quinta-feira, 14 de março de 2019








PARÓQUIAS DE NISA



Sexta, 15 de março de 2019














Sexta da I semana quaresma

Ofício da féria – I semana









SEXTA-FEIRA da semana I

Roxo – Ofício da féria.
Missa da féria, pf. da Quaresma.

L 1 Ez 18, 21-28; Sal 129 (130), 1-2. 3-4ab. 4c-6. 7-8
Ev Mt 5, 20-26


* Na Congregação do Santíssimo Redentor – S. Clemente Hofbauer, presbítero – FESTA





MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA Salmo 24, 17-18
Senhor, livrai-me dos meus tormentos.
Vede a minha miséria e a minha dor
e perdoai todos os meus pecados.


ORAÇÃO COLECTA
Fazei, Senhor, que os vossos fiéis se preparem convenientemente para o mistério pascal, de modo que a mortificação desta Quaresma a todos aproveite para bem das suas almas. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


LEITURA I Ez 18, 21-28
«Será porventura a morte do pecador que Me agrada?
Não é antes que se converta e viva?»


Leitura da Profecia de Ezequiel

Assim fala o Senhor Deus: «Se o pecador se arrepender de todas as faltas que cometeu, se observar todos os meus mandamentos e praticar o direito e a justiça, certamente viverá e não morrerá. Não lhe serão lembrados os pecados que cometeu e viverá por causa da justiça que praticou. Será porventura a morte do pecador que Me agrada? – diz o Senhor Deus – Não é antes que se converta do seu mau proceder e viva? Mas se o justo se desviar da justiça e praticar o mal, imitando as abominações dos pecadores, porventura viverá? Não mais será recordada a justiça que praticou; por causa da prevaricação em que caiu e do pecado que cometeu, ele morrerá. E vós dizeis: ‘O modo de proceder do Senhor não é justo’. Escutai, casa de Israel: Será o meu modo de proceder que não é justo? Não será antes o vosso modo de proceder que é injusto? Quando o justo se afastar da justiça, praticar o mal e vier a morrer, morrerá por causa do mal cometido. Quando o pecador se afastar do mal que tiver realizado, praticar o direito e a justiça, salvará a sua vida. Se abrir os olhos e renunciar às faltas que tiver cometido, certamente viverá e não morrerá».

Palavra do Senhor.


SALMO RESPONSORIAL Salmo 129 (130),1-2.3-4ab.4c-6.7-8 (R. 3)
Refrão: Se olhais para os nossos pecados,
Senhor, quem poderá salvar-se? Repete-se



Do profundo abismo chamo por Vós, Senhor,
Senhor, escutai a minha voz.
Estejam os vossos ouvidos atentos
à voz da minha súplica. Refrão


Se tiverdes em conta as nossas faltas,
Senhor, quem poderá salvar-se?
Mas em Vós está o perdão,
para Vos servirmos com reverência. Refrão


Eu confio no Senhor,
a minha alma espera na sua palavra.
A minha alma espera pelo Senhor
mais do que as sentinelas pela aurora. Refrão

Porque no Senhor está a misericórdia
e com Ele abundante redenção.
Ele há-de libertar Israel
de todas as suas faltas. Refrão


ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO Ez 18, 31
Refrão: Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai. Repete-se

Deixai todos os vossos pecados, diz o Senhor;
criai um coração novo e um espírito novo. Refrão


EVANGELHO Mt 5, 20-26
«Vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão»


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus. Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás; quem matar será submetido a julgamento’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que se irar contra o seu irmão será submetido a julgamento. Quem chamar imbecil a seu irmão será submetido ao Sinédrio, e quem lhe chamar louco será submetido à geena de fogo. Portanto, se fores apresentar a tua oferta sobre o altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão e vem depois apresentar a tua oferta. Reconcilia-te com o teu adversário, enquanto vais com ele a caminho, não seja caso que te entregue ao juiz, o juiz ao guarda, e sejas metido na prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá, enquanto não pagares o último centavo».

