segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

 

 

PARÓQUIAS DE NISA

 

Terça-feira, 19 de janeiro de 2021 

 

LITURGIA

 

Terça-feira da semana II

Verde – Ofício da féria.
Missa à escolha (cf. p. 19, n. 18).

L 1 Hebr 6, 10-20; Sal 110 (111), 1-2. 4-5. 9 e 10c
Ev Mc 2, 23-28

* Na Diocese de Viana do Castelo – S. Fabião, papa e mártir – MF
* Na Companhia de Jesus – Bb. Tiago Sales, presbítero e Guilherme Saultemouche, religioso; Tiago Bonnaud, presbítero, e Companheiros; José Imbert e João Nicolau Cordier, presbíteros, mártires – MF
* 2º dia do Oitavário de Orações pela Unidade dos Cristãos.
* Na Diocese de Lamego – I Vésp. de S. Sebastião.

 

MISSA

 

ANTÍFONA DE ENTRADA Salmo 65, 4
Toda a terra Vos adore, Senhor,
e entoe hinos ao vosso nome, ó Altíssimo.


ORAÇÃO COLECTA
Deus eterno e omnipotente,
que governais o céu e a terra,
escutai misericordiosamente as súplicas do vosso povo
e concedei a paz aos nossos dias.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


LEITURA I (anos ímpares) Hebr 6, 10-20
«Na esperança tem a nossa alma uma âncora inabalável e segura»


Leitura da Epístola aos Hebreus


Irmãos: Deus não é injusto. Ele não pode esquecer o vosso trabalho e o amor que mostrastes pelo seu nome, colocando-vos ao serviço dos santos, no passado e no presente. Desejamos, porém, que cada um de vós mostre o mesmo zelo, mantendo intacta a sua esperança até ao fim, de modo que não vos torneis tíbios, mas imiteis aqueles que, pela fé e pela esperança, se tornam herdeiros dos bens prometidos. Quando Deus fez a promessa a Abraão, como não tinha outro maior por quem jurar, jurou por Si próprio, dizendo: «Eu te cumularei de bênçãos e multiplicarei a tua posteridade». E por ter perseverado pacientemente, Abraão alcançou a realização da promessa. Os homens, de facto, juram por alguém maior que eles e o juramento é uma garantia que põe fim às suas contendas. Por isso Deus, querendo mostrar solenemente aos herdeiros da promessa como era imutável o seu desígnio, comprometeu-Se com juramento. Assim, por dois actos irrevo¬gáveis, nos quais é impossível Deus mentir, nós temos um forte incentivo para nos refugiarmos firmemente na esperança proposta. Nela tem a nossa alma uma âncora inabalável e segura, que penetra para além do véu, onde entrou Jesus como nosso precursor, constituído sumo sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedec.


Palavra do Senhor.


SALMO RESPONSORIAL Salmo 110 (111), 1-2.4-5.9 e 10c (R. 5b)
Refrão: O Senhor jamais esquecerá a sua aliança. Repete-se
Ou: Aleluia. Repete-se

Louvarei o Senhor de todo o coração,
no conselho dos justos e na assembleia.
Grandes são as obras do Senhor,
admiráveis para os que nelas meditam. Refrão

Instituiu um memorial das suas maravilhas:
o Senhor é misericordioso e compassivo.
Deu sustento àqueles que O temem
e jamais esquecerá a sua aliança. Refrão

Enviou a redenção ao seu povo,
firmou com ele uma aliança eterna.
Santo e venerável é o seu nome;
o louvor do Senhor permanece eternamente. Refrão


ALELUIA cf. Ef 1, 17-18
Refrão: Aleluia Repete-se
Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo,
ilumine os olhos do nosso coração,
para conhecermos a esperança a que fomos chamados. Refrão


EVANGELHO Mc 2, 23-28
«O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado»


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

 
Passava Jesus através das searas num dia de sábado e os discípulos, enquanto caminhavam, começaram a apanhar espigas. Disseram-Lhe então os fariseus: «Vê como eles fazem ao sábado o que não é permitido». Respondeu-lhes Jesus: «Nunca lestes o que fez David, quando teve necessidade e sentiu fome, ele e os seus companheiros? Entrou na casa de Deus, no tempo do sumo sacerdote Abiatar, e comeu dos pães da proposição, que só os sacerdotes podiam comer, e também os deu aos companheiros». E acrescentou: «O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. Por isso, o Filho do homem é também Senhor do sábado».


