PARÓQUIAS DE NISA
Quarta-feira, 24 de março de 2021
V semana da quaresma
LITURGIA
Quarta-feira
da semana V
Roxo – Ofício da féria.
Missa da féria, pf. I da Paixão.
L 1 Dan 3, 14-20. 91-92. 95; Sal Dan 3, 52. 53. 54. 55. 56
Ev Jo 8, 31-42
* I Vésp. da Anunciação do Senhor – Compl. dep. I Vésp. dom.
MISSA
ANTÍFONA
DE ENTRADA Salmo 17,
48-49
Vós, Senhor, me libertais dos inimigos,
Vós me exaltais sobre os meus adversários,
Vós me salvais dos homens violentos.
ORAÇÃO COLECTA
Deus de infinita misericórdia, iluminai os corações dos vossos fiéis que se
purificam na penitência e atendei as preces daqueles a quem inspirastes o
desejo ardente de Vos servir. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é
Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I Dan 3, 14-20.91-92.95
«Enviou os seus Anjos para livrar os seus servos»
Leitura da
Profecia de Daniel
Naqueles dias, Nabucodonosor, rei de Babilónia, disse aos três jovens
israelitas: «Será verdade, Sidrac, Misac e Abdénago, que não prestais culto aos
meus deuses, nem adorais a estátua de ouro que mandei levantar? Pois bem.
Quando ouvirdes tocar a trombeta, a flauta, a cítara,a harpa, o saltério, a
gaita de foles e todos os outros instrumentos, estais dispostos a prostrar-vos
e adorar a estátua que mandei fazer? Se não a quiserdes adorar, sereis
imediatamente lançados na fornalha ardente. E qual é o deus que poderá
livrar-Vos das minhas mãos?». Sidrac, Misac e Abdénago responderam ao rei
Nabucodonosor: «Não é necessário responder-te a propósito disto, ó rei. O nosso
Deus, a quem prestamos culto, pode livrar-nos da fornalha ardente e livrar-nos
também das tuas mãos. Mas ainda que o não faça, fica sabendo, ó rei, que não
prestamos culto aos teus deuses, nem adoraremos a estátua de ouro que mandaste
levantar». Então Nabucodonosor encheu-se de cólera e alterou o semblante contra
Sidrac, Misac e Abdénago. Mandou aquecer a fornalha sete vezes mais do que o
costume e ordenou a alguns dos seus mais valentes guerreiros que ligassem
Sidrac, Misac e Abdénago e os lançassem na fornalha ardente. Entretanto, o rei
Nabucodonosor, sobressaltado, levantou-se precipitadamente e perguntou aos seus
conselheiros: «Não é verdade que ligámos e lançámos três homens na fornalha
ardente?» Eles responderam: «Certamente, ó rei». Continuou o rei: «Mas eu vejo
quatro homens a passearem livremente no meio do fogo sem nada sofrerem e o
quarto tem o aspeto de um filho dos deuses». Então Nabucodonosor exclamou:
«Bendito seja o Deus de Sidrac, Misac e Abdénago, que enviou o seu Anjo para
livrar os seus servos, que, confiando n’Ele, desobedeceram à ordem do rei e
arriscaram a sua vida a fim de não prestarem culto ou adoração a qualquer
divindade que não fosse o seu Deus».
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Dan 3, 52.53.54.55.56 (R. 52b)
Refrão: Digno é o Senhor
de louvor e de glória para sempre. Repete-se
Bendito sejais, Senhor, Deus dos nossos pais:
digno de louvor e de glória para sempre.
Bendito o vosso nome glorioso e santo:
digno de louvor e de glória para sempre. Refrão
Bendito sejais no templo santo da vossa glória:
digno de louvor e de glória para sempre.
Bendito sejais no trono da vossa realeza:
digno de louvor e de glória para sempre. Refrão
Bendito sejais, Vós que sondais os abismos
e estais sentado sobre os Querubins:
digno de louvor e de glória para sempre.