Palavra da salvação.


ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Recebei benignamente, Senhor, o sacrifício pelo qual quisestes reconciliar-nos convosco e reconduzir-nos à salvação eterna. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Prefácio da Quaresma

ANTÍFONA DA COMUNHÃO Ez 33, 11
Pela minha vida, diz o Senhor,
não quero a morte do pecador, mas que se converta e viva.


ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Renovai-nos, Senhor, pelo sacramento da vossa mesa santa, para que, livres da antiga corrupção do pecado, participemos plenamente no mistério da salvação. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



q


«Que felicidade poder ser perdoado. Que consolo depois da conversa com o confessor, ao qual humildemente nos apresentámos, e ouvi-lo dizer: “Vai em paz”».

Papa João XXIII




ORAÇÃO BÍBLICA

Reza a PALAVRA do dia


1. Leitura: Lê, respeita, situa o que lês
     - Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste

 2. Meditação: Interioriza, dialoga, atualiza o que leste
      - Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua vida” 

 3. Oração: Louva o Senhor, suplica, escuta
      - Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra



LEITURA:  Ez 18, 21-28: A conversão não é coisa fácil, mas é o único caminho certo. Cada um de nós bem sente que é assim. Deus quer esta conversão e espera por ela. Deus nunca Se satura de nós; espera sempre, porque a sua vontade é que o homem se converta e viva. A Quaresma é tempo de preparar o coração para a passagem pascal, a passagem da morte à vida com Cristo.

Mt 5, 20-26: Se a conversão a Deus é o fim de todo o caminho quaresmal, este caminho começa pela reconciliação com os irmãos, que são sempre a imagem de Deus mais próximo de nós, como Deus assim os apresenta; não se pode passar ao lado dos irmãos para chegar a Deus, pois que Deus para vir até nós Se fez nosso irmão.


MEDITAÇÃO:


ORAÇÃO: Senhor, reconheço que a Igreja não é obra de homens. Tu mesmo o disseste a Pedro: fundarei a minha Igreja. Obrigado por poder viver nela, acreditar nela e poder testemunhá-la entre os meus irmãos.






AGENDA DO DIA


10.00 horas: Funeral do Pe. Luciano na Matriz de Alcains
12.30 horas: Funeral em Alpalhão
15.00 horas:  Acolhimento em Alpalhão
18.00 horas: Missa em Nisa – Espírito Santo.
18.00 horas: Missa em Alpalhão


AGENDA DA SEMANA

- Dia 25, segunda às 21.00 horas, no Calvário: oração de louvor.

- Quinta, às 21.00 horas: Adoração ao Santíssimo

- Sexta-feira o Calvário estará aberto das 09.00 horas até às 17.00 horas. Às 17,15 horas, reza-se a via sacra na Igreja do Espírito Santo. Nos dias de quaresma deve respeitar-se a abstinência nos dias de sexta-feira.
 - As confissões gerais serão para todos no dia 5 de abril, às 21.00 horas, na Igreja Matriz.
-  Estão abertas inscrições para empregos da procissão dos Passos a realizar no dia 24.

Outros assuntos:
No 31 de março realiza-se a peregrinação dos Missionários do Verbo Divino a Fátima. Estão abertas as inscrições. Custo da viagem será 12.00 €. O almoço, para quem se inscrever, custa mais 11.00 €. 

Nos dias 26 a 28 de abril próximo, realizar-se-á em Nisa um encontro de jovens. Contamos com cerca de 50 jovens. Pedimos famílias que possam albergar algum dos jovens para dormir  que vá pensando neste gesto de partilha. O modo de acolher vai sendo anunciado. A folha de inscrição está disponível junto da Dona Ludovina e na Casa paroquial.


Horários de funcionamento/atendimento:

Cáritas: Atendimento às terças, das 15.00 às 17.00 horas, na sua sede

Conferência Vicentina: Reunião: segundas às 16.00 horas, na sua sede.




