sexta-feira, 13 de abril de 2012


HINO DE PÁSCOA

O Bom Pastor subiu
À direita do Pai,
Mas não pode esquecer
O pequeno rebanho

Dos esplendores eternos
Desce o fogo profético
Consagrando os Apóstolos
Arautos do Evangelho.

Vinde, Espírito Santo,
Com os divinos dons,
Tornar o povo fiel
Templo da vossa glória.

Luz da Sabedoria
Revelai o mistério
Da Trindade Santíssima,
Fonte do eterno amor.
                                       Hino pascal



SERÃO MISSIONÁRIO

O dia de hoje terminou com uma reunião convívio às 20.30 horas,  apresentando-se mais um país onde trabalham missionários do Verbo Divino. A noite foi dedicada ao Paraguai. O Pe. António Braczek, apresentou todo o programa com o entusiasmo e paixão que lhe é próprio quando fala das realidades que lhe dizem muito. O Pe. António é polaco, onde nasceu em 1933. O Paraguai foi o seu primeiro e único destino missionário. Vê-se que se enamorou por esta terra sul-americana. Quando fala dos índios, sente-se que vibra. Gosta de rezar em guarani, o que faz com frequência em público, quando se pede que cada um reze o Pai nosso em voz alta na sua língua materna. Agora, depois deste curso vai fazer férias no seu país de origem. Mas é na sua terra de adoção que pensa.

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Paróquia de Almodôvar

Catequese de Adultos
Primeira sobre os Sacramentos

Pe. José Maria Coelho


CATEQUESE 1: Introdução aos Sacramentos

         Ser cristão significa acreditar no Deus de Jesus Cristo e esforçar-se por viver a esperança e a caridade que o Seu amor dá ao nosso coração inquieto.

         A história deste amor é simples e grande: o Filho eterno entra na vida humana e através da Sua humanidade, plena e verdadeira, revela o rosto do Pai, oferecendo a quem O acolher a vida nova no Espírito. Cristo é o sacramento de Deus, o sinal vivo em quem o Eterno Se comunica aos homens. Portanto, para alcançar cada ser humano na variedade dos tempos e dos lugares, o Senhor Jesus torna-Se presente na Sua Igreja, sacramento de Cristo, lugar privilegiado do encontro com Ele no Espírito. A Igreja celebra e vive o encontro entre o Ressuscitado e os homens nalguns acontecimentos, nos quais o dom divino atinge o coração da pessoa e a história da comunidade através das palavras e dos gestos realizados em obediência à vontade do Senhor: os sacramentos.

         Se Cristo é o sacramento de Deus e a Igreja é o sacramento de Cristo, os sacramentos são as realizações mais intensas do encontro com Deus na Igreja, Corpo de Cristo e Templo do Espírito. Compreende-se, por isso, a importância dos sacramentos tanto para quem procura Deus, como para os que, tendo-O encontrado, desejam conhecê-Lo e amá-Lo cada vez mais; é que os sacramentos marcam as diversas etapas da existência de fé, pois é através deles que Cristo Salvador vem encontrar-Se connosco, de maneira eficaz, na comunhão da Sua Igreja na alegria e na dor; nos êxitos e nas expectativas, nas aberturas e nas resistências mais profundas do nosso coração e da nossa vida, em todas as suas fases e exigências mais verdadeiras.

         Esta Breve Introdução pretende explicar sucinta e essencialmente o que são os sacramentos, para facilitar a todos, especialistas ou anónimos buscadores de Deus, o acesso ao mistério da graça oferecido nestes eventos da fé. De maneira particular; quereria mostrar que cada sacramento faz reviver e enriquece a nossa relação com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo, e que todo o percurso sacramental faz com que o Deus vivo habite no coração do homem e o homem novo no coração da Trindade. Por sua vez, as orações que acompanham cada uma das breves meditações pretenderiam favorecer a passagem do mistério contemplado para o mistério celebrado e vivido.

         Que o Deus vivo, amigo dos homens, possa alcançar a vida dos Seus amigos através deste pequeno instrumento, voz de tudo o que a Sua Igreja crê e vive entre os homens.

         Quem quiser aprofundar, de maneira mais orgânica, a reflexão aqui proposta sobre os sacramentos da fé, poderá consultar o Catecismo da Igreja Católica, os diversos catecismos produzidos pelas Conferências Episcopais Nacionais e, eventualmente, os vários volumes da Simbolica Ecclesiale, publicados pelas Edizioni San Paolo.


