PARÓQUIAS
DE NISA
Sábado,
16 de janeiro de 2021
LITURGIA
Sábado
da semana I
Santa Maria no Sábado – MF
Verde ou br. – Ofício da féria.
Missa à escolha (cf. p. 19, n. 18).
L 1 Hebr 4, 12-16; Sal 18 B (19), 8. 9. 10. 15
Ev Mc 2, 13-17
* Na Diocese da Guarda – Aniversário da tomada de posse e entrada solene de D.
Manuel da Rocha Felício.
* Na Ordem Agostiniana – Comemoração dos familiares defuntos dos Irmãos e Irmãs
da Ordem.
* Na Ordem Franciscana – SS. Berardo, presbítero, e Companheiros, mártires, da
I Ordem, Padroeiros da Província Portuguesa da O.F.M – FESTA; no Convento de
Coimbra – SOLENIDADE
* Na Ordem dos Franciscanos Capuchinhos – SS. Berardo, presbítero, e
Companheiros, mártires – MO
* I Vésp. do domingo – Compl. dep. I Vésp. dom.
MISSA
ANTÍFONA
DE ENTRADA
Sobre um trono elevado vi sentado um homem,
que uma multidão de Anjos adora, cantando em coro:
Eis Aquele que reina eternamente.
ORAÇÃO COLECTA
Atendei, Senhor, as orações do vosso povo;
dai-lhe luz para conhecer a vossa vontade
e coragem para a cumprir fielmente.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I (anos ímpares) Hebr 4, 12-16
«Vamos, cheios de confiança, ao trono da graça»
Leitura da
Epístola aos Hebreus
Irmãos: A palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante que uma espada de dois
gumes: ela penetra até ao ponto de divisão da alma e do espírito, das
articulações e medulas, e é capaz de discernir os pensamentos e intenções do
coração. Por isso não há criatura que possa fugir à sua presença: tudo está
patente e descoberto aos olhos d’Aquele a quem devemos prestar contas. Tendo
nós um sumo sacerdote eminente que atravessou os Céus, Jesus, Filho de Deus,
permaneçamos firmes na profissão da nossa fé. Na verdade, nós não temos um sumo
sacerdote incapaz de se compadecer das nossas fraquezas. Pelo contrário, Ele
mesmo foi provado em tudo, à nossa semelhança, exceto no pecado. Vamos,
portanto, cheios de confiança, ao trono da graça, a fim de alcançarmos
misericórdia e obtermos a graça de um auxílio oportuno.
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Salmo 18 B (19 B), 8.9.10.15 (R. Jo 6, 63c)
Refrão: As vossas palavras, Senhor,
são espírito e vida. Repete-se
A lei do Senhor é perfeita,
ela reconforta a alma;
as ordens do Senhor são firmes,
dão sabedoria aos simples. Refrão
Os preceitos do Senhor são rectos
e alegram o coração;
Os mandamentos do Senhor são claros
e iluminam os olhos. Refrão
O temor do Senhor é puro
e permanece eternamente;
os juízos do Senhor são verdadeiros,
todos eles são rectos. Refrão
Aceitai as palavras da minha boca
e os pensamentos do meu coração
estejam na vossa presença:
Vós, Senhor, sois o meu amparo e redentor. Refrão
ALELUIA Lc 4, 18
Refrão: Aleluia Repete-se
O Senhor enviou-me a anunciar a boa nova
aos pobres,
a proclamar aos cativos a redenção. Refrão
EVANGELHO Mc 2, 13-17
«Não vim chamar os justos, mas os pecadores»
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo, Jesus saiu de novo para a beira-mar. A multidão veio ao seu
encontro, e Ele começou a ensinar a todos. Ao passar, viu Levi, filho de Alfeu,
sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: «Segue-me». Ele levantou-se e seguiu
Jesus. Encontrando-Se Jesus à mesa em casa de Levi, muitos publicanos e
pecadores estavam também a mesa com Jesus e os seus discípulos, pois eram
muitos os que O seguiam. Os escribas do partido dos fariseus, ao verem-n’O
comer com os pecadores e os publicanos, diziam aos discípulos: «Por que motivo
é que Ele come com publicanos e pecadores?». Jesus ouviu e respondeu-lhes: «Não
são os que têm saúde que precisam do médico, mas os que estão doentes. Eu não
vim chamar os justos, mas os pecadores».