A VOZ DO PASTOR



QUARESMA 2019 - SINAIS DE LEITURA


A Páscoa é o mistério central de todo o Cristianismo. A sua celebração e vivência trouxeram à Igreja um tempo forte de preparação: é a Quaresma. Há Quaresma porque é necessário preparar a celebração e a vivência da Páscoa. Sendo a Páscoa o tempo que, por excelência, celebra a vida cristã iniciada com o Batismo, não se resume a um dia de calendário. É, sobretudo, uma experiência de fé, um reencontro com Cristo e o Mistério da sua vida, um encontro com as raízes da fé, um confronto da vida com a vocação cristã, uma interrogação e resposta sobre o sentido da vida. Entre o que somos atualmente e aquilo que o Batismo nos define como vida cristã situa-se o caminho que está em causa no itinerário que vai pela Quaresma até à Pascoa.

Quaresma é, portanto, um tempo fortíssimo da vida cristã; tempo dos batizados que, para viverem mais profundamente a sua vocação pascal, se constroem e reconstroem; tempo dos Catecúmenos porque caminho de preparação para o Batismo; tempo de escuta mais atenta da Palavra de Deus e da sua inclusão ética na vida quotidiana; tempo de oração mais cuidada e disponível; tempo forte de conversão e de reconciliação, pessoal e sacramental; tempo de relações humanas reestruturadas, redefinidas, reprojetadas, pacificadas; tempo essencial de partilha do que se tem e do que se é; tempo de reencontro com os valores fundamentais da vida; tempo de purificação de tudo aquilo que, na vida, se foi instalando como tóxico: desregramentos subtis diversos, estilos e tipos de relação humana que dividem, a lógica da competitividade a todo o custo e da lei do mais forte, o clamor da terra violentada, poluída e ferida por atitudes egoístas e banalizadoras dos seus recursos, a fome que rouba a liberdade de tantos sob a indiferença de outros, etc…

Quaresma é tempo de conversão para que, ao chegar à Páscoa, o coração crente da Igreja e de cada batizado possa estar mais intimamente unido e em harmonia com Cristo Senhor. A Igreja ensina-o e sublinha-o, as comunidades cristãs já nunca o esquecem. E para que as intenções não fiquem no abstrato e possam redundar inconsequentes, todos os anos, nos sinais eclesiais do jejum, da partilha e da oração, encontramos os caminhos concretos da conversão. São os caminhos em que não podemos deixar crescer obstáculos e que havemos de cuidar por manter abertos porque sempre mostrarão a capacidade que o Espírito de Deus tem de fazer maravilhas em cada um de nós.

Para melhor vivermos a Quaresma como tempo precioso para a nossa fé, poderíamos, este ano, pessoal, familiar ou comunitariamente, fazer o exercício da leitura da vida a partir destes sinais e atitudes do jejum, da partilha e da oração. O Jejum, a Esmola ou Partilha e a Oração não são “mínimos legais” para uma confissão bem feita. São os sinais dos campos onde é necessário converter a vida para a recentrar em Deus.

Por isso, no caminho da conversão, o Jejum, a Partilha e a Oração dão origem a três grandes linhas de leitura, avaliação e reestruturação da vida quotidiana. O “Jejum” pode questionar como tem andado a nossa relação com a vida, à qual, cristãmente, lhe chamamos “Esperança”. A “Partilha” pode interrogar como tem sido a nossa relação com os outros, a que, cristãmente, chamamos “Caridade”. A “Oração” pode avaliar, saborear e fazer despertar o desejo de perceber como tem sido a nossa relação com Deus, à qual, cristãmente, chamamos “Fé”.

Esperança, Caridade e Fé, ou seja, relação com a vida, relação com os outros e a natureza e a relação com Deus tornam-se, desta forma, a chave de leitura da vida que há de ser levada ao Sacramento da Reconciliação para fazer a experiência sacramental do Perdão como reconstrução da pessoa e reaquisição da dignidade de filhos amados de Deus. Passar ao lado da conversão é passar ao lado da Cruz de Cristo e da Graça do Dom que ela inaugura.

