quarta-feira, 27 de março de 2019






PARÓQUIAS DE NISA



Quinta, 28 de março de 2019













Quinta da III semana da quaresma

Ofício da féria – III semana






QUINTA-FEIRA da semana III
Roxo – Ofício da féria.
Missa da féria, pf. da Quaresma.

L 1 Jer 7, 23-28; Sal 94 (95), 1-2. 6-7. 8-9
Ev Lc 11, 14-23




MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA
Eu sou a salvação do meu povo, diz o Senhor.
Quando chamar por Mim nas suas tribulações,
Eu o atenderei e serei o seu Deus para sempre.


ORAÇÃO COLECTA
Humildemente Vos pedimos, Senhor: à medida que se aproxima o dia da nossa redenção, fazei que nos preparemos com maior generosidade para a celebração do mistério pascal. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


LEITURA I Jer 7, 23-28
«Esta é a nação que não ouviu a voz do Senhor seu Deus»


Leitura do Livro de Jeremias

Assim fala o Senhor: «Foi isto que ordenei ao meu povo: ‘Escutai a minha voz, e Eu serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo. Segui sempre o caminho que vou indicar-vos e sereis felizes’. Mas eles não ouviram nem prestaram atenção: seguiram as más inclinações do seu coração obstinado, voltaram-Me as costas, em vez de caminharem para Mim. Desde o dia em que os seus pais saíram da terra do Egipto até hoje, enviei-lhes todos os profetas, meus servos, dia após dia, incansavelmente. Mas eles não Me ouviram nem Me prestaram atenção: endureceram a sua cerviz, fizeram pior que seus pais. Se lhes disseres tudo isto, não te escutarão; se chamares por eles, não te responderão. Por isso lhes dirás: Esta é a nação que não ouviu a voz do Senhor seu Deus e não quis aceitar os seus ensinamentos. Perdeu-se a fidelidade, foi eliminada da sua boca».

Palavra do Senhor.


SALMO RESPONSORIAL Salmo 94 (95), 1-2.6-7.8-9 (R. cf. 8)
Refrão: Se hoje ouvirdes a voz do Senhor,
não fecheis os vossos corações
.
Repete-se

Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos a Deus, nosso salvador.
Vamos à sua presença e dêmos graças,
ao som de cânticos aclamemos o Senhor. Refrão

Vinde, prostremo-nos em terra,
adoremos o Senhor que nos criou.
Pois Ele é o nosso Deus
e nós o seu povo, as ovelhas do seu rebanho. Refrão

Quem dera ouvísseis hoje a sua voz:
«Não endureçais os vossos corações,
como em Meriba, como no dia de Massa no deserto,
onde vossos pais Me tentaram e provocaram,
apesar de terem visto as minhas obras. Refrão


ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO Joel 2, 12-13
Refrão: Louvor a Vós, Jesus Cristo, Rei da eterna glória. Repete-se

Convertei-vos a Mim de todo o coração,
diz o Senhor;  porque sou benigno e misericordioso. Refrão


EVANGELHO Lc 11, 14-23
«Quem não está comigo está contra Mim»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, Jesus estava a expulsar um demónio que era mudo. Logo que o demónio saiu, o mudo falou e a multidão ficou admirada. Mas alguns dos presentes disseram: «É por Belzebu, príncipe dos demónios, que Ele expulsa os demónios». Outros, para O experimentarem, pediam-Lhe um sinal do céu. Mas Jesus, que conhecia os seus pensamentos, disse: «Todo o reino dividido contra si mesmo, acaba em ruínas e cairá casa sobre casa. Se Satanás está dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Vós dizeis que é por Belzebu que Eu expulso os demónios. Ora, se Eu expulso os demónios por Belzebu, por quem os expulsam os vossos discípulos? Por isso eles mesmos serão os vossos juízes. Mas se Eu expulso os demónios pelo dedo de Deus, então quer dizer que o reino de Deus chegou até vós. Quando um homem forte e bem armado guarda o seu palácio, os seus bens estão em segurança. Mas se aparece um mais forte do que ele e o vence, tira-lhe as armas em que confiava e distribui os seus despojos. Quem não está comigo está contra Mim e quem não junta comigo dispersa».

