domingo, 14 de março de 2021


 

PARÓQUIAS DE NISA

 

 

Segunda, 15 de março de 2021

IV semana da quaresma

 

 

LITURGIA

 

 Segunda-feira da semana IV

Roxo – Ofício da féria.

Missa da féria, pf. da Quaresma.

L 1 Is 65, 17-21; Sal 29 (30), 2 e 4. 5-6. 11-12a e 13b
Ev Jo 4, 43-54

Nos dias feriais mais oportunos desta semana, em vez das leituras indicadas para esses dias, podem tomar-se as leituras dominicais do Ano A, para favorecer a catequese batismal na Quaresma.

* Na Congregação do Santíssimo Redentor – S. Clemente Hofbauer, presbítero – FESTA

 

MISSA

 

ANTÍFONA DE ENTRADA Salmo 30, 7-8
Confio em Vós, Senhor.
Hei-de alegrar-me e exultar com a vossa misericórdia,
porque conhecestes as angústias da minha alma
e pusestes os meus pés em caminho largo.


ORAÇÃO COLECTA
Deus de infinita bondade, que renovais o mundo com admiráveis sacramentos, fazei que a vossa Igreja se enriqueça sempre mais com estes benefícios eternos e nunca lhe faltem os auxílios temporais. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


LEITURA I Is 65, 17-21
«Nunca mais se hão de ouvir vozes de pranto nem gritos de angústia»


Leitura do Livro de Isaías  


Assim fala o Senhor: «Eu vou criar os novos céus e a nova terra e não mais se recordará o passado, nem voltará de novo ao pensamento. Haverá alegria e felicidade eterna por aquilo que Eu vou criar: vou fazer de Jerusalém um motivo de júbilo e do seu povo uma fonte de alegria. Exultarei por causa de Jerusalém e alegrar-Me-ei por causa do meu povo. Nunca mais se hão de ouvir nela vozes de pranto nem gritos de angústia. Já não haverá ali uma criança que viva só alguns dias, nem um velho que não complete o número dos seus anos, porque o mais novo morrerá centenário e quem não chegar aos cem anos terá incorrido em maldição. Construirão casas e habitarão nelas; plantarão vinhas e comerão os seus frutos».


Palavra do Senhor.


SALMO RESPONSORIAL Salmo 29 (30), 2 e 4.5-6.11 e 12a e 13b (R. 2a)
Refrão: Eu Vos louvarei, Senhor, porque me salvastes. Repete-se

Eu Vos glorifico, Senhor, porque me salvastes
e não deixastes que de mim
se regozijassem os inimigos.
Tirastes a minha alma da mansão dos mortos,
vivificastes-me para não descer ao túmulo. Refrão

Cantai salmos ao Senhor, vós os seus fiéis,
e dai graças ao seu nome santo.
A sua ira dura apenas um momento
e a sua benevolência a vida inteira. Refrão

Ao cair da noite vêm as lágrimas
e ao amanhecer volta a alegria.
Ouvi, Senhor, e tende compaixão de mim,
Senhor, sede Vós o meu auxílio.
Vós convertestes em júbilo o meu pranto:
Senhor meu Deus, eu Vos louvarei eternamente. R.


ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO cf. Am 5,14
Refrão: Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai. Repete-se
Buscai o bem e não o mal, para que vivais,
e o Senhor estará convosco. Refrão


EVANGELHO Jo 4, 43-54
«Vai, que o teu filho vive»


