PARÓQUIAS
DE NISA
Quarta-feira,
20 de janeiro de 2021
LITURGIA
Quarta-feira
da semana II
S. Fabião, papa e mártir – MF
S.
Sebastião, mártir – MF
Verde ou verm. – Ofício da féria ou da memória.
Missa à escolha (cf. p. 19, n. 18).
L 1 Hebr 7, 1-3. 15-17; Sal 109 (110), 1. 2. 3. 4
Ev Mc 3, 1-6
* Na Diocese de Lamego – S. Sebastião, Padroeiro principal – SOLENIDADE
* Na Diocese de Viana do Castelo – S. Sebastião, mártir – MO
* Aniversário da Ordenação episcopal de D. Jacinto Tomás de Carvalho Botelho,
Bispo Emérito de Lamego (1996).
* Na Ordem Carmelita – B. Ângelo Paoli, presbítero – MF
* Na Ordem Cisterciense da Estrita Observância – B. Cipriano Miguel Tansi,
monge OCEO – MF
* Na Ordem Hospitaleira de S. João de Deus – Conversão de S. João de Deus – MO
* 3º dia do Oitavário de Orações pela Unidade dos Cristãos.
MISSA
ANTÍFONA
DE ENTRADA (Sl 65,4)
Toda a terra Vos adore, Senhor,
e entoe hinos ao vosso
nome, ó Altíssimo.
ORAÇÃO
COLECTA
Deus eterno e omnipotente,
que governais o céu e a terra, escutai
misericordiosamente as súplicas do vosso povo e concedei a paz aos
nossos dias. Por Nosso Senhor.
LEITURA I (anos ímpares) Hebr 7, 1-3.15-17
«Tu és sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedec»
Leitura da
Epístola aos Hebreus
Irmãos: Melquisedec, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, foi ao encontro
de Abraão, quando este regressava vitorioso do combate contra os reis; ele
abençoou Abraão e Abraão deu-lhe o dízimo de todos os despojos. O seu nome
significa em primeiro lugar «rei de justiça», mas também «rei de Salém», isto
é, «rei de paz». Aparece sem pai, nem mãe, nem genealogia, sem princípio de
seus dias, nem fim da sua vida; semelhante ao Filho de Deus, permanece
sacerdote para sempre. Assim se torna bem evidente que a perfeição não veio por
meio do sacerdócio levítico, uma vez que, à semelhança de Melquisedec, surge
outro sacerdote instituído, não em virtude de uma lei humana, mas por força de uma
vida imortal. É d’Ele que se dá este testemunho: «Tu és sacerdote para sempre
segundo a ordem de Melquisedec».
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Salmo 109 (110), 1.2.3.4 (R. 4bc)
Refrão: O Senhor é sacerdote para sempre.
Repete-se
Ou: Tu és sacerdote para sempre,
segundo a ordem de Melquisedec. Repete-se
Disse o Senhor ao meu Senhor:
«Senta-te à minha direita,
até que Eu faça de teus inimigos escabelo de teus pés. Refrão
O Senhor estenderá de Sião
o ceptro do teu poder
e tu dominarás no meio dos teus inimigos. Refrão
A ti pertence a realeza desde o dia em que nasceste
nos esplendores da santidade,
antes da aurora, como orvalho, Eu te gerei». Refrão
O Senhor jurou e não Se arrependerá:
«Tu és sacerdote para sempre,
segundo a ordem de Melquisedec». Refrão
ALELUIA cf. Mt 4, 23
Refrão: Aleluia. Repete-se
Jesus proclamava o Evangelho do reino
e curava todas as doenças entre o povo. Refrão
EVANGELHO Mc 3, 1-6
«Será permitido ao sábado salvar a vida ou tirá-la?»
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Jesus entrou de novo na sinagoga, onde estava um homem com uma das mãos
atrofiada. Os fariseus observavam Jesus para verem se Ele ia curá-lo ao sábado
e poderem assim acusá-l’O. Jesus disse ao homem que tinha a mão atrofiada:
«Levanta-te e vem aqui para o meio». Depois perguntou-lhes: «Será permitido ao
sábado fazer bem ou fazer mal, salvar a vida ou tirá-la?». Mas eles ficaram
calados. Então, olhando-os com indignação e entristecido com a dureza dos seus
corações, disse ao homem: «Estende a mão». Ele estendeu-a e a mão ficou curada.
