sábado, 20 de março de 2021

 

PARÓQUIAS DE NISA

 

 

Domingo, 21 de março de 2021

V semana da quaresma

 

 

LITURGIA

 

DOMINGO V DA QUARESMA

Roxo – Ofício próprio (Semana I do Saltério).
+ Missa própria, Credo, pf. da Quaresma.

L 1 Jer 31, 31-34; Sal 50 (51), 3-4. 12-13. 14-15
L 2 Hebr 5, 7-9
Ev Jo 12, 20-33

Em vez das leituras acima indicadas, podem tomar-se as leituras do Ano A, se for mais oportuno e devem tomar-se se houver escrutínios de catecúmenos.
* Proibidas todas as Missas de defuntos, mesmo a exequial.
* Na Ordem de Cister e na Ordem Cisterciense da Estrita Observância – Aniversário da Fundação da Ordem de Cister (1098).
* II Vésp. do domingo – Compl. dep. II Vésp. dom.

 

MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA Salmo 42, 1-2
Fazei-me justiça, meu Deus,
defendei a minha causa contra a gente sem piedade,
livrai-me do homem desleal e perverso.
Vós sois o meu refúgio.

Não se diz o Glória.


ORAÇÃO COLECTA
Senhor nosso Deus, concedei-nos a graça
de viver com alegria o mesmo espírito de caridade
que levou o vosso Filho a entregar-Se à morte
pela salvação dos homens.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


LEITURA I Jer 31, 31-34
«Estabelecerei uma aliança nova
e não mais recordarei os seus pecados»


Leitura do Livro de Jeremias


Dias virão, diz o Senhor, em que estabelecerei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma aliança nova. Não será como a aliança que firmei com os seus pais, no dia em que os tomei pela mão para os tirar da terra do Egipto, aliança que eles violaram, embora Eu tivesse domínio sobre eles, diz o Senhor. Esta é a aliança que estabelecerei com a casa de Israel, naqueles dias, diz o Senhor: Hei de imprimir a minha lei no íntimo da sua alma e gravá-la-ei no seu coração. Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Já não terão de se instruir uns aos outros, nem de dizer cada um a seu irmão: «Aprendei a conhecer o Senhor». Todos eles Me conhecerão, desde o maior ao mais pequeno, diz o Senhor. Porque vou perdoar os seus pecados e não mais recordarei as suas faltas.


Palavra do Senhor.


SALMO RESPONSORIAL Salmo 50 (51), 3-4.12-13.14-15 (R. 12a)
Refrão: Dai-me, Senhor, um coração puro. Repete-se
Compadecei-Vos de mim, ó Deus,
pela vossa bondade,
pela vossa grande misericórdia,
apagai os meus pecados.
Lavai-me de toda a iniquidade
e purificai-me de todas as faltas. Refrão

Criai em mim, ó Deus, um coração puro
e fazei nascer dentro de mim um espírito firme.
Não queirais repelir-me da vossa presença
e não retireis de mim o vosso espírito de santidade. Refrão

Dai-me de novo a alegria da vossa salvação
e sustentai-me com espírito generoso.
Ensinarei aos pecadores os vossos caminhos
e os transviados hão-de voltar para Vós. Refrão


LEITURA II Hebr 5, 7-9
«Aprendeu a obediência e tornou-se causa de salvação eterna»


Leitura da Epístola aos Hebreus


Nos dias da sua vida mortal, Cristo dirigiu preces e súplicas, com grandes clamores e lágrimas, Àquele que O podia livrar da morte e foi atendido por causa da sua piedade. Apesar de ser Filho, aprendeu a obediência no sofrimento e, tendo atingido a sua plenitude, tornou-Se para todos os que Lhe obedecem causa de salvação eterna.


Palavra do Senhor.


ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO Jo 12, 26
Refrão: Louvor a Vós, Jesus Cristo,
Rei da eterna glória. Repete-se
Se alguém Me quiser servir,
que Me siga, diz o Senhor,
e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo. Refrão


EVANGELHO Jo 12, 20-33
«Se o grão de trigo, lançado à terra, morrer, dará muito fruto»


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João


Naquele tempo, alguns gregos que tinham vindo a Jerusalém para adorar nos dias da festa, foram ter com Filipe, de Betsaida da Galileia, e fizeram-lhe este pedido: «Senhor, nós queríamos ver Jesus». Filipe foi dizê-lo a André; e então André e Filipe foram dizê-lo a Jesus. Jesus respondeu-lhes: «Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem despreza a sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém Me quiser servir, que Me siga, e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo. E se alguém Me servir, meu Pai o honrará. Agora a minha alma está perturbada. E que hei-de dizer? Pai, salva-Me desta hora? Mas por causa disto é que Eu cheguei a esta hora. Pai, glorifica o teu nome». Veio então do Céu uma voz que dizia: «Já O glorifiquei e tornarei a glorificá-l’O». A multidão que estava presente e ouvira dizia ter sido um trovão. Outros afirmavam: «Foi um Anjo que Lhe falou». Disse Jesus: «Não foi por minha causa que esta voz se fez ouvir; foi por vossa causa. Chegou a hora em que este mundo vai ser julgado. Chegou a hora em que vai ser expulso o príncipe deste mundo. E quando Eu for elevado da terra, atrairei todos a Mim». Falava deste modo, para indicar de que morte ia morrer.


Palavra da salvação.


Diz-se o Credo.


ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Ouvi-nos, Senhor Deus omnipotente,
e, pela virtude deste sacrifício,
purificai os vossos servos
que iluminastes com os ensinamentos da fé.
Por Nosso Senhor.


ANTÍFONA DA COMUNHÃO
Quando se lê o Evangelho de Lázaro: Jo 11, 26
Aquele que vive e crê em Mim
não morrerá para sempre, diz o Senhor.

Quando se lê o Evangelho da mulher adúltera: Jo 8, 10-11
Mulher, ninguém te condenou? Ninguém, Senhor.
Nem Eu te condeno. Vai em paz e não tornes a pecar.


ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Deus omnipotente, concedei-nos a graça
de sermos sempre contados entre os membros de Cristo,
nós que comungámos o seu Corpo e Sangue.
Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA:

 

1. Leitura:  - Lê, respeita, situa o que lês.

     - Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste

 2. Meditação:  - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.

     - Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua vida” 2020.11.28

3. Oração:  - Louva o Senhor, suplica, escuta.

     - Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.

 

LEITURAS: Jer 31, 31-34 : Ao longo de toda a História da Salvação, Deus, para levar os homens a estabelecerem com Ele relações pessoais, foi concluindo alianças com o Povo de Israel, através de homens extraordinários, que servem de mediadores. À humanidade decaída pelo pecado, que «vivia no terror dos deuses e do destino implacável». Deus ia assim revelando o Seu amor e os Seus desígnios de salvação. Estas alianças, porém, eram provisórias, particulares, acompanhadas de promessas de carácter material e ligadas a um povo. Preparavam e conduziam a uma aliança nova, espiritual, definitiva e universal, que pela primeira vez, o profeta Jeremias anuncia ao Povo de Deus.

Hebr 5, 7-9 : A Aliança anunciada por Jeremias, veio a realizar-se pelo mais perfeito dos mediadores – Jesus Cristo, Filho de Deus e irmão dos homens, segundo a natureza humana por Ele assumida. Porque, foi sancionada com o Seu Sangue, no Sacrifício Pascal, («a nova Aliança no meu Sangue»), Jesus não é apenas o Mediador, mas a própria Aliança: Ele estabeleceu a comunhão perfeita dos homens com Deus. Realidade definitiva, esta é a Aliança nova. Mas é também eterna. Não há necessidade de se repetir, como as antigas. Pela Eucaristia, feita em Sua Memória (I Cor. 11, 25), como Ele ordenou, a Aliança do Calvário torna-se presente em todos os lugares e tempos. Participando nela, com fé, os fiéis unem-se ao Mistério da nova e eterna Aliança, recebem a salvação preparada no Antigo Testamento e que será consumada pela vinda gloriosa de Cristo.

