sábado, 13 de março de 2021

 


PARÓQUIAS DE NISA

 

 

Domingo, 14 de março de 2021

IV semana da quaresma

 

 

LITURGIA

 

 

DOMINGO IV DA QUARESMA

Roxo ou rosa – Ofício próprio (Semana IV do Saltério).
+ Missa própria, Credo, pf. da Quaresma.

L 1 2 Cr 36, 14-16. 19-23; Sal 136 (137), 1-2. 3. 4-5. 6
L 2 Ef 2, 4-10
Ev Jo 3, 14-21

Em vez das leituras acima indicadas, podem tomar-se as leituras do Ano A, se for mais oportuno e devem tomar-se se houver escrutínios de catecúmenos..

* Proibidas todas as Missas de defuntos, mesmo a exequial.
* Pode usar-se, neste domingo, a cor de rosa (IGMR 346 f: EDREL 1256 f).
* II Vésp. do domingo – Compl. dep. II Vésp. dom.

 

MISSA

 

Onde se fizerem os escrutínios preparatórios para o Batismo dos adultos, neste domingo, podem utilizar-se as orações rituais e as intercessões próprias.

ANTÍFONA DE ENTRADA cf. Is 66, 10-11
Alegra-te, Jerusalém; rejubilai, todos os seus amigos.
Exultai de alegria, todos vós que participastes no seu luto
e podereis beber e saciar-vos na abundância das suas consolações.

Não se diz o Glória.


ORAÇÃO COLECTA

Deus de misericórdia, que, pelo vosso Filho,
realizais admiravelmente a reconciliação do género humano, concedei ao povo cristão fé viva e espírito generoso,
a fim de caminhar alegremente
para as próximas solenidades pascais.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


Em vez das leituras a seguir indicadas, podem utilizar-se as do ano A, se for mais oportuno.


LEITURA I 2 Cr 36, 14-16.19-23

A indignação e a misericórdia do Senhor
manifesta-se no exílio e na libertação do povo


Leitura do Segundo Livro das Crónicas


Naqueles dias, todos os príncipes dos sacerdotes e o povo multiplicaram as suas infidelidades, imitando os costumes abomináveis das nações pagãs, e profanaram o templo que o Senhor tinha consagrado para Si em Jerusalém. O Senhor, Deus de seus pais, desde o princípio e sem cessar, enviou-lhes mensageiros, pois queria poupar o povo e a sua própria morada. Mas eles escarneciam dos mensageiros de Deus, desprezavam as suas palavras e riam-se dos profetas, a tal ponto que deixou de haver remédio, perante a indignação do Senhor contra o seu povo. Os caldeus incendiaram o templo de Deus, demoliram as muralhas de Jerusalém, lançaram fogo aos seus palácios e destruíram todos os objetos preciosos. O rei dos caldeus deportou para Babilónia todos os que tinham escapado ao fio da espada; e foram escravos deles e de seus filhos, até que se estabeleceu o reino dos persas. Assim se cumpriu o que o Senhor anunciara pela boca de Jeremias: «Enquanto o país não descontou os seus sábados, esteve num sábado contínuo, durante todo o tempo da sua desolação, até que se completaram setenta anos». No primeiro ano do reinado de Ciro, rei da Pérsia, para se cumprir a palavra do Senhor, pronunciada pela boca de Jeremias, o Senhor inspirou Ciro, rei da Pérsia, que mandou publicar, em todo o seu reino, de viva voz e por escrito, a seguinte proclamação: «Assim fala Ciro, rei da Pérsia: O Senhor, Deus do Céu, deu-me todos os reinos da terra e Ele próprio me confiou o encargo de Lhe construir um templo em Jerusalém, na terra de Judá. Quem de entre vós fizer parte do seu povo ponha-se a caminho e que Deus esteja com ele».


Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL
Salmo 136 (137), 1-2.3.4-5.6 (R. 6a)
Refrão: Se eu me não lembrar de ti, Jerusalém,
fique presa a minha língua
. Repete-se

Sobre os rios de Babilónia nos sentámos a chorar,
com saudades de Sião.
Nos salgueiros das suas margens,
dependurámos nossas harpas. Refrão

Aqueles que nos levaram cativos
queriam ouvir os nossos cânticos
e os nossos opressores uma canção de alegria:
«Cantai-nos um cântico de Sião». Refrão

Como poderíamos nós cantar um cântico do Senhor
em terra estrangeira?
Se eu me esquecer de ti, Jerusalém,
esquecida fique a minha mão direita. Refrão

Apegue-se-me a língua ao paladar,
se não me lembrar de ti,
se não fizer de Jerusalém
a maior das minhas alegrias. Refrão


LEITURA II Ef 2, 4-10
Mortos por causa dos nossos pecados,
salvos pela graça

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios


Irmãos: Deus, que é rico em misericórdia, pela grande caridade com que nos amou, a nós, que estávamos mortos por causa dos nossos pecados, restituiu-nos à vida com Cristo – é pela graça que fostes salvos – e com Ele nos ressuscitou e com Ele nos fez sentar nos Céus. Assim quis mostrar aos séculos futuros a abundante riqueza da sua graça e da sua bondade para connosco, em Jesus Cristo. De facto, é pela graça que fostes salvos, por meio da fé. A salvação não vem de vós: é dom de Deus. Não se deve às obras: ninguém se pode gloriar. Na verdade, nós somos obra de Deus, criados em Jesus Cristo, em vista das boas obras que Deus de antemão preparou, como caminho que devemos seguir.


Palavra do Senhor.

ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO Jo 3, 16
Refrão: Grandes e admiráveis
são as Vossas obras, Senhor
. Repete-se
Deus amou tanto o mundo
que lhe deu o seu Filho Unigénito:
quem acredita n’Ele tem a vida eterna. Refrão


EVANGELHO Jo 3, 14-21
«Deus enviou o seu Filho, para que o mundo seja salvo por Ele»


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João


Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Assim como Moisés elevou a serpente no deserto, também o Filho do homem será elevado, para que todo aquele que acredita tenha n’Ele a vida eterna. Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem acredita n’Ele não é condenado, mas quem não acredita já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho Unigénito de Deus. E a causa da condenação é esta: a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque eram más as suas obras. Todo aquele que pratica más ações odeia a luz e não se aproxima dela, para que as suas obras não sejam denunciadas. Mas quem pratica a verdade aproxima-se da luz, para que as suas obras sejam manifestas, pois são feitas em Deus.


Palavra da salvação.

Diz-se o Credo.

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Ao apresentarmos com alegria estes dons de vida eterna,
humildemente Vos pedimos, Senhor,
a graça de os celebrar com verdadeira fé
e de os oferecer dignamente pela salvação do mundo.
Por Nosso Senhor.


ANTÍFONA DA COMUNHÃO
Quando se lê o Evangelho do cego de nascença: cf. Jo 9, 11
O Senhor ungiu os meus olhos.
Eu fui lavar-me, comecei a ver e acreditei em Deus.


ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Senhor nosso Deus,
luz de todo o homem que vem a este mundo,
iluminai os nossos corações com o esplendor da vossa graça,
para que pensemos sempre no que Vos é agradável
e Vos amemos de todo o coração.
Por Nosso Senhor.

 

 

MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA:

 

1. Leitura:  - Lê, respeita, situa o que lês.

     - Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste

 2. Meditação:  - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.

     - Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua vida” 2020.11.28

3. Oração:  - Louva o Senhor, suplica, escuta.

     - Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.

