quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

 


 

PARÓQUIAS DE NISA

 

 

Quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

I semana da quaresma

 

 

LITURGIA

 

Quinta-feira da semana I

Roxo – Ofício da féria.
Missa da féria, pf. da Quaresma.

L 1 Est 4, 17. n. p-r. aa-bb. gg-hh; Sal 137 (138), 1-2a. 2bc-3. 7c-8
Ev Mt 7, 7-12

* Na Congregação Salesiana e no Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora – SS. Luís Versiglia, bispo, e Calisto Caravário, presbítero, mártires – FESTA
* Na Congregação do Santíssimo Redentor – Aniversário da aprovação do Instituto (1749).

 

MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA Salmo 5, 2-3
Ouvi, Senhor, as minhas palavras, atendei o meu clamor.
Escutai a voz da minha súplica,
ó meu Rei e meu Deus.


ORAÇÃO COLECTA
Concedei-nos, Senhor, a graça de pensar sempre o que é recto e de o pôr em prática com diligência; e, porque não podemos existir sem Vós, fazei-nos viver segundo a vossa vontade. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


LEITURA I Est 4, 17 n. p-r. aa-bb.gg-hh
«Não tenho outro auxílio senão Vós, Senhor»


Leitura do Livro de Ester


Naqueles dias, a rainha Ester, tomada de angústia mortal, procurou refúgio no Senhor e fez esta súplica ao Senhor, Deus de Israel: «Meu Senhor, nosso único Rei, vinde socorrer-me, porque estou só e não tenho outro auxílio senão Vós e corre perigo a minha vida. Desde criança, ouvi dizer na minha tribo paterna que Vós, Senhor, escolhestes Israel entre todos os povos e os nossos pais entre os seus antepassados, para serem a vossa herança perpétua, e cumpristes tudo o que lhes tínheis prometido. Lembrai-Vos de nós, Senhor, e manifestai-Vos no dia da nossa tribulação. Fortalecei-me, Rei dos deuses e Senhor dos poderosos. Ponde em meus lábios palavras harmoniosas, quando estiver na presença do leão, e mudai o seu coração, para que deteste o nosso inimigo e o arruíne com todos os seus cúmplices. Livrai-nos com a vossa mão; vinde socorrer-me no meu abandono, porque não tenho ninguém senão Vós, Senhor».


Palavra do Senhor.


SALMO RESPONSORIAL Salmo 137 (138), 1-2a.2bc-3.7c-8 (R. 3a)
Refrão: Quando Vos invoco,
sempre me atendeis, Senhor.
Repete-se


De todo o coração, Senhor, eu Vos dou graças,
porque ouvistes as palavras da minha boca.
Na presença dos Anjos hei-de cantar-Vos
e adorar-Vos, voltado para o vosso templo santo. Refrão

Hei-de louvar o vosso nome pela vossa bondade
e fidelidade,
porque exaltastes acima de tudo o vosso nome
e a vossa promessa.
Quando Vos invoquei, me respondestes,
aumentastes a fortaleza da minha alma. Refrão

A vossa mão direita me salvará,
o Senhor completará o que em meu auxílio começou.
Senhor, a vossa bondade é eterna,
não abandoneis a obra das vossas mãos. Refrão


ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO Salmo 50 (51), 12a.14a
Refrão: Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo, Senhor. Repete-se
Criai em mim, Senhor, um coração puro,
dai-me de novo a alegria da salvação. Refrão


EVANGELHO Mt 7, 7-12
«Quem pede recebe»


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus


Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Pedi e dar-se-vos-á, procurai e encontrareis, batei à porta e abrir-se-vos-á. Porque todo aquele que pede recebe, quem procura encontra e a quem bate à porta abrir-se-á. Qual de vós dará uma pedra a um filho que lhe pede pão, ou uma serpente se lhe pedir peixe? Ora, se vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está nos Céus as dará àqueles que Lhas pedem! Portanto, o que quiserdes que os homens vos façam fazei-lho vós também: esta é a Lei e os Profetas».


Palavra da salvação.


ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Acolhei benignamente, Senhor, os dons e as preces do vosso povo e convertei a Vós os nossos corações. Por Nosso Senhor.

Prefácio da Quaresma


ANTÍFONA DA COMUNHÃO Mt 7, 8
Quem pede recebe,
quem procura encontra,
a quem bate à porta, abrir-se-á.


ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Senhor nosso Deus, que nos concedeis a participação nestes santos mistérios como garantia da nossa renovação espiritual, fazei que eles nos sirvam de remédio no presente e no futuro. Por Nosso Senhor.

