PARÓQUIAS DE NISA
Domingo, 21 de março de 2021
V semana da quaresma
LITURGIA
DOMINGO
V DA QUARESMA
Roxo – Ofício próprio (Semana I do
Saltério).
+ Missa própria, Credo, pf. da Quaresma.
L 1 Jer 31, 31-34; Sal 50 (51), 3-4. 12-13. 14-15
L 2 Hebr 5, 7-9
Ev Jo 12, 20-33
Em vez das leituras acima indicadas, podem tomar-se as leituras do Ano A, se
for mais oportuno e devem tomar-se se houver escrutínios de catecúmenos.
* Proibidas todas as Missas de defuntos, mesmo a exequial.
* Na Ordem de Cister e na Ordem Cisterciense da Estrita Observância –
Aniversário da Fundação da Ordem de Cister (1098).
* II Vésp. do domingo – Compl. dep. II Vésp. dom.
MISSA
ANTÍFONA
DE ENTRADA Salmo 42, 1-2
Fazei-me justiça, meu Deus,
defendei a minha causa contra a gente sem piedade,
livrai-me do homem desleal e perverso.
Vós sois o meu refúgio.
Não se diz o Glória.
ORAÇÃO COLECTA
Senhor nosso Deus, concedei-nos a graça
de viver com alegria o mesmo espírito de caridade
que levou o vosso Filho a entregar-Se à morte
pela salvação dos homens.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I Jer 31, 31-34
«Estabelecerei uma aliança nova
e não mais recordarei os seus pecados»
Leitura do Livro
de Jeremias
Dias virão, diz o Senhor, em que estabelecerei com a casa de Israel e com a
casa de Judá uma aliança nova. Não será como a aliança que firmei com os seus
pais, no dia em que os tomei pela mão para os tirar da terra do Egipto, aliança
que eles violaram, embora Eu tivesse domínio sobre eles, diz o Senhor. Esta é a
aliança que estabelecerei com a casa de Israel, naqueles dias, diz o Senhor:
Hei de imprimir a minha lei no íntimo da sua alma e gravá-la-ei no seu coração.
Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Já não terão de se instruir uns
aos outros, nem de dizer cada um a seu irmão: «Aprendei a conhecer o Senhor».
Todos eles Me conhecerão, desde o maior ao mais pequeno, diz o Senhor. Porque
vou perdoar os seus pecados e não mais recordarei as suas faltas.
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Salmo 50 (51), 3-4.12-13.14-15 (R. 12a)
Refrão: Dai-me, Senhor, um coração puro.
Repete-se
Compadecei-Vos de mim, ó Deus,
pela vossa bondade,
pela vossa grande misericórdia,
apagai os meus pecados.
Lavai-me de toda a iniquidade
e purificai-me de todas as faltas. Refrão
Criai em mim, ó Deus, um coração puro
e fazei nascer dentro de mim um espírito firme.
Não queirais repelir-me da vossa presença
e não retireis de mim o vosso espírito de santidade. Refrão
Dai-me de novo a alegria da vossa salvação
e sustentai-me com espírito generoso.
Ensinarei aos pecadores os vossos caminhos
e os transviados hão-de voltar para Vós. Refrão
LEITURA II Hebr 5, 7-9
«Aprendeu a obediência e tornou-se causa de salvação eterna»
Leitura da
Epístola aos Hebreus
Nos dias da sua vida mortal, Cristo dirigiu preces e súplicas, com grandes
clamores e lágrimas, Àquele que O podia livrar da morte e foi atendido por
causa da sua piedade. Apesar de ser Filho, aprendeu a obediência no sofrimento
e, tendo atingido a sua plenitude, tornou-Se para todos os que Lhe obedecem
causa de salvação eterna.
Palavra do Senhor.
