PARÓQUIAS DE NISA
Quinta, 03 de março de 2022
Quinta-feira de Cinzas
LITURGIA
Quinta-feira
depois das Cinzas
Roxo – Ofício da féria.
Missa da féria, pf. da Quaresma.
L1: Deut 30, 15-20; Sal 1, 1-2. 3. 4 e 6
Ev: Lc 9, 22-25
MISSA
ANTÍFONA
DE ENTRADA cf. Salmo
54, 17-20.23
Quando clamei ao Senhor, Ele ouviu a minha voz
e livrou-me dos inimigos.
Confia ao Senhor os teus cuidados
e Ele te salvará.
ORAÇÃO COLECTA
Fazei, Senhor, que a vossa graça inspire sempre as nossas obras e as sustente
até ao fim, para que toda a nossa actividade por Vós comece e em Vós acabe. Por
Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do
Espírito Santo.
LEITURA I Deut 30, 15-20
«Ponho hoje diante de vós a bênção e a maldição»
Leitura do Livro
do Deuteronómio
Moisés falou ao povo, dizendo: «Ponho hoje diante de ti a vida e a felicidade,
a morte e a infelicidade. Se cumprires os mandamentos do Senhor, teu Deus, que
hoje te proponho – amando o Senhor, teu Deus, seguindo os seus caminhos e
observando a sua lei, os seus mandamentos e preceitos – viverás e
multiplicar-te-ás e o Senhor, teu Deus, te abençoará na terra de que vais tomar
posse. Mas se o teu coração se desviar e não quiseres ouvir, se te deixares
seduzir para adorar e servir outros deuses, declaro-te hoje que hás-de perecer
e não prolongarás os teus dias na terra em que vais entrar para dela tomar
posse depois de passares o Jordão. Tomo hoje o céu e a terra como testemunhas
contra vós: proponho-vos a vida e a morte, a bênção e a maldição. Portanto,
escolhe a vida, para que vivas tu e a tua descendência, amando o Senhor, teu
Deus, escutando a sua voz e aderindo a Ele. Disto depende a tua vida e a longa
permanência na terra que o Senhor jurou dar a teus pais Abraão, Isaac e Jacob».
Palavra
do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Salmo 1, 1-2.3.4.6 (R. Salmo 39, 5a)
Refrão: Feliz o homem que pôs a sua
esperança no Senhor. Repete-se
Feliz o homem que não segue o conselho dos ímpios,
nem se detém no caminho dos pecadores,
mas antes se compraz na lei do Senhor,
e nela medita dia e noite. Refrão
É como árvore plantada à beira das águas:
dá fruto a seu tempo e sua folhagem não murcha.
Tudo quanto fizer será bem sucedido. Refrão
Bem diferente é a sorte dos ímpios:
são como palha que o vento leva.
O Senhor vela pelo caminho dos justos,
mas o caminho dos pecadores leva à perdição. Refrão
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO Mt 4, 17
Refrão: Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai. Repete-se
Arrependei-vos, diz o Senhor;
está próximo o reino dos Céus. Refrão
EVANGELHO Lc 9, 22-25
«Quem perder a vida por minha causa, salvá-la-á»
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «O Filho do
homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos
sacerdotes e pelos escribas; tem de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia».
E, dirigindo-Se a todos, disse: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si
mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua
vida, tem de perdê-la; mas quem perder a vida por minha causa salvá-la-á. Na
verdade, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se ou
arruinar-se a si próprio?».
Palavra
da salvação.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Recebei benignamente, Senhor, os dons que apresentamos sobre o altar, para que
nos alcancem o perdão e dêem glória ao vosso nome. Por Nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Prefácio da Quaresma
ANTÍFONA DA COMUNHÃO Salmo 50, 12
Criai em mim, Senhor, um coração puro
e renovai em mim a firmeza de alma.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Concedei, Deus omnipotente, que este alimento celeste que recebemos seja para
nós fonte inesgotável de perdão e de salvação eterna. Por Nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA
1. Leitura: - Lê, respeita, situa o que lês.
- Detém-te no conteúdo de fé e da
passagem que leste
2. Meditação: - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.
- Deixa que a passagem da Palavra de
Deus que leste “leia a tua vida”
3. Oração: - Louva o Senhor, suplica, escuta.
- Dirige-te a Deus que te falou através
da Sua Palavra.
