sexta-feira, 19 de março de 2021

 

PARÓQUIAS DE NISA

 

 

Sábado, 20 de março de 2021

IV semana da quaresma

 

 

LITURGIA

 

Sábado da semana IV

Roxo – Ofício da féria.
Missa da féria, pf. da Quaresma.

L 1 Jer 11, 18-20; Sal 7, 2-3. 9bc-10. 11-12
Ev Jo 7, 40-53

Pode manter-se o costume de cobrir as cruzes e as imagens. As cruzes continuam veladas até ao fim da celebração da Paixão do Senhor, na Sexta-feira da Semana Santa, e as imagens até ao princípio da Vigília Pascal.
* I Vésp. do domingo – Compl. dep. I Vésp. dom.

 

MISSA

 

ANTÍFONA DE ENTRADA Salmo 17, 5-7
Cercaram-me as ondas da morte, envolveram-me os laços do abismo. Na minha aflição invoquei o Senhor do seu templo santo Ele ouviu a minha voz.


ORAÇÃO COLECTA
A vossa misericórdia, Senhor, dirija os nossos corações, porque sem Vós não podemos agradar-Vos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


LEITURA I Jer 11, 18-20
«Eu era como manso cordeiro levado ao matadouro»

Leitura do Livro de Jeremias


Quando o Senhor me avisou, eu compreendi; vi então as maquinações dos meus inimigos. Eu era como manso cordeiro levado ao matadouro e ignorava a conjura que tramavam contra mim, dizendo: «Destruamos a árvore no seu vigor, arranquemo-la da terra dos vivos, para não mais se falar no seu nome». Senhor do Universo, que julgais com justiça e sondais os sentimentos e o coração, seja eu testemunha do castigo que haveis de aplicar- lhes, pois a Vós confio a minha causa.


Palavra do Senhor.


SALMO RESPONSORIAL Salmo 7, 2-3.9bc-10.11-12 (R. 2a)
Refrão: Senhor, meu Deus, em Vós espero. Repete-se

Senhor, meu Deus, em Vós me refugio,
livrai-me de quantos me perseguem e salvai-me.
Não me arrebatem como o leão
e me dilacerem sem ter quem me salve. Refrão


Julgai-me, Senhor, segundo a minha justiça,
segundo a minha inocência.
Acabe a malícia dos ímpios e confortai o justo,
Vós, Deus de justiça,
que sondais o íntimo dos corações. Refrão


A minha proteção está em Deus,
que salva os homens retos de coração.
Deus é o juiz justo,
um Deus que pode castigar todos os dias. Refrão


ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO cf. Lc 8, 15
Refrão: A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo,
Nosso Senhor.
Repete-se

Felizes os que recebem a palavra de Deus
de coração sincero e generoso
e produzem fruto pela perseverança. Refrão


EVANGELHO Jo 7, 40-53
«Poderá o Messias vir da Galileia»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João


Naquele tempo, alguns que tinham ouvido as palavras de Jesus diziam no meio da multidão: «Ele é realmente o Profeta». Outros afirmavam: «É o Messias». Outros, porém, diziam: «Poderá o Messias vir da Galileia? Não diz a Escritura que o Messias será da linhagem de David e virá de Belém, a cidade de David?» Houve assim desacordo entre a multidão a respeito de Jesus. Alguns deles queriam prendê-l’O, mas ninguém Lhe deitou as mãos. Então os guardas do templo foram ter com os príncipes dos sacerdotes e com os fariseus e estes perguntaram-lhes: «Porque não O trouxestes?». Os guardas responderam: «Nunca ninguém falou como esse homem». Os fariseus replicaram: «Também vos deixastes seduzir? Porventura acreditou n’Ele algum dos chefes ou dos fariseus? Mas essa gente, que não conhece a Lei, está maldita». Disse-lhes Nicodemos, aquele que anteriormente tinha ido ter com Jesus e era um deles: «Acaso a nossa Lei julga um homem sem antes o ter ouvido e saber o que ele faz?» Responderam-lhe: «Também tu és galileu? Investiga e verás que da Galileia nunca saiu nenhum profeta». E cada um voltou para sua casa.


