PARÓQUIAS DE NISA
Quarta-feira, 10 de março de 2021
III semana da quaresma
LITURGIA
Quarta-feira da semana III
Roxo –
Ofício da féria.
Missa da féria, pf. da Quaresma.
L 1 Deut 4, 1. 5-9; Sal 147, 12-13. 15-16. 19-20
Ev Mt 5, 17-19
MISSA
ANTÍFONA DE
ENTRADA Salmo 118, 133
Firmai os meus passos segundo a vossa promessa
e livrai-me de toda a iniquidade.
ORAÇÃO COLECTA
Concedei-nos, Senhor, que, instruídos pela observância quaresmal e alimentados
pela vossa palavra, nos consagremos totalmente a Vós e perseveremos unidos na
oração. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na
unidade do Espírito Santo.
LEITURA I Deut 4, 1.5-9
«Observai e ponde em prática os preceitos
do Senhor»
Leitura do Livro
do Deuteronómio
Moisés falou ao povo, dizendo: «Agora, Israel, escuta os preceitos que vos dou
a conhecer e põe-nos em prática, para que vivais e entreis na posse da terra que
vos dá o Senhor, Deus dos vossos pais. Ensinei-vos estas leis e preceitos,
conforme o Senhor, meu Deus, me ordenara, a fim de os praticardes na terra de
que ides tomar posse. Observai-os e ponde-os em prática, porque eles serão a
vossa sabedoria e a vossa prudência aos olhos dos povos, que, ao ouvirem falar
de todas estas leis, dirão: ‘Que povo tão sábio e prudente é esta grande
nação!’. Qual é, na verdade, a grande nação que tem a divindade tão perto de si
como está perto de nós o Senhor, nosso Deus, sempre que O invocamos? E qual é a
grande nação que tem mandamentos e decretos tão justos como esta lei que hoje
vos apresento? Mas tende cuidado; prestai atenção para não esquecer tudo quanto
viram os vossos olhos, nem o deixeis fugir do pensamento em nenhum dia da vossa
vida. Ensinai-o aos vossos filhos e aos filhos dos vossos filhos».
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Salmo 147, 12-13.15-16.19-20 (R. 12a)
Refrão: Jerusalém, louva o teu Senhor
Repete-se
Glorifica, Jerusalém, o Senhor,
louva, Sião, o teu Deus.
Ele reforçou as tuas portas
e abençoou os teus filhos. Refrão
Envia à terra a sua palavra,
corre veloz a sua mensagem.
Faz cair a neve como a lã,
espalha a geada como cinza. Refrão
Revelou a sua palavra a Jacob,
suas leis e preceitos a Israel.
Não fez assim com nenhum outro povo,
a nenhum outro manifestou os seus juízos. Refrão
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO cf. Jo 6, 63c.68c
Refrão: Glória a Vós, Senhor, Filho do
Deus vivo. Repete-se
As vossas palavras, Senhor, são espírito e vida:
Vós tendes palavras de vida eterna Refrão
EVANGELHO Mt 5, 17-19
«Será grande quem praticar e ensinar os mandamentos»
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Não penseis que vim revogar a
Lei ou os Profetas; não vim revogar, mas completar. Em verdade vos digo: Antes
que passem o céu e a terra, não passará da Lei a mais pequena letra ou o mais
pequeno sinal, sem que tudo se cumpra. Portanto, se alguém transgredir um só
destes mandamentos, por mais pequenos que sejam, e ensinar assim aos homens,
será o menor no reino dos Céus. Mas aquele que os praticar e ensinar será
grande no reino dos Céus».