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João


Naquele tempo, Jesus saiu da Samaria e foi para a Galileia. Ele próprio tinha declarado que um profeta nunca era apreciado na sua terra. Ao chegar à Galileia, foi recebido pelos galileus, porque tinham visto quanto Ele fizera em Jerusalém, por ocasião da festa, a que também eles tinham assistido. Jesus voltou novamente a Caná da Galileia, onde convertera a água em vinho. Havia em Cafarnaum um funcionário real cujo filho se encontrava doente. Quando ouviu dizer que Jesus viera da Judeia para a Galileia, foi ter com Ele e pediu-Lhe que descesse a curar o seu filho, que estava a morrer. Jesus disse-lhe: «Se não virdes sinais e prodígios, não acreditareis». O funcionário insistiu: «Senhor, desce, antes que meu filho morra». Jesus respondeu-lhe: «Vai, que o teu filho vive». O homem acreditou nas palavras que Jesus lhe tinha dito e pôs-se a caminho. Já ele descia, quando os servos vieram ao seu encontro e lhe disseram que o filho vivia. Perguntou-lhes então a que horas tinha melhorado. Eles responderam-lhe: «Foi ontem à uma da tarde que a febre o deixou». Então o pai verificou que àquela hora Jesus lhe tinha dito: «O teu filho vive». E acreditou, ele e todos os de sua casa. Foi este o segundo milagre que Jesus realizou, ao voltar da Judeia para a Galileia.


Palavra da salvação.

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Concedei-nos, Senhor, o fruto da oblação que Vos é consagrada, de modo que, purificados da velha condição do homem terreno, vivamos a vida nova do homem celeste. Por Nosso Senhor.

Prefácio da Quaresma

ANTÍFONA DA COMUNHÃO Ez 36, 27
Diz o Senhor: Infundirei em vós o meu espírito e farei que sigais os meus preceitos e obedeçais fielmente às minhas leis.


ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Nós Vos suplicamos, Senhor, que estes dons sagrados renovem a nossa vida, para que, seguindo o caminho da santidade, alcancemos os bens eternos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA:

 

1. Leitura:  - Lê, respeita, situa o que lês.

     - Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste

 2. Meditação:  - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.

     - Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua vida” 2020.11.28

3. Oração:  - Louva o Senhor, suplica, escuta.

     - Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.

 

LEITURAS: Is 65, 17-21: Com esta semana, começa a segunda parte da Quaresma. Embora, do ponto de vista litúrgico, não se pretenda estabelecer uma divisão deste tempo em dois, o facto é que nestas últimas semanas, com a aproximação da Páscoa, se intensifica a preparação para este termo. A partir de hoje leremos, de maneira contínua e até ao fim do Tempo Pascal, o Evangelho de S. João. A liturgia da palavra sublinha fortemente a perspetiva pascal: a Páscoa de Jesus é a nova criação, a passagem a “novos céus e nova terra”, onde os mais ambiciosos desejos humanos encontrarão a sua realização, se eles forem segundo a vontade de Deus, que tem alegria no seu povo renovado. E o salmo, que será de novo cantado na Vigília pascal, desde já dá graças pela libertação da morte. Assim, a Quaresma orienta-se claramente para a Ressurreição.

Jo 4, 43-54: A cura de que fala o Evangelho é apresentada por S. João, (diferentemente dos Sinópticos), como um “sinal”, sinal de que Jesus é a Vida e fonte da Vida. Mas não é Ele o Verbo por quem tudo foi feito? É também Ele por quem agora tudo é refeito como nova criação, anunciada na leitura anterior.

 

 AGENDA DO DIA

 

 

A VOZ DO PASTOR:

 

COISAS DO ARCO DA VELHA!...

 

Ainda que não seja mago nem vidente, hoje vou falar de magia. Se mirabolantes, os fenómenos que apresento são evidentíssimos. Mesmo sem querer, constatam-se por aí, de quando em vez, coisas que não sei se serão do arco se da arca da velha, o leitor poderá escolher! Se não desafiam as ninfas do tejo, atestam a necessidade de purificação e de saber em quem é que, afinal, acreditamos! Terço pendurado no espelho, junto ao volante da viatura, e a ferradura atrás no taipal ou à frente, até em automóveis. Cordão pendurado ao pescoço com o Crucifixo, mas este misturado com chifres, figas e outras velharias mais, quais amados bezerros de ouro! Muitas imagens de santos, dentro de casa, e, à porta ou portão, uma ferradura ou afins. Crianças acabadas de batizar, e logo alguém a colocar-lhe uma pulseirinha no pulso com toda essa tralha, pois não vá o diabo tecê-las!... E muito mais se poderá acrescentar. Querendo estar bem com os dois, acende-se uma vela a Deus e outra ao diabo, como soe dizer-se, e eles que façam o favor de lá se entender... Fraco testemunho cristão, mesmo que alguém diga que ninguém tem nada a ver com isso! É certo que não, nem é isso que está em causa. No entanto, para além do dever de dar bom testemunho, nenhum cristão se merece sujeitar à mofa silenciosa e escarninha do bom senso!