Palavra da salvação.


ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS

Concedei-nos, Senhor,
a graça de participar dignamente nestes mistérios,
pois todas as vezes que celebramos o memorial deste sacrifício
realiza-se a obra da nossa redenção.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


ANTÍFONA DA COMUNHÃO Salmo 22, 5
Para mim preparais a mesa
e o meu cálice transborda.

Ou 1 Jo 4, 16
Nós conhecemos e acreditámos
no amor de Deus para connosco.


ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Infundi em nós, Senhor, o vosso espírito de caridade,
para que vivam unidos num só coração e numa só alma
aqueles que saciastes com o mesmo pão do Céu.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 

MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA:

 

 

 

1. Leitura:  - Lê, respeita, situa o que lês.

     - Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste

 

 2. Meditação:  - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.

     - Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua vida” 2020.11.28

 

3. Oração:  - Louva o Senhor, suplica, escuta.

     - Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.

 

 

LEITURAS –  Hebr 6, 10-20: Diante da dureza da vida e das provações a que a sua fé está sujeita, os cristãos não hão de perder a coragem ou cair na apatia ou no desespero; antes, corajosos e firmes, hão de apoiar-se, em todas as circunstâncias, na fidelidade de Deus às suas promessas. Para nos fazer acreditar nelas, Deus até as quis garantir com um juramento. Por isso, da fé nasce a esperança, que é aqui comparada a uma âncora, garantia de segurança inabalável.

 

Mc 2, 23-28: Não foi fácil, para quem estava acostumado aos hábitos do Antigo Testamento, descobrir a continuidade e, ao mesmo tempo, à novidade da mesma revelação divina no Novo Testamento. A lei do sábado, no Antigo Testamento, e o descanso que lhe estava ligado, tinha um sentido que encontrava em Jesus a sua plenitude. Ele é Senhor do sábado: Ele é a Paz, o encontro do homem com Deus, o repouso em Deus.

 

AGENDA DO DIA

 

18.00 horas: Missa em Alpalhão

18.00 horas: Missa em Nisa.

 

A VOZ DO PASTOR:

 

PENSAR DÁ MUITA TRABALHEIRA!... Oh!, se não dá!...

 

Já pensaste bem naquele teu e meu presente que nos foi dado no Natal?!... Então, anda daí, junta-te a nós e vamos desembrulhá-lo. Às vezes, fala-se sem pensar. Não raro, mesmo quando se pensa, cumpre-se o ditado: “cada cavadela sua minhoca”, ou então: “ou entra mosca ou sai asneira”! Pensar é uma exigência do bom senso em ordem à verdade, ao bem e ao melhor. Muitas coisas não aconteceriam, ou aconteceriam, se, primeiro, se pensasse bem nas consequências do fazer ou do não fazer. É consensual que a Verdade anda por aí a lamentar-se e a manquejar, sente-se desconsiderada e muito mal tratada, desconfia-se dela, descarta-se, tantas vezes por indiferença, subserviências, interesses ou maldade. Coisas dos homens!... E das mulheres também!... Parte-se do princípio de que a diversidade de posições são todas iguais, têm todas o mesmo valor, o que interessa é falar!. No entanto, só a Verdade é verdadeira, embora a mentira possa ter alguma coisa de verdade. Há quem, por exemplo, use meias verdades para levar a água ao seu moinho. É uma forma de gerar embustes entre pessoas ou na própria sociedade. Faz-se passar mentiras muito bem empanadas em doces meias verdades. Mas só a Verdade é capaz de iluminar, orientar e promover a pessoa e o sentido da própria vida. Só a Verdade é o alicerce seguro da construção do bem comum. Só a Verdade nos restabelecerá de situações menos felizes que acontecem na nossa própria vida. Será na Verdade, que, um dia, no fim dos tempos, apesar dos muitos desencontros, encontros e encontrões por este vale de lágrimas, todos haveremos de nos encontrar.

