PARÓQUIAS DE NISA
Domingo, 14 de março de 2021
IV semana da quaresma
LITURGIA
DOMINGO
IV DA QUARESMA
Roxo ou rosa – Ofício próprio
(Semana IV do Saltério).
+ Missa própria, Credo, pf. da Quaresma.
L 1 2 Cr 36, 14-16. 19-23; Sal 136 (137), 1-2. 3. 4-5. 6
L 2 Ef 2, 4-10
Ev Jo 3, 14-21
Em vez das leituras acima indicadas, podem tomar-se as leituras do Ano A, se
for mais oportuno e devem tomar-se se houver escrutínios de catecúmenos..
* Proibidas todas as Missas de defuntos, mesmo a exequial.
* Pode usar-se, neste domingo, a cor de rosa (IGMR 346 f: EDREL 1256 f).
* II Vésp. do domingo – Compl. dep. II Vésp. dom.
MISSA
Onde se fizerem os escrutínios
preparatórios para o Batismo dos adultos, neste domingo, podem utilizar-se as
orações rituais e as intercessões próprias.
ANTÍFONA DE ENTRADA cf. Is 66, 10-11
Alegra-te, Jerusalém; rejubilai, todos os seus amigos.
Exultai de alegria, todos vós que participastes no seu luto
e podereis beber e saciar-vos na abundância das suas consolações.
Não se diz o Glória.
ORAÇÃO COLECTA
Deus de misericórdia, que, pelo vosso Filho,
realizais admiravelmente a reconciliação do género humano, concedei ao povo
cristão fé viva e espírito generoso,
a fim de caminhar alegremente
para as próximas solenidades pascais.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Em vez das leituras a seguir indicadas, podem utilizar-se as
do ano A, se for mais oportuno.
LEITURA I 2 Cr 36, 14-16.19-23
A indignação e a misericórdia do Senhor
manifesta-se no exílio e na libertação do povo
Leitura do
Segundo Livro das Crónicas
Naqueles dias, todos os príncipes dos sacerdotes e o povo multiplicaram as suas
infidelidades, imitando os costumes abomináveis das nações pagãs, e profanaram
o templo que o Senhor tinha consagrado para Si em Jerusalém. O Senhor, Deus de
seus pais, desde o princípio e sem cessar, enviou-lhes mensageiros, pois queria
poupar o povo e a sua própria morada. Mas eles escarneciam dos mensageiros de
Deus, desprezavam as suas palavras e riam-se dos profetas, a tal ponto que
deixou de haver remédio, perante a indignação do Senhor contra o seu povo. Os
caldeus incendiaram o templo de Deus, demoliram as muralhas de Jerusalém,
lançaram fogo aos seus palácios e destruíram todos os objetos preciosos. O rei
dos caldeus deportou para Babilónia todos os que tinham escapado ao fio da espada;
e foram escravos deles e de seus filhos, até que se estabeleceu o reino dos
persas. Assim se cumpriu o que o Senhor anunciara pela boca de Jeremias:
«Enquanto o país não descontou os seus sábados, esteve num sábado contínuo,
durante todo o tempo da sua desolação, até que se completaram setenta anos». No
primeiro ano do reinado de Ciro, rei da Pérsia, para se cumprir a palavra do
Senhor, pronunciada pela boca de Jeremias, o Senhor inspirou Ciro, rei da
Pérsia, que mandou publicar, em todo o seu reino, de viva voz e por escrito, a
seguinte proclamação: «Assim fala Ciro, rei da Pérsia: O Senhor, Deus do Céu,
deu-me todos os reinos da terra e Ele próprio me confiou o encargo de Lhe
construir um templo em Jerusalém, na terra de Judá. Quem de entre vós fizer parte
do seu povo ponha-se a caminho e que Deus esteja com ele».
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Salmo 136 (137),
1-2.3.4-5.6 (R. 6a)
Refrão: Se eu me não lembrar de ti,
Jerusalém,
fique presa a minha língua. Repete-se
Sobre os rios de Babilónia nos sentámos a chorar,
com saudades de Sião.