Palavra da salvação.


ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Recebei, Senhor, com benevolência os dons que Vos apresentamos e submetei os nossos corações rebeldes à vossa santíssima vontade. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Prefácio da Quaresma


ANTÍFONA DA COMUNHÃO 1 Pedro 1, 19
Fomos resgatados de toda a culpa
pelo sangue precioso de Cristo, Cordeiro imaculado.


ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Fazei, Senhor, que os vossos santos mistérios nos purifiquem de todo o mal e o seu poder santificador nos torne agradáveis aos vossos olhos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 

MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA:

 

1. Leitura:  - Lê, respeita, situa o que lês.

     - Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste

 2. Meditação:  - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.

     - Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua vida” 2020.11.28

3. Oração:  - Louva o Senhor, suplica, escuta.

     - Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.

 

LEITURAS: Jer 11, 18-20: As palavras desta leitura foram escritas acerca de Jeremias, perseguido e maltratado. Lemo-las hoje a propósito de Jesus. Ele, que é “como manso cordeiro”, acaba por ser abatido como a “árvore em plena pujança”, arrancada da terra dos vivos. O caso de Jesus é, neste ponto, a manifestação máxima do que acontece a todos os que amam a justiça, que em todos esses se continua a Paixão do Senhor. Jesus vai ser, de facto o cordeiro pascal imolado por todos.

Jo 7, 40-53: A morte e ressurreição de Jesus é o juizo do mundo. Em volta d’Ele, os homens dividem-se; Ele, que veio para estabelecer a unidade universal, a união de todo o universo com o Pai, acaba por ser “sinal de contradição”, para os olhos e o coração de quem para Ele se não sabe voltar. Alguns, a princípio, ainda quiseram ver em Jesus, “o Profeta”, aquele que Moisés um dia anunciou que havia de vir depois dele, como novo Moisés, o Messias; mas, de Nazaré! E começa a realizar-se em Jesus o sinal de contradição anunciado por Simão no dia da Apresentação de Jesus no Templo, aos quarenta dias de nascido.

 

 

 AGENDA DO DIA

 

15.00 horas: Missa em Salavessa

16.00 horas: Missa em Pé da Serra

16.00 horas: Missa no Pardo

18.00 horas: Missa em Nisa

18.00 horas: Missa em Alpalhão.

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A VOZ DO PASTOR:

 

COISAS DO ARCO DA VELHA!...

 

Ainda que não seja mago nem vidente, hoje vou falar de magia. Se mirabolantes, os fenómenos que apresento são evidentíssimos. Mesmo sem querer, constatam-se por aí, de quando em vez, coisas que não sei se serão do arco se da arca da velha, o leitor poderá escolher! Se não desafiam as ninfas do tejo, atestam a necessidade de purificação e de saber em quem é que, afinal, acreditamos! Terço pendurado no espelho, junto ao volante da viatura, e a ferradura atrás no taipal ou à frente, até em automóveis. Cordão pendurado ao pescoço com o Crucifixo, mas este misturado com chifres, figas e outras velharias mais, quais amados bezerros de ouro! Muitas imagens de santos, dentro de casa, e, à porta ou portão, uma ferradura ou afins. Crianças acabadas de batizar, e logo alguém a colocar-lhe uma pulseirinha no pulso com toda essa tralha, pois não vá o diabo tecê-las!... E muito mais se poderá acrescentar. Querendo estar bem com os dois, acende-se uma vela a Deus e outra ao diabo, como soe dizer-se, e eles que façam o favor de lá se entender... Fraco testemunho cristão, mesmo que alguém diga que ninguém tem nada a ver com isso! É certo que não, nem é isso que está em causa. No entanto, para além do dever de dar bom testemunho, nenhum cristão se merece sujeitar à mofa silenciosa e escarninha do bom senso!