Palavra da salvação.


ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Purificai, Senhor, o vosso povo de todo o contágio do mal, para que os nossos dons Vos sejam agradáveis; e não nos deixeis fascinar pelas falsas alegrias, mas conduzi-nos ao prémio da glória prometida. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Prefácio da Quaresma


ANTÍFONA DA COMUNHÃO Salmo 118, 4-5
Promulgastes, Senhor, os vossos preceitos
para se cumprirem fielmente.
Fazei que os meus passos sejam firmes
na observância dos vossos mandamentos.


ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Sustentai, Senhor, com o auxílio da vossa graça aqueles que alimentais nos sagrados mistérios, para que os frutos de salvação que recebemos neste sacramento se manifestem em toda a nossa vida. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.







«Se queres encontrar-te com Deus, procura-O no teu coração e nos irmãos a teu lado».







ORAÇÃO BÍBLICA

Reza a PALAVRA do dia


1. Leitura: Lê, respeita, situa o que lês
     - Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste

 2. Meditação: Interioriza, dialoga, atualiza o que leste
      - Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua vida” 

 3. Oração: Louva o Senhor, suplica, escuta
      - Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra


LEITURAS: Jer 7, 23-28: A Quaresma é tempo de conversão ao Senhor; por isso mesmo é tempo de exame de consciência, de revisão de vida à luz da palavra de Deus. Não admira, por isso, que esta palavra nos acuse, nos desmascare, nos queira tocar no mais fundo do coração. Ontem foi-nos dito que a palavra de Deus é a nossa lei; hoje somos acusados de a não termos escutado. Mas esta acusação quer levar-nos à conversão para encontrarmos a alegria do perdão.

Lc 11, 14-23: Na Vigília Pascal somos chamados a renovar os nossos compromissos batismais. Trata-se de optarmos por Cristo, nosso Senhor, de proclamarmos, uma vez mais, que somos d’Ele, porque quem não é por Ele está contra Ele. A celebração da Páscoa é, em certo modo, o ponto culminante de uma grande conversão.

Rezando a Palavra


ORAÇÃO: Senhor, o teu caminho é difícil e exigente. Pedes que sejamos como Tu, estando dispostos a servir. Ajuda-nos a ser humildes de coração, a ser generosos como Tu, prontos a dar a vida como Tu a deste.






AGENDA DO DIA


16.00 horas: Na Santa Casa de Nisa
18.00 horas: Missa na Igreja do Espírito Santo.


AGENDA DA SEMANA


Domingo, 24
Tolosa, às 10.15 horas: Procissão com Imagem de Nossa Senhora das Dores
Hoje, domingo, a procissão dos Passos começa às 16.00 horas na Igreja Matriz

Dia 25, segunda:
- De manhã: reunião arciprestal em Ponte de Sor
- Anunciação do Senhor – SOLENIDADE. Às 18.00 horas - Missa na Igreja do Espírito Santo
- Às 21.00 horas, no Calvário: oração de louvor
- Às 21 horas, no Calvário reunião de preparação para as festas de julho

Dia 26, terça-feira:
- Às 18.00 horas, Missa em Alpalhão
- Às 15 horas, Confissões em Alpalhão

Dia 27, Quarta:
- Reunião presbiteral em Benavila, Avis
- Pardo: confissões a partir das 16.00 horas

Dia 28, Quinta:
 - Às 21.00 horas: Adoração ao Santíssimo, em Nisa

Dia 29, Sexta:
- Calvário estará aberto das 09.00 horas até às 17.00 horas.
- Às 17.15 horas, devoção da  via sacra na Igreja do Espírito Santo
- Às 17.15 horas, devoção da  via sacra na Igreja de Alpalhão
- 15-17 horas: Confissões no Cacheiro, na Falagueira e no Monte Claro
- 21.00 horas: Tolosa: Via sacra pelas ruas.
- 19.00 horas: Começo das 24 horas para o Senhor.