Palavra da salvação.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Aceitai benignamente, Senhor, a oblação do vosso povo
e fazei que ela santifique a nossa vida
e torne eficaz a nossa oração.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO Salmo 35, 10
Em Vós, Senhor, está a fonte da vida: na vossa luz veremos a luz.
Ou Jo 10, 10
Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância, diz o Senhor.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Deus todo-poderoso,
que nos alimentais com os vossos sacramentos,
dai-nos a graça de Vos servir com uma vida santa.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA:
1. Leitura: - Lê, respeita, situa o que lês.
- Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste
2. Meditação: - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.
- Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua
vida” 2020.11.28
3. Oração: - Louva o Senhor, suplica, escuta.
- Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.
LEITURAS –
Hebr 4, 12-16: Concluindo a referência à “voz do Senhor”, que nos convida a
entrar no seu repouso, a epístola aprofunda o poder e a vitalidade da palavra
de Deus, proclamada outrora pelos profetas e agora escutada diretamente da boca
do Filho. E volta, de novo, a falar do Filho como sumo Sacerdote, compassivo
para com as nossas fraquezas, e que entrou, de uma vez para sempre, nos Céus,
onde, junto do Pai, é nosso Mediador, a Quem nos podemos dirigir cheios de
confiança.
Mc 2, 13-17 : A missão de Jesus vai-se manifestando
nas suas palavras, nos seus atos, nas suas atitudes. Tudo n’Ele são palavras da
Palavra que Ele próprio é, Ele, o Verbo, a Palavra de Deus. E a sua missão é a
de estabelecer a Aliança entre Deus e os homens; por isso, não receia comer com
os pecadores. Mas, para o compreender, é preciso ter o coração aberto à
linguagem do amor do Pai para com os homens, como Levi o tinha.
AGENDA DO DIA
15.00 horas: Missa na
Salavessa
16.00 horas: Missa no
Pardp
18.00 horas: Missa em
Nisa
18.00 horas: Missa em Alpalhão.
A VOZ DO PASTOR:
PENSAR DÁ MUITA TRABALHEIRA!... Oh!, se não dá!...
Já pensaste bem naquele teu e meu presente que nos foi
dado no Natal?!... Então, anda daí, junta-te a nós e vamos desembrulhá-lo. Às
vezes, fala-se sem pensar. Não raro, mesmo quando se pensa, cumpre-se o ditado:
“cada cavadela sua minhoca”, ou então: “ou entra mosca ou sai asneira”! Pensar
é uma exigência do bom senso em ordem à verdade, ao bem e ao melhor. Muitas
coisas não aconteceriam, ou aconteceriam, se, primeiro, se pensasse bem nas
consequências do fazer ou do não fazer. É consensual que a Verdade anda por aí
a lamentar-se e a manquejar, sente-se desconsiderada e muito mal tratada,
desconfia-se dela, descarta-se, tantas vezes por indiferença, subserviências,
interesses ou maldade. Coisas dos homens!... E das mulheres também!... Parte-se
do princípio de que a diversidade de posições são todas iguais, têm todas o
mesmo valor, o que interessa é falar!. No entanto, só a Verdade é verdadeira,
embora a mentira possa ter alguma coisa de verdade. Há quem, por exemplo, use
meias verdades para levar a água ao seu moinho. É uma forma de gerar embustes
entre pessoas ou na própria sociedade. Faz-se passar mentiras muito bem
empanadas em doces meias verdades. Mas só a Verdade é capaz de iluminar,
orientar e promover a pessoa e o sentido da própria vida. Só a Verdade é o
alicerce seguro da construção do bem comum. Só a Verdade nos restabelecerá de
situações menos felizes que acontecem na nossa própria vida. Será na Verdade,
que, um dia, no fim dos tempos, apesar dos muitos desencontros, encontros e
encontrões por este vale de lágrimas, todos haveremos de nos encontrar.
