PARÓQUIAS DE NISA
Sexta-feira, 12 de março de 2021
III semana da quaresma
LITURGIA
Sexta-feira
da semana III
Roxo – Ofício da féria.
Missa da féria, pf. da Quaresma.
L 1 Os 14, 2-10; Sal 80 (81), 6c-8a. 8bc-9. 10-11ab. 14 e 17
Ev Mc 12, 28b-34
MISSA
ANTÍFONA DE ENTRADA Salmo
85, 8.10
Quem como Vós, Senhor?
Só Vós sois grande e operais maravilhas. Só Vós sois Deus.
ORAÇÃO COLECTA
Infundi, Senhor, a vossa graça em nossos corações, para que saibamos dominar os
desejos terrenos e ser fiéis, com a vossa ajuda, aos mandamentos celestes. Por
Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do
Espírito Santo.
LEITURA I Os 14, 2-10
«Não chamaremos ‘nosso Deus’ à obra das nossas mãos»
Leitura da
Profecia de Oseias
Assim fala o Senhor: «Israel, converte-te ao Senhor, teu Deus, porque foram os
teus pecados que te fizeram cair. Vinde com palavras de súplica, voltai para o
Senhor e dizei-Lhe: “Perdoai todas as nossas faltas e aceitai o dom que Vos
oferecemos, a homenagem dos nossos lábios. Não é a Assíria que nos pode salvar;
não montaremos mais a cavalo, nem chamaremos ‘Nosso Deus’ à obra das nossas
mãos, porque só em Vós o órfão encontra piedade”. Curarei a sua infidelidade,
amá-los-ei generosamente, pois a minha ira afastou-se deles. Serei como orvalho
para Israel, que florirá como o lírio e lançará raízes como o cedro do Líbano.
Os seus ramos estender-se-ão ao longe, a sua opulência será como a da oliveira
e a sua fragrância como a do Líbano. Voltarão a sentar-se à minha sombra, farão
reviver o trigo; florescerão como a vinha, criarão fama como o vinho do Líbano.
Que terá ainda Efraim de comum com os ídolos? Sou Eu que o atendo e olho por
ele. Sou como o cipreste verdejante: graças a Mim darás muito fruto». Quem for
sábio entenderá estas palavras, quem for inteligente poderá entendê-las. Porque
são retos os caminhos do Senhor: por eles caminham os justos e neles tropeçam
os pecadores.
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Sal. 80(81), 6c-8a.8bc-9.10-11ab.14.17 (cf.
11.9)
Refrão: Eu sou o Senhor, teu Deus:
Escuta a minha voz. Repete-se
Oiço uma língua desconhecida:
«Aliviei os teus ombros do fardo,
soltei as tuas mãos dos cestos;
gritaste na angústia e Eu te libertei. Refrão
Do meio do trovão te respondi;
pus-te à prova junto das águas de Meriba.
Escuta, meu povo, a minha advertência,
assim, Israel, Me prestes ouvidos: Refrão
Não terás contigo um deus alheio,
nem adorarás divindades estranhas.
Eu, o Senhor, sou o teu Deus,
que te fiz sair da terra do Egipto. Refrão
Ah! se o meu povo Me escutasse,
se Israel seguisse os meus caminhos,
alimentaria o meu povo com a flor da farinha
e saciá-lo-ia com o mel dos rochedos». Refrão
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO Mt 4, 17
Refrão: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor. Repete-se
Arrependei-vos, diz o Senhor;
está próximo o reino dos Céus. Refrão
EVANGELHO Mc 12, 28b-34
«O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor:
amarás o Senhor, teu Deus»
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo, aproximou-se de Jesus um escriba e perguntou-Lhe: «Qual é o
primeiro de todos os mandamentos?» Jesus respondeu-lhe: «O primeiro é este:
‘Escuta, Israel: O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor: Amarás o Senhor teu
Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e
com todas as tuas forças’. O segundo é este: ‘Amarás o teu próximo como a ti
mesmo’. Não há nenhum mandamento maior que estes». Disse-Lhe o escriba: «Muito
bem, Mestre! Tens razão quando dizes: Deus é único e não há outro além d’Ele.