Dia 30, Sábado
- Às 12.00 horas: Missa em Arez (antigos militares)
- Às 15.00 horas: Missa em Salavessa
- Às 16.00 horas: Missa em Pé da Serra
- Às 17.00 horas: Missa no Pardo
- Às 19.00 horas: Fim das 24 horas com Senhor.
- Às 18.00 horas: Missa no Espírito Santo, Nisa
- Às 18.00 horas: Missa em Alpalhão

Dia 31 Domingo
- Horário dos autocarros:
. 07.30 horas: Pardo
. 07.45 horas: Gáfete
. 08.00 horas: Tolosa
. 08.00 horas: Nisa: partida para Fátima, de junto do Cineteatro

- Missas:
 11.00 horas em Missas em Nisa
12.00 horas em Alpalhão.





A VOZ DO PASTOR



QUARESMA 2019 - SINAIS DE LEITURA


A Páscoa é o mistério central de todo o Cristianismo. A sua celebração e vivência trouxeram à Igreja um tempo forte de preparação: é a Quaresma. Há Quaresma porque é necessário preparar a celebração e a vivência da Páscoa. Sendo a Páscoa o tempo que, por excelência, celebra a vida cristã iniciada com o Batismo, não se resume a um dia de calendário. É, sobretudo, uma experiência de fé, um reencontro com Cristo e o Mistério da sua vida, um encontro com as raízes da fé, um confronto da vida com a vocação cristã, uma interrogação e resposta sobre o sentido da vida. Entre o que somos atualmente e aquilo que o Batismo nos define como vida cristã situa-se o caminho que está em causa no itinerário que vai pela Quaresma até à Pascoa.

Quaresma é, portanto, um tempo fortíssimo da vida cristã; tempo dos batizados que, para viverem mais profundamente a sua vocação pascal, se constroem e reconstroem; tempo dos Catecúmenos porque caminho de preparação para o Batismo; tempo de escuta mais atenta da Palavra de Deus e da sua inclusão ética na vida quotidiana; tempo de oração mais cuidada e disponível; tempo forte de conversão e de reconciliação, pessoal e sacramental; tempo de relações humanas reestruturadas, redefinidas, reprojetadas, pacificadas; tempo essencial de partilha do que se tem e do que se é; tempo de reencontro com os valores fundamentais da vida; tempo de purificação de tudo aquilo que, na vida, se foi instalando como tóxico: desregramentos subtis diversos, estilos e tipos de relação humana que dividem, a lógica da competitividade a todo o custo e da lei do mais forte, o clamor da terra violentada, poluída e ferida por atitudes egoístas e banalizadoras dos seus recursos, a fome que rouba a liberdade de tantos sob a indiferença de outros, etc…

Quaresma é tempo de conversão para que, ao chegar à Páscoa, o coração crente da Igreja e de cada batizado possa estar mais intimamente unido e em harmonia com Cristo Senhor. A Igreja ensina-o e sublinha-o, as comunidades cristãs já nunca o esquecem. E para que as intenções não fiquem no abstrato e possam redundar inconsequentes, todos os anos, nos sinais eclesiais do jejum, da partilha e da oração, encontramos os caminhos concretos da conversão. São os caminhos em que não podemos deixar crescer obstáculos e que havemos de cuidar por manter abertos porque sempre mostrarão a capacidade que o Espírito de Deus tem de fazer maravilhas em cada um de nós.

Para melhor vivermos a Quaresma como tempo precioso para a nossa fé, poderíamos, este ano, pessoal, familiar ou comunitariamente, fazer o exercício da leitura da vida a partir destes sinais e atitudes do jejum, da partilha e da oração. O Jejum, a Esmola ou Partilha e a Oração não são “mínimos legais” para uma confissão bem feita. São os sinais dos campos onde é necessário converter a vida para a recentrar em Deus.