Vou falar de magia. É evidente que não me refiro àquela magia que é a arte dos ilusionistas e prestidigitadores. Com a sua imaginação, cultura, conhecimentos e habilidade, através de jogos de mãos, truques e meios naturais, criam a ilusão de estarem a desafiar as leis da física e exercem saudável fascínio no público que se diverte com isso. Esta magia não utiliza elementos ilícitos, não tem objetivos desonestos, é inofensiva, é legítima, é arte.

Refiro-me àquela magia que, se não é fácil de definir, implica uma visão do mundo que faz crer na existência de forças ocultas que vagueiam pelo mundo e exercem a sua influência sobre a vida do cosmos e do homem. Quem as promove e exerce, mesmo que nelas não acredite, pretende convencer os outros que pode controlar essas forças e obter resultados automáticos. Porque precisam de levar a vida, convém-lhes que assim seja e difundem tal serviço, mas a culpa não é deles, são livres e respeitáveis, a culpa é de quem lá vai, embora também sejam livres. Como escreveram os Bispos da Toscânia, na sua Nota Pastoral sobre “Magia e Demónios”, publicada pela Paulinas Editora e que me provocou e apoiou neste texto, “os mágicos, que atribuem a si próprios o poder de resolver problemas de amor, de saúde e de riqueza, ou ainda os que pretendem libertar do “mau-olhado”, de “feitiços”, são indivíduos que fazem a sua própria publicidade através de anúncios pagos nos jornais diários de grande circulação, exibem diplomas ou outros comprovativos universitários e chegam mesmo a aparecer nos meios audiovisuais, sobretudo na televisão. Não é exagero falar de uma “indústria da magia”.

Se há a magia branca negativa, a imitativa, a contagiosa e a encantadora, saliento a “magia negra”, aquela que recorre a poderes diabólicos ou pretende atuar sob a sua influência, transformando os seus seguidores em “servidores de Satanás”. Tem o seu auge nas “missas negras”. No campo da adivinhação, para além da que pretende predizer ou ler o destino das pessoas através dos astros e das estrelas (astrologia), ou mediante as cartas (cartomancia/tarologia), ou das linhas das mãos (quiromancia) ou doutras trapalhices, temos aquela que recorre a médiuns para invocar o espírito dos mortos e revelar o futuro (necromancia ou espiritismo). Mas há outros grupos esotéricos e ocultistas, antigos ou recentes, da teosofia à antroposofia e à New Age, a pretender penetrar no conhecimento de verdades ocultas e adquirir poderes espirituais especiais.

Sobre a sua credibilidade “a razão científica contemporânea, ou simplesmente a razão essencial, considera a magia como uma forma de irracionalidade, seja com respeito a conceções pré-lógicas que se atribui, seja em relação aos meios que ativa ou aos objetivos que procura”. Para os cristãos, continua a ser atual o que a Igreja sempre ensinou: “Ninguém no teu seio faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha; ou se dê a encantamentos, aos augúrios, à adivinhação, à magia, ao feiticismo, ao espiritismo, aos sortilégios, à evocação dos mortos, porque o Senhor abomina todos os que fazem tais coisas” (Dt 18,9-12), “não vos contamineis com isso. Eu sou o Senhor vosso Deus” (Lv 19,31). Há contradição entre o anúncio da fé e a magia. O pensamento e comportamento mágico manipulam espiritualmente a realidade, alienam, criam obstáculos, afastam do Reino de Deus (cf. At13, 6-12; Gal 5,20; Ap 9,21; 18,23; 21, 8; 22,15). Hipólito excluía do Batismo os magos, astrólogos e adivinhos. Tertuliano, outro autor do século III, escreve: “De astrólogos, bruxos, charlatães de toda a espécie, não deveria sequer falar-se. No entanto, recentemente um astrólogo, que se dizia cristão, cometeu a imprudência de fazer a apologia do seu ofício! Portanto, é necessário recordar, ainda que sucintamente, a esse homem e aos colegas de ofício, que ofendem a Deus colocando os astros sob a proteção dos ídolos e fazendo depender deles a sorte dos humanos”.