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO Jo 12, 26
Refrão: Louvor a Vós, Jesus Cristo,
Rei da eterna glória. Repete-se
Se alguém Me quiser servir,
que Me siga, diz o Senhor,
e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo. Refrão
EVANGELHO Jo 12, 20-33
«Se o grão de trigo, lançado à terra, morrer, dará muito fruto»
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, alguns gregos que tinham vindo a Jerusalém para adorar nos dias
da festa, foram ter com Filipe, de Betsaida da Galileia, e fizeram-lhe este
pedido: «Senhor, nós queríamos ver Jesus». Filipe foi dizê-lo a André; e então
André e Filipe foram dizê-lo a Jesus. Jesus respondeu-lhes: «Chegou a hora em
que o Filho do homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo: Se o
grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito
fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem despreza a sua vida neste mundo
conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém Me quiser servir, que Me siga, e
onde Eu estiver, ali estará também o meu servo. E se alguém Me servir, meu Pai
o honrará. Agora a minha alma está perturbada. E que hei-de dizer? Pai,
salva-Me desta hora? Mas por causa disto é que Eu cheguei a esta hora. Pai,
glorifica o teu nome». Veio então do Céu uma voz que dizia: «Já O glorifiquei e
tornarei a glorificá-l’O». A multidão que estava presente e ouvira dizia ter
sido um trovão. Outros afirmavam: «Foi um Anjo que Lhe falou». Disse Jesus:
«Não foi por minha causa que esta voz se fez ouvir; foi por vossa causa. Chegou
a hora em que este mundo vai ser julgado. Chegou a hora em que vai ser expulso
o príncipe deste mundo. E quando Eu for elevado da terra, atrairei todos a
Mim». Falava deste modo, para indicar de que morte ia morrer.
Palavra da salvação.
Diz-se o Credo.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Ouvi-nos, Senhor Deus omnipotente,
e, pela virtude deste sacrifício,
purificai os vossos servos
que iluminastes com os ensinamentos da fé.
Por Nosso Senhor.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO
Quando se lê o Evangelho de Lázaro: Jo 11, 26
Aquele que vive e crê em Mim
não morrerá para sempre, diz o Senhor.
Quando se lê o Evangelho da mulher adúltera: Jo 8, 10-11
Mulher, ninguém te condenou? Ninguém, Senhor.
Nem Eu te condeno. Vai em paz e não tornes a pecar.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Deus omnipotente, concedei-nos a graça
de sermos sempre contados entre os membros de Cristo,
nós que comungámos o seu Corpo e Sangue.
Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA:
1. Leitura: - Lê, respeita, situa o que
lês.
- Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste
2.
Meditação: - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.
- Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua
vida” 2020.11.28
3. Oração: - Louva o Senhor,
suplica, escuta.
- Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.
LEITURAS:
Jer 31, 31-34 : Ao
longo de toda a História da Salvação, Deus, para levar os homens a
estabelecerem com Ele relações pessoais, foi concluindo alianças com o Povo de
Israel, através de homens extraordinários, que servem de mediadores. À
humanidade decaída pelo pecado, que «vivia no terror dos deuses e do destino
implacável». Deus ia assim revelando o Seu amor e os Seus desígnios de
salvação. Estas alianças, porém, eram provisórias, particulares, acompanhadas
de promessas de carácter material e ligadas a um povo. Preparavam e conduziam a
uma aliança nova, espiritual, definitiva e universal, que pela primeira vez, o
profeta Jeremias anuncia ao Povo de Deus.
Hebr
5, 7-9 : A Aliança
anunciada por Jeremias, veio a realizar-se pelo mais perfeito dos mediadores –
Jesus Cristo, Filho de Deus e irmão dos homens, segundo a natureza humana por
Ele assumida. Porque, foi sancionada com o Seu Sangue, no Sacrifício Pascal,
(«a nova Aliança no meu Sangue»), Jesus não é apenas o Mediador, mas a própria
Aliança: Ele estabeleceu a comunhão perfeita dos homens com Deus. Realidade
definitiva, esta é a Aliança nova. Mas é também eterna. Não há necessidade de
se repetir, como as antigas. Pela Eucaristia, feita em Sua Memória (I Cor. 11,
25), como Ele ordenou, a Aliança do Calvário torna-se presente em todos os
lugares e tempos. Participando nela, com fé, os fiéis unem-se ao Mistério da
nova e eterna Aliança, recebem a salvação preparada no Antigo Testamento e que
será consumada pela vinda gloriosa de Cristo.