Bendito sejais no firmamento do céu:
digno de louvor e de glória para sempre. Refrão
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO cf. Lc 8, 15
Refrão: Glória a Vós, Senhor, Filho do
Deus vivo. Repete-se
Felizes os que recebem a palavra de Deus
de coração sincero e generoso
e produzem fruto pela perseverança. Refrão
EVANGELHO Jo 8, 31-42
Se o Filho vos libertar, sereis realmente livres»
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, dizia Jesus aos judeus que tinham acreditado n’Ele: «Se
permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos,
conhecereis a verdade e a verdade vos libertará». Eles responderam-Lhe: «Nós
somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém. Como é que Tu
dizes: ‘Ficareis livres’?» Respondeu Jesus: «Em verdade, em verdade vos digo:
Todo aquele que comete o pecado é escravo. Ora o escravo não fica para sempre
em casa ; o filho é que fica para sempre. Mas se o Filho vos libertar, sereis
realmente homens livres. Bem sei que sois descendentes de Abraão; mas procurais
matar-Me, porque a minha palavra não entra em vós. Eu digo o que vi junto de
meu Pai e vós fazeis o que ouvistes ao vosso pai». Eles disseram: «O nosso pai
é Abraão». Respondeu-lhes Jesus: «Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras
de Abraão. Mas procurais matar-Me, a Mim que vos disse a verdade que ouvi de
Deus. Abraão não procedeu assim. Vós fazeis as obras do vosso pai». Disseram-Lhe
eles: «Nós não somos filhos ilegítimos; só temos um pai, que é Deus».
Respondeu-lhes Jesus: «Se Deus fosse o vosso Pai, amar-Me-íeis, porque saí de
Deus e d’Ele venho. Eu não vim de Mim próprio; foi Ele que Me enviou».
Palavra da salvação.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Aceitai, Senhor, as ofertas que Vos são consagradas e fazei que estes dons,
oferecidos para glória do vosso nome, sirvam de remédio para as nossas almas.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do
Espírito Santo.
Prefácio da Paixão do Senhor I
ANTÍFONA DA COMUNHÃO Col 1, 13-14
O Senhor chamou-nos para o reino do seu amado Filho, que nos remiu com o seu
sangue e perdoou os nossos pecados.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
O sacramento que recebemos, Senhor, seja para nós remédio celeste que purifique
os nossos corações de todo o mal e nos assegure a vossa contínua proteção. Por
Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do
Espírito Santo.
MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA:
1. Leitura: - Lê, respeita, situa o
que lês.
- Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste
2.
Meditação: - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.
- Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua
vida” 2020.11.28
3. Oração: - Louva o Senhor,
suplica, escuta.
- Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.
LEITURAS:
Dan 3, 14-20.91-92.95 :A
libertação será a situação em que seja possível viver a vida em plenitude sem
nada a entravar-lhe o contínuo crescimento. Só apoiados em Deus o poderemos
conseguir. Assim o experimentaram os jovens vítimas do rei de Babilónia. Esta
leitura representa a imagem da Igreja neste mundo, sempre perseguido pelo
espírito do mal, sempre liberto pelo poder e pelo amor de Deus. Já nas
catacumbas se encontra, com frequência, a alusão ao martírio dos jovens da
fornalha de Babilónia, como tipo da perseguição de que sofre o povo de Deus
neste mundo.
Jo 8, 31-42: Mais
ainda do que os jovens mártires de Babilónia, poderá experimentar a libertação
todo aquele que se tornar, dia a dia, discípulo na escola de Cristo: aí poderá
experimentar, dia a dia, o crescimento no espírito, na verdade, no amor. É-se
filho de Abraão, do povo de Deus, não pelo sangue, mas pela fé em Cristo.
Está-se livre, quando se não é escravo do pecado. A Páscoa é a festa da
libertação, para ela nos encaminhamos nestes dias de preparação quaresmal.
