PARÓQUIAS DE NISA
Domingo, 18 de fevereiro de 2018
I Domingo da Quaresma
DOMINGO
I DA QUARESMA
Roxo – Ofício próprio (Semana I do
Saltério).
+ Missa própria, Credo, pf. próprio.
Toma-se o Lecionário dominical (Ano B).
L 1 Gen 9, 8-15; Sal 24 (25), 4bc-5ab. 6-7bc. 8-9
L 2 1 Pedro 3, 18-22
Ev Mc 1, 12-15
* Proibidas todas as Missas de defuntos, mesmo a exequial.
*Lembrar-lhes também a finalidade das Renúncias Quaresmais deste ano, proposta pelo Bispo da Diocese.
+ Missa própria, Credo, pf. próprio.
Toma-se o Lecionário dominical (Ano B).
L 1 Gen 9, 8-15; Sal 24 (25), 4bc-5ab. 6-7bc. 8-9
L 2 1 Pedro 3, 18-22
Ev Mc 1, 12-15
* Proibidas todas as Missas de defuntos, mesmo a exequial.
*Lembrar-lhes também a finalidade das Renúncias Quaresmais deste ano, proposta pelo Bispo da Diocese.
MISSA
ANTÍFONA DE ENTRADA Salmo
90, 15-16
Quando me invocar, hei de atendê-lo; hei de libertá-lo
e dar-lhe glória. Favorecê-lo-ei com longa vida
e lhe mostrarei a minha salvação.
Não se diz o Glória.
ORAÇÃO
Concedei-nos, Deus omnipotente,
que, pela observância quaresmal,
alcancemos maior compreensão do mistério de Cristo
e a nossa vida seja dele um digno testemunho.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I Gen 9, 8-15
A aliança de Deus com Noé, salvo das águas do dilúvio
Leitura do Livro do Génesis
Quando me invocar, hei de atendê-lo; hei de libertá-lo
e dar-lhe glória. Favorecê-lo-ei com longa vida
e lhe mostrarei a minha salvação.
Não se diz o Glória.
ORAÇÃO
Concedei-nos, Deus omnipotente,
que, pela observância quaresmal,
alcancemos maior compreensão do mistério de Cristo
e a nossa vida seja dele um digno testemunho.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I Gen 9, 8-15
A aliança de Deus com Noé, salvo das águas do dilúvio
Leitura do Livro do Génesis
Deus disse a Noé e a seus filhos: «Estabelecerei a minha aliança convosco, com a vossa descendência e com todos os seres vivos que vos acompanham: as aves, os animais domésticos, os animais selvagens que estão convosco, todos quantos saíram da arca e agora vivem na terra. Estabelecerei convosco a minha aliança: de hoje em diante nenhuma criatura será exterminada pelas águas do dilúvio e nunca mais um dilúvio devastará a terra». Deus disse ainda: «Este é o sinal da aliança que estabeleço convosco e com todos os animais que vivem entre vós, por todas as gerações futuras: farei aparecer o meu arco sobre as nuvens, que será um sinal da aliança entre Mim e a terra. Sempre que Eu cobrir a terra de nuvens e aparecer nas nuvens o arco, recordarei a minha aliança convosco e com todos os seres vivos e nunca mais as águas formarão um dilúvio para destruir todas as criaturas».
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Salmo 24 (25), 4bc-5ab. 6-7bc. 8-9 (R. cf. 10)
Refrão: Todos os vossos caminhos, Senhor,
são amor e verdade
para os que são fiéis à vossa aliança. Repete-se
Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos,
ensinai-me as vossas veredas.
Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me,
porque Vós sois Deus, meu Salvador. Refrão
Lembrai-Vos, Senhor, das vossas misericórdias
e das vossas graças que são eternas.
Lembrai-Vos de mim segundo a vossa clemência,
por causa da vossa bondade, Senhor. Refrão
O Senhor é bom e reto,
ensina o caminho aos pecadores.