Os fariseus, porém, logo que saíram dali, reuniram-se com os herodianos para deliberarem
como haviam de acabar com Ele.
Palavra
da salvação.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Concedei-nos, Senhor, a graça de participar dignamente nestes mistérios, pois
todas as vezes que celebramos o memorial deste sacrifício realiza-se a obra da
nossa redenção. Por Nosso Senhor.
ANTÍFONA
DA COMUNHÃO (Sl 22,5)
Para mim preparais a mesa e o meu cálice transborda.
ORAÇÃO
DEPOIS DA COMUNHÃO
Infundi em nós, Senhor,
o espírito da vossa caridade, para que vivam
unidos num só coração e numa só alma aqueles que saciastes com
o mesmo pão do Céu. Por Nosso Senhor.
MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA:
1. Leitura: - Lê, respeita, situa o que lês.
- Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste
2. Meditação: - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.
- Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua
vida” 2020.11.28
3. Oração: - Louva o Senhor, suplica, escuta.
- Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.
LEITURAS –
Hebr 7,
1-3.15-17 :Nesta passagem afirma-se a superioridade
do sacerdócio de Cristo sobre o dos sacerdotes da Antiga Aliança, o sacerdócio
levítico; Melquisedec é um rei sacerdote, diferente dos sacerdotes da tribo de
Levi, a tribo sacerdotal do Antigo Testamento. O silêncio da Sagrada Escritura
sobre a sua origem e os seus descendentes faz pensar num sacerdócio eterno, que
é aqui tomado como figura do sacerdócio de Cristo.
Mc
3, 1-6 :De novo, Jesus procura fazer compreender o sentido
profundo das observâncias religiosas, particularmente do descanso do sábado.
Mas, os que O observam e acusam não são bem intencionados, não os move o zelo
sincero, mas o ódio. Por isso, eles nunca entenderão nem as palavras nem as
acções do Senhor. São voluntariamente cegos. E é este o maior dos pecados.
AGENDA DO DIA
10.30 horas: Funeral em
Amieira do Tejo
17.00 horas: Missa em
Gáfete
18.00 horas: Missa em
Alpalhão
18.00 horas: Missa em
Nisa – Nossa Senhora da Graça
18.00 horas: Missa em
Tolosa.
A VOZ DO PASTOR:
PENSAR DÁ MUITA TRABALHEIRA!... Oh!, se não dá!...
Já pensaste bem naquele teu e meu presente que nos foi
dado no Natal?!... Então, anda daí, junta-te a nós e vamos desembrulhá-lo. Às vezes,
fala-se sem pensar. Não raro, mesmo quando se pensa, cumpre-se o ditado: “cada
cavadela sua minhoca”, ou então: “ou entra mosca ou sai asneira”! Pensar é uma
exigência do bom senso em ordem à verdade, ao bem e ao melhor. Muitas coisas
não aconteceriam, ou aconteceriam, se, primeiro, se pensasse bem nas
consequências do fazer ou do não fazer. É consensual que a Verdade anda por aí
a lamentar-se e a manquejar, sente-se desconsiderada e muito mal tratada,
desconfia-se dela, descarta-se, tantas vezes por indiferença, subserviências,
interesses ou maldade. Coisas dos homens!... E das mulheres também!... Parte-se
do princípio de que a diversidade de posições são todas iguais, têm todas o
mesmo valor, o que interessa é falar!. No entanto, só a Verdade é verdadeira,
embora a mentira possa ter alguma coisa de verdade. Há quem, por exemplo, use
meias verdades para levar a água ao seu moinho. É uma forma de gerar embustes
entre pessoas ou na própria sociedade. Faz-se passar mentiras muito bem
empanadas em doces meias verdades. Mas só a Verdade é capaz de iluminar,
orientar e promover a pessoa e o sentido da própria vida. Só a Verdade é o
alicerce seguro da construção do bem comum. Só a Verdade nos restabelecerá de
situações menos felizes que acontecem na nossa própria vida. Será na Verdade,
que, um dia, no fim dos tempos, apesar dos muitos desencontros, encontros e
encontrões por este vale de lágrimas, todos haveremos de nos encontrar.