Nestes nossos tempos, porém, apesar de tanta escolaridade e evangelização, com tanto saber e cultura, a escravatura a essas práticas é preocupante. Em vão se busca aí sentido e respostas para as inseguranças e fragilidades da vida. “É uma compensação do vazio existencial que carateriza a precariedade da nossa época”. Multidões de pessoas metem-se por esses atalhos, procuram esses poderes pretensamente ocultos e sobre-humanos, pensando que por aí se libertam de perturbações existenciais, da dor, do mal e do medo da morte, de situações de angústia e de temor, de questões reais e traumáticas da vida. Ou então, procuram factos extraordinários e milagrosos, inclusive no campo dos relacionamentos amorosos, no campo económico, etc.

É evidente que não se pode cair num preconceito racionalista e negar, perante fenómenos extraordinários e extremos, a possibilidade da ação do Demónio, ela pode existir. Mas também seria pouco saudável que, por falsos misticismos ou por falta de maturidade na fé, ver, sempre e em qualquer caso, a ação do Maligno e recorrer à magia que nada resolve e a todos explora e escraviza, não liberta. Como referem os Bispos da Toscânia, os atos de ocultismo “só encontram terreno fértil onde existe ausência, vazio de evangelização”. Há que proclamar novamente, “com um vigor renovado, como nos alvores da Igreja, que só Jesus, o Ressuscitado que vive eternamente, é o Salvador. “E não há salvação em nenhum outro, pois não há debaixo do céu qualquer outro nome dado aos homens que nos possa salvar” (At 4,12).

O atual Catecismo da Igreja Católica refere assim: “Todas as formas de adivinhação devem ser rejeitadas: recurso a Satanás ou aos demónios, evocação dos mortos ou outras práticas supostamente «reveladoras» do futuro. A consulta dos horóscopos, a astrologia, a quiromancia, a interpretação de presságios e de sortes, os fenómenos de vidência, o recurso aos "médiuns", tudo isso encerra uma vontade de dominar o tempo, a história e, finalmente, os homens, ao mesmo tempo que é um desejo de conluio com os poderes ocultos. Todas essas práticas estão em contradição com a honra e o respeito, penetrados de temor amoroso, que devemos a Deus e só a Ele. Todas as práticas de magia ou de feitiçaria, pelas quais se pretende domesticar os poderes ocultos para os pôr ao seu serviço e obter um poder sobrenatural sobre o próximo – ainda que seja para lhe obter a saúde – são gravemente contrárias à virtude de religião. Tais práticas são ainda mais condenáveis quando acompanhadas da intenção de fazer mal a outrem ou quando recorrem à intervenção dos demónios. O uso de amuletos também é repreensível. O espiritismo implica muitas vezes práticas divinatórias ou mágicas; por isso, a Igreja adverte os fiéis para que se acautelem dele. O recurso às medicinas ditas tradicionais não legitima nem a invocação dos poderes malignos, nem a exploração da credulidade alheia (CIgC, 2116-2117).

“Se escolhe Cristo, não podes ir ao bruxo. A magia não é cristã”, diz o Papa Francisco.

A Quaresma implica purificação e conversão verdadeira!



Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 12-03-2021.

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QUARESMA - “SAÍA D’ELE UMA FORÇA QUE A TODOS CURAVA” 

 

Na Igreja, a Quaresma é, por natureza, um tempo catecumenal, um tempo de descoberta e redescoberta da fé cristã como relação vital de absoluta confiança no Senhor Jesus Cristo. Aliás, a Páscoa, celebração da revelação plena de Cristo para onde a Quaresma nos conduz, só ganhará densidade espiritual e existencial se a Quaresma se assumir como caminho e exercício de descoberta e redescoberta da relação com Jesus Cristo. A condição humana, cada um de nós, surpreende-se, comove-se diante de Jesus Cristo. Ele é, ao mesmo tempo, tão nosso e tão de Deus, tão humano e tão divino, tão histórico e tão do Céu e da eternidade. Antes de nos dizermos, já Ele nos conhece. Antes de lhe pedirmos, já Ele se nos disponibilizou. Com a sua palavra e os seus gestos de proximidade, cativa-nos. Com o mistério da sua Pessoa, colhe o nosso afeto, a nossa inteligência, a nossa vontade. Tocados pela sua humanidade, tornamo-nos, por bênção sua, capazes de tocar a sua divindade. Assim, rendidos e livres, estabelecemos com Ele uma relação vital de absoluta confiança, por onde, doravante, passará a vida toda. D’Ele brota uma força que não deixa ninguém indiferente e cura todos os males.