 

LEITURAS: 2 Cr 36, 14-16.19-23: No tempo da Quaresma, a leitura do Antigo Testamento vai referindo os vários passos da história da salvação, para melhor nos fazer compreender como toda ela se encaminha para a Páscoa do Senhor, e como Deus salva os homens vindo ao encontro deles, mesmo nos caminhos por eles tão mal andados. Hoje vemos como os pagãos invadiram a Terra Santa, destruíram o templo e levaram cativo o povo para Babilónia, por este povo ter abandonado o Senhor e imitado as ações abomináveis dos pagãos. Mas, por fim, o próprio rei da Babilónia serviu ao Senhor de instrumento de salvação em favor do seu povo, dando-lhe de novo a liberdade e restituindo-o à terra que lhe havia sido tirada.

Ef 2, 4-10: A leitura estabelece o contraste entre a situação de morte em que estávamos por causa das nossas faltas e a salvação que Deus nos oferece em Cristo Jesus. O Mistério Pascal que Jesus realizou passando, pela morte, à vida eterna, vivêmo-lo agora nós, que somos membros de Cristo e com Ele morremos, com Ele ressuscitámos, com Ele subimos para junto do Pai.

Jo 3, 14-21: A partir deste IV Domingo as leituras do Evangelho são tiradas de S. João, tanto ao domingo como de semana. Hoje ela fala-nos da futura glorificação de Jesus pela Cruz e Ressurreição. É este o próprio movimento do Mistério Pascal, primeiro em Jesus, depois nos cristãos pela morte à vida, pela Cruz à glória. A Quaresma é também o tempo apropriado para entendermos melhor este caminho providencial de salvação, para depois celebrarmos a Páscoa com mais fé, em ação de graças a Deus e ao Senhor Jesus Cristo.

 

 AGENDA DO DIA

11.30 horas: Missa em Nisa transmitida por facebook (endereço: Zona Pastoral de Nisa)

 

 

A VOZ DO PASTOR:

 

COISAS DO ARCO DA VELHA!...

 

Ainda que não seja mago nem vidente, hoje vou falar de magia. Se mirabolantes, os fenómenos que apresento são evidentíssimos. Mesmo sem querer, constatam-se por aí, de quando em vez, coisas que não sei se serão do arco se da arca da velha, o leitor poderá escolher! Se não desafiam as ninfas do tejo, atestam a necessidade de purificação e de saber em quem é que, afinal, acreditamos! Terço pendurado no espelho, junto ao volante da viatura, e a ferradura atrás no taipal ou à frente, até em automóveis. Cordão pendurado ao pescoço com o Crucifixo, mas este misturado com chifres, figas e outras velharias mais, quais amados bezerros de ouro! Muitas imagens de santos, dentro de casa, e, à porta ou portão, uma ferradura ou afins. Crianças acabadas de batizar, e logo alguém a colocar-lhe uma pulseirinha no pulso com toda essa tralha, pois não vá o diabo tecê-las!... E muito mais se poderá acrescentar. Querendo estar bem com os dois, acende-se uma vela a Deus e outra ao diabo, como soe dizer-se, e eles que façam o favor de lá se entender... Fraco testemunho cristão, mesmo que alguém diga que ninguém tem nada a ver com isso! É certo que não, nem é isso que está em causa. No entanto, para além do dever de dar bom testemunho, nenhum cristão se merece sujeitar à mofa silenciosa e escarninha do bom senso!

Vou falar de magia. É evidente que não me refiro àquela magia que é a arte dos ilusionistas e prestidigitadores. Com a sua imaginação, cultura, conhecimentos e habilidade, através de jogos de mãos, truques e meios naturais, criam a ilusão de estarem a desafiar as leis da física e exercem saudável fascínio no público que se diverte com isso. Esta magia não utiliza elementos ilícitos, não tem objetivos desonestos, é inofensiva, é legítima, é arte.