AGENDA DO DIA
18.00 horas: Missa em
Nisa
A VOZ DO PASTOR:
É
O CAMINHO QUE VEM AO NOSSO ENCONTRO?!...
Então não somos nós que andamos à procura do caminho
que dê sentido à vida? Não somos nós que, perante tantas e tantas encruzilhadas
de não menos estradas, caminhos e carreiros, sentimos dificuldade em fazer
opção, porque nem sempre a melhor rota é a que está à frente ao nariz? Não
somos nós que, por causa disso, tantas vezes cortamos por atalhos que nos levam
a becos sem saída, fazendo-nos apear e atar as mãos à cabeça? Então como é o
caminho que vem ao nosso encontro?
No Ofício de Leituras do Domingo passado, Agostinho
de Hipona mimoseou-nos com um piropo de fazer ganir, assim: “Levanta-te,
preguiçoso. O próprio caminho veio ao teu encontro e despertou-te do sono em
que dormias, se é que chegou a despertar-te. Levanta-te e anda. Talvez tentes
andar e não consigas, por te doerem os pés. E por que motivo te doem? Não será
pela dureza dos caminhos que a avareza te levou a percorrer? Mas o Verbo de
Deus curou também os coxos. “Eu tenho os pés sãos, dizes tu, mas não vejo o
caminho”. Lembra-te que Ele também deu vistas aos cegos”.
Pois, pois, não sejas cego, amigo, abre os olhos e
vê, nem que seja com os olhos de antanho, de há cerca de três mil anos atrás,
assim: “Quem mediu com a mão as águas do mar, quem mediu a palmo as dimensões
do céu? Quem mediu com o alqueire o pó da terra, quem pesou na báscula as
montanhas e na balança as colinas? Quem dirigiu o espírito do Senhor, qual foi
o conselheiro que lhe deu lições? De quem recebeu Ele conselho para julgar,
para lhe ensinar o caminho da justiça? Quem lhe ensinou a sabedoria e lhe
mostrou o caminho da prudência? As nações são para Ele como a gota de água no
balde, não passam de um grão de areia na balança. As ilhas não pesam mais que
uma poeira fina (...) As nações todas juntas nada são diante d’Ele (...)
Porventura não sabeis? Nunca
ouvistes dizer? Não vos foi anunciado desde o começo? (...) Erguei os olhos
para o céu e observai: quem criou todos estes astros? Aquele que organiza e põe
em marcha o exército das estrelas, chamando cada uma pelo seu nome. Tão grande
é o seu poder e tão firme é a sua força, que ninguém deixa de se apresentar.
(...) Não o sabes? Não ouviste dizer? O Senhor é o Deus eterno; foi Ele quem
criou os confins do mundo. Ele não se cansa, nem se fadiga, e a sua
inteligência é insondável. Ele dá ânimo ao cansado e recupera as forças do
enfraquecido. Até os jovens se fatigam e cansam, e os rapazes também tropeçam e
caem, mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, criam asas, como
águias, correm e não se fatigam, podem andar que não se cansam” (Is 40, 12-31).
A sua mensagem ressoa por toda a terra: os céus
proclamam a glória de Deus e o
firmamento anuncia a obra das suas mãos. O
dia transmite ao outro esta mensagem e
a noite a dá a conhecer à outra noite. Não
são palavras nem linguagem cujo
sentido se não perceba. O seu eco
ressoou por toda a terra e a sua
notícia até aos confins do mundo (cf. Sl
18). Um outro Salmo reza assim: Ele tudo
vê e tudo ouve, todos os nossos caminhos lhe são familiares. Se assim é, quem
se poderá esconder d’Ele? Para onde irei longe do teu sopro? Para onde fugirei,
longe da tua presença? Se subo ao céu, Tu lá estás. Se desço ao abismo, lá Te
encontro. Se levanto voo para as margens da aurora, se emigro para os confins
do mar, aí me alcançara a Tua esquerda e a Tua direita me sustentará (cf. Sl
139).
