ter reagido como reagiu e desfaz-se em salamaleques. Fez um ato de fé
no Deus único de Israel, reconheceu Eliseu como aquele que mostra a presença de
Deus no meio do povo e quis dar-lhe um valioso presente, com o qual vinha
prevenido. Eliseu, mesmo perante a insistência do general, não aceitou. O
general promete deixar a idolatria e, doravante, só prestar culto ao Deus de
Israel, o único que pode curar e a quem se sentia profundamente grato pelo
facto de o ter tornado um homem verdadeiramente novo. E parte, feliz e
saudável, reiterando fidelidade ao Senhor Deus de Israel e, agora humildemente,
pedindo terra, terra dali, terra que carregasse duas mulas, para, lá, na
Assíria, sobre essa terra, levantar um altar ao Deus único.
Deus faz-se
encontrado através duma lógica muito diferente da nossa lógica. Ele serve-se
das coisas mais díspares e insignificantes para nos dizer que está presente e
atento. Quem crê em Deus e acredita que Ele pode restaurar o centro e as
periferias da sua vida, não pode ter a pretensão de lhe querer dar ordens, de lhe
querer dizer como é que Ele deve fazer, apoiado em egocentrismos que destroem.
Nem deve encaprichar só porque Ele não age como se gostaria que agisse. Essa
atitude seria sinal de que não estamos dispostos a deixar as nossas razões e
importâncias, as nossas rotinas e seguranças, sendo julgadas, por nós e só por
nós, como verdadeiro caminho de fidelidade e salvação. Mas será que serão se
não estamos dispostos a fazer o que Ele pede, tal como aconteceu com o referido
general? Este queria impor-lhe como é que Ele haveria de fazer. Também pode
acontecer que permaneçamos ensonados ou fossilizados nessas rotinas
egocêntricas, vivendo instalados na idolatria e na indiferença, julgando-nos
não só bons, mas os primeiros entre os bons, sentindo-nos até com razões para
exigir de Deus o bom e o melhor, e da forma que nós entendemos. Se assim for,
não passaremos de cristãos de meia-tigela. Mesmo que difícil e em revolta, o
general acabou por fazer caminho e ficar curado, no corpo e no espírito, não
como resultado de um ritual mágico nas águas do Jordão, mas como fruto da ação
salvífica de Deus que atuou através da palavra do profeta. É interessante
reparar que foi aquela jovenzinha, escrava no estrangeiro, que iniciou o
processo. Ultrapassou fronteiras, apontou o Deus único capaz de curar e dar a
vida. Também foram os humildes servos do general que o ajudaram a seguir a
palavra do profeta. Se estamos desafiados à humildade e à conversão,
reconheçamos também quanto bem podemos fazer anunciando Aquele que
cura e dá a Vida.
A
Quaresma não é só para os outros, também é para nós!
Antonino Dias
Portalegre-Castelo
Branco, 26-02-2021.
.
*************************
QUARESMA - “SAÍA D’ELE UMA FORÇA QUE A TODOS
CURAVA”
Na
Igreja, a Quaresma é, por natureza, um tempo catecumenal, um tempo de
descoberta e redescoberta da fé cristã como relação vital de absoluta confiança
no Senhor Jesus Cristo. Aliás, a Páscoa, celebração da revelação plena de
Cristo para onde a Quaresma nos conduz, só ganhará densidade espiritual e
existencial se a Quaresma se assumir como caminho e exercício de descoberta e
redescoberta da relação com Jesus Cristo. A condição humana, cada um de nós,
surpreende-se, comove-se diante de Jesus Cristo. Ele é, ao mesmo tempo, tão
nosso e tão de Deus, tão humano e tão divino, tão histórico e tão do Céu e da
eternidade. Antes de nos dizermos, já Ele nos conhece. Antes de lhe pedirmos,
já Ele se nos disponibilizou. Com a sua palavra e os seus gestos de proximidade,
cativa-nos. Com o mistério da sua Pessoa, colhe o nosso afeto, a nossa
inteligência, a nossa vontade. Tocados pela sua humanidade, tornamo-nos, por
bênção sua, capazes de tocar a sua divindade. Assim, rendidos e livres,
estabelecemos com Ele uma relação vital de absoluta confiança, por onde,
doravante, passará a vida toda. D’Ele brota uma força que não deixa ninguém
indiferente e cura todos os males.
