quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

 

 

PARÓQUIAS DE NISA

 

Quinta-feira, 21 de janeiro de 2021 

 

LITURGIA

 

Quinta-feira da semana II

S. Inês, virgem e mártir – MO
Vermelho – Ofício da memória.
Missa da memória.

L 1 Hebr 7, 25 – 8, 6; Sal 39 (40), 7-8a. 8b-9. 10. 17
Ev Mc 3, 7-12

* Na Diocese de Portalegre-Castelo Branco – Aniversário da Ordenação episcopal de D. Antonino Eugénio Fernandes Dias (2001).
* 4º dia do Oitavário de Orações pela Unidade dos Cristãos.
* Na Diocese do Algarve – I Vésp. de S. Vicente.
* No Patriarcado de Lisboa – I Vésp. de S. Vicente.
* Na Sociedade do Apostolado Católico (Padres Pallotinos) – I Vésp. de S. Vicente Pallotti.

 

 S. INÊS, virgem e mártir

 

Nota Histórica

Foi martirizada em Roma na segunda metade do século III ou, mais provavelmente, no princípio do século IV. O papa S. Dâmaso adornou com versos o seu sepulcro e muitos santos Padres, seguindo S. Ambrósio, celebraram os seus louvores.

 

MISSA

 

ANTÍFONA DE ENTRADA Salmo 65, 4
Toda a terra Vos adore, Senhor,
e entoe hinos ao vosso nome, ó Altíssimo.


ORAÇÃO COLECTA
Deus eterno e omnipotente,
que governais o céu e a terra,
escutai misericordiosamente as súplicas do vosso povo
e concedei a paz aos nossos dias.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


LEITURA I (anos ímpares) Hebr 7, 25 – 8, 6
«Ofereceu sacrifícios, oferecendo-Se a Si mesmo»



Leitura da Epístola aos Hebreus

 
Irmãos: Jesus pode salvar para sempre aqueles que por seu intermédio se aproximam de Deus, porque vive perpetuamente para interceder por eles. Tal era, na verdade, o sumo sacerdote que nos convinha: santo, inocente, sem mancha, separado dos pecadores e elevado acima dos Céus. Ele não tem necessidade, como os outros sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifí¬cios, primeiro pelos seus pecados, depois pelos pecados do povo, porque o fez de uma vez para sempre quando Se ofereceu a Si mesmo. A Lei constitui sumos sacerdotes homens revestidos de fraqueza; mas a palavra do juramento, posterior à Lei, estabeleceu o Filho sumo sacerdote perfeito para sempre. O ponto principal de tudo quanto acabamos de dizer é este: Nós temos um sumo sacerdote que está sentado nos Céus, à direita do trono da divina majestade. Ele é ministro do santuário e do verdadeiro taberná¬culo, que foi construído pelo Senhor e não pelo homem. Na verdade, todo o sumo sacerdote é constituído para oferecer oblações e sacrifícios; por isso era necessário que Jesus tivesse também alguma coisa para oferecer. Ora, se Ele estivesse na terra, nem sequer seria sacerdote, porque há outros que oferecem as oblações segundo a Lei. Estes exercem um culto que é apenas imagem e sombra das realidades celestes, conforme foi divinamente revelado a Moisés, quando estava para construir o tabernáculo: «Olha – disse-lhe o Senhor – farás tudo segundo o modelo que te foi mostrado no monte». Mas Jesus obteve um ministério tanto mais elevado, quanto mais perfeita é a aliança de que Ele é mediador, a qual foi estabelecida sobre melhores promessas.


Palavra do Senhor.