Palavra da salvação.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Aceitai, Senhor, com estas ofertas as orações dos vossos fiéis e defendei de
todos os perigos o povo que celebra estes santos mistérios. Por Nosso Senhor
Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Prefácio da Quaresma
ANTÍFONA DA COMUNHÃO Salmo 15, 11
O Senhor me ensinará o caminho da vida,
a seu lado viverei na plenitude da alegria.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Santificai-nos, Senhor, com o alimento recebido nesta mesa celeste, para que,
livres de todos os erros, sejamos dignos das vossas promessas. Por Nosso Senhor
Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
MÉTODO
DE ORAÇÃO BÍBLICA:
1. Leitura: - Lê, respeita, situa o que lês.
- Detém-te no conteúdo de fé e da
passagem que leste
2. Meditação: - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.
- Deixa que a passagem da Palavra de
Deus que leste “leia a tua vida” 2020.11.28
3. Oração: - Louva o Senhor, suplica, escuta.
- Dirige-te a Deus que te falou através
da Sua Palavra.
LEITURAS: Deut 4,
1.5-9: Depois de nos terem sido apresentados, nos dias anteriores, o tema do Batismo
e o da penitência, apresenta-se hoje o tema dos mandamentos: filhos de Deus,
havemos de viver nos caminhos de Deus que a sua própria palavra nos indica. É
essa palavra que fará do povo de Deus ‘o povo tão sabedor e tão inteligente’,
como não há outro, porque é a palavra de Deus o seu mestre e o seu guia.
Mt 5, 17-19:
Toda a
palavra de Deus é lei para a nossa vida e luz para os nossos caminhos, mas é na
palavra de Jesus, o Filho de Deus, Ele próprio a Palavra feita homem, que essa
lei e essa luz se tornam mais claras e mais luminosas. Ele é a última Palavra.
Neste tempo da Quaresma, o primeiro alimento que nos é proposto é precisamente
a Palavra de Deus, porque, como o lembra logo no Primeiro Domingo a leitura do
Evangelho, ‘nem só de pão vive o homem’, o que outro Evangelista completa,
dizendo: ‘Mas de toda a palavra que sai da boca de Deus’.
AGENDA DO DIA
18.00
horas: Missa em Nisa transmitida por facebook (endereço: Zona Pastoral de Nisa)
A VOZ DO PASTOR:
UM GENERAL FURIBUNDO RENDIDO À EVIDÊNCIA
Muito antes do tempo
dos afonsinhos, há cerca de três mil anos mais segundo menos segundo, Israel
sofreu as passas do Algarve com a Síria, ao tempo uma grande potência. Neste
tempo da Quaresma em que cada um é convidado a guerrear-se contra as
adversas potências interiores, é bom reconhecer a capacidade de resistência e
deitar mão das armas que conduzam à vitória. Porque o testemunho, negativo ou
positivo, de outros nos pode ajudar nessa tarefa, hoje apresento-lhes um belo
exemplar.
Nos tempos referidos, o
exército da Assíria era comandado por Naamã, um grande estratega, muito
aplaudido e confiante nas suas próprias forças. Um dia, porém, a doença
bateu-lhe à porta, ficou fraco e leproso. A lepra, uma das doenças mais antigas
da humanidade, era uma doença terrível, não só pelos danos ao corpo, mas também
porque era atribuída a libertinagens, pecados, castigos divinos, e sei lá mais
o quê!... Sem cura e contagiosa, ela reclamava o afastamento da comunidade,
osso duro de roer e ruminar , mas era assim, um grilhão difícil de suportar. E
que fazer agora com o ilustre general? O que não fazer? Como sair desta? Eis a
questão!... Sim, essa era a questão de Naamã e dos seus. E qual será a nossa
questão nestas pelejas da Quaresma?
