domingo, 28 de março de 2021

 

PARÓQUIAS DE NISA

 

 

Segunda-feira, 29 de março de 2021

Semana Santa

 

 

 

LITURGIA

  

Segunda-feira da Semana Santa

Roxo – Ofício próprio.
Missa própria, pf. II da Paixão.

L 1 Is 42, 1-7; Sal 26 (27), 1. 2. 3. 13-14
Ev Jo 12, 1-11

* Proibidas as Missas de defuntos, exceto a exequial.

 

MISSA

 

ANTÍFONA DE ENTRADA Salmo 34, 1-2; 139, 8
Julgai, Senhor, os meus inimigos, combatei os que me fazem guerra. Tomai o escudo e a armadura e vinde em meu auxílio, Senhor, meu poderoso Salvador.


ORAÇÃO COLECTA
Olhai, Senhor, para a fragilidade da nossa natureza mortal e fortalecei a esperança dos vossos fiéis pelos méritos do vosso Filho Unigénito, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LEITURA I
Is 42, 1-7 1-  Esta leitura é o “Primeiro Cântico do Servo do Senhor”, o primeiro de uma série de quatro cânticos que serão lidos durante esta semana. Celebram eles os desígnios de Deus, realizados, primeiro, no seu povo de Israel e, finalmente, e de maneira definitiva, no Messias, Jesus, o Servo de Deus, o Salvador. Este primeiro cântico celebra a vocação do Servo de Deus, que é o enlevo do Pai, sobre quem repousa o Espírito de Deus, e Aquele que o Pai envia para ser a luz e a salvação dos homens, como logo canta o salmo.

Leitura do Livro de Isaías


«Eis o meu servo, a quem Eu protejo, o meu eleito, enlevo da minha alma. Sobre ele fiz repousar o meu espírito, para que leve a justiça às nações. Não gritará, nem levantará a voz, nem se fará ouvir nas praças; não quebrará a cana fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega: mas proclamará fielmente a justiça. Não desfalecerá nem desistirá, enquanto não estabelecer a justiça na terra, a doutrina que as ilhas longínquas esperam». Assim fala o Senhor Deus, que criou e estendeu os céus, consolidou a terra e o que ela produz, dá vida ao povo que a habita e respiração aos que sobre ela caminham: «Fui Eu, o Senhor, que te chamei segundo a justiça; tomei-te pela mão, formei-te e fiz de ti a aliança do povo e a luz das nações, para abrires os olhos aos cegos, tirares do cárcere os prisioneiros e da prisão os que habitam nas trevas».


Palavra do Senhor.


SALMO RESPONSORIAL Salmo 26 (27), 1.2.3.13-14 (R. 1a)
Refrão: O Senhor é a minha luz e a minha salvação. Repete-se

O Senhor é minha luz e salvação:
a quem hei de temer?
O Senhor é protetor da minha vida:
de quem hei de ter medo? Refrão

Quando os malvados me assaltaram
para devorar a minha carne,
foram eles, meus inimigos e adversários,
que vacilaram e caíram. Refrão

Se um exército me vier cercar,
o meu coração não temerá.
Se contra mim travarem batalha,
mesmo assim terei confiança. Refrão

Espero vir a contemplar a bondade do Senhor
na terra dos vivos.
Confia no Senhor, sê forte.
Tem coragem e confia no Senhor. Refrão

ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO
Refrão: Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo, Senhor.
Repete-se
Salve, Senhor, nosso Rei;
só Vós tivestes piedade dos nossos erros. Refrão

EVANGELHO Jo 12, 1-11
«Deixa-a em paz:
ela tinha guardado o perfume para o dia da minha sepultura»


A leitura situa-nos exatamente no dia de hoje, falando à maneira judaica: seis dias antes da Páscoa. O ambiente da casa dos três irmãos, amigos de Jesus, é todo de amizade, mas também de pressentimento da morte. No entanto, tudo respira imensa paz, a paz do Mistério Pascal. O gesto de Maria manifesta o amor pelo Mestre, que dá a vida pelos homens. Ao contrário, a interpretação de Judas é cheia de ódio mal disfarçado.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João


Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde vivia Lázaro, que Ele tinha ressuscitado dos mortos. Ofereceram-Lhe lá um jantar: Marta andava a servir e Lázaro era um dos que estavam à mesa com Jesus. Então Maria tomou uma libra de perfume de nardo puro, de alto preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-Lhos com os cabelos; e a casa encheu-se com o perfume do bálsamo. Disse então Judas Iscariotes, um dos discípulos, aquele que havia de entregar Jesus: «Porque não se vendeu este perfume por trezentos denários, para dar aos pobres?» Disse isto, não porque se importava com os pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa comum, tirava o que nela se lançava. Jesus respondeu-lhe: «Deixa-a em paz: ela tinha guardado o perfume para o dia da minha sepultura. Pobres, sempre os tereis convosco; mas a Mim, nem sempre Me tereis». Soube então grande número de judeus que Jesus Se encontrava ali e vieram, não só por causa de Jesus, mas também para verem Lázaro, que Ele tinha ressuscitado dos mortos. Entretanto, os príncipes dos sacerdotes resolveram matar também Lázaro, porque muitos judeus, por causa dele, se afastavam e acreditavam em Jesus.


Palavra da salvação.


ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Olhai benignamente, Senhor, para os sagrados mistérios que celebramos e fazei que seja fonte de vida eterna o sacramento que instituistes para remissão dos nossos pecados. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Prefácio da Paixão do Senhor II


ANTÍFONA DA COMUNHÃO Salmo 101, 3
Não escondais, Senhor, o vosso rosto no dia da minha aflição. Inclinai para mim o vosso ouvido. No dia em que chamar por Vós, respondei-me sem demora.


ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Visitai, Senhor, o povo santificado por estes mistérios e defendei-o com paternal bondade, para que conserve sempre, como remédio de salvação eterna, os dons recebidos da vossa misericórdia. Por Nosso Senhor. 

 

MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA:

 

1. Leitura:  - Lê, respeita, situa o que lês.

     - Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste

 2. Meditação:  - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.

     - Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua vida” 2020.11.28

3. Oração:  - Louva o Senhor, suplica, escuta.

     - Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.

 

LEITURAS: Is 42, 1-7 -  Esta leitura é o “Primeiro Cântico do Servo do Senhor”, o primeiro de uma série de quatro cânticos que serão lidos durante esta semana. Celebram eles os desígnios de Deus, realizados, primeiro, no seu povo de Israel e, finalmente, e de maneira definitiva, no Messias, Jesus, o Servo de Deus, o Salvador. Este primeiro cântico celebra a vocação do Servo de Deus, que é o enlevo do Pai, sobre quem repousa o Espírito de Deus, e Aquele que o Pai envia para ser a luz e a salvação dos homens, como logo canta o salmo.

Jo 12, 1-11 -  A leitura situa-nos exatamente no dia de hoje, falando à maneira judaica: seis dias antes da Páscoa. O ambiente da casa dos três irmãos, amigos de Jesus, é todo de amizade, mas também de pressentimento da morte. No entanto, tudo respira imensa paz, a paz do Mistério Pascal. O gesto de Maria manifesta o amor pelo Mestre, que dá a vida pelos homens. Ao contrário, a interpretação de Judas é cheia de ódio mal disfarçado.

 

 

 AGENDA DO DIA

 

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A VOZ DO PASTOR:

 

E CADA UM VOLTOU PARA SUA CASA!...

 

Há frases a que nunca damos qualquer importância, mesmo que as leiamos vezes sem conta. Mas lá chega um momento em que nos fazem acordar como se de um relógio despertador se tratasse. Levantam-nos da soneira e levam o pensamento para voos sem fim. Isso acontece, sobretudo, quando lemos a Sagrada Escritura. Mesmo que conheçamos certos livros e passagens, há sempre novas perspetivas a descobrir, novas lições a tirar, passagens que, apesar de tantas vezes lidas e escutadas, nunca nos disseram nada. Mas chega um momento em que nos fazem abrir as janelas ao ar fresco da vida, trazem luz, sacodem-nos, levam-nos a outras paragens. É a riqueza da Palavra de Deus, de Deus que sempre nos surpreende e toca no ombro. Há dias, o Evangelho da Eucaristia terminava dizendo que “e cada um voltou para sua casa”.