 

A fé não é, portanto, uma invenção de religiões. Nenhuma imposição a conseguiria legitimar. Nenhuma lei a conseguiria impor. Nenhum moralismo a conseguiria justificar e ser seu alicerce. Nenhuma tradição, por si só, a conseguiria manter. Tudo isso seriam insuficiências, andaimes solitários sem construção a erguer. Dom recebido e resposta dada, a fé cristã vai buscar muitas das suas dinâmicas mais elementares à vida humana. Mas é na surpresa graciosa do encontro com o dom de Deus em Jesus Cristo que ela se radica como atitude e ritmo. É esta fé, vivida como bênção, presença de Cristo sentida ao nosso lado, é esta fé que vai atravessar a nossa vida com as suas graças e desgraças, os seus encantos e desesperos, as suas alegrias e tristezas. É esta fé, vivida como bênção, que purifica a nossa vida com paixão, com graciosidade e com ousadia profética de batizados. É o nosso batismo, que o mesmo é dizer a nossa fé, que está em causa em cada Quaresma. Conversão e penitência, jejum, esmola e oração são exercícios batismais da nossa vida cristã porque são expressão da nossa vital confiança em Jesus Cristo e da nossa reação ao tempo e aos modos da vida.

 

A pandemia que atravessamos pode ser bem o contexto de humanidade em que a nossa fé é chamada a redescobrir-se e a dar fruto. Exigidas pela situação de crise, há um conjunto de ações que, nos crentes, são autênticos imperativos de consciência da vida cristã: na solidão, saber ser presença construtiva e não escravo da desconfiança; no desespero, saber ser força de esperança; na doença, saber ser cuidador; na dificuldade económica ou social, saber partilhar e promover; na prossecução do bem comum, saber comprometer-se e fazer caminho em comum; nas palavras, saber edificar e promover a verdade; nas atitudes quotidianas, saber eleger e construir a justiça; nas relações pessoais e de cidadania, saber respeitar e acolher. A pandemia, com a doença e a pressão que exerce em toda a sociedade, pode tornar-nos hipersensíveis, facilmente descarriláveis e irascíveis. Pode pressionar-nos e trazer constrangimentos vários à nossa vida. E é aí que é necessário ter sempre Cristo diante dos olhos, ter sempre Cristo no coração e nas mãos. Os cristãos não temos de ser uma maioria social, percentual, para sermos uma maioria virtuosa. Podemos até ser uma minoria, mas, sem nos acanharmos e ganharmos complexo de seita, saberemos ser Igreja à dimensão do mundo e à dimensão do próprio Cristo.

 

Este ano, e por vontade do Papa Francisco, conjugam-se com a nossa Quaresma o Ano da “Família Amoris Laetitia” e o Ano de S. José. Na sua Carta Apostólica para este ano, o Papa Francisco diz-nos que foi com “coração de pai” que José amou Jesus. Humilde, discreto, trabalhador, sempre pronto a realizar a vontade de Deus, homem do silêncio como escuta, atento aos sinais de Deus e aos sinais dos tempos, corajoso, pedagogo e, sobretudo, justo. Em José confrontamo-nos com um homem que é justo porque se ajustou a Deus. E é por se ajustar a Deus que cedo aprendeu a pensar como Deus, a agir como Deus, a amar como Deus. A sua fé e a alegria do seu amor foram o grande motor da sua vida. É também a alegria do amor que o Papa Francisco nos convida a encontrar na família cristã quando promove o Ano “Família Amoris Laetitia”. Ele insiste na leitura da Exortação Apostólica Amoris Laetitia e deseja levar ao aprofundamento da identidade da família cristã como dom de pessoas e como dom à Igreja e ao mundo. Deseja promover o acompanhamento dos esposos, a educação integral dos filhos, a reflexão sobre as luzes e sombras da vida da família cristã, as crises familiares, a participação das famílias nas estruturas de evangelização e da Igreja. Tempo de redescoberta e revitalização da nossa fé, a Quaresma deste ano faz com que se cruzem a fé e a pandemia, a fé e a família, a fé e a gratidão pelo dom da santidade de S. José.