Nos salgueiros das suas margens,
dependurámos nossas harpas. Refrão
Aqueles que nos levaram cativos
queriam ouvir os nossos cânticos
e os nossos opressores uma canção de alegria:
«Cantai-nos um cântico de Sião». Refrão
Como poderíamos nós cantar um cântico do Senhor
em terra estrangeira?
Se eu me esquecer de ti, Jerusalém,
esquecida fique a minha mão direita. Refrão
Apegue-se-me a língua ao paladar,
se não me lembrar de ti,
se não fizer de Jerusalém
a maior das minhas alegrias. Refrão
LEITURA II Ef 2, 4-10
Mortos por causa dos nossos pecados,
salvos pela graça
Leitura da
Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios
Irmãos: Deus, que é rico em misericórdia, pela grande caridade com que nos
amou, a nós, que estávamos mortos por causa dos nossos pecados, restituiu-nos à
vida com Cristo – é pela graça que fostes salvos – e com Ele nos ressuscitou e
com Ele nos fez sentar nos Céus. Assim quis mostrar aos séculos futuros a
abundante riqueza da sua graça e da sua bondade para connosco, em Jesus Cristo.
De facto, é pela graça que fostes salvos, por meio da fé. A salvação não vem de
vós: é dom de Deus. Não se deve às obras: ninguém se pode gloriar. Na verdade,
nós somos obra de Deus, criados em Jesus Cristo, em vista das boas obras que
Deus de antemão preparou, como caminho que devemos seguir.
Palavra do Senhor.
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO Jo 3, 16
Refrão: Grandes e admiráveis
são as Vossas obras, Senhor. Repete-se
Deus amou tanto o mundo
que lhe deu o seu Filho Unigénito:
quem acredita n’Ele tem a vida eterna. Refrão
EVANGELHO Jo 3, 14-21
«Deus enviou o seu Filho, para que o mundo seja salvo por Ele»
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Assim como Moisés elevou a serpente no
deserto, também o Filho do homem será elevado, para que todo aquele que
acredita tenha n’Ele a vida eterna. Deus amou tanto o mundo que entregou o seu
Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha
a vida eterna. Porque Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo,
mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem acredita n’Ele não é condenado,
mas quem não acredita já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho
Unigénito de Deus. E a causa da condenação é esta: a luz veio ao mundo e os
homens amaram mais as trevas do que a luz, porque eram más as suas obras. Todo
aquele que pratica más ações odeia a luz e não se aproxima dela, para que as
suas obras não sejam denunciadas. Mas quem pratica a verdade aproxima-se da
luz, para que as suas obras sejam manifestas, pois são feitas em Deus.
Palavra da salvação.
Diz-se o Credo.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Ao apresentarmos com alegria estes dons de vida eterna,
humildemente Vos pedimos, Senhor,
a graça de os celebrar com verdadeira fé
e de os oferecer dignamente pela salvação do mundo.
Por Nosso Senhor.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO
Quando se lê o Evangelho do cego de nascença: cf. Jo 9, 11
O Senhor ungiu os meus olhos.
Eu fui lavar-me, comecei a ver e acreditei em Deus.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Senhor nosso Deus,
luz de todo o homem que vem a este mundo,
iluminai os nossos corações com o esplendor da vossa graça,
para que pensemos sempre no que Vos é agradável
e Vos amemos de todo o coração.
Por Nosso Senhor.
MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA:
1. Leitura: - Lê, respeita, situa o
que lês.
- Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste
2.
Meditação: - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.
- Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua
vida” 2020.11.28
3. Oração: - Louva o Senhor,
suplica, escuta.
- Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.
