PARÓQUIAS DE NISA
Quarta-feira, 17 de março de 2021
IV semana da quaresma
LITURGIA
Quarta-feira
da semana IV
Roxo – Ofício da féria.
Missa da féria, pf. da Quaresma.
L 1 Is 49, 8-15; Sal 144 (145), 8-9. 13cd-14. 17-18
Ev Jo 5, 17-30
* Pode celebrar-se a memória de S. Patrício, bispo,
MISSA
ANTÍFONA
DE ENTRADA Salmo 68, 14
A Vós, Senhor, elevo a minha súplica.
Pela vossa bondade, respondei-me e salvai-me.
ORAÇÃO COLECTA
Senhor, que aos justos dais o prémio e aos pecadores arrependidos concedeis o
perdão, compadecei-Vos daqueles que Vos suplicam, para que a confissão das
nossas culpas nos alcance o perdão dos pecados. Por Nosso Senhor Jesus Cristo,
vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I Is 49, 8-15
«Eu te formei para renovar a aliança do povo, para restaurar a terra»
Leitura do Livro
de Isaías
Assim fala o Senhor: «No tempo da graça, Eu te ouvi; no dia da salvação, Eu te
ajudei. Eu te formei e designei para renovar a aliança do povo, para restaurar
a terra e reocupar as herdades devastadas; para dizer aos prisioneiros: ‘Saí
para fora’ e àqueles que vivem nas trevas: ‘Vinde para a luz’. Hão de alimentar-se
em todos os caminhos e acharão pastagem em todas as encostas. Não sentirão fome
nem sede, nem o sol ou o vento ardente cairão sobre eles, porque Aquele que tem
compaixão deles os guiará e os conduzirá às nascentes da água. De todas as
minhas montanhas farei caminhos e as minhas estradas serão niveladas. Ei-los
que vêm de longe: uns do Norte e do Poente, outros da terra de Sinim.
Rejubilai, ó céus; exulta, ó terra; montes, soltai gritos de alegria, porque o
Senhor consola o seu povo e tem compaixão dos seus pobres. Sião dizia: ‘O
Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-Se de mim’. Pode a mulher esquecer-se da
criança que amamenta e não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Mas ainda
que ela o esquecesse, Eu nunca te esquecerei».
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Salmo 144 (145), 8-9.13cd-14.17-18 (R. 8a)
Refrão: Senhor é clemente e cheio de compaixão. Repete-se
Ou: Senhor, sois um Deus clemente e compassivo. Repete-se
O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade.
O Senhor é bom para com todos
e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas. Refrão
O Senhor é fiel à sua palavra
e perfeito em todas as suas obras.
O Senhor ampara os que vacilam
e levanta todos os oprimidos. Refrão
O Senhor é justo em todos os seus caminhos
e perfeito em todas as suas obras.
O Senhor está perto de quantos O invocam,
de quantos O invocam em verdade. Refrão
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO Jo 11, 25a.26
Refrão: Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo. Repete-se
Eu sou a ressurreição e a vida, diz o Senhor.
Quem acredita em Mim nunca morrerá. Refrão
EVANGELHO Jo 5, 17-30
«Assim como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá vida,
assim o Filho dá vida a quem Ele quer»
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, disse Jesus aos judeus: «Meu Pai trabalha incessantemente e Eu
também trabalho em todo o tempo». Esta afirmação era mais um motivo para os
judeus quererem dar-Lhe a morte: não só por violar o sábado, mas também por
chamar a Deus seu Pai, fazendo-Se igual a Deus. Então Jesus tomou a palavra e
disse-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: O Filho nada pode fazer por Si
próprio, mas só aquilo que viu fazer ao Pai; e tudo o que o Pai faz também o
Filho o faz igualmente. Porque o Pai ama o Filho e Lhe manifesta tudo quanto
faz; e há de manifestar-Lhe coisas maiores que estas, de modo que ficareis
admirados. Assim como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá vida, assim o Filho
dá vida a quem Ele quer. O Pai não julga ninguém: entregou ao Filho o poder de
tudo julgar, para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o
Filho não honra o Pai que O enviou. Em verdade, em verdade vos digo: Quem ouve
a minha palavra e acredita n’Aquele que Me enviou tem a vida eterna e não será
condenado, porque passou da morte à vida. Em verdade, em verdade vos digo: Aproxima-se
a hora – e já chegou – em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os
que a ouvirem, viverão. Assim como o Pai tem a vida em Si mesmo, assim também
concedeu ao Filho que tivesse a vida em Si mesmo; e deu-Lhe o poder de julgar,
porque é o Filho do homem. Não vos admireis do que estou a dizer, porque vai
chegar a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz: Os que
tiverem praticado boas obras irão para a ressurreição dos vivos e os que
tiverem praticado o mal para a ressurreição dos condenados. Eu não posso fazer
nada por Mim próprio: julgo segundo o que oiço e o meu juízo é justo, porque
não procuro fazer a minha vontade, mas a vontade d’Aquele que Me enviou».
