domingo, 21 de março de 2021

 

PARÓQUIAS DE NISA

 

 

Segunda-feira, 22 de março de 2021

V semana da quaresma

 

 

LITURGIA

 

Segunda-feira da semana V

Roxo – Ofício da féria.
Missa da féria, pf. I da Paixão.

L 1 Dan 13, 1-9.15-17.19-30.33-62
ou Dan 13, 41c-62; Sal 22 (23),1-3a.3b-4b.5.6
Ev Jo 8, 1-11

Nos dias feriais mais oportunos desta semana, em vez das leituras indicadas para esses dias, podem tomar-se as leituras dominicais do Ano A, para favorecer a catequese batismal na Quaresma.
* Na Arquidiocese de Braga (Basílica de S. Bento da Porta Aberta) – Aniversário da Basílica de S. Bento da Porta Aberta – SOLENIDADE (transferida).

 

MISSA

 

ANTÍFONA DE ENTRADA Salmo 55, 2
Compadecei-Vos de mim, Senhor, porque os homens me oprimem e todo o dia me perseguem os inimigos.


ORAÇÃO COLECTA
Senhor nosso Deus, cuja infinita bondade nos enche de bênçãos, concedei-nos a graça de iniciar uma vida nova que nos prepare para a glória do vosso reino. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


LEITURA I - Forma longa Dan 13, 1-9.15-17.19-30.33-62
«Vou morrer, sem ter feito nada do que disseram contra mim»


