PARÓQUIAS
DE NISA
Domingo,
24 de janeiro de 2021
Domingo da palavra
LITURGIA
DOMINGO
III DO TEMPO COMUM
Verde – Ofício do domingo (Semana
III do Saltério). Te Deum.
+ Missa própria, Glória, Credo, pf. dominical.
L 1 Jonas 3, 1-5. 10; Sal 24 (25), 4bc-5ab. 6-7bc. 8-9
L 2 1 Cor 7, 29-31
Ev Mc 1, 14-20
* Proibidas as Missas de defuntos, exceto a exequial.
* Domingo da Palavra de Deus.
* Na Ordem da Visitação de Santa Maria – S. Francisco de Sales – SOLENIDADE
* 7º dia do Oitavário de Orações pela Unidade dos Cristãos.
* Nas Congregações e Institutos da Família Paulista – I Vésp. da Conversão de
S. Paulo.
* II Vésp. do domingo – Compl. dep. II Vésp. dom.
MISSA
ANTÍFONA DE ENTRADA Salmo
95, 1.6
Cantai ao Senhor um cântico novo,
cantai ao Senhor, terra inteira.
Glória e poder na sua presença,
esplendor e majestade no seu templo.
ORAÇÃO COLECTA
Deus todo-poderoso e eterno,
dirigi a nossa vida segundo a vossa vontade,
para que mereçamos produzir abundantes frutos de boas obras,
em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I Jonas 3, 1-5.10
«Os habitantes de Nínive converteram-se
do seu mau caminho»
Leitura da
Profecia de Jonas
A palavra do Senhor foi dirigida a Jonas nos seguintes termos: «Levanta-te, vai
à grande cidade de Nínive e apregoa nela a mensagem que Eu te direi». Jonas
levantou-se e foi a Nínive, conforme a palavra do Senhor. Nínive era uma grande
cidade aos olhos de Deus; levava três dias a atravessar. Jonas entrou na
cidade, caminhou durante um dia e começou a pregar, dizendo: «Daqui a quarenta
dias, Nínive será destruída». Os habitantes de Nínive acreditaram em Deus,
proclamaram um jejum e revestiram-se de saco, desde o maior ao mais pequeno.
Quando Deus viu as suas obras e como se convertiam do seu mau caminho, desistiu
do castigo com que os ameaçara e não o executou.
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Salmo 24 (25), 4bc-5ab.6-7bc.8-9 (R. 4a)
Refrão: Ensinai-me, Senhor, os vossos
caminhos. Repete-se
Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos,
ensinai-me as vossas veredas.
Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me,
porque Vós sois Deus, meu Salvador. Refrão
Lembrai-Vos, Senhor, das vossas misericórdias
e das vossas graças, que são eternas.
Lembrai-Vos de mim segundo a vossa clemência,
por causa da vossa bondade, Senhor. Refrão
O Senhor é bom e recto,
ensina o caminho aos pecadores.
Orienta os humildes na justiça
e dá-lhes a conhecer os seus caminhos. Refrão
LEITURA II 1 Cor 7, 29-31
«O cenário deste mundo é passageiro»
Leitura da
Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
O que tenho a dizer-vos, irmãos, é que o tempo é breve. Doravante, os que têm
esposas procedam como se as não tivessem; os que choram, como se não chorassem;
os que andam alegres, como se não andassem; os que compram, como se não
possuíssem; os que utilizam este mundo, como se realmente não o utilizassem. De
facto, o cenário deste mundo é passageiro.
Palavra do Senhor.
ALELUIA Mc 1, 15
Refrão: Aleluia. Repete-se
Está próximo o reino de Deus;
arrependei-vos e acreditai no Evangelho. Refrão
EVANGELHO Mc 1, 14-20
«Arrependei-vos e acreditai no Evangelho»
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a
proclamar o Evangelho de Deus, dizendo: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o
reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho». Caminhando junto ao
mar da Galileia, viu Simão e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar,
porque eram pescadores. Disse-lhes Jesus: «Vinde comigo e farei de vós
pescadores de homens». Eles deixaram logo as redes e seguiram Jesus. Um pouco
mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam no
barco a consertar as redes; e chamou-os. Eles deixaram logo seu pai Zebedeu no
barco com os assalariados e seguiram Jesus.