LEITURAS: Deut 30, 15-20: A Quaresma começa por nos propor a
espiritualidade dos dois caminhos, o da vida e o da morte, o da bênção e o da
maldição. É esta a espiritualidade do Salmo 1 que serve de abertura a todo o
saltério, e que é conhecida dos cristãos desde o princípio da Igreja. A
Quaresma é tempo para se escolher, de novo, o caminho que leva à comunhão com Deus
em Cristo no Espírito Santo.
Lc
9, 22-25: Desde o
princípio da Quaresma nos é também proposto o Mistério Pascal de Cristo morto e
ressuscitado, mistério que vamos celebrar no Tríduo Pascal. Mas o que a Igreja
celebra na liturgia, ela o vive na vida de cada dia, seguindo o Senhor Jesus
Cristo, o qual deu a vida por nós para nos levar à glória.
AGENDA DO DIA:
16.00
horas: Missa no lar da Santa Casa de Nisa
18,00
horas: Missa em Nisa – Espírito Santo
IGREJAS DA ZONA
PASTORAL DE NISA:
A VOZ DO PASTOR
QUARESMA 2022
A HORA DA FERIDA É A
HORA DA GRAÇA
Pai, nas vossas mãos
entrego o Meu Espírito, é uma das mais fortes palavras de Cristo na cruz. Todos
os anos nos é oferecido um tempo para que, com o coração em construção, melhor
nos preparemos para a Páscoa. É a Quaresma, tempo favorável porque tem ritmo
batismal. Tempo de graça porque é dom do Espírito. Tempo de purificação porque
ocasião de reconstrução e fortalecimento da nossa relação com Deus, com os
outros, com a vida, connosco próprios.
A Páscoa, mistério da
morte e ressurreição de Cristo, não se resume ao final feliz de uma história
dramática. E se é verdade que existem feridas que dão origem a vidas
completamente novas, insuspeitadamente novas e não apenas cicatrizadas, então a
Páscoa é a evidência subversiva da graça de Deus que se entranha na humanidade.
No meio de uma
humanidade dilacerada por solidões, incompreensões, invejas, divisões e
discórdias, feridas diversas, reconhecem-se os sinais da graça e da
misericórdia de Deus quando a dureza do coração humano se dobra e se prepara
para a reconciliação e para a alegria. Reconhecem-se os sinais da graça quando,
movidos os corações por ação do Espírito Santo, os inimigos procuram
entender-se, os adversários se dão as mãos, os povos se encontram na paz e na
concórdia. Reconhece-se a evidência subversiva da graça quando o desejo da paz
põe fim à guerra, o amor vence o ódio e a vingança dá lugar ao perdão (Cf.
Oração Eucarística da Reconciliação II).
Não há Páscoa sem
Cristo e não é imaginável pensar Cristo sem o mistério pascal. É a vida de
Cristo agarrada à Cruz e superando-a, que é a grande escola da humanidade
subvertida por uma ferida de amor. Em Cristo, a hora da ferida e a hora da
graça coincidem. É a desproporção do amor paciente, bondoso e partilhado, sem
arrogância e sem soberba, sem irritação e sem ressentimento ou rancor. É o amor
justo que se regozija com a verdade, que tudo desculpa e tudo crê, que tudo
espera e tudo suporta (cf. 1Cor 13, 4 s). A ferida não é para ficar a chorar, é
para abrir o coração e reaprender a confiar. E, assim, fazem-se novas todas as
coisas. A Páscoa não é apenas uma experiência fugaz, um momento. É dom de Deus.
E tão forte que se acolhe como vocação; tão profundo que se erige como
identidade; tão inteiro que unifica toda a vida. Páscoa é um modo de ser. O de
Cristo. O dos cristãos.
A Quaresma surge
precisamente porque, em Igreja e seguindo Cristo, é necessário aprender o seu
modo pascal de ser e de viver. Como poderíamos saborear e viver em pleno a sua
Páscoa se não nos exercitássemos no seu modo de amar e de se dar!?