Orienta os humildes na justiça
e dá-lhes a conhecer a sua aliança. Refrão
LEITURA II 1 Pedro 3, 18-22
«O Batismo que agora vos salva»
Leitura da Primeira Epístola de São Pedro
Caríssimos: Cristo morreu uma só vez pelos pecados – o Justo pelos injustos – para vos conduzir a Deus. Morreu segundo a carne, mas voltou à vida pelo Espírito. Foi por este Espírito que Ele foi pregar aos espíritos que estavam na prisão da morte e tinham sido outrora rebeldes, quando, nos dias de Noé, Deus esperava com paciência, enquanto se construía a arca, na qual poucas pessoas, oito apenas, se salvaram através da água. Esta água é figura do Batismo que agora vos salva, que não é uma purificação da imundície corporal, mas o compromisso para com Deus de uma boa consciência; ele vos salva pela ressurreição de Jesus Cristo, que subiu ao Céu e está à direita de Deus, tendo sob o seu domínio os Anjos, as Dominações e as Potestades.
Palavra do Senhor.
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO Mt 4, 4b
Refrão: Glória a Vós, Jesus Cristo, Senhor. Repete-se
Nem só de pão vive o homem,
mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. Refrão
EVANGELHO Mc 1, 12-15
«Era tentado por Satanás e os Anjos serviam-n’O»
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo, o Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto. Jesus esteve no deserto quarenta dias e era tentado por Satanás. Vivia com os animais selvagens e os Anjos serviam-n’O. Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a pregar o Evangelho, dizendo: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».
Palavra da salvação.
Diz-se o Credo.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Fazei que a nossa vida, Senhor,
corresponda à oferta das nossas mãos,
com a qual damos início à celebração
do tempo santo da Quaresma.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
PREFÁCIO As tentações do Senhor
V. O Senhor esteja convosco.
R. Ele está no meio de nós.
V. Corações ao alto.
R. O nosso coração está em Deus.
V. Dêmos graças ao Senhor nosso Deus.
R. É nosso dever, é nossa salvação.
Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente,
é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação
dar-Vos graças, sempre e em toda a parte,
por Cristo nosso Senhor.
Jejuando durante quarenta dias,
Ele santificou a observância quaresmal
e, triunfando das insídias da antiga serpente,
ensinou-nos a vencer as tentações do pecado,
para que, celebrando dignamente o mistério pascal,
passemos um dia à Páscoa eterna.
Por isso, com os Anjos e os Santos,
proclamamos a vossa glória,
cantando numa só voz:
Santo, Santo, Santo.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO Mt 4, 4
Nem só de pão vive o homem,
mas de toda a palavra que vem da boca de Deus.
Ou Salmo 90, 4
O Senhor te cobrirá com as suas penas,
debaixo das suas asas encontrarás abrigo.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Saciados com o pão do Céu,
que alimenta a fé, confirma a esperança e fortalece a caridade,
nós Vos pedimos, Senhor:
ensinai-nos a ter fome de Cristo, o verdadeiro pão da vida,
e a alimentar-nos de toda a palavra que da vossa boca nos vem.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
«Nunca serás tão velho que não possas projetar um novo objetivo ou incapaz de sonhar um sonho novo»
CLIVE STAPLES LEWIS
MÉTODO DE ORAÇÃO
BÍBLICA
3.Leitura: Lê, respeita, situa o que lês
- Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste
2.
Meditação: Interioriza, dialoga, atualiza o que leste
- Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua vida”
3. Oração: Louva
o Senhor, suplica, escuta
- Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.
LEITURAS: Gen
9, 8-15: A primeira
leitura dos domingos da Quaresma não está em ligação com a do Evangelho, como
nos domingos do Tempo Comum. Refere-se à história da salvação, mostrando como
Deus encaminhou os passos da humanidade, desde os tempos mais antigos até à
realização da promessa da nova Aliança em Jesus Cristo. Este ano, começamos com
Noé. O dilúvio termina com uma aliança, que anuncia desde logo a aliança estabelecida
entre Deus e os homens na Morte e Ressurreição de Cristo. Por outro lado, no
próprio dilúvio Deus quis significar a regeneração espiritual do batismo, pois
nele, como no dilúvio, a água se tornou, simbolicamente, “fim de vícios e
origem de virtudes” (liturgia batismal).
