PARÓQUIAS DE NISA
Sábado, 13 de março de 2021
III semana da quaresma
LITURGIA
Sábado
da semana III
Roxo
– Ofício da féria.
Missa da féria, pf. da Quaresma.
L 1 Os 6, 1-6; Sal 50 (51), 3-4. 18-19. 20-21
Ev Lc 18, 9-14
* 8.º aniversário da eleição do Papa Francisco (2013). Onde se fizerem
celebrações especiais, pode dizer-se a Missa do aniversário da eleição do Papa.
Em todas as Missas, quando houver oração universal, incluir-se-á uma intenção
especial pelo Papa.
* Aniversário da Ordenação episcopal de D. Manuel Pelino Domingues, Bispo
Emérito de Santarém (1988).
* I Vésp. do domingo – Compl. dep. I Vésp. dom.
MISSA
ANTÍFONA DE ENTRADA Salmo
102, 2-3
Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e não esqueças os seus benefícios.
Ele perdoa todos os teus pecados.
ORAÇÃO COLECTA
Celebrando com alegria a observância quaresmal, nós Vos suplicamos, Senhor: fazei-nos
caminhar fervorosamente para os mistérios pascais, a fim de podermos gozar
plenamente os seus frutos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é
Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I Os 6, 1-6
«Eu quero a misericórdia e não os sacrifícios»
Leitura da
Profecia de Oseias
Vinde, voltemos para o Senhor. Se Ele nos feriu, Ele nos curará. Se nos atingiu
com os seus golpes, Ele tratará as nossas feridas. Ao fim de dois dias, Ele nos
fará viver de novo; ao terceiro dia nos levantará e viveremos na sua presença.
Procuremos conhecer o Senhor: a sua vinda é certa como a aurora. Virá a nós
como o aguaceiro de Outono, como a chuva da Primavera sobre a face da terra.
«Que farei por ti, Efraim? Que farei por ti, Judá?» – diz o Senhor – «O vosso
amor é como o nevoeiro da manhã, como o orvalho da madrugada que logo se
evapora. Por isso os castiguei por meio dos Profetas e os matei com palavras da
minha boca; e o meu direito resplandece como a luz. Porque Eu quero a
misericórdia e não os sacrifícios, o conhecimento de Deus, mais que os
holocaustos».
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Salmo 50 (51), 3-4.18-19.20-21 (R. cf. Os 6,
6)
Refrão: Eu quero a misericórdia e não os
sacrifícios. Repete-se
Compadecei-Vos de Mim, ó Deus, por vossa bondade,
pela vossa grande misericórdia,
apagai os meus pecados.
Lavai-me de toda a iniquidade
e purificai-me de todas as faltas. Refrão
Não é do sacrifício que Vos agradais
e, se eu oferecer um holocausto, não o aceitareis.
Sacrifício agradável a Deus é o espírito arrependido:
não desprezareis, Senhor,
um espírito humilhado e contrito. Refrão
Pela vossa bondade, tratai Sião com benevolência,
reconstruí os muros de Jerusalém.
Então Vos agradareis dos sacrifícios devidos,
oblações e holocaustos,
então serão oferecidas vítimas sobre o vosso altar.
Refrão
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO cf. Salmo 94 (95), 8ab
Refrão: A salvação,
a glória e o poder a Jesus Cristo,
Nosso Senhor. Repete-se
Se hoje ouvirdes a voz do Senhor,
não fecheis os vossos corações. Refrão
EVANGELHO Lc 18, 9-14
«O publicano desceu justificado para sua casa
e o fariseu não»
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, Jesus disse a seguinte parábola para alguns que se consideravam
justos e desprezavam os outros: «Dois homens subiram ao templo para orar; um
era fariseu e o outro publicano. O fariseu, de pé, orava assim: ‘Meu Deus,
dou-Vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e
adúlteros, nem como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo
de tudo quanto possuo’. O publicano ficou a distância e nem sequer se atrevia a
erguer os olhos ao Céu; mas batia no peito e dizia: ‘Meu Deus, tende compaixão
de mim, que sou pecador’. Eu vos digo que este desceu justificado para sua casa
e o outro não. Porque todo aquele que se exalta será humilhado e quem se
humilha será exaltado».