Vou falar de magia. É evidente que não me refiro àquela magia que é a arte dos ilusionistas e prestidigitadores. Com a sua imaginação, cultura, conhecimentos e habilidade, através de jogos de mãos, truques e meios naturais, criam a ilusão de estarem a desafiar as leis da física e exercem saudável fascínio no público que se diverte com isso. Esta magia não utiliza elementos ilícitos, não tem objetivos desonestos, é inofensiva, é legítima, é arte.

Refiro-me àquela magia que, se não é fácil de definir, implica uma visão do mundo que faz crer na existência de forças ocultas que vagueiam pelo mundo e exercem a sua influência sobre a vida do cosmos e do homem. Quem as promove e exerce, mesmo que nelas não acredite, pretende convencer os outros que pode controlar essas forças e obter resultados automáticos. Porque precisam de levar a vida, convém-lhes que assim seja e difundem tal serviço, mas a culpa não é deles, são livres e respeitáveis, a culpa é de quem lá vai, embora também sejam livres. Como escreveram os Bispos da Toscânia, na sua Nota Pastoral sobre “Magia e Demónios”, publicada pela Paulinas Editora e que me provocou e apoiou neste texto, “os mágicos, que atribuem a si próprios o poder de resolver problemas de amor, de saúde e de riqueza, ou ainda os que pretendem libertar do “mau-olhado”, de “feitiços”, são indivíduos que fazem a sua própria publicidade através de anúncios pagos nos jornais diários de grande circulação, exibem diplomas ou outros comprovativos universitários e chegam mesmo a aparecer nos meios audiovisuais, sobretudo na televisão. Não é exagero falar de uma “indústria da magia”.

Se há a magia branca negativa, a imitativa, a contagiosa e a encantadora, saliento a “magia negra”, aquela que recorre a poderes diabólicos ou pretende atuar sob a sua influência, transformando os seus seguidores em “servidores de Satanás”. Tem o seu auge nas “missas negras”. No campo da adivinhação, para além da que pretende predizer ou ler o destino das pessoas através dos astros e das estrelas (astrologia), ou mediante as cartas (cartomancia/tarologia), ou das linhas das mãos (quiromancia) ou doutras trapalhices, temos aquela que recorre a médiuns para invocar o espírito dos mortos e revelar o futuro (necromancia ou espiritismo). Mas há outros grupos esotéricos e ocultistas, antigos ou recentes, da teosofia à antroposofia e à New Age, a pretender penetrar no conhecimento de verdades ocultas e adquirir poderes espirituais especiais.

Sobre a sua credibilidade “a razão científica contemporânea, ou simplesmente a razão essencial, considera a magia como uma forma de irracionalidade, seja com respeito a conceções pré-lógicas que se atribui, seja em relação aos meios que ativa ou aos objetivos que procura”. Para os cristãos, continua a ser atual o que a Igreja sempre ensinou: “Ninguém no teu seio faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha; ou se dê a encantamentos, aos augúrios, à adivinhação, à magia, ao feiticismo, ao espiritismo, aos sortilégios, à evocação dos mortos, porque o Senhor abomina todos os que fazem tais coisas” (Dt 18,9-12), “não vos contamineis com isso. Eu sou o Senhor vosso Deus” (Lv 19,31). Há contradição entre o anúncio da fé e a magia. O pensamento e comportamento mágico manipulam espiritualmente a realidade, alienam, criam obstáculos, afastam do Reino de Deus (cf. At13, 6-12; Gal 5,20; Ap 9,21; 18,23; 21, 8; 22,15). Hipólito excluía do Batismo os magos, astrólogos e adivinhos. Tertuliano, outro autor do século III, escreve: “De astrólogos, bruxos, charlatães de toda a espécie, não deveria sequer falar-se. No entanto, recentemente um astrólogo, que se dizia cristão, cometeu a imprudência de fazer a apologia do seu ofício! Portanto, é necessário recordar, ainda que sucintamente, a esse homem e aos colegas de ofício, que ofendem a Deus colocando os astros sob a proteção dos ídolos e fazendo depender deles a sorte dos humanos”.