LEITURAS: 2
Cr 36, 14-16.19-23: No
tempo da Quaresma, a leitura do Antigo Testamento vai referindo os vários
passos da história da salvação, para melhor nos fazer compreender como toda ela
se encaminha para a Páscoa do Senhor, e como Deus salva os homens vindo ao
encontro deles, mesmo nos caminhos por eles tão mal andados. Hoje vemos como os
pagãos invadiram a Terra Santa, destruíram o templo e levaram cativo o povo
para Babilónia, por este povo ter abandonado o Senhor e imitado as ações
abomináveis dos pagãos. Mas, por fim, o próprio rei da Babilónia serviu ao
Senhor de instrumento de salvação em favor do seu povo, dando-lhe de novo a
liberdade e restituindo-o à terra que lhe havia sido tirada.
Ef
2, 4-10: A leitura
estabelece o contraste entre a situação de morte em que estávamos por causa das
nossas faltas e a salvação que Deus nos oferece em Cristo Jesus. O Mistério
Pascal que Jesus realizou passando, pela morte, à vida eterna, vivêmo-lo agora
nós, que somos membros de Cristo e com Ele morremos, com Ele ressuscitámos, com
Ele subimos para junto do Pai.
Jo
3, 14-21: A partir
deste IV Domingo as leituras do Evangelho são tiradas de S. João, tanto ao
domingo como de semana. Hoje ela fala-nos da futura glorificação de Jesus pela
Cruz e Ressurreição. É este o próprio movimento do Mistério Pascal, primeiro em
Jesus, depois nos cristãos pela morte à vida, pela Cruz à glória. A Quaresma é
também o tempo apropriado para entendermos melhor este caminho providencial de
salvação, para depois celebrarmos a Páscoa com mais fé, em ação de graças a
Deus e ao Senhor Jesus Cristo.
AGENDA DO DIA
11.30
horas: Missa em Nisa transmitida por facebook (endereço: Zona Pastoral
de Nisa)
A VOZ DO PASTOR:
COISAS
DO ARCO DA VELHA!...
Ainda
que não seja mago nem vidente, hoje vou falar de magia. Se mirabolantes, os
fenómenos que apresento são evidentíssimos. Mesmo sem querer, constatam-se por
aí, de quando em vez, coisas que não sei se serão do arco se da arca da velha,
o leitor poderá escolher! Se não desafiam as ninfas do tejo, atestam a
necessidade de purificação e de saber em quem é que, afinal, acreditamos! Terço
pendurado no espelho, junto ao volante da viatura, e a ferradura atrás no
taipal ou à frente, até em automóveis. Cordão pendurado ao pescoço com o
Crucifixo, mas este misturado com chifres, figas e outras velharias mais, quais
amados bezerros de ouro! Muitas imagens de santos, dentro de casa, e, à porta
ou portão, uma ferradura ou afins. Crianças acabadas de batizar, e logo alguém
a colocar-lhe uma pulseirinha no pulso com toda essa tralha, pois não vá o
diabo tecê-las!... E muito mais se poderá acrescentar. Querendo estar bem com
os dois, acende-se uma vela a Deus e outra ao diabo, como soe dizer-se, e eles
que façam o favor de lá se entender... Fraco testemunho cristão, mesmo que
alguém diga que ninguém tem nada a ver com isso! É certo que não, nem é isso
que está em causa. No entanto, para além do dever de dar bom testemunho, nenhum
cristão se merece sujeitar à mofa silenciosa e escarninha do bom senso!
Vou
falar de magia. É evidente que não me refiro àquela magia que é a arte dos
ilusionistas e prestidigitadores. Com a sua imaginação, cultura, conhecimentos
e habilidade, através de jogos de mãos, truques e meios naturais, criam a
ilusão de estarem a desafiar as leis da física e exercem saudável fascínio no
público que se diverte com isso. Esta magia não utiliza elementos ilícitos, não
tem objetivos desonestos, é inofensiva, é legítima, é arte.
Refiro-me
àquela magia que, se não é fácil de definir, implica uma visão do mundo que faz
crer na existência de forças ocultas que vagueiam pelo mundo e exercem a sua
influência sobre a vida do cosmos e do homem. Quem as promove e exerce, mesmo
que nelas não acredite, pretende convencer os outros que pode controlar essas
forças e obter resultados automáticos. Porque precisam de levar a vida,
convém-lhes que assim seja e difundem tal serviço, mas a culpa não é deles, são
livres e respeitáveis, a culpa é de quem lá vai, embora também sejam livres.
