terça-feira, 2 de março de 2021

 


 

PARÓQUIAS DE NISA

 

 

Quarta-feira, 03 de março de 2021

II semana da quaresma

 

 

LITURGIA

 

Quarta-feira da semana II

Roxo – Ofício da féria.
Missa da féria, pf. da Quaresma.

L 1 Jer 18, 18-20; Sal 30 (31), 5-6. 14. 15-16
Ev Mt 20, 17-28

 

MISSA

 

ANTÍFONA DE ENTRADA Salmo 37, 22-23
Não me abandoneis, Senhor; meu Deus, não Vos afasteis de mim. Senhor, socorrei-me e salvai-me.


ORAÇÃO COLECTA
Conservai, Senhor, a vossa família na prática das boas obras, para que, confortada nas necessidades da vida presente, mereça ser conduzida por Vós aos bens eternos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo


LEITURA I Jer 18, 18-20
«Vamos feri-lo»


Leitura do Livro de Jeremias


Os inimigos de Jeremias disseram entre si: «Vamos fazer uma conspiração contra Jeremias, pois não nos faltará a instrução de um sacerdote, nem o conselho de um sábio, nem o oráculo de um profeta. Vamos feri-lo com a difamação, sem fazermos caso do que ele disser». «Ajudai-me, Senhor, escutai a voz dos meus adversários. Porventura assim se paga o bem com o mal? Eles abrem uma cova para me tirar a vida. Lembrai-Vos que me apresentei diante de Vós, para Vos falar em seu favor, para deles afastar a vossa ira».

 
Palavra do Senhor.


SALMO RESPONSORIAL Salmo 30 (31), 5-6.14.15-16 (R. 17b)
Refrão: Salvai-me, Senhor, pela vossa bondade.
Repete-se

Livrai-me da armadilha que me prepararam,
porque Vós sois o meu refúgio.
Em vossas mãos entrego o meu espírito,
Senhor, Deus fiel, salvai-me. Refrão

Porque eu ouvia os gritos da multidão:
«Terror por toda a parte!»,
quando se coligaram contra mim
e decidiram tirar-me a vida. Refrão

Eu, porém, confio no Senhor:
Disse: «Vós sois o meu Deus,
nas vossas mãos está o meu destino».
Livrai-me das mãos dos meus inimigos. Refrão


ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO Jo 8, 12
Refrão: Louvor a Vós, Jesus Cristo, Rei da eterna glória. Repete-se
Eu sou a luz do mundo, diz o Senhor.
Quem Me segue terá a luz da vida. Refrão


EVANGELHO Mt 20, 17-28
«Condená-l’O-ão à morte»


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus


Naquele tempo, enquanto Jesus subia para Jerusalém, chamou à parte os Doze e durante o caminho disse-lhes: «Vamos subir a Jerusalém e o Filho do homem vai ser entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas, que O condenarão à morte e O entregarão aos gentios, para ser por eles escarnecido, açoitado e crucificado. Mas ao terceiro dia Ele ressuscitará». Então a mãe dos filhos de Zebedeu aproximou-se de Jesus com os filhos e prostrou-se para Lhe fazer um pedido. Jesus perguntou-lhe: «Que queres?» Ela disse-Lhe: «Ordena que estes meus dois filhos se sentem no teu reino um à tua direita e outro à tua esquerda». Jesus respondeu: «Não sabeis o que estais a pedir. Podeis beber o cálice que Eu hei-de beber?» Eles disseram: «Podemos». Então Jesus declarou-lhes: «Haveis de beber do meu cálice. Mas sentar-se à minha direita e à minha esquerda não pertence a Mim concedê-lo; é para aqueles a quem meu Pai o designou». Os outros dez, que tinham escutado, indignaram-se com os dois irmãos. Mas Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis que os chefes das nações exercem domínio sobre elas e os grandes fazem sentir sobre elas o seu poder. Não deve ser assim entre vós. Quem entre vós quiser tornar-se grande seja vosso servo e quem entre vós quiser ser o primeiro seja vosso escravo. Será como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção dos homens».