 

MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA:

 

 

 

1. Leitura:  - Lê, respeita, situa o que lês.

     - Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste

 

 2. Meditação:  - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.

     - Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua vida” 2020.11.28

 

3. Oração:  - Louva o Senhor, suplica, escuta.

     - Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.

 

LEITURAS: Est 4, 17 n. p-r. aa-bb.gg-hh: De novo, o tema da oração, mas hoje sobretudo da oração de súplica. À medida que experimentamos a nossa insuficiência, vamos sentindo, cada vez mais, a necessidade de recorrer ao Senhor, que é a nossa força. Em tais circunstâncias, só o orgulhoso não sabe dirigir-se a Deus e rezar. Em momento especialmente difícil da vida do seu povo, Ester, a israelita condenada à morte com todos os demais, “presa de angústia mortal, procurou refúgio no Senhor”, como se lê nesta primeira leitura.

Mt 7, 7-12: E no Evangelho é agora o próprio Jesus que insiste em que devemos “pedir”, “procurar”, “bater à porta”. Orar ao Senhor não é humilhante; é antes acto de confiança, afirmação de fé, caminho de paz. Jesus também pediu ao Pai nas horas difíceis. E a penitência é um caminho difícil, mas conduz à libertação pascal. Só o braço poderoso de Deus nos pode fazer passar da escravidão à libertação, da morte à vida.

AGENDA DO DIA

18.00 horas: Missa em Nisa, transmitida através do facebook (Endereço: Zona Pastoral de Nisa)

 

A VOZ DO PASTOR:

 

O NOSSO PARLAMENTO E OS APELOS DA QUARESMA

 

Vivemos em democracia, é certo e bonito. O debate é sempre possível e salutar, não existe a lei da rolha, pelo menos em teoria. No entanto, o uso deste dom maravilhoso que é a liberdade de pensar e dizer, é muito assaltado pela apetência de ultrapassar linhas vermelhas que interpelam pela negativa.

Acho estranho que, no século XXI, o Estado, em nome do progresso civilizacional, ainda se sinta no direito e dever de fomentar a cultura da morte em vez de garantir o necessário apoio para que cada pessoa se sinta estimada e cuidada até à morte e morte natural. Inclusive com os cuidados paliativos a que tem direito, mas que a maior parte do povo nem sabe que existem, nem o que são, nem para que servem, nem lhe é explicado tanto quanto baste, não convém!

É estranho que, para satisfazer desejos pessoais, por mais respeitáveis que eles sejam, o Estado, não satisfeito com os filhos órfãos de pais vivos, queira ser causador do nascimento de filhos órfãos por inseminação ‘post mortem’, desvalorizando todas as consequências e o direito de todas as crianças a ter um pai e uma mãe, em comunidade familiar de vida e amor. Tendo em atenção o caso que provocou este debate, alguém insinua que uma criança assim concebida, é mais olhada como instrumento e remédio para satisfazer o sofrimento saudosista de alguém, mesmo que compreensível, do que considerada como um valor em si mesma. O dever do Estado é cuidar do bem comum, não de casos pontuais fruto de meros sentimentos de alguém.

Perante tão estranhas questões da nossa polis, constatam-se vários posicionamentos. Uns, os filósofos de serviço, esmeram-se em busca de altíssimas razões, as suas, para provar a justeza e a oportunidade destes temas. Puxam da sua pieguice e dó em favor da dignidade e da humanidade de quem sofre, iludindo os menos precavidos. Outros, fidelizados até ao tutano aos seus mentores ou chefes, mesmo discordando na matéria, engrunham-se na hora de bater o pé, preferindo onerar a sua própria consciência e tornarem-se cúmplices do que vier a acontecer, a morte dos mais frágeis, o matar através do Serviço Nacional de Saúde! Outros, porém, menos pensantes e sem qualquer opinião, voláteis, preferem dar ares de progressista, encostando-se, amorfos, a fazer monte e número, na defesa de tais causas. Outros, ainda, da esquerda à direita, têm os pés bem assentes no chão, buscam o melhor, sabem ouvir quem mais sabe e têm a noção das consequências de tais iniciativas, mas nada conseguem fazer valer perante o desertar da razoabilidade dos seus pares. A vergonha assalta-os, o País parece que manifesta saudades pela pena de morte! Sendo a política uma arte nobre que deve ser exercida com nobreza, é estranho que, os representantes do povo, uma vez eleitos, se tenham logo como omniscientes e omnipotentes, desprezando até a ciência e os mais elementares princípios da Ética e do próprio bom senso ou do senso comum, em jeito de l’état cést moi.