Por isso, no caminho da conversão, o Jejum, a Partilha e a Oração dão origem a três grandes linhas de leitura, avaliação e reestruturação da vida quotidiana. O “Jejum” pode questionar como tem andado a nossa relação com a vida, à qual, cristãmente, lhe chamamos “Esperança”. A “Partilha” pode interrogar como tem sido a nossa relação com os outros, a que, cristãmente, chamamos “Caridade”. A “Oração” pode avaliar, saborear e fazer despertar o desejo de perceber como tem sido a nossa relação com Deus, à qual, cristãmente, chamamos “Fé”.

Esperança, Caridade e Fé, ou seja, relação com a vida, relação com os outros e a natureza e a relação com Deus tornam-se, desta forma, a chave de leitura da vida que há de ser levada ao Sacramento da Reconciliação para fazer a experiência sacramental do Perdão como reconstrução da pessoa e reaquisição da dignidade de filhos amados de Deus. Passar ao lado da conversão é passar ao lado da Cruz de Cristo e da Graça do Dom que ela inaugura.

Exercitando a leitura da nossa identidade cristã, pessoal e eclesial, nestes três caminhos, caminhos de Esperança, Caridade e Fé, ou seja, caminhos de Jejum, Partilha e Oração, podemos, transversalmente, interrogar-nos sobre algumas atitudes que marcam, muitas vezes quotidianamente, a nossa vida. Existem hoje, de facto, patologias que provocam o progressivo arrefecimento da nossa relação com a vida, com os outros e com Deus.

No caminho da Esperança e do Jejum existem atitudes e patologias do conhecimento e do desejo. S. Máximo diz, por exemplo, que “Adão foi vítima da sua ignorância”. De facto, às vezes, a ignorância de Deus conduz o homem por caminhos tortuosos de experiências estranhas e desumanizadoras. Ainda no caminho da Esperança - a relação com a vida, o jejum - aparece a patologia ou doença do desejo que está na perversão do prazer. É o desejo que é para o homem e não o homem que é para o desejo. Se o desejo for só fruição autodestrói-se.

No caminho da Caridade existem também atitudes e patologias que pedem cura: a agressividade que, muitas vezes, chega a redundar em cólera; patologia da liberdade que afirma que o homem é livre mas que, ao mesmo tempo, o submete a um profuso conjunto de “necessidades” e obrigações desumanizadoras; a patologia ou doença das funções e capacidades corporais: para que servem as nossas mãos, para que servem as nossas capacidades, para que serve o nosso saber, para que serve e a quem aproveita a nossa mobilidade!?

No caminho da Fé ou da relação com Deus existem também patologias ou doenças que podemos avaliar de forma nova em tempo de Quaresma. Existem, por exemplo, as patologias da memória: de quem ou do que é que nos lembramos!? E o que é que permanentemente esquecemos!? Lembramo-nos de Deus na aflição e esquecemo-l’O na alegria!? A ignorância, a negligência ou tibieza, o esquecimento podem ser sinais da doença da memória. A patologia ou doença da imaginação é outra que marca presença na nossa relação com Deus. Imaginar é bom. Na vida cristã de igual forma. E a imaginação pode ser sempre produtora, reprodutora e criadora. Mas mal da imaginação que, ao invés de puxar pela realidade, produz a sua ilusão e a alienação.

Ler a vida nestas linhas simples de avaliação leva-nos ao encontro de coisas boas e menos boas. E do lado das menos boas, em vivência pessoal e comunitária, estão atitudes como azedumes, cóleras, violências, opiniões infundadas, impiedades, rancores, ódios, calúnias, tristezas, medos, rivalidades, cobardias, invejas e vaidades, orgulhos egoístas, hipocrisias, mentiras, infidelidades, avidezes, ingratidões, materialismos, gula e embriaguez, luxúrias e adultérios, magias e rituais desonestos, preguiças, presunções, arrogâncias, apego ao poder, insensibilidades, representação e lisonja, adulação, descaramento e insolência, dissimulação e ganância. S. João Damasceno diz que a ociosidade está na base de muitas destas coisas.

