SEXTA-FEIRA SANTA
A
redenção dos homens está consumada. Jesus morre na Cruz para nossa salvação.
Cruz que não deveria ter de existir, se não fosse o pecado da humanidade. Mas
por causa deste, e apesar deste, o amor de Deus gritou mais forte. Já vemos,
por divina graça, a história da nossa salvação na sua totalidade ou extensão.
Sabemos que a última palavra não foi nem será a da morte, mas a da Vida, da
Ressurreição. A nossa Esperança diz que
nos devemos alegrar porque o mal que nos atormenta não terá a última palavra
nem durará para sempre. A última palavra a terá Aquele que é Amor e fonte de
vida. Por isso mesmo em Sexta feira Santa nos apetece cantar: “Vitória,
vitória, Tu reinarás… Ó morte, onde está a tua vitória?”
Recuperamos
nesta Sexta feira Santa, pela sua atualidade, a
reflexão que o Pe Jorge Fernandes
fez a em Nemi no dia Ramos a todos os verbitas presentes na celebração da liturgia
de Ramos:
“Ao longo da história se abusou da
Cruz. Ela foi apresentada como símbolo de poder / expiação, de reparação dos pecados
e injustiças do mundo. Sabemos que Deus não precisa de expiações. A cruz não é
uma exigência da justiça de Deus. A cruz não nos fala de um Deus aborrecido
connosco…
A cruz é o excesso de um amor
desproporcional. Mostra-nos até onde chega o amor de Deus, que oferece o seu
Filho, o mais amado.
A cruz não nos fala do homem que
oferece reparação a Deus, mas sim de um Deus que se aproxima do homem para se
dar todo. A cruz não, pois, de um movimente de baixo para cima, mas sim de cima
para baixo.
Nestes dias de semana santa,
levantamos a cruz para nos darmos conta do amor de Deus, que se humilha até ao
ponto de morrer para salvar o homem.
A semana santa convida-nos a olhar
para a Cruz e para o Crucificado. Mas é preciso alargar a nosso olhar. Jesus
identificou-se com as vítimas inocentes do império Romano e pelos esquecidos
pela religião do Templo. Nem o poder de Roma nem a autoridade do Templo puderam
suportar a novidade de Jesus. A sua maneira de entender a Deus era perigosa.
Não se importava de acabar com a lei do Sábado e outras tradições.
No rosto desfigurado de Cristo, se nos
revela um Deus surpreendente, que quer misericórdia e não sacrifício. Um Deus
que não esquece o drama do mundo e se identifica com os fracos e indefesos.
Se Deus morre crucificado, a sua
crucifixão é um desafio tremendo para os seguidores de Jesus. Não podemos
adorar o Crucificado e viver de costas para o sofrimento de tantos seres
humanos destruídos pela guerra, fome e miséria. Devemo-nos revoltar contra a
cultura do esquecimento, que quer expulsar o sofrimento imposto para uma
distância onde desapareça qualquer som de clamor, gemido e pranto.
Não nos podemos fechar numa sociedade
do bem estar ignorando essa outra do mal esta. Quando os cristãos levantamos
os olhos para o rosto do Crucificado, contemplamos o amor insondável de Deus,
entregue à morte por nossa salvação. Se o olharmos mais detidamente, de pressa
descobrimos nesse rosto o rosto de tantos crucificados, que de longe ou de
perto estão reclamando o amor solidário e compassivo”.
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