SALMO RESPONSORIAL Salmo 39 (40), 7-8a.8b-9.10 e 17 (R. 8a e 9a)
Refrão: Eu venho, Senhor,
para fazer a vossa vontade.
Repete-se

Não Vos agradaram sacrifícios nem oblações,
mas abristes-me os ouvidos;
não pedistes holocaustos nem expiações,
então clamei: «Aqui estou». Refrão

«De mim está escrito no livro da Lei
que faça a vossa vontade.
Assim o quero, ó meu Deus,
a vossa lei está no meu coração». Refrão

Proclamarei a justiça na grande assembleia,
não fechei os meus lábios, Senhor, bem o sabeis. Refrão

Alegrem-se e exultem em Vós
todos os que Vos procuram.
Digam sempre: «Grande é o Senhor»
os que desejam a vossa salvação. Refrão


ALELUIA cf. 2 Tim 1, 10
Refrão: Aleluia Repete-se
Jesus Cristo, nosso Salvador, destruiu a morte
e fez brilhar a vida por meio do Evangelho. Refrão


EVANGELHO Mc 3, 7-12
«Os espíritos impuros gritavam: ‘Tu és o Filho de Deus’.
Jesus proibia-os severamente que o dessem a conhecer»



Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos


Naquele tempo, Jesus retirou-Se com os seus discípulos a caminho do mar e acompanhou-O uma numerosa multidão que tinha vindo da Galileia. Também da Judeia e de Jerusalém, da Idumeia e da Transjordânia e dos arredores de Tiro e de Sidónia, veio ter com Jesus uma grande multidão, por ouvir contar tudo o que Ele fazia. Disse então aos seus discípulos que Lhe preparassem uma barca, para que a multidão não O apertasse. Como tinha curado muita gente, todos os que sofriam de algum padecimento corriam para Ele, a fim de Lhe tocarem. Os espíritos impuros, quando viam Jesus, caíam a seus pés e gritavam: «Tu és o Filho de Deus». Ele, porém, proibia-lhes severamente que o dessem a conhecer.


Palavra da salvação.


ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Concedei-nos, Senhor,
a graça de participar dignamente nestes mistérios,
pois todas as vezes que celebramos o memorial deste sacrifício
realiza-se a obra da nossa redenção.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


ANTÍFONA DA COMUNHÃO Salmo 22, 5
Para mim preparais a mesa
e o meu cálice transborda.

Ou 1 Jo 4, 16
Nós conhecemos e acreditámos
no amor de Deus para connosco.


ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO

Infundi em nós, Senhor, o vosso espírito de caridade,
para que vivam unidos num só coração e numa só alma
aqueles que saciastes com o mesmo pão do Céu.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA:

 

1. Leitura:  - Lê, respeita, situa o que lês.

     - Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste

 

 2. Meditação:  - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.

     - Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua vida” 2020.11.28

 

3. Oração:  - Louva o Senhor, suplica, escuta.

     - Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.

 

LEITURAS –  Hebr 7, 25 – 8, 6: O sacrifício que Jesus ofereceu na Cruz é único, total e definitivo. Toda a história anterior, com a repetição indefinida de sacrifícios e a substituição constante de sacerdotes, foi um longo período de preparação. Pelo sacrifício de Jesus Cristo, o homem morreu para o pecado e ressuscitou para a vida nova; inaugurou-se então a escatologia, o tempo do fim, os últimos tempos; atingiu-se, em Cristo, a comunhão do homem com Deus.

 

Mc 3, 7-12: Jesus é procurado sobretudo pelos que mais precisam. É natural. E Ele mostra-Se-lhes como a fonte da vida; por isso, cura os doentes, como sinal de que tinham chegado finalmente os tempos preditos pelos profetas. Mas quer acima de tudo que as pessoas O encontrem na fé, e não vejam n’Ele apenas um simples benfeitor ou uma pessoa que arrasta multidões. A fé há-de nascer no coração e não na exaltação momentânea, fruto de emoção.

 

AGENDA DO DIA

18.00 horas: Missa em Nisa

 

A VOZ DO PASTOR:

 

E POR QUE NÃO?!... VAMOS A ISSO!...