Quando as tropas da
Assíria atacaram Israel, levaram, prisioneira, uma jovenzinha, que ficou ao
serviço da esposa de Naamã. Sem ressentimentos por ter sido deportada -
apanágio dos simples e humildes! -, esta jovem compadeceu-se do doente e
falou à sua patroa, que, em Israel, havia um senhor, o profeta Eliseu, que
seria capaz de o curar. Naamã, talvez incrédulo, .contou ao rei da Assíria
o que esta menina havia dito à sua esposa. O rei animou Naamã, e, como já nesse
tempo as havia, até lhe meteu uma cunha: “Vá. Eu lhe darei uma carta que você
entregará ao rei de Israel”. Animado pela sugestão da jovem, feliz pelo
empurrão do rei, confiante na possibilidade de recuperar a saúde, o general lá partiu,
ele e a sua comitiva. Ao chegar ao destino, logo entrega a carta ao rei de
Israel, que dizia: “Quando receber esta carta, verá que lhe mando o meu servo
Naamã para que o cure da lepra”. Ora, não se reconhecendo com capacidade de
curar fosse quem fosse, o rei de Israel ficou com os azeites, “rasgou as
próprias vestes”, diz o texto. Como gato escaldado de água fria tem medo,
pensou que aquilo era uma engenhosa cilada do rei da Assíria para o tramar. E
foi o cabo dos trabalhos!
Entretanto, Eliseu,
o homem de Deus, soube que o seu rei, o rei de Israel, estava em apuros, não
sabia o que fazer perante aquela comitiva reforçada pela cunha do rei da
Assíria. Então, Eliseu comunicou ao rei de Israel que mandasse o general
assírio ter com ele. Ó pernas para que vos quero!... Dito e feito, o rei, em
jeito de quem lhe saiu a sorte grande e mais qualquer coisa, logo despachou
Naamã e toda a comitiva ao encontro de Eliseu. Eliseu, porém, se queria
dizer ao rei de Israel que na sua própria terra existia um profeta, também quis
usar de pedagogia para com o importante general assírio. Encheu-se de nove
horas, empoleirou-se, fez-se caro, não apareceu para recebeu pessoalmente o
famoso militar. E se não o mandou aos ninhos, mandou alguém dizer-lhe que fosse
tomar banho, que fosse mergulhar-se no rio e ficaria curado: “Vai, lava-te
sete vezes no Jordão, e a tua carne será restaurada, ficarás limpo” (2
Reis 5,10). Naamã, um general de gabarito, de tantos pergaminhos e feitos
heroicos, sentiu-se humilhado, não gostou, ficou aborrecido e bravo. Esperava
um acolhimento pessoal e delicado da parte do profeta e, com certeza, pensaria
que ele fizesse para ali umas mezinhas, o curasse e mandasse embora são e
salvo, tal como hoje, infelizmente, até entre cristãos, ainda se procura no ler
ou deitar das cartas, no bruxedo, magos, adivinhos e quejandos a solução para
os problemas da vida. Não sendo assim, e tendo-o ele mandado mergulhar no rio
Jordão, Naamã bateu o pé e prendeu o burrinho, qual criança caprichosa. Como se
não bastasse, casquinou para quem quis ouvir que, na sua terra, havia rios
muito mais importantes que aquele e com águas muito mais cristalinas que essas.
Apressado e a rabujar, pôs os pés a caminho para se ir embora e mandar o
profeta à fava. Como afirmava Clemente XIV, “nada mais pequeno do que um grande
dominado pelo orgulho”, o que até dá espetáculo digno de se admirar, pela
negativa! Podemos imaginar a fita deste senhor, que, cheio de importâncias
balofas, superioridades presumidas e preconceitos injustos, até no pedir se
manifestava pretensioso e a querer mandar, seguro que estava no seu amor
próprio de quem se julga sempre com razão!
Os
membros da sua comitiva, embora apreciando a tensão do momento, estavam mais
racionais e mais frescos para resistir ao embate. Encaixaram o recado de Eliseu
e deitaram água na fervura de Naamã. Porque não era coisa difícil, convenceram
Naamã a que, mesmo contrariado, descesse ao rio e se banhasse. Naamã, talvez
com vontade bélica de armar ali mais uma guerra e enfiar o profeta e os
presentes na barca de Caronte, cedeu à força de persuasão dos seus servos.
Mesmo contrariado, lá foi mergulhar sete vezes no Jordão.