Enquanto que a imprensa, nacional e estrangeira, refere que estamos na cauda da Europa, e do mundo!, em mortes covid, por exemplo, não se desiste de estar na linha da frente em causas fraturantes. É a forma encontrada pelo Estado para se esquecer das verdadeiras mazelas sociais e se devotar à promoção da cultura da morte e dar nas vistas, pelas piores razões. As filas da fome em busca da marmita não incomodam tais arautos, apesar de ser garantida por quem lhes merece o maior repúdio: a Caridade, o Amor! Negando o mais fundamental dos princípios humanos, isto é, o direito à vida e a garantia da sua inviolabilidade, lutam pela eutanásia, isto é, pela morte assistida, ou melhor ainda, defendem o homicídio e o suicídio, aquilo a que, para confundirem o povo e gerarem simpatia, eufemisticamente apelidam de morte medicamente assistida, como se de um ato médico se tratasse. Enchem-se de fogo, e zelo! De forma beata, fingindo muita compaixão por quem sofre, falam ao sentimento e compaixão de outros – não à razão! -, para arrebanhar prosélitos mesmo que estes nem saibam bem do que é que se trata. O que interessa é o ruído, o monte, o número. Se escutam alguém, não ouvem, nem sequer prestam atenção aos pareceres negativos dos especialistas em Ética, do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida, assim como de professores universitários, juristas, Associação de médicos, especialistas em bioética ou de entidades como a Associação Portuguesa de Fertilidade ou o Conselho Superior do Ministério Público, e de tantas outras, e de tantos outros. Inclusive, tapam os ouvidos e os olhos aos abusos e aos interesses imparáveis que já acontecem noutros países onde se abriu essa porta, uma porta a desembocar numa rampa cada vez mais larga e inclinada a convidar a tais abusos e interesses, interesses até de famílias e herdeiros.

Avalia-se o progresso civilizacional, não construído sobre o melhor que se recebe do passado e já confirmado pela História e pela convivência sadia dos povos, mas tentando inovar, sofregamente, se possível de forma rápida e em tempos de distração do povo, sobre matérias como se da descoberta da pólvora se tratasse e fossem até passíveis de prémio Nobel. Quantos erros por se fazer vista grossa às lições da História! Por razões semelhantes, até Jesus Cristo chorou sobre o povo e a cidade de Jerusalém, pois os seus chefes agiam como donos e levianamente, conduzindo a todos, sobretudo o povo, para a tragédia sem igual!

Entre nós, ao quererem levar a água ao seu moinho, quem contrariar tais pretensões, é logo rotulado de direita, de conservador, de tradicionalista, ou, então, se for alguém da Igreja, autoridade ou cristão assumido, é tido como retrogrado e obscurantista, a quererem fazer crer que, o que estes defendem, não passa de uma questão meramente religiosa, desprezível, e não de uma causa verdadeiramente humana e justa, de verdadeiro progresso histórico e humano. É a sua versão da lei da rolha, importa fazer calar!

O ruído em favor da cultura da morte e da orfandade vai continuar. Tal como aconteceu com a morte das crianças, isto é, com o aborto, ao qual, para suavizar e iludir, chamam, eufemisticamente, interrupção voluntária da gravidez, esperam que o mesmo aconteça com a eutanásia e com a introdução da inseminação ‘post mortem’ na lei da procriação medicamente assistida. Resta-nos a certeza de saber que aquilo que é legal, nem sempre é moral e eticamente aconselhável. A verdade e a dignidade humana não dependem de maiorias parlamentares, muito menos quando a maioria obtida é feita de silêncios pusilânimes ou subservientes, e na busca de uma nesga na Constituição para que tais leis possam por lá furar e dizerem: vencemos!, como se de uma vitória se tratasse. Além disso, a objeção de consciência é uma saudável arma na mão daqueles a quem querem impor a aplicação dessas leis, se, de facto, vierem a ser aprovadas.

Ninguém vai pedir aos senhores parlamentares que entrem num processo de metanoia. Até porque, se pararem, refletirem e tiverem como referência a verdade e o bem comum, a sua consciência o fará. Apenas lhes pedimos que não esqueçam os verdadeiros problemas do povo que neles confiou e a quem prometeram servir. Que lhe proporcionem uma vida saudável e feliz e que não fomentem a cultura da morte e outras velharias mais. Legislar e executar a morte, é estimular à morte, não é humano! Pode até o sofrimento físico, à partida, não ser grande, mas porque o sofrimento tem muitas caras e feitios, pode tornar-se “em situação de sofrimento intolerável”, sobretudo quando a pessoa percebe e sente que está a ser um grande incómodo ou um enorme peso para a família ou a sociedade, e entende que lhe estão a apontar a porta para que se suicide ou peça a um homicida que a mate! Como afirmava Miguel Torga, “o mais trágico na velhice doente é vermo-nos morrer antecipadamente no cansaço e no enfado de quem nos rodeia”. Entre quem nos rodeia, estão estes tão misericordiosos e sábios legisladores!...

