PARÓQUIAS DE NISA
Segunda, 15 de março de 2021
IV semana da quaresma
LITURGIA
Segunda-feira
da semana IV
Roxo – Ofício da féria.
Missa da féria, pf. da Quaresma.
L 1 Is 65, 17-21; Sal 29 (30), 2 e 4. 5-6. 11-12a e 13b
Ev Jo 4, 43-54
Nos dias feriais mais oportunos desta semana, em vez das leituras indicadas
para esses dias, podem tomar-se as leituras dominicais do Ano A, para favorecer
a catequese batismal na Quaresma.
* Na Congregação do Santíssimo Redentor – S. Clemente Hofbauer, presbítero –
FESTA
MISSA
ANTÍFONA
DE ENTRADA Salmo 30, 7-8
Confio em Vós, Senhor.
Hei-de alegrar-me e exultar com a vossa misericórdia,
porque conhecestes as angústias da minha alma
e pusestes os meus pés em caminho largo.
ORAÇÃO COLECTA
Deus de infinita bondade, que renovais o mundo com admiráveis sacramentos,
fazei que a vossa Igreja se enriqueça sempre mais com estes benefícios eternos
e nunca lhe faltem os auxílios temporais. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I Is 65, 17-21
«Nunca mais se hão de ouvir vozes de pranto nem gritos de angústia»
Leitura do Livro
de Isaías
Assim fala o Senhor: «Eu vou criar os novos céus e a nova terra e não mais se
recordará o passado, nem voltará de novo ao pensamento. Haverá alegria e
felicidade eterna por aquilo que Eu vou criar: vou fazer de Jerusalém um motivo
de júbilo e do seu povo uma fonte de alegria. Exultarei por causa de Jerusalém
e alegrar-Me-ei por causa do meu povo. Nunca mais se hão de ouvir nela vozes de
pranto nem gritos de angústia. Já não haverá ali uma criança que viva só alguns
dias, nem um velho que não complete o número dos seus anos, porque o mais novo
morrerá centenário e quem não chegar aos cem anos terá incorrido em maldição.
Construirão casas e habitarão nelas; plantarão vinhas e comerão os seus
frutos».
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Salmo 29 (30), 2 e 4.5-6.11 e 12a e 13b (R.
2a)
Refrão: Eu Vos louvarei, Senhor,
porque me salvastes. Repete-se
Eu Vos glorifico, Senhor, porque me salvastes
e não deixastes que de mim
se regozijassem os inimigos.
Tirastes a minha alma da mansão dos mortos,
vivificastes-me para não descer ao túmulo. Refrão
Cantai salmos ao Senhor, vós os seus fiéis,
e dai graças ao seu nome santo.
A sua ira dura apenas um momento
e a sua benevolência a vida inteira. Refrão
Ao cair da noite vêm as lágrimas
e ao amanhecer volta a alegria.
Ouvi, Senhor, e tende compaixão de mim,
Senhor, sede Vós o meu auxílio.
Vós convertestes em júbilo o meu pranto:
Senhor meu Deus, eu Vos louvarei eternamente. R.
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO cf. Am 5,14
Refrão: Glória a Vós, Jesus Cristo,
Sabedoria do Pai. Repete-se
Buscai o bem e não o mal, para que vivais,
e o Senhor estará convosco. Refrão
EVANGELHO Jo 4, 43-54
«Vai, que o teu filho vive»
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, Jesus saiu da Samaria e foi para a Galileia. Ele próprio tinha
declarado que um profeta nunca era apreciado na sua terra. Ao chegar à
Galileia, foi recebido pelos galileus, porque tinham visto quanto Ele fizera em
Jerusalém, por ocasião da festa, a que também eles tinham assistido. Jesus
voltou novamente a Caná da Galileia, onde convertera a água em vinho. Havia em
Cafarnaum um funcionário real cujo filho se encontrava doente. Quando ouviu
dizer que Jesus viera da Judeia para a Galileia, foi ter com Ele e pediu-Lhe
que descesse a curar o seu filho, que estava a morrer. Jesus disse-lhe: «Se não
virdes sinais e prodígios, não acreditareis». O funcionário insistiu: «Senhor,
desce, antes que meu filho morra». Jesus respondeu-lhe: «Vai, que o teu filho
vive». O homem acreditou nas palavras que Jesus lhe tinha dito e pôs-se a
caminho. Já ele descia, quando os servos vieram ao seu encontro e lhe disseram
que o filho vivia. Perguntou-lhes então a que horas tinha melhorado. Eles
responderam-lhe: «Foi ontem à uma da tarde que a febre o deixou». Então o pai
verificou que àquela hora Jesus lhe tinha dito: «O teu filho vive». E
acreditou, ele e todos os de sua casa. Foi este o segundo milagre que Jesus
realizou, ao voltar da Judeia para a Galileia.