O diálogo pode ser um ótimo meio para encontrar a
Verdade. Não o diálogo-conversa-de-café onde cada um diz o que lhe apetece e
parece, sem fundamento nem conhecimento de causa. Não o diálogo para o qual se
parte com preconceitos, com conclusões preestabelecidas, com o desejo de vencer
ou o medo de perder. Não o diálogo em que, em nome da liberdade, a pessoa se
desvincula da referência à Verdade, nega a capacidade de a poder conhecer e de
reconhecer o que é verdadeiro. Não o diálogo que usa formas de argumentar que
encapotam aquele relativismo e subjetividade que, nada reconhecendo como
definitivo, tem como medida o próprio EU e as suas decisões subjetivas,
partindo do pressuposto de que a Verdade se manifesta, de modo igual, nas mais
diversas situações e doutrinas, mesmo que contraditórias. Só o diálogo feito
com reta intenção, com capacidade de escuta, com respeito mútuo, humildade e
inteligência, dará frutos. É da discussão que nasce a luz. Se é a Verdade que
se procura, a Verdade, poderá demorar em se mostrar, mas acabará por dar a mão
à palmatória e saltar, não porque lhe doeram as reguadas, mas com a alegria de
ter sido encontrada. Não a minha verdade, não a tua verdade, não a nossa
verdade - ninguém tem o monopólio da verdade! -, mas aquela Verdade que todos
procuramos. De facto, somos verdadeiros na medida em que buscamos a Verdade e
nela procuramos viver, sem favorecer quem se esmera em defender interesses
dúbios, quem usa ideologias esfarrapadas ou arrogância intimidatória. O
respeito por todos não significa que possa haver indiferença perante a Verdade
e o Bem. Pelo contrário, é o próprio amor que exige e incita a que se anuncie a
todos o Bem que edifica e a Verdade que salva.
A terminar o tempo festivo do Natal, celebramos o
Batismo do Senhor, no rio Jordão. Não tendo pecado, Jesus meteu-se na fila,
misturou-se com os penitentes para ser batizado por João. Ao sair da água,
porém, viu descer sobre si o Espírito Santo, o Espírito da Verdade, e ouviu o
Pai a chamar-lhe Filho muito amado. Um dia, o encavacado Pilatos perguntou a
Jesus o que era a Verdade. Jesus, porém, não lhe respondeu, até porque Pilatos
não estava interessado na Verdade, só queria ouvir de Jesus o que ele e o povo
gostariam de ouvir. Mas Jesus apresentou-se aos seus como o Caminho, a Verdade
e a Vida. Para nós, cristãos, a Verdade plena é Jesus Cristo. Uma Verdade que
nunca se impôs ou impõe, apenas se propõe e convida todas as pessoas à
conversão e à fé, à alegria de viver na Verdade e de caminhar em direção à
Verdade plena.
Para continuar esta missão que o Pai lhe confiara,
Jesus instituiu a Igreja que, depois da Ressurreição, a enviou por todo o
mundo, em seu nome, para chegar a todos e a cada um. Movida pelo Espírito
Santo, a Igreja, apesar das suas debilidades e fraquezas - que são muitas
porque também é humana -, tem o dever de obedecer e continuar a missão de
Cristo, convidando à mudança de vida e de mentalidade, convidando à conversão e
à Verdade, à vida nova em Cristo e à receção do Batismo. A missão de batizar
está implicada na missão de evangelizar. O Batismo não é um simples rito,
formalidade ou tradição. É uma verdadeira festa da família e comunidade
cristãs, sobretudo quando todos estão conscientes do que celebram: um
Sacramento, instituído por Cristo. Por ele, somos imersos na fonte de vida que
é a morte de Jesus, o mais sublime ato de amor de toda a história. Por ele,
‘ressuscitamos’ para uma vida nova na comunhão com Deus e os irmãos. Por ele,
tornamo-nos membros da Igreja e participantes do sacerdócio, profetismo e
realeza de Jesus Cristo. Por ele, temos acesso à celebração dos outros
sacramentos, todos eles graça do Espírito Santo, que alimentam, fortificam,
exprimem a fé e tornam-nos portadores de uma nova esperança, os quais, para os
crentes, são necessários para a salvação.
Ao celebrarmos o Batismo do Senhor, também fazemos
memória do nosso próprio Batismo. Somos batizados no Espírito da Verdade, o
qual nos transmite a ternura do perdão divino, nos impele para a Verdade e faz
ecoar em nós a voz do Pai a chamar-nos filhos muito amados! Filhos e herdeiros,
colaboradores na construção do seu reino, usufruindo de todas as graças que o
Senhor nos oferece, na e pela sua Igreja, riqueza sem igual e tão pouco
interiorizada!...