 

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 19-02-2021.

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QUARESMA - “SAÍA D’ELE UMA FORÇA QUE A TODOS CURAVA”

 

 

Na Igreja, a Quaresma é, por natureza, um tempo catecumenal, um tempo de descoberta e redescoberta da fé cristã como relação vital de absoluta confiança no Senhor Jesus Cristo. Aliás, a Páscoa, celebração da revelação plena de Cristo para onde a Quaresma nos conduz, só ganhará densidade espiritual e existencial se a Quaresma se assumir como caminho e exercício de descoberta e redescoberta da relação com Jesus Cristo. A condição humana, cada um de nós, surpreende-se, comove-se diante de Jesus Cristo. Ele é, ao mesmo tempo, tão nosso e tão de Deus, tão humano e tão divino, tão histórico e tão do Céu e da eternidade. Antes de nos dizermos, já Ele nos conhece. Antes de lhe pedirmos, já Ele se nos disponibilizou. Com a sua palavra e os seus gestos de proximidade, cativa-nos. Com o mistério da sua Pessoa, colhe o nosso afeto, a nossa inteligência, a nossa vontade. Tocados pela sua humanidade, tornamo-nos, por bênção sua, capazes de tocar a sua divindade. Assim, rendidos e livres, estabelecemos com Ele uma relação vital de absoluta confiança, por onde, doravante, passará a vida toda. D’Ele brota uma força que não deixa ninguém indiferente e cura todos os males.

 

A fé não é, portanto, uma invenção de religiões. Nenhuma imposição a conseguiria legitimar. Nenhuma lei a conseguiria impor. Nenhum moralismo a conseguiria justificar e ser seu alicerce. Nenhuma tradição, por si só, a conseguiria manter. Tudo isso seriam insuficiências, andaimes solitários sem construção a erguer. Dom recebido e resposta dada, a fé cristã vai buscar muitas das suas dinâmicas mais elementares à vida humana. Mas é na surpresa graciosa do encontro com o dom de Deus em Jesus Cristo que ela se radica como atitude e ritmo. É esta fé, vivida como bênção, presença de Cristo sentida ao nosso lado, é esta fé que vai atravessar a nossa vida com as suas graças e desgraças, os seus encantos e desesperos, as suas alegrias e tristezas. É esta fé, vivida como bênção, que purifica a nossa vida com paixão, com graciosidade e com ousadia profética de batizados. É o nosso batismo, que o mesmo é dizer a nossa fé, que está em causa em cada Quaresma. Conversão e penitência, jejum, esmola e oração são exercícios batismais da nossa vida cristã porque são expressão da nossa vital confiança em Jesus Cristo e da nossa reação ao tempo e aos modos da vida.

 

A pandemia que atravessamos pode ser bem o contexto de humanidade em que a nossa fé é chamada a redescobrir-se e a dar fruto. Exigidas pela situação de crise, há um conjunto de ações que, nos crentes, são autênticos imperativos de consciência da vida cristã: na solidão, saber ser presença construtiva e não escravo da desconfiança; no desespero, saber ser força de esperança; na doença, saber ser cuidador; na dificuldade económica ou social, saber partilhar e promover; na prossecução do bem comum, saber comprometer-se e fazer caminho em comum; nas palavras, saber edificar e promover a verdade; nas atitudes quotidianas, saber eleger e construir a justiça; nas relações pessoais e de cidadania, saber respeitar e acolher. A pandemia, com a doença e a pressão que exerce em toda a sociedade, pode tornar-nos hipersensíveis, facilmente descarriláveis e irascíveis. Pode pressionar-nos e trazer constrangimentos vários à nossa vida. E é aí que é necessário ter sempre Cristo diante dos olhos, ter sempre Cristo no coração e nas mãos. Os cristãos não temos de ser uma maioria social, percentual, para sermos uma maioria virtuosa. Podemos até ser uma minoria, mas, sem nos acanharmos e ganharmos complexo de seita, saberemos ser Igreja à dimensão do mundo e à dimensão do próprio Cristo.

