quarta-feira, 24 de março de 2021

 

PARÓQUIAS DE NISA

 

 

Quarta-feira, 24 de março de 2021

V semana da quaresma

 

 

 

LITURGIA

 

PARÓQUIAS DE NISA

 

 

Quarta-feira, 24 de março de 2021

V semana da quaresma

 

 

 

LITURGIA

 

Quinta-feira da semana V

ANUNCIAÇÃO DO SENHOR – SOLENIDADE
Branco – Ofício da solenidade. Te Deum.
Missa própria, Glória, Credo, pf. próprio.

L 1 Is 7, 10-14; 8, 10; Sal 39 (40), 7-8a. 8b-9. 10. 11
L 2 Hebr 10, 4-10
Ev Lc 1, 26-38

* Proibidas as Missas de defuntos, exceto a exequial.
* Às palavras do Credo «E encarnou...», deve genufletir-se.
* Na Congregação das Irmãs Dominicanas da Anunciata – Anunciação do Senhor, Titular da Congregação – SOLENIDADE
* Na Congregação dos Missionários Monfortinos – Anunciação do Senhor, Titular da Congregação – SOLENIDADE
* Na Congregação dos Missionários do Verbo Divino – Anunciação do Senhor, Titular da Congregação – SOLENIDADE
* Nas Congregações e Institutos da Família Paulista – Anunciação do Senhor, Titular do Instituto agregado «Nossa Senhora da Anunciação» (Anunciatinas) – SOLENIDADE
* No Instituto das Servas do Coração Imaculado de Maria – Aniversário da fundação do Instituto (1996).
* II Vésperas da solenidade – Compl. dep. II Vésp. dom.


ANUNCIAÇÃO DO SENHOR

 

Nota Histórica

Deus que no decorrer dos séculos, tinha encarregado os profetas de transmitir aos homens a sua palavra, ao chegar a plenitude dos tempos, determina enviar-lhes o seu próprio Filho, o seu Verbo, a Palavra feita Carne

. Contudo, o Pai das misericórdias quis que a Incarnação fosse precedida da aceitação por parte daquela que Ele predestinara para Mãe, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, também outra mulher contribuísse para a vida» (Lumen gentium, 56).
No momento da Anunciação, através do Anjo Gabriel, Deus expõe portanto, a Maria os seus desígnios. E Maria, livre, consciente e generosamente, aceita a vontade do Senhor a seu respeito, realizando-se assim o mistério da Incarnação do Verbo. Nesse momento, com efeito, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade começa a sua existência humana. O filho de Deus faz-se Filho do Homem. O Deus Altíssimo torna-se o «Deus connosco».

Ao celebrar este mistério, precisamente nove meses antes do Natal, a Solenidade da Anunciação orienta-nos já para o Nascimento de Cristo. No entanto, a Incarnação está intimamente unida à Redenção. Por isso, as Leituras (especialmente a segunda) introduzem-nos já no Mistério da Páscoa.

Essencialmente festa do Senhor, a Anunciação não pode deixar de ser, ao mesmo tempo, uma festa perfeitamente mariana. Na verdade, foi pelo sim de Maria que a Incarnação se realizou, a nova Aliança se estabeleceu e a Redenção do mundo pecador ficou assegurada.

 

MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA Hebr 10, 5.7
Ao entrar no mundo, o Senhor disse:
Eu venho, meu Deus, para fazer a vossa vontade.

Diz-se o Glória.

ORAÇÃO COLECTA
Deus, Pai santo,
que na vossa benigna providência
quisestes que o vosso Verbo
assumisse verdadeira carne humana no seio da Virgem Maria, concedei-nos que, celebrando o nosso Redentor
como verdadeiro Deus e verdadeiro homem,
mereçamos também participar da sua natureza divina.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


LEITURA I Is 7, 10-14; 8, 10
«A Virgem conceberá»


Leitura do Livro de Isaías

Naqueles dias,
o Senhor mandou ao rei Acaz a seguinte mensagem:
«Pede um sinal ao Senhor teu Deus,
quer nas profundezas do abismo,
quer lá em cima nas alturas».
Acaz respondeu:
«Não pedirei, não porei o Senhor à prova».
Então Isaías disse:
«Escutai, casa de David:
Não vos basta que andeis a molestar os homens
para quererdes também molestar o meu Deus?
Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal:
a virgem conceberá e dará à luz um filho
e o seu nome será ‘Emanuel’,
porque Deus está connosco».