Amá-l’O com todo o coração, com toda a inteligência e com todas as forças, e
amar o próximo como a si mesmo, vale mais do que todos os holocaustos e
sacrifícios». Ao ver que o escriba dera uma resposta inteligente, Jesus
disse-lhe: «Não estás longe do reino de Deus». E ninguém mais se atrevia a
interrogá-l’O.
Palavra da salvação.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Olhai com bondade, Senhor, para os dons que Vos consagramos, para que Vos sejam
agradáveis e se tornem para nós fonte de salvação. Por Nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Prefácio da Quaresma
ANTÍFONA DA COMUNHÃO Mc 12, 33
Amar a Deus de todo o coração
e ao próximo como a nós mesmos
vale mais que todos os sacrifícios.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Santificai, Senhor, com o poder da vossa graça as nossas almas e os nossos corpos,
para possuirmos um dia em plenitude o que começamos a receber neste sacramento.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do
Espírito Santo.
MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA:
1. Leitura: - Lê, respeita, situa o
que lês.
- Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste
2.
Meditação: - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.
- Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua
vida” 2020.11.28
3. Oração: - Louva o Senhor,
suplica, escuta.
- Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.
LEITURAS: Os
14, 2-10 :A liturgia
de hoje quer reconduzir-nos ao essencial da nossa fé: Deus. É Ele próprio quem
nos convida a voltarmos para Si. A Quaresma é tempo de regresso a Deus. Reencontrá-l’O
é reencontrar o paraíso, que o profeta descreve com as conhecidas imagens de
uma terra fértil e feliz, deixando para trás os deuses que nossas mãos tinham
fabricado..
Mc
12, 28b-34; O
mandamento fundamental de toda a lei era, já no Antigo Testamento, reconhecer a
Deus como o único Senhor e amá-l’O como tal. Foi assim a resposta do escriba, e
Jesus confirmou que estava certa a resposta. É, de facto, essa a porta de
entrada no reino de Deus: reconhecê-l’O e amá-l’O. Caminhar para a Páscoa supõe
a descoberta contínua deste primeiro mandamento, a redescoberta de Deus nos
caminhos da nossa vida, que a Ele finalmente nos conduzem.
AGENDA DO DIA
18.00
horas: Missa em Nisa transmitida por facebook (endereço: Zona Pastoral de Nisa)
18.00
horas: 24 horas para o Senhor. Transmissão
contínua da adoração ao Santíssimo, por facebook da diocese, a partir do
Carmelo do Crato.
A VOZ DO PASTOR:
UM GENERAL FURIBUNDO RENDIDO À EVIDÊNCIA
Muito
antes do tempo dos afonsinhos, há cerca de três mil anos mais segundo menos
segundo, Israel sofreu as passas do Algarve com a Síria, ao tempo uma grande
potência. Neste tempo da Quaresma em que cada um é convidado a guerrear-se
contra as adversas potências interiores, é bom reconhecer a capacidade de
resistência e deitar mão das armas que conduzam à vitória. Porque o testemunho,
negativo ou positivo, de outros nos pode ajudar nessa tarefa, hoje
apresento-lhes um belo exemplar.
Nos
tempos referidos, o exército da Assíria era comandado por Naamã, um grande
estratega, muito aplaudido e confiante nas suas próprias forças. Um dia, porém,
a doença bateu-lhe à porta, ficou fraco e leproso. A lepra, uma das doenças
mais antigas da humanidade, era uma doença terrível, não só pelos danos ao
corpo, mas também porque era atribuída a libertinagens, pecados, castigos
divinos, e sei lá mais o quê!... Sem cura e contagiosa, ela reclamava o
afastamento da comunidade, osso duro de roer e ruminar , mas era assim, um grilhão
difícil de suportar. E que fazer agora com o ilustre general? O que não fazer?
Como sair desta? Eis a questão!... Sim, essa era a questão de Naamã e dos seus.
E qual será a nossa questão nestas pelejas da Quaresma?