 

Este ano, e por vontade do Papa Francisco, conjugam-se com a nossa Quaresma o Ano da “Família Amoris Laetitia” e o Ano de S. José. Na sua Carta Apostólica para este ano, o Papa Francisco diz-nos que foi com “coração de pai” que José amou Jesus. Humilde, discreto, trabalhador, sempre pronto a realizar a vontade de Deus, homem do silêncio como escuta, atento aos sinais de Deus e aos sinais dos tempos, corajoso, pedagogo e, sobretudo, justo. Em José confrontamo-nos com um homem que é justo porque se ajustou a Deus. E é por se ajustar a Deus que cedo aprendeu a pensar como Deus, a agir como Deus, a amar como Deus. A sua fé e a alegria do seu amor foram o grande motor da sua vida. É também a alegria do amor que o Papa Francisco nos convida a encontrar na família cristã quando promove o Ano “Família Amoris Laetitia”. Ele insiste na leitura da Exortação Apostólica Amoris Laetitia e deseja levar ao aprofundamento da identidade da família cristã como dom de pessoas e como dom à Igreja e ao mundo. Deseja promover o acompanhamento dos esposos, a educação integral dos filhos, a reflexão sobre as luzes e sombras da vida da família cristã, as crises familiares, a participação das famílias nas estruturas de evangelização e da Igreja. Tempo de redescoberta e revitalização da nossa fé, a Quaresma deste ano faz com que se cruzem a fé e a pandemia, a fé e a família, a fé e a gratidão pelo dom da santidade de S. José.

 

De Jesus, na sua Palavra, nos seus gestos, na vida da Igreja como Comunidade, brota uma força que não deixa ninguém indiferente. Como discípulos de Jesus sempre em processo de conversão, somos, pois, desafiados a viver mais uma Quaresma, mais um dom que acontece ao longo da nossa existência. Se a mundaneidade convida ao ter, ao parecer e ao poder, a Quaresma pede especial atenção ao ser. É um tempo de penitência e conversão. Um tempo de oração filial que nos ajuda a limpar, arrumar e romper a dureza do coração, convertendo-nos a Deus e aos irmãos. Uma oração que leve ao jejum do pecado, à mudança menos boa de estar, pensar e falar, à privação do que não é essencial, à penitência e austeridade pessoal, ao sacrifício que liberta. Uma oração que converta e leve àquela partilha a que chamamos “renúncia quaresmal” e que tem um destino determinado por cada Bispo diocesano, tornado público no início da Quaresma e, ao longo da Quaresma, entregue em cada paróquia. Não se trata de renunciar para poupar, não se trata de um peditório, não se trata de uma recolha de fundos, não se trata de dar para ficar arrumado e não me incomodarem mais, não se trata de pagar, não se trata tanto de dar uma esmola a quem a pede ou necessita, embora não se deva permanecer indiferente e fazer vista grossa. Trata-se duma caminhada espiritual disciplinada e vivida na alegria da oração, da conversão interior, do pensar em Deus e nos outros, do sentir a importância da gratuidade e da fraternidade. Trata-se da mudança de mentalidade e de coração que também se pode traduzir em renunciar a isto ou àquilo, que, embora se julgue apetecível, não é necessário, e o seu custo se coloca de parte para a causa social anunciada. Para além disso, a conversão pode mesmo implicar o aliviar dos bolsos (Lc 19, 1-10; Lc 18, 18-23). É uma pedagogia familiar de que tantas crianças e tantos jovens nos dão tão belos testemunhos, renunciando a um bolo, a um cigarro, a um café, a um programa televisivo, a ser escravo das redes socias... ou os leva a estudar mais e melhor, a programar momentos de oração, a visitar o vizinho acamado ou a viver mais comprometido nas causas da fé e do bem comum, a respeitar os apelos ao confinamento e a vivê-lo com esperança, pensando na própria saúde e saúde dos outros... Enfim, trata-se de cada um, pelos caminhos possíveis, viver a Quaresma de tal forma que o conduza à Páscoa, descobrindo e redescobrindo cada vez mais o gesto do amor de Deus para connosco manifestado em Cristo Jesus seu Filho.

 

A Renúncia Quaresmal de 2020, em toda a Diocese, e devido ao ambiente de confinamento rigoroso, foi mesmo mesmo residual (1.769,34€). Tinha como destino ajudar à construção de um Centro de Acolhimento e Saúde na Arquidiocese de Kananga, República Democrática do Congo, donde temos dois sacerdotes a trabalhar nesta nossa Diocese. Este ano de 2021, destinamos 60% para o mesmo fim e 40% para o Fundo Social Diocesano, gerido pela Cáritas. De um Arciprestado, chegou à Cúria Diocesana uma verba de renúncia quaresmal atrasada, a qual será enviada para o destino anunciado nessa altura.

 

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 12-02-2021.

 

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