Oh! Que frase tão comezinha e nada importante, é verdade! Mas o silêncio feito depois de a escutar, fê-la ecoar no sótão pensante e pôs-me a divagar. Neste voltar a casa, a casa pode ser entendida como a pátria, a terra natal, à qual nem sempre há gosto em voltar, sobretudo, se, por falta de condições, até se foi obrigado a sair de lá, ou, como neste momento, muitos não poderão regressar por causa da pandemia. Mas deixemos essa dimensão e fixemo-nos na outra casa, na casa de família. Pode-se voltar para casa vindo de muitos lugares: do trabalho, do cinema, do baile, da tasca, da noite, do café, do casino, da criminalidade, da casa do vizinho, da festa, do estrangeiro... Atendendo às circunstâncias de cada um, esse voltar a casa, pode não trazer consigo o sentimento de alegria, do desejo do encontro. Pode trazer tristeza e até rancor. Tristeza, por tantas e tantas razões. Talvez por saber que tem gente doente em casa, a sofrer, e não sabe o que lhe há de fazer, porque não tem pão na mesa para dar aos filhos e acaba de ser despedido do emprego, porque o amor e a paz deixaram de existir lá dentro daquelas paredes, porque...porque... Mas quem volta a casa pode também vir carregado de más intenções, de revolta, de desejo de violência, de ajuste de contas, de desprezo, vingança.... É verdade que tudo isso, aqui ou ali, pode acontecer. Esse voltar a casa, porém, também pode suscitar diferentes estados de alma a quem está em casa. Pode suscitar sentimentos de alegria e de boas-vindas naqueles que valorizam a família, que a cultivam nos valores e na verdade, que a promovem cada vez mais como comunidade de vida e de amor, como lugar saudável de refúgio e acolhimento, de alegria e de paz, de solidariedade e corresponsabilidade. Mas também pode acontecer que, quem está em casa, esteja sempre com o coração nas mãos. Pressente que quem está a chegar vem alcoolizado como de costume, esmurrado porque sempre em zaragatas, violento a exigir a mísera reforma de seus pais para a sua vida airada, useiro e vezeiro em violência, truculento com jeitos de quem pode e manda e a pensar que quanto mais alto fala mais razão tem...pobres filhos, pobres pais, pobre comunidade familiar!

E cada um voltou para sua casa!... A frase em questão aparece no contexto da discussão sobre quem era afinal aquele homem chamado Jesus, o Senhor da vida e da alegria de viver. Os próprios guardas do Templo, que foram mandatados para o prender, encostaram-se aos outros a ouvir o que Ele dizia e acabaram por regressar a casa sem o prender. Nunca tinham ouvido ninguém falar como aquele homem. A pessoa de Jesus fascinava, era profundamente atraente e inspiradora, nunca fechada a ninguém, sempre disponível ao dom e à alegria. Multidões sem conta apertavam-se para o ouvir falar e lhe tocar. A sua fama espalhava-se cada vez mais por toda a região. Muitos deixavam-se dominar pelo espanto e permaneciam encantados a louvar a Deus por estarem a ver e ouvir coisas tão extraordinárias e diferentes, como transformar a água em vinho, multiplicar o pão e o peixe, perdoar os pecados, ressuscitar os mortos, dar vista aos cegos, curar os coxos, sarar os doentes, acalmar os ventos e as tempestades.... Outros, sem palavras que os satisfizesse, limitavam-se a dizer que um grande profeta aparecera entre eles, que Deus, de facto, tinha visitado o seu povo. Outros, ainda, não menos maravilhados, também se perguntavam, boquiabertos, de onde é que lhe vinha tanta sabedoria e poder, pois pensavam conhecê-lo muito bem como o filho do carpinteiro e de Maria. O impacto que Jesus provocava, não por malabarismos ou excentricidades, mas pelas maravilhas que operava e pela força empática da sua palavra cheia de serenidade e beleza, alegrava as multidões e muitos deixavam tudo para o seguir. No entanto, se uns se maravilhavam com tudo o que estava a acontecer, os que se julgavam donos da verdade e dos outros, sentiam-se incomodados no seu posto, tornaram-se adversários rancorosos de Jesus,  mesmo que em desacordo quanto à sua pessoa. Uns diziam: “Ele é realmente o Profeta”, outros afirmavam: “É o Messias”. Outros, porém, contestavam: “poderá o Messias vir da Galileia? Não diz a escritura que o Messias será da linhagem de David e virá de Belém, a cidade de David?”. “De Nazaré poderá vir alguma coisa boa?”. Nesse animado e desconfiado palanfrório de que nos dá conta o Evangelho, depois de terem ouvido Jesus e de se terem ouvido uns aos outros, puseram fim à discussão “e cada um voltou para sua casa”! Se discordavam quanto à pessoa de Jesus, este voltar a casa transportava neles um pensamento unânime. Todos magicavam como é que se haveriam de ver livres daquela “pestinha”, espécie de intruso a quem era preciso fazer calar, prender e matar. No próximo Domingo, na Leitura da Paixão, à pergunta hipócrita de Pilatos sobre o que havia de fazer a Jesus, ouvi-los-emos a gritar: “Crucifica-o! Crucifica-o!” Obtido esse objetivo e muito senhores de si, também “cada um voltou para sua casa!”