 

Aplaudida em pleno confinamento, a prova já está na rua! A largada ou partida foi solene e festiva. Sabemos que muitos até já chegaram à meta. E a meta lá está, preparada com gosto, pompa e circunstância, e muita música, muita! Os caminhos a percorrer, porém, merecem atenção, há silvas e solavancos. Os princípios, as regras, a sinalética, o alimento, tudo o que é necessário para a prova está garantido. A preparação da mochila, essa sim, é da responsabilidade pessoal. Devem dispensar-se bolsas e sacolas, mas um bom cajado será muito útil para se deferem de lobos e minhoquices. Se alguém levar muita tralha, tenha cuidado, pode ficar peado, atrasar-se ou não chegar a tempo. Se não levar o preciso, pode perder a vontade, ter medo de continuar e desistir. Segundo as suas debilidades, exigências e circunstâncias existenciais, cada um deve ponderar bem e optar apenas pelo essencial, de forma equilibrada, nem demais nem de menos, como o sal na comida. A meta está ao alcance de todos, mesmo das pessoas doentes e portadoras de deficiência. Estas, atendendo à sua desenvoltura interior, são quase sempre as primeiras classificadas e a subir ao pódio. O trofeu a conquistar é valiosíssimo. Nem os olhos viram, nem os ouvidos escutaram, nem jamais passou por qualquer cabecinha pensadora o que está reservado a quem cortar a meta. O estafe de apoio garante o necessário para que ninguém fique pelo caminho ou fraqueje, é uma espécie de hospital de campanha. Por isso, não haverá carro vassoura. Mas o que é mesmo importante para o bom desempenho de todos os atletas é estar bem familiarizado com o Manual de procedimentos. Apelo sobretudo aos jovens, aos jovens em idade e em espírito, mesmo que idosos, apelo à sua criatividade e influência. É indispensável conhecer bem e ajudar a divulgar este indispensável instrumento de vida e ação, muito útil para pessoas, famílias, comunidades, estruturas setoriais e sociedade em geral, mesmo que algumas pareçam demasiadamente debruçadas sobre o seu umbigo e afuniladas na sua verdade. Quem sabe se não irão rasgar horizontes e prestar mais atenção ao que liberta e salva?!...

E eis que faço a todos uma pergunta muito indiscreta: já têm esse Manual? Aonde está? Na estante para se dar ares de intelectual? No fundo da gaveta para não se estragar? Têm-no manuseado e ajudado a manusear para que mais pessoas o conheçam e saibam ler nas linhas e entrelinhas? Pois é, todas essas instruções estão lá, nesse Manual, o Livro oficial da prova. Mas não basta dizer que se tem, tampouco basta passar-lhe os olhos como o gato por cima das brasas. Ele está escrito com a intenção de que ninguém se perca ou fique pelo caminho. O seu conteúdo é tremendamente perigoso e revolucionário. Segundo Mahatma Gandhi, ele “tem em si uma quantidade de dinamite suficiente para fazer explodir em mil pedaços a civilização inteira”. E Francisco, que cita Gandhi, afirma que em certos países quem possui esse Livro “é tratado como se escondesse granadas no armário!”. De facto, a sua eficácia é enorme. O rebuliço que provoca, porém, não é bélico, é de paz e de dentro para fora. Age a partir do coração, concerta os cacos dos estilhaçados, consola os feridos, aquece os gelados, trabalha os de pedra, apela à razão e ao compromisso no bem. Se levado a sério, contagia muitos, não no isolamento de atleta egoísta, mas na alegria de atuar em equipa para melhor servir, abraçando os outros, o bem e o melhor! Importante é que todos, desinfetados das covides mundanas, possam entrar e participar na interminável festa final, uma verdadeira festa de gala onde não se podem dispensar o cante alentejano e a veste nupcial.