Refiro-me àquela magia que, se não é fácil de definir, implica uma visão do mundo que faz crer na existência de forças ocultas que vagueiam pelo mundo e exercem a sua influência sobre a vida do cosmos e do homem. Quem as promove e exerce, mesmo que nelas não acredite, pretende convencer os outros que pode controlar essas forças e obter resultados automáticos. Porque precisam de levar a vida, convém-lhes que assim seja e difundem tal serviço, mas a culpa não é deles, são livres e respeitáveis, a culpa é de quem lá vai, embora também sejam livres. Como escreveram os Bispos da Toscânia, na sua Nota Pastoral sobre “Magia e Demónios”, publicada pela Paulinas Editora e que me provocou e apoiou neste texto, “os mágicos, que atribuem a si próprios o poder de resolver problemas de amor, de saúde e de riqueza, ou ainda os que pretendem libertar do “mau-olhado”, de “feitiços”, são indivíduos que fazem a sua própria publicidade através de anúncios pagos nos jornais diários de grande circulação, exibem diplomas ou outros comprovativos universitários e chegam mesmo a aparecer nos meios audiovisuais, sobretudo na televisão. Não é exagero falar de uma “indústria da magia”.

Se há a magia branca negativa, a imitativa, a contagiosa e a encantadora, saliento a “magia negra”, aquela que recorre a poderes diabólicos ou pretende atuar sob a sua influência, transformando os seus seguidores em “servidores de Satanás”. Tem o seu auge nas “missas negras”. No campo da adivinhação, para além da que pretende predizer ou ler o destino das pessoas através dos astros e das estrelas (astrologia), ou mediante as cartas (cartomancia/tarologia), ou das linhas das mãos (quiromancia) ou doutras trapalhices, temos aquela que recorre a médiuns para invocar o espírito dos mortos e revelar o futuro (necromancia ou espiritismo). Mas há outros grupos esotéricos e ocultistas, antigos ou recentes, da teosofia à antroposofia e à New Age, a pretender penetrar no conhecimento de verdades ocultas e adquirir poderes espirituais especiais.

Sobre a sua credibilidade “a razão científica contemporânea, ou simplesmente a razão essencial, considera a magia como uma forma de irracionalidade, seja com respeito a conceções pré-lógicas que se atribui, seja em relação aos meios que ativa ou aos objetivos que procura”. Para os cristãos, continua a ser atual o que a Igreja sempre ensinou: “Ninguém no teu seio faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha; ou se dê a encantamentos, aos augúrios, à adivinhação, à magia, ao feiticismo, ao espiritismo, aos sortilégios, à evocação dos mortos, porque o Senhor abomina todos os que fazem tais coisas” (Dt 18,9-12), “não vos contamineis com isso. Eu sou o Senhor vosso Deus” (Lv 19,31). Há contradição entre o anúncio da fé e a magia. O pensamento e comportamento mágico manipulam espiritualmente a realidade, alienam, criam obstáculos, afastam do Reino de Deus (cf. At13, 6-12; Gal 5,20; Ap 9,21; 18,23; 21, 8; 22,15). Hipólito excluía do Batismo os magos, astrólogos e adivinhos. Tertuliano, outro autor do século III, escreve: “De astrólogos, bruxos, charlatães de toda a espécie, não deveria sequer falar-se. No entanto, recentemente um astrólogo, que se dizia cristão, cometeu a imprudência de fazer a apologia do seu ofício! Portanto, é necessário recordar, ainda que sucintamente, a esse homem e aos colegas de ofício, que ofendem a Deus colocando os astros sob a proteção dos ídolos e fazendo depender deles a sorte dos humanos”.

Nestes nossos tempos, porém, apesar de tanta escolaridade e evangelização, com tanto saber e cultura, a escravatura a essas práticas é preocupante. Em vão se busca aí sentido e respostas para as inseguranças e fragilidades da vida. “É uma compensação do vazio existencial que carateriza a precariedade da nossa época”. Multidões de pessoas metem-se por esses atalhos, procuram esses poderes pretensamente ocultos e sobre-humanos, pensando que por aí se libertam de perturbações existenciais, da dor, do mal e do medo da morte, de situações de angústia e de temor, de questões reais e traumáticas da vida. Ou então, procuram factos extraordinários e milagrosos, inclusive no campo dos relacionamentos amorosos, no campo económico, etc.