Palavra da salvação.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Aceitai benignamente,
e santificai Senhor, os nossos dons,
a fim de que se tornem para nós fonte de salvação.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO Salmo 33, 6
Voltai-vos para o Senhor e sereis iluminados,
o vosso rosto não será confundido.
Ou Jo 8, 12
Eu sou a luz do mundo, diz o Senhor.
Quem Me segue não anda nas trevas,
mas terá a luz da vida.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Deus omnipotente,
nós Vos pedimos
que, tendo sido vivificados pela vossa graça,
nos alegremos sempre nestes dons sagrados.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
MÉTODO DE ORAÇÃO BÍBLICA:
1. Leitura: - Lê, respeita, situa o que lês.
- Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste
2. Meditação: - Interioriza, dialoga, atualiza o que leste.
- Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua
vida” 2020.11.28
3. Oração: - Louva o Senhor, suplica, escuta.
- Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.
LEITURAS –
Jonas 3, 1-5.10: O “Tempo Comum” retoma, em cada ano, a leitura de um dos
Evangelhos chamados sinópticos: este ano, o de S. Marcos, a partir precisamente
deste terceiro Domingo. Como é conhecido, no Tempo Comum a primeira leitura é
normalmente escolhida em ligação com a do Evangelho. Ora, S. Marcos começa o
seu Evangelho pelo grande convite de Jesus à penitência, isto é, à conversão.
Daí que esta primeira leitura nos apresente igualmente a mensagem da
penitência, tão claramente anunciada pelo profeta e tão exemplarmente escutada
por aqueles a quem ele a dirigiu.
1 Cor 7, 29-31: Como já no Domingo anterior, a
secção da carta apostólica que lemos como segunda leitura começa por se ocupar
de casos concretos da comunidade a quem se dirige. Hoje, a propósito da atitude
dos cristãos perante o casamento e o celibato consagrado, de que tratará no
próximo Domingo, o Apóstolo começa por nos fazer refletir sobre o sentido não
definitivo da vida neste mundo.
Mc 1, 14-20: A Boa Nova do Evangelho de Jesus
Cristo traz aos homens um ideal novo e nova luz para os seus caminhos. É por
este caminho novo, que a palavra do Filho de Deus lhes aponta, que os homens
hão de sair da prisão escura em que o pecado os mantém e ser conduzidos ao mundo
novo a que o Senhor os quer levar. Para isso, é necessário deixar para trás
muita coisa e seguir o Senhor que chama, como logo fizeram os primeiros
discípulos que Jesus chamou e que logo O seguiram.
AGENDA DO DIA
11.30 horas: Missa
transmitida através do Facebook
A VOZ DO PASTOR:
E POR QUE NÃO?!...
VAMOS A ISSO!...