Se
o profeta foi “malandro” para o fazer descer à terra, aquilo que para Naamã não
fazia sentido e seria uma humilhação, foi o que realmente o curou. Só quando
saiu dos seus búnqueres e castelos de defesa, só quando desceu das suas
importâncias e orgulho pátrio, só quando resolveu deixar-se de preconceitos e
aceitar o que lhe era proposto, é que foi curado. Vendo-se recauchutado e novo,
ficou sem jeito por ter reagido como reagiu e desfaz-se em salamaleques. Fez um
ato de fé no Deus único de Israel, reconheceu Eliseu como aquele que mostra a
presença de Deus no meio do povo e quis dar-lhe um valioso presente, com o qual
vinha prevenido. Eliseu, mesmo perante a insistência do general, não aceitou. O
general promete deixar a idolatria e, doravante, só prestar culto ao Deus de
Israel, o único que pode curar e a quem se sentia profundamente grato pelo
facto de o ter tornado um homem verdadeiramente novo. E parte, feliz e
saudável, reiterando fidelidade ao Senhor Deus de Israel e, agora humildemente,
pedindo terra, terra dali, terra que carregasse duas mulas, para, lá, na
Assíria, sobre essa terra, levantar um altar ao Deus único.
Deus
faz-se encontrado através duma lógica muito diferente da nossa lógica. Ele
serve-se das coisas mais díspares e insignificantes para nos dizer que está
presente e atento. Quem crê em Deus e acredita que Ele pode restaurar o centro
e as periferias da sua vida, não pode ter a pretensão de lhe querer dar ordens,
de lhe querer dizer como é que Ele deve fazer, apoiado em egocentrismos que
destroem. Nem deve encaprichar só porque Ele não age como se gostaria que
agisse. Essa atitude seria sinal de que não estamos dispostos a deixar as
nossas razões e importâncias, as nossas rotinas e seguranças, sendo julgadas,
por nós e só por nós, como verdadeiro caminho de fidelidade e salvação. Mas
será que serão se não estamos dispostos a fazer o que Ele pede, tal como
aconteceu com o referido general? Este queria impor-lhe como é que Ele haveria
de fazer. Também pode acontecer que permaneçamos ensonados ou fossilizados
nessas rotinas egocêntricas, vivendo instalados na idolatria e na indiferença,
julgando-nos não só bons, mas os primeiros entre os bons, sentindo-nos até com
razões para exigir de Deus o bom e o melhor, e da forma que nós entendemos. Se
assim for, não passaremos de cristãos de meia-tigela. Mesmo que difícil e em
revolta, o general acabou por fazer caminho e ficar curado, no corpo e no
espírito, não como resultado de um ritual mágico nas águas do Jordão, mas como
fruto da ação salvífica de Deus que atuou através da palavra do profeta. É
interessante reparar que foi aquela jovenzinha, escrava no estrangeiro, que
iniciou o processo. Ultrapassou fronteiras, apontou o Deus único capaz de curar
e dar a vida. Também foram os humildes servos do general que o ajudaram a
seguir a palavra do profeta. Se estamos desafiados à humildade e à conversão, reconheçamos
também quanto bem podemos fazer anunciando Aquele que cura e dá a
Vida.
A Quaresma
não é só para os outros, também é para nós!
Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 26-02-2021.
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QUARESMA - “SAÍA D’ELE UMA FORÇA QUE A TODOS
CURAVA”
Na Igreja, a Quaresma
é, por natureza, um tempo catecumenal, um tempo de descoberta e redescoberta da
fé cristã como relação vital de absoluta confiança no Senhor Jesus Cristo.
Aliás, a Páscoa, celebração da revelação plena de Cristo para onde a Quaresma
nos conduz, só ganhará densidade espiritual e existencial se a Quaresma se
assumir como caminho e exercício de descoberta e redescoberta da relação com
Jesus Cristo. A condição humana, cada um de nós, surpreende-se, comove-se
diante de Jesus Cristo. Ele é, ao mesmo tempo, tão nosso e tão de Deus, tão
humano e tão divino, tão histórico e tão do Céu e da eternidade. Antes de nos
dizermos, já Ele nos conhece. Antes de lhe pedirmos, já Ele se nos disponibilizou.