Leitura da Profecia de Daniel


Naqueles dias, morava em Babilónia um homem chamado Joaquim. Tinha desposado uma mulher chamada Susana, filha de Helcias, muito bela e temente ao Senhor. Os seus pais eram justos e tinham instruído a filha na Lei de Moisés. Joaquim era muito rico e tinha um jardim contíguo à sua casa. Os judeus reuniam-se com ele frequentemente, porque era o mais ilustre de todos eles. Naquele ano tinham designado como juízes dois anciãos do povo, daqueles que o Senhor denunciara, dizendo: «De Babilónia veio a iniquidade de velhos que passavam por dirigentes do povo». Estes dois frequentavam a casa de Joaquim e a eles recorriam todos os que tinham alguma questão de justiça. Quando, ao meio do dia, o povo se retirava, Susana vinha passear para o jardim do seu marido. Os dois velhos observavam-na todos os dias, quando entrava no jardim para passear, e apaixonaram-se por ela. Perverteram a sua mente e desviaram os seus olhos de modo a não olharem para o Céu e não se lembrarem dos seus justos juízos. Estando eles à espera de ocasião favorável, um dia Susana veio, como de costume, acompanhada somente de duas meninas; e, como estava calor, quis tomar banho no jardim. Não se encontrava ali ninguém, senão os dois velhos escondidos a espreitá-la. Susana disse às meninas: «Trazei-me óleo e unguentos e fechai as portas do jardim, para eu tomar banho». Logo que elas saíram, os dois velhos levantaram-se, correram para junto de Susana e disseram-lhe: «As portas do jardim estão fechadas, ninguém nos vê e nós estamos apaixonados por ti. Dá-nos o teu consentimento e entrega-te a nós. Senão, acusar-te-emos dizendo que estava contigo um jovem e por isso mandaste embora as meninas». Então Susana gemeu e exclamou: «Estou cercada por todos os lados: se praticar semelhante coisa, espera-me a morte; se não a praticar, não poderei fugir às vossas mãos. Mas prefiro cair nas vossas mãos sem ter feito nada a pecar na presença do Senhor». Então Susana gritou com voz forte, mas os dois velhos gritaram também contra ela e um deles correu a abrir as portas do jardim. Logo que as pessoas da casa ouviram estes gritos no jardim, precipitaram-se pela porta do lado, para verem o que tinha acontecido. Quando os velhos contaram a sua versão, os servos coraram de vergonha, pois nunca se tinha dito de Susana semelhante coisa. No dia seguinte, quando o povo se reuniu em casa de Joaquim, marido de Susana, vieram os dois velhos cheios de rancor contra ela, pretendendo condená-la à morte. E disseram diante do povo: «Mandai chamar Susana, filha de Helcias, mulher de Joaquim». Foram buscá-la e ela veio com os pais, os filhos e todos os parentes. Os seus familiares choravam, assim como todos os que a viam. Os dois velhos levantaram-se no meio do povo e puseram as mãos sobre a cabeça de Susana. Ela, a soluçar, ergueu os olhos ao Céu, porque o seu coração confiava no Senhor. Os velhos disseram: «Enquanto passeávamos sós pelo jardim, entrou ela com duas servas; fechou as portas do jardim e mandou embora as servas. Veio então ter com ela um jovem, que estava escondido, e deitou-se com ela. Nós, que estávamos a um canto do jardim, ao ver aquela maldade, corremos sobre eles. Embora os tivéssemos visto juntos, não pudemos agarrar o jovem, porque era mais forte do que nós, e, abrindo a porta, pôs- se em fuga. A ela, porém, apanhámo-la e perguntámos-lhe quem era o jovem, mas ela não quis dizer-nos Somos testemunhas do facto». A assembleia deu-lhes crédito, por serem anciãos do povo e juízes, e condenou Susana à morte. Então Susana disse em altos brados: «Deus eterno, que sabeis o que é secreto e conheceis todas as coisas antes que aconteçam, Vós sabeis que eles proferiram contra mim um falso testemunho. E eu vou morrer, sem ter feito nada do que eles maliciosamente disseram contra mim». O Senhor ouviu a oração de Susana. Quando a levavam para ser executada, Deus despertou o espírito santo dum rapazinho chamado Daniel, que gritou com voz forte: «Eu sou inocente da morte desta mulher». Todo o povo se voltou para ele e perguntou: «Que palavras são essas que acabas de dizer?» Daniel, de pé no meio deles, respondeu: «Sois tão insensatos, ó filhos de Israel, que, sem julgamento nem conhecimento claro dos factos, condenais uma filha de Israel? Voltai ao tribunal, porque estes dois homens levantaram contra ela um falso testemunho». O povo regressou a toda a pressa e os anciãos disseram a Daniel: «Vem sentar-te no meio de nós e expõe-nos o teu pensamento, pois Deus concedeu-te a dignidade dos anciãos». Daniel disse-lhes: «Separai-os um do outro e eu os julgarei». Quando os separaram, Daniel chamou o primeiro e disse-lhe: «Envelheceste na prática do mal, mas agora aparecem os pecados que outrora cometeste, quando lavravas sentenças injustas, condenando os inocentes e absolvendo os culpados, apesar de o Senhor dizer: ‘Não dareis a morte ao inocente e ao justo’. Pois bem. Se viste esta mulher, debaixo de que árvore descobriste os dois juntos?». Ele respondeu: «Debaixo de um lentisco». Replicou Daniel: «A tua mentira cairá sobre a tua cabeça, pois o Anjo de Deus já recebeu a sentença, para te rachar ao meio». Depois de o terem afastado, Daniel ordenou que trouxessem o outro e disse-lhe: «Raça de Canaã e não de Judá, a beleza seduziu-te e o desejo perverteu-te o coração. Era assim que procedíeis com as filhas de Israel e elas por medo entregavam-se a vós. Pois bem, diz-me então: Debaixo de que árvore os surpreendeste juntos?» Ele respondeu: «Debaixo de um carvalho». Replicou Daniel: «A tua mentira cairá sobre a tua cabeça, pois o Anjo de Deus está à tua espera com a espada na mão para te cortar ao meio. Assim acabará convosco». Toda a assembleia clamou em alta voz, bendizendo a Deus, que salva aqueles que esperam n’Ele. Levantaram-se então contra os dois velhos, porque Daniel os tinha convencido de falso testemunho, pela sua própria boca. Para cumprirem a Lei de Moisés, aplicaram-lhes a mesma pena que tão impiamente tinham preparado para o seu próximo e executaram-nos; e foi salva naquele dia uma vida inocente.


Palavra do Senhor.