Aplaudida em pleno confinamento, a prova já está na
rua! A largada ou partida foi solene e festiva. Sabemos que muitos até já chegaram
à meta. E a meta lá está, preparada com gosto, pompa e circunstância, e muita
música, muita! Os caminhos a percorrer, porém, merecem atenção, há silvas e
solavancos. Os princípios, as regras, a sinalética, o alimento, tudo o que é
necessário para a prova está garantido. A preparação da mochila, essa sim, é da
responsabilidade pessoal. Devem dispensar-se bolsas e sacolas, mas um bom
cajado será muito útil para se deferem de lobos e minhoquices. Se alguém levar
muita tralha, tenha cuidado, pode ficar peado, atrasar-se ou não chegar a
tempo. Se não levar o preciso, pode perder a vontade, ter medo de continuar e
desistir. Segundo as suas debilidades, exigências e circunstâncias
existenciais, cada um deve ponderar bem e optar apenas pelo essencial, de forma
equilibrada, nem demais nem de menos, como o sal na comida. A meta está ao
alcance de todos, mesmo das pessoas doentes e portadoras de deficiência. Estas,
atendendo à sua desenvoltura interior, são quase sempre as primeiras
classificadas e a subir ao pódio. O trofeu a conquistar é valiosíssimo. Nem os
olhos viram, nem os ouvidos escutaram, nem jamais passou por qualquer cabecinha
pensadora o que está reservado a quem cortar a meta. O estafe de apoio garante
o necessário para que ninguém fique pelo caminho ou fraqueje, é uma espécie de
hospital de campanha. Por isso, não haverá carro vassoura. Mas o que é mesmo
importante para o bom desempenho de todos os atletas é estar bem familiarizado
com o Manual de procedimentos. Apelo sobretudo aos jovens, aos jovens em idade
e em espírito, mesmo que idosos, apelo à sua criatividade e influência. É
indispensável conhecer bem e ajudar a divulgar este indispensável instrumento
de vida e ação, muito útil para pessoas, famílias, comunidades, estruturas
setoriais e sociedade em geral, mesmo que algumas pareçam demasiadamente
debruçadas sobre o seu umbigo e afuniladas na sua verdade. Quem sabe se não
irão rasgar horizontes e prestar mais atenção ao que liberta e salva?!...
E eis que faço a todos uma pergunta muito indiscreta:
já têm esse Manual? Aonde está? Na estante para se dar ares de intelectual? No
fundo da gaveta para não se estragar? Têm-no manuseado e ajudado a manusear
para que mais pessoas o conheçam e saibam ler nas linhas e entrelinhas? Pois é,
todas essas instruções estão lá, nesse Manual, o Livro oficial da prova. Mas
não basta dizer que se tem, tampouco basta passar-lhe os olhos como o gato por
cima das brasas. Ele está escrito com a intenção de que ninguém se perca ou
fique pelo caminho. O seu conteúdo é tremendamente perigoso e revolucionário.
Segundo Mahatma Gandhi, ele “tem em si uma quantidade de dinamite suficiente
para fazer explodir em mil pedaços a civilização inteira”. E Francisco, que
cita Gandhi, afirma que em certos países quem possui esse Livro “é tratado como
se escondesse granadas no armário!”. De facto, a sua eficácia é enorme. O
rebuliço que provoca, porém, não é bélico, é de paz e de dentro para fora. Age
a partir do coração, concerta os cacos dos estilhaçados, consola os feridos,
aquece os gelados, trabalha os de pedra, apela à razão e ao compromisso no bem.
Se levado a sério, contagia muitos, não no isolamento de atleta egoísta, mas na
alegria de atuar em equipa para melhor servir, abraçando os outros, o bem e o
melhor! Importante é que todos, desinfetados das covides mundanas, possam
entrar e participar na interminável festa final, uma verdadeira festa de gala
onde não se podem dispensar o cante alentejano e a veste nupcial.
O grande fã e organizador é o Papa Francisco, o qual
não esmorece nem deixa de insistir na necessidade de se conhecer bem esse
Manual de procedimentos. No seu zelo pelo bem de todos e para que todos o
conheçam e se abram ao seu conteúdo, Francisco, até determinou, em 30 de
setembro de 2019, que o III Domingo do tempo comum de cada ano, lhe fosse
totalmente dedicado, apelando à criatividade e capacidade de quem atua no
terreno para que se atinjam os verdadeiros objetivos. Não é monopólio de
ninguém, não é “património só de alguns”, não é “uma coletânea de livros para
poucos privilegiados”. O Papa chamou a esse dia o “Dia da Palavra de Deus”. É o
dia da Bíblia, da Sagrada Escritura, do Livro do povo de Deus, escrito com a
inspiração e o fogo do Espírito Santo e que deve ser celebrado, refletido e
divulgado. É o Livro que se deve “explicar e fazer compreender a todos”, em
linguagem “simples e adaptada”, falando “com o coração para chegar ao coração”,
para que todos possam captar a sua beleza e a traduzir em atitudes de vida. Sem
a Palavra de Deus, “o coração fica frio e os olhos permanecem fechados,
atingidos, como somos, por inumeráveis formas de cegueira”. Estas cegueiras
dificilmente deixam aplanar os caminhos que conduzem à meta. Quando, porém, a
Palavra de Deus toca o coração das pessoas, faz-se luz, arreguilam-se os olhos.