1. Onde está Deus?

         Onde está Deus? Onde O encontraremos, para que o Seu amor, que nos parece tantas vezes silencioso e escondido, nos fale, e o rosto da Sua fidelidade se revele ao nosso coração inquieto? Onde nos deixaremos alcançar e amar por Ele, para que nos comunique a coragem de existir e a alegria de nos querermos profundamente humanos, segundo o Seu projeto e o desejo do Seu coração divino? Onde é que nós, nascidos no tempo, poderemos renascer para a vida que começa no tempo e não conhecerá ocaso?

         A estas perguntas, a fé da Igreja responde indicando-nos alguns eventos, nos quais a graça do Eterno nos é oferecida em gestos e palavras da nossa história: os sacramentos, lugares do encontro com Deus. Por isso é que conhecer e viver os sacramentos é tão importante para fazer a experiência do amor, revelado e dado em Jesus Cristo.

         Um esclarecimento inicial ajudar-nos-á a ultrapassar a dificuldade de uma palavra, tão antiga e usada, como, com frequência, tão obscura e confusa: a palavra «sacramento», derivada do latim, língua em que se usava com o significado de «juramento de fidelidade» (sacramentum). Entre dois amigos, entre dois contraentes, entre um cidadão e a «res-publica» estabeleciam-se pactos solenes selados por um «sacramento».      Quando se começou a traduzir a Bíblia para latim, esta palavra pareceu adequada a verter o termo grego “mistério” que, no Novo Testamento – sobretudo em Paulo – designa o plano divino de salvação, que se realiza no tempo. O “mistério” é uma espécie de pacto pelo qual Deus Se dirige ao homem no amor, entra na sua história e chama-o a edificar consigo o Seu projecto de salvação. No “mistério”, a glória divina é, simultaneamente, escondida e revelada nos sinais da história, como acontece precisamente em Jesus Cristo, em quem Deus nos deu a conhecer o desígnio da Sua vontade (cf. Ef 1, 9), há séculos envolto no silêncio (cf. Rm 16, 25), e nos deu o Espírito para realizá-lo.

    Desta forma, o “mistério-sacramento” exprime o encontro de aliança, que se realiza na história entre a iniciativa divina e o acolhimento do homem: o sacramento é o acontecimento, feito de gestos e de palavras, do encontro com Deus, que não hesita em “sujar as Suas mãos” com a nossa vida do dia-a-dia e as nossas limitações, porque nos ama e deseja encontrar-Se connosco. O Senhor do céu e da terra faz-Se à nossa medida, para elevar-nos à altura, sem medida, do Seu amor!

         Neste encontro, o nosso corpo, tocado pela graça divina através de sinais, gestos e palavras visíveis, percetíveis e audíveis aos nossos sentidos, assume um lugar importante; também desta maneira, o Deus cristão mostra a dignidade e a importância que a nossa humanidade tem para Ele, em todas as suas expressões. Porque o cristianismo que é, por excelência, a religião do encontro histórico e sacramental com Deus exclui toda a salvação que apenas se dirija à alma, e todo o desprezo do corpo e das suas exigências

         Pode até afirmar-se que o sacramento é o acontecimento de Deus na corporeidade e que toda a história da salvação, enquanto comunicação da vida divina ao homem nos sinais do tempo e do espaço, é a história do envolvimento de Deus na densidade da nossa história, em todas as suas expectativas e resistências, em todos os seus entusiasmos e medos; de facto, o amor divino “ganha corpo” na história para comunicar-Se a nós e atrair-nos a Si.

         Para exprimir este total empenhamento divino nas palavras e nos gestos humanos que constituem o sacramento, fala-se dele como de um «sinal eficaz de graça»: com esta fórmula pretende-se evocar não só os aspectos visíveis, audíveis e perceptíveis do evento sacramental (o «sinal»), mas também a vida divina oferecida aos homens através deles pelo amor do Eterno (a «graça»). Além disso, a fórmula realça a relação real e transformante que se estabelece entre Deus e o homem, mediante a celebração do sacramento (a «eficácia»). Deste modo, ela traduz a verdade admirável do encontro pessoal entre o Deus vivo e o homem vivo, que se efectua nos sacramentos pelas palavras e pelos gestos queridos pelo Senhor como veículos da Sua doação ao homem, que, por sua vez, é chamado a responder ao dom com a liberdade de um assentimento, preparado pela graça e por ela tomado possível.