Palavra da salvação.


ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS

Dirigi, Senhor, o vosso olhar para as oferendas que Vos apresentamos e, por esta admirável permuta de dons, libertai-nos das cadeias do pecado. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Prefácio da Quaresma


ANTÍFONA DA COMUNHÃO Mt. 20, 28
O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir
e dar a vida pela redenção dos homens.


DEPOIS DA COMUNHÃO
Estes sacramentos, Senhor, que nos destes como penhor de imortalidade, sejam para nós fonte de salvação eterna. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA:

 

 

 

1. Leitura:  - Lê, respeita, situa o que lês.

     - Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste

 

 2. Meditação:  - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.

     - Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua vida” 2020.11.28

 

3. Oração:  - Louva o Senhor, suplica, escuta.

     - Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.

 

LEITURAS: Jer 18, 18-20: A perspetiva da ressurreição, que o domingo anterior nos deixou antever a transfiguração, veio pedir o outro lado do mistério, que é o da paixão. O Mistério Pascal é o acesso à Vida, passando pela Morte; é a passagem da Morte à Vida, “deste mundo ao Pai.” Tudo isto se processa num itinerário todo espiritual, mas que Jesus irá percorrer até na sua própria carne. Jeremias, o profeta sofredor, figura do Senhor em sua Paixão, faz-nos hoje ouvir uma das suas lamentações ou desabafos, em forma de oração confiante, como hoje há de ser também a oração do cristão.

Mt 20, 17-28: O que Jeremias prefigurou nos seus sofrimentos, Jesus o realiza em sua Paixão, que Ele desde já hoje anuncia aos seus discípulos, mas que eles então, como nós hoje, tanta dificuldade têm em aceitar. Na Igreja, que é o seu Corpo, Jesus continua a sua Paixão, mas sempre e desde já, com os olhos postos na glória, fruto da redenção que o Filho do homem oferece.  

AGENDA DO DIA

 18.00 horas; Missa transmitida por facebook (endereço: Zona Pastoral de Nisa)

A VOZ DO PASTOR:

 

UM GENERAL FURIBUNDO RENDIDO À EVIDÊNCIA

Muito antes do tempo dos afonsinhos, há cerca de três mil anos mais segundo menos segundo, Israel sofreu as passas do Algarve com a Síria, ao tempo uma grande potência. Neste tempo da Quaresma em que cada um é convidado a guerrear-se contra as adversas potências interiores, é bom reconhecer a capacidade de resistência e deitar mão das armas que conduzam à vitória. Porque o testemunho, negativo ou positivo, de outros nos pode ajudar nessa tarefa, hoje apresento-lhes um belo exemplar.

Nos tempos referidos, o exército da Assíria era comandado por Naamã, um grande estratega, muito aplaudido e confiante nas suas próprias forças. Um dia, porém, a doença bateu-lhe à porta, ficou fraco e leproso. A lepra, uma das doenças mais antigas da humanidade, era uma doença terrível, não só pelos danos ao corpo, mas também porque era atribuída a libertinagens, pecados, castigos divinos, e sei lá mais o quê!... Sem cura e contagiosa, ela reclamava o afastamento da comunidade, osso duro de roer e ruminar , mas era assim, um grilhão difícil de suportar. E que fazer agora com o ilustre general? O que não fazer? Como sair desta? Eis a questão!... Sim, essa era a questão de Naamã e dos seus. E qual será a nossa questão nestas pelejas da Quaresma?