Nestes nossos tempos, porém, apesar de tanta escolaridade e evangelização, com tanto saber e cultura, a escravatura a essas práticas é preocupante. Em vão se busca aí sentido e respostas para as inseguranças e fragilidades da vida. “É uma compensação do vazio existencial que carateriza a precariedade da nossa época”. Multidões de pessoas metem-se por esses atalhos, procuram esses poderes pretensamente ocultos e sobre-humanos, pensando que por aí se libertam de perturbações existenciais, da dor, do mal e do medo da morte, de situações de angústia e de temor, de questões reais e traumáticas da vida. Ou então, procuram factos extraordinários e milagrosos, inclusive no campo dos relacionamentos amorosos, no campo económico, etc.

É evidente que não se pode cair num preconceito racionalista e negar, perante fenómenos extraordinários e extremos, a possibilidade da ação do Demónio, ela pode existir. Mas também seria pouco saudável que, por falsos misticismos ou por falta de maturidade na fé, ver, sempre e em qualquer caso, a ação do Maligno e recorrer à magia que nada resolve e a todos explora e escraviza, não liberta. Como referem os Bispos da Toscânia, os atos de ocultismo “só encontram terreno fértil onde existe ausência, vazio de evangelização”. Há que proclamar novamente, “com um vigor renovado, como nos alvores da Igreja, que só Jesus, o Ressuscitado que vive eternamente, é o Salvador. “E não há salvação em nenhum outro, pois não há debaixo do céu qualquer outro nome dado aos homens que nos possa salvar” (At 4,12).

O atual Catecismo da Igreja Católica refere assim: “Todas as formas de adivinhação devem ser rejeitadas: recurso a Satanás ou aos demónios, evocação dos mortos ou outras práticas supostamente «reveladoras» do futuro. A consulta dos horóscopos, a astrologia, a quiromancia, a interpretação de presságios e de sortes, os fenómenos de vidência, o recurso aos "médiuns", tudo isso encerra uma vontade de dominar o tempo, a história e, finalmente, os homens, ao mesmo tempo que é um desejo de conluio com os poderes ocultos. Todas essas práticas estão em contradição com a honra e o respeito, penetrados de temor amoroso, que devemos a Deus e só a Ele. Todas as práticas de magia ou de feitiçaria, pelas quais se pretende domesticar os poderes ocultos para os pôr ao seu serviço e obter um poder sobrenatural sobre o próximo – ainda que seja para lhe obter a saúde – são gravemente contrárias à virtude de religião. Tais práticas são ainda mais condenáveis quando acompanhadas da intenção de fazer mal a outrem ou quando recorrem à intervenção dos demónios. O uso de amuletos também é repreensível. O espiritismo implica muitas vezes práticas divinatórias ou mágicas; por isso, a Igreja adverte os fiéis para que se acautelem dele. O recurso às medicinas ditas tradicionais não legitima nem a invocação dos poderes malignos, nem a exploração da credulidade alheia (CIgC, 2116-2117).

“Se escolhe Cristo, não podes ir ao bruxo. A magia não é cristã”, diz o Papa Francisco.

A Quaresma implica purificação e conversão verdadeira!



Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 12-03-2021.