Jo
12, 20-33 : Só
morrendo é que a semente dá origem a uma vida nova, revelando assim a sua
maravilhosa fecundidade. Também para Jesus a morte é semente de uma vida
maravilhosamente nova e fecunda. Graças à Sua morte redentora, os benefícios da
salvação são, com efeito, comunicados a todos os homens, judeus ou pagãos. A
Sua morte é a conclusão da Sua missão é, por isso, a hora da Sua glorificação. Aceitando
voluntariamente a morte, em filial e amorosa obediência ao Pai e aos Seus
planos de salvação, Jesus «deu-nos a vida imortal».
AGENDA DO DIA
09.30 horas: Missa em Amieira
do Tejo
10.00 horas: Missa em Arez
11.45 horas: Missa em
Tolosa
11.00 horas: Missa em
Nisa
12.00 horas: Missa em
Alpalhão
12.00 horas: Missa em
Gáfete
12.30 horas: Funeral em
Nisa
15.00 horas: Passos em
Alpalhão
15.30 horas: Missa em
Montalvão
16.00 horas: Passos em
Amieira do Tejo.
.
A VOZ DO PASTOR:
É
O CAMINHO QUE VEM AO NOSSO ENCONTRO?!...
Então não somos nós que andamos à procura do caminho
que dê sentido à vida? Não somos nós que, perante tantas e tantas encruzilhadas
de não menos estradas, caminhos e carreiros, sentimos dificuldade em fazer opção,
porque nem sempre a melhor rota é a que está à frente ao nariz? Não somos nós
que, por causa disso, tantas vezes cortamos por atalhos que nos levam a becos
sem saída, fazendo-nos apear e atar as mãos à cabeça? Então como é o caminho que
vem ao nosso encontro?
No Ofício de Leituras do Domingo passado, Agostinho
de Hipona mimoseou-nos com um piropo de fazer ganir, assim: “Levanta-te,
preguiçoso. O próprio caminho veio ao teu encontro e despertou-te do sono em
que dormias, se é que chegou a despertar-te. Levanta-te e anda. Talvez tentes
andar e não consigas, por te doerem os pés. E por que motivo te doem? Não será
pela dureza dos caminhos que a avareza te levou a percorrer? Mas o Verbo de
Deus curou também os coxos. “Eu tenho os pés sãos, dizes tu, mas não vejo o
caminho”. Lembra-te que Ele também deu vistas aos cegos”.
Pois, pois, não sejas cego, amigo, abre os olhos e
vê, nem que seja com os olhos de antanho, de há cerca de três mil anos atrás,
assim: “Quem mediu com a mão as águas do mar, quem mediu a palmo as dimensões
do céu? Quem mediu com o alqueire o pó da terra, quem pesou na báscula as
montanhas e na balança as colinas? Quem dirigiu o espírito do Senhor, qual foi
o conselheiro que lhe deu lições? De quem recebeu Ele conselho para julgar,
para lhe ensinar o caminho da justiça? Quem lhe ensinou a sabedoria e lhe
mostrou o caminho da prudência? As nações são para Ele como a gota de água no
balde, não passam de um grão de areia na balança. As ilhas não pesam mais que
uma poeira fina (...) As nações todas juntas nada são diante d’Ele (...)
Porventura não sabeis? Nunca
ouvistes dizer? Não vos foi anunciado desde o começo? (...) Erguei os olhos
para o céu e observai: quem criou todos estes astros? Aquele que organiza e põe
em marcha o exército das estrelas, chamando cada uma pelo seu nome. Tão grande
é o seu poder e tão firme é a sua força, que ninguém deixa de se apresentar. (...)