O diálogo pode ser um ótimo meio para encontrar a
Verdade. Não o diálogo-conversa-de-café onde cada um diz o que lhe apetece e
parece, sem fundamento nem conhecimento de causa. Não o diálogo para o qual se
parte com preconceitos, com conclusões preestabelecidas, com o desejo de vencer
ou o medo de perder. Não o diálogo em que, em nome da liberdade, a pessoa se
desvincula da referência à Verdade, nega a capacidade de a poder conhecer e de
reconhecer o que é verdadeiro. Não o diálogo que usa formas de argumentar que
encapotam aquele relativismo e subjetividade que, nada reconhecendo como
definitivo, tem como medida o próprio EU e as suas decisões subjetivas,
partindo do pressuposto de que a Verdade se manifesta, de modo igual, nas mais
diversas situações e doutrinas, mesmo que contraditórias. Só o diálogo feito
com reta intenção, com capacidade de escuta, com respeito mútuo, humildade e
inteligência, dará frutos. É da discussão que nasce a luz. Se é a Verdade que
se procura, a Verdade, poderá demorar em se mostrar, mas acabará por dar a mão
à palmatória e saltar, não porque lhe doeram as reguadas, mas com a alegria de
ter sido encontrada. Não a minha verdade, não a tua verdade, não a nossa
verdade - ninguém tem o monopólio da verdade! -, mas aquela Verdade que todos
procuramos. De facto, somos verdadeiros na medida em que buscamos a Verdade e
nela procuramos viver, sem favorecer quem se esmera em defender interesses
dúbios, quem usa ideologias esfarrapadas ou arrogância intimidatória. O
respeito por todos não significa que possa haver indiferença perante a Verdade
e o Bem. Pelo contrário, é o próprio amor que exige e incita a que se anuncie a
todos o Bem que edifica e a Verdade que salva.
A terminar o tempo festivo do Natal, celebramos o
Batismo do Senhor, no rio Jordão. Não tendo pecado, Jesus meteu-se na fila,
misturou-se com os penitentes para ser batizado por João. Ao sair da água,
porém, viu descer sobre si o Espírito Santo, o Espírito da Verdade, e ouviu o
Pai a chamar-lhe Filho muito amado. Um dia, o encavacado Pilatos perguntou a
Jesus o que era a Verdade. Jesus, porém, não lhe respondeu, até porque Pilatos
não estava interessado na Verdade, só queria ouvir de Jesus o que ele e o povo
gostariam de ouvir. Mas Jesus apresentou-se aos seus como o Caminho, a Verdade
e a Vida. Para nós, cristãos, a Verdade plena é Jesus Cristo. Uma Verdade que
nunca se impôs ou impõe, apenas se propõe e convida todas as pessoas à
conversão e à fé, à alegria de viver na Verdade e de caminhar em direção à
Verdade plena.
Para continuar esta missão que o Pai lhe confiara,
Jesus instituiu a Igreja que, depois da Ressurreição, a enviou por todo o
mundo, em seu nome, para chegar a todos e a cada um. Movida pelo Espírito
Santo, a Igreja, apesar das suas debilidades e fraquezas - que são muitas
porque também é humana -, tem o dever de obedecer e continuar a missão de
Cristo, convidando à mudança de vida e de mentalidade, convidando à conversão e
à Verdade, à vida nova em Cristo e à receção do Batismo. A missão de batizar
está implicada na missão de evangelizar. O Batismo não é um simples rito,
formalidade ou tradição. É uma verdadeira festa da família e comunidade
cristãs, sobretudo quando todos estão conscientes do que celebram: um
Sacramento, instituído por Cristo. Por ele, somos imersos na fonte de vida que
é a morte de Jesus, o mais sublime ato de amor de toda a história. Por ele,
‘ressuscitamos’ para uma vida nova na comunhão com Deus e os irmãos. Por ele,
tornamo-nos membros da Igreja e participantes do sacerdócio, profetismo e
realeza de Jesus Cristo. Por ele, temos acesso à celebração dos outros
sacramentos, todos eles graça do Espírito Santo, que alimentam, fortificam,
exprimem a fé e tornam-nos portadores de uma nova esperança, os quais, para os
crentes, são necessários para a salvação.
Ao celebrarmos o Batismo do Senhor, também fazemos
memória do nosso próprio Batismo. Somos batizados no Espírito da Verdade, o
qual nos transmite a ternura do perdão divino, nos impele para a Verdade e faz
ecoar em nós a voz do Pai a chamar-nos filhos muito amados! Filhos e herdeiros,
colaboradores na construção do seu reino, usufruindo de todas as graças que o
Senhor nos oferece, na e pela sua Igreja, riqueza sem igual e tão pouco
interiorizada!...
