PARÓQUIAS DE NISA
Sexta, 04 de março de 2022
Sexta-feira depois das Cinzas
LITURGIA
Sexta-feira
depois das Cinzas
Roxo – Ofício da féria.
Missa da féria, pf. da Quaresma.
L1: Is 58, 1-9a; Sal 50 (51), 3-4. 5.6a. 18-19
Ev: Mt 9, 14-15
* Pode celebrar-se a memória de S. Casimiro, como se indica na p. 33, n. 9.
MISSA
ANTÍFONA
DE ENTRADA Salmo 29, 11
O Senhor ouviu-me e teve compaixão de mim.
O Senhor é o meu auxílio.
ORAÇÃO COLECTA
Pela vossa bondade, Senhor, mostrai-Vos favorável às nossas obras de
penitência, a fim de podermos realizar com espírito sincero a observância
quaresmal que nos impomos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é
Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I Is 58, 1-9a
«Será este o jejum que Me agrada»
Leitura do Livro
de Isaías
Eis o que diz o Senhor Deus: «Clama em altos brados sem cessar, ergue a tua voz
como trombeta. Faz ver ao meu povo as suas faltas e à casa de Jacob os seus pecados.
Todos os dias Me procuram e desejam conhecer os meus caminhos, como se fosse um
povo que pratica a justiça, sem nunca ter abandonado a lei do seu Deus.
Pedem-Me sentenças justas, querem que Deus esteja perto de si e exclamam: ‘De
que nos serve jejuar, se não Vos importais com isso? De que nos serve fazer
penitência, se não prestais atenção?’ Porque nos dias de jejum correis para os
vossos negócios e oprimis todos os vossos servos. Jejuais, sim, mas no meio de
contendas e discussões e dando punhadas sem piedade. Não são jejuns como os que
fazeis agora que farão ouvir no alto a vossa voz. Será este o jejum que Me
agrada no dia em que o homem se mortifica? Curvar a cabeça como um junco,
deitar-se sobre saco e cinza: é a isto que chamais jejum e dia agradável ao
Senhor? O jejum que Me agrada não será antes este: quebrar as cadeias injustas,
desatar os laços da servidão, pôr em liberdade os oprimidos, destruir todos os
jugos? Não será repartir o teu pão com o faminto, dar pousada aos pobres sem
abrigo, levar roupa aos que não têm que vestir e não voltar as costas ao teu
semelhante? Então a tua luz despontará como a aurora e as tuas feridas não
tardarão a sarar. Preceder-te-á a tua justiça e seguir-te-á a glória do Senhor.
Então, se chamares, o Senhor responderá; se O invocares, dir-te-á: ‘Estou
aqui’».
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Salmo 50 (51), 3-4.5-6a.18-19 (R. 19a)
Refrão: Não desprezeis, Senhor,
o nosso coração humilhado e contrito. Repete-se
Compadecei-Vos de mim, ó Deus, pela vossa bondade,
pela vossa grande misericórdia
apagai os meus pecados.
Lavai-me de toda a iniquidade
e purificai-me de todas as culpas. Refrão
Porque eu reconheço os meus pecados
e tenho sempre diante de mim as minhas culpas.
Pequei, Senhor, contra Vós
e fiz o mal diante dos vossos olhos. Refrão
Não é do sacrifício que Vos agradais
e, se eu oferecer um holocausto, não o aceitareis.
Sacrifício agradável a Deus é o espírito arrependido:
não desprezareis, Senhor,
um espírito humilhado e contrito. Refrão
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO cf. Am 5,14
Refrão: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai. Repete-se
Buscai o bem e não o mal, para que vivais,
e o Senhor estará convosco. Refrão
EVANGELHO Mt 9, 14-15
«Quando o esposo lhes for tirado, jejuarão»
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, os discípulos de João Baptista foram ter com Jesus e
perguntaram-Lhe: «Por que motivo nós e os fariseus jejuamos e os teus
discípulos não jejuam?» Jesus respondeu-lhes: «Podem os companheiros do esposo
ficar de luto, enquanto o esposo estiver com eles? Dias virão em que o esposo
lhes será tirado e nessa altura hão de jejuar».
Palavra da salvação.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
O sacrifício que Vos oferecemos, Senhor, neste tempo santo da Quaresma nos
torne agradáveis a vossos olhos e mais diligentes na virtude da temperança. Por
Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do
Espírito Santo.