1 Pedro 3, 18-22: S. Pedro faz nesta leitura o comentário ao dilúvio, estabelecendo a comparação entre este e o batismo. O batismo é hoje o verdadeiro dilúvio, que destrói o pecado e faz nascer uma nova humanidade em Cristo. Assim, a história da salvação chega a todas as gerações e todas elas são arrastadas na sua corrente de graça.
Mc 1, 12-15: “O Senhor Jesus Cristo era tentado
pelo demónio no deserto. Mas em Cristo também tu eras tentado, porque Ele tomou
sobre Si a tua condição humana, para te dar a salvação; para Si tomou as tuas
tentações, para te dar a sua vitória” (S. Agostinho). A vitória de Jesus sobre Satanás
proclamada neste primeiro Domingo da Quaresma anuncia desde já o triunfo pascal
da sua Morte e Ressurreição, e oferece-nos, ao mesmo tempo, a participação
nessa sua vitória sobre o pecado e a morte.
ORAÇÃO: Senhor, concede-nos que amemos
sempre a verdade.
AGENDA
09.30 horas: Missa em Amieira do Tejo
10.45 horas: Missa em Tolosa
11.00 horas: Missa em Arez
11.00 horas: Missa em Nisa
12.00 horas: Missa em Gáfete
12.30 horas: Missa em Falagueira
15.30 horas: Missa em Cacheiro
15.30 horas: Missa em Arneiro
15.30 horas: Missa e funeral em Montalvão
PALAVRA
DO PASTOR
I.
RECORDAR
PARA VIVER E TRANSMITIR
Começamos
a viver, com alegria e saudável determinação, a Quaresma. É um tempo exigente
que nos confronta com as exigências do nosso Batismo e nos prepara para a
Páscoa, a Festa por excelência dos cristãos. Neste tempo da Quaresma,
reconhecemos a nossa fragilidade mas reafirmamos também a nossa confiança em
Deus rico em misericórdia, pedimos-Lhe o perdão e a Sua Graça e entramos para a
Festa que Ele faz connosco. Faz festa porque regressamos, porque queremos ser
livres e caminhar! É a conversão de coração que, na Quaresma, tem na oração, na
esmola e no jejum as suas tradicionais e mais eficazes ferramentas para o
caminho de identificação com Cristo. Mas convém ter presente que o bom cristão
não é um mero cumpridor de preceitos. É o que cumpre, sim, mas cumpre para se
converter. Cumprir por cumprir não faz sentido, é masoquismo. Jesus até chama a
isso outra coisa, chama-lhe hipocrisia! Podemos, de facto, ser exímios
cumpridores e péssimos cristãos. Cristo não quer admiradores, não quer meros cumpridores,
quer discípulos, convertidos e missionários que O conheçam, vivam n’Ele, com
Ele, por Ele e O anunciem com alegria e esperança.
Sei
que muitos as vivem e, de forma bela e pedagógica, as ensinam a viver em
família. Mesmo assim, e a completar a Mensagem para a Quaresma aqui publicada
na Quarta-Feira de Cinzas, vou recordar as normas sobre o jejum e a abstinência
que a Conferência Episcopal, de acordo com o Código de Direito Canónico (cân.
1253), estabeleceu, em julho de 1984, para as Dioceses portuguesas:
“OS TEMPOS PENITENCIAIS
1.Na
pedagogia da Igreja, há tempos em que os cristãos são especialmente convidados
à prática da penitência: a Quaresma e todas as sextas-feiras do ano. A
penitência é uma expressão muito significativa da união dos cristãos ao
mistério da Cruz de Cristo. Por isso, a Quaresma, enquanto primeiro tempo da
celebração anual da Páscoa, e a sexta-feira, enquanto dia da morte do Senhor,
sugerem naturalmente a prática da penitência.
JEJUM E ABSTINÊNCIA
2.O
jejum é a forma de penitência que consiste na privação de alimentos. Na
disciplina tradicional da Igreja, a concretização do jejum fazia-se limitado a
alimentação diária a uma refeição, embora não se excluísse que se pudesse tomar
alimentos ligeiros às horas das outras refeições.