Exercitando a leitura da nossa identidade cristã, pessoal e eclesial, nestes três caminhos, caminhos de Esperança, Caridade e Fé, ou seja, caminhos de Jejum, Partilha e Oração, podemos, transversalmente, interrogar-nos sobre algumas atitudes que marcam, muitas vezes quotidianamente, a nossa vida. Existem hoje, de facto, patologias que provocam o progressivo arrefecimento da nossa relação com a vida, com os outros e com Deus.

No caminho da Esperança e do Jejum existem atitudes e patologias do conhecimento e do desejo. S. Máximo diz, por exemplo, que “Adão foi vítima da sua ignorância”. De facto, às vezes, a ignorância de Deus conduz o homem por caminhos tortuosos de experiências estranhas e desumanizadoras. Ainda no caminho da Esperança - a relação com a vida, o jejum - aparece a patologia ou doença do desejo que está na perversão do prazer. É o desejo que é para o homem e não o homem que é para o desejo. Se o desejo for só fruição autodestrói-se.

No caminho da Caridade existem também atitudes e patologias que pedem cura: a agressividade que, muitas vezes, chega a redundar em cólera; patologia da liberdade que afirma que o homem é livre mas que, ao mesmo tempo, o submete a um profuso conjunto de “necessidades” e obrigações desumanizadoras; a patologia ou doença das funções e capacidades corporais: para que servem as nossas mãos, para que servem as nossas capacidades, para que serve o nosso saber, para que serve e a quem aproveita a nossa mobilidade!?

No caminho da Fé ou da relação com Deus existem também patologias ou doenças que podemos avaliar de forma nova em tempo de Quaresma. Existem, por exemplo, as patologias da memória: de quem ou do que é que nos lembramos!? E o que é que permanentemente esquecemos!? Lembramo-nos de Deus na aflição e esquecemo-l’O na alegria!? A ignorância, a negligência ou tibieza, o esquecimento podem ser sinais da doença da memória. A patologia ou doença da imaginação é outra que marca presença na nossa relação com Deus. Imaginar é bom. Na vida cristã de igual forma. E a imaginação pode ser sempre produtora, reprodutora e criadora. Mas mal da imaginação que, ao invés de puxar pela realidade, produz a sua ilusão e a alienação.

Ler a vida nestas linhas simples de avaliação leva-nos ao encontro de coisas boas e menos boas. E do lado das menos boas, em vivência pessoal e comunitária, estão atitudes como azedumes, cóleras, violências, opiniões infundadas, impiedades, rancores, ódios, calúnias, tristezas, medos, rivalidades, cobardias, invejas e vaidades, orgulhos egoístas, hipocrisias, mentiras, infidelidades, avidezes, ingratidões, materialismos, gula e embriaguez, luxúrias e adultérios, magias e rituais desonestos, preguiças, presunções, arrogâncias, apego ao poder, insensibilidades, representação e lisonja, adulação, descaramento e insolência, dissimulação e ganância. S. João Damasceno diz que a ociosidade está na base de muitas destas coisas.

O Jejum, a Partilha e a Oração ou, como acima se dizia, a Esperança, a Caridade e a Fé conduzem-nos por outros caminhos: a temperança, a integridade, a liberdade, a alegria, a prudência e a vigilância, a paciência, a humildade, o amor de Deus, dos outros e da natureza. O Ano Missionário que estamos a viver pede-nos o testemunho disto mesmo.
Quem se preenche de Deus não deixa no seu coração espaço para o pecado. A Quaresma é este caminho oferecido à Igreja para poder participar com alegria genuína na Páscoa, Festa da Ressurreição de Jesus e afirmação do poder da vida sobre todas as mortes.

