CONGRESSO
EUCARÍSTICO INTERNACIONAL DA IRLANDA
Pe. Dário Pedroso,
sj
Secretário Nacional
do Apostolado da Oração
De 10 a 17 de Junho, vai realizar-se na Irlanda o 50.º
Congresso Eucarístico Internacional, com o tema «Eucaristia: comunhão com Deus
e uns com os outros».
A história destes cinquenta congressos eucarísticos é um
hino de louvor e glória ao Cordeiro Imolado, a Jesus Eucaristia, que em Quinta-Feira
Santa instituiu o Sacramento do amor por excelência. Na Ceia pascal desse dia,
a Última Ceia do Senhor tudo é novo”: novo Cordeiro, novo Sacerdócio, nova
Ceia, novo mandamento do amor O congresso quercolocar em evidência para a Igreja Universal o sacramento
e sacrifício de Jesus, o Verbo do Pai e o Filho da Maria, que dá a comer e a
beber o Seu Corpo e o Seu Sangue: «Tomai e comei», «tomai e bebei». Entrega
total do Seu ser e do Seu amor, oferta radical de Si mesmo para ser nosso
alimento. Ele é o Pão Divino, Pão Vivo descido do Céu. Como Cordeiro Imolado, Ele
redime os nossos pecados e nos sacia a tome e a sede de divino, de absoluto. É
urgente, em muitos países, em muitas dioceses e paróquias, em muitas
comunidades, na nossa vida pessoal, recuperara devoção à Eucaristia, o amor
apaixonado por Jesus no Santíssimo Sacramento. Esperamos que o 50.° Congresso
ajude muito a estimular, nas pessoas e nas paróquias, a graça de uma mais
profunda vivência da Eucaristia, de um maior amor do Santíssimo Corpo e Sangue
de Jesus.
Eucaristia: é o cume, o ponto mais alto, o mais
sobrenatural, o mais divino de toda a vida Cristã. É fonte de todas as graças e
dons, pois na Eucaristia recebemos o próprio Deus. Ela nos fortalece, alimenta,
perdoa, diviniza, cristifica. É centro para o qual devemos fazer convergir a
nossa vida toda, para tudo oferecer com Cristo Eucaristia, no sacramento e sacrifício
do altar. Na Eucaristia renova-se a Ceia do Senhor e o Espírito converte pão e
vinho em Corpo e Sangue. Verdadeira renovação do Mistério Pascal, a Eucaristia
é mistério de morte e de ressurreição. Daí a sua riqueza e a sua centralidade.
Como afirmou o Papa beato João Paulo II, a Eucaristia é «encarnação
continuada», pois no altar ficamos com Jesus, o mesmo que encarnou no seio
virginal de Maria, que Ela deu à luz no presépio, que ofereceu no Templo e no
Calvário. Dádiva plena do amor trinitário, a Eucaristia é oferta de Deus Pai,
dom de Deus Filho e consagração de Deus Espírito. Oferecida com tudo o que
somos e temos, com tudo o que rezamos, sofremos, trabalhamos, amamos, etc., a
vida mergulha em Jesus Eucaristia e torna-Se uma oferenda permanente ou, como
afirmou São Paulo, uma «hóstia viva» (Rom 12,1). Oferecemo-nos com Jesus para
que o mundo tenha vida e vida em abundância. Somos oferta com Ele e o nosso dia
inteiro converte-se em Eucaristia. Como sacerdotes e vítimas com Ele para
colaborar na redenção, para atrair dons e graças sobre o mundo e a Igreja.
Somos como a gota de água que se dilui, se mistura no vinho do cálice, para se
converter em sangue redentor. E se sabemos que a Eucaristia é o maior
sacramento, pois é a oferta toda de Jesus ao Pai e aos homens, é a plenitude de
dom e de graça, a nossa vida oferecida torna-se n’Ele dom para o mundo.
Na Eucaristia, como Evangelho resumido ou como
«encarnação continuada», temos o Cristo total, ou seja, temos o Cristo orante a
Quem oferecemos as nossas orações, temos o Cristo sofredor a Quem oferecemos as
nossas dores e os nossos sofrimentos, temos o Cristo operário a Quem oferecemos
os nossos trabalhos e as nossas fadigas, temos o Cristo alegre a Quem
oferecemos as nossas alegria e os nossos tempos de descanso. Tudo oferecido na
Eucaristia para que a nossa vida seja assumida por Jesus e oferecida com Ele ao
Pai pelos homens e mulheres, nossos irmãos e irmãs. O Congresso na Irlanda vai
colocar em relevo o valor da celebração e a graça de a viver com Cristo.
Saibamos aproveitar esses ensinamentos, essa graça, essa maravilha.
Comunhão com Deus. A Eucaristia é o momento mais sagrado
e mais divino da nossa comunhão com Deus. Unimo-nos a Ele pela oferta da nossa
vida, do nosso trabalho, da nossa oração, das nossas dores, das nossas
alegrias, do nosso dia, todo colocado no altar e feito oferta com Jesus. Mas é
união com Deus sobretudo porque O recebemos na sagradacomunhão. «Ele permanece em nós e nós n’Ele», vem a nós
para ficar connosco, para ser em nós fortaleza, fonte de graça e de santidade.