Palavra do Senhor.


SALMO RESPONSORIAL Salmo 39 (40), 7-8a.8b-9.10.11 (R. 8a.9a)
Refrão: Eu venho, Senhor, para fazer a vossa vontade.

Não Vos agradaram sacrifícios nem oblações,
mas abristes-me os ouvidos;
não pedistes holocaustos nem expiações,
então clamei: «Aqui estou.

De mim está escrito no livro da Lei
que faça a vossa vontade.
Assim o quero, ó meu Deus,
a vossa lei está no meu coração».

Proclamei a justiça na grande assembleia,
não fechei os meus lábios, Senhor, bem o sabeis.

Não escondi a vossa justiça no fundo do coração,
proclamei a vossa fidelidade e salvação.
Não ocultei a vossa bondade e fidelidade
no meio da grande assembleia.


LEITURA II Hebr 10, 4-10
«No livro sagrado está escrito a meu respeito:
Eu venho, meu Deus, para fazer a tua vontade»


Leitura da Epístola aos Hebreus

Irmãos:
É impossível que o sangue de touros e cabritos
perdoe os pecados.
Por isso, ao entrar no mundo, Cristo disse:
«Não quiseste sacrifícios nem oblações,
mas formaste-Me um corpo.
Não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado.
Então Eu disse: ‘Eis-Me aqui;
no livro sagrado está escrito a meu respeito:
Eu venho, meu Deus, para fazer a tua vontade’».Primeiro disse:
«Não quiseste sacrifícios nem oblações,
não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado».
E no entanto, eles são oferecidos segundo a Lei.
Depois acrescenta: «Eis-Me aqui:
Eu venho para fazer a tua vontade».
Assim aboliu o primeiro culto
para estabelecer o segundo.
É em virtude dessa vontade
que nós somos santificados
pela oblação do corpo de Jesus Cristo,
feita de uma vez para sempre.


Palavra do Senhor.


ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO Jo 1, 14ab
Refrão O Verbo fez-Se carne e habitou entre nós
e nós vimos a sua glória.
Refrão


EVANGELHO Lc 1, 26-38
«Conceberás e darás à luz um Filho»


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo,
o Anjo Gabriel foi enviado por Deus
a uma cidade da Galileia chamada Nazaré,
a uma Virgem desposada com um homem chamado José,
que era descendente de David.
O nome da Virgem era Maria.
Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo:
«Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo».
Ela ficou perturbada com estas palavras
e pensava que saudação seria aquela.
Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria,
porque encontraste graça diante de Deus.
Conceberás e darás à luz um Filho,
a quem porás o nome de Jesus.
Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo.
O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David;
reinará eternamente sobre a casa de Jacob
e o seu reinado não terá fim».
Maria disse ao Anjo:
«Como será isto, se eu não conheço homem?».
O Anjo respondeu-lhe:
«O Espírito Santo virá sobre ti
e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra.
Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus.
E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice
e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril;
porque a Deus nada é impossível».
Maria disse então:
«Eis a escrava do Senhor;
faça-se em mim segundo a tua palavra».


Palavra da salvação.



Diz-se o Credo. Às palavras e encarnou ... ajoelha-se.


ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Recebei, Senhor, os dons da vossa Igreja,
que reconhece a sua origem na Encarnação do vosso Filho
e fazei-lhe sentir a alegria de celebrar nesta solenidade
os mistérios do seu Salvador,
Por Nosso Senhor.


PREFÁCIO O mistério da Encarnação
V. O Senhor esteja convosco.
R. Ele está no meio de nós.
V. Corações ao alto.
R. O nosso coração está em Deus.
V. Dêmos graças ao Senhor nosso Deus.
R. É nosso dever, é nossa salvação.

Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente,
é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação
dar-Vos graças, sempre e em toda a parte,
por Cristo, nosso Senhor.
Pela anunciação do mensageiro celeste,
a Virgem Imaculada acolheu com fé a vossa Palavra
e, pela acção admirável do Espírito Santo,
trouxe em seu ventre com amor inefável
o Primogénito da nova humanidade,
que vinha cumprir as promessas feitas a Israel
e revelar-Se ao mundo como a esperança de todos os povos.
Por isso, com os Anjos, que adoram a vossa majestade
e exultam eternamente na vossa presença,
proclamamos a vossa glória, cantando numa só voz:
Santo, Santo, Santo.


ANTÍFONA DA COMUNHÃO cf. Is 7, 14
A Virgem conceberá e dará à luz um filho.
O seu nome será Emanuel, Deus connosco.


ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO

Confirmai em nós, Senhor, os mistérios da verdadeira fé,
para que, tendo proclamado que Jesus Cristo,
concebido da Virgem Maria,
é verdadeiro Deus e verdadeiro homem,
cheguemos, pelo poder da sua ressurreição,
às alegrias da vida eterna.
Por Nosso Senhor.

 

 

 

MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA:

 

1. Leitura:  - Lê, respeita, situa o que lês.

     - Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste

 2. Meditação:  - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.

     - Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua vida” 2020.11.28

3. Oração:  - Louva o Senhor, suplica, escuta.

     - Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.

 

LEITURAS:

 

 AGENDA DO DIA

 

18.00 horas: Missa em Gáfete

18.00 horas: Missa em Nisa

18.00 horas: Missa em Tolosa.

A VOZ DO PASTOR:

 

É O CAMINHO QUE VEM AO NOSSO ENCONTRO?!...

 

Então não somos nós que andamos à procura do caminho que dê sentido à vida? Não somos nós que, perante tantas e tantas encruzilhadas de não menos estradas, caminhos e carreiros, sentimos dificuldade em fazer opção, porque nem sempre a melhor rota é a que está à frente ao nariz? Não somos nós que, por causa disso, tantas vezes cortamos por atalhos que nos levam a becos sem saída, fazendo-nos apear e atar as mãos à cabeça? Então como é o caminho que vem ao nosso encontro?

No Ofício de Leituras do Domingo passado, Agostinho de Hipona mimoseou-nos com um piropo de fazer ganir, assim: “Levanta-te, preguiçoso. O próprio caminho veio ao teu encontro e despertou-te do sono em que dormias, se é que chegou a despertar-te. Levanta-te e anda. Talvez tentes andar e não consigas, por te doerem os pés. E por que motivo te doem? Não será pela dureza dos caminhos que a avareza te levou a percorrer? Mas o Verbo de Deus curou também os coxos. “Eu tenho os pés sãos, dizes tu, mas não vejo o caminho”. Lembra-te que Ele também deu vistas aos cegos”.

Pois, pois, não sejas cego, amigo, abre os olhos e vê, nem que seja com os olhos de antanho, de há cerca de três mil anos atrás, assim: “Quem mediu com a mão as águas do mar, quem mediu a palmo as dimensões do céu? Quem mediu com o alqueire o pó da terra, quem pesou na báscula as montanhas e na balança as colinas? Quem dirigiu o espírito do Senhor, qual foi o conselheiro que lhe deu lições? De quem recebeu Ele conselho para julgar, para lhe ensinar o caminho da justiça? Quem lhe ensinou a sabedoria e lhe mostrou o caminho da prudência? As nações são para Ele como a gota de água no balde, não passam de um grão de areia na balança. As ilhas não pesam mais que uma poeira fina (...) As nações todas juntas nada são diante d’Ele (...) Porventura não sabeis? Nunca ouvistes dizer? Não vos foi anunciado desde o começo? (...) Erguei os olhos para o céu e observai: quem criou todos estes astros? Aquele que organiza e põe em marcha o exército das estrelas, chamando cada uma pelo seu nome. Tão grande é o seu poder e tão firme é a sua força, que ninguém deixa de se apresentar. (...) Não o sabes? Não ouviste dizer? O Senhor é o Deus eterno; foi Ele quem criou os confins do mundo. Ele não se cansa, nem se fadiga, e a sua inteligência é insondável. Ele dá ânimo ao cansado e recupera as forças do enfraquecido. Até os jovens se fatigam e cansam, e os rapazes também tropeçam e caem, mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, criam asas, como águias, correm e não se fatigam, podem andar que não se cansam” (Is 40, 12-31). A sua mensagem ressoa por toda a terra: os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. O dia transmite ao outro esta mensagem e a noite a dá a conhecer à outra noite. Não são palavras nem linguagem cujo sentido se não perceba. O seu eco ressoou por toda a terra e a sua notícia até aos confins do mundo (cf. Sl 18). Um outro Salmo reza assim: Ele tudo vê e tudo ouve, todos os nossos caminhos lhe são familiares. Se assim é, quem se poderá esconder d’Ele? Para onde irei longe do teu sopro? Para onde fugirei, longe da tua presença? Se subo ao céu, Tu lá estás. Se desço ao abismo, lá Te encontro. Se levanto voo para as margens da aurora, se emigro para os confins do mar, aí me alcançara a Tua esquerda e a Tua direita me sustentará (cf. Sl 139).