O diálogo pode ser um ótimo meio para encontrar a Verdade. Não o diálogo-conversa-de-café onde cada um diz o que lhe apetece e parece, sem fundamento nem conhecimento de causa. Não o diálogo para o qual se parte com preconceitos, com conclusões preestabelecidas, com o desejo de vencer ou o medo de perder. Não o diálogo em que, em nome da liberdade, a pessoa se desvincula da referência à Verdade, nega a capacidade de a poder conhecer e de reconhecer o que é verdadeiro. Não o diálogo que usa formas de argumentar que encapotam aquele relativismo e subjetividade que, nada reconhecendo como definitivo, tem como medida o próprio EU e as suas decisões subjetivas, partindo do pressuposto de que a Verdade se manifesta, de modo igual, nas mais diversas situações e doutrinas, mesmo que contraditórias. Só o diálogo feito com reta intenção, com capacidade de escuta, com respeito mútuo, humildade e inteligência, dará frutos. É da discussão que nasce a luz. Se é a Verdade que se procura, a Verdade, poderá demorar em se mostrar, mas acabará por dar a mão à palmatória e saltar, não porque lhe doeram as reguadas, mas com a alegria de ter sido encontrada. Não a minha verdade, não a tua verdade, não a nossa verdade - ninguém tem o monopólio da verdade! -, mas aquela Verdade que todos procuramos. De facto, somos verdadeiros na medida em que buscamos a Verdade e nela procuramos viver, sem favorecer quem se esmera em defender interesses dúbios, quem usa ideologias esfarrapadas ou arrogância intimidatória. O respeito por todos não significa que possa haver indiferença perante a Verdade e o Bem. Pelo contrário, é o próprio amor que exige e incita a que se anuncie a todos o Bem que edifica e a Verdade que salva.

A terminar o tempo festivo do Natal, celebramos o Batismo do Senhor, no rio Jordão. Não tendo pecado, Jesus meteu-se na fila, misturou-se com os penitentes para ser batizado por João. Ao sair da água, porém, viu descer sobre si o Espírito Santo, o Espírito da Verdade, e ouviu o Pai a chamar-lhe Filho muito amado. Um dia, o encavacado Pilatos perguntou a Jesus o que era a Verdade. Jesus, porém, não lhe respondeu, até porque Pilatos não estava interessado na Verdade, só queria ouvir de Jesus o que ele e o povo gostariam de ouvir. Mas Jesus apresentou-se aos seus como o Caminho, a Verdade e a Vida. Para nós, cristãos, a Verdade plena é Jesus Cristo. Uma Verdade que nunca se impôs ou impõe, apenas se propõe e convida todas as pessoas à conversão e à fé, à alegria de viver na Verdade e de caminhar em direção à Verdade plena.

Para continuar esta missão que o Pai lhe confiara, Jesus instituiu a Igreja que, depois da Ressurreição, a enviou por todo o mundo, em seu nome, para chegar a todos e a cada um. Movida pelo Espírito Santo, a Igreja, apesar das suas debilidades e fraquezas - que são muitas porque também é humana -, tem o dever de obedecer e continuar a missão de Cristo, convidando à mudança de vida e de mentalidade, convidando à conversão e à Verdade, à vida nova em Cristo e à receção do Batismo. A missão de batizar está implicada na missão de evangelizar. O Batismo não é um simples rito, formalidade ou tradição. É uma verdadeira festa da família e comunidade cristãs, sobretudo quando todos estão conscientes do que celebram: um Sacramento, instituído por Cristo. Por ele, somos imersos na fonte de vida que é a morte de Jesus, o mais sublime ato de amor de toda a história. Por ele, ‘ressuscitamos’ para uma vida nova na comunhão com Deus e os irmãos. Por ele, tornamo-nos membros da Igreja e participantes do sacerdócio, profetismo e realeza de Jesus Cristo. Por ele, temos acesso à celebração dos outros sacramentos, todos eles graça do Espírito Santo, que alimentam, fortificam, exprimem a fé e tornam-nos portadores de uma nova esperança, os quais, para os crentes, são necessários para a salvação.

Ao celebrarmos o Batismo do Senhor, também fazemos memória do nosso próprio Batismo. Somos batizados no Espírito da Verdade, o qual nos transmite a ternura do perdão divino, nos impele para a Verdade e faz ecoar em nós a voz do Pai a chamar-nos filhos muito amados! Filhos e herdeiros, colaboradores na construção do seu reino, usufruindo de todas as graças que o Senhor nos oferece, na e pela sua Igreja, riqueza sem igual e tão pouco interiorizada!...