 

Pensando curtir a vida na libertinagem, fora e longe da casa paterna, também o filho pródigo acabou por voltar para casa. Caindo em si, constatou que a sua atitude aventureira o fez cair na maior das misérias. Nostálgico da casa paterna, sentiu o abandono dos amigos da onça, sentiu a vergonha e a solidão, o vazio e o nada, a tristeza e a fome. Arrependido e confiante, ganha coragem e decide regressar. Incerto quanto à reação do pai, ensaiou-se para lhe pedir perdão e que o tratasse como a um simples empregado. O pai, porém, surpreende-o. Logo  que o vê, corre ao seu encontro, abraça-o, beija-o numa felicidade inaudita que nem sequer o quer ouvir a pedir perdão e apoio. Reveste-o com a dignidade de filho, de filho querido e amado com todos os direitos de filho, faz festa e festa rija. Que bom, o filho tinha regressado!

Esta parábola do pai do filho pródigo, foi-nos contada por Jesus para nos revelar o amor de Deus por cada um de nós. O pecado, tantas vezes manifestado no desejo de domínio, na falta de diálogo e transparência, na corrupção, nas formas de vida dupla, na tibieza ou vazio espiritual, na apatia e indiferença, faz-nos sentir mal, afasta-nos de Deus, gera vazio interior, mal estar, desassossega. Mas ninguém pode perdoar os pecados a si próprio. O perdão pede-se a quem se ofendeu. Pelo pecado, pela fuga da casa paterna, cava-se uma rutura na comunhão com Deus e com a Igreja, o que implica a necessidade do perdão de Deus e da reconciliação com a Igreja. Isto acontece através do sacramento da Confissão. Por maior que seja o pecado, a misericórdia de Deus é muito maior. Até no alto da cruz Ele perdoa a quem o matava! É por isso que o perdão dos pecados no sacramento da Confissão deve ser procurado e recebido “como uma prenda, como um dom do Espírito Santo, que nos enche da torrente de misericórdia e de graça que brota incessantemente do Coração aberto de Cristo Crucificado e Ressuscitado”, como afirma o Papa Francisco. É lá que experimentamos, de novo, a proximidade, a misericórdia, a surpresa de Deus que vem ao nosso encontro, nos abraça e dá paz. Não como mera segurança e conforto pessoal, mas como encontro vivo com Ele na força do Espírito Santo, donde nasce um renovado compromisso na construção da santidade e de um mundo melhor. Se o Sacramento da Reconciliação, ou Confissão, for central na vida de cada cristão, tudo será diferente e poderemos dizer uns dos outros que “cada um voltou para sua casa”, com uma fé mais adulta e madura, fermento de renovação familiar e social.

Na esperança da Ressurreição, a Quaresma passa por aí! Feliz Páscoa para todos, com muita saúde, alegria e paz.

 

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 26-03-2021.