Vivemos, por muitas
razões e vicissitudes históricas, num mundo ferido. A Igreja, a nível local e
universal, defronta-se com imensos desafios, questionamentos e fraquezas. O
Sínodo é um desafio, como o são as Jornadas Mundiais da Juventude, mas a Igreja
confronta-se também com a sua história e a sua credibilidade pastoral e
evangélica. A pandemia feriu o tecido social e afetou pessoas e instituições. A
mesma pandemia alterou o acesso aos cuidados de saúde de tantos pacientes,
desvaneceu projetos económicos familiares, empobreceu agregados familiares,
deixou muitos no desemprego, levou à rutura de imensas possibilidades. A
insegurança e a incerteza, aliadas ao receio, alteraram os estilos de vida. As
desigualdades sociais e continentais aumentaram. A dimensão relacional das nossas
comunidades ressentiu-se. Os ritmos da socialização e até do luto foram
alterados. Enfim, e sem ser exaustivo, o mundo, próximo e longínquo,
desorganizou-se. Além da dor da ferida, pessoas e comunidades cederam à
tentação da comiseração e da lamentação que fez emergir outras dores e abrir
outras feridas. São feridas de todos nós.
Na Cruz de Cristo, a
hora da maior dor foi também a hora do maior amor: “A minha vida sou Eu que a
dou” (Jo 10, 18). O aparente abandono de Deus naquele momento revelou-se, sim,
o abandono de Jesus nas mãos de Deus. Cristo faz da sua morte um ato de
confiança e de abandono absolutos nas mãos de um Deus em quem se pode confiar:
“Tudo vem de Ti e não oferecemos senão o que temos recebido da tua mão” (1 Cro
29,14).
É assim que a
confiança se inscreve na história dos homens: “Pai, em Tuas mãos entrego o meu
espírito” (Lc 23, 46). Na palavra de Cristo que Se entrega totalmente nas mãos
do Pai podemos perceber o dinamismo de vida e de amor que está inscrito como
confiança no mais íntimo da autêntica existência humana. É o amor mais radical
porque diz que não nos bastamos a nós próprios e nos coloca em despojamento.
Então, a ferida tornou-se o lugar insuspeitado da revelação de Deus e do seu
amor. A ferida deu lugar à leitura retrospetiva da vida. E purificou o projeto
seguinte. A ferida tornou-se a lente que permitiu ver a vida com maior verdade.
A ferida revelou a sua autêntica dimensão e dispensou vaidades. A ferida, mais
do que apenas uma cicatrização indolor e estética, esperou e ansiou a cura. E
isso é caminho.
Caminho é também a
Quaresma que, preparando a Páscoa, pode ser bem a experiência de abrirmos e
expormos as nossas feridas a Deus e, assim, nos aproximarmos das feridas dos
outros e do mundo. É legítimo imaginar um mundo sem feridas, mas é também uma
ilusão pressupor uma vida e uma história sem feridas. Se percebermos melhor as
nossas feridas estaremos mais preparados para valer aos outros nas suas.
Olhando para as feridas existentes à nossa volta, a Renúncia Quaresmal deste
ano voltará a ser partilhada com a Arquidiocese de Kananga, República
Democrática do Congo, nos derradeiros esforços para a conclusão da construção
do Centro de Acolhimento e Saúde, já conhecido da nossa Diocese.
Pela oração, pela
partilha e misericórdia, pelo jejum, das nossas feridas pode brotar uma vida
nova para nós e para os que vivem ao nosso lado. Todos podemos comprometer-nos
mais na consecução do bem comum, na dignificação da pessoa humana. Todos
podemos partilhar o que temos e o que nos falta. Todos podemos libertar-nos de
dependências e de vaidades. Todos podemos superar-nos no acesso à verdade.
Todos podemos empreender caminhos em conjunto, escutando-nos, falando do que
nos vai na alma. Todos podemos exercitar e viver o abandono e a confiança nas
mãos de Deus. A hora da ferida é a hora da graça. É a Páscoa!
Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 25-02-2022.
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