Jo 12, 20-33 : Só morrendo é que a semente dá origem a uma vida nova, revelando assim a sua maravilhosa fecundidade. Também para Jesus a morte é semente de uma vida maravilhosamente nova e fecunda. Graças à Sua morte redentora, os benefícios da salvação são, com efeito, comunicados a todos os homens, judeus ou pagãos. A Sua morte é a conclusão da Sua missão é, por isso, a hora da Sua glorificação. Aceitando voluntariamente a morte, em filial e amorosa obediência ao Pai e aos Seus planos de salvação, Jesus «deu-nos a vida imortal».

 

 AGENDA DO DIA

 

09.30 horas: Missa em Amieira do Tejo

10.00 horas: Missa em Arez

11.45 horas: Missa em Tolosa

11.00 horas: Missa em Nisa

12.00 horas: Missa em Alpalhão

12.00 horas: Missa em Gáfete

12.30 horas: Funeral em Nisa

15.00 horas: Passos em Alpalhão

15.30 horas: Missa em Montalvão

16.00 horas: Passos em Amieira do Tejo.

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A VOZ DO PASTOR:

 

É O CAMINHO QUE VEM AO NOSSO ENCONTRO?!...

 

Então não somos nós que andamos à procura do caminho que dê sentido à vida? Não somos nós que, perante tantas e tantas encruzilhadas de não menos estradas, caminhos e carreiros, sentimos dificuldade em fazer opção, porque nem sempre a melhor rota é a que está à frente ao nariz? Não somos nós que, por causa disso, tantas vezes cortamos por atalhos que nos levam a becos sem saída, fazendo-nos apear e atar as mãos à cabeça? Então como é o caminho que vem ao nosso encontro?

No Ofício de Leituras do Domingo passado, Agostinho de Hipona mimoseou-nos com um piropo de fazer ganir, assim: “Levanta-te, preguiçoso. O próprio caminho veio ao teu encontro e despertou-te do sono em que dormias, se é que chegou a despertar-te. Levanta-te e anda. Talvez tentes andar e não consigas, por te doerem os pés. E por que motivo te doem? Não será pela dureza dos caminhos que a avareza te levou a percorrer? Mas o Verbo de Deus curou também os coxos. “Eu tenho os pés sãos, dizes tu, mas não vejo o caminho”. Lembra-te que Ele também deu vistas aos cegos”.

Pois, pois, não sejas cego, amigo, abre os olhos e vê, nem que seja com os olhos de antanho, de há cerca de três mil anos atrás, assim: “Quem mediu com a mão as águas do mar, quem mediu a palmo as dimensões do céu? Quem mediu com o alqueire o pó da terra, quem pesou na báscula as montanhas e na balança as colinas? Quem dirigiu o espírito do Senhor, qual foi o conselheiro que lhe deu lições? De quem recebeu Ele conselho para julgar, para lhe ensinar o caminho da justiça? Quem lhe ensinou a sabedoria e lhe mostrou o caminho da prudência? As nações são para Ele como a gota de água no balde, não passam de um grão de areia na balança. As ilhas não pesam mais que uma poeira fina (...) As nações todas juntas nada são diante d’Ele (...) Porventura não sabeis? Nunca ouvistes dizer? Não vos foi anunciado desde o começo? (...) Erguei os olhos para o céu e observai: quem criou todos estes astros? Aquele que organiza e põe em marcha o exército das estrelas, chamando cada uma pelo seu nome. Tão grande é o seu poder e tão firme é a sua força, que ninguém deixa de se apresentar. (...) Não o sabes? Não ouviste dizer? O Senhor é o Deus eterno; foi Ele quem criou os confins do mundo. Ele não se cansa, nem se fadiga, e a sua inteligência é insondável. Ele dá ânimo ao cansado e recupera as forças do enfraquecido. Até os jovens se fatigam e cansam, e os rapazes também tropeçam e caem, mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, criam asas, como águias, correm e não se fatigam, podem andar que não se cansam” (Is 40, 12-31). A sua mensagem ressoa por toda a terra: os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. O dia transmite ao outro esta mensagem e a noite a dá a conhecer à outra noite. Não são palavras nem linguagem cujo sentido se não perceba. O seu eco ressoou por toda a terra e a sua notícia até aos confins do mundo (cf. Sl 18). Um outro Salmo reza assim: Ele tudo vê e tudo ouve, todos os nossos caminhos lhe são familiares. Se assim é, quem se poderá esconder d’Ele? Para onde irei longe do teu sopro? Para onde fugirei, longe da tua presença? Se subo ao céu, Tu lá estás. Se desço ao abismo, lá Te encontro. Se levanto voo para as margens da aurora, se emigro para os confins do mar, aí me alcançara a Tua esquerda e a Tua direita me sustentará (cf. Sl 139).