Quando
as tropas da Assíria atacaram Israel, levaram, prisioneira, uma jovenzinha, que
ficou ao serviço da esposa de Naamã. Sem ressentimentos por ter sido deportada
- apanágio dos simples e humildes! -, esta jovem compadeceu-se do doente e
falou à sua patroa, que, em Israel, havia um senhor, o profeta Eliseu, que
seria capaz de o curar. Naamã, talvez incrédulo, .contou ao rei da Assíria
o que esta menina havia dito à sua esposa. O rei animou Naamã, e, como já nesse
tempo as havia, até lhe meteu uma cunha: “Vá. Eu lhe darei uma carta que você
entregará ao rei de Israel”. Animado pela sugestão da jovem, feliz pelo
empurrão do rei, confiante na possibilidade de recuperar a saúde, o general lá
partiu, ele e a sua comitiva. Ao chegar ao destino, logo entrega a carta ao rei
de Israel, que dizia: “Quando receber esta carta, verá que lhe mando o meu
servo Naamã para que o cure da lepra”. Ora, não se reconhecendo com capacidade
de curar fosse quem fosse, o rei de Israel ficou com os azeites, “rasgou as
próprias vestes”, diz o texto. Como gato escaldado de água fria tem medo,
pensou que aquilo era uma engenhosa cilada do rei da Assíria para o tramar. E
foi o cabo dos trabalhos!
Entretanto, Eliseu,
o homem de Deus, soube que o seu rei, o rei de Israel, estava em apuros, não
sabia o que fazer perante aquela comitiva reforçada pela cunha do rei da
Assíria. Então, Eliseu comunicou ao rei de Israel que mandasse o general
assírio ter com ele. Ó pernas para que vos quero!... Dito e feito, o rei, em
jeito de quem lhe saiu a sorte grande e mais qualquer coisa, logo despachou
Naamã e toda a comitiva ao encontro de Eliseu. Eliseu, porém, se queria
dizer ao rei de Israel que na sua própria terra existia um profeta, também quis
usar de pedagogia para com o importante general assírio. Encheu-se de nove
horas, empoleirou-se, fez-se caro, não apareceu para recebeu pessoalmente o
famoso militar. E se não o mandou aos ninhos, mandou alguém dizer-lhe que fosse
tomar banho, que fosse mergulhar-se no rio e ficaria curado: “Vai, lava-te
sete vezes no Jordão, e a tua carne será restaurada, ficarás limpo” (2
Reis 5,10). Naamã, um general de gabarito, de tantos pergaminhos e feitos
heroicos, sentiu-se humilhado, não gostou, ficou aborrecido e bravo. Esperava
um acolhimento pessoal e delicado da parte do profeta e, com certeza, pensaria
que ele fizesse para ali umas mezinhas, o curasse e mandasse embora são e
salvo, tal como hoje, infelizmente, até entre cristãos, ainda se procura no ler
ou deitar das cartas, no bruxedo, magos, adivinhos e quejandos a solução para
os problemas da vida. Não sendo assim, e tendo-o ele mandado mergulhar no rio
Jordão, Naamã bateu o pé e prendeu o burrinho, qual criança caprichosa. Como se
não bastasse, casquinou para quem quis ouvir que, na sua terra, havia rios muito
mais importantes que aquele e com águas muito mais cristalinas que essas.
Apressado e a rabujar, pôs os pés a caminho para se ir embora e mandar o
profeta à fava. Como afirmava Clemente XIV, “nada mais pequeno do que um grande
dominado pelo orgulho”, o que até dá espetáculo digno de se admirar, pela
negativa! Podemos imaginar a fita deste senhor, que, cheio de importâncias
balofas, superioridades presumidas e preconceitos injustos, até no pedir se
manifestava pretensioso e a querer mandar, seguro que estava no seu amor
próprio de quem se julga sempre com razão!
Os
membros da sua comitiva, embora apreciando a tensão do momento, estavam mais
racionais e mais frescos para resistir ao embate. Encaixaram o recado de Eliseu
e deitaram água na fervura de Naamã. Porque não era coisa difícil, convenceram
Naamã a que, mesmo contrariado, descesse ao rio e se banhasse. Naamã, talvez
com vontade bélica de armar ali mais uma guerra e enfiar o profeta e os
presentes na barca de Caronte, cedeu à força de persuasão dos seus servos.