A
fé não é, portanto, uma invenção de religiões. Nenhuma imposição a conseguiria
legitimar. Nenhuma lei a conseguiria impor. Nenhum moralismo a conseguiria
justificar e ser seu alicerce. Nenhuma tradição, por si só, a conseguiria
manter. Tudo isso seriam insuficiências, andaimes solitários sem construção a
erguer. Dom recebido e resposta dada, a fé cristã vai buscar muitas das suas
dinâmicas mais elementares à vida humana. Mas é na surpresa graciosa do
encontro com o dom de Deus em Jesus Cristo que ela se radica como atitude e
ritmo. É esta fé, vivida como bênção, presença de Cristo sentida ao nosso lado,
é esta fé que vai atravessar a nossa vida com as suas graças e desgraças, os
seus encantos e desesperos, as suas alegrias e tristezas. É esta fé, vivida
como bênção, que purifica a nossa vida com paixão, com graciosidade e com
ousadia profética de batizados. É o nosso batismo, que o mesmo é dizer a nossa
fé, que está em causa em cada Quaresma. Conversão e penitência, jejum, esmola e
oração são exercícios batismais da nossa vida cristã porque são expressão da
nossa vital confiança em Jesus Cristo e da nossa reação ao tempo e aos modos da
vida.
A
pandemia que atravessamos pode ser bem o contexto de humanidade em que a nossa
fé é chamada a redescobrir-se e a dar fruto. Exigidas pela situação de crise,
há um conjunto de ações que, nos crentes, são autênticos imperativos de
consciência da vida cristã: na solidão, saber ser presença construtiva e não
escravo da desconfiança; no desespero, saber ser força de esperança; na doença,
saber ser cuidador; na dificuldade económica ou social, saber partilhar e
promover; na prossecução do bem comum, saber comprometer-se e fazer caminho em
comum; nas palavras, saber edificar e promover a verdade; nas atitudes
quotidianas, saber eleger e construir a justiça; nas relações pessoais e de
cidadania, saber respeitar e acolher. A pandemia, com a doença e a pressão que
exerce em toda a sociedade, pode tornar-nos hipersensíveis, facilmente
descarriláveis e irascíveis. Pode pressionar-nos e trazer constrangimentos
vários à nossa vida. E é aí que é necessário ter sempre Cristo diante dos olhos,
ter sempre Cristo no coração e nas mãos. Os cristãos não temos de ser uma
maioria social, percentual, para sermos uma maioria virtuosa. Podemos até ser
uma minoria, mas, sem nos acanharmos e ganharmos complexo de seita, saberemos
ser Igreja à dimensão do mundo e à dimensão do próprio Cristo.
Este
ano, e por vontade do Papa Francisco, conjugam-se com a nossa Quaresma o Ano da
“Família Amoris Laetitia” e o Ano de S. José. Na sua Carta Apostólica para este
ano, o Papa Francisco diz-nos que foi com “coração de pai” que José amou Jesus.
Humilde, discreto, trabalhador, sempre pronto a realizar a vontade de Deus,
homem do silêncio como escuta, atento aos sinais de Deus e aos sinais dos
tempos, corajoso, pedagogo e, sobretudo, justo. Em José confrontamo-nos com um
homem que é justo porque se ajustou a Deus. E é por se ajustar a Deus que cedo
aprendeu a pensar como Deus, a agir como Deus, a amar como Deus. A sua fé e a
alegria do seu amor foram o grande motor da sua vida. É também a alegria do
amor que o Papa Francisco nos convida a encontrar na família cristã quando
promove o Ano “Família Amoris Laetitia”. Ele insiste na leitura da Exortação
Apostólica Amoris Laetitia e deseja levar ao aprofundamento da identidade da
família cristã como dom de pessoas e como dom à Igreja e ao mundo. Deseja
promover o acompanhamento dos esposos, a educação integral dos filhos, a
reflexão sobre as luzes e sombras da vida da família cristã, as crises
familiares, a participação das famílias nas estruturas de evangelização e da
Igreja. Tempo de redescoberta e revitalização da nossa fé, a Quaresma deste ano
faz com que se cruzem a fé e a pandemia, a fé e a família, a fé e a gratidão
pelo dom da santidade de S. José.