 

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QUARESMA - “SAÍA D’ELE UMA FORÇA QUE A TODOS CURAVA” 

 

Na Igreja, a Quaresma é, por natureza, um tempo catecumenal, um tempo de descoberta e redescoberta da fé cristã como relação vital de absoluta confiança no Senhor Jesus Cristo. Aliás, a Páscoa, celebração da revelação plena de Cristo para onde a Quaresma nos conduz, só ganhará densidade espiritual e existencial se a Quaresma se assumir como caminho e exercício de descoberta e redescoberta da relação com Jesus Cristo. A condição humana, cada um de nós, surpreende-se, comove-se diante de Jesus Cristo. Ele é, ao mesmo tempo, tão nosso e tão de Deus, tão humano e tão divino, tão histórico e tão do Céu e da eternidade. Antes de nos dizermos, já Ele nos conhece. Antes de lhe pedirmos, já Ele se nos disponibilizou. Com a sua palavra e os seus gestos de proximidade, cativa-nos. Com o mistério da sua Pessoa, colhe o nosso afeto, a nossa inteligência, a nossa vontade. Tocados pela sua humanidade, tornamo-nos, por bênção sua, capazes de tocar a sua divindade. Assim, rendidos e livres, estabelecemos com Ele uma relação vital de absoluta confiança, por onde, doravante, passará a vida toda. D’Ele brota uma força que não deixa ninguém indiferente e cura todos os males.

 

A fé não é, portanto, uma invenção de religiões. Nenhuma imposição a conseguiria legitimar. Nenhuma lei a conseguiria impor. Nenhum moralismo a conseguiria justificar e ser seu alicerce. Nenhuma tradição, por si só, a conseguiria manter. Tudo isso seriam insuficiências, andaimes solitários sem construção a erguer. Dom recebido e resposta dada, a fé cristã vai buscar muitas das suas dinâmicas mais elementares à vida humana. Mas é na surpresa graciosa do encontro com o dom de Deus em Jesus Cristo que ela se radica como atitude e ritmo. É esta fé, vivida como bênção, presença de Cristo sentida ao nosso lado, é esta fé que vai atravessar a nossa vida com as suas graças e desgraças, os seus encantos e desesperos, as suas alegrias e tristezas. É esta fé, vivida como bênção, que purifica a nossa vida com paixão, com graciosidade e com ousadia profética de batizados. É o nosso batismo, que o mesmo é dizer a nossa fé, que está em causa em cada Quaresma. Conversão e penitência, jejum, esmola e oração são exercícios batismais da nossa vida cristã porque são expressão da nossa vital confiança em Jesus Cristo e da nossa reação ao tempo e aos modos da vida.

 

A pandemia que atravessamos pode ser bem o contexto de humanidade em que a nossa fé é chamada a redescobrir-se e a dar fruto. Exigidas pela situação de crise, há um conjunto de ações que, nos crentes, são autênticos imperativos de consciência da vida cristã: na solidão, saber ser presença construtiva e não escravo da desconfiança; no desespero, saber ser força de esperança; na doença, saber ser cuidador; na dificuldade económica ou social, saber partilhar e promover; na prossecução do bem comum, saber comprometer-se e fazer caminho em comum; nas palavras, saber edificar e promover a verdade; nas atitudes quotidianas, saber eleger e construir a justiça; nas relações pessoais e de cidadania, saber respeitar e acolher. A pandemia, com a doença e a pressão que exerce em toda a sociedade, pode tornar-nos hipersensíveis, facilmente descarriláveis e irascíveis. Pode pressionar-nos e trazer constrangimentos vários à nossa vida. E é aí que é necessário ter sempre Cristo diante dos olhos, ter sempre Cristo no coração e nas mãos. Os cristãos não temos de ser uma maioria social, percentual, para sermos uma maioria virtuosa. Podemos até ser uma minoria, mas, sem nos acanharmos e ganharmos complexo de seita, saberemos ser Igreja à dimensão do mundo e à dimensão do próprio Cristo.