Constata-se que muitas pessoas batizadas, nunca avaliaram a riqueza do dom do Batismo, nunca refletiram sobre os seus efeitos e consequências, nunca lhe procuraram corresponder, comprometidos e agradecidos. Uns, por deficiente formação cristã, culpável ou não. Outros, por preconceitos ou indiferença. Outros, talvez por resistência à força da Palavra e ação do Espírito Santo, mesmo quando comprovadas pelo testemunho de quem anuncia. Mas quase todos, assim o acredito, porque nunca pararam para pensar! Estou convencido que, se se pensasse e se buscasse a Verdade, descobrindo o que significa ser batizado em nome da Santíssima Trindade, com certeza que não se negaria o Batismo aos filhos. Não se adiaria sem razão. Saber-se-ia escolher os padrinhos em função do seu testemunho eclesial. Ninguém, por respeito a si próprio e aos outros, ninguém aceitaria ser padrinho se a sua própria vida fosse vivida à margem da Igreja. Não se fugiria à preparação da celebração. Iria agradecer-se e ensinar a agradecer tão grande graça que o Senhor nos concede. A própria celebração aconselharia toda a família, ou pelo menos os pais e padrinhos, ao Sacramento da Reconciliação para receberem a Sagrada Eucaristia e testemunharem a comunhão em Cristo que, na Igreja e pela Igreja, batiza aquela criança tornando-a templo da Santíssima Trindade. Isto levaria a um melhor compromisso no dever de viver, defender, apoiar, espevitar e fazer crescer a fé da criança. Mesmo aos adultos não batizados, o Senhor diz: “Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações” (Sl 94). Estou certo de que, se pensassem, procurassem e descobrissem a Verdade, iriam, com certeza, afirmar como Santo Agostinho, afastado de Deus na sua juventude: “Tarde vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim, e eu, lá fora, a procurar-Vos! ... Porém, chamastes-me, com uma voz tão forte, que rompestes a minha Surdez! Brilhastes, cintilastes, e logo afugentastes a minha cegueira!... Saboreei-Vos e, agora, tenho fome e sede de Vós. Tocastes-me e ardi, no desejo da Vossa Paz”.

Com isto, não estou a defender o proselitismo. Este é sempre de rejeitar, é negativo, não se coaduna com o espírito do Evangelho, não salvaguarda a liberdade e a dignidade da pessoa. Com isto estou apenas a propor e a pedir um tempinho para desembrulhar esse presente do Natal, para pensar e descobrir a riqueza do Batismo. Cada criança, cada jovem, cada pessoa, tem o direito de ouvir a Boa Nova da salvação, tem o direito de saber que Deus a ama e se entregou a si mesmo por ela. A este direito de cada pessoa corresponde o dever que a Igreja tem de ir e anunciar, no respeito pela liberdade de quem ouve e na consciência de que, se o encontro com Cristo acontecer, ele se deve à força da Palavra, à ação do Espírito Santo e ao testemunho de quem anuncia. Anunciar e testemunhar, com alegria e esperança, são o primeiro e o mais importante serviço de Caridade e Amor que os cristãos podem prestar à humanidade, começando pelas pessoas que mais se amam, a família. “Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações” (Sl 94).

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 2021-01-08.

 

*****************

 

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE

PAPA FRANCISCO

PARA O

XXIX DIA MUNDIAL DO DOENTE

(11 de fevereiro de 2021)

 

«Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos» (Mt 23,8)

A relação de confiança na base do cuidado dos doentes

 

 

Queridos irmãos e irmãs!

 

A celebração do XXIX Dia Mundial do Doente, 11 de fevereiro de 2021, memória de Nossa Senhora de Lurdes, é momento propício para prestar uma atenção especial às pessoas doentes e a quantos as assistem, quer nos centros de saúde quer no seio das famílias e das comunidades. Penso de modo particular nas pessoas que sofrem em todo o mundo os efeitos da pandemia do coronavírus. A todos, especialmente aos mais pobres e marginalizados, expresso a minha proximidade espiritual, assegurando a solicitude e o afeto da Igreja.