Palavra da salvação.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Concedei-nos, Senhor, o fruto da oblação que Vos é consagrada, de modo que,
purificados da velha condição do homem terreno, vivamos a vida nova do homem
celeste. Por Nosso Senhor.
Prefácio da Quaresma
ANTÍFONA DA COMUNHÃO Ez 36, 27
Diz o Senhor: Infundirei em vós o meu espírito e farei que sigais os meus
preceitos e obedeçais fielmente às minhas leis.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Nós Vos suplicamos, Senhor, que estes dons sagrados renovem a nossa vida, para
que, seguindo o caminho da santidade, alcancemos os bens eternos. Por Nosso
Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito
Santo.
MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA:
1. Leitura: - Lê, respeita, situa o
que lês.
- Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste
2.
Meditação: - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.
- Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua
vida” 2020.11.28
3. Oração: - Louva o Senhor,
suplica, escuta.
- Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.
LEITURAS: Is
65, 17-21: Com
esta semana, começa a segunda parte da Quaresma. Embora, do ponto de vista
litúrgico, não se pretenda estabelecer uma divisão deste tempo em dois, o facto
é que nestas últimas semanas, com a aproximação da Páscoa, se intensifica a
preparação para este termo. A partir de hoje leremos, de maneira contínua e até
ao fim do Tempo Pascal, o Evangelho de S. João. A liturgia da palavra sublinha
fortemente a perspetiva pascal: a Páscoa de Jesus é a nova criação, a passagem
a “novos céus e nova terra”, onde os mais ambiciosos desejos humanos
encontrarão a sua realização, se eles forem segundo a vontade de Deus, que tem
alegria no seu povo renovado. E o salmo, que será de novo cantado na Vigília
pascal, desde já dá graças pela libertação da morte. Assim, a Quaresma
orienta-se claramente para a Ressurreição.
Jo
4, 43-54: A cura de
que fala o Evangelho é apresentada por S. João, (diferentemente dos
Sinópticos), como um “sinal”, sinal de que Jesus é a Vida e fonte da Vida. Mas
não é Ele o Verbo por quem tudo foi feito? É também Ele por quem agora tudo é
refeito como nova criação, anunciada na leitura anterior.
AGENDA DO DIA
A VOZ DO PASTOR:
COISAS
DO ARCO DA VELHA!...
Ainda
que não seja mago nem vidente, hoje vou falar de magia. Se mirabolantes, os fenómenos
que apresento são evidentíssimos. Mesmo sem querer, constatam-se por aí, de
quando em vez, coisas que não sei se serão do arco se da arca da velha, o
leitor poderá escolher! Se não desafiam as ninfas do tejo, atestam a
necessidade de purificação e de saber em quem é que, afinal, acreditamos! Terço
pendurado no espelho, junto ao volante da viatura, e a ferradura atrás no
taipal ou à frente, até em automóveis. Cordão pendurado ao pescoço com o
Crucifixo, mas este misturado com chifres, figas e outras velharias mais, quais
amados bezerros de ouro! Muitas imagens de santos, dentro de casa, e, à porta
ou portão, uma ferradura ou afins. Crianças acabadas de batizar, e logo alguém
a colocar-lhe uma pulseirinha no pulso com toda essa tralha, pois não vá o diabo
tecê-las!... E muito mais se poderá acrescentar. Querendo estar bem com os
dois, acende-se uma vela a Deus e outra ao diabo, como soe dizer-se, e eles que
façam o favor de lá se entender... Fraco testemunho cristão, mesmo que alguém
diga que ninguém tem nada a ver com isso! É certo que não, nem é isso que está
em causa. No entanto, para além do dever de dar bom testemunho, nenhum cristão
se merece sujeitar à mofa silenciosa e escarninha do bom senso!