O grande fã e organizador é o Papa Francisco, o qual não esmorece nem deixa de insistir na necessidade de se conhecer bem esse Manual de procedimentos. No seu zelo pelo bem de todos e para que todos o conheçam e se abram ao seu conteúdo, Francisco, até determinou, em 30 de setembro de 2019, que o III Domingo do tempo comum de cada ano, lhe fosse totalmente dedicado, apelando à criatividade e capacidade de quem atua no terreno para que se atinjam os verdadeiros objetivos. Não é monopólio de ninguém, não é “património só de alguns”, não é “uma coletânea de livros para poucos privilegiados”. O Papa chamou a esse dia o “Dia da Palavra de Deus”. É o dia da Bíblia, da Sagrada Escritura, do Livro do povo de Deus, escrito com a inspiração e o fogo do Espírito Santo e que deve ser celebrado, refletido e divulgado. É o Livro que se deve “explicar e fazer compreender a todos”, em linguagem “simples e adaptada”, falando “com o coração para chegar ao coração”, para que todos possam captar a sua beleza e a traduzir em atitudes de vida. Sem a Palavra de Deus, “o coração fica frio e os olhos permanecem fechados, atingidos, como somos, por inumeráveis formas de cegueira”. Estas cegueiras dificilmente deixam aplanar os caminhos que conduzem à meta. Quando, porém, a Palavra de Deus toca o coração das pessoas, faz-se luz, arreguilam-se os olhos. É uma Palavra que ensina, refuta, corrige, abre à partilha e à fraternidade, educa na justiça, faz compreender o que o Senhor quer dizer, constrói a Igreja e a sociedade civil, transcende os tempos, tem em si a eternidade, a vida eterna.

Com certeza que o amigo leitor já está em prova. O sinal da partida foi dado aquando do seu Batismo. A Igreja, apesar de também humana, frágil e pecadora, é o estafe de apoio com tudo o que é preciso para ajudar a vencer no meio de todos os sacrifícios e dificuldades. Umas vezes ela vai à frente, a puxar. Outras vezes vai ao lado, dando a mão, indicando o caminho, ajudando a levantar de tropeções e queda. Outras vezes toca no ombro, para que não se adormeça ou se fique distraído. Outras vezes fica atrás, responsabilizando e confiando. Como Mãe cuidadosa, ela exorta a que se confie no verdadeiro amigo e companheiro de viagem, Aquele que sempre nos repete: “Não tenhais medo!”. “Vinde a Mim todos vós que andais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei”.

Deixo uma sugestão: que cada família, como pequenina Igreja e primeira escola de fé e oração, no próximo dia 24, Dia da Palavra de Deus, destaque, lá em casa, em local nobre, com ternura e beleza, a Sagrada Escritura. E como São Marcos é o Evangelista deste ano litúrgico, sugiro a leitura do seu Evangelho. É o Evangelho das periferias, da identidade de Jesus, da nossa relação com Ele, do que significa ser discípulo.

Vamos a isso!

 

Antonino Dias

Portalegre-Castelo Branco, 15-01-2021.

 

 

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MENSAGEM DE SUA SANTIDADE

PAPA FRANCISCO

PARA O

XXIX DIA MUNDIAL DO DOENTE

(11 de fevereiro de 2021)

 

«Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos» (Mt 23,8)

A relação de confiança na base do cuidado dos doentes

 

 

Queridos irmãos e irmãs!

 

A celebração do XXIX Dia Mundial do Doente, 11 de fevereiro de 2021, memória de Nossa Senhora de Lurdes, é momento propício para prestar uma atenção especial às pessoas doentes e a quantos as assistem, quer nos centros de saúde quer no seio das famílias e das comunidades. Penso de modo particular nas pessoas que sofrem em todo o mundo os efeitos da pandemia do coronavírus. A todos, especialmente aos mais pobres e marginalizados, expresso a minha proximidade espiritual, assegurando a solicitude e o afeto da Igreja.

 

1. O tema deste Dia inspira-se no trecho evangélico em que Jesus critica a hipocrisia de quantos dizem mas não fazem (cf. Mt 23,1-12). Quando a fé fica reduzida a exercícios verbais estéreis, sem se envolver na história e nas necessidades do outro, então falha a coerência entre o credo que se professa e a vida real. O risco é grave; por isso Jesus usa expressões fortes, para acautelar do perigo de derrapagem na idolatria de si mesmo, e afirma: «Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos» (v. 8).