Constata-se que muitas pessoas batizadas, nunca
avaliaram a riqueza do dom do Batismo, nunca refletiram sobre os seus efeitos e
consequências, nunca lhe procuraram corresponder, comprometidos e agradecidos.
Uns, por deficiente formação cristã, culpável ou não. Outros, por preconceitos
ou indiferença. Outros, talvez por resistência à força da Palavra e ação do
Espírito Santo, mesmo quando comprovadas pelo testemunho de quem anuncia. Mas
quase todos, assim o acredito, porque nunca pararam para pensar! Estou
convencido que, se se pensasse e se buscasse a Verdade, descobrindo o que
significa ser batizado em nome da Santíssima Trindade, com certeza que não se
negaria o Batismo aos filhos. Não se adiaria sem razão. Saber-se-ia escolher os
padrinhos em função do seu testemunho eclesial. Ninguém, por respeito a si
próprio e aos outros, ninguém aceitaria ser padrinho se a sua própria vida
fosse vivida à margem da Igreja. Não se fugiria à preparação da celebração.
Iria agradecer-se e ensinar a agradecer tão grande graça que o Senhor nos
concede. A própria celebração aconselharia toda a família, ou pelo menos os
pais e padrinhos, ao Sacramento da Reconciliação para receberem a Sagrada
Eucaristia e testemunharem a comunhão em Cristo que, na Igreja e pela Igreja,
batiza aquela criança tornando-a templo da Santíssima Trindade. Isto levaria a
um melhor compromisso no dever de viver, defender, apoiar, espevitar e fazer
crescer a fé da criança. Mesmo aos adultos não batizados, o Senhor diz: “Se
hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações” (Sl 94). Estou
certo de que, se pensassem, procurassem e descobrissem a Verdade, iriam, com
certeza, afirmar como Santo Agostinho, afastado de Deus na sua juventude:
“Tarde vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que
habitáveis dentro de mim, e eu, lá fora, a procurar-Vos! ... Porém,
chamastes-me, com uma voz tão forte, que rompestes a minha Surdez! Brilhastes,
cintilastes, e logo afugentastes a minha cegueira!... Saboreei-Vos e, agora,
tenho fome e sede de Vós. Tocastes-me e ardi, no desejo da Vossa Paz”.
Com isto, não estou a defender o proselitismo. Este é
sempre de rejeitar, é negativo, não se coaduna com o espírito do Evangelho, não
salvaguarda a liberdade e a dignidade da pessoa. Com isto estou apenas a propor
e a pedir um tempinho para desembrulhar esse presente do Natal, para pensar e
descobrir a riqueza do Batismo. Cada criança, cada jovem, cada pessoa, tem o
direito de ouvir a Boa Nova da salvação, tem o direito de saber que Deus a ama
e se entregou a si mesmo por ela. A este direito de cada pessoa corresponde o
dever que a Igreja tem de ir e anunciar, no respeito pela liberdade de quem
ouve e na consciência de que, se o encontro com Cristo acontecer, ele se deve à
força da Palavra, à ação do Espírito Santo e ao testemunho de quem anuncia.
Anunciar e testemunhar, com alegria e esperança, são o primeiro e o mais
importante serviço de Caridade e Amor que os cristãos podem prestar à
humanidade, começando pelas pessoas que mais se amam, a família. “Se hoje
ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações” (Sl 94).
Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 2021-01-08.
*****************
MENSAGEM DE SUA SANTIDADE
PAPA FRANCISCO
PARA O
XXIX DIA MUNDIAL DO DOENTE
(11 de fevereiro de 2021)
«Um só é o vosso
Mestre e vós sois todos irmãos» (Mt 23,8)
A relação de
confiança na base do cuidado dos doentes
Queridos irmãos
e irmãs!
A celebração do XXIX Dia Mundial do Doente, 11 de
fevereiro de 2021, memória de Nossa Senhora de Lurdes, é momento propício para
prestar uma atenção especial às pessoas doentes e a quantos as assistem, quer
nos centros de saúde quer no seio das famílias e das comunidades. Penso de modo
particular nas pessoas que sofrem em todo o mundo os efeitos da pandemia do
coronavírus. A todos, especialmente aos mais pobres e marginalizados, expresso
a minha proximidade espiritual, assegurando a solicitude e o afeto da Igreja.