Prefácio da Quaresma
ANTÍFONA DA COMUNHÃO Salmo 24, 4
Mostrai-nos, Senhor, os vossos caminhos,
ensinai-nos as vossas veredas.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Nós Vos pedimos, Deus omnipotente, que a participação nestes santos mistérios
nos purifique dos nossos pecados e nos sirva de remédio para o corpo e para a
alma. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na
unidade do Espírito Santo.
MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA
1. Leitura: - Lê, respeita, situa o que lês.
- Detém-te no conteúdo de fé e da
passagem que leste
2. Meditação: - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.
- Deixa que a passagem da Palavra de
Deus que leste “leia a tua vida”
3. Oração: - Louva o Senhor, suplica, escuta.
- Dirige-te a Deus que te falou através
da Sua Palavra.
LEITURAS: Is 58, 1-9a: O
jejum é forma tradicional da penitência quaresmal. Embora não necessariamente
nos moldes antigos, ele conserva sempre a sua oportunidade. Mas o jejum não se
substitui a outras obrigações, à frente das quais estão as da justiça e as da
caridade. O jejum, como outras formas de abstinência, são sinais da libertação
do nosso espírito, para melhor servirmos a Deus e ao próximo; mas a maior de
todas as virtudes é a caridade.
Mt 9, 14-15: Os
dias em que o esposo será tirado é uma alusão à morte de Jesus. Hoje, esses
dias – os dois primeiros do Tríduo Pascal – serão os dias de jejum por
excelência da comunidade cristã. Ora, a Quaresma prepara para a celebração do
Tríduo Pascal. É neste espírito de participação na paixão do Senhor que
jejuamos na Quaresma, na forma e na medida em que o acharmos oportuno e a
generosidade do nosso coração o inspirar, para morrermos com Ele e com Ele
ressuscitarmos.
AGENDA DO DIA:
11.00
horas: Funeral em Alpalhão
18,00
horas: Missa em Alpalhão
18,00
horas: Missa em Nisa – Espírito Santo
IGREJAS DA ZONA
PASTORAL DE NISA:
Capela do Espírito Santo - Montalvão
A VOZ DO PASTOR
QUARESMA 2022
A HORA DA FERIDA É A HORA DA GRAÇA
Pai, nas vossas mãos entrego o Meu Espírito, é uma das mais fortes palavras de Cristo na cruz. Todos os anos nos é oferecido um tempo para que, com o coração em construção, melhor nos preparemos para a Páscoa. É a Quaresma, tempo favorável porque tem ritmo batismal. Tempo de graça porque é dom do Espírito. Tempo de purificação porque ocasião de reconstrução e fortalecimento da nossa relação com Deus, com os outros, com a vida, connosco próprios.
A Páscoa, mistério da morte e ressurreição de Cristo, não se resume ao final feliz de uma história dramática. E se é verdade que existem feridas que dão origem a vidas completamente novas, insuspeitadamente novas e não apenas cicatrizadas, então a Páscoa é a evidência subversiva da graça de Deus que se entranha na humanidade.
No meio de uma humanidade dilacerada por solidões, incompreensões, invejas, divisões e discórdias, feridas diversas, reconhecem-se os sinais da graça e da misericórdia de Deus quando a dureza do coração humano se dobra e se prepara para a reconciliação e para a alegria. Reconhecem-se os sinais da graça quando, movidos os corações por ação do Espírito Santo, os inimigos procuram entender-se, os adversários se dão as mãos, os povos se encontram na paz e na concórdia. Reconhece-se a evidência subversiva da graça quando o desejo da paz põe fim à guerra, o amor vence o ódio e a vingança dá lugar ao perdão (Cf. Oração Eucarística da Reconciliação II).
Não há Páscoa sem Cristo e não é imaginável pensar Cristo sem o mistério pascal. É a vida de Cristo agarrada à Cruz e superando-a, que é a grande escola da humanidade subvertida por uma ferida de amor. Em Cristo, a hora da ferida e a hora da graça coincidem. É a desproporção do amor paciente, bondoso e partilhado, sem arrogância e sem soberba, sem irritação e sem ressentimento ou rancor. É o amor justo que se regozija com a verdade, que tudo desculpa e tudo crê, que tudo espera e tudo suporta (cf. 1Cor 13, 4 s). A ferida não é para ficar a chorar, é para abrir o coração e reaprender a confiar. E, assim, fazem-se novas todas as coisas. A Páscoa não é apenas uma experiência fugaz, um momento. É dom de Deus. E tão forte que se acolhe como vocação; tão profundo que se erige como identidade; tão inteiro que unifica toda a vida. Páscoa é um modo de ser. O de Cristo. O dos cristãos.