 

De Jesus, na sua Palavra, nos seus gestos, na vida da Igreja como Comunidade, brota uma força que não deixa ninguém indiferente. Como discípulos de Jesus sempre em processo de conversão, somos, pois, desafiados a viver mais uma Quaresma, mais um dom que acontece ao longo da nossa existência. Se a mundaneidade convida ao ter, ao parecer e ao poder, a Quaresma pede especial atenção ao ser. É um tempo de penitência e conversão. Um tempo de oração filial que nos ajuda a limpar, arrumar e romper a dureza do coração, convertendo-nos a Deus e aos irmãos. Uma oração que leve ao jejum do pecado, à mudança menos boa de estar, pensar e falar, à privação do que não é essencial, à penitência e austeridade pessoal, ao sacrifício que liberta. Uma oração que converta e leve àquela partilha a que chamamos “renúncia quaresmal” e que tem um destino determinado por cada Bispo diocesano, tornado público no início da Quaresma e, ao longo da Quaresma, entregue em cada paróquia. Não se trata de renunciar para poupar, não se trata de um peditório, não se trata de uma recolha de fundos, não se trata de dar para ficar arrumado e não me incomodarem mais, não se trata de pagar, não se trata tanto de dar uma esmola a quem a pede ou necessita, embora não se deva permanecer indiferente e fazer vista grossa. Trata-se duma caminhada espiritual disciplinada e vivida na alegria da oração, da conversão interior, do pensar em Deus e nos outros, do sentir a importância da gratuidade e da fraternidade. Trata-se da mudança de mentalidade e de coração que também se pode traduzir em renunciar a isto ou àquilo, que, embora se julgue apetecível, não é necessário, e o seu custo se coloca de parte para a causa social anunciada. Para além disso, a conversão pode mesmo implicar o aliviar dos bolsos (Lc 19, 1-10; Lc 18, 18-23). É uma pedagogia familiar de que tantas crianças e tantos jovens nos dão tão belos testemunhos, renunciando a um bolo, a um cigarro, a um café, a um programa televisivo, a ser escravo das redes socias... ou os leva a estudar mais e melhor, a programar momentos de oração, a visitar o vizinho acamado ou a viver mais comprometido nas causas da fé e do bem comum, a respeitar os apelos ao confinamento e a vivê-lo com esperança, pensando na própria saúde e saúde dos outros... Enfim, trata-se de cada um, pelos caminhos possíveis, viver a Quaresma de tal forma que o conduza à Páscoa, descobrindo e redescobrindo cada vez mais o gesto do amor de Deus para connosco manifestado em Cristo Jesus seu Filho.

 

A Renúncia Quaresmal de 2020, em toda a Diocese, e devido ao ambiente de confinamento rigoroso, foi mesmo mesmo residual (1.769,34€). Tinha como destino ajudar à construção de um Centro de Acolhimento e Saúde na Arquidiocese de Kananga, República Democrática do Congo, donde temos dois sacerdotes a trabalhar nesta nossa Diocese. Este ano de 2021, destinamos 60% para o mesmo fim e 40% para o Fundo Social Diocesano, gerido pela Cáritas. De um Arciprestado, chegou à Cúria Diocesana uma verba de renúncia quaresmal atrasada, a qual será enviada para o destino anunciado nessa altura.

 

 

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