Não o sabes? Não ouviste dizer? O Senhor é o Deus eterno; foi Ele quem criou os
confins do mundo. Ele não se cansa, nem se fadiga, e a sua inteligência é
insondável. Ele dá ânimo ao cansado e recupera as forças do enfraquecido. Até
os jovens se fatigam e cansam, e os rapazes também tropeçam e caem, mas os que
esperam no Senhor renovam as suas forças, criam asas, como águias, correm e não
se fatigam, podem andar que não se cansam” (Is 40, 12-31). A sua mensagem
ressoa por toda a terra: os céus proclamam a
glória de Deus e o firmamento
anuncia a obra das suas mãos. O
dia transmite ao outro esta mensagem e
a noite a dá a conhecer à outra noite. Não
são palavras nem linguagem cujo
sentido se não perceba. O seu eco
ressoou por toda a terra e a sua
notícia até aos confins do mundo (cf. Sl
18). Um outro Salmo reza assim: Ele tudo
vê e tudo ouve, todos os nossos caminhos lhe são familiares. Se assim é, quem
se poderá esconder d’Ele? Para onde irei longe do teu sopro? Para onde fugirei,
longe da tua presença? Se subo ao céu, Tu lá estás. Se desço ao abismo, lá Te
encontro. Se levanto voo para as margens da aurora, se emigro para os confins
do mar, aí me alcançara a Tua esquerda e a Tua direita me sustentará (cf. Sl
139).
Se não devemos permanecer como cegos
deixando de contemplar as maravilhas do Senhor, também não podemos coxear para
dizer que não conseguimos encontrar o caminho, tal como o jogador matreiro que,
à boca da baliza, não mete um golo evidente e finge ter tido uma cãibra na
perna. Aqui, nem desculpas dessas pode haver, é o próprio caminho que veio ao
nosso encontro. Deus faz-se encontrado em seu Filho. Jesus, que veio do Pai e
permanece junto do Pai, apresentou-se como a Verdade e a Vida. Mas também se
apresentou como sendo o Caminho a seguir para encontrar a Verdade e a Vida. Eu
sou o Caminho, disse-nos Ele, se queres vir, anda daí, pega na tua cruz e
segue-me, Eu sou manso e humilde de coração, vim para que tenhas a alegria e a tua
alegria seja completa, sem Mim nada podes fazer, fica comigo!
A
Quaresma, que, aliás, não é só para os outros, é um tempo de descoberta e de acolhimento
de Jesus, ficando com Ele. Dirás: “Não o vejo, não o sinto”. Mas será que é
isso mesmo?... Se queres tirar as teimas, anda daí, deixa-te de preconceitos, fecha
a porta, desliga todos os empecilhos e afins que te distraem. Abre os olhos, afina
os ouvidos do teu coração para apanhares o tom e sintonizares na frequência da
sua voz e das suas surpresas. Fala, grita, contesta, chora, discorda d’Ele se é
isso que te vai na alma, bate com o punho na mesa. Ele, que te conhece muito
melhor que tu a ti próprio, está aí, no silêncio de ti mesmo, a ouvir-te com
toda a serenidade e paciência, sem te despachar, sem te cortar a palavra, sem
te reprovar seja sobre o que for, sem perder a serenidade própria da amizade que
sabe ouvir e gerar empatia. Depois dessa tua furiosa guerra, desce do cavalo e cria
espaço para também o ouvires até ao fim. Com certeza que Ele, como amigo que te
ama e por quem deu a vida, tem muita coisa a dizer-te. Como ovelhita perdida, alvo da sua
preocupação e procura, Ele carrega-te aos ombros, os mesmos ombros que
carregaram a cruz onde foi morto, morto por ti, morto por cada um de nós para a
todos restituir à liberdade e à Vida. Ele quer festejar contigo, quer abraçar-te,
vestir-te de gala para comemorar o teu regresso com uma multidão sem número, com
aquela banda sonora que tu aprecias e um banquete sem igual...
É
Quaresma!... A boa Quaresma também passa pelo Sacramento da Reconciliação.
Antonino
Dias
Portalegre-Castelo
Branco, 19-03-2021.
.