Palavra da salvação.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Nós Vos pedimos, Senhor, que o poder deste sacrifício nos purifique do antigo
pecado, nos faça crescer na vida nova e nos alcance a salvação. Por Nosso
Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito
Santo.
Prefácio da Quaresma
ANTÍFONA DA COMUNHÃO Jo 3, 17
Deus enviou o seu Filho ao mundo,
não para o condenar mas para o salvar.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Não permitais, Senhor, que os dons celestes por nós recebidos sejam motivo de
condenação para os vossos fiéis, a quem os deixastes como remédio de salvação.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do
Espírito Santo.
MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA:
1. Leitura: - Lê, respeita, situa o
que lês.
- Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste
2.
Meditação: - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.
- Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua
vida” 2020.11.28
3. Oração: - Louva o Senhor,
suplica, escuta.
- Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.
LEITURAS:
Is 49, 8-15: Esta
leitura anuncia o regresso do exílio, utilizando até linguagem que já se tinha
referido à saída do Egipto. De facto, a história do povo de Deus é toda ela uma
história pascal que deste mundo, a partir de todos os recantos da terra, nos
leva ao Pai. A Quaresma é um tempo oportuno para tomar consciência deste
regresso a Deus, de quem o pecado nos afastou
Jo
5, 17-30: Jesus
continua a manifestar-Se como Aquele que é a Vida e que dá a Vida. Tal como o
Pai! E tal como o Pai, segundo a poética descrição do Génesis, faz a criação em
seis dias e, no último, dá a vida ao homem, assim Jesus ressuscita e dá a Vida
no “último dia”. Mas esse dia é para já aquele que se inaugura na sua
ressurreição, e, para cada um de nós, no Batismo. Nele se exerce o juízo de Deus,
condenando o pecado e chamando à graça, destruindo a morte e dando a Vida.
Assim se revela a “compaixão”, o amor de Deus por nós!
AGENDA DO DIA
11,39 horas: Funeral no
Arneiro
17.00 horas: Missa em
Gáfete
18.00 horas: Missa em Tolosa
18.00 horas: Missa em
Nisa.
A VOZ DO PASTOR:
COISAS
DO ARCO DA VELHA!...
Ainda
que não seja mago nem vidente, hoje vou falar de magia. Se mirabolantes, os
fenómenos que apresento são evidentíssimos. Mesmo sem querer, constatam-se por
aí, de quando em vez, coisas que não sei se serão do arco se da arca da velha,
o leitor poderá escolher! Se não desafiam as ninfas do tejo, atestam a
necessidade de purificação e de saber em quem é que, afinal, acreditamos! Terço
pendurado no espelho, junto ao volante da viatura, e a ferradura atrás no
taipal ou à frente, até em automóveis. Cordão pendurado ao pescoço com o
Crucifixo, mas este misturado com chifres, figas e outras velharias mais, quais
amados bezerros de ouro! Muitas imagens de santos, dentro de casa, e, à porta
ou portão, uma ferradura ou afins. Crianças acabadas de batizar, e logo alguém
a colocar-lhe uma pulseirinha no pulso com toda essa tralha, pois não vá o
diabo tecê-las!... E muito mais se poderá acrescentar. Querendo estar bem com
os dois, acende-se uma vela a Deus e outra ao diabo, como soe dizer-se, e eles
que façam o favor de lá se entender... Fraco testemunho cristão, mesmo que
alguém diga que ninguém tem nada a ver com isso! É certo que não, nem é isso
que está em causa. No entanto, para além do dever de dar bom testemunho, nenhum
cristão se merece sujeitar à mofa silenciosa e escarninha do bom senso!