O Jejum, a Partilha e a Oração ou, como acima se dizia, a Esperança, a Caridade e a Fé conduzem-nos por outros caminhos: a temperança, a integridade, a liberdade, a alegria, a prudência e a vigilância, a paciência, a humildade, o amor de Deus, dos outros e da natureza. O Ano Missionário que estamos a viver pede-nos o testemunho disto mesmo.
Quem se preenche de Deus não deixa no seu coração espaço para o pecado. A Quaresma é este caminho oferecido à Igreja para poder participar com alegria genuína na Páscoa, Festa da Ressurreição de Jesus e afirmação do poder da vida sobre todas as mortes.

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Da Renúncia Quaresmal do ano passado resultaram 39.568,51 euros (trinta e nove mil quinhentos e sessenta e oito euros e cinquenta e um cêntimos) da qual, conforme anunciámos na altura, 25% se destinavam ao Fundo Social Diocesano, gerido pela Direção da Cáritas Diocesana, e 75%, até porque temos entre nós um Pároco daí natural, foi para a Arquidiocese de Kananga, na República Democrática do Congo, para ajudar na construção de um Centro de Acolhimento e Saúde para socorrer crianças órfãos da guerra ou roubadas às famílias e usadas como soldados.

Este ano, em pleno Ano Missionário, voltaremos a orientar a Renúncia Quaresmal, em 25% para o Fundo Social Diocesano, gerido pela Cáritas Diocesana, e, o restante, para as Missões “ad gentes”. Há muitas expressões de nos sentirmos Igreja em saída, a partilha é uma delas. Como afirma o Papa Francisco, a missão “ad gentes” continua a revestir-se de grande urgência. As Comunidades cristãs devem promover um fervor apostólico contagioso e rico de entusiasmo, capaz de suscitar fascínio pela missão. Todos somos chamados “a alimentar a alegria da Evangelização”.

Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 01-03-2019.

II.