Se não devemos permanecer como cegos
deixando de contemplar as maravilhas do Senhor, também não podemos coxear para
dizer que não conseguimos encontrar o caminho, tal como o jogador matreiro que,
à boca da baliza, não mete um golo evidente e finge ter tido uma cãibra na
perna. Aqui, nem desculpas dessas pode haver, é o próprio caminho que veio ao
nosso encontro. Deus faz-se encontrado em seu Filho. Jesus, que veio do Pai e
permanece junto do Pai, apresentou-se como a Verdade e a Vida. Mas também se
apresentou como sendo o Caminho a seguir para encontrar a Verdade e a Vida. Eu
sou o Caminho, disse-nos Ele, se queres vir, anda daí, pega na tua cruz e
segue-me, Eu sou manso e humilde de coração, vim para que tenhas a alegria e a
tua alegria seja completa, sem Mim nada podes fazer, fica comigo!
A
Quaresma, que, aliás, não é só para os outros, é um tempo de descoberta e de
acolhimento de Jesus, ficando com Ele. Dirás: “Não o vejo, não o sinto”. Mas
será que é isso mesmo?... Se queres tirar as teimas, anda daí, deixa-te de
preconceitos, fecha a porta, desliga todos os empecilhos e afins que te
distraem. Abre os olhos, afina os ouvidos do teu coração para apanhares o tom e
sintonizares na frequência da sua voz e das suas surpresas. Fala, grita,
contesta, chora, discorda d’Ele se é isso que te vai na alma, bate com o punho
na mesa. Ele, que te conhece muito melhor que tu a ti próprio, está aí, no
silêncio de ti mesmo, a ouvir-te com toda a serenidade e paciência, sem te
despachar, sem te cortar a palavra, sem te reprovar seja sobre o que for, sem
perder a serenidade própria da amizade que sabe ouvir e gerar empatia. Depois
dessa tua furiosa guerra, desce do cavalo e cria espaço para também o ouvires
até ao fim. Com certeza que Ele, como amigo que te ama e por quem deu a vida,
tem muita coisa a dizer-te. Como ovelhita perdida, alvo da sua preocupação e procura, Ele
carrega-te aos ombros, os mesmos ombros que carregaram a cruz onde foi morto,
morto por ti, morto por cada um de nós para a todos restituir à liberdade e à
Vida. Ele quer festejar contigo, quer abraçar-te, vestir-te de gala para
comemorar o teu regresso com uma multidão sem número, com aquela banda sonora
que tu aprecias e um banquete sem igual...
É
Quaresma!... A boa Quaresma também passa pelo Sacramento da Reconciliação.
Antonino
Dias
Portalegre-Castelo
Branco, 19-03-2021.
.
*************************
QUARESMA - “SAÍA D’ELE UMA FORÇA QUE A TODOS
CURAVA”
Na
Igreja, a Quaresma é, por natureza, um tempo catecumenal, um tempo de
descoberta e redescoberta da fé cristã como relação vital de absoluta confiança
no Senhor Jesus Cristo. Aliás, a Páscoa, celebração da revelação plena de
Cristo para onde a Quaresma nos conduz, só ganhará densidade espiritual e
existencial se a Quaresma se assumir como caminho e exercício de descoberta e
redescoberta da relação com Jesus Cristo. A condição humana, cada um de nós,
surpreende-se, comove-se diante de Jesus Cristo. Ele é, ao mesmo tempo, tão
nosso e tão de Deus, tão humano e tão divino, tão histórico e tão do Céu e da
eternidade. Antes de nos dizermos, já Ele nos conhece. Antes de lhe pedirmos,
já Ele se nos disponibilizou. Com a sua palavra e os seus gestos de
proximidade, cativa-nos. Com o mistério da sua Pessoa, colhe o nosso afeto, a
nossa inteligência, a nossa vontade. Tocados pela sua humanidade, tornamo-nos,
por bênção sua, capazes de tocar a sua divindade. Assim, rendidos e livres,
estabelecemos com Ele uma relação vital de absoluta confiança, por onde,
doravante, passará a vida toda. D’Ele brota uma força que não deixa ninguém
indiferente e cura todos os males.