É evidente que não se pode cair num preconceito racionalista e negar, perante fenómenos extraordinários e extremos, a possibilidade da ação do Demónio, ela pode existir. Mas também seria pouco saudável que, por falsos misticismos ou por falta de maturidade na fé, ver, sempre e em qualquer caso, a ação do Maligno e recorrer à magia que nada resolve e a todos explora e escraviza, não liberta. Como referem os Bispos da Toscânia, os atos de ocultismo “só encontram terreno fértil onde existe ausência, vazio de evangelização”. Há que proclamar novamente, “com um vigor renovado, como nos alvores da Igreja, que só Jesus, o Ressuscitado que vive eternamente, é o Salvador. “E não há salvação em nenhum outro, pois não há debaixo do céu qualquer outro nome dado aos homens que nos possa salvar” (At 4,12).

O atual Catecismo da Igreja Católica refere assim: “Todas as formas de adivinhação devem ser rejeitadas: recurso a Satanás ou aos demónios, evocação dos mortos ou outras práticas supostamente «reveladoras» do futuro. A consulta dos horóscopos, a astrologia, a quiromancia, a interpretação de presságios e de sortes, os fenómenos de vidência, o recurso aos "médiuns", tudo isso encerra uma vontade de dominar o tempo, a história e, finalmente, os homens, ao mesmo tempo que é um desejo de conluio com os poderes ocultos. Todas essas práticas estão em contradição com a honra e o respeito, penetrados de temor amoroso, que devemos a Deus e só a Ele. Todas as práticas de magia ou de feitiçaria, pelas quais se pretende domesticar os poderes ocultos para os pôr ao seu serviço e obter um poder sobrenatural sobre o próximo – ainda que seja para lhe obter a saúde – são gravemente contrárias à virtude de religião. Tais práticas são ainda mais condenáveis quando acompanhadas da intenção de fazer mal a outrem ou quando recorrem à intervenção dos demónios. O uso de amuletos também é repreensível. O espiritismo implica muitas vezes práticas divinatórias ou mágicas; por isso, a Igreja adverte os fiéis para que se acautelem dele. O recurso às medicinas ditas tradicionais não legitima nem a invocação dos poderes malignos, nem a exploração da credulidade alheia (CIgC, 2116-2117).

“Se escolhe Cristo, não podes ir ao bruxo. A magia não é cristã”, diz o Papa Francisco.

A Quaresma implica purificação e conversão verdadeira!



Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 12-03-2021.

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QUARESMA - “SAÍA D’ELE UMA FORÇA QUE A TODOS CURAVA”

 

 

Na Igreja, a Quaresma é, por natureza, um tempo catecumenal, um tempo de descoberta e redescoberta da fé cristã como relação vital de absoluta confiança no Senhor Jesus Cristo. Aliás, a Páscoa, celebração da revelação plena de Cristo para onde a Quaresma nos conduz, só ganhará densidade espiritual e existencial se a Quaresma se assumir como caminho e exercício de descoberta e redescoberta da relação com Jesus Cristo. A condição humana, cada um de nós, surpreende-se, comove-se diante de Jesus Cristo. Ele é, ao mesmo tempo, tão nosso e tão de Deus, tão humano e tão divino, tão histórico e tão do Céu e da eternidade. Antes de nos dizermos, já Ele nos conhece. Antes de lhe pedirmos, já Ele se nos disponibilizou. Com a sua palavra e os seus gestos de proximidade, cativa-nos. Com o mistério da sua Pessoa, colhe o nosso afeto, a nossa inteligência, a nossa vontade. Tocados pela sua humanidade, tornamo-nos, por bênção sua, capazes de tocar a sua divindade. Assim, rendidos e livres, estabelecemos com Ele uma relação vital de absoluta confiança, por onde, doravante, passará a vida toda. D’Ele brota uma força que não deixa ninguém indiferente e cura todos os males.