Com a sua palavra e os seus gestos de proximidade, cativa-nos. Com o mistério
da sua Pessoa, colhe o nosso afeto, a nossa inteligência, a nossa vontade.
Tocados pela sua humanidade, tornamo-nos, por bênção sua, capazes de tocar a
sua divindade. Assim, rendidos e livres, estabelecemos com Ele uma relação
vital de absoluta confiança, por onde, doravante, passará a vida toda. D’Ele
brota uma força que não deixa ninguém indiferente e cura todos os males.
A fé não é, portanto,
uma invenção de religiões. Nenhuma imposição a conseguiria legitimar. Nenhuma
lei a conseguiria impor. Nenhum moralismo a conseguiria justificar e ser seu
alicerce. Nenhuma tradição, por si só, a conseguiria manter. Tudo isso seriam insuficiências,
andaimes solitários sem construção a erguer. Dom recebido e resposta dada, a fé
cristã vai buscar muitas das suas dinâmicas mais elementares à vida humana. Mas
é na surpresa graciosa do encontro com o dom de Deus em Jesus Cristo que ela se
radica como atitude e ritmo. É esta fé, vivida como bênção, presença de Cristo
sentida ao nosso lado, é esta fé que vai atravessar a nossa vida com as suas
graças e desgraças, os seus encantos e desesperos, as suas alegrias e
tristezas. É esta fé, vivida como bênção, que purifica a nossa vida com paixão,
com graciosidade e com ousadia profética de batizados. É o nosso batismo, que o
mesmo é dizer a nossa fé, que está em causa em cada Quaresma. Conversão e
penitência, jejum, esmola e oração são exercícios batismais da nossa vida
cristã porque são expressão da nossa vital confiança em Jesus Cristo e da nossa
reação ao tempo e aos modos da vida.
A pandemia que
atravessamos pode ser bem o contexto de humanidade em que a nossa fé é chamada
a redescobrir-se e a dar fruto. Exigidas pela situação de crise, há um conjunto
de ações que, nos crentes, são autênticos imperativos de consciência da vida
cristã: na solidão, saber ser presença construtiva e não escravo da
desconfiança; no desespero, saber ser força de esperança; na doença, saber ser
cuidador; na dificuldade económica ou social, saber partilhar e promover; na
prossecução do bem comum, saber comprometer-se e fazer caminho em comum; nas
palavras, saber edificar e promover a verdade; nas atitudes quotidianas, saber
eleger e construir a justiça; nas relações pessoais e de cidadania, saber
respeitar e acolher. A pandemia, com a doença e a pressão que exerce em toda a
sociedade, pode tornar-nos hipersensíveis, facilmente descarriláveis e
irascíveis. Pode pressionar-nos e trazer constrangimentos vários à nossa vida.
E é aí que é necessário ter sempre Cristo diante dos olhos, ter sempre Cristo
no coração e nas mãos. Os cristãos não temos de ser uma maioria social,
percentual, para sermos uma maioria virtuosa. Podemos até ser uma minoria, mas,
sem nos acanharmos e ganharmos complexo de seita, saberemos ser Igreja à
dimensão do mundo e à dimensão do próprio Cristo.
Este ano, e por
vontade do Papa Francisco, conjugam-se com a nossa Quaresma o Ano da “Família
Amoris Laetitia” e o Ano de S. José. Na sua Carta Apostólica para este ano, o
Papa Francisco diz-nos que foi com “coração de pai” que José amou Jesus.