Portanto, Deus, que quer falar aos homens como a amigos, entra na nossa linguagem, assume os gestos e as palavras através das quais o nosso coração poderá ser alcançado, e manifesta, assim, o maravilhoso poder do Seu amor, que se faz tudo para todos, para, de qualquer modo, salvar todos! A Palavra eterna entra nas palavras do tempo e o eterno acontecimento do amor adapta-se aos humildes acontecimentos do amor humano; nesse sentido, os sacramentos constituem a demonstração permanente da ternura e da compaixão do nosso Deus, e celebram a Sua misericórdia e o Seu perdão, a Sua condescendência para com a nossa pequenez e o desejo de nos tornarmos participes da Sua vida divina. Por isso, os sacramentos representam na nossa vida o ponto de encontro  historicamente mais intenso com Deus, o lugar concreto em que a eternidade entra no tempo e os nossos dias penetram na eternidade. Eles são um encontro de amor, uma oferta dirigida à nossa liberdade, por Aquele que, embora seja e permaneça o Senhor Altíssimo e Omnipotente, vive por nós a humildade do “mendigo de amor”, que chama, que Se dá totalmente e que espera o nosso consentimento para – aqui e agora – estabelecer uma aliança connosco.

Tu és um Deus à busca do homem. Tu, que, por amor nos criaste e, por amor, nos enviaste o Teu Filho, ainda nos visitas nos caminhos da vida e da história com os sinais da Tua presença e os encontros da Tua fidelidade. Graças ao Teu Espírito,  que actualiza no tempo as promessas do Teu amor a tua Palavra, feita carne por nós, torna-Se próxima de cada um de nós e dá-Se ao coração de quem acredita nos sinais sacramentais da Igreja. Pai da vida e da glória, faz que nestes humildes eventos, celebrados pelo Teu povo em obediência à vontade do Teu Cristo, saibamos reconhecer o lugar de encontro contigo, onde o Espírito nos faz participantes das profundezas do Teu Amor na fragilidade das obras e dos dias da nossa vida, e o Senhor Jesus nos concede que O sigamos pelo caminho do serviço dos outros em direcção ao último e pleno encontro contigo.

2. Cristo, Sacramento de Deus

         E o Verbo fez-Se homem e habitou entre nós, e nós vimos a Sua glória, glória «que Lhe vem do Pai, como Filho único, cheio de graça e de verdade» (Jo 1, 14). Em Jesus, o Filho eterno, que Se fez homem, a glória de Deus tornou-se visível para nós: «O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos apalparam acerca do Verbo da vida – porque a vida manifestou-se, nós vimo-la, damos testemunho dela e vos anunciamos esta vida eterna que estava no Pai e que nos foi manifestada – o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também vós tenhais comunhão connosco. Quanto à nossa comunhão, ela é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo» (1Jo 1, 1-3). N’Ele, encontraram-se o mundo de Deus e o mundo dos homens, sem divisão nem separação, mas também sem confusão nem mudança. Por isso, Jesus Cristo é, por excelência, o lugar de encontro com Deus, o “sacramento original”, que exprime e realiza, na forma mais alta, a aliança dos homens com o Pai: «De facto, não há outro sacramento de Deus senão Cristo» (Santo Agostinho, Epist. 187, 34)!

         Reconhecer no Senhor Jesus o “sacramento original” significa, antes de mais, confessar que n’Ele nos é oferecido o dom supremo do Pai, a certeza de um amor, que permite que confiemos sempre na impossível possibilidade de Deus. «Se Deus é por nós, quem é contra nós? Ele, que não poupou o próprio filho, mas O entregou por todos nós, como não havia de nos dar também, com Ele, todas as coisas? Quem acusará os eleitos de Deus? Deus, que os justifica? Quem os condenará? Cristo Jesus, que morreu, e ainda mais, que ressuscitou, Ele que está à direita de Deus, Ele que intercede por nós?» (Rom 8, 31-34).

          Portanto, enquanto verdadeiramente homem, o Verbo incarnado introduz a realidade total do mundo humano no mistério mais íntimo da divindade; na Sua humanidade, Cristo Jesus é o sacramento do mundo, Aquele em quem o êxodo da condição humana alcança o coração do Eterno, não só na transitoriedade do tempo presente, mas também como antecipação e promessa da glória futura.