Se não devemos permanecer como cegos deixando de contemplar as maravilhas do Senhor, também não podemos coxear para dizer que não conseguimos encontrar o caminho, tal como o jogador matreiro que, à boca da baliza, não mete um golo evidente e finge ter tido uma cãibra na perna. Aqui, nem desculpas dessas pode haver, é o próprio caminho que veio ao nosso encontro. Deus faz-se encontrado em seu Filho. Jesus, que veio do Pai e permanece junto do Pai, apresentou-se como a Verdade e a Vida. Mas também se apresentou como sendo o Caminho a seguir para encontrar a Verdade e a Vida. Eu sou o Caminho, disse-nos Ele, se queres vir, anda daí, pega na tua cruz e segue-me, Eu sou manso e humilde de coração, vim para que tenhas a alegria e a tua alegria seja completa, sem Mim nada podes fazer, fica comigo!

A Quaresma, que, aliás, não é só para os outros, é um tempo de descoberta e de acolhimento de Jesus, ficando com Ele. Dirás: “Não o vejo, não o sinto”. Mas será que é isso mesmo?... Se queres tirar as teimas, anda daí, deixa-te de preconceitos, fecha a porta, desliga todos os empecilhos e afins que te distraem. Abre os olhos, afina os ouvidos do teu coração para apanhares o tom e sintonizares na frequência da sua voz e das suas surpresas. Fala, grita, contesta, chora, discorda d’Ele se é isso que te vai na alma, bate com o punho na mesa. Ele, que te conhece muito melhor que tu a ti próprio, está aí, no silêncio de ti mesmo, a ouvir-te com toda a serenidade e paciência, sem te despachar, sem te cortar a palavra, sem te reprovar seja sobre o que for, sem perder a serenidade própria da amizade que sabe ouvir e gerar empatia. Depois dessa tua furiosa guerra, desce do cavalo e cria espaço para também o ouvires até ao fim. Com certeza que Ele, como amigo que te ama e por quem deu a vida, tem muita coisa a dizer-te. Como ovelhita perdida, alvo da sua preocupação e procura, Ele carrega-te aos ombros, os mesmos ombros que carregaram a cruz onde foi morto, morto por ti, morto por cada um de nós para a todos restituir à liberdade e à Vida. Ele quer festejar contigo, quer abraçar-te, vestir-te de gala para comemorar o teu regresso com uma multidão sem número, com aquela banda sonora que tu aprecias e um banquete sem igual...

 

É Quaresma!... A boa Quaresma também passa pelo Sacramento da Reconciliação.

 

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 19-03-2021.

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QUARESMA - “SAÍA D’ELE UMA FORÇA QUE A TODOS CURAVA” 

 