*************************
QUARESMA - “SAÍA D’ELE UMA FORÇA QUE A TODOS
CURAVA”
Na
Igreja, a Quaresma é, por natureza, um tempo catecumenal, um tempo de
descoberta e redescoberta da fé cristã como relação vital de absoluta confiança
no Senhor Jesus Cristo. Aliás, a Páscoa, celebração da revelação plena de
Cristo para onde a Quaresma nos conduz, só ganhará densidade espiritual e
existencial se a Quaresma se assumir como caminho e exercício de descoberta e
redescoberta da relação com Jesus Cristo. A condição humana, cada um de nós,
surpreende-se, comove-se diante de Jesus Cristo. Ele é, ao mesmo tempo, tão
nosso e tão de Deus, tão humano e tão divino, tão histórico e tão do Céu e da
eternidade. Antes de nos dizermos, já Ele nos conhece. Antes de lhe pedirmos,
já Ele se nos disponibilizou. Com a sua palavra e os seus gestos de
proximidade, cativa-nos. Com o mistério da sua Pessoa, colhe o nosso afeto, a
nossa inteligência, a nossa vontade. Tocados pela sua humanidade, tornamo-nos,
por bênção sua, capazes de tocar a sua divindade. Assim, rendidos e livres,
estabelecemos com Ele uma relação vital de absoluta confiança, por onde,
doravante, passará a vida toda. D’Ele brota uma força que não deixa ninguém
indiferente e cura todos os males.
A
fé não é, portanto, uma invenção de religiões. Nenhuma imposição a conseguiria
legitimar. Nenhuma lei a conseguiria impor. Nenhum moralismo a conseguiria
justificar e ser seu alicerce. Nenhuma tradição, por si só, a conseguiria
manter. Tudo isso seriam insuficiências, andaimes solitários sem construção a
erguer. Dom recebido e resposta dada, a fé cristã vai buscar muitas das suas
dinâmicas mais elementares à vida humana. Mas é na surpresa graciosa do
encontro com o dom de Deus em Jesus Cristo que ela se radica como atitude e
ritmo. É esta fé, vivida como bênção, presença de Cristo sentida ao nosso lado,
é esta fé que vai atravessar a nossa vida com as suas graças e desgraças, os
seus encantos e desesperos, as suas alegrias e tristezas. É esta fé, vivida
como bênção, que purifica a nossa vida com paixão, com graciosidade e com
ousadia profética de batizados. É o nosso batismo, que o mesmo é dizer a nossa
fé, que está em causa em cada Quaresma. Conversão e penitência, jejum, esmola e
oração são exercícios batismais da nossa vida cristã porque são expressão da
nossa vital confiança em Jesus Cristo e da nossa reação ao tempo e aos modos da
vida.
A
pandemia que atravessamos pode ser bem o contexto de humanidade em que a nossa
fé é chamada a redescobrir-se e a dar fruto. Exigidas pela situação de crise,
há um conjunto de ações que, nos crentes, são autênticos imperativos de
consciência da vida cristã: na solidão, saber ser presença construtiva e não
escravo da desconfiança; no desespero, saber ser força de esperança; na doença,
saber ser cuidador; na dificuldade económica ou social, saber partilhar e
promover; na prossecução do bem comum, saber comprometer-se e fazer caminho em
comum; nas palavras, saber edificar e promover a verdade; nas atitudes
quotidianas, saber eleger e construir a justiça; nas relações pessoais e de
cidadania, saber respeitar e acolher. A pandemia, com a doença e a pressão que
exerce em toda a sociedade, pode tornar-nos hipersensíveis, facilmente
descarriláveis e irascíveis. Pode pressionar-nos e trazer constrangimentos
vários à nossa vida. E é aí que é necessário ter sempre Cristo diante dos
olhos, ter sempre Cristo no coração e nas mãos. Os cristãos não temos de ser
uma maioria social, percentual, para sermos uma maioria virtuosa. Podemos até
ser uma minoria, mas, sem nos acanharmos e ganharmos complexo de seita,
saberemos ser Igreja à dimensão do mundo e à dimensão do próprio Cristo.
Este
ano, e por vontade do Papa Francisco, conjugam-se com a nossa Quaresma o Ano da
“Família Amoris Laetitia” e o Ano de S. José. Na sua Carta Apostólica para este
ano, o Papa Francisco diz-nos que foi com “coração de pai” que José amou Jesus.