 

Quando as tropas da Assíria atacaram Israel, levaram, prisioneira, uma jovenzinha, que ficou ao serviço da esposa de Naamã. Sem ressentimentos por ter sido deportada - apanágio dos simples e humildes! -, esta jovem compadeceu-se do doente e falou à sua patroa, que, em Israel, havia um senhor, o profeta Eliseu, que seria capaz de o curar. Naamã, talvez incrédulo, .contou ao rei da Assíria o que esta menina havia dito à sua esposa. O rei animou Naamã, e, como já nesse tempo as havia, até lhe meteu uma cunha: “Vá. Eu lhe darei uma carta que você entregará ao rei de Israel”. Animado pela sugestão da jovem, feliz pelo empurrão do rei, confiante na possibilidade de recuperar a saúde, o general lá partiu, ele e a sua comitiva. Ao chegar ao destino, logo entrega a carta ao rei de Israel, que dizia: “Quando receber esta carta, verá que lhe mando o meu servo Naamã para que o cure da lepra”. Ora, não se reconhecendo com capacidade de curar fosse quem fosse, o rei de Israel ficou com os azeites, “rasgou as próprias vestes”, diz o texto. Como gato escaldado de água fria tem medo, pensou que aquilo era uma engenhosa cilada do rei da Assíria para o tramar. E foi o cabo dos trabalhos!

Entretanto, Eliseu, o homem de Deus, soube que o seu rei, o rei de Israel, estava em apuros, não sabia o que fazer perante aquela comitiva reforçada pela cunha do rei da Assíria. Então, Eliseu comunicou ao rei de Israel que mandasse o general assírio ter com ele. Ó pernas para que vos quero!... Dito e feito, o rei, em jeito de quem lhe saiu a sorte grande e mais qualquer coisa, logo despachou Naamã e toda a comitiva ao encontro de Eliseu. Eliseu, porém, se queria dizer ao rei de Israel que na sua própria terra existia um profeta, também quis usar de pedagogia para com o importante general assírio. Encheu-se de nove horas, empoleirou-se, fez-se caro, não apareceu para recebeu pessoalmente o famoso militar. E se não o mandou aos ninhos, mandou alguém dizer-lhe que fosse tomar banho, que fosse mergulhar-se no rio e ficaria curado: “Vai, lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne será restaurada, ficarás limpo” (2 Reis 5,10). Naamã, um general de gabarito, de tantos pergaminhos e feitos heroicos, sentiu-se humilhado, não gostou, ficou aborrecido e bravo. Esperava um acolhimento pessoal e delicado da parte do profeta e, com certeza, pensaria que ele fizesse para ali umas mezinhas, o curasse e mandasse embora são e salvo, tal como hoje, infelizmente, até entre cristãos, ainda se procura no ler ou deitar das cartas, no bruxedo, magos, adivinhos e quejandos a solução para os problemas da vida. Não sendo assim, e tendo-o ele mandado mergulhar no rio Jordão, Naamã bateu o pé e prendeu o burrinho, qual criança caprichosa. Como se não bastasse, casquinou para quem quis ouvir que, na sua terra, havia rios muito mais importantes que aquele e com águas muito mais cristalinas que essas. Apressado e a rabujar, pôs os pés a caminho para se ir embora e mandar o profeta à fava. Como afirmava Clemente XIV, “nada mais pequeno do que um grande dominado pelo orgulho”, o que até dá espetáculo digno de se admirar, pela negativa! Podemos imaginar a fita deste senhor, que, cheio de importâncias balofas, superioridades presumidas e preconceitos injustos, até no pedir se manifestava pretensioso e a querer mandar, seguro que estava no seu amor próprio de quem se julga sempre com razão!

      Os membros da sua comitiva, embora apreciando a tensão do momento, estavam mais racionais e mais frescos para resistir ao embate. Encaixaram o recado de Eliseu e deitaram água na fervura de Naamã. Porque não era coisa difícil, convenceram Naamã a que, mesmo contrariado, descesse ao rio e se banhasse. Naamã, talvez com vontade bélica de armar ali mais uma guerra e enfiar o profeta e os presentes na barca de Caronte, cedeu à força de persuasão dos seus servos. Mesmo contrariado, lá foi mergulhar sete vezes no Jordão.