Vou
falar de magia. É evidente que não me refiro àquela magia que é a arte dos
ilusionistas e prestidigitadores. Com a sua imaginação, cultura, conhecimentos
e habilidade, através de jogos de mãos, truques e meios naturais, criam a
ilusão de estarem a desafiar as leis da física e exercem saudável fascínio no
público que se diverte com isso. Esta magia não utiliza elementos ilícitos, não
tem objetivos desonestos, é inofensiva, é legítima, é arte.
Refiro-me
àquela magia que, se não é fácil de definir, implica uma visão do mundo que faz
crer na existência de forças ocultas que vagueiam pelo mundo e exercem a sua
influência sobre a vida do cosmos e do homem. Quem as promove e exerce, mesmo
que nelas não acredite, pretende convencer os outros que pode controlar essas
forças e obter resultados automáticos. Porque precisam de levar a vida,
convém-lhes que assim seja e difundem tal serviço, mas a culpa não é deles, são
livres e respeitáveis, a culpa é de quem lá vai, embora também sejam livres.
Como escreveram os Bispos da Toscânia, na sua Nota Pastoral sobre “Magia e
Demónios”, publicada pela Paulinas Editora e que me provocou e apoiou neste
texto, “os mágicos, que atribuem a si próprios o poder de resolver problemas de
amor, de saúde e de riqueza, ou ainda os que pretendem libertar do
“mau-olhado”, de “feitiços”, são indivíduos que fazem a sua própria publicidade
através de anúncios pagos nos jornais diários de grande circulação, exibem
diplomas ou outros comprovativos universitários e chegam mesmo a aparecer nos
meios audiovisuais, sobretudo na televisão. Não é exagero falar de uma
“indústria da magia”.
Se
há a magia branca negativa, a imitativa, a contagiosa e a encantadora, saliento
a “magia negra”, aquela que recorre a poderes diabólicos ou pretende atuar sob
a sua influência, transformando os seus seguidores em “servidores de Satanás”.
Tem o seu auge nas “missas negras”. No campo da adivinhação, para além da que
pretende predizer ou ler o destino das pessoas através dos astros e das
estrelas (astrologia), ou mediante as cartas (cartomancia/tarologia), ou das
linhas das mãos (quiromancia) ou doutras trapalhices, temos aquela que recorre
a médiuns para invocar o espírito dos mortos e revelar o futuro (necromancia ou
espiritismo). Mas há outros grupos esotéricos e ocultistas, antigos ou
recentes, da teosofia à antroposofia e à New Age, a pretender penetrar no
conhecimento de verdades ocultas e adquirir poderes espirituais especiais.
Sobre
a sua credibilidade “a razão científica contemporânea, ou simplesmente a razão
essencial, considera a magia como uma forma de irracionalidade, seja com
respeito a conceções pré-lógicas que se atribui, seja em relação aos meios que
ativa ou aos objetivos que procura”. Para os cristãos, continua a ser atual o
que a Igreja sempre ensinou: “Ninguém no teu seio faça passar pelo fogo o seu
filho ou a sua filha; ou se dê a encantamentos, aos augúrios, à adivinhação, à
magia, ao feiticismo, ao espiritismo, aos sortilégios, à evocação dos mortos,
porque o Senhor abomina todos os que fazem tais coisas” (Dt 18,9-12), “não vos
contamineis com isso. Eu sou o Senhor vosso Deus” (Lv 19,31). Há contradição
entre o anúncio da fé e a magia. O pensamento e comportamento mágico manipulam
espiritualmente a realidade, alienam, criam obstáculos, afastam do Reino de
Deus (cf. At13, 6-12; Gal 5,20; Ap 9,21; 18,23; 21, 8; 22,15). Hipólito excluía
do Batismo os magos, astrólogos e adivinhos. Tertuliano, outro autor do século
III, escreve: “De astrólogos, bruxos, charlatães de toda a espécie, não deveria
sequer falar-se. No entanto, recentemente um astrólogo, que se dizia cristão,
cometeu a imprudência de fazer a apologia do seu ofício! Portanto, é necessário
recordar, ainda que sucintamente, a esse homem e aos colegas de ofício, que
ofendem a Deus colocando os astros sob a proteção dos ídolos e fazendo depender
deles a sorte dos humanos”.