A Quaresma surge precisamente porque, em Igreja e seguindo Cristo, é necessário aprender o seu modo pascal de ser e de viver. Como poderíamos saborear e viver em pleno a sua Páscoa se não nos exercitássemos no seu modo de amar e de se dar!?
Vivemos, por muitas razões e vicissitudes históricas, num mundo ferido. A Igreja, a nível local e universal, defronta-se com imensos desafios, questionamentos e fraquezas. O Sínodo é um desafio, como o são as Jornadas Mundiais da Juventude, mas a Igreja confronta-se também com a sua história e a sua credibilidade pastoral e evangélica. A pandemia feriu o tecido social e afetou pessoas e instituições. A mesma pandemia alterou o acesso aos cuidados de saúde de tantos pacientes, desvaneceu projetos económicos familiares, empobreceu agregados familiares, deixou muitos no desemprego, levou à rutura de imensas possibilidades. A insegurança e a incerteza, aliadas ao receio, alteraram os estilos de vida. As desigualdades sociais e continentais aumentaram. A dimensão relacional das nossas comunidades ressentiu-se. Os ritmos da socialização e até do luto foram alterados. Enfim, e sem ser exaustivo, o mundo, próximo e longínquo, desorganizou-se. Além da dor da ferida, pessoas e comunidades cederam à tentação da comiseração e da lamentação que fez emergir outras dores e abrir outras feridas. São feridas de todos nós.
Na Cruz de Cristo, a hora da maior dor foi também a hora do maior amor: “A minha vida sou Eu que a dou” (Jo 10, 18). O aparente abandono de Deus naquele momento revelou-se, sim, o abandono de Jesus nas mãos de Deus. Cristo faz da sua morte um ato de confiança e de abandono absolutos nas mãos de um Deus em quem se pode confiar: “Tudo vem de Ti e não oferecemos senão o que temos recebido da tua mão” (1 Cro 29,14).
É assim que a confiança se inscreve na história dos homens: “Pai, em Tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23, 46). Na palavra de Cristo que Se entrega totalmente nas mãos do Pai podemos perceber o dinamismo de vida e de amor que está inscrito como confiança no mais íntimo da autêntica existência humana. É o amor mais radical porque diz que não nos bastamos a nós próprios e nos coloca em despojamento. Então, a ferida tornou-se o lugar insuspeitado da revelação de Deus e do seu amor. A ferida deu lugar à leitura retrospetiva da vida. E purificou o projeto seguinte. A ferida tornou-se a lente que permitiu ver a vida com maior verdade. A ferida revelou a sua autêntica dimensão e dispensou vaidades. A ferida, mais do que apenas uma cicatrização indolor e estética, esperou e ansiou a cura. E isso é caminho.
Caminho é também a Quaresma que, preparando a Páscoa, pode ser bem a experiência de abrirmos e expormos as nossas feridas a Deus e, assim, nos aproximarmos das feridas dos outros e do mundo. É legítimo imaginar um mundo sem feridas, mas é também uma ilusão pressupor uma vida e uma história sem feridas. Se percebermos melhor as nossas feridas estaremos mais preparados para valer aos outros nas suas. Olhando para as feridas existentes à nossa volta, a Renúncia Quaresmal deste ano voltará a ser partilhada com a Arquidiocese de Kananga, República Democrática do Congo, nos derradeiros esforços para a conclusão da construção do Centro de Acolhimento e Saúde, já conhecido da nossa Diocese.
Pela oração, pela partilha e misericórdia, pelo jejum, das nossas feridas pode brotar uma vida nova para nós e para os que vivem ao nosso lado. Todos podemos comprometer-nos mais na consecução do bem comum, na dignificação da pessoa humana. Todos podemos partilhar o que temos e o que nos falta. Todos podemos libertar-nos de dependências e de vaidades. Todos podemos superar-nos no acesso à verdade. Todos podemos empreender caminhos em conjunto, escutando-nos, falando do que nos vai na alma. Todos podemos exercitar e viver o abandono e a confiança nas mãos de Deus. A hora da ferida é a hora da graça. É a Páscoa!
Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 25-02-2022.
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