Ainda
que convenha manter-se esta forma tradicional de jejuar, contudo os fiéis
poderão cumprir o preceito do jejum privando-se de uma quantidade ou qualidade
de alimentos ou bebidas que constituam verdadeira privação ou penitência.
A
abstinência, por sua vez, consiste na escolha de uma alimentação simples e
pobre. A sua concretização na disciplina tradicional da Igreja era a abstenção
de carne. Será muito aconselhável manter esta forma de abstinência,
particularmente nas sextas-feiras da Quaresma. Mas poderá ser substituída pela
privação de outros alimentos e bebidas, sobretudo mais requintados e
dispendiosos ou da especial preferência de cada um. Contudo, devido à evolução
das condições sociais e do género de alimentação, aquela concretização pode não
bastar para praticar a abstinência como ato penitencial. Lembrem-se os fiéis de
que o essencial do espírito de abstinência é o que dizemos acima, ou seja, a
escolha de uma alimentação simples e pobre e a renúncia ao luxo e ao
esbanjamento. Só assim a abstinência será privação e se revestirá de caráter
penitencial.
DETERMINAÇÕES SOBRE JEJUM E
ABSTINÊNCIA
O
Jejum e a abstinência são obrigatórios em Quarta-Feira de Cinzas e em
Sexta-Feira Santa.
A
abstinência é obrigatória, no decurso do ano, em todas as sextas-feiras que não
coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades. Esta forma de
penitência reveste-se, no entanto, de significado especial nas sextas-feiras da
Quaresma.
O
preceito de abstinência obriga os fiéis a partir dos 14 anos completos. O
preceito do jejum obriga os fiéis que tenham feito 18 anos até terem completado
os 59. Aos que tiverem menos de 14 anos, deverão os pastores de almas e os pais
procurar atentamente formá-los no verdadeiro sentido da penitência,
sugerindo-lhes outros modos de a exprimir.
As
presentes determinações sobre o jejum e a abstinência apenas se aplicam em
condições normais de saúde, estando os doentes, por conseguinte, dispensados da
sua observância.
Nas
sextas-feiras poderão os fiéis cumprir o preceito penitencial, quer fazendo
penitência como acima ficou dito, quer escolhendo formas de penitência
reconhecidas pela tradição, tais como a oração e a esmola, ou mesmo optar por
outras formas, de escolha pessoal, como, por exemplo, privar-se de fumar, de
algum espetáculo, etc.
No
que respeita à oração, poderão cumprir o preceito penitencial através de
exercícios de oração mais prolongados e generosos, tais como: o exercício da
Via-Sacra, a recitação do Rosário, a recitação de Laudes e Vésperas da Liturgia
das Horas, a participação na Santa Eucaristia, uma leitura prolongada da
Sagrada Escritura.
No
que respeita à esmola, poderão cumprir o preceito penitencial através da
partilha de bens materiais. Essa partilha deve ser proporcional às posses de
cada um e deve significar uma verdadeira renúncia a algo do que se tem ou a
gastos dispensáveis ou supérfluos.
Os
cristãos que escolherem como forma de cumprimento do preceito da penitência uma
participação pecuniária orientarão o seu contributo penitencial para uma
finalidade determinada, a indicar pelo Bispo diocesano.
Os
cristãos depositarão o seu contributo penitencial em lugar devidamente
identificado em cada igreja ou capela, ou através da Cúria Diocesana. Na
Quaresma, todavia, em vez desta modalidade ou concomitantemente com ela, o contributo
poderá ser entregue no ofertório da Missa dominical, em dia para o efeito
fixado.
NÃO SE EXCLUEM, COMPLETAM-SE
É aconselhável que, no cumprimento
do preceito penitencial, os cristãos não se limitem a uma só forma de
penitência, mas antes as pratiquem todas, pois o jejum, a oração e a esmola
completam-se mutuamente, em ordem à caridade.”
Antonino Dias
Portalegre, 16-02-2018
II
Mensagem do Bispo D. Antonino para a Quaresma de 2018
QUARESMA 2018: A LÓGICA
DO DOM QUE GERA CONFIANÇA
O centro do Cristianismo católico e da vida da Igreja é a Pessoa e
o Mistério de Jesus Cristo. E o centro da Pessoa e do Mistério de Jesus Cristo
é o seu Mistério pascal. É a Sua encarnação e o dom de Si mesmo pela vida do
mundo. É a Sua morte na Cruz como plenitude da vida entregue por amor. É a
Ressurreição como revelação de que o amor é mais forte do que a própria morte.