Palavra da salvação.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Senhor nosso Deus, que nos purificais com a vossa graça, para nos aproximarmos
dignamente dos vossos mistérios, concedei que, honrando solenemente estes dons
sagrados, Vos prestemos a homenagem do louvor perfeito. Por Nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Prefácio da Quaresma
ANTÍFONA DA COMUNHÃO Lc 18, 13
O publicano batia no peito e dizia:
Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Deus de misericórdia, que nos alimentais constantemente com os vossos
mistérios, concedei-nos que os celebremos sempre de coração sincero e os
recebamos com verdadeira fé. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é
Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
MÉTODO
DE ORAÇÃO BÍBLICA:
1. Leitura: - Lê, respeita, situa o que lês.
- Detém-te no conteúdo de fé e da
passagem que leste
2. Meditação: - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.
- Deixa que a passagem da Palavra de
Deus que leste “leia a tua vida” 2020.11.28
3. Oração: - Louva o Senhor, suplica, escuta.
- Dirige-te a Deus que te falou através
da Sua Palavra.
LEITURAS Os 6, 1-6:
Toda a verdadeira atitude de
conversão nasce do fundo do coração, e não apenas de promessas superficiais ou
do cumprimento puramente exterior de certos costumes tidos por religiosos e
bons. O amor sincero e verdadeiro tem raízes fundas no coração. Há-de ser
sólido e estável, e não como o orvalho da manhã que os primeiros raios do Sol
fazem desaparecer. O que Deus quer de nós é o amor, e não apenas sinais
exteriores sem correspondência interior. Estes três dias de que fala a leitura evocam
já, de algum modo, o próximo Tríduo Pascal.
Lc
18, 9-14: O fariseu é o exemplo da pessoa que
julga que, por ser exteriormente cumpridora e de costumes religiosos, é já, só
por isso, santa e perfeita; o publicano é o modelo da pessoa humilde e
consciente da sua qualidade de pecador. A humildade do pecador alcança-lhe o
perdão, ao passo que o orgulho daquele que se julga cumpridor ainda o torna
mais pecador. A conversão verdadeira supõe a humildade, o arrependimento, a
disposição para cumprir a vontade de Deus, mas por amor de Deus, sem
comparações com os outros e sem os julgar; só Deus julga, perdoa e salva.
AGENDA DO DIA
15.00
horas: Funeral em Nisa
18.00
horas: Missa em Nisa transmitida por facebook (endereço: Zona Pastoral
de Nisa)
18.00
horas: Final das 24 horas para o Senhor. Transmissão contínua da
adoração ao Santíssimo, por facebook da diocese, a partir do Carmelo do Crato.
A VOZ DO PASTOR:
UM GENERAL FURIBUNDO RENDIDO À EVIDÊNCIA
Muito antes do tempo
dos afonsinhos, há cerca de três mil anos mais segundo menos segundo, Israel
sofreu as passas do Algarve com a Síria, ao tempo uma grande potência. Neste
tempo da Quaresma em que cada um é convidado a guerrear-se contra as adversas
potências interiores, é bom reconhecer a capacidade de resistência e deitar mão
das armas que conduzam à vitória. Porque o testemunho, negativo ou positivo, de
outros nos pode ajudar nessa tarefa, hoje apresento-lhes um belo exemplar.
Nos tempos referidos, o
exército da Assíria era comandado por Naamã, um grande estratega, muito
aplaudido e confiante nas suas próprias forças. Um dia, porém, a doença
bateu-lhe à porta, ficou fraco e leproso. A lepra, uma das doenças mais antigas
da humanidade, era uma doença terrível, não só pelos danos ao corpo, mas também
porque era atribuída a libertinagens, pecados, castigos divinos, e sei lá mais
o quê!... Sem cura e contagiosa, ela reclamava o afastamento da comunidade,
osso duro de roer e ruminar , mas era assim, um grilhão difícil de suportar. E
que fazer agora com o ilustre general? O que não fazer? Como sair desta? Eis a
questão!... Sim, essa era a questão de Naamã e dos seus. E qual será a nossa
questão nestas pelejas da Quaresma?