Como escreveram os Bispos da Toscânia, na sua Nota Pastoral sobre “Magia e
Demónios”, publicada pela Paulinas Editora e que me provocou e apoiou neste
texto, “os mágicos, que atribuem a si próprios o poder de resolver problemas de
amor, de saúde e de riqueza, ou ainda os que pretendem libertar do
“mau-olhado”, de “feitiços”, são indivíduos que fazem a sua própria publicidade
através de anúncios pagos nos jornais diários de grande circulação, exibem
diplomas ou outros comprovativos universitários e chegam mesmo a aparecer nos
meios audiovisuais, sobretudo na televisão. Não é exagero falar de uma
“indústria da magia”.
Se
há a magia branca negativa, a imitativa, a contagiosa e a encantadora, saliento
a “magia negra”, aquela que recorre a poderes diabólicos ou pretende atuar sob
a sua influência, transformando os seus seguidores em “servidores de Satanás”.
Tem o seu auge nas “missas negras”. No campo da adivinhação, para além da que
pretende predizer ou ler o destino das pessoas através dos astros e das
estrelas (astrologia), ou mediante as cartas (cartomancia/tarologia), ou das
linhas das mãos (quiromancia) ou doutras trapalhices, temos aquela que recorre
a médiuns para invocar o espírito dos mortos e revelar o futuro (necromancia ou
espiritismo). Mas há outros grupos esotéricos e ocultistas, antigos ou
recentes, da teosofia à antroposofia e à New Age, a pretender penetrar no
conhecimento de verdades ocultas e adquirir poderes espirituais especiais.
Sobre
a sua credibilidade “a razão científica contemporânea, ou simplesmente a razão
essencial, considera a magia como uma forma de irracionalidade, seja com
respeito a conceções pré-lógicas que se atribui, seja em relação aos meios que
ativa ou aos objetivos que procura”. Para os cristãos, continua a ser atual o
que a Igreja sempre ensinou: “Ninguém no teu seio faça passar pelo fogo o seu
filho ou a sua filha; ou se dê a encantamentos, aos augúrios, à adivinhação, à
magia, ao feiticismo, ao espiritismo, aos sortilégios, à evocação dos mortos,
porque o Senhor abomina todos os que fazem tais coisas” (Dt 18,9-12), “não vos
contamineis com isso. Eu sou o Senhor vosso Deus” (Lv 19,31). Há contradição
entre o anúncio da fé e a magia. O pensamento e comportamento mágico manipulam
espiritualmente a realidade, alienam, criam obstáculos, afastam do Reino de
Deus (cf. At13, 6-12; Gal 5,20; Ap 9,21; 18,23; 21, 8; 22,15). Hipólito excluía
do Batismo os magos, astrólogos e adivinhos. Tertuliano, outro autor do século
III, escreve: “De astrólogos, bruxos, charlatães de toda a espécie, não deveria
sequer falar-se. No entanto, recentemente um astrólogo, que se dizia cristão,
cometeu a imprudência de fazer a apologia do seu ofício! Portanto, é necessário
recordar, ainda que sucintamente, a esse homem e aos colegas de ofício, que
ofendem a Deus colocando os astros sob a proteção dos ídolos e fazendo depender
deles a sorte dos humanos”.
Nestes
nossos tempos, porém, apesar de tanta escolaridade e evangelização, com tanto
saber e cultura, a escravatura a essas práticas é preocupante. Em vão se busca
aí sentido e respostas para as inseguranças e fragilidades da vida. “É uma
compensação do vazio existencial que carateriza a precariedade da nossa época”.