LEITURA I- Forma breve Dan 13, 41c-62
«Vou morrer, sem ter feito nada do que disseram contra mim»


Leitura da Profecia de Daniel


Naqueles dias, a assembleia condenou Susana à morte. Então Susana disse em altos brados: «Deus eterno, que sabeis o que é secreto e conheceis todas as coisas antes que aconteçam, Vós sabeis que eles proferiram contra mim um falso testemunho. E eu vou morrer, sem ter feito nada do que eles maliciosamente disseram contra mim». O Senhor ouviu a oração de Susana. Quando a levavam para ser executada, Deus despertou o espírito santo dum rapazinho chamado Daniel, que gritou com voz forte: «Eu sou inocente da morte desta mulher». Todo o povo se voltou para ele e perguntou: «Que palavras são essas que acabas de dizer?» Daniel, de pé no meio deles, respondeu: «Sois tão insensatos, ó filhos de Israel, que, sem julgamento nem conhecimento claro dos factos, condenais uma filha de Israel? Voltai ao tribunal, porque estes dois homens levantaram contra ela um falso testemunho». O povo regressou a toda a pressa e os anciãos disseram a Daniel: «Vem sentar-te no meio de nós e expõe-nos o teu pensamento, pois Deus concedeu-te a dignidade dos anciãos». Daniel disse-lhes: «Separai-os um do outro e eu os julgarei». Quando os separaram, Daniel chamou o primeiro e disse-lhe: «Envelheceste na prática do mal, mas agora aparecem os pecados que outrora cometeste, quando lavravas sentenças injustas, condenando os inocentes e absolvendo os culpados, apesar de o Senhor dizer: ‘Não dareis a morte ao inocente e ao justo’. Pois bem. Se viste esta mulher, debaixo de que árvore descobriste os dois juntos?». Ele respondeu: «Debaixo de um lentisco». Replicou Daniel: «A tua mentira cairá sobre a tua cabeça, pois o Anjo de Deus já recebeu a sentença, para te rachar ao meio». Depois de o terem afastado, Daniel ordenou que trouxessem o outro e disse-lhe: «Raça de Canaã e não de Judá, a beleza seduziu-te e o desejo perverteu-te o coração. Era assim que procedíeis com as filhas de Israel e elas por medo entregavam-se a vós. Pois bem, diz-me então: Debaixo de que árvore os surpreendeste juntos?» Ele respondeu: «Debaixo de um carvalho». Replicou Daniel: «A tua mentira cairá sobre a tua cabeça, pois o Anjo de Deus está à tua espera com a espada na mão para te cortar ao meio. Assim acabará convosco». Toda a assembleia clamou em alta voz, bendizendo a Deus, que salva aqueles que esperam n’Ele. Levantaram-se então contra os dois velhos, porque Daniel os tinha convencido de falso testemunho, pela sua própria boca. Para cumprirem a Lei de Moisés, aplicaram-lhes a mesma pena que tão impiamente tinham preparado para o seu próximo e executaram-nos; e foi salva naquele dia uma vida inocente.


Palavra do Senhor.


SALMO RESPONSORIAL Salmo 22 (23), 1-2a.2b-3.5-6 (R. 4a)
Refrão: Ainda que passe por vales tenebrosos,
nada temo, porque Vós estais comigo.
Repete-se

O Senhor é meu pastor: nada me falta.
Leva-me a descansar em verdes prados,
conduz-me às águas refrescantes
e reconforta a minha alma. Refrão

Ele me guia por sendas direitas,
por amor do seu nome.
Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos
não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo. Refrão

Para mim preparais a mesa
à vista dos meus adversários;
com óleo me perfumais a cabeça
e o meu cálice transborda. Refrão

A bondade e a graça hão de acompanhar-me
todos os dias da minha vida,
e habitarei na casa do Senhor
para todo o sempre. Refrão


ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO Ez 33, 11
Refrão: Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai. Repete-se
Eu não quero a morte do pecador, diz o Senhor,
mas que se converta e viva. Refrão


EVANGELHO Jo 8, 1-11
«Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra»


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João


Naquele tempo, Jesus foi para o Monte das Oliveiras. Mas de manhã cedo, apareceu outra vez no templo e todo o povo se aproximou d’Ele. Então sentou-Se e começou a ensinar. Os escribas e os fariseus apresentaram a Jesus uma mulher surpreendida em adultério, colocaram-na no meio dos presentes e disseram a Jesus: «Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Na Lei, Moisés mandou-nos apedrejar tais mulheres. Tu que dizes?». Falavam assim para Lhe armarem uma cilada e terem pretexto para O acusar. Mas Jesus inclinou-Se e começou a escrever com o dedo no chão. Como persistiam em interrogá-l’O, Ele ergueu-Se e disse-lhes: «Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra». Inclinou-Se novamente e continuou a escrever no chão. Eles, porém, quando ouviram tais palavras, foram saindo um após outro, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus e a mulher, que estava no meio. Jesus ergueu-Se e disse-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?». Ela respondeu: «Ninguém, Senhor». Jesus acrescentou: «Também Eu não te condeno. Vai e não tornes a pecar».