É uma Palavra que ensina, refuta, corrige, abre à partilha e à fraternidade,
educa na justiça, faz compreender o que o Senhor quer dizer, constrói a Igreja
e a sociedade civil, transcende os tempos, tem em si a eternidade, a vida
eterna.
Com certeza que o amigo leitor já está em prova. O
sinal da partida foi dado aquando do seu Batismo. A Igreja, apesar de também
humana, frágil e pecadora, é o estafe de apoio com tudo o que é preciso para
ajudar a vencer no meio de todos os sacrifícios e dificuldades. Umas vezes ela
vai à frente, a puxar. Outras vezes vai ao lado, dando a mão, indicando o
caminho, ajudando a levantar de tropeções e queda. Outras vezes toca no ombro,
para que não se adormeça ou se fique distraído. Outras vezes fica atrás,
responsabilizando e confiando. Como Mãe cuidadosa, ela exorta a que se confie
no verdadeiro amigo e companheiro de viagem, Aquele que sempre nos repete: “Não
tenhais medo!”. “Vinde a Mim todos vós que andais cansados e oprimidos e Eu vos
aliviarei”.
Deixo uma sugestão: que cada família, como pequenina
Igreja e primeira escola de fé e oração, no próximo dia 24, Dia da Palavra de
Deus, destaque, lá em casa, em local nobre, com ternura e beleza, a Sagrada
Escritura. E como São Marcos é o Evangelista deste ano litúrgico, sugiro a
leitura do seu Evangelho. É o Evangelho das periferias, da identidade de Jesus,
da nossa relação com Ele, do que significa ser discípulo.
Vamos a isso!
Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 15-01-2021.
*****************
MENSAGEM DE SUA SANTIDADE
PAPA FRANCISCO
PARA O
XXIX DIA MUNDIAL DO DOENTE
(11 de fevereiro de 2021)
«Um só é o vosso
Mestre e vós sois todos irmãos» (Mt 23,8)
A relação de
confiança na base do cuidado dos doentes
Queridos irmãos
e irmãs!
A celebração do XXIX Dia Mundial do Doente, 11 de
fevereiro de 2021, memória de Nossa Senhora de Lurdes, é momento propício para
prestar uma atenção especial às pessoas doentes e a quantos as assistem, quer
nos centros de saúde quer no seio das famílias e das comunidades. Penso de modo
particular nas pessoas que sofrem em todo o mundo os efeitos da pandemia do
coronavírus. A todos, especialmente aos mais pobres e marginalizados, expresso
a minha proximidade espiritual, assegurando a solicitude e o afeto da Igreja.
1. O tema deste Dia inspira-se no trecho evangélico
em que Jesus critica a hipocrisia de quantos dizem mas não fazem (cf. Mt 23,1-12).
Quando a fé fica reduzida a exercícios verbais estéreis, sem se envolver na
história e nas necessidades do outro, então falha a coerência entre o credo que
se professa e a vida real. O risco é grave; por isso Jesus usa expressões
fortes, para acautelar do perigo de derrapagem na idolatria de si mesmo, e
afirma: «Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos» (v. 8).
Esta crítica feita por Jesus àqueles que «dizem e
não fazem» (v. 3) é sempre salutar para todos, pois ninguém está imune do mal
da hipocrisia, um mal muito grave, cujo efeito é impedir-nos de desabrochar
como filhos do único Pai, chamados a viver uma fraternidade universal.