A
fé não é, portanto, uma invenção de religiões. Nenhuma imposição a conseguiria
legitimar. Nenhuma lei a conseguiria impor. Nenhum moralismo a conseguiria
justificar e ser seu alicerce. Nenhuma tradição, por si só, a conseguiria
manter. Tudo isso seriam insuficiências, andaimes solitários sem construção a
erguer. Dom recebido e resposta dada, a fé cristã vai buscar muitas das suas
dinâmicas mais elementares à vida humana. Mas é na surpresa graciosa do
encontro com o dom de Deus em Jesus Cristo que ela se radica como atitude e
ritmo. É esta fé, vivida como bênção, presença de Cristo sentida ao nosso lado,
é esta fé que vai atravessar a nossa vida com as suas graças e desgraças, os
seus encantos e desesperos, as suas alegrias e tristezas. É esta fé, vivida como
bênção, que purifica a nossa vida com paixão, com graciosidade e com ousadia
profética de batizados. É o nosso batismo, que o mesmo é dizer a nossa fé, que
está em causa em cada Quaresma. Conversão e penitência, jejum, esmola e oração
são exercícios batismais da nossa vida cristã porque são expressão da nossa
vital confiança em Jesus Cristo e da nossa reação ao tempo e aos modos da vida.
A
pandemia que atravessamos pode ser bem o contexto de humanidade em que a nossa
fé é chamada a redescobrir-se e a dar fruto. Exigidas pela situação de crise,
há um conjunto de ações que, nos crentes, são autênticos imperativos de
consciência da vida cristã: na solidão, saber ser presença construtiva e não
escravo da desconfiança; no desespero, saber ser força de esperança; na doença,
saber ser cuidador; na dificuldade económica ou social, saber partilhar e
promover; na prossecução do bem comum, saber comprometer-se e fazer caminho em
comum; nas palavras, saber edificar e promover a verdade; nas atitudes
quotidianas, saber eleger e construir a justiça; nas relações pessoais e de
cidadania, saber respeitar e acolher. A pandemia, com a doença e a pressão que
exerce em toda a sociedade, pode tornar-nos hipersensíveis, facilmente
descarriláveis e irascíveis. Pode pressionar-nos e trazer constrangimentos
vários à nossa vida. E é aí que é necessário ter sempre Cristo diante dos
olhos, ter sempre Cristo no coração e nas mãos. Os cristãos não temos de ser
uma maioria social, percentual, para sermos uma maioria virtuosa. Podemos até
ser uma minoria, mas, sem nos acanharmos e ganharmos complexo de seita,
saberemos ser Igreja à dimensão do mundo e à dimensão do próprio Cristo.
Este
ano, e por vontade do Papa Francisco, conjugam-se com a nossa Quaresma o Ano da
“Família Amoris Laetitia” e o Ano de S. José. Na sua Carta Apostólica para este
ano, o Papa Francisco diz-nos que foi com “coração de pai” que José amou Jesus.
Humilde, discreto, trabalhador, sempre pronto a realizar a vontade de Deus,
homem do silêncio como escuta, atento aos sinais de Deus e aos sinais dos
tempos, corajoso, pedagogo e, sobretudo, justo. Em José confrontamo-nos com um
homem que é justo porque se ajustou a Deus. E é por se ajustar a Deus que cedo
aprendeu a pensar como Deus, a agir como Deus, a amar como Deus. A sua fé e a
alegria do seu amor foram o grande motor da sua vida. É também a alegria do
amor que o Papa Francisco nos convida a encontrar na família cristã quando
promove o Ano “Família Amoris Laetitia”. Ele insiste na leitura da Exortação
Apostólica Amoris Laetitia e deseja levar ao aprofundamento da identidade da
família cristã como dom de pessoas e como dom à Igreja e ao mundo. Deseja
promover o acompanhamento dos esposos, a educação integral dos filhos, a
reflexão sobre as luzes e sombras da vida da família cristã, as crises
familiares, a participação das famílias nas estruturas de evangelização e da
Igreja. Tempo de redescoberta e revitalização da nossa fé, a Quaresma deste ano
faz com que se cruzem a fé e a pandemia, a fé e a família, a fé e a gratidão
pelo dom da santidade de S. José.