Nestes
nossos tempos, porém, apesar de tanta escolaridade e evangelização, com tanto
saber e cultura, a escravatura a essas práticas é preocupante. Em vão se busca
aí sentido e respostas para as inseguranças e fragilidades da vida. “É uma
compensação do vazio existencial que carateriza a precariedade da nossa época”.
Multidões de pessoas metem-se por esses atalhos, procuram esses poderes
pretensamente ocultos e sobre-humanos, pensando que por aí se libertam de
perturbações existenciais, da dor, do mal e do medo da morte, de situações de
angústia e de temor, de questões reais e traumáticas da vida. Ou então,
procuram factos extraordinários e milagrosos, inclusive no campo dos
relacionamentos amorosos, no campo económico, etc.
É
evidente que não se pode cair num preconceito racionalista e negar, perante
fenómenos extraordinários e extremos, a possibilidade da ação do Demónio, ela
pode existir. Mas também seria pouco saudável que, por falsos misticismos ou
por falta de maturidade na fé, ver, sempre e em qualquer caso, a ação do
Maligno e recorrer à magia que nada resolve e a todos explora e escraviza, não
liberta. Como referem os Bispos da Toscânia, os atos de ocultismo “só encontram
terreno fértil onde existe ausência, vazio de evangelização”. Há que proclamar
novamente, “com um vigor renovado, como nos alvores da Igreja, que só Jesus, o
Ressuscitado que vive eternamente, é o Salvador. “E não há salvação em nenhum
outro, pois não há debaixo do céu qualquer outro nome dado aos homens que nos
possa salvar” (At 4,12).
O
atual Catecismo da Igreja Católica refere assim: “Todas as formas de
adivinhação devem ser rejeitadas: recurso a Satanás ou aos demónios, evocação
dos mortos ou outras práticas supostamente «reveladoras» do futuro. A consulta
dos horóscopos, a astrologia, a quiromancia, a interpretação de presságios e de
sortes, os fenómenos de vidência, o recurso aos "médiuns", tudo isso
encerra uma vontade de dominar o tempo, a história e, finalmente, os homens, ao
mesmo tempo que é um desejo de conluio com os poderes ocultos. Todas essas
práticas estão em contradição com a honra e o respeito, penetrados de temor
amoroso, que devemos a Deus e só a Ele. Todas as práticas de magia ou de
feitiçaria, pelas quais se pretende domesticar os poderes ocultos para os pôr
ao seu serviço e obter um poder sobrenatural sobre o próximo – ainda que seja
para lhe obter a saúde – são gravemente contrárias à virtude de religião. Tais
práticas são ainda mais condenáveis quando acompanhadas da intenção de fazer
mal a outrem ou quando recorrem à intervenção dos demónios. O uso de amuletos
também é repreensível. O espiritismo implica muitas vezes práticas divinatórias
ou mágicas; por isso, a Igreja adverte os fiéis para que se acautelem dele. O
recurso às medicinas ditas tradicionais não legitima nem a invocação dos
poderes malignos, nem a exploração da credulidade alheia (CIgC, 2116-2117).
“Se
escolhe Cristo, não podes ir ao bruxo. A magia não é cristã”, diz o Papa
Francisco.
A
Quaresma implica purificação e conversão verdadeira!
Antonino
Dias
Portalegre-Castelo
Branco, 12-03-2021.