Palavra da salvação.

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Fazei, Senhor, que, reunidos para celebrar estes santos misté¬rios, Vos ofereçamos, como fruto da penitência, a alegria dos nossos corações purificados. Por Nosso Senhor.

Prefácio da Paixão do Senhor I


ANTÍFONA DA COMUNHÃO
Quando se lê o Evangelho da mulher adúltera: Jo 8, 10-11
Mulher, ninguém te condenou? Ninguém, Senhor.
Nem Eu te condeno. Vai em paz e não tornes a pecar.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
A graça deste sacramento, Senhor, nos fortaleça e nos purifique de todo o mal, para que, seguindo os passos de Cristo, caminhemos generosamente ao vosso encontro. Por Nosso Senhor.

 

MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA:

 

1. Leitura:  - Lê, respeita, situa o que lês.

     - Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste

 2. Meditação:  - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.

     - Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua vida” 2020.11.28

3. Oração:  - Louva o Senhor, suplica, escuta.

     - Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.

 

LEITURAS: Dan 13, 1-9.15-17.19-30.33-62: Por cima do juízo dos homens, sobretudo por cima da sua falta de justiça em julgar, está o juízo de Deus, que é sempre um juízo justo e salvador. Susana, falsamente acusada, julgada e condenada, é imagem da Igreja caluniada e condenada. Deus, porém, vem em seu auxílio e a liberta, como faz a cada um de nós, que esperamos da misericórdia de Deus a absolvição dos nossos pecados e a reintegração no seu povo.

Jo 8, 1-11: Ao lado de Susana, inocente mas acusada e condenada, (primeira leitura), a mulher adúltera, culpada mas perdoada, é também imagem da Igreja nos seus membros: purificada dos seus pecados nas águas do Batismo e da Penitência, defendida das tentações e acusações injustas de seus perseguidores, ela é a nova Eva, fruto da misericórdia de Deus, ao lado de Cristo, o novo Adão. Assim é o fruto do Mistério Pascal, que nos preparamos para celebrar.

 

 AGENDA DO DIA

 

 

 

A VOZ DO PASTOR:

 

É O CAMINHO QUE VEM AO NOSSO ENCONTRO?!...

 

Então não somos nós que andamos à procura do caminho que dê sentido à vida? Não somos nós que, perante tantas e tantas encruzilhadas de não menos estradas, caminhos e carreiros, sentimos dificuldade em fazer opção, porque nem sempre a melhor rota é a que está à frente ao nariz? Não somos nós que, por causa disso, tantas vezes cortamos por atalhos que nos levam a becos sem saída, fazendo-nos apear e atar as mãos à cabeça? Então como é o caminho que vem ao nosso encontro?

No Ofício de Leituras do Domingo passado, Agostinho de Hipona mimoseou-nos com um piropo de fazer ganir, assim: “Levanta-te, preguiçoso. O próprio caminho veio ao teu encontro e despertou-te do sono em que dormias, se é que chegou a despertar-te. Levanta-te e anda. Talvez tentes andar e não consigas, por te doerem os pés. E por que motivo te doem? Não será pela dureza dos caminhos que a avareza te levou a percorrer? Mas o Verbo de Deus curou também os coxos. “Eu tenho os pés sãos, dizes tu, mas não vejo o caminho”. Lembra-te que Ele também deu vistas aos cegos”.