 

1. O tema deste Dia inspira-se no trecho evangélico em que Jesus critica a hipocrisia de quantos dizem mas não fazem (cf. Mt 23,1-12). Quando a fé fica reduzida a exercícios verbais estéreis, sem se envolver na história e nas necessidades do outro, então falha a coerência entre o credo que se professa e a vida real. O risco é grave; por isso Jesus usa expressões fortes, para acautelar do perigo de derrapagem na idolatria de si mesmo, e afirma: «Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos» (v. 8).

Esta crítica feita por Jesus àqueles que «dizem e não fazem» (v. 3) é sempre salutar para todos, pois ninguém está imune do mal da hipocrisia, um mal muito grave, cujo efeito é impedir-nos de desabrochar como filhos do único Pai, chamados a viver uma fraternidade universal.

Diante da condição de necessidade do irmão e da irmã, Jesus apresenta um modelo de comportamento totalmente oposto à hipocrisia: propõe deter-se, escutar, estabelecer uma relação direta e pessoal, sentir empatia e enternecimento, deixar-se comover pelo seu sofrimento até se encarregar dele, servindo-o (cf. Lc 10,30-35).

 

2. A experiência da doença faz-nos sentir a nossa vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, a necessidade inata do outro. Torna ainda mais nítida a nossa condição de criaturas, experimentando de maneira evidente a nossa dependência de Deus. De facto, quando estamos doentes, a incerteza, o temor e, por vezes, o pavor impregnam a mente e o coração; encontramo-nos numa situação de impotência, porque a saúde não depende das nossas capacidades nem do nosso afã (cf. Mt 6,27).

A doença impõe uma pergunta sobre o sentido que, na fé, se dirige a Deus. Uma pergunta que procura um significado novo e uma nova direção para a existência e que, por vezes, pode não encontrar imediatamente uma resposta. Os próprios amigos e familiares nem sempre são capazes de nos ajudar nesta procura desgastante.

A este respeito, é emblemática a figura bíblica de Job. A esposa e os amigos não conseguem acompanhá-lo na sua desventura; até o acusam, aumentando nele a solidão e o desorientamento. Job cai num estado de abandono e de incompreensão. Mas é precisamente através desta fragilidade extrema, rejeitando toda a hipocrisia e escolhendo o caminho da sinceridade para com Deus e os outros, que faz chegar com insistência o seu grito a Deus que acaba por responder-lhe, abrindo um novo horizonte. Confirma que o seu sofrimento não é uma punição ou um castigo, nem mesmo um estado de distanciamento de Deus ou um sinal da sua indiferença. Assim, do coração ferido e reparado de Job, brota aquela vibrante e comovente declaração ao Senhor: «Só Vos conhecia por ouvir falar de Vós, mas agora já Vos viram os meus próprios olhos» (Job 42,5).

 

3. A doença tem sempre um rosto, e até mais que um: o rosto de cada pessoa doente, mesmo daquelas que se sentem ignoradas, excluídas, vítimas de injustiças sociais que lhes negam direitos essenciais (cf. Encíclica Fratelli tutti, 22). A atual pandemia pôs em evidência muitas insuficiências dos sistemas de saúde e carências na assistência às pessoas doentes. Aos idosos, aos mais frágeis e vulneráveis, nem sempre é garantido o acesso aos cuidados médicos, ou não o é sempre de forma equitativa. Isto depende das opções políticas, do modo de administrar os recursos e do empenho de quantos revestem funções de responsabilidade. Investir recursos nos cuidados e na assistência às pessoas doentes é uma prioridade ditada pelo princípio de que a saúde é um bem comum primário. Ao mesmo tempo, a pandemia pôs também em evidência a dedicação e generosidade de profissionais de saúde, voluntários, trabalhadores e trabalhadoras, sacerdotes, religiosos e religiosas que, com profissionalismo, abnegação, sentido de responsabilidade e amor ao próximo, ajudaram, trataram, confortaram e serviram tantos doentes e os seus familiares. Uma série silenciosa de homens e mulheres que optaram por olhar para aqueles rostos, ocupando-se das feridas de pacientes que sentiam como próximos em virtude da pertença comum à família humana.