Ele e nós, nós e Ele. Duas vidas, uma só vida, dois seres, um só ser, dois
corações, um só coração. Jesus em nós para realizar a nossa transformação n’Ele,
a nossa comunhão com Ele, a nossa cristificação. Somos transformados n’Aquele
que recebemos. União plena, comunhão total de um Deus que Se faz alimento, que
vem a nós e fica em nós. Mistério insondável de amor que gera união e comunhão
com o nosso Deus. Precisamos de perceber bem que Eucaristia sem comunhão é incompleta.
A refeição precisa de ser comida, o banquete tem de saciar a nossa fome. Mas
precisamos também de entender até ao mais profundo de nós mesmos que não
podemos comungar de qualquer modo. A comunhão é um tesouro para a nossa vida.
Precisamos de comungar com amor, com respeito, com fé, com devoção, para que a
união com Deus se realize de um modo mais pleno e vital. Mas parece haver
muitas comunhões mal feitas, pois há quem receba Jesus sem estar preparado, com
pecados mortais, com vida desregrada de um modo grave. Damo-nos conta de que pessoas
casadas pelo civil ou até amancebadas se abeiram da mesa eucarística e comungam
sem o poderem fazer. A preparação do congresso está atenta a estes dados e a
esta doutrina e exorta-nos a Comungar bem e em condições dignas. Há muito
sacrilégio e há muita profanação. Precisamos de reparar, de adorar Jesus, de
pedir perdão pelos pecados contra o Santíssimo Sacramento.
É enriquecedor perceber e viver que a Eucaristia se
prepara com “lava-pés”, como fez Jesus no Cenáculo. Um Deus humilde, de joelhos,
a lavar os pés aos discípulos. Nem um escravo judeu fazia tal serviço. Mas
Jesus, no auge do amor e do dom, ajoelha e lava os pés, símbolo do seu dom, do
seu serviço, do seu jeito de ser dádiva para todos. Temos de preparar a
celebração e a comunhão com gestos de “lava-pés”, que são modo de nos purificar
a nós também. Precisamos da veste nupcial para nos sentarmos à mesa do banquete
e comer o Pão do Céu. E precisamos de prolongar o tempo da intimidade de uma
«acção de graças» silenciosa, atenta, amiga. A comunhão com Jesus em adoração e
reparação, em louvor e acção de graças, em companhia silenciosa junto de
milhões de sacrários onde Ele está presente, deve ajudar-nos a sermos homens e
mulheres eucarísticos. Apóstolos audazes da Eucaristia, como desejo de que
todos O venerem e amem. Estar em união com Ele é o modo mais fecundo de viver,
de Lhe matar a sede e de termos cada vez mais sede d’Ele e do Seu amor
Comunhão com os outros. A Eucaristia é escola de amor,
escola de caridade, como lhe chamou o Papa beato João Paulo II. Daí que devemos
ir para a Eucaristia vivendo a unidade com os nossos irmãos, estando em paz e
comunhão com todos. Se vamos apresentar a oferta ao altar precisamos de
examinar se o nosso irmão tem algo contra nós e apressar-nos a fazer a paz e a
reconciliação. E, depois de participarmos na Eucaristia, a nossa união com os
outros é ainda maior, pois, como afirmou São Paulo: «Se todos comungamos o
mesmo Corpo é para formarmos um só corpo». Por outro lado, a Eucaristia, em que
Jesus Se nos dá plenamente, é escola do nosso amor, para que, acabada a
celebração, saibamos dar-nos aos outros plenamente. Se Ele é alimento e Se
deixa comer é para nos ensinar a ser alimento para os outros no dom, na
entrega, no serviço, na comunhão. Acabar a Eucaristia e continuar egoísta,
continuar egocentrista, comodista, continuar a criticar, a ser injusto, etc., é
algo contraditório, pois não estamos a viver o sacramento do amor que
celebrámos. Sair da com a preocupação de amar e servir, de ser fonte de paz e
de comunhão. Se a Eucaristia é «escola», é para nos ajudar a viver como Jesus,
a ser amor para todos. Celebrar a Eucaristia, participar no sacramento do amor,
comungar
a Jesus, o Seu Corpo e Sangue, e continuar egoísta,
egocentrista, ciumento, avarento, agreste, impaciente, orgulhoso, parece ser o
modo mais rápido de destruir o amor que celebrámos, de destruir os efeitos do
dom que recebemos. A Eucaristia é fonte de amor fraterno, de comunhão com os outros,
de dom sem reservas. Ele, Jesus, dá-Se em alimento para nos ensinar e ajudar a
sermos alimento para os outros, ou seja, os outros precisam de nós, do nosso
serviço, do nosso amor, da nossa dedicação, para viverem a paz e alegria, para
serem mais felizes, para encontrarem caminhos de esperança.
A vida cristã, a unidade da paróquia ou da família, do
grupo apostólico ou da comunidade religiosa, da diocese ou da Igreja universal,
nasce da comunhão eucarística. Comungamos para ser um só corpo eclesial, unido,
coeso, cheio de caridade e de unidade. Se todos os que participamos da
Eucaristia e comemos o Pão do Céu trouxéssemos a Eucaristia para a vida, como
fonte de amor, o mundo seria outro. É este o grande projeto e a grande
esperança do 50.º Congresso Eucarístico Internacional.
In: Síntese, n.º 214, Maio Junho de 2012, Paulus Editora,
Lisboa 2012, 15-19
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