Constata-se que muitas pessoas batizadas, nunca
avaliaram a riqueza do dom do Batismo, nunca refletiram sobre os seus efeitos e
consequências, nunca lhe procuraram corresponder, comprometidos e agradecidos.
Uns, por deficiente formação cristã, culpável ou não. Outros, por preconceitos
ou indiferença. Outros, talvez por resistência à força da Palavra e ação do
Espírito Santo, mesmo quando comprovadas pelo testemunho de quem anuncia. Mas
quase todos, assim o acredito, porque nunca pararam para pensar! Estou
convencido que, se se pensasse e se buscasse a Verdade, descobrindo o que
significa ser batizado em nome da Santíssima Trindade, com certeza que não se
negaria o Batismo aos filhos. Não se adiaria sem razão. Saber-se-ia escolher os
padrinhos em função do seu testemunho eclesial. Ninguém, por respeito a si
próprio e aos outros, ninguém aceitaria ser padrinho se a sua própria vida fosse
vivida à margem da Igreja. Não se fugiria à preparação da celebração. Iria
agradecer-se e ensinar a agradecer tão grande graça que o Senhor nos concede. A
própria celebração aconselharia toda a família, ou pelo menos os pais e
padrinhos, ao Sacramento da Reconciliação para receberem a Sagrada Eucaristia e
testemunharem a comunhão em Cristo que, na Igreja e pela Igreja, batiza aquela
criança tornando-a templo da Santíssima Trindade. Isto levaria a um melhor
compromisso no dever de viver, defender, apoiar, espevitar e fazer crescer a fé
da criança. Mesmo aos adultos não batizados, o Senhor diz: “Se hoje ouvirdes a
voz do Senhor, não fecheis os vossos corações” (Sl 94). Estou certo de que, se
pensassem, procurassem e descobrissem a Verdade, iriam, com certeza, afirmar
como Santo Agostinho, afastado de Deus na sua juventude: “Tarde vos amei, ó
Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim,
e eu, lá fora, a procurar-Vos! ... Porém, chamastes-me, com uma voz tão forte,
que rompestes a minha Surdez! Brilhastes, cintilastes, e logo afugentastes a
minha cegueira!... Saboreei-Vos e, agora, tenho fome e sede de Vós. Tocastes-me
e ardi, no desejo da Vossa Paz”.
Com isto, não estou a defender o proselitismo. Este é
sempre de rejeitar, é negativo, não se coaduna com o espírito do Evangelho, não
salvaguarda a liberdade e a dignidade da pessoa. Com isto estou apenas a propor
e a pedir um tempinho para desembrulhar esse presente do Natal, para pensar e
descobrir a riqueza do Batismo. Cada criança, cada jovem, cada pessoa, tem o
direito de ouvir a Boa Nova da salvação, tem o direito de saber que Deus a ama
e se entregou a si mesmo por ela. A este direito de cada pessoa corresponde o
dever que a Igreja tem de ir e anunciar, no respeito pela liberdade de quem
ouve e na consciência de que, se o encontro com Cristo acontecer, ele se deve à
força da Palavra, à ação do Espírito Santo e ao testemunho de quem anuncia.
Anunciar e testemunhar, com alegria e esperança, são o primeiro e o mais
importante serviço de Caridade e Amor que os cristãos podem prestar à
humanidade, começando pelas pessoas que mais se amam, a família. “Se hoje
ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações” (Sl 94).
Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 2021-01-08.
*****************
MENSAGEM DE SUA SANTIDADE
PAPA FRANCISCO
PARA O
XXIX DIA MUNDIAL DO DOENTE
(11 de fevereiro de 2021)
«Um só é o vosso
Mestre e vós sois todos irmãos» (Mt 23,8)
A relação de
confiança na base do cuidado dos doentes
Queridos irmãos
e irmãs!
A celebração do XXIX Dia Mundial do Doente, 11 de
fevereiro de 2021, memória de Nossa Senhora de Lurdes, é momento propício para
prestar uma atenção especial às pessoas doentes e a quantos as assistem, quer
nos centros de saúde quer no seio das famílias e das comunidades. Penso de modo
particular nas pessoas que sofrem em todo o mundo os efeitos da pandemia do
coronavírus. A todos, especialmente aos mais pobres e marginalizados, expresso
a minha proximidade espiritual, assegurando a solicitude e o afeto da Igreja.