 

      Se o profeta foi “malandro” para o fazer descer à terra, aquilo que para Naamã não fazia sentido e seria uma humilhação, foi o que realmente o curou. Só quando saiu dos seus búnqueres e castelos de defesa, só quando desceu das suas importâncias e orgulho pátrio, só quando resolveu deixar-se de preconceitos e aceitar o que lhe era proposto, é que foi curado. Vendo-se recauchutado e novo, ficou sem jeito por ter reagido como reagiu e desfaz-se em salamaleques. Fez um ato de fé no Deus único de Israel, reconheceu Eliseu como aquele que mostra a presença de Deus no meio do povo e quis dar-lhe um valioso presente, com o qual vinha prevenido. Eliseu, mesmo perante a insistência do general, não aceitou. O general promete deixar a idolatria e, doravante, só prestar culto ao Deus de Israel, o único que pode curar e a quem se sentia profundamente grato pelo facto de o ter tornado um homem verdadeiramente novo. E parte, feliz e saudável, reiterando fidelidade ao Senhor Deus de Israel e, agora humildemente, pedindo terra, terra dali, terra que carregasse duas mulas, para, lá, na Assíria, sobre essa terra, levantar um altar ao Deus único.

 

      Deus faz-se encontrado através duma lógica muito diferente da nossa lógica. Ele serve-se das coisas mais díspares e insignificantes para nos dizer que está presente e atento. Quem crê em Deus e acredita que Ele pode restaurar o centro e as periferias da sua vida, não pode ter a pretensão de lhe querer dar ordens, de lhe querer dizer como é que Ele deve fazer, apoiado em egocentrismos que destroem. Nem deve encaprichar só porque Ele não age como se gostaria que agisse. Essa atitude seria sinal de que não estamos dispostos a deixar as nossas razões e importâncias, as nossas rotinas e seguranças, sendo julgadas, por nós e só por nós, como verdadeiro caminho de fidelidade e salvação. Mas será que serão se não estamos dispostos a fazer o que Ele pede, tal como aconteceu com o referido general? Este queria impor-lhe como é que Ele haveria de fazer. Também pode acontecer que permaneçamos ensonados ou fossilizados nessas rotinas egocêntricas, vivendo instalados na idolatria e na indiferença, julgando-nos não só bons, mas os primeiros entre os bons, sentindo-nos até com razões para exigir de Deus o bom e o melhor, e da forma que nós entendemos. Se assim for, não passaremos de cristãos de meia-tigela. Mesmo que difícil e em revolta, o general acabou por fazer caminho e ficar curado, no corpo e no espírito, não como resultado de um ritual mágico nas águas do Jordão, mas como fruto da ação salvífica de Deus que atuou através da palavra do profeta. É interessante reparar que foi aquela jovenzinha, escrava no estrangeiro, que iniciou o processo. Ultrapassou fronteiras, apontou o Deus único capaz de curar e dar a vida. Também foram os humildes servos do general que o ajudaram a seguir a palavra do profeta. Se estamos desafiados à humildade e à conversão, reconheçamos também quanto bem podemos fazer anunciando Aquele  que cura e dá a Vida.

 

      A Quaresma não é só para os outros, também é para nós!

 

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 26-02-2021.

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QUARESMA - “SAÍA D’ELE UMA FORÇA QUE A TODOS CURAVA”

 

 

Na Igreja, a Quaresma é, por natureza, um tempo catecumenal, um tempo de descoberta e redescoberta da fé cristã como relação vital de absoluta confiança no Senhor Jesus Cristo. Aliás, a Páscoa, celebração da revelação plena de Cristo para onde a Quaresma nos conduz, só ganhará densidade espiritual e existencial se a Quaresma se assumir como caminho e exercício de descoberta e redescoberta da relação com Jesus Cristo. A condição humana, cada um de nós, surpreende-se, comove-se diante de Jesus Cristo. Ele é, ao mesmo tempo, tão nosso e tão de Deus, tão humano e tão divino, tão histórico e tão do Céu e da eternidade. Antes de nos dizermos, já Ele nos conhece. Antes de lhe pedirmos, já Ele se nos disponibilizou. Com a sua palavra e os seus gestos de proximidade, cativa-nos. Com o mistério da sua Pessoa, colhe o nosso afeto, a nossa inteligência, a nossa vontade. Tocados pela sua humanidade, tornamo-nos, por bênção sua, capazes de tocar a sua divindade. Assim, rendidos e livres, estabelecemos com Ele uma relação vital de absoluta confiança, por onde, doravante, passará a vida toda. D’Ele brota uma força que não deixa ninguém indiferente e cura todos os males.