Multidões de pessoas metem-se por esses atalhos, procuram esses poderes
pretensamente ocultos e sobre-humanos, pensando que por aí se libertam de
perturbações existenciais, da dor, do mal e do medo da morte, de situações de
angústia e de temor, de questões reais e traumáticas da vida. Ou então,
procuram factos extraordinários e milagrosos, inclusive no campo dos
relacionamentos amorosos, no campo económico, etc.
É
evidente que não se pode cair num preconceito racionalista e negar, perante
fenómenos extraordinários e extremos, a possibilidade da ação do Demónio, ela
pode existir. Mas também seria pouco saudável que, por falsos misticismos ou
por falta de maturidade na fé, ver, sempre e em qualquer caso, a ação do
Maligno e recorrer à magia que nada resolve e a todos explora e escraviza, não
liberta. Como referem os Bispos da Toscânia, os atos de ocultismo “só encontram
terreno fértil onde existe ausência, vazio de evangelização”. Há que proclamar
novamente, “com um vigor renovado, como nos alvores da Igreja, que só Jesus, o
Ressuscitado que vive eternamente, é o Salvador. “E não há salvação em nenhum
outro, pois não há debaixo do céu qualquer outro nome dado aos homens que nos
possa salvar” (At 4,12).
O
atual Catecismo da Igreja Católica refere assim: “Todas as formas de
adivinhação devem ser rejeitadas: recurso a Satanás ou aos demónios, evocação
dos mortos ou outras práticas supostamente «reveladoras» do futuro. A consulta
dos horóscopos, a astrologia, a quiromancia, a interpretação de presságios e de
sortes, os fenómenos de vidência, o recurso aos "médiuns", tudo isso
encerra uma vontade de dominar o tempo, a história e, finalmente, os homens, ao
mesmo tempo que é um desejo de conluio com os poderes ocultos. Todas essas
práticas estão em contradição com a honra e o respeito, penetrados de temor
amoroso, que devemos a Deus e só a Ele. Todas as práticas de magia ou de
feitiçaria, pelas quais se pretende domesticar os poderes ocultos para os pôr
ao seu serviço e obter um poder sobrenatural sobre o próximo – ainda que seja
para lhe obter a saúde – são gravemente contrárias à virtude de religião. Tais
práticas são ainda mais condenáveis quando acompanhadas da intenção de fazer
mal a outrem ou quando recorrem à intervenção dos demónios. O uso de amuletos
também é repreensível. O espiritismo implica muitas vezes práticas divinatórias
ou mágicas; por isso, a Igreja adverte os fiéis para que se acautelem dele. O
recurso às medicinas ditas tradicionais não legitima nem a invocação dos
poderes malignos, nem a exploração da credulidade alheia (CIgC, 2116-2117).
“Se
escolhe Cristo, não podes ir ao bruxo. A magia não é cristã”, diz o Papa
Francisco.
A
Quaresma implica purificação e conversão verdadeira!
Antonino
Dias
Portalegre-Castelo
Branco, 12-03-2021.
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QUARESMA - “SAÍA D’ELE UMA FORÇA QUE A TODOS
CURAVA”
Na
Igreja, a Quaresma é, por natureza, um tempo catecumenal, um tempo de
descoberta e redescoberta da fé cristã como relação vital de absoluta confiança
no Senhor Jesus Cristo. Aliás, a Páscoa, celebração da revelação plena de
Cristo para onde a Quaresma nos conduz, só ganhará densidade espiritual e
existencial se a Quaresma se assumir como caminho e exercício de descoberta e
redescoberta da relação com Jesus Cristo. A condição humana, cada um de nós,
surpreende-se, comove-se diante de Jesus Cristo. Ele é, ao mesmo tempo, tão
nosso e tão de Deus, tão humano e tão divino, tão histórico e tão do Céu e da
eternidade. Antes de nos dizermos, já Ele nos conhece. Antes de lhe pedirmos,
já Ele se nos disponibilizou. Com a sua palavra e os seus gestos de
proximidade, cativa-nos. Com o mistério da sua Pessoa, colhe o nosso afeto, a
nossa inteligência, a nossa vontade. Tocados pela sua humanidade, tornamo-nos,
por bênção sua, capazes de tocar a sua divindade. Assim, rendidos e livres,
estabelecemos com Ele uma relação vital de absoluta confiança, por onde,
doravante, passará a vida toda. D’Ele brota uma força que não deixa ninguém
indiferente e cura todos os males.