Se não devemos permanecer como cegos deixando de contemplar as maravilhas do Senhor, também não podemos coxear para dizer que não conseguimos encontrar o caminho, tal como o jogador matreiro que, à boca da baliza, não mete um golo evidente e finge ter tido uma cãibra na perna. Aqui, nem desculpas dessas pode haver, é o próprio caminho que veio ao nosso encontro. Deus faz-se encontrado em seu Filho. Jesus, que veio do Pai e permanece junto do Pai, apresentou-se como a Verdade e a Vida. Mas também se apresentou como sendo o Caminho a seguir para encontrar a Verdade e a Vida. Eu sou o Caminho, disse-nos Ele, se queres vir, anda daí, pega na tua cruz e segue-me, Eu sou manso e humilde de coração, vim para que tenhas a alegria e a tua alegria seja completa, sem Mim nada podes fazer, fica comigo!

A Quaresma, que, aliás, não é só para os outros, é um tempo de descoberta e de acolhimento de Jesus, ficando com Ele. Dirás: “Não o vejo, não o sinto”. Mas será que é isso mesmo?... Se queres tirar as teimas, anda daí, deixa-te de preconceitos, fecha a porta, desliga todos os empecilhos e afins que te distraem. Abre os olhos, afina os ouvidos do teu coração para apanhares o tom e sintonizares na frequência da sua voz e das suas surpresas. Fala, grita, contesta, chora, discorda d’Ele se é isso que te vai na alma, bate com o punho na mesa. Ele, que te conhece muito melhor que tu a ti próprio, está aí, no silêncio de ti mesmo, a ouvir-te com toda a serenidade e paciência, sem te despachar, sem te cortar a palavra, sem te reprovar seja sobre o que for, sem perder a serenidade própria da amizade que sabe ouvir e gerar empatia. Depois dessa tua furiosa guerra, desce do cavalo e cria espaço para também o ouvires até ao fim. Com certeza que Ele, como amigo que te ama e por quem deu a vida, tem muita coisa a dizer-te. Como ovelhita perdida, alvo da sua preocupação e procura, Ele carrega-te aos ombros, os mesmos ombros que carregaram a cruz onde foi morto, morto por ti, morto por cada um de nós para a todos restituir à liberdade e à Vida. Ele quer festejar contigo, quer abraçar-te, vestir-te de gala para comemorar o teu regresso com uma multidão sem número, com aquela banda sonora que tu aprecias e um banquete sem igual...

 

É Quaresma!... A boa Quaresma também passa pelo Sacramento da Reconciliação.

 

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 19-03-2021.