 

A fé não é, portanto, uma invenção de religiões. Nenhuma imposição a conseguiria legitimar. Nenhuma lei a conseguiria impor. Nenhum moralismo a conseguiria justificar e ser seu alicerce. Nenhuma tradição, por si só, a conseguiria manter. Tudo isso seriam insuficiências, andaimes solitários sem construção a erguer. Dom recebido e resposta dada, a fé cristã vai buscar muitas das suas dinâmicas mais elementares à vida humana. Mas é na surpresa graciosa do encontro com o dom de Deus em Jesus Cristo que ela se radica como atitude e ritmo. É esta fé, vivida como bênção, presença de Cristo sentida ao nosso lado, é esta fé que vai atravessar a nossa vida com as suas graças e desgraças, os seus encantos e desesperos, as suas alegrias e tristezas. É esta fé, vivida como bênção, que purifica a nossa vida com paixão, com graciosidade e com ousadia profética de batizados. É o nosso batismo, que o mesmo é dizer a nossa fé, que está em causa em cada Quaresma. Conversão e penitência, jejum, esmola e oração são exercícios batismais da nossa vida cristã porque são expressão da nossa vital confiança em Jesus Cristo e da nossa reação ao tempo e aos modos da vida.

 

A pandemia que atravessamos pode ser bem o contexto de humanidade em que a nossa fé é chamada a redescobrir-se e a dar fruto. Exigidas pela situação de crise, há um conjunto de ações que, nos crentes, são autênticos imperativos de consciência da vida cristã: na solidão, saber ser presença construtiva e não escravo da desconfiança; no desespero, saber ser força de esperança; na doença, saber ser cuidador; na dificuldade económica ou social, saber partilhar e promover; na prossecução do bem comum, saber comprometer-se e fazer caminho em comum; nas palavras, saber edificar e promover a verdade; nas atitudes quotidianas, saber eleger e construir a justiça; nas relações pessoais e de cidadania, saber respeitar e acolher. A pandemia, com a doença e a pressão que exerce em toda a sociedade, pode tornar-nos hipersensíveis, facilmente descarriláveis e irascíveis. Pode pressionar-nos e trazer constrangimentos vários à nossa vida. E é aí que é necessário ter sempre Cristo diante dos olhos, ter sempre Cristo no coração e nas mãos. Os cristãos não temos de ser uma maioria social, percentual, para sermos uma maioria virtuosa. Podemos até ser uma minoria, mas, sem nos acanharmos e ganharmos complexo de seita, saberemos ser Igreja à dimensão do mundo e à dimensão do próprio Cristo.

 

Este ano, e por vontade do Papa Francisco, conjugam-se com a nossa Quaresma o Ano da “Família Amoris Laetitia” e o Ano de S. José. Na sua Carta Apostólica para este ano, o Papa Francisco diz-nos que foi com “coração de pai” que José amou Jesus. Humilde, discreto, trabalhador, sempre pronto a realizar a vontade de Deus, homem do silêncio como escuta, atento aos sinais de Deus e aos sinais dos tempos, corajoso, pedagogo e, sobretudo, justo. Em José confrontamo-nos com um homem que é justo porque se ajustou a Deus. E é por se ajustar a Deus que cedo aprendeu a pensar como Deus, a agir como Deus, a amar como Deus. A sua fé e a alegria do seu amor foram o grande motor da sua vida. É também a alegria do amor que o Papa Francisco nos convida a encontrar na família cristã quando promove o Ano “Família Amoris Laetitia”. Ele insiste na leitura da Exortação Apostólica Amoris Laetitia e deseja levar ao aprofundamento da identidade da família cristã como dom de pessoas e como dom à Igreja e ao mundo. Deseja promover o acompanhamento dos esposos, a educação integral dos filhos, a reflexão sobre as luzes e sombras da vida da família cristã, as crises familiares, a participação das famílias nas estruturas de evangelização e da Igreja. Tempo de redescoberta e revitalização da nossa fé, a Quaresma deste ano faz com que se cruzem a fé e a pandemia, a fé e a família, a fé e a gratidão pelo dom da santidade de S. José.