Humilde, discreto, trabalhador, sempre pronto a realizar a vontade de Deus,
homem do silêncio como escuta, atento aos sinais de Deus e aos sinais dos
tempos, corajoso, pedagogo e, sobretudo, justo. Em José confrontamo-nos com um
homem que é justo porque se ajustou a Deus. E é por se ajustar a Deus que cedo
aprendeu a pensar como Deus, a agir como Deus, a amar como Deus. A sua fé e a
alegria do seu amor foram o grande motor da sua vida. É também a alegria do
amor que o Papa Francisco nos convida a encontrar na família cristã quando
promove o Ano “Família Amoris Laetitia”. Ele insiste na leitura da Exortação
Apostólica Amoris Laetitia e deseja levar ao aprofundamento da identidade da
família cristã como dom de pessoas e como dom à Igreja e ao mundo. Deseja promover
o acompanhamento dos esposos, a educação integral dos filhos, a reflexão sobre
as luzes e sombras da vida da família cristã, as crises familiares, a
participação das famílias nas estruturas de evangelização e da Igreja. Tempo de
redescoberta e revitalização da nossa fé, a Quaresma deste ano faz com que se
cruzem a fé e a pandemia, a fé e a família, a fé e a gratidão pelo dom da
santidade de S. José.
De
Jesus, na sua Palavra, nos seus gestos, na vida da Igreja como Comunidade,
brota uma força que não deixa ninguém indiferente. Como discípulos de Jesus
sempre em processo de conversão, somos, pois, desafiados a viver mais uma
Quaresma, mais um dom que acontece ao longo da nossa existência. Se a
mundaneidade convida ao ter, ao parecer e ao poder, a Quaresma pede especial
atenção ao ser. É um tempo de penitência e conversão. Um tempo de oração filial
que nos ajuda a limpar, arrumar e romper a dureza do coração, convertendo-nos a
Deus e aos irmãos. Uma oração que leve ao jejum do pecado, à mudança menos boa
de estar, pensar e falar, à privação do que não é essencial, à penitência e
austeridade pessoal, ao sacrifício que liberta. Uma oração que converta e leve
àquela partilha a que chamamos “renúncia quaresmal” e que tem um destino
determinado por cada Bispo diocesano, tornado público no início da Quaresma e,
ao longo da Quaresma, entregue em cada paróquia. Não se trata de renunciar para
poupar, não se trata de um peditório, não se trata de uma recolha de fundos,
não se trata de dar para ficar arrumado e não me incomodarem mais, não se trata
de pagar, não se trata tanto de dar uma esmola a quem a pede ou necessita,
embora não se deva permanecer indiferente e fazer vista grossa. Trata-se duma
caminhada espiritual disciplinada e vivida na alegria da oração, da conversão
interior, do pensar em Deus e nos outros, do sentir a importância da gratuidade
e da fraternidade. Trata-se da mudança de mentalidade e de coração que também
se pode traduzir em renunciar a isto ou àquilo, que, embora se julgue
apetecível, não é necessário, e o seu custo se coloca de parte para a causa
social anunciada. Para além disso, a conversão pode mesmo implicar o aliviar
dos bolsos (Lc 19, 1-10; Lc 18, 18-23). É uma pedagogia familiar de que tantas
crianças e tantos jovens nos dão tão belos testemunhos, renunciando a um bolo,
a um cigarro, a um café, a um programa televisivo, a ser escravo das redes
socias... ou os leva a estudar mais e melhor, a programar momentos de oração, a
visitar o vizinho acamado ou a viver mais comprometido nas causas da fé e do
bem comum, a respeitar os apelos ao confinamento e a vivê-lo com esperança,
pensando na própria saúde e saúde dos outros... Enfim, trata-se de cada um,
pelos caminhos possíveis, viver a Quaresma de tal forma que o conduza à Páscoa,
descobrindo e redescobrindo cada vez mais o gesto do amor de Deus para connosco
manifestado em Cristo Jesus seu Filho.
A Renúncia Quaresmal
de 2020, em toda a Diocese, e devido ao ambiente de confinamento rigoroso, foi
mesmo mesmo residual (1.769,34€). Tinha como destino ajudar à construção de um
Centro de Acolhimento e Saúde na Arquidiocese de Kananga, República Democrática
do Congo, donde temos dois sacerdotes a trabalhar nesta nossa Diocese. Este ano
de 2021, destinamos 60% para o mesmo fim e 40% para o Fundo Social Diocesano,
gerido pela Cáritas. De um Arciprestado, chegou à Cúria Diocesana uma verba de
renúncia quaresmal atrasada, a qual será enviada para o destino anunciado nessa
altura.
Sem comentários:
Enviar um comentário