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Da Renúncia Quaresmal do ano passado resultaram 39.568,51 euros (trinta e nove mil quinhentos e sessenta e oito euros e cinquenta e um cêntimos) da qual, conforme anunciámos na altura, 25% se destinavam ao Fundo Social Diocesano, gerido pela Direção da Cáritas Diocesana, e 75%, até porque temos entre nós um Pároco daí natural, foi para a Arquidiocese de Kananga, na República Democrática do Congo, para ajudar naconstrução de um Centro de Acolhimento e Saúde para socorrer crianças órfãos da guerra ou roubadas às famílias e usadas como soldados.

Este ano, em pleno Ano Missionário, voltaremos a orientar a Renúncia Quaresmal, em 25% para o Fundo Social Diocesano, gerido pela Cáritas Diocesana, e, o restante, para as Missões “ad gentes”. Há muitas expressões de nos sentirmos Igreja em saída, a partilha é uma delas. Como afirma o Papa Francisco, a missão “ad gentes” continua a revestir-se de grande urgência. As Comunidades cristãs devem promover um fervor apostólico contagioso e rico de entusiasmo, capaz de suscitar fascínio pela missão. Todos somos chamados “a alimentar a alegria da Evangelização”.

Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 01-03-2019.

II.


À MULHER PELO FACTO DE SER MULHER

Para cada mulher, uma linda flor a seu gosto, um obrigado e uma prece! E que a luta continue!...

Vivemos o dia, o primeiro dia de luto nacional pelas vítimas da violência doméstica que a todos envergonha e faz sofrer. Também no Parlamento se fez um minuto de silêncio e houve um voto de pesar pelas vítimas. E falou-se, falou-se com unanimidade, pedindo tolerância zero, respostas mais eficazes e cabais, mais medidas dos poderes públicos, mudança de cultura e muito mais se disse apontando para um futuro mais atento e exigente, sem que haja qualquer espécie de contemplação para com os agressores. Por outros lugares e instâncias também se falou e tomaram iniciativas várias. E bem, foi bom! 

A Comissão Nacional Justiça e Paz, na sua Nota do passado mês de fevereiro, referia que apesar de vivermos num Estado de Direito dotado de amplo quadro legal, apesar de o Estado dispor de instituições apetrechadas com recursos humanos capazes, apesar de vivermos numa sociedade com níveis de escolaridade sem paralelo, apesar de tantas vítimas e sofrimento, a tragédia persiste, insinuando que o quadro legal não é suficiente, que as instituições não funcionam articuladamente, que os conhecimentos e a informação não produz a necessária alteração de comportamentos. De facto, escreve a Comissão Nacional Justiça e Paz, de facto, não há “quadros legais perfeitos e as leis carecem sempre de ser melhoradas, mas têm que ser cumpridas. Não há políticas públicas suficientemente abrangentes, mas as que estão definidas têm que ser executadas e consolidadas. Não há sistemas completos, mas os que existem têm que funcionar de forma articulada e consistente. Não há responsabilidades exclusivas, mas responsabilidades partilhadas por todos os decisores numa imensa hierarquia das estruturas de intervenção. Mas também, na vivência concreta do dia-a-dia, há responsabilidades partilhadas por todos nós, cidadãos conscientes da sua pertença coletiva”.

A Igreja, na pessoa de cada membro e através das suas comunidades e estruturas, não pode deixar de dar o seu ombro, com coragem e determinação, na erradicação desta chaga social, sensibilizando, formando, denunciando e envolvendo-se na solução do problema. O Papa Francisco não se tem cansado de esconjurar a cultura da morte, desde o aborto à eutanásia, a cultura do descarte e da indiferença, da violência e da falta de amor que existe na sociedade. A falta desse amor que é o fundamento do respeito mútuo e da fraternidade universal que nos une e dignifica e, regra geral, se aprende em família. São João Paulo II, para além de muitas outras ocasiões em que se referiu à mulher, também nos deixou alguns documentos preciosos dos quais recordo a Carta Apostólica sobre a Dignidade da Mulher, de 15 de agosto de1988; a Carta que, em 29 de junho de 1995, “sob o signo da solidariedade e da gratidão”, dirigiu às mulheres uns meses antes da IV Conferência Mundial sobre a Mulher, em Pequim, uma iniciativa das Nações Unidas aplaudida pelo Papa e para a qual se propôs oferecer a sua contribuição; o terceiro Documento que recordo é a sua Mensagem para o XXVIII Dia Mundial da Paz, em 1995, a que deu o título: "Mulher: Educadora de Paz". Todos estes documentos estão acessíveis na internet e vale a pena repescá-los para ler e refletir. Mas são incontáveis os pronunciamentos do Magistério da Igreja em tais assuntos.