Centro da vida de Jesus Cristo, o Mistério pascal de Cristo
mostra-nos o que é dar plenitude à vida: nascer e agradecer quotidianamente o
dom e o valor da vida, comungar a vida dos outros e servi-los particularmente
onde e quando necessitam, esquecermo-nos de nós próprios, unirmo-nos a Deus na
oração filial, acolher sem julgar, deixarmo-nos surpreender pela novidade de
Deus, não temer remar contra a corrente, ser radicalmente pela verdade que
liberta e pela justiça que responsabiliza e ajusta, despojar-se de tudo o que
impede de ajoelhar aos pés de Deus e das necessidades dos outros, deixar cair a
capa da autossuficiência, ser próximo e livre, amar e perdoar mesmo quando
parece impossível e o mundo refuta a motivação. É viver a fidelidade com amor
de oblação mesmo quando nela se vislumbra a Cruz, a solidão.
Todos os anos a Quaresma surge na Igreja como dom e tempo
favorável para, progressivamente, cada um de nós ser mais capaz de viver da
graça e do dom de Deus assumindo no nosso quotidiano o estilo de Jesus Cristo.
É o tempo por excelência de quem se prepara e dá passos para ser batizado na fé
em Jesus Cristo. É o tempo em que os cristãos, já batizados e a viver a história
de todos os dias, são desafiados a reavivar o dom do seu batismo e a
refontalizar a sua fé.
A fé cristã, a nossa fé cristã, tem sempre a marca existencial da
confiança absoluta em Jesus Cristo. A sua identidade envolve-nos, a sua Palavra
cria-nos e recria-nos, os seus gestos modelam a nossa maneira de agir, a sua
oração assume as nossas súplicas e ações de graças e ensina-nos a rezar. A fé
cristã é simultaneamente dom e resposta. É fundamentalmente uma atitude de
confiança em Jesus Cristo e na sua verdade revelada. É uma relação pessoal
vivida num enquadramento comunitário. É uma atitude existencial que envolve
tudo o que somos, fazemos e pensamos. É uma experiência de libertação porque de
caminho e de purificação. Ela envolve a esperança e o amor como dimensões da
sua realização. É histórica e dá sempre origem a um projeto de vida.
A fé tem, de facto, a marca da gratuidade. É da ordem e da lógica
do dom. Não espera recompensa para dar o passo, não exige retribuição para se
comprometer. Ao dom recebido responde sempre com a entrega confiante. É
motivação, confiança, liberdade e compromisso. Nunca obrigação. Não é assim que
a experimentamos!?
Para reavivar o dom do batismo, e, portanto, da fé, a Igreja
aponta-nos, tradicionalmente, neste tempo de Quaresma, três grandes sinais ou
atitudes: a oração, o jejum e a partilha. Não se trata de “mínimos legais” para
um qualquer acesso a um mundo desejado. São antes a oportunidade e ocasião da
redescoberta da fé. Reza-se para ouvir Deus e Lhe falar, para descobrirmos que
não nos faz bem a loucura de querer ocupar o lugar que só Deus pode ter.
Jejua-se para percebermos que há muitas coisas com as quais não podemos nunca
confundir-nos ou até misturar-nos. Partilha-se para descobrirmos e saborearmos
o gosto de nos sabermos amados e acompanhados em cada passo da vida.
Há tanto aborrecimento por falta de objetivos! Há tanto luxo por
falta de disponibilidade! Há tanta solidão por falta de olhar para fora de si
mesmo! E, neste caminho, a Palavra de Deus, a celebração do perdão e da
reconciliação, a participação na Eucaristia mostram-nos a paixão de Cristo por
nosso amor e surpreendem-nos com a conversão. O Santo Padre, na esperança de
que “o nosso coração volte a inflamar-se de fé, esperança e amor”, convida-nos
também a “empreender com ardor o caminho da Quaresma apoiados na esmola, no
jejum e na oração”, recorda-nos a iniciativa das “24 horas para o Senhor” que
este ano decorre no dia 9 e 10 de março, e pede-nos que, em cada Diocese, pelo
menos uma igreja fique aberta durante 24 horas consecutivas, oferecendo a
possibilidade de adoração e da confissão sacramental.