Na Igreja, a Quaresma é, por natureza, um tempo catecumenal, um tempo de descoberta e redescoberta da fé cristã como relação vital de absoluta confiança no Senhor Jesus Cristo. Aliás, a Páscoa, celebração da revelação plena de Cristo para onde a Quaresma nos conduz, só ganhará densidade espiritual e existencial se a Quaresma se assumir como caminho e exercício de descoberta e redescoberta da relação com Jesus Cristo. A condição humana, cada um de nós, surpreende-se, comove-se diante de Jesus Cristo. Ele é, ao mesmo tempo, tão nosso e tão de Deus, tão humano e tão divino, tão histórico e tão do Céu e da eternidade. Antes de nos dizermos, já Ele nos conhece. Antes de lhe pedirmos, já Ele se nos disponibilizou. Com a sua palavra e os seus gestos de proximidade, cativa-nos. Com o mistério da sua Pessoa, colhe o nosso afeto, a nossa inteligência, a nossa vontade. Tocados pela sua humanidade, tornamo-nos, por bênção sua, capazes de tocar a sua divindade. Assim, rendidos e livres, estabelecemos com Ele uma relação vital de absoluta confiança, por onde, doravante, passará a vida toda. D’Ele brota uma força que não deixa ninguém indiferente e cura todos os males.

 

A fé não é, portanto, uma invenção de religiões. Nenhuma imposição a conseguiria legitimar. Nenhuma lei a conseguiria impor. Nenhum moralismo a conseguiria justificar e ser seu alicerce. Nenhuma tradição, por si só, a conseguiria manter. Tudo isso seriam insuficiências, andaimes solitários sem construção a erguer. Dom recebido e resposta dada, a fé cristã vai buscar muitas das suas dinâmicas mais elementares à vida humana. Mas é na surpresa graciosa do encontro com o dom de Deus em Jesus Cristo que ela se radica como atitude e ritmo. É esta fé, vivida como bênção, presença de Cristo sentida ao nosso lado, é esta fé que vai atravessar a nossa vida com as suas graças e desgraças, os seus encantos e desesperos, as suas alegrias e tristezas. É esta fé, vivida como bênção, que purifica a nossa vida com paixão, com graciosidade e com ousadia profética de batizados. É o nosso batismo, que o mesmo é dizer a nossa fé, que está em causa em cada Quaresma. Conversão e penitência, jejum, esmola e oração são exercícios batismais da nossa vida cristã porque são expressão da nossa vital confiança em Jesus Cristo e da nossa reação ao tempo e aos modos da vida.

 

A pandemia que atravessamos pode ser bem o contexto de humanidade em que a nossa fé é chamada a redescobrir-se e a dar fruto. Exigidas pela situação de crise, há um conjunto de ações que, nos crentes, são autênticos imperativos de consciência da vida cristã: na solidão, saber ser presença construtiva e não escravo da desconfiança; no desespero, saber ser força de esperança; na doença, saber ser cuidador; na dificuldade económica ou social, saber partilhar e promover; na prossecução do bem comum, saber comprometer-se e fazer caminho em comum; nas palavras, saber edificar e promover a verdade; nas atitudes quotidianas, saber eleger e construir a justiça; nas relações pessoais e de cidadania, saber respeitar e acolher. A pandemia, com a doença e a pressão que exerce em toda a sociedade, pode tornar-nos hipersensíveis, facilmente descarriláveis e irascíveis. Pode pressionar-nos e trazer constrangimentos vários à nossa vida. E é aí que é necessário ter sempre Cristo diante dos olhos, ter sempre Cristo no coração e nas mãos. Os cristãos não temos de ser uma maioria social, percentual, para sermos uma maioria virtuosa. Podemos até ser uma minoria, mas, sem nos acanharmos e ganharmos complexo de seita, saberemos ser Igreja à dimensão do mundo e à dimensão do próprio Cristo.

 

Este ano, e por vontade do Papa Francisco, conjugam-se com a nossa Quaresma o Ano da “Família Amoris Laetitia” e o Ano de S. José. Na sua Carta Apostólica para este ano, o Papa Francisco diz-nos que foi com “coração de pai” que José amou Jesus. Humilde, discreto, trabalhador, sempre pronto a realizar a vontade de Deus, homem do silêncio como escuta, atento aos sinais de Deus e aos sinais dos tempos, corajoso, pedagogo e, sobretudo, justo. Em José confrontamo-nos com um homem que é justo porque se ajustou a Deus. E é por se ajustar a Deus que cedo aprendeu a pensar como Deus, a agir como Deus, a amar como Deus. A sua fé e a alegria do seu amor foram o grande motor da sua vida. É também a alegria do amor que o Papa Francisco nos convida a encontrar na família cristã quando promove o Ano “Família Amoris Laetitia”. Ele insiste na leitura da Exortação Apostólica Amoris Laetitia e deseja levar ao aprofundamento da identidade da família cristã como dom de pessoas e como dom à Igreja e ao mundo. Deseja promover o acompanhamento dos esposos, a educação integral dos filhos, a reflexão sobre as luzes e sombras da vida da família cristã, as crises familiares, a participação das famílias nas estruturas de evangelização e da Igreja. Tempo de redescoberta e revitalização da nossa fé, a Quaresma deste ano faz com que se cruzem a fé e a pandemia, a fé e a família, a fé e a gratidão pelo dom da santidade de S. José.