Mesmo contrariado, lá foi mergulhar sete vezes no Jordão.
Se
o profeta foi “malandro” para o fazer descer à terra, aquilo que para Naamã não
fazia sentido e seria uma humilhação, foi o que realmente o curou. Só quando
saiu dos seus búnqueres e castelos de defesa, só quando desceu das suas
importâncias e orgulho pátrio, só quando resolveu deixar-se de preconceitos e
aceitar o que lhe era proposto, é que foi curado. Vendo-se recauchutado e novo,
ficou sem jeito por ter reagido como reagiu e desfaz-se em salamaleques. Fez um
ato de fé no Deus único de Israel, reconheceu Eliseu como aquele que mostra a
presença de Deus no meio do povo e quis dar-lhe um valioso presente, com o qual
vinha prevenido. Eliseu, mesmo perante a insistência do general, não aceitou. O
general promete deixar a idolatria e, doravante, só prestar culto ao Deus de
Israel, o único que pode curar e a quem se sentia profundamente grato pelo
facto de o ter tornado um homem verdadeiramente novo. E parte, feliz e
saudável, reiterando fidelidade ao Senhor Deus de Israel e, agora humildemente,
pedindo terra, terra dali, terra que carregasse duas mulas, para, lá, na
Assíria, sobre essa terra, levantar um altar ao Deus único.
Deus
faz-se encontrado através duma lógica muito diferente da nossa lógica. Ele
serve-se das coisas mais díspares e insignificantes para nos dizer que está
presente e atento. Quem crê em Deus e acredita que Ele pode restaurar o centro
e as periferias da sua vida, não pode ter a pretensão de lhe querer dar ordens,
de lhe querer dizer como é que Ele deve fazer, apoiado em egocentrismos que
destroem. Nem deve encaprichar só porque Ele não age como se gostaria que
agisse. Essa atitude seria sinal de que não estamos dispostos a deixar as
nossas razões e importâncias, as nossas rotinas e seguranças, sendo julgadas,
por nós e só por nós, como verdadeiro caminho de fidelidade e salvação. Mas
será que serão se não estamos dispostos a fazer o que Ele pede, tal como
aconteceu com o referido general? Este queria impor-lhe como é que Ele haveria
de fazer. Também pode acontecer que permaneçamos ensonados ou fossilizados
nessas rotinas egocêntricas, vivendo instalados na idolatria e na indiferença,
julgando-nos não só bons, mas os primeiros entre os bons, sentindo-nos até com
razões para exigir de Deus o bom e o melhor, e da forma que nós entendemos. Se
assim for, não passaremos de cristãos de meia-tigela. Mesmo que difícil e em
revolta, o general acabou por fazer caminho e ficar curado, no corpo e no
espírito, não como resultado de um ritual mágico nas águas do Jordão, mas como
fruto da ação salvífica de Deus que atuou através da palavra do profeta. É
interessante reparar que foi aquela jovenzinha, escrava no estrangeiro, que
iniciou o processo. Ultrapassou fronteiras, apontou o Deus único capaz de curar
e dar a vida. Também foram os humildes servos do general que o ajudaram a
seguir a palavra do profeta. Se estamos desafiados à humildade e à conversão,
reconheçamos também quanto bem podemos fazer anunciando Aquele que
cura e dá a Vida.
A
Quaresma não é só para os outros, também é para nós!
Antonino Dias
Portalegre-Castelo
Branco, 26-02-2021.
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*************************
QUARESMA - “SAÍA D’ELE UMA FORÇA QUE A TODOS
CURAVA”
Na
Igreja, a Quaresma é, por natureza, um tempo catecumenal, um tempo de
descoberta e redescoberta da fé cristã como relação vital de absoluta confiança
no Senhor Jesus Cristo. Aliás, a Páscoa, celebração da revelação plena de
Cristo para onde a Quaresma nos conduz, só ganhará densidade espiritual e
existencial se a Quaresma se assumir como caminho e exercício de descoberta e
redescoberta da relação com Jesus Cristo. A condição humana, cada um de nós,
surpreende-se, comove-se diante de Jesus Cristo. Ele é, ao mesmo tempo, tão
nosso e tão de Deus, tão humano e tão divino, tão histórico e tão do Céu e da
eternidade. Antes de nos dizermos, já Ele nos conhece. Antes de lhe pedirmos,
já Ele se nos disponibilizou. Com a sua palavra e os seus gestos de proximidade,
cativa-nos. Com o mistério da sua Pessoa, colhe o nosso afeto, a nossa
inteligência, a nossa vontade. Tocados pela sua humanidade, tornamo-nos, por
bênção sua, capazes de tocar a sua divindade. Assim, rendidos e livres,
estabelecemos com Ele uma relação vital de absoluta confiança, por onde,
doravante, passará a vida toda. D’Ele brota uma força que não deixa ninguém
indiferente e cura todos os males.