Esta crítica feita por Jesus àqueles que «dizem e não fazem» (v. 3) é sempre salutar para todos, pois ninguém está imune do mal da hipocrisia, um mal muito grave, cujo efeito é impedir-nos de desabrochar como filhos do único Pai, chamados a viver uma fraternidade universal.

Diante da condição de necessidade do irmão e da irmã, Jesus apresenta um modelo de comportamento totalmente oposto à hipocrisia: propõe deter-se, escutar, estabelecer uma relação direta e pessoal, sentir empatia e enternecimento, deixar-se comover pelo seu sofrimento até se encarregar dele, servindo-o (cf. Lc 10,30-35).

 

2. A experiência da doença faz-nos sentir a nossa vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, a necessidade inata do outro. Torna ainda mais nítida a nossa condição de criaturas, experimentando de maneira evidente a nossa dependência de Deus. De facto, quando estamos doentes, a incerteza, o temor e, por vezes, o pavor impregnam a mente e o coração; encontramo-nos numa situação de impotência, porque a saúde não depende das nossas capacidades nem do nosso afã (cf. Mt 6,27).

A doença impõe uma pergunta sobre o sentido que, na fé, se dirige a Deus. Uma pergunta que procura um significado novo e uma nova direção para a existência e que, por vezes, pode não encontrar imediatamente uma resposta. Os próprios amigos e familiares nem sempre são capazes de nos ajudar nesta procura desgastante.

A este respeito, é emblemática a figura bíblica de Job. A esposa e os amigos não conseguem acompanhá-lo na sua desventura; até o acusam, aumentando nele a solidão e o desorientamento. Job cai num estado de abandono e de incompreensão. Mas é precisamente através desta fragilidade extrema, rejeitando toda a hipocrisia e escolhendo o caminho da sinceridade para com Deus e os outros, que faz chegar com insistência o seu grito a Deus que acaba por responder-lhe, abrindo um novo horizonte. Confirma que o seu sofrimento não é uma punição ou um castigo, nem mesmo um estado de distanciamento de Deus ou um sinal da sua indiferença. Assim, do coração ferido e reparado de Job, brota aquela vibrante e comovente declaração ao Senhor: «Só Vos conhecia por ouvir falar de Vós, mas agora já Vos viram os meus próprios olhos» (Job 42,5).

 

3. A doença tem sempre um rosto, e até mais que um: o rosto de cada pessoa doente, mesmo daquelas que se sentem ignoradas, excluídas, vítimas de injustiças sociais que lhes negam direitos essenciais (cf. Encíclica Fratelli tutti, 22). A atual pandemia pôs em evidência muitas insuficiências dos sistemas de saúde e carências na assistência às pessoas doentes. Aos idosos, aos mais frágeis e vulneráveis, nem sempre é garantido o acesso aos cuidados médicos, ou não o é sempre de forma equitativa. Isto depende das opções políticas, do modo de administrar os recursos e do empenho de quantos revestem funções de responsabilidade. Investir recursos nos cuidados e na assistência às pessoas doentes é uma prioridade ditada pelo princípio de que a saúde é um bem comum primário. Ao mesmo tempo, a pandemia pôs também em evidência a dedicação e generosidade de profissionais de saúde, voluntários, trabalhadores e trabalhadoras, sacerdotes, religiosos e religiosas que, com profissionalismo, abnegação, sentido de responsabilidade e amor ao próximo, ajudaram, trataram, confortaram e serviram tantos doentes e os seus familiares. Uma série silenciosa de homens e mulheres que optaram por olhar para aqueles rostos, ocupando-se das feridas de pacientes que sentiam como próximos em virtude da pertença comum à família humana.