 

Este ano, e por vontade do Papa Francisco, conjugam-se com a nossa Quaresma o Ano da “Família Amoris Laetitia” e o Ano de S. José. Na sua Carta Apostólica para este ano, o Papa Francisco diz-nos que foi com “coração de pai” que José amou Jesus. Humilde, discreto, trabalhador, sempre pronto a realizar a vontade de Deus, homem do silêncio como escuta, atento aos sinais de Deus e aos sinais dos tempos, corajoso, pedagogo e, sobretudo, justo. Em José confrontamo-nos com um homem que é justo porque se ajustou a Deus. E é por se ajustar a Deus que cedo aprendeu a pensar como Deus, a agir como Deus, a amar como Deus. A sua fé e a alegria do seu amor foram o grande motor da sua vida. É também a alegria do amor que o Papa Francisco nos convida a encontrar na família cristã quando promove o Ano “Família Amoris Laetitia”. Ele insiste na leitura da Exortação Apostólica Amoris Laetitia e deseja levar ao aprofundamento da identidade da família cristã como dom de pessoas e como dom à Igreja e ao mundo. Deseja promover o acompanhamento dos esposos, a educação integral dos filhos, a reflexão sobre as luzes e sombras da vida da família cristã, as crises familiares, a participação das famílias nas estruturas de evangelização e da Igreja. Tempo de redescoberta e revitalização da nossa fé, a Quaresma deste ano faz com que se cruzem a fé e a pandemia, a fé e a família, a fé e a gratidão pelo dom da santidade de S. José.

 

De Jesus, na sua Palavra, nos seus gestos, na vida da Igreja como Comunidade, brota uma força que não deixa ninguém indiferente. Como discípulos de Jesus sempre em processo de conversão, somos, pois, desafiados a viver mais uma Quaresma, mais um dom que acontece ao longo da nossa existência. Se a mundaneidade convida ao ter, ao parecer e ao poder, a Quaresma pede especial atenção ao ser. É um tempo de penitência e conversão. Um tempo de oração filial que nos ajuda a limpar, arrumar e romper a dureza do coração, convertendo-nos a Deus e aos irmãos. Uma oração que leve ao jejum do pecado, à mudança menos boa de estar, pensar e falar, à privação do que não é essencial, à penitência e austeridade pessoal, ao sacrifício que liberta. Uma oração que converta e leve àquela partilha a que chamamos “renúncia quaresmal” e que tem um destino determinado por cada Bispo diocesano, tornado público no início da Quaresma e, ao longo da Quaresma, entregue em cada paróquia. Não se trata de renunciar para poupar, não se trata de um peditório, não se trata de uma recolha de fundos, não se trata de dar para ficar arrumado e não me incomodarem mais, não se trata de pagar, não se trata tanto de dar uma esmola a quem a pede ou necessita, embora não se deva permanecer indiferente e fazer vista grossa. Trata-se duma caminhada espiritual disciplinada e vivida na alegria da oração, da conversão interior, do pensar em Deus e nos outros, do sentir a importância da gratuidade e da fraternidade. Trata-se da mudança de mentalidade e de coração que também se pode traduzir em renunciar a isto ou àquilo, que, embora se julgue apetecível, não é necessário, e o seu custo se coloca de parte para a causa social anunciada. Para além disso, a conversão pode mesmo implicar o aliviar dos bolsos (Lc 19, 1-10; Lc 18, 18-23). É uma pedagogia familiar de que tantas crianças e tantos jovens nos dão tão belos testemunhos, renunciando a um bolo, a um cigarro, a um café, a um programa televisivo, a ser escravo das redes socias... ou os leva a estudar mais e melhor, a programar momentos de oração, a visitar o vizinho acamado ou a viver mais comprometido nas causas da fé e do bem comum, a respeitar os apelos ao confinamento e a vivê-lo com esperança, pensando na própria saúde e saúde dos outros... Enfim, trata-se de cada um, pelos caminhos possíveis, viver a Quaresma de tal forma que o conduza à Páscoa, descobrindo e redescobrindo cada vez mais o gesto do amor de Deus para connosco manifestado em Cristo Jesus seu Filho.

 

A Renúncia Quaresmal de 2020, em toda a Diocese, e devido ao ambiente de confinamento rigoroso, foi mesmo residual (1.769,34€). Tinha como destino ajudar à construção de um Centro de Acolhimento e Saúde na Arquidiocese de Kananga, República Democrática do Congo, donde temos dois sacerdotes a trabalhar nesta nossa Diocese. Este ano de 2021, destinamos 60% para o mesmo fim e 40% para o Fundo Social Diocesano, gerido pela Cáritas. De um Arciprestado, chegou à Cúria Diocesana uma verba de renúncia quaresmal atrasada, a qual será enviada para o destino anunciado nessa altura.

 

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