sexta-feira, 27 de abril de 2012


CONGRESSO EUCARÍSTICO INTERNACIONAL DA IRLANDA

Pe. Dário Pedroso, sj
Secretário Nacional do Apostolado da Oração

De 10 a 17 de Junho, vai realizar-se na Irlanda o 50.º Congresso Eucarístico Internacional, com o tema «Eucaristia: comunhão com Deus e uns com os outros».

A história destes cinquenta congressos eucarísticos é um hino de louvor e glória ao Cordeiro Imolado, a Jesus Eucaristia, que em Quinta-Feira Santa instituiu o Sacramento do amor por excelência. Na Ceia pascal desse dia, a Última Ceia do Senhor tudo é novo”: novo Cordeiro, novo Sacerdócio, nova Ceia, novo mandamento do amor O congresso quercolocar em evidência para a Igreja Universal o sacramento e sacrifício de Jesus, o Verbo do Pai e o Filho da Maria, que dá a comer e a beber o Seu Corpo e o Seu Sangue: «Tomai e comei», «tomai e bebei». Entrega total do Seu ser e do Seu amor, oferta radical de Si mesmo para ser nosso alimento. Ele é o Pão Divino, Pão Vivo descido do Céu. Como Cordeiro Imolado, Ele redime os nossos pecados e nos sacia a tome e a sede de divino, de absoluto. É urgente, em muitos países, em muitas dioceses e paróquias, em muitas comunidades, na nossa vida pessoal, recuperara devoção à Eucaristia, o amor apaixonado por Jesus no Santíssimo Sacramento. Esperamos que o 50.° Congresso ajude muito a estimular, nas pessoas e nas paróquias, a graça de uma mais profunda vivência da Eucaristia, de um maior amor do Santíssimo Corpo e Sangue de Jesus.

Eucaristia: é o cume, o ponto mais alto, o mais sobrenatural, o mais divino de toda a vida Cristã. É fonte de todas as graças e dons, pois na Eucaristia recebemos o próprio Deus. Ela nos fortalece, alimenta, perdoa, diviniza, cristifica. É centro para o qual devemos fazer convergir a nossa vida toda, para tudo oferecer com Cristo Eucaristia, no sacramento e sacrifício do altar. Na Eucaristia renova-se a Ceia do Senhor e o Espírito converte pão e vinho em Corpo e Sangue. Verdadeira renovação do Mistério Pascal, a Eucaristia é mistério de morte e de ressurreição. Daí a sua riqueza e a sua centralidade. Como afirmou o Papa beato João Paulo II, a Eucaristia é «encarnação continuada», pois no altar ficamos com Jesus, o mesmo que encarnou no seio virginal de Maria, que Ela deu à luz no presépio, que ofereceu no Templo e no Calvário. Dádiva plena do amor trinitário, a Eucaristia é oferta de Deus Pai, dom de Deus Filho e consagração de Deus Espírito. Oferecida com tudo o que somos e temos, com tudo o que rezamos, sofremos, trabalhamos, amamos, etc., a vida mergulha em Jesus Eucaristia e torna-Se uma oferenda permanente ou, como afirmou São Paulo, uma «hóstia viva» (Rom 12,1). Oferecemo-nos com Jesus para que o mundo tenha vida e vida em abundância. Somos oferta com Ele e o nosso dia inteiro converte-se em Eucaristia. Como sacerdotes e vítimas com Ele para colaborar na redenção, para atrair dons e graças sobre o mundo e a Igreja. Somos como a gota de água que se dilui, se mistura no vinho do cálice, para se converter em sangue redentor. E se sabemos que a Eucaristia é o maior sacramento, pois é a oferta toda de Jesus ao Pai e aos homens, é a plenitude de dom e de graça, a nossa vida oferecida torna-se n’Ele dom para o mundo.

Na Eucaristia, como Evangelho resumido ou como «encarnação continuada», temos o Cristo total, ou seja, temos o Cristo orante a Quem oferecemos as nossas orações, temos o Cristo sofredor a Quem oferecemos as nossas dores e os nossos sofrimentos, temos o Cristo operário a Quem oferecemos os nossos trabalhos e as nossas fadigas, temos o Cristo alegre a Quem oferecemos as nossas alegria e os nossos tempos de descanso. Tudo oferecido na Eucaristia para que a nossa vida seja assumida por Jesus e oferecida com Ele ao Pai pelos homens e mulheres, nossos irmãos e irmãs. O Congresso na Irlanda vai colocar em relevo o valor da celebração e a graça de a viver com Cristo. Saibamos aproveitar esses ensinamentos, essa graça, essa maravilha.