A
fé não é, portanto, uma invenção de religiões. Nenhuma imposição a conseguiria
legitimar. Nenhuma lei a conseguiria impor. Nenhum moralismo a conseguiria
justificar e ser seu alicerce. Nenhuma tradição, por si só, a conseguiria
manter. Tudo isso seriam insuficiências, andaimes solitários sem construção a
erguer. Dom recebido e resposta dada, a fé cristã vai buscar muitas das suas
dinâmicas mais elementares à vida humana. Mas é na surpresa graciosa do
encontro com o dom de Deus em Jesus Cristo que ela se radica como atitude e
ritmo. É esta fé, vivida como bênção, presença de Cristo sentida ao nosso lado,
é esta fé que vai atravessar a nossa vida com as suas graças e desgraças, os
seus encantos e desesperos, as suas alegrias e tristezas. É esta fé, vivida como
bênção, que purifica a nossa vida com paixão, com graciosidade e com ousadia
profética de batizados. É o nosso batismo, que o mesmo é dizer a nossa fé, que
está em causa em cada Quaresma. Conversão e penitência, jejum, esmola e oração
são exercícios batismais da nossa vida cristã porque são expressão da nossa
vital confiança em Jesus Cristo e da nossa reação ao tempo e aos modos da vida.
A
pandemia que atravessamos pode ser bem o contexto de humanidade em que a nossa
fé é chamada a redescobrir-se e a dar fruto. Exigidas pela situação de crise,
há um conjunto de ações que, nos crentes, são autênticos imperativos de
consciência da vida cristã: na solidão, saber ser presença construtiva e não
escravo da desconfiança; no desespero, saber ser força de esperança; na doença,
saber ser cuidador; na dificuldade económica ou social, saber partilhar e
promover; na prossecução do bem comum, saber comprometer-se e fazer caminho em
comum; nas palavras, saber edificar e promover a verdade; nas atitudes
quotidianas, saber eleger e construir a justiça; nas relações pessoais e de
cidadania, saber respeitar e acolher. A pandemia, com a doença e a pressão que
exerce em toda a sociedade, pode tornar-nos hipersensíveis, facilmente
descarriláveis e irascíveis. Pode pressionar-nos e trazer constrangimentos
vários à nossa vida. E é aí que é necessário ter sempre Cristo diante dos
olhos, ter sempre Cristo no coração e nas mãos. Os cristãos não temos de ser
uma maioria social, percentual, para sermos uma maioria virtuosa. Podemos até
ser uma minoria, mas, sem nos acanharmos e ganharmos complexo de seita,
saberemos ser Igreja à dimensão do mundo e à dimensão do próprio Cristo.
Este
ano, e por vontade do Papa Francisco, conjugam-se com a nossa Quaresma o Ano da
“Família Amoris Laetitia” e o Ano de S. José. Na sua Carta Apostólica para este
ano, o Papa Francisco diz-nos que foi com “coração de pai” que José amou Jesus.