Diante da condição de necessidade do irmão e da
irmã, Jesus apresenta um modelo de comportamento totalmente oposto à
hipocrisia: propõe deter-se, escutar, estabelecer uma relação direta e pessoal,
sentir empatia e enternecimento, deixar-se comover pelo seu sofrimento até se
encarregar dele, servindo-o (cf. Lc 10,30-35).
2. A experiência da doença faz-nos sentir a nossa
vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, a necessidade inata do outro. Torna ainda
mais nítida a nossa condição de criaturas, experimentando de maneira evidente a
nossa dependência de Deus. De facto, quando estamos doentes, a incerteza, o
temor e, por vezes, o pavor impregnam a mente e o coração; encontramo-nos numa
situação de impotência, porque a saúde não depende das nossas capacidades nem
do nosso afã (cf. Mt 6,27).
A doença impõe uma pergunta sobre o sentido que, na
fé, se dirige a Deus. Uma pergunta que procura um significado novo e uma nova
direção para a existência e que, por vezes, pode não encontrar imediatamente
uma resposta. Os próprios amigos e familiares nem sempre são capazes de nos
ajudar nesta procura desgastante.
A este respeito, é emblemática a figura bíblica de
Job. A esposa e os amigos não conseguem acompanhá-lo na sua desventura; até o
acusam, aumentando nele a solidão e o desorientamento. Job cai num estado de
abandono e de incompreensão. Mas é precisamente através desta fragilidade
extrema, rejeitando toda a hipocrisia e escolhendo o caminho da sinceridade
para com Deus e os outros, que faz chegar com insistência o seu grito a Deus
que acaba por responder-lhe, abrindo um novo horizonte. Confirma que o seu
sofrimento não é uma punição ou um castigo, nem mesmo um estado de
distanciamento de Deus ou um sinal da sua indiferença. Assim, do coração ferido
e reparado de Job, brota aquela vibrante e comovente declaração ao Senhor: «Só
Vos conhecia por ouvir falar de Vós, mas agora já Vos viram os meus próprios
olhos» (Job 42,5).
3. A doença tem sempre um rosto, e até mais que um:
o rosto de cada pessoa doente, mesmo daquelas que se sentem ignoradas,
excluídas, vítimas de injustiças sociais que lhes negam direitos essenciais
(cf. Encíclica Fratelli tutti,
22). A atual pandemia pôs em evidência muitas insuficiências dos
sistemas de saúde e carências na assistência às pessoas doentes. Aos idosos,
aos mais frágeis e vulneráveis, nem sempre é garantido o acesso aos cuidados
médicos, ou não o é sempre de forma equitativa. Isto depende das opções
políticas, do modo de administrar os recursos e do empenho de quantos revestem funções
de responsabilidade. Investir recursos nos cuidados e na assistência às pessoas
doentes é uma prioridade ditada pelo princípio de que a saúde é um bem comum
primário. Ao mesmo tempo, a pandemia pôs também em evidência a dedicação e
generosidade de profissionais de saúde, voluntários, trabalhadores e
trabalhadoras, sacerdotes, religiosos e religiosas que, com profissionalismo,
abnegação, sentido de responsabilidade e amor ao próximo, ajudaram, trataram,
confortaram e serviram tantos doentes e os seus familiares. Uma série
silenciosa de homens e mulheres que optaram por olhar para aqueles rostos,
ocupando-se das feridas de pacientes que sentiam como próximos em virtude da
pertença comum à família humana.