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QUARESMA - “SAÍA D’ELE UMA FORÇA QUE A TODOS
CURAVA”
Na
Igreja, a Quaresma é, por natureza, um tempo catecumenal, um tempo de
descoberta e redescoberta da fé cristã como relação vital de absoluta confiança
no Senhor Jesus Cristo. Aliás, a Páscoa, celebração da revelação plena de
Cristo para onde a Quaresma nos conduz, só ganhará densidade espiritual e
existencial se a Quaresma se assumir como caminho e exercício de descoberta e
redescoberta da relação com Jesus Cristo. A condição humana, cada um de nós,
surpreende-se, comove-se diante de Jesus Cristo. Ele é, ao mesmo tempo, tão
nosso e tão de Deus, tão humano e tão divino, tão histórico e tão do Céu e da
eternidade. Antes de nos dizermos, já Ele nos conhece. Antes de lhe pedirmos,
já Ele se nos disponibilizou. Com a sua palavra e os seus gestos de proximidade,
cativa-nos. Com o mistério da sua Pessoa, colhe o nosso afeto, a nossa
inteligência, a nossa vontade. Tocados pela sua humanidade, tornamo-nos, por
bênção sua, capazes de tocar a sua divindade. Assim, rendidos e livres,
estabelecemos com Ele uma relação vital de absoluta confiança, por onde,
doravante, passará a vida toda. D’Ele brota uma força que não deixa ninguém
indiferente e cura todos os males.
A
fé não é, portanto, uma invenção de religiões. Nenhuma imposição a conseguiria
legitimar. Nenhuma lei a conseguiria impor. Nenhum moralismo a conseguiria
justificar e ser seu alicerce. Nenhuma tradição, por si só, a conseguiria
manter. Tudo isso seriam insuficiências, andaimes solitários sem construção a
erguer. Dom recebido e resposta dada, a fé cristã vai buscar muitas das suas
dinâmicas mais elementares à vida humana. Mas é na surpresa graciosa do
encontro com o dom de Deus em Jesus Cristo que ela se radica como atitude e
ritmo. É esta fé, vivida como bênção, presença de Cristo sentida ao nosso lado,
é esta fé que vai atravessar a nossa vida com as suas graças e desgraças, os
seus encantos e desesperos, as suas alegrias e tristezas. É esta fé, vivida
como bênção, que purifica a nossa vida com paixão, com graciosidade e com
ousadia profética de batizados. É o nosso batismo, que o mesmo é dizer a nossa
fé, que está em causa em cada Quaresma. Conversão e penitência, jejum, esmola e
oração são exercícios batismais da nossa vida cristã porque são expressão da
nossa vital confiança em Jesus Cristo e da nossa reação ao tempo e aos modos da
vida.
A
pandemia que atravessamos pode ser bem o contexto de humanidade em que a nossa
fé é chamada a redescobrir-se e a dar fruto. Exigidas pela situação de crise,
há um conjunto de ações que, nos crentes, são autênticos imperativos de
consciência da vida cristã: na solidão, saber ser presença construtiva e não
escravo da desconfiança; no desespero, saber ser força de esperança; na doença,
saber ser cuidador; na dificuldade económica ou social, saber partilhar e
promover; na prossecução do bem comum, saber comprometer-se e fazer caminho em
comum; nas palavras, saber edificar e promover a verdade; nas atitudes
quotidianas, saber eleger e construir a justiça; nas relações pessoais e de
cidadania, saber respeitar e acolher. A pandemia, com a doença e a pressão que
exerce em toda a sociedade, pode tornar-nos hipersensíveis, facilmente
descarriláveis e irascíveis. Pode pressionar-nos e trazer constrangimentos
vários à nossa vida. E é aí que é necessário ter sempre Cristo diante dos
olhos, ter sempre Cristo no coração e nas mãos. Os cristãos não temos de ser
uma maioria social, percentual, para sermos uma maioria virtuosa. Podemos até
ser uma minoria, mas, sem nos acanharmos e ganharmos complexo de seita,
saberemos ser Igreja à dimensão do mundo e à dimensão do próprio Cristo.
Este
ano, e por vontade do Papa Francisco, conjugam-se com a nossa Quaresma o Ano da
“Família Amoris Laetitia” e o Ano de S. José. Na sua Carta Apostólica para este
ano, o Papa Francisco diz-nos que foi com “coração de pai” que José amou Jesus.