Vou
falar de magia. É evidente que não me refiro àquela magia que é a arte dos
ilusionistas e prestidigitadores. Com a sua imaginação, cultura, conhecimentos
e habilidade, através de jogos de mãos, truques e meios naturais, criam a
ilusão de estarem a desafiar as leis da física e exercem saudável fascínio no
público que se diverte com isso. Esta magia não utiliza elementos ilícitos, não
tem objetivos desonestos, é inofensiva, é legítima, é arte.
Refiro-me
àquela magia que, se não é fácil de definir, implica uma visão do mundo que faz
crer na existência de forças ocultas que vagueiam pelo mundo e exercem a sua
influência sobre a vida do cosmos e do homem. Quem as promove e exerce, mesmo
que nelas não acredite, pretende convencer os outros que pode controlar essas
forças e obter resultados automáticos. Porque precisam de levar a vida,
convém-lhes que assim seja e difundem tal serviço, mas a culpa não é deles, são
livres e respeitáveis, a culpa é de quem lá vai, embora também sejam livres.
Como escreveram os Bispos da Toscânia, na sua Nota Pastoral sobre “Magia e
Demónios”, publicada pela Paulinas Editora e que me provocou e apoiou neste
texto, “os mágicos, que atribuem a si próprios o poder de resolver problemas de
amor, de saúde e de riqueza, ou ainda os que pretendem libertar do
“mau-olhado”, de “feitiços”, são indivíduos que fazem a sua própria publicidade
através de anúncios pagos nos jornais diários de grande circulação, exibem
diplomas ou outros comprovativos universitários e chegam mesmo a aparecer nos
meios audiovisuais, sobretudo na televisão. Não é exagero falar de uma
“indústria da magia”.
Se
há a magia branca negativa, a imitativa, a contagiosa e a encantadora, saliento
a “magia negra”, aquela que recorre a poderes diabólicos ou pretende atuar sob a
sua influência, transformando os seus seguidores em “servidores de Satanás”.
Tem o seu auge nas “missas negras”. No campo da adivinhação, para além da que
pretende predizer ou ler o destino das pessoas através dos astros e das
estrelas (astrologia), ou mediante as cartas (cartomancia/tarologia), ou das
linhas das mãos (quiromancia) ou doutras trapalhices, temos aquela que recorre
a médiuns para invocar o espírito dos mortos e revelar o futuro (necromancia ou
espiritismo). Mas há outros grupos esotéricos e ocultistas, antigos ou
recentes, da teosofia à antroposofia e à New Age, a pretender penetrar no
conhecimento de verdades ocultas e adquirir poderes espirituais especiais.
Sobre
a sua credibilidade “a razão científica contemporânea, ou simplesmente a razão
essencial, considera a magia como uma forma de irracionalidade, seja com
respeito a conceções pré-lógicas que se atribui, seja em relação aos meios que
ativa ou aos objetivos que procura”. Para os cristãos, continua a ser atual o
que a Igreja sempre ensinou: “Ninguém no teu seio faça passar pelo fogo o seu
filho ou a sua filha; ou se dê a encantamentos, aos augúrios, à adivinhação, à
magia, ao feiticismo, ao espiritismo, aos sortilégios, à evocação dos mortos,
porque o Senhor abomina todos os que fazem tais coisas” (Dt 18,9-12), “não vos
contamineis com isso. Eu sou o Senhor vosso Deus” (Lv 19,31). Há contradição
entre o anúncio da fé e a magia. O pensamento e comportamento mágico manipulam
espiritualmente a realidade, alienam, criam obstáculos, afastam do Reino de
Deus (cf. At13, 6-12; Gal 5,20; Ap 9,21; 18,23; 21, 8; 22,15). Hipólito excluía
do Batismo os magos, astrólogos e adivinhos. Tertuliano, outro autor do século
III, escreve: “De astrólogos, bruxos, charlatães de toda a espécie, não deveria
sequer falar-se. No entanto, recentemente um astrólogo, que se dizia cristão,
cometeu a imprudência de fazer a apologia do seu ofício! Portanto, é necessário
recordar, ainda que sucintamente, a esse homem e aos colegas de ofício, que
ofendem a Deus colocando os astros sob a proteção dos ídolos e fazendo depender
deles a sorte dos humanos”.