Pois, pois, não sejas cego, amigo, abre os olhos e vê, nem que seja com os olhos de antanho, de há cerca de três mil anos atrás, assim: “Quem mediu com a mão as águas do mar, quem mediu a palmo as dimensões do céu? Quem mediu com o alqueire o pó da terra, quem pesou na báscula as montanhas e na balança as colinas? Quem dirigiu o espírito do Senhor, qual foi o conselheiro que lhe deu lições? De quem recebeu Ele conselho para julgar, para lhe ensinar o caminho da justiça? Quem lhe ensinou a sabedoria e lhe mostrou o caminho da prudência? As nações são para Ele como a gota de água no balde, não passam de um grão de areia na balança. As ilhas não pesam mais que uma poeira fina (...) As nações todas juntas nada são diante d’Ele (...) Porventura não sabeis? Nunca ouvistes dizer? Não vos foi anunciado desde o começo? (...) Erguei os olhos para o céu e observai: quem criou todos estes astros? Aquele que organiza e põe em marcha o exército das estrelas, chamando cada uma pelo seu nome. Tão grande é o seu poder e tão firme é a sua força, que ninguém deixa de se apresentar. (...) Não o sabes? Não ouviste dizer? O Senhor é o Deus eterno; foi Ele quem criou os confins do mundo. Ele não se cansa, nem se fadiga, e a sua inteligência é insondável. Ele dá ânimo ao cansado e recupera as forças do enfraquecido. Até os jovens se fatigam e cansam, e os rapazes também tropeçam e caem, mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, criam asas, como águias, correm e não se fatigam, podem andar que não se cansam” (Is 40, 12-31). A sua mensagem ressoa por toda a terra: os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. O dia transmite ao outro esta mensagem e a noite a dá a conhecer à outra noite. Não são palavras nem linguagem cujo sentido se não perceba. O seu eco ressoou por toda a terra e a sua notícia até aos confins do mundo (cf. Sl 18). Um outro Salmo reza assim: Ele tudo vê e tudo ouve, todos os nossos caminhos lhe são familiares. Se assim é, quem se poderá esconder d’Ele? Para onde irei longe do teu sopro? Para onde fugirei, longe da tua presença? Se subo ao céu, Tu lá estás. Se desço ao abismo, lá Te encontro. Se levanto voo para as margens da aurora, se emigro para os confins do mar, aí me alcançara a Tua esquerda e a Tua direita me sustentará (cf. Sl 139).

Se não devemos permanecer como cegos deixando de contemplar as maravilhas do Senhor, também não podemos coxear para dizer que não conseguimos encontrar o caminho, tal como o jogador matreiro que, à boca da baliza, não mete um golo evidente e finge ter tido uma cãibra na perna. Aqui, nem desculpas dessas pode haver, é o próprio caminho que veio ao nosso encontro. Deus faz-se encontrado em seu Filho. Jesus, que veio do Pai e permanece junto do Pai, apresentou-se como a Verdade e a Vida. Mas também se apresentou como sendo o Caminho a seguir para encontrar a Verdade e a Vida. Eu sou o Caminho, disse-nos Ele, se queres vir, anda daí, pega na tua cruz e segue-me, Eu sou manso e humilde de coração, vim para que tenhas a alegria e a tua alegria seja completa, sem Mim nada podes fazer, fica comigo!

A Quaresma, que, aliás, não é só para os outros, é um tempo de descoberta e de acolhimento de Jesus, ficando com Ele. Dirás: “Não o vejo, não o sinto”. Mas será que é isso mesmo?... Se queres tirar as teimas, anda daí, deixa-te de preconceitos, fecha a porta, desliga todos os empecilhos e afins que te distraem. Abre os olhos, afina os ouvidos do teu coração para apanhares o tom e sintonizares na frequência da sua voz e das suas surpresas. Fala, grita, contesta, chora, discorda d’Ele se é isso que te vai na alma, bate com o punho na mesa. Ele, que te conhece muito melhor que tu a ti próprio, está aí, no silêncio de ti mesmo, a ouvir-te com toda a serenidade e paciência, sem te despachar, sem te cortar a palavra, sem te reprovar seja sobre o que for, sem perder a serenidade própria da amizade que sabe ouvir e gerar empatia. Depois dessa tua furiosa guerra, desce do cavalo e cria espaço para também o ouvires até ao fim. Com certeza que Ele, como amigo que te ama e por quem deu a vida, tem muita coisa a dizer-te. Como ovelhita perdida, alvo da sua preocupação e procura, Ele carrega-te aos ombros, os mesmos ombros que carregaram a cruz onde foi morto, morto por ti, morto por cada um de nós para a todos restituir à liberdade e à Vida. Ele quer festejar contigo, quer abraçar-te, vestir-te de gala para comemorar o teu regresso com uma multidão sem número, com aquela banda sonora que tu aprecias e um banquete sem igual...

 

É Quaresma!... A boa Quaresma também passa pelo Sacramento da Reconciliação.

 

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 19-03-2021.