EM COMUNHÃO COM O PAPA FRANCISCO

Escrevo?... Não escrevo?... Vou escrever, mesmo que me doa. Embora nos cause mossa ouvir e ler as notícias sobre o abuso de menores, penso que os meios de comunicação social prestaram um grande e valioso serviço à Igreja. Tendo feito soar os alarmes, levaram a que a Igreja se acertasse, e, mais rápida e firmemente, procurasse converter “os erros cometidos em oportunidades para erradicar este flagelo não só do corpo da Igreja, mas também do seio da sociedade”. Embora um só caso fosse já condenável e motivo de alerta para ser denunciado e levar o autor à justiça, de facto, ninguém imaginava a grandeza desta calamidade e muito menos que envolvesse figuras de visibilidade mundial. Também fiquei surpreendido, e, com todos os cristãos, também sinto constrangimento por isso e sofro com as vítimas que sofreram e sofrem, mas continuo a amar esta Igreja que saiu do lado de Cristo na Cruz e foi constituída como sinal e instrumento universal de salvação. A Igreja sangra e chora, é verdade, é Mãe. Deseja que todos os seus filhos se sintam irmãos e se respeitem, prestando a maior atenção aos mais pequeninos e frágeis. A infidelidade escandalosa de alguns aliada à tendência que outros têm de generalizar, leva à tentação de perder a sua reputação, também é verdade, como verdade será, possivelmente, que haja quem, mesmo sendo membro da Igreja, se regozije por a ver humilhada e a sofrer. Aqueles que a amam verdadeiramente e, apesar das fraquezas, lhe procuram ser fiéis, sofrem e sentem-se injustiçados como injustiçados e sofredores se sentem as vítimas. No entanto, permanecem unidos na luta pela sua constante purificação, sem excluir, como é evidente, a reparação e expiação por parte daqueles que geraram vítimas e escândalos, pensando eu que eles, estando com toda a certeza a sentir uma humilhação sem igual, também sofrem e chorarão amargamente como Pedro, saberão avaliar a grandeza do mal feito e o sofrimento causado que, mesmo que seja perdoado, jamais será totalmente reparado. Rezemos pelas vítimas que sofrem e lutam por respeito e justiça. Não deixemos de rezar por quem as provocou, feriu e humilhou para que, expiando, se convertam sem deixar de confiar na misericórdia infinita de Deus. Rezemos uns pelos outros para que não sejamos motivo de escândalo para ninguém e muito menos profissionais da religião e a viver de aparências. Se a Igreja é humana, constituída por homens frágeis e pecadores a quem Cristo, apesar de tudo, confiou a Sua própria missão, não podemos esquecer que ela também é divina e santa em virtude da sua origem e missão, residindo aí o seu mistério que só a fé alimentada pela Palavra, pela graça e pela oração pode acolher, sentir e viver. Prefigurada desde as origens, gradual e maravilhosamente preparada ao longo da história, instituída por Cristo, publicamente manifestada no Pentecostes, ela foi por Cristo, e em Seu nome, enviada a todas as nações para de todas fazer discípulos, expondo e atualizando o mistério do amor de Deus pelos homens. Até que seja consumada no fim dos tempos (cf. LG2), ela avança no cumprimento da tarefa que lhe foi confiada, com humildade e confiança. Com êxitos e fracassos, com mais ou menos fidelidade, santa e pecadora, ela sente-se a caminho, sempre em renovação e a refontalizar a sua missão com a garantia da presença de Cristo que a enriquece com os dons do Seu Espírito que a dinamiza e purifica quando ela se desvia da rota e se esquece do para quê da sua existência. Se assim não fosse, se fosse só humana, há muito teria acabado. Dois mil anos de história duma instituição, com gente de todas as raças e cores, culturas e saberes, ideologias e ambições, línguas e feitios, e das mais variadas regiões do planeta, da maneira que todos somos tão frágeis e mesquinhos, há muito que ela teria acabado. Se ela atravessa hoje momentos de dor, revigorar-se-á no seu verdadeiro caminho, nessa fidelidade à aliança selada com o Sangue de Cristo. A sua lei é o mandamento novo, o mandamento do Amor. É seu dever amar e ensinar a amar como o próprio Cristo nos amou e ser sal da terra e luz do mundo constituindo para todos “o mais forte gérmen de unidade, esperança e salvação”.
Infelizmente, o abuso de menores é uma chaga social transversal a todas as sociedades, em todas as culturas, por todo o mundo. Os estudos feitos revelam que estes abusos são sobretudo cometidos pelos pais, os parentes, os maridos de esposas-meninas, os treinadores e os educadores. O presumível responsável pelo agravo sofrido por um menor é, em 73,7% dos casos, um progenitor: a mãe em 44,2%, o pai em 29,5%, um parente em 3,3%, um amigo em 3,2%, um conhecido em 3%, um professor em 2,5%, um estranho adulto em 2,2%. Mas é evidente que a universalidade de tal desgraça não diminui “a sua monstruosidade dentro da Igreja”, como afirmou o Papa Francisco, em 24 de fevereiro passado, no seu discurso de encerramento do Encontro sobre a proteção de menores na Igreja. Antes pelo contrário: “A desumanidade do fenómeno, a nível mundial, torna-se ainda mais grave e escandalosa na