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QUARESMA - “SAÍA D’ELE UMA FORÇA QUE A TODOS CURAVA” 

 

Na Igreja, a Quaresma é, por natureza, um tempo catecumenal, um tempo de descoberta e redescoberta da fé cristã como relação vital de absoluta confiança no Senhor Jesus Cristo. Aliás, a Páscoa, celebração da revelação plena de Cristo para onde a Quaresma nos conduz, só ganhará densidade espiritual e existencial se a Quaresma se assumir como caminho e exercício de descoberta e redescoberta da relação com Jesus Cristo. A condição humana, cada um de nós, surpreende-se, comove-se diante de Jesus Cristo. Ele é, ao mesmo tempo, tão nosso e tão de Deus, tão humano e tão divino, tão histórico e tão do Céu e da eternidade. Antes de nos dizermos, já Ele nos conhece. Antes de lhe pedirmos, já Ele se nos disponibilizou. Com a sua palavra e os seus gestos de proximidade, cativa-nos. Com o mistério da sua Pessoa, colhe o nosso afeto, a nossa inteligência, a nossa vontade. Tocados pela sua humanidade, tornamo-nos, por bênção sua, capazes de tocar a sua divindade. Assim, rendidos e livres, estabelecemos com Ele uma relação vital de absoluta confiança, por onde, doravante, passará a vida toda. D’Ele brota uma força que não deixa ninguém indiferente e cura todos os males.

 

A fé não é, portanto, uma invenção de religiões. Nenhuma imposição a conseguiria legitimar. Nenhuma lei a conseguiria impor. Nenhum moralismo a conseguiria justificar e ser seu alicerce. Nenhuma tradição, por si só, a conseguiria manter. Tudo isso seriam insuficiências, andaimes solitários sem construção a erguer. Dom recebido e resposta dada, a fé cristã vai buscar muitas das suas dinâmicas mais elementares à vida humana. Mas é na surpresa graciosa do encontro com o dom de Deus em Jesus Cristo que ela se radica como atitude e ritmo. É esta fé, vivida como bênção, presença de Cristo sentida ao nosso lado, é esta fé que vai atravessar a nossa vida com as suas graças e desgraças, os seus encantos e desesperos, as suas alegrias e tristezas. É esta fé, vivida como bênção, que purifica a nossa vida com paixão, com graciosidade e com ousadia profética de batizados. É o nosso batismo, que o mesmo é dizer a nossa fé, que está em causa em cada Quaresma. Conversão e penitência, jejum, esmola e oração são exercícios batismais da nossa vida cristã porque são expressão da nossa vital confiança em Jesus Cristo e da nossa reação ao tempo e aos modos da vida.

 

A pandemia que atravessamos pode ser bem o contexto de humanidade em que a nossa fé é chamada a redescobrir-se e a dar fruto. Exigidas pela situação de crise, há um conjunto de ações que, nos crentes, são autênticos imperativos de consciência da vida cristã: na solidão, saber ser presença construtiva e não escravo da desconfiança; no desespero, saber ser força de esperança; na doença, saber ser cuidador; na dificuldade económica ou social, saber partilhar e promover; na prossecução do bem comum, saber comprometer-se e fazer caminho em comum; nas palavras, saber edificar e promover a verdade; nas atitudes quotidianas, saber eleger e construir a justiça; nas relações pessoais e de cidadania, saber respeitar e acolher. A pandemia, com a doença e a pressão que exerce em toda a sociedade, pode tornar-nos hipersensíveis, facilmente descarriláveis e irascíveis. Pode pressionar-nos e trazer constrangimentos vários à nossa vida. E é aí que é necessário ter sempre Cristo diante dos olhos, ter sempre Cristo no coração e nas mãos. Os cristãos não temos de ser uma maioria social, percentual, para sermos uma maioria virtuosa. Podemos até ser uma minoria, mas, sem nos acanharmos e ganharmos complexo de seita, saberemos ser Igreja à dimensão do mundo e à dimensão do próprio Cristo.

 