1. O tema deste Dia inspira-se no trecho evangélico
em que Jesus critica a hipocrisia de quantos dizem mas não fazem (cf. Mt 23,1-12).
Quando a fé fica reduzida a exercícios verbais estéreis, sem se envolver na
história e nas necessidades do outro, então falha a coerência entre o credo que
se professa e a vida real. O risco é grave; por isso Jesus usa expressões
fortes, para acautelar do perigo de derrapagem na idolatria de si mesmo, e afirma:
«Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos» (v. 8).
Esta crítica feita por Jesus àqueles que «dizem e
não fazem» (v. 3) é sempre salutar para todos, pois ninguém está imune do mal
da hipocrisia, um mal muito grave, cujo efeito é impedir-nos de desabrochar
como filhos do único Pai, chamados a viver uma fraternidade universal.
Diante da condição de necessidade do irmão e da
irmã, Jesus apresenta um modelo de comportamento totalmente oposto à
hipocrisia: propõe deter-se, escutar, estabelecer uma relação direta e pessoal,
sentir empatia e enternecimento, deixar-se comover pelo seu sofrimento até se
encarregar dele, servindo-o (cf. Lc 10,30-35).
2. A experiência da doença faz-nos sentir a nossa
vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, a necessidade inata do outro. Torna ainda
mais nítida a nossa condição de criaturas, experimentando de maneira evidente a
nossa dependência de Deus. De facto, quando estamos doentes, a incerteza, o
temor e, por vezes, o pavor impregnam a mente e o coração; encontramo-nos numa
situação de impotência, porque a saúde não depende das nossas capacidades nem
do nosso afã (cf. Mt 6,27).
A doença impõe uma pergunta sobre o sentido que, na
fé, se dirige a Deus. Uma pergunta que procura um significado novo e uma nova
direção para a existência e que, por vezes, pode não encontrar imediatamente
uma resposta. Os próprios amigos e familiares nem sempre são capazes de nos
ajudar nesta procura desgastante.
A este respeito, é emblemática a figura bíblica de
Job. A esposa e os amigos não conseguem acompanhá-lo na sua desventura; até o
acusam, aumentando nele a solidão e o desorientamento. Job cai num estado de
abandono e de incompreensão. Mas é precisamente através desta fragilidade
extrema, rejeitando toda a hipocrisia e escolhendo o caminho da sinceridade
para com Deus e os outros, que faz chegar com insistência o seu grito a Deus
que acaba por responder-lhe, abrindo um novo horizonte. Confirma que o seu
sofrimento não é uma punição ou um castigo, nem mesmo um estado de
distanciamento de Deus ou um sinal da sua indiferença. Assim, do coração ferido
e reparado de Job, brota aquela vibrante e comovente declaração ao Senhor: «Só
Vos conhecia por ouvir falar de Vós, mas agora já Vos viram os meus próprios
olhos» (Job 42,5).
3. A doença tem sempre um rosto, e até mais que um:
o rosto de cada pessoa doente, mesmo daquelas que se sentem ignoradas,
excluídas, vítimas de injustiças sociais que lhes negam direitos essenciais
(cf. Encíclica Fratelli tutti,
22). A atual pandemia pôs em evidência muitas insuficiências dos
sistemas de saúde e carências na assistência às pessoas doentes. Aos idosos,
aos mais frágeis e vulneráveis, nem sempre é garantido o acesso aos cuidados
médicos, ou não o é sempre de forma equitativa. Isto depende das opções
políticas, do modo de administrar os recursos e do empenho de quantos revestem
funções de responsabilidade. Investir recursos nos cuidados e na assistência às
pessoas doentes é uma prioridade ditada pelo princípio de que a saúde é um bem
comum primário. Ao mesmo tempo, a pandemia pôs também em evidência a dedicação
e generosidade de profissionais de saúde, voluntários, trabalhadores e
trabalhadoras, sacerdotes, religiosos e religiosas que, com profissionalismo,
abnegação, sentido de responsabilidade e amor ao próximo, ajudaram, trataram,
confortaram e serviram tantos doentes e os seus familiares. Uma série
silenciosa de homens e mulheres que optaram por olhar para aqueles rostos,
ocupando-se das feridas de pacientes que sentiam como próximos em virtude da
pertença comum à família humana.