Nesta Quaresma poderíamos, por isso, eleger como grande propósito
da nossa caminhada a redescoberta e o reavivar da nossa fé cristã. Cristãos de
prática dita regular, comprometidos em Comunidades e em Movimentos, ou Cristãos
mais ao longe, sem regularidade de presença e, sobretudo, sem serenidade de
pertença, poderíamos viver este tempo como um regresso à casa em que fomos
batizados.
Nos últimos tempos muita coisa mudou, é verdade. A nossa fé andou
por dentro e por fora das mudanças. E a grande pergunta é se as mudanças a
enriqueceram ou a empobreceram. Não nos sentimos, muitas vezes, numa paisagem e
numa sociedade de tipo agnóstico? Não nos damos conta de que esse agnosticismo
pode perpassar ou perpassa já a nossa fé cristã? As nossas incertezas, as
nossas desconfianças, as nossas dúvidas, o estilhaçar das nossas seguranças, as
dificuldades da nossa comunhão, a nossa exclusiva autoconfiança, a
representação que fazemos de Deus, as resistências ao sentido de pertença à
Igreja, a nossa vivência dos sacramentos por tradição, as eucaristias
distraídas, o sentido apenas abstrato da nossa vocação à santidade, as nossas
dificuldades em rezar, dificuldades silenciosamente vividas, vividas a par dos
ritos cristãos mas dando sempre corpo às nossas escolhas… tudo isto, e o mais
que quisermos acrescentar, não nos deixa aquela sensação de que o agnosticismo
também ataca fortemente o coração da nossa própria fé cristã? E nos tira força,
e nos faz esmorecer na alegria de sermos cristãos e no entusiasmo da primeira
hora?
Tempo de descobrir e redescobrir Jesus Cristo, de reavivar a fé,
de refontalizar as nossas vidas, a Quaresma é tempo de descobrir e redescobrir
a essência do Cristianismo (cf. Elmar Salmann). Crês em Jesus Cristo!? Creio!
Firmemente!
Quaresma é, por isso, o tempo favorável da abertura do nosso
coração a Deus: uma oração mais confiante, uma simplicidade mais natural, uma
partilha mais alegre, a ensinar e a viver também em família. Deus espera por
nós! Os outros esperam por nós. E nós temos necessidade de reavivar a fé para
não perdermos o sentido da vida e da nossa integração na Igreja.
Destinamos 75% da Renúncia Quaresmal deste ano para a construção
de um Centro de Saúde na Arquidiocese de Kananga, Província do Kasai Central na
República Democrática do Congo. O objetivo deste Centro de Saúde é, sobretudo,
socorrer as crianças roubadas às famílias e usadas como soldados ou que
perderam os seus pais na guerra. Temos na nossa Diocese de Portalegre-Castelo
Branco um sacerdote desse país a trabalhar na zona pastoral de Nisa. Aí, nesse
país, “as pessoas que acreditam demonstram uma grande fé no Senhor da vida” a
quem gritam “na dor e na angústia”, mas as atrocidades, os massacres, a
instabilidade e o sofrimento são enormes, agravados ainda com as carências de
todo o tipo. O próprio Papa Francisco, tendo em mente a República Democrática
do Congo e o Sudão do Sul, convocou uma jornada mundial de oração e jejum pela
paz, a 23 de fevereiro, primeira sexta-feira da Quaresma, à qual não devemos
ficar indiferentes. Os outros 25% da Renúncia Quaresmal destinam-se ao Fundo
Social Diocesano gerido pela Cáritas, um Fundo que prestou todo o seu apoio à
reconstrução, e a outros gastos inerentes, de 14 casas de primeira habitação
ardidas nos incêndios do verão passado na nossa Diocese, na zona do Pinhal. A
todo o momento surgem novas necessidades na Diocese.
Antonino Dias, Bispo Diocesano
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