Este ano, e por vontade do Papa Francisco, conjugam-se com a nossa Quaresma o Ano da “Família Amoris Laetitia” e o Ano de S. José. Na sua Carta Apostólica para este ano, o Papa Francisco diz-nos que foi com “coração de pai” que José amou Jesus. Humilde, discreto, trabalhador, sempre pronto a realizar a vontade de Deus, homem do silêncio como escuta, atento aos sinais de Deus e aos sinais dos tempos, corajoso, pedagogo e, sobretudo, justo. Em José confrontamo-nos com um homem que é justo porque se ajustou a Deus. E é por se ajustar a Deus que cedo aprendeu a pensar como Deus, a agir como Deus, a amar como Deus. A sua fé e a alegria do seu amor foram o grande motor da sua vida. É também a alegria do amor que o Papa Francisco nos convida a encontrar na família cristã quando promove o Ano “Família Amoris Laetitia”. Ele insiste na leitura da Exortação Apostólica Amoris Laetitia e deseja levar ao aprofundamento da identidade da família cristã como dom de pessoas e como dom à Igreja e ao mundo. Deseja promover o acompanhamento dos esposos, a educação integral dos filhos, a reflexão sobre as luzes e sombras da vida da família cristã, as crises familiares, a participação das famílias nas estruturas de evangelização e da Igreja. Tempo de redescoberta e revitalização da nossa fé, a Quaresma deste ano faz com que se cruzem a fé e a pandemia, a fé e a família, a fé e a gratidão pelo dom da santidade de S. José.

 

De Jesus, na sua Palavra, nos seus gestos, na vida da Igreja como Comunidade, brota uma força que não deixa ninguém indiferente. Como discípulos de Jesus sempre em processo de conversão, somos, pois, desafiados a viver mais uma Quaresma, mais um dom que acontece ao longo da nossa existência. Se a mundaneidade convida ao ter, ao parecer e ao poder, a Quaresma pede especial atenção ao ser. É um tempo de penitência e conversão. Um tempo de oração filial que nos ajuda a limpar, arrumar e romper a dureza do coração, convertendo-nos a Deus e aos irmãos. Uma oração que leve ao jejum do pecado, à mudança menos boa de estar, pensar e falar, à privação do que não é essencial, à penitência e austeridade pessoal, ao sacrifício que liberta. Uma oração que converta e leve àquela partilha a que chamamos “renúncia quaresmal” e que tem um destino determinado por cada Bispo diocesano, tornado público no início da Quaresma e, ao longo da Quaresma, entregue em cada paróquia. Não se trata de renunciar para poupar, não se trata de um peditório, não se trata de uma recolha de fundos, não se trata de dar para ficar arrumado e não me incomodarem mais, não se trata de pagar, não se trata tanto de dar uma esmola a quem a pede ou necessita, embora não se deva permanecer indiferente e fazer vista grossa. Trata-se duma caminhada espiritual disciplinada e vivida na alegria da oração, da conversão interior, do pensar em Deus e nos outros, do sentir a importância da gratuidade e da fraternidade. Trata-se da mudança de mentalidade e de coração que também se pode traduzir em renunciar a isto ou àquilo, que, embora se julgue apetecível, não é necessário, e o seu custo se coloca de parte para a causa social anunciada. Para além disso, a conversão pode mesmo implicar o aliviar dos bolsos (Lc 19, 1-10; Lc 18, 18-23). É uma pedagogia familiar de que tantas crianças e tantos jovens nos dão tão belos testemunhos, renunciando a um bolo, a um cigarro, a um café, a um programa televisivo, a ser escravo das redes socias... ou os leva a estudar mais e melhor, a programar momentos de oração, a visitar o vizinho acamado ou a viver mais comprometido nas causas da fé e do bem comum, a respeitar os apelos ao confinamento e a vivê-lo com esperança, pensando na própria saúde e saúde dos outros... Enfim, trata-se de cada um, pelos caminhos possíveis, viver a Quaresma de tal forma que o conduza à Páscoa, descobrindo e redescobrindo cada vez mais o gesto do amor de Deus para connosco manifestado em Cristo Jesus seu Filho.

 

A Renúncia Quaresmal de 2020, em toda a Diocese, e devido ao ambiente de confinamento rigoroso, foi mesmo mesmo residual (1.769,34€). Tinha como destino ajudar à construção de um Centro de Acolhimento e Saúde na Arquidiocese de Kananga, República Democrática do Congo, donde temos dois sacerdotes a trabalhar nesta nossa Diocese. Este ano de 2021, destinamos 60% para o mesmo fim e 40% para o Fundo Social Diocesano, gerido pela Cáritas. De um Arciprestado, chegou à Cúria Diocesana uma verba de renúncia quaresmal atrasada, a qual será enviada para o destino anunciado nessa altura.

 

 

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