Humilde, discreto, trabalhador, sempre pronto a realizar a vontade de Deus,
homem do silêncio como escuta, atento aos sinais de Deus e aos sinais dos
tempos, corajoso, pedagogo e, sobretudo, justo. Em José confrontamo-nos com um
homem que é justo porque se ajustou a Deus. E é por se ajustar a Deus que cedo
aprendeu a pensar como Deus, a agir como Deus, a amar como Deus. A sua fé e a
alegria do seu amor foram o grande motor da sua vida. É também a alegria do
amor que o Papa Francisco nos convida a encontrar na família cristã quando
promove o Ano “Família Amoris Laetitia”. Ele insiste na leitura da Exortação
Apostólica Amoris Laetitia e deseja levar ao aprofundamento da identidade da
família cristã como dom de pessoas e como dom à Igreja e ao mundo. Deseja
promover o acompanhamento dos esposos, a educação integral dos filhos, a
reflexão sobre as luzes e sombras da vida da família cristã, as crises
familiares, a participação das famílias nas estruturas de evangelização e da Igreja.
Tempo de redescoberta e revitalização da nossa fé, a Quaresma deste ano faz com
que se cruzem a fé e a pandemia, a fé e a família, a fé e a gratidão pelo dom
da santidade de S. José.
De
Jesus, na sua Palavra, nos seus gestos, na vida da Igreja como Comunidade,
brota uma força que não deixa ninguém indiferente. Como discípulos de Jesus
sempre em processo de conversão, somos, pois, desafiados a viver mais uma
Quaresma, mais um dom que acontece ao longo da nossa existência. Se a
mundaneidade convida ao ter, ao parecer e ao poder, a Quaresma pede especial
atenção ao ser. É um tempo de penitência e conversão. Um tempo de oração filial
que nos ajuda a limpar, arrumar e romper a dureza do coração, convertendo-nos a
Deus e aos irmãos. Uma oração que leve ao jejum do pecado, à mudança menos boa
de estar, pensar e falar, à privação do que não é essencial, à penitência e
austeridade pessoal, ao sacrifício que liberta. Uma oração que converta e leve
àquela partilha a que chamamos “renúncia quaresmal” e que tem um destino
determinado por cada Bispo diocesano, tornado público no início da Quaresma e,
ao longo da Quaresma, entregue em cada paróquia. Não se trata de renunciar para
poupar, não se trata de um peditório, não se trata de uma recolha de fundos,
não se trata de dar para ficar arrumado e não me incomodarem mais, não se trata
de pagar, não se trata tanto de dar uma esmola a quem a pede ou necessita,
embora não se deva permanecer indiferente e fazer vista grossa. Trata-se duma
caminhada espiritual disciplinada e vivida na alegria da oração, da conversão
interior, do pensar em Deus e nos outros, do sentir a importância da gratuidade
e da fraternidade. Trata-se da mudança de mentalidade e de coração que também
se pode traduzir em renunciar a isto ou àquilo, que, embora se julgue
apetecível, não é necessário, e o seu custo se coloca de parte para a causa
social anunciada. Para além disso, a conversão pode mesmo implicar o aliviar
dos bolsos (Lc 19, 1-10; Lc 18, 18-23). É uma pedagogia familiar de que tantas
crianças e tantos jovens nos dão tão belos testemunhos, renunciando a um bolo,
a um cigarro, a um café, a um programa televisivo, a ser escravo das redes
socias... ou os leva a estudar mais e melhor, a programar momentos de oração, a
visitar o vizinho acamado ou a viver mais comprometido nas causas da fé e do
bem comum, a respeitar os apelos ao confinamento e a vivê-lo com esperança,
pensando na própria saúde e saúde dos outros... Enfim, trata-se de cada um,
pelos caminhos possíveis, viver a Quaresma de tal forma que o conduza à Páscoa,
descobrindo e redescobrindo cada vez mais o gesto do amor de Deus para connosco
manifestado em Cristo Jesus seu Filho.
A Renúncia Quaresmal
de 2020, em toda a Diocese, e devido ao ambiente de confinamento rigoroso, foi mesmo
mesmo residual (1.769,34€). Tinha como destino ajudar à construção de um Centro
de Acolhimento e Saúde na Arquidiocese de Kananga, República Democrática do
Congo, donde temos dois sacerdotes a trabalhar nesta nossa Diocese. Este ano de
2021, destinamos 60% para o mesmo fim e 40% para o Fundo Social Diocesano,
gerido pela Cáritas. De um Arciprestado, chegou à Cúria Diocesana uma verba de
renúncia quaresmal atrasada, a qual será enviada para o destino anunciado nessa
altura.
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