Humilde, discreto, trabalhador, sempre pronto a realizar a vontade de Deus,
homem do silêncio como escuta, atento aos sinais de Deus e aos sinais dos
tempos, corajoso, pedagogo e, sobretudo, justo. Em José confrontamo-nos com um
homem que é justo porque se ajustou a Deus. E é por se ajustar a Deus que cedo
aprendeu a pensar como Deus, a agir como Deus, a amar como Deus. A sua fé e a
alegria do seu amor foram o grande motor da sua vida. É também a alegria do
amor que o Papa Francisco nos convida a encontrar na família cristã quando
promove o Ano “Família Amoris Laetitia”. Ele insiste na leitura da Exortação
Apostólica Amoris Laetitia e deseja levar ao aprofundamento da identidade da
família cristã como dom de pessoas e como dom à Igreja e ao mundo. Deseja
promover o acompanhamento dos esposos, a educação integral dos filhos, a
reflexão sobre as luzes e sombras da vida da família cristã, as crises
familiares, a participação das famílias nas estruturas de evangelização e da
Igreja. Tempo de redescoberta e revitalização da nossa fé, a Quaresma deste ano
faz com que se cruzem a fé e a pandemia, a fé e a família, a fé e a gratidão pelo
dom da santidade de S. José.
De Jesus, na sua
Palavra, nos seus gestos, na vida da Igreja como Comunidade, brota uma força
que não deixa ninguém indiferente. Como discípulos de Jesus sempre em processo
de conversão, somos, pois, desafiados a viver mais uma Quaresma, mais um dom
que acontece ao longo da nossa existência. Se a mundaneidade convida ao ter, ao
parecer e ao poder, a Quaresma pede especial atenção ao ser. É um tempo de
penitência e conversão. Um tempo de oração filial que nos ajuda a limpar,
arrumar e romper a dureza do coração, convertendo-nos a Deus e aos irmãos. Uma
oração que leve ao jejum do pecado, à mudança menos boa de estar, pensar e
falar, à privação do que não é essencial, à penitência e austeridade pessoal,
ao sacrifício que liberta. Uma oração que converta e leve àquela partilha a que
chamamos “renúncia quaresmal” e que tem um destino determinado por cada Bispo
diocesano, tornado público no início da Quaresma e, ao longo da Quaresma,
entregue em cada paróquia. Não se trata de renunciar para poupar, não se trata
de um peditório, não se trata de uma recolha de fundos, não se trata de dar
para ficar arrumado e não me incomodarem mais, não se trata de pagar, não se
trata tanto de dar uma esmola a quem a pede ou necessita, embora não se deva
permanecer indiferente e fazer vista grossa. Trata-se duma caminhada espiritual
disciplinada e vivida na alegria da oração, da conversão interior, do pensar em
Deus e nos outros, do sentir a importância da gratuidade e da fraternidade.
Trata-se da mudança de mentalidade e de coração que também se pode traduzir em
renunciar a isto ou àquilo, que, embora se julgue apetecível, não é necessário,
e o seu custo se coloca de parte para a causa social anunciada. Para além
disso, a conversão pode mesmo implicar o aliviar dos bolsos (Lc 19, 1-10; Lc
18, 18-23). É uma pedagogia familiar de que tantas crianças e tantos jovens nos
dão tão belos testemunhos, renunciando a um bolo, a um cigarro, a um café, a um
programa televisivo, a ser escravo das redes socias... ou os leva a estudar
mais e melhor, a programar momentos de oração, a visitar o vizinho acamado ou a
viver mais comprometido nas causas da fé e do bem comum, a respeitar os apelos
ao confinamento e a vivê-lo com esperança, pensando na própria saúde e saúde
dos outros... Enfim, trata-se de cada um, pelos caminhos possíveis, viver a
Quaresma de tal forma que o conduza à Páscoa, descobrindo e redescobrindo cada
vez mais o gesto do amor de Deus para connosco manifestado em Cristo Jesus seu
Filho.
A Renúncia Quaresmal de 2020, em toda a Diocese, e devido ao ambiente de confinamento rigoroso, foi mesmo mesmo residual (1.769,34€). Tinha como destino ajudar à construção de um Centro de Acolhimento e Saúde na Arquidiocese de Kananga, República Democrática do Congo, donde temos dois sacerdotes a trabalhar nesta nossa Diocese. Este ano de 2021, destinamos 60% para o mesmo fim e 40% para o Fundo Social Diocesano, gerido pela Cáritas. De um Arciprestado, chegou à Cúria Diocesana uma verba de renúncia quaresmal atrasada, a qual será enviada para o destino anunciado nessa altura.
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