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QUARESMA - “SAÍA D’ELE UMA FORÇA QUE A TODOS CURAVA” 

 

Na Igreja, a Quaresma é, por natureza, um tempo catecumenal, um tempo de descoberta e redescoberta da fé cristã como relação vital de absoluta confiança no Senhor Jesus Cristo. Aliás, a Páscoa, celebração da revelação plena de Cristo para onde a Quaresma nos conduz, só ganhará densidade espiritual e existencial se a Quaresma se assumir como caminho e exercício de descoberta e redescoberta da relação com Jesus Cristo. A condição humana, cada um de nós, surpreende-se, comove-se diante de Jesus Cristo. Ele é, ao mesmo tempo, tão nosso e tão de Deus, tão humano e tão divino, tão histórico e tão do Céu e da eternidade. Antes de nos dizermos, já Ele nos conhece. Antes de lhe pedirmos, já Ele se nos disponibilizou. Com a sua palavra e os seus gestos de proximidade, cativa-nos. Com o mistério da sua Pessoa, colhe o nosso afeto, a nossa inteligência, a nossa vontade. Tocados pela sua humanidade, tornamo-nos, por bênção sua, capazes de tocar a sua divindade. Assim, rendidos e livres, estabelecemos com Ele uma relação vital de absoluta confiança, por onde, doravante, passará a vida toda. D’Ele brota uma força que não deixa ninguém indiferente e cura todos os males.

 

A fé não é, portanto, uma invenção de religiões. Nenhuma imposição a conseguiria legitimar. Nenhuma lei a conseguiria impor. Nenhum moralismo a conseguiria justificar e ser seu alicerce. Nenhuma tradição, por si só, a conseguiria manter. Tudo isso seriam insuficiências, andaimes solitários sem construção a erguer. Dom recebido e resposta dada, a fé cristã vai buscar muitas das suas dinâmicas mais elementares à vida humana. Mas é na surpresa graciosa do encontro com o dom de Deus em Jesus Cristo que ela se radica como atitude e ritmo. É esta fé, vivida como bênção, presença de Cristo sentida ao nosso lado, é esta fé que vai atravessar a nossa vida com as suas graças e desgraças, os seus encantos e desesperos, as suas alegrias e tristezas. É esta fé, vivida como bênção, que purifica a nossa vida com paixão, com graciosidade e com ousadia profética de batizados. É o nosso batismo, que o mesmo é dizer a nossa fé, que está em causa em cada Quaresma. Conversão e penitência, jejum, esmola e oração são exercícios batismais da nossa vida cristã porque são expressão da nossa vital confiança em Jesus Cristo e da nossa reação ao tempo e aos modos da vida.

 

A pandemia que atravessamos pode ser bem o contexto de humanidade em que a nossa fé é chamada a redescobrir-se e a dar fruto. Exigidas pela situação de crise, há um conjunto de ações que, nos crentes, são autênticos imperativos de consciência da vida cristã: na solidão, saber ser presença construtiva e não escravo da desconfiança; no desespero, saber ser força de esperança; na doença, saber ser cuidador; na dificuldade económica ou social, saber partilhar e promover; na prossecução do bem comum, saber comprometer-se e fazer caminho em comum; nas palavras, saber edificar e promover a verdade; nas atitudes quotidianas, saber eleger e construir a justiça; nas relações pessoais e de cidadania, saber respeitar e acolher. A pandemia, com a doença e a pressão que exerce em toda a sociedade, pode tornar-nos hipersensíveis, facilmente descarriláveis e irascíveis. Pode pressionar-nos e trazer constrangimentos vários à nossa vida. E é aí que é necessário ter sempre Cristo diante dos olhos, ter sempre Cristo no coração e nas mãos. Os cristãos não temos de ser uma maioria social, percentual, para sermos uma maioria virtuosa. Podemos até ser uma minoria, mas, sem nos acanharmos e ganharmos complexo de seita, saberemos ser Igreja à dimensão do mundo e à dimensão do próprio Cristo.

 