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QUARESMA - “SAÍA D’ELE UMA FORÇA QUE A TODOS CURAVA” 

 

Na Igreja, a Quaresma é, por natureza, um tempo catecumenal, um tempo de descoberta e redescoberta da fé cristã como relação vital de absoluta confiança no Senhor Jesus Cristo. Aliás, a Páscoa, celebração da revelação plena de Cristo para onde a Quaresma nos conduz, só ganhará densidade espiritual e existencial se a Quaresma se assumir como caminho e exercício de descoberta e redescoberta da relação com Jesus Cristo. A condição humana, cada um de nós, surpreende-se, comove-se diante de Jesus Cristo. Ele é, ao mesmo tempo, tão nosso e tão de Deus, tão humano e tão divino, tão histórico e tão do Céu e da eternidade. Antes de nos dizermos, já Ele nos conhece. Antes de lhe pedirmos, já Ele se nos disponibilizou. Com a sua palavra e os seus gestos de proximidade, cativa-nos. Com o mistério da sua Pessoa, colhe o nosso afeto, a nossa inteligência, a nossa vontade. Tocados pela sua humanidade, tornamo-nos, por bênção sua, capazes de tocar a sua divindade. Assim, rendidos e livres, estabelecemos com Ele uma relação vital de absoluta confiança, por onde, doravante, passará a vida toda. D’Ele brota uma força que não deixa ninguém indiferente e cura todos os males.

 

A fé não é, portanto, uma invenção de religiões. Nenhuma imposição a conseguiria legitimar. Nenhuma lei a conseguiria impor. Nenhum moralismo a conseguiria justificar e ser seu alicerce. Nenhuma tradição, por si só, a conseguiria manter. Tudo isso seriam insuficiências, andaimes solitários sem construção a erguer. Dom recebido e resposta dada, a fé cristã vai buscar muitas das suas dinâmicas mais elementares à vida humana. Mas é na surpresa graciosa do encontro com o dom de Deus em Jesus Cristo que ela se radica como atitude e ritmo. É esta fé, vivida como bênção, presença de Cristo sentida ao nosso lado, é esta fé que vai atravessar a nossa vida com as suas graças e desgraças, os seus encantos e desesperos, as suas alegrias e tristezas. É esta fé, vivida como bênção, que purifica a nossa vida com paixão, com graciosidade e com ousadia profética de batizados. É o nosso batismo, que o mesmo é dizer a nossa fé, que está em causa em cada Quaresma. Conversão e penitência, jejum, esmola e oração são exercícios batismais da nossa vida cristã porque são expressão da nossa vital confiança em Jesus Cristo e da nossa reação ao tempo e aos modos da vida.

 

A pandemia que atravessamos pode ser bem o contexto de humanidade em que a nossa fé é chamada a redescobrir-se e a dar fruto. Exigidas pela situação de crise, há um conjunto de ações que, nos crentes, são autênticos imperativos de consciência da vida cristã: na solidão, saber ser presença construtiva e não escravo da desconfiança; no desespero, saber ser força de esperança; na doença, saber ser cuidador; na dificuldade económica ou social, saber partilhar e promover; na prossecução do bem comum, saber comprometer-se e fazer caminho em comum; nas palavras, saber edificar e promover a verdade; nas atitudes quotidianas, saber eleger e construir a justiça; nas relações pessoais e de cidadania, saber respeitar e acolher. A pandemia, com a doença e a pressão que exerce em toda a sociedade, pode tornar-nos hipersensíveis, facilmente descarriláveis e irascíveis. Pode pressionar-nos e trazer constrangimentos vários à nossa vida. E é aí que é necessário ter sempre Cristo diante dos olhos, ter sempre Cristo no coração e nas mãos. Os cristãos não temos de ser uma maioria social, percentual, para sermos uma maioria virtuosa. Podemos até ser uma minoria, mas, sem nos acanharmos e ganharmos complexo de seita, saberemos ser Igreja à dimensão do mundo e à dimensão do próprio Cristo.