 

De Jesus, na sua Palavra, nos seus gestos, na vida da Igreja como Comunidade, brota uma força que não deixa ninguém indiferente. Como discípulos de Jesus sempre em processo de conversão, somos, pois, desafiados a viver mais uma Quaresma, mais um dom que acontece ao longo da nossa existência. Se a mundaneidade convida ao ter, ao parecer e ao poder, a Quaresma pede especial atenção ao ser. É um tempo de penitência e conversão. Um tempo de oração filial que nos ajuda a limpar, arrumar e romper a dureza do coração, convertendo-nos a Deus e aos irmãos. Uma oração que leve ao jejum do pecado, à mudança menos boa de estar, pensar e falar, à privação do que não é essencial, à penitência e austeridade pessoal, ao sacrifício que liberta. Uma oração que converta e leve àquela partilha a que chamamos “renúncia quaresmal” e que tem um destino determinado por cada Bispo diocesano, tornado público no início da Quaresma e, ao longo da Quaresma, entregue em cada paróquia. Não se trata de renunciar para poupar, não se trata de um peditório, não se trata de uma recolha de fundos, não se trata de dar para ficar arrumado e não me incomodarem mais, não se trata de pagar, não se trata tanto de dar uma esmola a quem a pede ou necessita, embora não se deva permanecer indiferente e fazer vista grossa. Trata-se duma caminhada espiritual disciplinada e vivida na alegria da oração, da conversão interior, do pensar em Deus e nos outros, do sentir a importância da gratuidade e da fraternidade. Trata-se da mudança de mentalidade e de coração que também se pode traduzir em renunciar a isto ou àquilo, que, embora se julgue apetecível, não é necessário, e o seu custo se coloca de parte para a causa social anunciada. Para além disso, a conversão pode mesmo implicar o aliviar dos bolsos (Lc 19, 1-10; Lc 18, 18-23). É uma pedagogia familiar de que tantas crianças e tantos jovens nos dão tão belos testemunhos, renunciando a um bolo, a um cigarro, a um café, a um programa televisivo, a ser escravo das redes socias... ou os leva a estudar mais e melhor, a programar momentos de oração, a visitar o vizinho acamado ou a viver mais comprometido nas causas da fé e do bem comum, a respeitar os apelos ao confinamento e a vivê-lo com esperança, pensando na própria saúde e saúde dos outros... Enfim, trata-se de cada um, pelos caminhos possíveis, viver a Quaresma de tal forma que o conduza à Páscoa, descobrindo e redescobrindo cada vez mais o gesto do amor de Deus para connosco manifestado em Cristo Jesus seu Filho.

 

A Renúncia Quaresmal de 2020, em toda a Diocese, e devido ao ambiente de confinamento rigoroso, foi mesmo mesmo residual (1.769,34€). Tinha como destino ajudar à construção de um Centro de Acolhimento e Saúde na Arquidiocese de Kananga, República Democrática do Congo, donde temos dois sacerdotes a trabalhar nesta nossa Diocese. Este ano de 2021, destinamos 60% para o mesmo fim e 40% para o Fundo Social Diocesano, gerido pela Cáritas. De um Arciprestado, chegou à Cúria Diocesana uma verba de renúncia quaresmal atrasada, a qual será enviada para o destino anunciado nessa altura.

 

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