A
fé não é, portanto, uma invenção de religiões. Nenhuma imposição a conseguiria
legitimar. Nenhuma lei a conseguiria impor. Nenhum moralismo a conseguiria
justificar e ser seu alicerce. Nenhuma tradição, por si só, a conseguiria
manter. Tudo isso seriam insuficiências, andaimes solitários sem construção a
erguer. Dom recebido e resposta dada, a fé cristã vai buscar muitas das suas
dinâmicas mais elementares à vida humana. Mas é na surpresa graciosa do
encontro com o dom de Deus em Jesus Cristo que ela se radica como atitude e
ritmo. É esta fé, vivida como bênção, presença de Cristo sentida ao nosso lado,
é esta fé que vai atravessar a nossa vida com as suas graças e desgraças, os
seus encantos e desesperos, as suas alegrias e tristezas. É esta fé, vivida
como bênção, que purifica a nossa vida com paixão, com graciosidade e com
ousadia profética de batizados. É o nosso batismo, que o mesmo é dizer a nossa
fé, que está em causa em cada Quaresma. Conversão e penitência, jejum, esmola e
oração são exercícios batismais da nossa vida cristã porque são expressão da
nossa vital confiança em Jesus Cristo e da nossa reação ao tempo e aos modos da
vida.
A
pandemia que atravessamos pode ser bem o contexto de humanidade em que a nossa
fé é chamada a redescobrir-se e a dar fruto. Exigidas pela situação de crise,
há um conjunto de ações que, nos crentes, são autênticos imperativos de
consciência da vida cristã: na solidão, saber ser presença construtiva e não
escravo da desconfiança; no desespero, saber ser força de esperança; na doença,
saber ser cuidador; na dificuldade económica ou social, saber partilhar e
promover; na prossecução do bem comum, saber comprometer-se e fazer caminho em
comum; nas palavras, saber edificar e promover a verdade; nas atitudes
quotidianas, saber eleger e construir a justiça; nas relações pessoais e de
cidadania, saber respeitar e acolher. A pandemia, com a doença e a pressão que
exerce em toda a sociedade, pode tornar-nos hipersensíveis, facilmente
descarriláveis e irascíveis. Pode pressionar-nos e trazer constrangimentos
vários à nossa vida. E é aí que é necessário ter sempre Cristo diante dos
olhos, ter sempre Cristo no coração e nas mãos. Os cristãos não temos de ser
uma maioria social, percentual, para sermos uma maioria virtuosa. Podemos até
ser uma minoria, mas, sem nos acanharmos e ganharmos complexo de seita,
saberemos ser Igreja à dimensão do mundo e à dimensão do próprio Cristo.
Este
ano, e por vontade do Papa Francisco, conjugam-se com a nossa Quaresma o Ano da
“Família Amoris Laetitia” e o Ano de S. José. Na sua Carta Apostólica para este
ano, o Papa Francisco diz-nos que foi com “coração de pai” que José amou Jesus.
Humilde, discreto, trabalhador, sempre pronto a realizar a vontade de Deus,
homem do silêncio como escuta, atento aos sinais de Deus e aos sinais dos
tempos, corajoso, pedagogo e, sobretudo, justo. Em José confrontamo-nos com um
homem que é justo porque se ajustou a Deus. E é por se ajustar a Deus que cedo
aprendeu a pensar como Deus, a agir como Deus, a amar como Deus. A sua fé e a
alegria do seu amor foram o grande motor da sua vida. É também a alegria do
amor que o Papa Francisco nos convida a encontrar na família cristã quando promove
o Ano “Família Amoris Laetitia”. Ele insiste na leitura da Exortação Apostólica
Amoris Laetitia e deseja levar ao aprofundamento da identidade da família
cristã como dom de pessoas e como dom à Igreja e ao mundo. Deseja promover o
acompanhamento dos esposos, a educação integral dos filhos, a reflexão sobre as
luzes e sombras da vida da família cristã, as crises familiares, a participação
das famílias nas estruturas de evangelização e da Igreja. Tempo de redescoberta
e revitalização da nossa fé, a Quaresma deste ano faz com que se cruzem a fé e
a pandemia, a fé e a família, a fé e a gratidão pelo dom da santidade de S.