 

A fé não é, portanto, uma invenção de religiões. Nenhuma imposição a conseguiria legitimar. Nenhuma lei a conseguiria impor. Nenhum moralismo a conseguiria justificar e ser seu alicerce. Nenhuma tradição, por si só, a conseguiria manter. Tudo isso seriam insuficiências, andaimes solitários sem construção a erguer. Dom recebido e resposta dada, a fé cristã vai buscar muitas das suas dinâmicas mais elementares à vida humana. Mas é na surpresa graciosa do encontro com o dom de Deus em Jesus Cristo que ela se radica como atitude e ritmo. É esta fé, vivida como bênção, presença de Cristo sentida ao nosso lado, é esta fé que vai atravessar a nossa vida com as suas graças e desgraças, os seus encantos e desesperos, as suas alegrias e tristezas. É esta fé, vivida como bênção, que purifica a nossa vida com paixão, com graciosidade e com ousadia profética de batizados. É o nosso batismo, que o mesmo é dizer a nossa fé, que está em causa em cada Quaresma. Conversão e penitência, jejum, esmola e oração são exercícios batismais da nossa vida cristã porque são expressão da nossa vital confiança em Jesus Cristo e da nossa reação ao tempo e aos modos da vida.

 

A pandemia que atravessamos pode ser bem o contexto de humanidade em que a nossa fé é chamada a redescobrir-se e a dar fruto. Exigidas pela situação de crise, há um conjunto de ações que, nos crentes, são autênticos imperativos de consciência da vida cristã: na solidão, saber ser presença construtiva e não escravo da desconfiança; no desespero, saber ser força de esperança; na doença, saber ser cuidador; na dificuldade económica ou social, saber partilhar e promover; na prossecução do bem comum, saber comprometer-se e fazer caminho em comum; nas palavras, saber edificar e promover a verdade; nas atitudes quotidianas, saber eleger e construir a justiça; nas relações pessoais e de cidadania, saber respeitar e acolher. A pandemia, com a doença e a pressão que exerce em toda a sociedade, pode tornar-nos hipersensíveis, facilmente descarriláveis e irascíveis. Pode pressionar-nos e trazer constrangimentos vários à nossa vida. E é aí que é necessário ter sempre Cristo diante dos olhos, ter sempre Cristo no coração e nas mãos. Os cristãos não temos de ser uma maioria social, percentual, para sermos uma maioria virtuosa. Podemos até ser uma minoria, mas, sem nos acanharmos e ganharmos complexo de seita, saberemos ser Igreja à dimensão do mundo e à dimensão do próprio Cristo.

 

Este ano, e por vontade do Papa Francisco, conjugam-se com a nossa Quaresma o Ano da “Família Amoris Laetitia” e o Ano de S. José. Na sua Carta Apostólica para este ano, o Papa Francisco diz-nos que foi com “coração de pai” que José amou Jesus. Humilde, discreto, trabalhador, sempre pronto a realizar a vontade de Deus, homem do silêncio como escuta, atento aos sinais de Deus e aos sinais dos tempos, corajoso, pedagogo e, sobretudo, justo. Em José confrontamo-nos com um homem que é justo porque se ajustou a Deus. E é por se ajustar a Deus que cedo aprendeu a pensar como Deus, a agir como Deus, a amar como Deus. A sua fé e a alegria do seu amor foram o grande motor da sua vida. É também a alegria do amor que o Papa Francisco nos convida a encontrar na família cristã quando promove o Ano “Família Amoris Laetitia”. Ele insiste na leitura da Exortação Apostólica Amoris Laetitia e deseja levar ao aprofundamento da identidade da família cristã como dom de pessoas e como dom à Igreja e ao mundo. Deseja promover o acompanhamento dos esposos, a educação integral dos filhos, a reflexão sobre as luzes e sombras da vida da família cristã, as crises familiares, a participação das famílias nas estruturas de evangelização e da Igreja. Tempo de redescoberta e revitalização da nossa fé, a Quaresma deste ano faz com que se cruzem a fé e a pandemia, a fé e a família, a fé e a gratidão pelo dom da santidade de S. José.