Quando as tropas da
Assíria atacaram Israel, levaram, prisioneira, uma jovenzinha, que ficou ao
serviço da esposa de Naamã. Sem ressentimentos por ter sido deportada -
apanágio dos simples e humildes! -, esta jovem compadeceu-se do doente e
falou à sua patroa, que, em Israel, havia um senhor, o profeta Eliseu, que
seria capaz de o curar. Naamã, talvez incrédulo, .contou ao rei da Assíria
o que esta menina havia dito à sua esposa. O rei animou Naamã, e, como já nesse
tempo as havia, até lhe meteu uma cunha: “Vá. Eu lhe darei uma carta que você
entregará ao rei de Israel”. Animado pela sugestão da jovem, feliz pelo
empurrão do rei, confiante na possibilidade de recuperar a saúde, o general lá
partiu, ele e a sua comitiva. Ao chegar ao destino, logo entrega a carta ao rei
de Israel, que dizia: “Quando receber esta carta, verá que lhe mando o meu
servo Naamã para que o cure da lepra”. Ora, não se reconhecendo com capacidade
de curar fosse quem fosse, o rei de Israel ficou com os azeites, “rasgou as
próprias vestes”, diz o texto. Como gato escaldado de água fria tem medo,
pensou que aquilo era uma engenhosa cilada do rei da Assíria para o tramar. E
foi o cabo dos trabalhos!
Entretanto, Eliseu,
o homem de Deus, soube que o seu rei, o rei de Israel, estava em apuros, não
sabia o que fazer perante aquela comitiva reforçada pela cunha do rei da
Assíria. Então, Eliseu comunicou ao rei de Israel que mandasse o general
assírio ter com ele. Ó pernas para que vos quero!... Dito e feito, o rei, em
jeito de quem lhe saiu a sorte grande e mais qualquer coisa, logo despachou
Naamã e toda a comitiva ao encontro de Eliseu. Eliseu, porém, se queria
dizer ao rei de Israel que na sua própria terra existia um profeta, também quis
usar de pedagogia para com o importante general assírio. Encheu-se de nove
horas, empoleirou-se, fez-se caro, não apareceu para recebeu pessoalmente o
famoso militar. E se não o mandou aos ninhos, mandou alguém dizer-lhe que fosse
tomar banho, que fosse mergulhar-se no rio e ficaria curado: “Vai, lava-te
sete vezes no Jordão, e a tua carne será restaurada, ficarás limpo” (2
Reis 5,10). Naamã, um general de gabarito, de tantos pergaminhos e feitos
heroicos, sentiu-se humilhado, não gostou, ficou aborrecido e bravo. Esperava
um acolhimento pessoal e delicado da parte do profeta e, com certeza, pensaria
que ele fizesse para ali umas mezinhas, o curasse e mandasse embora são e
salvo, tal como hoje, infelizmente, até entre cristãos, ainda se procura no ler
ou deitar das cartas, no bruxedo, magos, adivinhos e quejandos a solução para
os problemas da vida. Não sendo assim, e tendo-o ele mandado mergulhar no rio
Jordão, Naamã bateu o pé e prendeu o burrinho, qual criança caprichosa. Como se
não bastasse, casquinou para quem quis ouvir que, na sua terra, havia rios muito
mais importantes que aquele e com águas muito mais cristalinas que essas.
Apressado e a rabujar, pôs os pés a caminho para se ir embora e mandar o
profeta à fava. Como afirmava Clemente XIV, “nada mais pequeno do que um grande
dominado pelo orgulho”, o que até dá espetáculo digno de se admirar, pela
negativa! Podemos imaginar a fita deste senhor, que, cheio de importâncias
balofas, superioridades presumidas e preconceitos injustos, até no pedir se
manifestava pretensioso e a querer mandar, seguro que estava no seu amor
próprio de quem se julga sempre com razão!
Os
membros da sua comitiva, embora apreciando a tensão do momento, estavam mais
racionais e mais frescos para resistir ao embate. Encaixaram o recado de Eliseu
e deitaram água na fervura de Naamã. Porque não era coisa difícil, convenceram
Naamã a que, mesmo contrariado, descesse ao rio e se banhasse. Naamã, talvez
com vontade bélica de armar ali mais uma guerra e enfiar o profeta e os
presentes na barca de Caronte, cedeu à força de persuasão dos seus servos.