Com efeito, a proximidade é um bálsamo precioso, que dá apoio e consolação a quem sofre na doença. Enquanto cristãos, vivemos uma tal proximidade como expressão do amor de Jesus Cristo, o bom Samaritano, que com compaixão Se fez próximo de todo o ser humano, ferido pelo pecado. Unidos a Ele pela ação do Espírito Santo, somos chamados a ser misericordiosos como o Pai e a amar, de modo especial, os irmãos doentes, frágeis e atribulados (cf. Jo 13,34-35). E vivemos esta proximidade pessoalmente, mas também de forma comunitária: na realidade, o amor fraterno em Cristo gera uma comunidade capaz de curar, que não abandona ninguém, que inclui e acolhe sobretudo os mais frágeis.

A propósito, quero recordar a importância da solidariedade fraterna, que se manifesta concretamente no serviço, podendo assumir formas muito diferentes, mas todas elas tendentes a apoiar o próximo. «Servir significa cuidar dos frágeis das nossas famílias, da nossa sociedade, do nosso povo» (Homilia em Havana, 20 de setembro de 2015). Neste compromisso, cada um é capaz «de pôr de lado as suas exigências e expectativas, os seus desejos de omnipotência, diante do olhar concreto dos mais frágeis [...]. O serviço olha sempre o rosto do irmão, toca a sua carne, sente a sua proximidade até, em alguns casos, a “sofrer”, e procura a promoção do irmão. Por isso, o serviço nunca é ideológico, já que não servimos ideias, mas pessoas» (ibid.).

 

4. Para que haja uma boa terapêutica é decisivo o aspeto relacional, através do qual se pode conseguir uma abordagem holística da pessoa doente. A valorização deste aspeto ajuda também os médicos, enfermeiros, profissionais e voluntários a ocuparem-se daqueles que sofrem para os acompanhar ao longo do itinerário de cura, graças a uma relação interpessoal de confiança (cf. Nova Carta dos Agentes de Saúde, [2016], 4). Trata-se, pois, de estabelecer um pacto entre as pessoas carecidas de cuidados e aqueles que as tratam; um pacto baseado na confiança e no respeito mútuos, na sinceridade, na disponibilidade, de modo a superar toda e qualquer barreira defensiva, colocar no centro a dignidade da pessoa doente, tutelar o profissionalismo dos agentes de saúde e manter um bom relacionamento com as famílias dos doentes.

Esta relação com a pessoa doente encontra uma fonte inesgotável de motivações e energias precisamente na caridade de Cristo, como demonstra o testemunho milenar de homens e mulheres que se santificaram servindo os enfermos. Efetivamente, do mistério da morte e ressurreição de Cristo brota aquele amor que é capaz de dar sentido pleno, tanto à condição do doente, como à da pessoa que dele cuida. Assim o atesta muitas vezes o Evangelho quando mostra que as curas realizadas por Jesus nunca são gestos mágicos, mas fruto de um encontro, uma relação interpessoal, em que ao dom de Deus, oferecido por Jesus, corresponde a fé de quem o acolhe, como se resume nesta frase que Jesus repete com frequência: “Foi a tua fé que te salvou”.

 

5. Queridos irmãos e irmãs, o mandamento do amor, que Jesus deixou aos seus discípulos, encontra uma realização concreta também no relacionamento com os doentes. Uma sociedade é tanto mais humana quanto melhor souber cuidar dos seus membros frágeis e atribulados e o fizer com uma eficiência animada por amor fraterno. Tendamos para esta meta, procurando que ninguém fique sozinho, nem se sinta excluído e abandonado.

Confio todas as pessoas doentes, os agentes de saúde e quantos se prodigalizam junto aos que sofrem, a Maria, Mãe de Misericórdia e Saúde dos Enfermos. Que Ela, da Gruta de Lurdes e dos seus inumeráveis santuários espalhados por todo o mundo, sustente a nossa fé e a nossa esperança e nos ajude a cuidar uns dos outros com amor fraterno. A todos e cada um concedo, de coração, a minha bênção.

 

Roma, em São João de Latrão, a 20 de dezembro de 2020, IV Domingo de Advento.

 

Francisco

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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