 

De Jesus, na sua Palavra, nos seus gestos, na vida da Igreja como Comunidade, brota uma força que não deixa ninguém indiferente. Como discípulos de Jesus sempre em processo de conversão, somos, pois, desafiados a viver mais uma Quaresma, mais um dom que acontece ao longo da nossa existência. Se a mundaneidade convida ao ter, ao parecer e ao poder, a Quaresma pede especial atenção ao ser. É um tempo de penitência e conversão. Um tempo de oração filial que nos ajuda a limpar, arrumar e romper a dureza do coração, convertendo-nos a Deus e aos irmãos. Uma oração que leve ao jejum do pecado, à mudança menos boa de estar, pensar e falar, à privação do que não é essencial, à penitência e austeridade pessoal, ao sacrifício que liberta. Uma oração que converta e leve àquela partilha a que chamamos “renúncia quaresmal” e que tem um destino determinado por cada Bispo diocesano, tornado público no início da Quaresma e, ao longo da Quaresma, entregue em cada paróquia. Não se trata de renunciar para poupar, não se trata de um peditório, não se trata de uma recolha de fundos, não se trata de dar para ficar arrumado e não me incomodarem mais, não se trata de pagar, não se trata tanto de dar uma esmola a quem a pede ou necessita, embora não se deva permanecer indiferente e fazer vista grossa. Trata-se duma caminhada espiritual disciplinada e vivida na alegria da oração, da conversão interior, do pensar em Deus e nos outros, do sentir a importância da gratuidade e da fraternidade. Trata-se da mudança de mentalidade e de coração que também se pode traduzir em renunciar a isto ou àquilo, que, embora se julgue apetecível, não é necessário, e o seu custo se coloca de parte para a causa social anunciada. Para além disso, a conversão pode mesmo implicar o aliviar dos bolsos (Lc 19, 1-10; Lc 18, 18-23). É uma pedagogia familiar de que tantas crianças e tantos jovens nos dão tão belos testemunhos, renunciando a um bolo, a um cigarro, a um café, a um programa televisivo, a ser escravo das redes socias... ou os leva a estudar mais e melhor, a programar momentos de oração, a visitar o vizinho acamado ou a viver mais comprometido nas causas da fé e do bem comum, a respeitar os apelos ao confinamento e a vivê-lo com esperança, pensando na própria saúde e saúde dos outros... Enfim, trata-se de cada um, pelos caminhos possíveis, viver a Quaresma de tal forma que o conduza à Páscoa, descobrindo e redescobrindo cada vez mais o gesto do amor de Deus para connosco manifestado em Cristo Jesus seu Filho.

 

A Renúncia Quaresmal de 2020, em toda a Diocese, e devido ao ambiente de confinamento rigoroso, foi mesmo mesmo residual (1.769,34€). Tinha como destino ajudar à construção de um Centro de Acolhimento e Saúde na Arquidiocese de Kananga, República Democrática do Congo, donde temos dois sacerdotes a trabalhar nesta nossa Diocese. Este ano de 2021, destinamos 60% para o mesmo fim e 40% para o Fundo Social Diocesano, gerido pela Cáritas. De um Arciprestado, chegou à Cúria Diocesana uma verba de renúncia quaresmal atrasada, a qual será enviada para o destino anunciado nessa altura.

 

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 12-02-2021.

 

 

 

 

 

 

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