José.
De
Jesus, na sua Palavra, nos seus gestos, na vida da Igreja como Comunidade,
brota uma força que não deixa ninguém indiferente. Como discípulos de Jesus
sempre em processo de conversão, somos, pois, desafiados a viver mais uma
Quaresma, mais um dom que acontece ao longo da nossa existência. Se a
mundaneidade convida ao ter, ao parecer e ao poder, a Quaresma pede especial
atenção ao ser. É um tempo de penitência e conversão. Um tempo de oração filial
que nos ajuda a limpar, arrumar e romper a dureza do coração, convertendo-nos a
Deus e aos irmãos. Uma oração que leve ao jejum do pecado, à mudança menos boa
de estar, pensar e falar, à privação do que não é essencial, à penitência e
austeridade pessoal, ao sacrifício que liberta. Uma oração que converta e leve
àquela partilha a que chamamos “renúncia quaresmal” e que tem um destino
determinado por cada Bispo diocesano, tornado público no início da Quaresma e,
ao longo da Quaresma, entregue em cada paróquia. Não se trata de renunciar para
poupar, não se trata de um peditório, não se trata de uma recolha de fundos,
não se trata de dar para ficar arrumado e não me incomodarem mais, não se trata
de pagar, não se trata tanto de dar uma esmola a quem a pede ou necessita,
embora não se deva permanecer indiferente e fazer vista grossa. Trata-se duma
caminhada espiritual disciplinada e vivida na alegria da oração, da conversão
interior, do pensar em Deus e nos outros, do sentir a importância da gratuidade
e da fraternidade. Trata-se da mudança de mentalidade e de coração que também
se pode traduzir em renunciar a isto ou àquilo, que, embora se julgue
apetecível, não é necessário, e o seu custo se coloca de parte para a causa
social anunciada. Para além disso, a conversão pode mesmo implicar o aliviar
dos bolsos (Lc 19, 1-10; Lc 18, 18-23). É uma pedagogia familiar de que tantas
crianças e tantos jovens nos dão tão belos testemunhos, renunciando a um bolo,
a um cigarro, a um café, a um programa televisivo, a ser escravo das redes
socias... ou os leva a estudar mais e melhor, a programar momentos de oração, a
visitar o vizinho acamado ou a viver mais comprometido nas causas da fé e do
bem comum, a respeitar os apelos ao confinamento e a vivê-lo com esperança,
pensando na própria saúde e saúde dos outros... Enfim, trata-se de cada um,
pelos caminhos possíveis, viver a Quaresma de tal forma que o conduza à Páscoa,
descobrindo e redescobrindo cada vez mais o gesto do amor de Deus para connosco
manifestado em Cristo Jesus seu Filho.
A Renúncia Quaresmal
de 2020, em toda a Diocese, e devido ao ambiente de confinamento rigoroso, foi
mesmo mesmo residual (1.769,34€). Tinha como destino ajudar à construção de um
Centro de Acolhimento e Saúde na Arquidiocese de Kananga, República Democrática
do Congo, donde temos dois sacerdotes a trabalhar nesta nossa Diocese. Este ano
de 2021, destinamos 60% para o mesmo fim e 40% para o Fundo Social Diocesano,
gerido pela Cáritas. De um Arciprestado, chegou à Cúria Diocesana uma verba de
renúncia quaresmal atrasada, a qual será enviada para o destino anunciado nessa
altura.
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