 

Este ano, e por vontade do Papa Francisco, conjugam-se com a nossa Quaresma o Ano da “Família Amoris Laetitia” e o Ano de S. José. Na sua Carta Apostólica para este ano, o Papa Francisco diz-nos que foi com “coração de pai” que José amou Jesus. Humilde, discreto, trabalhador, sempre pronto a realizar a vontade de Deus, homem do silêncio como escuta, atento aos sinais de Deus e aos sinais dos tempos, corajoso, pedagogo e, sobretudo, justo. Em José confrontamo-nos com um homem que é justo porque se ajustou a Deus. E é por se ajustar a Deus que cedo aprendeu a pensar como Deus, a agir como Deus, a amar como Deus. A sua fé e a alegria do seu amor foram o grande motor da sua vida. É também a alegria do amor que o Papa Francisco nos convida a encontrar na família cristã quando promove o Ano “Família Amoris Laetitia”. Ele insiste na leitura da Exortação Apostólica Amoris Laetitia e deseja levar ao aprofundamento da identidade da família cristã como dom de pessoas e como dom à Igreja e ao mundo. Deseja promover o acompanhamento dos esposos, a educação integral dos filhos, a reflexão sobre as luzes e sombras da vida da família cristã, as crises familiares, a participação das famílias nas estruturas de evangelização e da Igreja. Tempo de redescoberta e revitalização da nossa fé, a Quaresma deste ano faz com que se cruzem a fé e a pandemia, a fé e a família, a fé e a gratidão pelo dom da santidade de S. José.

 

De Jesus, na sua Palavra, nos seus gestos, na vida da Igreja como Comunidade, brota uma força que não deixa ninguém indiferente. Como discípulos de Jesus sempre em processo de conversão, somos, pois, desafiados a viver mais uma Quaresma, mais um dom que acontece ao longo da nossa existência. Se a mundaneidade convida ao ter, ao parecer e ao poder, a Quaresma pede especial atenção ao ser. É um tempo de penitência e conversão. Um tempo de oração filial que nos ajuda a limpar, arrumar e romper a dureza do coração, convertendo-nos a Deus e aos irmãos. Uma oração que leve ao jejum do pecado, à mudança menos boa de estar, pensar e falar, à privação do que não é essencial, à penitência e austeridade pessoal, ao sacrifício que liberta. Uma oração que converta e leve àquela partilha a que chamamos “renúncia quaresmal” e que tem um destino determinado por cada Bispo diocesano, tornado público no início da Quaresma e, ao longo da Quaresma, entregue em cada paróquia. Não se trata de renunciar para poupar, não se trata de um peditório, não se trata de uma recolha de fundos, não se trata de dar para ficar arrumado e não me incomodarem mais, não se trata de pagar, não se trata tanto de dar uma esmola a quem a pede ou necessita, embora não se deva permanecer indiferente e fazer vista grossa. Trata-se duma caminhada espiritual disciplinada e vivida na alegria da oração, da conversão interior, do pensar em Deus e nos outros, do sentir a importância da gratuidade e da fraternidade. Trata-se da mudança de mentalidade e de coração que também se pode traduzir em renunciar a isto ou àquilo, que, embora se julgue apetecível, não é necessário, e o seu custo se coloca de parte para a causa social anunciada. Para além disso, a conversão pode mesmo implicar o aliviar dos bolsos (Lc 19, 1-10; Lc 18, 18-23). É uma pedagogia familiar de que tantas crianças e tantos jovens nos dão tão belos testemunhos, renunciando a um bolo, a um cigarro, a um café, a um programa televisivo, a ser escravo das redes socias... ou os leva a estudar mais e melhor, a programar momentos de oração, a visitar o vizinho acamado ou a viver mais comprometido nas causas da fé e do bem comum, a respeitar os apelos ao confinamento e a vivê-lo com esperança, pensando na própria saúde e saúde dos outros... Enfim, trata-se de cada um, pelos caminhos possíveis, viver a Quaresma de tal forma que o conduza à Páscoa, descobrindo e redescobrindo cada vez mais o gesto do amor de Deus para connosco manifestado em Cristo Jesus seu Filho.

 

A Renúncia Quaresmal de 2020, em toda a Diocese, e devido ao ambiente de confinamento rigoroso, foi mesmo mesmo residual (1.769,34€). Tinha como destino ajudar à construção de um Centro de Acolhimento e Saúde na Arquidiocese de Kananga, República Democrática do Congo, donde temos dois sacerdotes a trabalhar nesta nossa Diocese. Este ano de 2021, destinamos 60% para o mesmo fim e 40% para o Fundo Social Diocesano, gerido pela Cáritas. De um Arciprestado, chegou à Cúria Diocesana uma verba de renúncia quaresmal atrasada, a qual será enviada para o destino anunciado nessa altura.

 

 

 

 

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