Mesmo contrariado, lá foi mergulhar sete vezes no Jordão.
Se
o profeta foi “malandro” para o fazer descer à terra, aquilo que para Naamã não
fazia sentido e seria uma humilhação, foi o que realmente o curou. Só quando
saiu dos seus búnqueres e castelos de defesa, só quando desceu das suas
importâncias e orgulho pátrio, só quando resolveu deixar-se de preconceitos e
aceitar o que lhe era proposto, é que foi curado. Vendo-se recauchutado e novo,
ficou sem jeito por ter reagido como reagiu e desfaz-se em salamaleques. Fez um
ato de fé no Deus único de Israel, reconheceu Eliseu como aquele que mostra a
presença de Deus no meio do povo e quis dar-lhe um valioso presente, com o qual
vinha prevenido. Eliseu, mesmo perante a insistência do general, não aceitou. O
general promete deixar a idolatria e, doravante, só prestar culto ao Deus de
Israel, o único que pode curar e a quem se sentia profundamente grato pelo
facto de o ter tornado um homem verdadeiramente novo. E parte, feliz e
saudável, reiterando fidelidade ao Senhor Deus de Israel e, agora humildemente,
pedindo terra, terra dali, terra que carregasse duas mulas, para, lá, na
Assíria, sobre essa terra, levantar um altar ao Deus único.
Deus
faz-se encontrado através duma lógica muito diferente da nossa lógica. Ele
serve-se das coisas mais díspares e insignificantes para nos dizer que está
presente e atento. Quem crê em Deus e acredita que Ele pode restaurar o centro
e as periferias da sua vida, não pode ter a pretensão de lhe querer dar ordens,
de lhe querer dizer como é que Ele deve fazer, apoiado em egocentrismos que
destroem. Nem deve encaprichar só porque Ele não age como se gostaria que
agisse. Essa atitude seria sinal de que não estamos dispostos a deixar as
nossas razões e importâncias, as nossas rotinas e seguranças, sendo julgadas,
por nós e só por nós, como verdadeiro caminho de fidelidade e salvação. Mas
será que serão se não estamos dispostos a fazer o que Ele pede, tal como
aconteceu com o referido general? Este queria impor-lhe como é que Ele haveria
de fazer. Também pode acontecer que permaneçamos ensonados ou fossilizados
nessas rotinas egocêntricas, vivendo instalados na idolatria e na indiferença,
julgando-nos não só bons, mas os primeiros entre os bons, sentindo-nos até com
razões para exigir de Deus o bom e o melhor, e da forma que nós entendemos. Se
assim for, não passaremos de cristãos de meia-tigela. Mesmo que difícil e em
revolta, o general acabou por fazer caminho e ficar curado, no corpo e no
espírito, não como resultado de um ritual mágico nas águas do Jordão, mas como
fruto da ação salvífica de Deus que atuou através da palavra do profeta. É
interessante reparar que foi aquela jovenzinha, escrava no estrangeiro, que
iniciou o processo. Ultrapassou fronteiras, apontou o Deus único capaz de curar
e dar a vida. Também foram os humildes servos do general que o ajudaram a
seguir a palavra do profeta. Se estamos desafiados à humildade e à conversão,
reconheçamos também quanto bem podemos fazer anunciando Aquele que cura
e dá a Vida.
A
Quaresma não é só para os outros, também é para nós!
Antonino Dias
Portalegre-Castelo
Branco, 26-02-2021.
.