1. O tema deste Dia inspira-se no trecho evangélico
em que Jesus critica a hipocrisia de quantos dizem mas não fazem (cf. Mt 23,1-12).
Quando a fé fica reduzida a exercícios verbais estéreis, sem se envolver na
história e nas necessidades do outro, então falha a coerência entre o credo que
se professa e a vida real. O risco é grave; por isso Jesus usa expressões
fortes, para acautelar do perigo de derrapagem na idolatria de si mesmo, e
afirma: «Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos» (v. 8).
Esta crítica feita por Jesus àqueles que «dizem e
não fazem» (v. 3) é sempre salutar para todos, pois ninguém está imune do mal
da hipocrisia, um mal muito grave, cujo efeito é impedir-nos de desabrochar
como filhos do único Pai, chamados a viver uma fraternidade universal.
Diante da condição de necessidade do irmão e da
irmã, Jesus apresenta um modelo de comportamento totalmente oposto à
hipocrisia: propõe deter-se, escutar, estabelecer uma relação direta e pessoal,
sentir empatia e enternecimento, deixar-se comover pelo seu sofrimento até se
encarregar dele, servindo-o (cf. Lc 10,30-35).
2. A experiência da doença faz-nos sentir a nossa
vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, a necessidade inata do outro. Torna ainda
mais nítida a nossa condição de criaturas, experimentando de maneira evidente a
nossa dependência de Deus. De facto, quando estamos doentes, a incerteza, o
temor e, por vezes, o pavor impregnam a mente e o coração; encontramo-nos numa
situação de impotência, porque a saúde não depende das nossas capacidades nem
do nosso afã (cf. Mt 6,27).
A doença impõe uma pergunta sobre o sentido que, na
fé, se dirige a Deus. Uma pergunta que procura um significado novo e uma nova
direção para a existência e que, por vezes, pode não encontrar imediatamente
uma resposta. Os próprios amigos e familiares nem sempre são capazes de nos
ajudar nesta procura desgastante.
A este respeito, é emblemática a figura bíblica de
Job. A esposa e os amigos não conseguem acompanhá-lo na sua desventura; até o
acusam, aumentando nele a solidão e o desorientamento. Job cai num estado de
abandono e de incompreensão. Mas é precisamente através desta fragilidade
extrema, rejeitando toda a hipocrisia e escolhendo o caminho da sinceridade
para com Deus e os outros, que faz chegar com insistência o seu grito a Deus
que acaba por responder-lhe, abrindo um novo horizonte. Confirma que o seu
sofrimento não é uma punição ou um castigo, nem mesmo um estado de
distanciamento de Deus ou um sinal da sua indiferença. Assim, do coração ferido
e reparado de Job, brota aquela vibrante e comovente declaração ao Senhor: «Só
Vos conhecia por ouvir falar de Vós, mas agora já Vos viram os meus próprios
olhos» (Job 42,5).
3. A doença tem sempre um rosto, e até mais que um:
o rosto de cada pessoa doente, mesmo daquelas que se sentem ignoradas,
excluídas, vítimas de injustiças sociais que lhes negam direitos essenciais
(cf. Encíclica Fratelli tutti,
22). A atual pandemia pôs em evidência muitas insuficiências dos
sistemas de saúde e carências na assistência às pessoas doentes. Aos idosos,
aos mais frágeis e vulneráveis, nem sempre é garantido o acesso aos cuidados
médicos, ou não o é sempre de forma equitativa. Isto depende das opções
políticas, do modo de administrar os recursos e do empenho de quantos revestem funções
de responsabilidade. Investir recursos nos cuidados e na assistência às pessoas
doentes é uma prioridade ditada pelo princípio de que a saúde é um bem comum
primário. Ao mesmo tempo, a pandemia pôs também em evidência a dedicação e
generosidade de profissionais de saúde, voluntários, trabalhadores e
trabalhadoras, sacerdotes, religiosos e religiosas que, com profissionalismo,
abnegação, sentido de responsabilidade e amor ao próximo, ajudaram, trataram,
confortaram e serviram tantos doentes e os seus familiares. Uma série
silenciosa de homens e mulheres que optaram por olhar para aqueles rostos,
ocupando-se das feridas de pacientes que sentiam como próximos em virtude da
pertença comum à família humana.