Nestes
nossos tempos, porém, apesar de tanta escolaridade e evangelização, com tanto
saber e cultura, a escravatura a essas práticas é preocupante. Em vão se busca
aí sentido e respostas para as inseguranças e fragilidades da vida. “É uma
compensação do vazio existencial que carateriza a precariedade da nossa época”.
Multidões de pessoas metem-se por esses atalhos, procuram esses poderes
pretensamente ocultos e sobre-humanos, pensando que por aí se libertam de
perturbações existenciais, da dor, do mal e do medo da morte, de situações de
angústia e de temor, de questões reais e traumáticas da vida. Ou então,
procuram factos extraordinários e milagrosos, inclusive no campo dos relacionamentos
amorosos, no campo económico, etc.
É
evidente que não se pode cair num preconceito racionalista e negar, perante
fenómenos extraordinários e extremos, a possibilidade da ação do Demónio, ela
pode existir. Mas também seria pouco saudável que, por falsos misticismos ou
por falta de maturidade na fé, ver, sempre e em qualquer caso, a ação do
Maligno e recorrer à magia que nada resolve e a todos explora e escraviza, não
liberta. Como referem os Bispos da Toscânia, os atos de ocultismo “só encontram
terreno fértil onde existe ausência, vazio de evangelização”. Há que proclamar
novamente, “com um vigor renovado, como nos alvores da Igreja, que só Jesus, o
Ressuscitado que vive eternamente, é o Salvador. “E não há salvação em nenhum
outro, pois não há debaixo do céu qualquer outro nome dado aos homens que nos
possa salvar” (At 4,12).
O
atual Catecismo da Igreja Católica refere assim: “Todas as formas de
adivinhação devem ser rejeitadas: recurso a Satanás ou aos demónios, evocação
dos mortos ou outras práticas supostamente «reveladoras» do futuro. A consulta
dos horóscopos, a astrologia, a quiromancia, a interpretação de presságios e de
sortes, os fenómenos de vidência, o recurso aos "médiuns", tudo isso
encerra uma vontade de dominar o tempo, a história e, finalmente, os homens, ao
mesmo tempo que é um desejo de conluio com os poderes ocultos. Todas essas
práticas estão em contradição com a honra e o respeito, penetrados de temor
amoroso, que devemos a Deus e só a Ele. Todas as práticas de magia ou de feitiçaria,
pelas quais se pretende domesticar os poderes ocultos para os pôr ao seu
serviço e obter um poder sobrenatural sobre o próximo – ainda que seja para lhe
obter a saúde – são gravemente contrárias à virtude de religião. Tais práticas
são ainda mais condenáveis quando acompanhadas da intenção de fazer mal a
outrem ou quando recorrem à intervenção dos demónios. O uso de amuletos também
é repreensível. O espiritismo implica muitas vezes práticas divinatórias ou
mágicas; por isso, a Igreja adverte os fiéis para que se acautelem dele. O
recurso às medicinas ditas tradicionais não legitima nem a invocação dos
poderes malignos, nem a exploração da credulidade alheia (CIgC, 2116-2117).
“Se
escolhe Cristo, não podes ir ao bruxo. A magia não é cristã”, diz o Papa
Francisco.
A
Quaresma implica purificação e conversão verdadeira!
Antonino
Dias
Portalegre-Castelo
Branco, 12-03-2021.
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QUARESMA - “SAÍA D’ELE UMA FORÇA QUE A TODOS CURAVA”
Na
Igreja, a Quaresma é, por natureza, um tempo catecumenal, um tempo de
descoberta e redescoberta da fé cristã como relação vital de absoluta confiança
no Senhor Jesus Cristo. Aliás, a Páscoa, celebração da revelação plena de
Cristo para onde a Quaresma nos conduz, só ganhará densidade espiritual e existencial
se a Quaresma se assumir como caminho e exercício de descoberta e redescoberta
da relação com Jesus Cristo. A condição humana, cada um de nós, surpreende-se,
comove-se diante de Jesus Cristo. Ele é, ao mesmo tempo, tão nosso e tão de
Deus, tão humano e tão divino, tão histórico e tão do Céu e da eternidade.