Comunhão com Deus. A Eucaristia é o momento mais sagrado e mais divino da nossa comunhão com Deus. Unimo-nos a Ele pela oferta da nossa vida, do nosso trabalho, da nossa oração, das nossas dores, das nossas alegrias, do nosso dia, todo colocado no altar e feito oferta com Jesus. Mas é união com Deus sobretudo porque O recebemos na sagradacomunhão. «Ele permanece em nós e nós n’Ele», vem a nós para ficar connosco, para ser em nós fortaleza, fonte de graça e de santidade. Ele e nós, nós e Ele. Duas vidas, uma só vida, dois seres, um só ser, dois corações, um só coração. Jesus em nós para realizar a nossa transformação n’Ele, a nossa comunhão com Ele, a nossa cristificação. Somos transformados n’Aquele que recebemos. União plena, comunhão total de um Deus que Se faz alimento, que vem a nós e fica em nós. Mistério insondável de amor que gera união e comunhão com o nosso Deus. Precisamos de perceber bem que Eucaristia sem comunhão é incompleta. A refeição precisa de ser comida, o banquete tem de saciar a nossa fome. Mas precisamos também de entender até ao mais profundo de nós mesmos que não podemos comungar de qualquer modo. A comunhão é um tesouro para a nossa vida. Precisamos de comungar com amor, com respeito, com fé, com devoção, para que a união com Deus se realize de um modo mais pleno e vital. Mas parece haver muitas comunhões mal feitas, pois há quem receba Jesus sem estar preparado, com pecados mortais, com vida desregrada de um modo grave. Damo-nos conta de que pessoas casadas pelo civil ou até amancebadas se abeiram da mesa eucarística e comungam sem o poderem fazer. A preparação do congresso está atenta a estes dados e a esta doutrina e exorta-nos a Comungar bem e em condições dignas. Há muito sacrilégio e há muita profanação. Precisamos de reparar, de adorar Jesus, de pedir perdão pelos pecados contra o Santíssimo Sacramento.

É enriquecedor perceber e viver que a Eucaristia se prepara com “lava-pés”, como fez Jesus no Cenáculo. Um Deus humilde, de joelhos, a lavar os pés aos discípulos. Nem um escravo judeu fazia tal serviço. Mas Jesus, no auge do amor e do dom, ajoelha e lava os pés, símbolo do seu dom, do seu serviço, do seu jeito de ser dádiva para todos. Temos de preparar a celebração e a comunhão com gestos de “lava-pés”, que são modo de nos purificar a nós também. Precisamos da veste nupcial para nos sentarmos à mesa do banquete e comer o Pão do Céu. E precisamos de prolongar o tempo da intimidade de uma «acção de graças» silenciosa, atenta, amiga. A comunhão com Jesus em adoração e reparação, em louvor e acção de graças, em companhia silenciosa junto de milhões de sacrários onde Ele está presente, deve ajudar-nos a sermos homens e mulheres eucarísticos. Apóstolos audazes da Eucaristia, como desejo de que todos O venerem e amem. Estar em união com Ele é o modo mais fecundo de viver, de Lhe matar a sede e de termos cada vez mais sede d’Ele e do Seu amor

Comunhão com os outros. A Eucaristia é escola de amor, escola de caridade, como lhe chamou o Papa beato João Paulo II. Daí que devemos ir para a Eucaristia vivendo a unidade com os nossos irmãos, estando em paz e comunhão com todos. Se vamos apresentar a oferta ao altar precisamos de examinar se o nosso irmão tem algo contra nós e apressar-nos a fazer a paz e a reconciliação. E, depois de participarmos na Eucaristia, a nossa união com os outros é ainda maior, pois, como afirmou São Paulo: «Se todos comungamos o mesmo Corpo é para formarmos um só corpo». Por outro lado, a Eucaristia, em que Jesus Se nos dá plenamente, é escola do nosso amor, para que, acabada a celebração, saibamos dar-nos aos outros plenamente. Se Ele é alimento e Se deixa comer é para nos ensinar a ser alimento para os outros no dom, na entrega, no serviço, na comunhão. Acabar a Eucaristia e continuar egoísta, continuar egocentrista, comodista, continuar a criticar, a ser injusto, etc., é algo contraditório, pois não estamos a viver o sacramento do amor que celebrámos. Sair da com a preocupação de amar e servir, de ser fonte de paz e de comunhão. Se a Eucaristia é «escola», é para nos ajudar a viver como Jesus, a ser amor para todos. Celebrar a Eucaristia, participar no sacramento do amor, comungar

a Jesus, o Seu Corpo e Sangue, e continuar egoísta, egocentrista, ciumento, avarento, agreste, impaciente, orgulhoso, parece ser o modo mais rápido de destruir o amor que celebrámos, de destruir os efeitos do dom que recebemos. A Eucaristia é fonte de amor fraterno, de comunhão com os outros, de dom sem reservas. Ele, Jesus, dá-Se em alimento para nos ensinar e ajudar a sermos alimento para os outros, ou seja, os outros precisam de nós, do nosso serviço, do nosso amor, da nossa dedicação, para viverem a paz e alegria, para serem mais felizes, para encontrarem caminhos de esperança.

A vida cristã, a unidade da paróquia ou da família, do grupo apostólico ou da comunidade religiosa, da diocese ou da Igreja universal, nasce da comunhão eucarística. Comungamos para ser um só corpo eclesial, unido, coeso, cheio de caridade e de unidade. Se todos os que participamos da Eucaristia e comemos o Pão do Céu trouxéssemos a Eucaristia para a vida, como fonte de amor, o mundo seria outro. É este o grande projeto e a grande esperança do 50.º Congresso Eucarístico Internacional.

In: Síntese, n.º 214, Maio Junho de 2012, Paulus Editora, Lisboa 2012, 15-19

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