Nestes documentos, a Igreja, pela voz de São João Paulo II, aborda os problemas e perspetivas da condição feminina, detendo-se sobretudo na dignidade e nos direitos das mulheres. Agradece a Deus e a cada mulher a sua vocação e missão e tudo quanto ela representa na vida da humanidade. Dá graças por toda a mulher e por aquilo que constitui “a eterna medida da sua dignidade feminina” e pelas grandes obras que, na história das gerações humanas, nela e por meio dela se realizaram. Mas também confessa que agradecer não basta. Reconhece que “somos herdeiros de uma história com imensos condicionalismos que, em todos os tempos e latitudes, tornaram difícil o caminho da mulher, ignorada na sua dignidade, deturpada nas suas prerrogativas, não raro marginalizada e, até mesmo, reduzida à escravidão”. Por isso, “é tempo de olhar, com a coragem da memória e o sincero reconhecimento das responsabilidades, a longa história da humanidade, para a qual as mulheres deram uma contribuição não inferior à dos homens, e a maior parte das vezes em condições muito mais desfavoráveis”. A humanidade tem “uma dívida incalculável” para com as mulheres e tem ainda muito a fazer para conseguir onde quer que seja “a igualdade efetiva dos direitos da pessoa: idêntica retribuição salarial por categoria de trabalho, tutela da mãe-trabalhadora, justa promoção na carreira, igualdade entre cônjuges no direito de família, o reconhecimento de tudo quanto está ligado aos direitos e aos deveres do cidadão num regime democrático”. Acreditando numa presença cada vez maior das mulheres na sociedade, manifesta a certeza de que elas continuarão a mostrar “as contradições de uma sociedade organizada sobre critérios de eficiência e produtividade” e obrigarão “a reformular os sistemas a bem dos processos de humanização que delineiam a «civilização do amor»”. Quando as mulheres têm “a possibilidade de transmitir plenamente os seus dons a toda a comunidade, fica positivamente transformada a própria modalidade como a sociedade é concebida e se organiza, conseguindo refletir melhor a unidade substancial da família humana”. O Papa, faz um “premente apelo a que, da parte de todos, particularmente dos Estados e das Instituições Internacionais, se faça o que for preciso para devolver à mulher o pleno respeito da sua dignidade e do seu papel”. E não deixa de manifestar a sua admiração “pelas mulheres de boa vontade que se dedicaram a defender a dignidade da condição feminina, através da conquista de direitos fundamentais sociais, económicos e políticos, e assumiram corajosamente tal iniciativa em épocas em que este seu empenho era considerado um ato de transgressão, um sinal de falta de feminilidade, uma manifestação de exibicionismo, e talvez um pecado!”. Para chegar onde estamos, foi preciso percorrer «um caminho difícil e complexo” nem sempre isento de erros, “mas substancialmente positivo”. Urge continuar nesse trabalho, sabendo que “o segredo para percorrer diligentemente a estrada do pleno respeito da identidade feminina não passa só pela denúncia, apesar de necessária, das discriminações e das injustiças, mas também, e sobretudo, por um eficaz e claro projeto de promoção, que englobe todos os âmbitos da vida feminina, a partir de uma renovada e universal tomada de consciência da dignidade da mulher”.

Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 08-03-2019






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