quinta-feira, 22 de março de 2012

O DESAFIO DE UMA VIAGEM


O programa do curso trouxe-nos a Bressanone. Mais do que uma viagem ela é uma peregrinação às raízes da nossa vocação. Olhar o exemplo de José é sentir o renovado desafio que Deus nos dirige: “Sede santos”. Esta não está na fuga, mas no valorizar o que de mais autêntico e humano existe em nós.
A primeira carta de São José Freinademetz aos pais e irmãos que transcrevemos numa tradução, é o mais belo testemunho de que Deus quando chama alguém o chama a partir da sua situação concreta.



A CIDADE DE BRESSANONE

Bressanone em italiano, ou Brixen em alemão, é uma cidade situada no Alto Adige italiano. Cidade muito antiga e com muita história.

Lindíssima pela sua paisagem. Encravada entre montanhas, é uma cidade  que tem tanto de mistério como de encanto. Para que o horizonte da nossa vista se alargue, obriga-nos a olhar para o alto e imaginar o que está para além dos cumes dos montes, nesta altura do ano cobertos de neve.

O rio de águas límpidas, não muito grande e sempre cantarolando entre as pedras, convida-nos a pensar na simplicidade e na beleza das coisas naturais. As ruas limpas e ordenadas, dão razão de ser a uma população serena, ordeira e sem pressas.

Foi o que vimos e sentimos hoje nesta cidade, enquanto nela percorríamos os passos de São José Freinademetz. Neste envolvimento quase que o víamos e sentíamos, tal o fascínio que este ambiente provoca em nós.

Estivemos na catedral, onde José foi menino do coro, graças à melodiosa voz que possuía.

No Cassianeu, escola elementar onde Freinademetz estudou, parece que as paredes renovadas ainda o recordam, e no Seminário a capela ainda sussurra a lembrança da ordenação sacerdotal de um santo.

O convento dos franciscanos, ali bem perto, foi testemunha do encontro difícil entre duas pessoas a caminho da santidade: Arnaldo Janssen e José Freinademetz.

O Paço episcopal, na na rua quase a seguir foi testemunha de uma frase profética do Bispo que diz: “o bispo de Brixen diz não à partida do seu sacerdote José para as missões, mas o bispo católico diz sim”.

E de fato, passados dois meses depois desta autorização episcopal, José Freinademetz já estava em Steyl, Holanda.

Foi uma viagem longa e penosa, a primeira entre tantas a que Deus o convidou. A mais importante de todas foi o êxodo interior que o acompanhou em toda a sua vida.

Primeira carta de São José Freinademetz aos pais e irmãos, depois de chegar a Steyl.

Steyl, 29 de Agosto de 1878.

Queridos pais, irmãos e irmãs:

Sei muito bem que estais esperando esta carta de minha parte, vosso filho e irmão. Por isso apresso-me a escrever-vos apenas algumas linhas, prometendo-vos outra carta dentro de três semanas.

Estava de coração muito triste e senti muito como filho e irmão aquele momento em que me despedi de vós, meus queridos, para ir para um país longínquo do qual não conhecia nada. Quando em Insbruck me vi só e abandonado, senti-me como um órfão; mas de repente vieram-me aquelas palavras que vieram de um bom amigo: “Enquanto mais abandonado e afastado te sentires dos homens, tanto mais perto estarás de Deus”. Senti, então, uma certa alegria e consolo no coração que me dizia: “tu abandonas-te tudo por Deus, portanto Deus não te abandonará”.

Abri o pequeno livro de Tomás de Kempis, único amigo que escolhi para companheiro de viagem, e as primeiras palavras que os meus olhos leram, foram: “vinde a Mim todos os que estão atribulados e Eu o consolarei”. Assim segui de viagem, um dia depois do outro, sem que me tivesse sucedido qualquer desgraça e sem a mínima dificuldade em encontrar o caminho. Para vos contar as coisas que vi, não saberia por começar e acabar. As visitas principais as fiz sobretudo às Igrejas, entre as quais vi algumas mesmo mais bonitas do que a da minha Badia. Um bom trecho da viagem foi por rio. Foram dezoito horas. Da grandeza, maravilha e da comodidade do barco, eu não tinha a menor ideia.

A distância de Oïes até ao lugar onde estou agora, é verdadeiramente muito grande, nunca o tinha imaginado. De Insbruck até agora não encontrei ninguém conhecido. Cheguei aqui Terça à tarde. A viagem custou cerca de 50 florins, e a bagagem que também já chegou custou 15florins. A experiência geral que tenho desta viagem é aquela que mamã dizia: “Dêem graças a Deus, filhos e filhas, que estais em Badia e a quem Deus não chamou, e não abandonem a formosa Badia”.

Agora umas palavras sobre a Casa da Missões, onde estou atualmente. Esta é realmente uma casa de Deus, onde se respira o espírito de piedade e de temor de Deus. Digo sinceramente, do pouco que vi nestes dias desde que estou aqui, não temo dizer demasiado, se disser que não encontrei até agora uma coisa igual em Cassianeu nem no seminário de Bressanone. O zelo o fervor, a modéstia dos estudantes desta casa, é uma coisa totalmente nova para mim. Que jovens, tão jovens, que conheçam já de tal modo que a vida sobre a terra não é uma brincadeira, não pode vir de outro lado senão do fato de todos estes quererem ser missionários. Por isso estou contentíssimo de estar aqui e não sei como agradecer ao Senhor o suficiente. Poderei aproveitar muito. Primeiro a viver como verdadeiro cristão, em segundo lugar começar a aprender a língua chinesa. Aqui há sete sacerdotes, quarenta estudantes e diversos artesãos. Nesta casa temos uma capela, onde se encontra o Santíssimo Sacramento.

Bom termino desta vez. Peçam muito por mim para que possa responder à vocação a que Deus me chamou. Eu nunca vos esquecerei.

Fico convosco no Santíssimo Coração de Jesus.


GF (Giuseppe Freinademetz)

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