Com efeito, a proximidade é um bálsamo precioso, que
dá apoio e consolação a quem sofre na doença. Enquanto cristãos, vivemos uma
tal proximidade como expressão do amor de Jesus Cristo, o bom Samaritano, que
com compaixão Se fez próximo de todo o ser humano, ferido pelo pecado. Unidos a
Ele pela ação do Espírito Santo, somos chamados a ser misericordiosos como o
Pai e a amar, de modo especial, os irmãos doentes, frágeis e atribulados (cf. Jo
13,34-35). E vivemos esta proximidade pessoalmente, mas também de forma
comunitária: na realidade, o amor fraterno em Cristo gera uma comunidade capaz
de curar, que não abandona ninguém, que inclui e acolhe sobretudo os mais
frágeis.
A propósito, quero recordar a importância da
solidariedade fraterna, que se manifesta concretamente no serviço, podendo
assumir formas muito diferentes, mas todas elas tendentes a apoiar o próximo.
«Servir significa cuidar dos frágeis das nossas famílias, da nossa sociedade,
do nosso povo» (Homilia em Havana, 20
de setembro de 2015). Neste compromisso, cada um é capaz «de pôr de lado as suas
exigências e expectativas, os seus desejos de omnipotência, diante do olhar
concreto dos mais frágeis [...]. O serviço olha sempre o rosto do irmão, toca a
sua carne, sente a sua proximidade até, em alguns casos, a “sofrer”, e procura
a promoção do irmão. Por isso, o serviço nunca é ideológico, já que não
servimos ideias, mas pessoas» (ibid.).
4. Para que haja uma boa terapêutica é decisivo o
aspeto relacional, através do qual se pode conseguir uma abordagem holística da
pessoa doente. A valorização deste aspeto ajuda também os médicos, enfermeiros,
profissionais e voluntários a ocuparem-se daqueles que sofrem para os
acompanhar ao longo do itinerário de cura, graças a uma relação interpessoal de
confiança (cf. Nova Carta dos Agentes de Saúde, [2016], 4). Trata-se,
pois, de estabelecer um pacto entre as pessoas carecidas de cuidados e aqueles
que as tratam; um pacto baseado na confiança e no respeito mútuos, na
sinceridade, na disponibilidade, de modo a superar toda e qualquer barreira
defensiva, colocar no centro a dignidade da pessoa doente, tutelar o
profissionalismo dos agentes de saúde e manter um bom relacionamento com as
famílias dos doentes.
Esta relação com a pessoa doente encontra uma fonte
inesgotável de motivações e energias precisamente na caridade de Cristo,
como demonstra o testemunho milenar de homens e mulheres que se santificaram
servindo os enfermos. Efetivamente, do mistério da morte e ressurreição de
Cristo brota aquele amor que é capaz de dar sentido pleno, tanto à condição do
doente, como à da pessoa que dele cuida. Assim o atesta muitas vezes o
Evangelho quando mostra que as curas realizadas por Jesus nunca são gestos
mágicos, mas fruto de um encontro, uma relação interpessoal, em
que ao dom de Deus, oferecido por Jesus, corresponde a fé de quem o acolhe,
como se resume nesta frase que Jesus repete com frequência: “Foi a tua fé que
te salvou”.
5. Queridos irmãos e irmãs, o mandamento do amor,
que Jesus deixou aos seus discípulos, encontra uma realização concreta também
no relacionamento com os doentes. Uma sociedade é tanto mais humana quanto
melhor souber cuidar dos seus membros frágeis e atribulados e o fizer com uma
eficiência animada por amor fraterno. Tendamos para esta meta, procurando que
ninguém fique sozinho, nem se sinta excluído e abandonado.
Confio todas as pessoas doentes, os agentes de saúde
e quantos se prodigalizam junto aos que sofrem, a Maria, Mãe de Misericórdia e
Saúde dos Enfermos. Que Ela, da Gruta de Lurdes e dos seus inumeráveis santuários
espalhados por todo o mundo, sustente a nossa fé e a nossa esperança e nos
ajude a cuidar uns dos outros com amor fraterno. A todos e cada um concedo, de
coração, a minha bênção.
Roma, em São João de
Latrão, a 20 de dezembro de 2020, IV Domingo de Advento.
Francisco
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