Com efeito, a proximidade é um bálsamo precioso, que
dá apoio e consolação a quem sofre na doença. Enquanto cristãos, vivemos uma
tal proximidade como expressão do amor de Jesus Cristo, o bom Samaritano, que
com compaixão Se fez próximo de todo o ser humano, ferido pelo pecado. Unidos a
Ele pela ação do Espírito Santo, somos chamados a ser misericordiosos como o
Pai e a amar, de modo especial, os irmãos doentes, frágeis e atribulados (cf. Jo
13,34-35). E vivemos esta proximidade pessoalmente, mas também de forma
comunitária: na realidade, o amor fraterno em Cristo gera uma comunidade capaz
de curar, que não abandona ninguém, que inclui e acolhe sobretudo os mais
frágeis.
A propósito, quero recordar a importância da
solidariedade fraterna, que se manifesta concretamente no serviço, podendo
assumir formas muito diferentes, mas todas elas tendentes a apoiar o próximo.
«Servir significa cuidar dos frágeis das nossas famílias, da nossa sociedade,
do nosso povo» (Homilia em Havana, 20
de setembro de 2015). Neste compromisso, cada um é capaz «de pôr de lado as
suas exigências e expectativas, os seus desejos de omnipotência, diante do
olhar concreto dos mais frágeis [...]. O serviço olha sempre o rosto do irmão,
toca a sua carne, sente a sua proximidade até, em alguns casos, a “sofrer”, e
procura a promoção do irmão. Por isso, o serviço nunca é ideológico, já que não
servimos ideias, mas pessoas» (ibid.).
4. Para que haja uma boa terapêutica é decisivo o
aspeto relacional, através do qual se pode conseguir uma abordagem holística da
pessoa doente. A valorização deste aspeto ajuda também os médicos, enfermeiros,
profissionais e voluntários a ocuparem-se daqueles que sofrem para os
acompanhar ao longo do itinerário de cura, graças a uma relação interpessoal de
confiança (cf. Nova Carta dos Agentes de Saúde, [2016], 4). Trata-se,
pois, de estabelecer um pacto entre as pessoas carecidas de cuidados e aqueles
que as tratam; um pacto baseado na confiança e no respeito mútuos, na
sinceridade, na disponibilidade, de modo a superar toda e qualquer barreira
defensiva, colocar no centro a dignidade da pessoa doente, tutelar o
profissionalismo dos agentes de saúde e manter um bom relacionamento com as
famílias dos doentes.
Esta relação com a pessoa doente encontra uma fonte
inesgotável de motivações e energias precisamente na caridade de Cristo,
como demonstra o testemunho milenar de homens e mulheres que se santificaram
servindo os enfermos. Efetivamente, do mistério da morte e ressurreição de
Cristo brota aquele amor que é capaz de dar sentido pleno, tanto à condição do
doente, como à da pessoa que dele cuida. Assim o atesta muitas vezes o
Evangelho quando mostra que as curas realizadas por Jesus nunca são gestos
mágicos, mas fruto de um encontro, uma relação interpessoal, em
que ao dom de Deus, oferecido por Jesus, corresponde a fé de quem o acolhe,
como se resume nesta frase que Jesus repete com frequência: “Foi a tua fé que
te salvou”.
5. Queridos irmãos e irmãs, o mandamento do amor,
que Jesus deixou aos seus discípulos, encontra uma realização concreta também
no relacionamento com os doentes. Uma sociedade é tanto mais humana quanto
melhor souber cuidar dos seus membros frágeis e atribulados e o fizer com uma
eficiência animada por amor fraterno. Tendamos para esta meta, procurando que
ninguém fique sozinho, nem se sinta excluído e abandonado.
Confio todas as pessoas doentes, os agentes de saúde
e quantos se prodigalizam junto aos que sofrem, a Maria, Mãe de Misericórdia e
Saúde dos Enfermos. Que Ela, da Gruta de Lurdes e dos seus inumeráveis
santuários espalhados por todo o mundo, sustente a nossa fé e a nossa esperança
e nos ajude a cuidar uns dos outros com amor fraterno. A todos e cada um
concedo, de coração, a minha bênção.
Roma, em São João de
Latrão, a 20 de dezembro de 2020, IV Domingo de Advento.
Francisco
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