Igreja, porque está em contraste com a sua autoridade moral e a sua credibilidade ética”. E diz o Papa, “Quero repetir aqui claramente: ainda que na Igreja se constatasse um único caso de abuso – o que em si já constitui uma monstruosidade –, tratar-se-á dele com a máxima seriedade”, pois, “na ira justificada das pessoas, a Igreja vê o reflexo da ira de Deus, traído e esbofeteado por estes consagrados desonestos. O eco do grito silencioso dos menores, que, em vez de encontrar neles paternidade e guias espirituais, acharam algozes, fará abalar os corações anestesiados pela hipocrisia e o poder. Temos o dever de ouvir atentamente este sufocado grito silencioso”. E acrescenta: “Com humildade e coragem, devemos reconhecer que estamos perante o mistério do mal, que se encarniça contra os mais frágeis, porque são imagem de Jesus. É por isso que atualmente cresceu na Igreja a consciência do dever que tem de procurar não só conter os gravíssimos abusos com medidas disciplinares e processos civis e canónicos, mas também enfrentar decididamente o fenómeno dentro e fora da Igreja”. Esta calamidade atinge o centro da missão da Igreja que é “anunciar o Evangelho aos pequeninos e protegê-los dos lobos vorazes”. Tais ofensas “são sempre a consequência do abuso de poder, a exploração duma posição de inferioridade do indefeso abusado que permite a manipulação da sua consciência e da sua fragilidade psicológica e física. O abuso de poder está presente também nas outras formas de abusos de que são vítimas quase oitenta e cinco milhões de crianças, no esquecimento geral: as crianças-soldado, os menores prostituídos, as crianças desnutridas, as crianças raptadas e frequentemente vítimas do monstruoso comércio de órgãos humanos, ou então transformadas em escravos, as crianças vítimas das guerras, as crianças refugiadas, as crianças abortadas, etc.” E mais acentua o Papa: “assim como devemos tomar todas as medidas práticas que o bom senso, as ciências e a sociedade nos oferecem, assim também não devemos perder de vista esta realidade e tomar as medidas espirituais que o próprio Senhor nos ensina: humilhação, acusação de nós mesmos, oração, penitência. É o único modo de vencer o espírito do mal. Foi assim que Jesus o venceu”. E faz um apelo: “Faço um sentido apelo à luta total contra os abusos de menores, tanto no campo sexual como noutros campos, por parte de todas as autoridades e dos indivíduos, porque se trata de crimes abomináveis que devem ser cancelados da face da terra: pedem isto mesmo as muitas vítimas escondidas nas famílias e em vários setores das nossas sociedades”.
As estatísticas oferecidas pela Oms, Unicef, Interpol, Europol e outras instâncias nacionais e internacionais, pecam por defeito, muitos casos não são denunciados, sobretudo os cometidos no seio das famílias. Calcula-se que sejam de 15 a 20% as vítimas de pedofilia na nossa sociedade. A nível global, em 2017, a Oms estimou num milhar de milhão os menores com idade entre 2 e 17 anos que sofreram violências ou negligências físicas, emotivas ou sexuais. Segundo algumas estimativas Unicef de 2014, estes abusos envolveriam mais de 120 milhões de meninas. Em 2017, a mesma organização Onu referiu que, em 38 países do mundo de baixo e médio rédito per capita, quase 17 milhões de mulheres adultas admitiram ter tido uma relação sexual forçada durante a infância. Na Europa, em 2013, a Oms estimou mais de 18 milhões de abusos. Segundo a Unicef, em 2017, em 28 países europeus, cerca de 2,5 milhões de mulheres jovens referiram ter sofrido abusos sexuais, antes dos 15 anos. O Relatório da Interpol sobre a exploração sexual de menores, em 2017, identifica 14.289 vítimas em 54 países europeus. Na Índia, na década 2001-2011, o Centro Asiático de Direitos Humanos registou um total de 48.338 casos de estupros de menores, com um aumento de 336%. Segundo um estudo à escala nacional na África do Sul, 784.967 jovens entre 15 e 17 anos já sofreram abusos sexuais, sendo as vítimas predominantemente do sexo masculino. Na Austrália, segundo os dados divulgados em fevereiro de 2018 e relativos aos anos 2015-2017, um milhão e meio de mulheres referiu ter sofrido abusos físicos e/ou sexuais antes dos 15 anos, e 992.000 homens referiram ter sofrido este abuso quando eram menores. Sabe-se que a difusão da pornografia através da internet contribui para aumentar estes abusos, pois, segundo os dados de 2017, de 7 em 7 minutos uma página da web envia imagens de crianças abusadas sexualmente. Os dados de 2017 da Organização Mundial de Turismo, dizem-nos que três milhões de pessoas no mundo viagem para ter relações sexuais com um menor. As mulheres que viajam para países em vias de desenvolvimento à procura de sexo pago com menores, representam, no total, 10% dos turistas sexuais no mundo. (Aconselho a ler o discurso do Papa Francisco, em 24 de fevereiro, no final do Encontro com os Presidentes das Conferências Episcopais, de onde tirei alguns destes dados).

Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 22-03-2019.




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