Este ano, e por vontade do Papa Francisco, conjugam-se com a nossa Quaresma o Ano da “Família Amoris Laetitia” e o Ano de S. José. Na sua Carta Apostólica para este ano, o Papa Francisco diz-nos que foi com “coração de pai” que José amou Jesus. Humilde, discreto, trabalhador, sempre pronto a realizar a vontade de Deus, homem do silêncio como escuta, atento aos sinais de Deus e aos sinais dos tempos, corajoso, pedagogo e, sobretudo, justo. Em José confrontamo-nos com um homem que é justo porque se ajustou a Deus. E é por se ajustar a Deus que cedo aprendeu a pensar como Deus, a agir como Deus, a amar como Deus. A sua fé e a alegria do seu amor foram o grande motor da sua vida. É também a alegria do amor que o Papa Francisco nos convida a encontrar na família cristã quando promove o Ano “Família Amoris Laetitia”. Ele insiste na leitura da Exortação Apostólica Amoris Laetitia e deseja levar ao aprofundamento da identidade da família cristã como dom de pessoas e como dom à Igreja e ao mundo. Deseja promover o acompanhamento dos esposos, a educação integral dos filhos, a reflexão sobre as luzes e sombras da vida da família cristã, as crises familiares, a participação das famílias nas estruturas de evangelização e da Igreja. Tempo de redescoberta e revitalização da nossa fé, a Quaresma deste ano faz com que se cruzem a fé e a pandemia, a fé e a família, a fé e a gratidão pelo dom da santidade de S. José.

 

De Jesus, na sua Palavra, nos seus gestos, na vida da Igreja como Comunidade, brota uma força que não deixa ninguém indiferente. Como discípulos de Jesus sempre em processo de conversão, somos, pois, desafiados a viver mais uma Quaresma, mais um dom que acontece ao longo da nossa existência. Se a mundaneidade convida ao ter, ao parecer e ao poder, a Quaresma pede especial atenção ao ser. É um tempo de penitência e conversão. Um tempo de oração filial que nos ajuda a limpar, arrumar e romper a dureza do coração, convertendo-nos a Deus e aos irmãos. Uma oração que leve ao jejum do pecado, à mudança menos boa de estar, pensar e falar, à privação do que não é essencial, à penitência e austeridade pessoal, ao sacrifício que liberta. Uma oração que converta e leve àquela partilha a que chamamos “renúncia quaresmal” e que tem um destino determinado por cada Bispo diocesano, tornado público no início da Quaresma e, ao longo da Quaresma, entregue em cada paróquia. Não se trata de renunciar para poupar, não se trata de um peditório, não se trata de uma recolha de fundos, não se trata de dar para ficar arrumado e não me incomodarem mais, não se trata de pagar, não se trata tanto de dar uma esmola a quem a pede ou necessita, embora não se deva permanecer indiferente e fazer vista grossa. Trata-se duma caminhada espiritual disciplinada e vivida na alegria da oração, da conversão interior, do pensar em Deus e nos outros, do sentir a importância da gratuidade e da fraternidade. Trata-se da mudança de mentalidade e de coração que também se pode traduzir em renunciar a isto ou àquilo, que, embora se julgue apetecível, não é necessário, e o seu custo se coloca de parte para a causa social anunciada. Para além disso, a conversão pode mesmo implicar o aliviar dos bolsos (Lc 19, 1-10; Lc 18, 18-23). É uma pedagogia familiar de que tantas crianças e tantos jovens nos dão tão belos testemunhos, renunciando a um bolo, a um cigarro, a um café, a um programa televisivo, a ser escravo das redes socias... ou os leva a estudar mais e melhor, a programar momentos de oração, a visitar o vizinho acamado ou a viver mais comprometido nas causas da fé e do bem comum, a respeitar os apelos ao confinamento e a vivê-lo com esperança, pensando na própria saúde e saúde dos outros... Enfim, trata-se de cada um, pelos caminhos possíveis, viver a Quaresma de tal forma que o conduza à Páscoa, descobrindo e redescobrindo cada vez mais o gesto do amor de Deus para connosco manifestado em Cristo Jesus seu Filho.

 

A Renúncia Quaresmal de 2020, em toda a Diocese, e devido ao ambiente de confinamento rigoroso, foi mesmo mesmo residual (1.769,34€). Tinha como destino ajudar à construção de um Centro de Acolhimento e Saúde na Arquidiocese de Kananga, República Democrática do Congo, donde temos dois sacerdotes a trabalhar nesta nossa Diocese. Este ano de 2021, destinamos 60% para o mesmo fim e 40% para o Fundo Social Diocesano, gerido pela Cáritas. De um Arciprestado, chegou à Cúria Diocesana uma verba de renúncia quaresmal atrasada, a qual será enviada para o destino anunciado nessa altura.

 

 

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