*************************
QUARESMA - “SAÍA D’ELE UMA FORÇA QUE A TODOS
CURAVA”
Na
Igreja, a Quaresma é, por natureza, um tempo catecumenal, um tempo de
descoberta e redescoberta da fé cristã como relação vital de absoluta confiança
no Senhor Jesus Cristo. Aliás, a Páscoa, celebração da revelação plena de
Cristo para onde a Quaresma nos conduz, só ganhará densidade espiritual e
existencial se a Quaresma se assumir como caminho e exercício de descoberta e
redescoberta da relação com Jesus Cristo. A condição humana, cada um de nós,
surpreende-se, comove-se diante de Jesus Cristo. Ele é, ao mesmo tempo, tão
nosso e tão de Deus, tão humano e tão divino, tão histórico e tão do Céu e da
eternidade. Antes de nos dizermos, já Ele nos conhece. Antes de lhe pedirmos,
já Ele se nos disponibilizou. Com a sua palavra e os seus gestos de proximidade,
cativa-nos. Com o mistério da sua Pessoa, colhe o nosso afeto, a nossa
inteligência, a nossa vontade. Tocados pela sua humanidade, tornamo-nos, por
bênção sua, capazes de tocar a sua divindade. Assim, rendidos e livres,
estabelecemos com Ele uma relação vital de absoluta confiança, por onde,
doravante, passará a vida toda. D’Ele brota uma força que não deixa ninguém
indiferente e cura todos os males.
A
fé não é, portanto, uma invenção de religiões. Nenhuma imposição a conseguiria
legitimar. Nenhuma lei a conseguiria impor. Nenhum moralismo a conseguiria
justificar e ser seu alicerce. Nenhuma tradição, por si só, a conseguiria
manter. Tudo isso seriam insuficiências, andaimes solitários sem construção a
erguer. Dom recebido e resposta dada, a fé cristã vai buscar muitas das suas
dinâmicas mais elementares à vida humana. Mas é na surpresa graciosa do
encontro com o dom de Deus em Jesus Cristo que ela se radica como atitude e
ritmo. É esta fé, vivida como bênção, presença de Cristo sentida ao nosso lado,
é esta fé que vai atravessar a nossa vida com as suas graças e desgraças, os
seus encantos e desesperos, as suas alegrias e tristezas. É esta fé, vivida
como bênção, que purifica a nossa vida com paixão, com graciosidade e com
ousadia profética de batizados. É o nosso batismo, que o mesmo é dizer a nossa
fé, que está em causa em cada Quaresma. Conversão e penitência, jejum, esmola e
oração são exercícios batismais da nossa vida cristã porque são expressão da
nossa vital confiança em Jesus Cristo e da nossa reação ao tempo e aos modos da
vida.
A
pandemia que atravessamos pode ser bem o contexto de humanidade em que a nossa
fé é chamada a redescobrir-se e a dar fruto. Exigidas pela situação de crise,
há um conjunto de ações que, nos crentes, são autênticos imperativos de
consciência da vida cristã: na solidão, saber ser presença construtiva e não
escravo da desconfiança; no desespero, saber ser força de esperança; na doença,
saber ser cuidador; na dificuldade económica ou social, saber partilhar e
promover; na prossecução do bem comum, saber comprometer-se e fazer caminho em
comum; nas palavras, saber edificar e promover a verdade; nas atitudes
quotidianas, saber eleger e construir a justiça; nas relações pessoais e de
cidadania, saber respeitar e acolher. A pandemia, com a doença e a pressão que
exerce em toda a sociedade, pode tornar-nos hipersensíveis, facilmente
descarriláveis e irascíveis. Pode pressionar-nos e trazer constrangimentos
vários à nossa vida. E é aí que é necessário ter sempre Cristo diante dos olhos,
ter sempre Cristo no coração e nas mãos. Os cristãos não temos de ser uma
maioria social, percentual, para sermos uma maioria virtuosa. Podemos até ser
uma minoria, mas, sem nos acanharmos e ganharmos complexo de seita, saberemos
ser Igreja à dimensão do mundo e à dimensão do próprio Cristo.
Este
ano, e por vontade do Papa Francisco, conjugam-se com a nossa Quaresma o Ano da
“Família Amoris Laetitia” e o Ano de S. José. Na sua Carta Apostólica para este
ano, o Papa Francisco diz-nos que foi com “coração de pai” que José amou Jesus.