De
Jesus, na sua Palavra, nos seus gestos, na vida da Igreja como Comunidade,
brota uma força que não deixa ninguém indiferente. Como discípulos de Jesus
sempre em processo de conversão, somos, pois, desafiados a viver mais uma
Quaresma, mais um dom que acontece ao longo da nossa existência. Se a
mundaneidade convida ao ter, ao parecer e ao poder, a Quaresma pede especial
atenção ao ser. É um tempo de penitência e conversão. Um tempo de oração filial
que nos ajuda a limpar, arrumar e romper a dureza do coração, convertendo-nos a
Deus e aos irmãos. Uma oração que leve ao jejum do pecado, à mudança menos boa
de estar, pensar e falar, à privação do que não é essencial, à penitência e
austeridade pessoal, ao sacrifício que liberta. Uma oração que converta e leve
àquela partilha a que chamamos “renúncia quaresmal” e que tem um destino
determinado por cada Bispo diocesano, tornado público no início da Quaresma e,
ao longo da Quaresma, entregue em cada paróquia. Não se trata de renunciar para
poupar, não se trata de um peditório, não se trata de uma recolha de fundos,
não se trata de dar para ficar arrumado e não me incomodarem mais, não se trata
de pagar, não se trata tanto de dar uma esmola a quem a pede ou necessita,
embora não se deva permanecer indiferente e fazer vista grossa. Trata-se duma
caminhada espiritual disciplinada e vivida na alegria da oração, da conversão
interior, do pensar em Deus e nos outros, do sentir a importância da gratuidade
e da fraternidade. Trata-se da mudança de mentalidade e de coração que também
se pode traduzir em renunciar a isto ou àquilo, que, embora se julgue
apetecível, não é necessário, e o seu custo se coloca de parte para a causa
social anunciada. Para além disso, a conversão pode mesmo implicar o aliviar
dos bolsos (Lc 19, 1-10; Lc 18, 18-23). É uma pedagogia familiar de que tantas
crianças e tantos jovens nos dão tão belos testemunhos, renunciando a um bolo,
a um cigarro, a um café, a um programa televisivo, a ser escravo das redes
socias... ou os leva a estudar mais e melhor, a programar momentos de oração, a
visitar o vizinho acamado ou a viver mais comprometido nas causas da fé e do
bem comum, a respeitar os apelos ao confinamento e a vivê-lo com esperança,
pensando na própria saúde e saúde dos outros... Enfim, trata-se de cada um,
pelos caminhos possíveis, viver a Quaresma de tal forma que o conduza à Páscoa,
descobrindo e redescobrindo cada vez mais o gesto do amor de Deus para connosco
manifestado em Cristo Jesus seu Filho.
A Renúncia Quaresmal de 2020, em toda a Diocese, e devido ao ambiente de confinamento rigoroso, foi mesmo mesmo residual (1.769,34€). Tinha como destino ajudar à construção de um Centro de Acolhimento e Saúde na Arquidiocese de Kananga, República Democrática do Congo, donde temos dois sacerdotes a trabalhar nesta nossa Diocese. Este ano de 2021, destinamos 60% para o mesmo fim e 40% para o Fundo Social Diocesano, gerido pela Cáritas. De um Arciprestado, chegou à Cúria Diocesana uma verba de renúncia quaresmal atrasada, a qual será enviada para o destino anunciado nessa altura.
Sem comentários:
Enviar um comentário