Humilde, discreto, trabalhador, sempre pronto a realizar a vontade de Deus,
homem do silêncio como escuta, atento aos sinais de Deus e aos sinais dos
tempos, corajoso, pedagogo e, sobretudo, justo. Em José confrontamo-nos com um
homem que é justo porque se ajustou a Deus. E é por se ajustar a Deus que cedo
aprendeu a pensar como Deus, a agir como Deus, a amar como Deus. A sua fé e a
alegria do seu amor foram o grande motor da sua vida. É também a alegria do
amor que o Papa Francisco nos convida a encontrar na família cristã quando
promove o Ano “Família Amoris Laetitia”. Ele insiste na leitura da Exortação
Apostólica Amoris Laetitia e deseja levar ao aprofundamento da identidade da
família cristã como dom de pessoas e como dom à Igreja e ao mundo. Deseja
promover o acompanhamento dos esposos, a educação integral dos filhos, a
reflexão sobre as luzes e sombras da vida da família cristã, as crises
familiares, a participação das famílias nas estruturas de evangelização e da
Igreja. Tempo de redescoberta e revitalização da nossa fé, a Quaresma deste ano
faz com que se cruzem a fé e a pandemia, a fé e a família, a fé e a gratidão
pelo dom da santidade de S. José.
De
Jesus, na sua Palavra, nos seus gestos, na vida da Igreja como Comunidade,
brota uma força que não deixa ninguém indiferente. Como discípulos de Jesus
sempre em processo de conversão, somos, pois, desafiados a viver mais uma
Quaresma, mais um dom que acontece ao longo da nossa existência. Se a
mundaneidade convida ao ter, ao parecer e ao poder, a Quaresma pede especial
atenção ao ser. É um tempo de penitência e conversão. Um tempo de oração filial
que nos ajuda a limpar, arrumar e romper a dureza do coração, convertendo-nos a
Deus e aos irmãos. Uma oração que leve ao jejum do pecado, à mudança menos boa
de estar, pensar e falar, à privação do que não é essencial, à penitência e
austeridade pessoal, ao sacrifício que liberta. Uma oração que converta e leve
àquela partilha a que chamamos “renúncia quaresmal” e que tem um destino
determinado por cada Bispo diocesano, tornado público no início da Quaresma e,
ao longo da Quaresma, entregue em cada paróquia. Não se trata de renunciar para
poupar, não se trata de um peditório, não se trata de uma recolha de fundos,
não se trata de dar para ficar arrumado e não me incomodarem mais, não se trata
de pagar, não se trata tanto de dar uma esmola a quem a pede ou necessita,
embora não se deva permanecer indiferente e fazer vista grossa. Trata-se duma
caminhada espiritual disciplinada e vivida na alegria da oração, da conversão
interior, do pensar em Deus e nos outros, do sentir a importância da gratuidade
e da fraternidade. Trata-se da mudança de mentalidade e de coração que também
se pode traduzir em renunciar a isto ou àquilo, que, embora se julgue
apetecível, não é necessário, e o seu custo se coloca de parte para a causa
social anunciada. Para além disso, a conversão pode mesmo implicar o aliviar
dos bolsos (Lc 19, 1-10; Lc 18, 18-23). É uma pedagogia familiar de que tantas
crianças e tantos jovens nos dão tão belos testemunhos, renunciando a um bolo,
a um cigarro, a um café, a um programa televisivo, a ser escravo das redes
socias... ou os leva a estudar mais e melhor, a programar momentos de oração, a
visitar o vizinho acamado ou a viver mais comprometido nas causas da fé e do
bem comum, a respeitar os apelos ao confinamento e a vivê-lo com esperança,
pensando na própria saúde e saúde dos outros... Enfim, trata-se de cada um,
pelos caminhos possíveis, viver a Quaresma de tal forma que o conduza à Páscoa,
descobrindo e redescobrindo cada vez mais o gesto do amor de Deus para connosco
manifestado em Cristo Jesus seu Filho.
A Renúncia Quaresmal de 2020, em toda a Diocese, e devido ao ambiente de confinamento rigoroso, foi mesmo mesmo residual (1.769,34€). Tinha como destino ajudar à construção de um Centro de Acolhimento e Saúde na Arquidiocese de Kananga, República Democrática do Congo, donde temos dois sacerdotes a trabalhar nesta nossa Diocese. Este ano de 2021, destinamos 60% para o mesmo fim e 40% para o Fundo Social Diocesano, gerido pela Cáritas. De um Arciprestado, chegou à Cúria Diocesana uma verba de renúncia quaresmal atrasada, a qual será enviada para o destino anunciado nessa altura.
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