Humilde, discreto, trabalhador, sempre pronto a realizar a vontade de Deus,
homem do silêncio como escuta, atento aos sinais de Deus e aos sinais dos
tempos, corajoso, pedagogo e, sobretudo, justo. Em José confrontamo-nos com um
homem que é justo porque se ajustou a Deus. E é por se ajustar a Deus que cedo
aprendeu a pensar como Deus, a agir como Deus, a amar como Deus. A sua fé e a
alegria do seu amor foram o grande motor da sua vida. É também a alegria do
amor que o Papa Francisco nos convida a encontrar na família cristã quando
promove o Ano “Família Amoris Laetitia”. Ele insiste na leitura da Exortação
Apostólica Amoris Laetitia e deseja levar ao aprofundamento da identidade da
família cristã como dom de pessoas e como dom à Igreja e ao mundo. Deseja
promover o acompanhamento dos esposos, a educação integral dos filhos, a
reflexão sobre as luzes e sombras da vida da família cristã, as crises
familiares, a participação das famílias nas estruturas de evangelização e da
Igreja. Tempo de redescoberta e revitalização da nossa fé, a Quaresma deste ano
faz com que se cruzem a fé e a pandemia, a fé e a família, a fé e a gratidão
pelo dom da santidade de S. José.
De
Jesus, na sua Palavra, nos seus gestos, na vida da Igreja como Comunidade,
brota uma força que não deixa ninguém indiferente. Como discípulos de Jesus
sempre em processo de conversão, somos, pois, desafiados a viver mais uma
Quaresma, mais um dom que acontece ao longo da nossa existência. Se a
mundaneidade convida ao ter, ao parecer e ao poder, a Quaresma pede especial
atenção ao ser. É um tempo de penitência e conversão. Um tempo de oração filial
que nos ajuda a limpar, arrumar e romper a dureza do coração, convertendo-nos a
Deus e aos irmãos. Uma oração que leve ao jejum do pecado, à mudança menos boa
de estar, pensar e falar, à privação do que não é essencial, à penitência e
austeridade pessoal, ao sacrifício que liberta. Uma oração que converta e leve
àquela partilha a que chamamos “renúncia quaresmal” e que tem um destino
determinado por cada Bispo diocesano, tornado público no início da Quaresma e,
ao longo da Quaresma, entregue em cada paróquia. Não se trata de renunciar para
poupar, não se trata de um peditório, não se trata de uma recolha de fundos,
não se trata de dar para ficar arrumado e não me incomodarem mais, não se trata
de pagar, não se trata tanto de dar uma esmola a quem a pede ou necessita,
embora não se deva permanecer indiferente e fazer vista grossa. Trata-se duma
caminhada espiritual disciplinada e vivida na alegria da oração, da conversão
interior, do pensar em Deus e nos outros, do sentir a importância da gratuidade
e da fraternidade. Trata-se da mudança de mentalidade e de coração que também
se pode traduzir em renunciar a isto ou àquilo, que, embora se julgue
apetecível, não é necessário, e o seu custo se coloca de parte para a causa
social anunciada. Para além disso, a conversão pode mesmo implicar o aliviar
dos bolsos (Lc 19, 1-10; Lc 18, 18-23). É uma pedagogia familiar de que tantas
crianças e tantos jovens nos dão tão belos testemunhos, renunciando a um bolo,
a um cigarro, a um café, a um programa televisivo, a ser escravo das redes
socias... ou os leva a estudar mais e melhor, a programar momentos de oração, a
visitar o vizinho acamado ou a viver mais comprometido nas causas da fé e do
bem comum, a respeitar os apelos ao confinamento e a vivê-lo com esperança,
pensando na própria saúde e saúde dos outros... Enfim, trata-se de cada um,
pelos caminhos possíveis, viver a Quaresma de tal forma que o conduza à Páscoa,
descobrindo e redescobrindo cada vez mais o gesto do amor de Deus para connosco
manifestado em Cristo Jesus seu Filho.
A Renúncia Quaresmal
de 2020, em toda a Diocese, e devido ao ambiente de confinamento rigoroso, foi
mesmo mesmo residual (1.769,34€). Tinha como destino ajudar à construção de um
Centro de Acolhimento e Saúde na Arquidiocese de Kananga, República Democrática
do Congo, donde temos dois sacerdotes a trabalhar nesta nossa Diocese. Este ano
de 2021, destinamos 60% para o mesmo fim e 40% para o Fundo Social Diocesano,
gerido pela Cáritas. De um Arciprestado, chegou à Cúria Diocesana uma verba de
renúncia quaresmal atrasada, a qual será enviada para o destino anunciado nessa
altura.
Sem comentários:
Enviar um comentário