Com efeito, a proximidade é um bálsamo precioso, que dá apoio e consolação a quem sofre na doença. Enquanto cristãos, vivemos uma tal proximidade como expressão do amor de Jesus Cristo, o bom Samaritano, que com compaixão Se fez próximo de todo o ser humano, ferido pelo pecado. Unidos a Ele pela ação do Espírito Santo, somos chamados a ser misericordiosos como o Pai e a amar, de modo especial, os irmãos doentes, frágeis e atribulados (cf. Jo 13,34-35). E vivemos esta proximidade pessoalmente, mas também de forma comunitária: na realidade, o amor fraterno em Cristo gera uma comunidade capaz de curar, que não abandona ninguém, que inclui e acolhe sobretudo os mais frágeis.

A propósito, quero recordar a importância da solidariedade fraterna, que se manifesta concretamente no serviço, podendo assumir formas muito diferentes, mas todas elas tendentes a apoiar o próximo. «Servir significa cuidar dos frágeis das nossas famílias, da nossa sociedade, do nosso povo» (Homilia em Havana, 20 de setembro de 2015). Neste compromisso, cada um é capaz «de pôr de lado as suas exigências e expectativas, os seus desejos de omnipotência, diante do olhar concreto dos mais frágeis [...]. O serviço olha sempre o rosto do irmão, toca a sua carne, sente a sua proximidade até, em alguns casos, a “sofrer”, e procura a promoção do irmão. Por isso, o serviço nunca é ideológico, já que não servimos ideias, mas pessoas» (ibid.).

 

4. Para que haja uma boa terapêutica é decisivo o aspeto relacional, através do qual se pode conseguir uma abordagem holística da pessoa doente. A valorização deste aspeto ajuda também os médicos, enfermeiros, profissionais e voluntários a ocuparem-se daqueles que sofrem para os acompanhar ao longo do itinerário de cura, graças a uma relação interpessoal de confiança (cf. Nova Carta dos Agentes de Saúde, [2016], 4). Trata-se, pois, de estabelecer um pacto entre as pessoas carecidas de cuidados e aqueles que as tratam; um pacto baseado na confiança e no respeito mútuos, na sinceridade, na disponibilidade, de modo a superar toda e qualquer barreira defensiva, colocar no centro a dignidade da pessoa doente, tutelar o profissionalismo dos agentes de saúde e manter um bom relacionamento com as famílias dos doentes.

Esta relação com a pessoa doente encontra uma fonte inesgotável de motivações e energias precisamente na caridade de Cristo, como demonstra o testemunho milenar de homens e mulheres que se santificaram servindo os enfermos. Efetivamente, do mistério da morte e ressurreição de Cristo brota aquele amor que é capaz de dar sentido pleno, tanto à condição do doente, como à da pessoa que dele cuida. Assim o atesta muitas vezes o Evangelho quando mostra que as curas realizadas por Jesus nunca são gestos mágicos, mas fruto de um encontro, uma relação interpessoal, em que ao dom de Deus, oferecido por Jesus, corresponde a fé de quem o acolhe, como se resume nesta frase que Jesus repete com frequência: “Foi a tua fé que te salvou”.

 

5. Queridos irmãos e irmãs, o mandamento do amor, que Jesus deixou aos seus discípulos, encontra uma realização concreta também no relacionamento com os doentes. Uma sociedade é tanto mais humana quanto melhor souber cuidar dos seus membros frágeis e atribulados e o fizer com uma eficiência animada por amor fraterno. Tendamos para esta meta, procurando que ninguém fique sozinho, nem se sinta excluído e abandonado.

Confio todas as pessoas doentes, os agentes de saúde e quantos se prodigalizam junto aos que sofrem, a Maria, Mãe de Misericórdia e Saúde dos Enfermos. Que Ela, da Gruta de Lurdes e dos seus inumeráveis santuários espalhados por todo o mundo, sustente a nossa fé e a nossa esperança e nos ajude a cuidar uns dos outros com amor fraterno. A todos e cada um concedo, de coração, a minha bênção.

 

Roma, em São João de Latrão, a 20 de dezembro de 2020, IV Domingo de Advento.

 

Francisco

 

 

 

 

 

 

 

 

Sem comentários:

Enviar um comentário