Antes de nos dizermos, já Ele nos conhece. Antes de lhe pedirmos, já Ele se nos
disponibilizou. Com a sua palavra e os seus gestos de proximidade, cativa-nos.
Com o mistério da sua Pessoa, colhe o nosso afeto, a nossa inteligência, a
nossa vontade. Tocados pela sua humanidade, tornamo-nos, por bênção sua,
capazes de tocar a sua divindade. Assim, rendidos e livres, estabelecemos com
Ele uma relação vital de absoluta confiança, por onde, doravante, passará a
vida toda. D’Ele brota uma força que não deixa ninguém indiferente e cura todos
os males.
A
fé não é, portanto, uma invenção de religiões. Nenhuma imposição a conseguiria legitimar.
Nenhuma lei a conseguiria impor. Nenhum moralismo a conseguiria justificar e
ser seu alicerce. Nenhuma tradição, por si só, a conseguiria manter. Tudo isso
seriam insuficiências, andaimes solitários sem construção a erguer. Dom
recebido e resposta dada, a fé cristã vai buscar muitas das suas dinâmicas mais
elementares à vida humana. Mas é na surpresa graciosa do encontro com o dom de
Deus em Jesus Cristo que ela se radica como atitude e ritmo. É esta fé, vivida
como bênção, presença de Cristo sentida ao nosso lado, é esta fé que vai
atravessar a nossa vida com as suas graças e desgraças, os seus encantos e
desesperos, as suas alegrias e tristezas. É esta fé, vivida como bênção, que
purifica a nossa vida com paixão, com graciosidade e com ousadia profética de
batizados. É o nosso batismo, que o mesmo é dizer a nossa fé, que está em causa
em cada Quaresma. Conversão e penitência, jejum, esmola e oração são exercícios
batismais da nossa vida cristã porque são expressão da nossa vital confiança em
Jesus Cristo e da nossa reação ao tempo e aos modos da vida.
A
pandemia que atravessamos pode ser bem o contexto de humanidade em que a nossa
fé é chamada a redescobrir-se e a dar fruto. Exigidas pela situação de crise,
há um conjunto de ações que, nos crentes, são autênticos imperativos de
consciência da vida cristã: na solidão, saber ser presença construtiva e não
escravo da desconfiança; no desespero, saber ser força de esperança; na doença,
saber ser cuidador; na dificuldade económica ou social, saber partilhar e
promover; na prossecução do bem comum, saber comprometer-se e fazer caminho em
comum; nas palavras, saber edificar e promover a verdade; nas atitudes
quotidianas, saber eleger e construir a justiça; nas relações pessoais e de
cidadania, saber respeitar e acolher. A pandemia, com a doença e a pressão que
exerce em toda a sociedade, pode tornar-nos hipersensíveis, facilmente
descarriláveis e irascíveis. Pode pressionar-nos e trazer constrangimentos
vários à nossa vida. E é aí que é necessário ter sempre Cristo diante dos
olhos, ter sempre Cristo no coração e nas mãos. Os cristãos não temos de ser
uma maioria social, percentual, para sermos uma maioria virtuosa. Podemos até
ser uma minoria, mas, sem nos acanharmos e ganharmos complexo de seita, saberemos
ser Igreja à dimensão do mundo e à dimensão do próprio Cristo.
Este
ano, e por vontade do Papa Francisco, conjugam-se com a nossa Quaresma o Ano da
“Família Amoris Laetitia” e o Ano de S. José. Na sua Carta Apostólica para este
ano, o Papa Francisco diz-nos que foi com “coração de pai” que José amou Jesus.