«Cristo como primícias [...]. Depois virá o fim, quando entregar o Reino a Deus Pai [...]. E quando tudo Lhe estiver sujeito, então também o próprio Filho Se submeterá Àquele que tudo Lhe submeteu, a fim de que Deus seja tudo em todos» (l Cor 15, 23s. 28). Jesus é o adorador supremo do Pai, que revela ao mundo a sua vocação última, o seu destino mais profundo, orientando decididamente a abertura do coração humano para a sua única e possível realização plena e definitiva: o encontro com Deus.
   
         Sacramento de Deus, sacramento do homem, Cristo é, em Si mesmo, a aliança dos mundos, Aquele em quem o céu e a terra se encontraram. Ele é a aliança em pessoa; como abertura de um mundo a outro mundo, Ele é a subversão e a salvação do mundo humano pelo mundo de Deus. Jesus Cristo é a graça em pessoa! N’Ele, Deus revela-Se como o Deus-para-nós e o Deus-connosco, o Deus-amor que livremente opta por “sair de Si” e comunicar-Se ao homem para estabelecer com ele uma aliança de vida eterna. Em Jesus ressuscitado, a humanidade é admitida a morar no Eterno, e tornada capaz de sair de si para encontrar-se em Deus.

         Sacramento do êxodo humano e do advento divino, a Palavra eterna feita carne realiza em si mesma todas as dimensões do sacramento: o Senhor Jesus é o reconciliador, em quem a vida eterna de Deus passa para a história e a história abre-se à glória. Só Ele é a nossa paz, que, na Sua carne derruba o muro do distanciamento intransponível e da separação culpada e permite que, por Seu intermédio, nos apresentemos ao Pai num único Espírito (cf. Ef 2, 14-18). Ele é a Palavra eterna de Deus pronunciada no tempo, saída do silêncio do Pai, origem de toda a vida e todo o dom, para ecoar no silêncio acolhedor da fé e da caridade e alimentar a esperança, aberta à Pátria futura, onde Deus Se afirmará tudo em todos.

          Na Palavra de Deus, fixada nas palavras da Escritura inspirada e transmitida pela tradição viva da Igreja, Deus vem ao encontro do homem: a Palavra é o lugar e o instrumento em que o sacramento original, Cristo, convoca o novo povo de Deus na fé, na esperança e no amor. A Palavra de Deus é o próprio Deus que, no sinal da Sua Palavra, Se faz encontro para o homem e, em Cristo, o chama à comunhão consigo. Em Cristo coincidem Palavra e Sacramento: Ele é o Verbo saído do Silêncio; Ele é o sinal vivo da graça na Sua humanidade plena e verdadeira; Ele é a fonte da vida, donde dimana o dom divino para o coração dos homens. Aquilo que no Sacramento original é perfeita unidade não pode agora separar-se na vida da Igreja: o anúncio da Palavra de salvação e a celebração dos sacramentos da vida são dois momentos inseparáveis do único processo da redenção pelo qual a existência humana encontra o Senhor Jesus e n’Ele tem acesso ao mistério da graça que liberta e salva.

Cristo, imagem radiosa do Pai, príncipe da paz, que reconcilias Deus com o homem e o homem com Deus, Palavra eterna tornada carne, e carne divinizada no encontro esponsal, somente em Ti poderemos chegar a Deus. Tu, que Te fizeste pequeno para deixar-Te agarrar pela sede do nosso conhecimento e do nosso amor, concede-nos que Te procuremos com vontade, acreditemos em Ti na escuridão da fé, esperemos por Ti com uma esperança ardente, Te amemos na liberdade e na alegria do coração. Faz com que não nos deixemos vencer pelo poder das trevas, seduzir pelo brilho do que passa. Por isso, dá-nos o Teu Espírito, que Ele Se torne em nós desejo e fé, esperança e amor humilde. Então, Senhor, procurar-Te-emos, na noite, velaremos por Ti em todo o tempo, e os dias da nossa vida mortal tornar-se-ão a esplêndida aurora, em que virás, como estrela brilhante da manhã, para, finalmente, seres para nós o Sol que não conhece ocaso. Amen. Aleluia!


Bruno Forte, Introdução aos Sacramentos, Gráfica de Coimbra, Coimbra 1997, 7-28.

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