 

De Jesus, na sua Palavra, nos seus gestos, na vida da Igreja como Comunidade, brota uma força que não deixa ninguém indiferente. Como discípulos de Jesus sempre em processo de conversão, somos, pois, desafiados a viver mais uma Quaresma, mais um dom que acontece ao longo da nossa existência. Se a mundaneidade convida ao ter, ao parecer e ao poder, a Quaresma pede especial atenção ao ser. É um tempo de penitência e conversão. Um tempo de oração filial que nos ajuda a limpar, arrumar e romper a dureza do coração, convertendo-nos a Deus e aos irmãos. Uma oração que leve ao jejum do pecado, à mudança menos boa de estar, pensar e falar, à privação do que não é essencial, à penitência e austeridade pessoal, ao sacrifício que liberta. Uma oração que converta e leve àquela partilha a que chamamos “renúncia quaresmal” e que tem um destino determinado por cada Bispo diocesano, tornado público no início da Quaresma e, ao longo da Quaresma, entregue em cada paróquia. Não se trata de renunciar para poupar, não se trata de um peditório, não se trata de uma recolha de fundos, não se trata de dar para ficar arrumado e não me incomodarem mais, não se trata de pagar, não se trata tanto de dar uma esmola a quem a pede ou necessita, embora não se deva permanecer indiferente e fazer vista grossa. Trata-se duma caminhada espiritual disciplinada e vivida na alegria da oração, da conversão interior, do pensar em Deus e nos outros, do sentir a importância da gratuidade e da fraternidade. Trata-se da mudança de mentalidade e de coração que também se pode traduzir em renunciar a isto ou àquilo, que, embora se julgue apetecível, não é necessário, e o seu custo se coloca de parte para a causa social anunciada. Para além disso, a conversão pode mesmo implicar o aliviar dos bolsos (Lc 19, 1-10; Lc 18, 18-23). É uma pedagogia familiar de que tantas crianças e tantos jovens nos dão tão belos testemunhos, renunciando a um bolo, a um cigarro, a um café, a um programa televisivo, a ser escravo das redes socias... ou os leva a estudar mais e melhor, a programar momentos de oração, a visitar o vizinho acamado ou a viver mais comprometido nas causas da fé e do bem comum, a respeitar os apelos ao confinamento e a vivê-lo com esperança, pensando na própria saúde e saúde dos outros... Enfim, trata-se de cada um, pelos caminhos possíveis, viver a Quaresma de tal forma que o conduza à Páscoa, descobrindo e redescobrindo cada vez mais o gesto do amor de Deus para connosco manifestado em Cristo Jesus seu Filho.

 

A Renúncia Quaresmal de 2020, em toda a Diocese, e devido ao ambiente de confinamento rigoroso, foi mesmo mesmo residual (1.769,34€). Tinha como destino ajudar à construção de um Centro de Acolhimento e Saúde na Arquidiocese de Kananga, República Democrática do Congo, donde temos dois sacerdotes a trabalhar nesta nossa Diocese. Este ano de 2021, destinamos 60% para o mesmo fim e 40% para o Fundo Social Diocesano, gerido pela Cáritas. De um Arciprestado, chegou à Cúria Diocesana uma verba de renúncia quaresmal atrasada, a qual será enviada para o destino anunciado nessa altura.

 

 

 

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