Humilde, discreto, trabalhador, sempre pronto a realizar a vontade de Deus,
homem do silêncio como escuta, atento aos sinais de Deus e aos sinais dos
tempos, corajoso, pedagogo e, sobretudo, justo. Em José confrontamo-nos com um
homem que é justo porque se ajustou a Deus. E é por se ajustar a Deus que cedo
aprendeu a pensar como Deus, a agir como Deus, a amar como Deus. A sua fé e a
alegria do seu amor foram o grande motor da sua vida. É também a alegria do
amor que o Papa Francisco nos convida a encontrar na família cristã quando
promove o Ano “Família Amoris Laetitia”. Ele insiste na leitura da Exortação
Apostólica Amoris Laetitia e deseja levar ao aprofundamento da identidade da
família cristã como dom de pessoas e como dom à Igreja e ao mundo. Deseja
promover o acompanhamento dos esposos, a educação integral dos filhos, a
reflexão sobre as luzes e sombras da vida da família cristã, as crises
familiares, a participação das famílias nas estruturas de evangelização e da
Igreja. Tempo de redescoberta e revitalização da nossa fé, a Quaresma deste ano
faz com que se cruzem a fé e a pandemia, a fé e a família, a fé e a gratidão
pelo dom da santidade de S. José.
De
Jesus, na sua Palavra, nos seus gestos, na vida da Igreja como Comunidade,
brota uma força que não deixa ninguém indiferente. Como discípulos de Jesus
sempre em processo de conversão, somos, pois, desafiados a viver mais uma
Quaresma, mais um dom que acontece ao longo da nossa existência. Se a mundaneidade
convida ao ter, ao parecer e ao poder, a Quaresma pede especial atenção ao ser.
É um tempo de penitência e conversão. Um tempo de oração filial que nos ajuda a
limpar, arrumar e romper a dureza do coração, convertendo-nos a Deus e aos
irmãos. Uma oração que leve ao jejum do pecado, à mudança menos boa de estar,
pensar e falar, à privação do que não é essencial, à penitência e austeridade
pessoal, ao sacrifício que liberta. Uma oração que converta e leve àquela
partilha a que chamamos “renúncia quaresmal” e que tem um destino determinado
por cada Bispo diocesano, tornado público no início da Quaresma e, ao longo da
Quaresma, entregue em cada paróquia. Não se trata de renunciar para poupar, não
se trata de um peditório, não se trata de uma recolha de fundos, não se trata
de dar para ficar arrumado e não me incomodarem mais, não se trata de pagar,
não se trata tanto de dar uma esmola a quem a pede ou necessita, embora não se
deva permanecer indiferente e fazer vista grossa. Trata-se duma caminhada espiritual
disciplinada e vivida na alegria da oração, da conversão interior, do pensar em
Deus e nos outros, do sentir a importância da gratuidade e da fraternidade.
Trata-se da mudança de mentalidade e de coração que também se pode traduzir em
renunciar a isto ou àquilo, que, embora se julgue apetecível, não é necessário,
e o seu custo se coloca de parte para a causa social anunciada. Para além
disso, a conversão pode mesmo implicar o aliviar dos bolsos (Lc 19, 1-10; Lc
18, 18-23). É uma pedagogia familiar de que tantas crianças e tantos jovens nos
dão tão belos testemunhos, renunciando a um bolo, a um cigarro, a um café, a um
programa televisivo, a ser escravo das redes socias... ou os leva a estudar
mais e melhor, a programar momentos de oração, a visitar o vizinho acamado ou a
viver mais comprometido nas causas da fé e do bem comum, a respeitar os apelos
ao confinamento e a vivê-lo com esperança, pensando na própria saúde e saúde
dos outros... Enfim, trata-se de cada um, pelos caminhos possíveis, viver a Quaresma
de tal forma que o conduza à Páscoa, descobrindo e redescobrindo cada vez mais
o gesto do amor de Deus para connosco manifestado em Cristo Jesus seu Filho.
A Renúncia Quaresmal
de 2020, em toda a Diocese, e devido ao ambiente de confinamento rigoroso, foi
mesmo mesmo residual (1.769,34€). Tinha como destino ajudar à construção de um
Centro de Acolhimento e Saúde na Arquidiocese de Kananga, República Democrática
do Congo, donde temos dois sacerdotes a trabalhar nesta nossa Diocese. Este ano
de 2021, destinamos 60% para o mesmo fim e 40% para o Fundo Social Diocesano,
gerido pela Cáritas. De um Arciprestado, chegou à Cúria Diocesana uma verba de
renúncia quaresmal atrasada, a qual será enviada para o destino anunciado nessa
altura.
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