Com efeito, a proximidade é um bálsamo precioso, que
dá apoio e consolação a quem sofre na doença. Enquanto cristãos, vivemos uma
tal proximidade como expressão do amor de Jesus Cristo, o bom Samaritano, que
com compaixão Se fez próximo de todo o ser humano, ferido pelo pecado. Unidos a
Ele pela ação do Espírito Santo, somos chamados a ser misericordiosos como o
Pai e a amar, de modo especial, os irmãos doentes, frágeis e atribulados (cf. Jo
13,34-35). E vivemos esta proximidade pessoalmente, mas também de forma
comunitária: na realidade, o amor fraterno em Cristo gera uma comunidade capaz
de curar, que não abandona ninguém, que inclui e acolhe sobretudo os mais
frágeis.
A propósito, quero recordar a importância da
solidariedade fraterna, que se manifesta concretamente no serviço, podendo
assumir formas muito diferentes, mas todas elas tendentes a apoiar o próximo.
«Servir significa cuidar dos frágeis das nossas famílias, da nossa sociedade,
do nosso povo» (Homilia em Havana, 20
de setembro de 2015). Neste compromisso, cada um é capaz «de pôr de lado as suas
exigências e expectativas, os seus desejos de omnipotência, diante do olhar
concreto dos mais frágeis [...]. O serviço olha sempre o rosto do irmão, toca a
sua carne, sente a sua proximidade até, em alguns casos, a “sofrer”, e procura
a promoção do irmão. Por isso, o serviço nunca é ideológico, já que não
servimos ideias, mas pessoas» (ibid.).
4. Para que haja uma boa terapêutica é decisivo o
aspeto relacional, através do qual se pode conseguir uma abordagem holística da
pessoa doente. A valorização deste aspeto ajuda também os médicos, enfermeiros,
profissionais e voluntários a ocuparem-se daqueles que sofrem para os
acompanhar ao longo do itinerário de cura, graças a uma relação interpessoal de
confiança (cf. Nova Carta dos Agentes de Saúde, [2016], 4). Trata-se,
pois, de estabelecer um pacto entre as pessoas carecidas de cuidados e aqueles
que as tratam; um pacto baseado na confiança e no respeito mútuos, na
sinceridade, na disponibilidade, de modo a superar toda e qualquer barreira
defensiva, colocar no centro a dignidade da pessoa doente, tutelar o
profissionalismo dos agentes de saúde e manter um bom relacionamento com as
famílias dos doentes.
Esta relação com a pessoa doente encontra uma fonte
inesgotável de motivações e energias precisamente na caridade de Cristo,
como demonstra o testemunho milenar de homens e mulheres que se santificaram
servindo os enfermos. Efetivamente, do mistério da morte e ressurreição de
Cristo brota aquele amor que é capaz de dar sentido pleno, tanto à condição do
doente, como à da pessoa que dele cuida. Assim o atesta muitas vezes o
Evangelho quando mostra que as curas realizadas por Jesus nunca são gestos
mágicos, mas fruto de um encontro, uma relação interpessoal, em
que ao dom de Deus, oferecido por Jesus, corresponde a fé de quem o acolhe,
como se resume nesta frase que Jesus repete com frequência: “Foi a tua fé que
te salvou”.
5. Queridos irmãos e irmãs, o mandamento do amor,
que Jesus deixou aos seus discípulos, encontra uma realização concreta também
no relacionamento com os doentes. Uma sociedade é tanto mais humana quanto
melhor souber cuidar dos seus membros frágeis e atribulados e o fizer com uma
eficiência animada por amor fraterno. Tendamos para esta meta, procurando que
ninguém fique sozinho, nem se sinta excluído e abandonado.
Confio todas as pessoas doentes, os agentes de saúde
e quantos se prodigalizam junto aos que sofrem, a Maria, Mãe de Misericórdia e
Saúde dos Enfermos. Que Ela, da Gruta de Lurdes e dos seus inumeráveis
santuários espalhados por todo o mundo, sustente a nossa fé e a nossa esperança
e nos ajude a cuidar uns dos outros com amor fraterno. A todos e cada um
concedo, de coração, a minha bênção.
Roma, em São João de
Latrão, a 20 de dezembro de 2020, IV Domingo de Advento.
Francisco
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