De
Jesus, na sua Palavra, nos seus gestos, na vida da Igreja como Comunidade,
brota uma força que não deixa ninguém indiferente. Como discípulos de Jesus
sempre em processo de conversão, somos, pois, desafiados a viver mais uma
Quaresma, mais um dom que acontece ao longo da nossa existência. Se a
mundaneidade convida ao ter, ao parecer e ao poder, a Quaresma pede especial
atenção ao ser. É um tempo de penitência e conversão. Um tempo de oração filial
que nos ajuda a limpar, arrumar e romper a dureza do coração, convertendo-nos a
Deus e aos irmãos. Uma oração que leve ao jejum do pecado, à mudança menos boa
de estar, pensar e falar, à privação do que não é essencial, à penitência e
austeridade pessoal, ao sacrifício que liberta. Uma oração que converta e leve
àquela partilha a que chamamos “renúncia quaresmal” e que tem um destino
determinado por cada Bispo diocesano, tornado público no início da Quaresma e,
ao longo da Quaresma, entregue em cada paróquia. Não se trata de renunciar para
poupar, não se trata de um peditório, não se trata de uma recolha de fundos,
não se trata de dar para ficar arrumado e não me incomodarem mais, não se trata
de pagar, não se trata tanto de dar uma esmola a quem a pede ou necessita,
embora não se deva permanecer indiferente e fazer vista grossa. Trata-se duma
caminhada espiritual disciplinada e vivida na alegria da oração, da conversão
interior, do pensar em Deus e nos outros, do sentir a importância da gratuidade
e da fraternidade. Trata-se da mudança de mentalidade e de coração que também
se pode traduzir em renunciar a isto ou àquilo, que, embora se julgue
apetecível, não é necessário, e o seu custo se coloca de parte para a causa
social anunciada. Para além disso, a conversão pode mesmo implicar o aliviar
dos bolsos (Lc 19, 1-10; Lc 18, 18-23). É uma pedagogia familiar de que tantas
crianças e tantos jovens nos dão tão belos testemunhos, renunciando a um bolo,
a um cigarro, a um café, a um programa televisivo, a ser escravo das redes
socias... ou os leva a estudar mais e melhor, a programar momentos de oração, a
visitar o vizinho acamado ou a viver mais comprometido nas causas da fé e do
bem comum, a respeitar os apelos ao confinamento e a vivê-lo com esperança,
pensando na própria saúde e saúde dos outros... Enfim, trata-se de cada um,
pelos caminhos possíveis, viver a Quaresma de tal forma que o conduza à Páscoa,
descobrindo e redescobrindo cada vez mais o gesto do amor de Deus para connosco
manifestado em Cristo Jesus seu Filho.
A Renúncia Quaresmal
de 2020, em toda a Diocese, e devido ao ambiente de confinamento rigoroso, foi
mesmo mesmo residual (1.769,34€). Tinha como destino ajudar à construção de um
Centro de Acolhimento e Saúde na Arquidiocese de Kananga, República Democrática
do Congo, donde temos dois sacerdotes a trabalhar nesta nossa Diocese. Este ano
de 2021, destinamos 60% para o mesmo fim e 40% para o Fundo Social Diocesano,
gerido pela Cáritas. De um Arciprestado, chegou à Cúria Diocesana uma verba de
renúncia quaresmal atrasada, a qual será enviada para o destino anunciado nessa
altura.
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