sexta-feira, 16 de março de 2012

Catequese


Paróquia de Almodôvar
ATOS DOS APÓSTOLOS I

1.   A Ressurreição de Jesus
Por: Pe. José Maria Coelho
1. Voltamos ainda, por breves momentos, ao evangelho de Marcos, para nos fixarmos na ressurreição de Jesus.
Aquelas mulheres corajosas que acompanharam Jesus na hora da Sua Paixão, no primeiro dia da semana, vão ao sepulcro para ungirem o Seu corpo. Porém, quando chegam, encontram o túmulo vazio e um jovem que lhes comunica: «Ressuscitou, não está aqui»(Mc16, 6).
Felizmente o sepulcro estava vazio! Sim, porque se ele não estivesse vazio, era sinal de que Jesus continuaria no reino dos mortos e, deste modo, cairia em descrédito tudo quanto havia dito e ensinado. Toda a sua vida e também a sua morte teriam sido um fracasso. Mas o sepulcro estava vazio. Cumprira-se o que Jesus anunciara aos discípulos: «O Filho do Homem será entregue às mãos dos homens e eles matá-Io-ão e, morto, depois de três dias Ele ressuscitará» (Mc 9,31).
Há quem ponha em causa o valor do sepulcro vazio como prova da ressurreição de Jesus. Alguns põem a hipótese de os inimigos de Jesus terem roubado o seu corpo, para afligirem e enganarem os Apóstolos. Mas esta teoria não tem qualquer fundamento ou consistência. Se eles tivessem em seu poder o corpo de Jesus, no momento em que os Apóstolos anunciavam a Sua ressurreição, teriam apresentado o cadáver, para assim desmentirem a sua pregação. Ora isso não aconteceu.
Segundo outros, teriam sido os apóstolos a roubar o corpo do Mestre, para, desta forma, iludirem os seus contemporâneos. Mas também esta hipótese não tem qualquer consistência. Na verdade, se eles tivessem consigo o corpo de Jesus, como explicar que eles continuassem a anunciar a sua mensagem, a proclamar a sua ressurreição, quando já eram perseguidos, encarcerados (e alguns martirizados) por causa do nome de Jesus?
Dificilmente alguém dá a sua vida por um vivo! Mas ninguém dá a sua vida por um cadáver! Não tinha sentido algum continuar a seguir Jesus, arriscar a sua própria vida, se não estivessem animados por uma certeza inabalável: Jesus continuava vivo.
          A Ressurreição de Jesus
2.       Na verdade, não temos apenas o sepulcro vazio a testemunhar a ressurreição de Jesus, temos também as aparições. Marcos refere que Jesus apareceu, em primeiro lugar, a Maria Madalena. Depois, apareceu a dois discípulos (muito provavelmente os dois discípulos que se dirigiam para Emaús). Finalmente, manifestou-se aos Apóstolos (16,14). Os restantes evangelistas e São Paulo registam ainda outras aparições, confirmando, deste
modo, que a ressurreição de Jesus não é uma invenção dos Apóstolos e dos cristãos dos primeiros tempos, mas merece todo o crédito, pois foi testemunhada por muitas pessoas e em diversas circunstâncias.
3.       É este Jesus ressuscitado, este Senhor da vida e da morte, que confia aos Apóstolos a tarefa de continuarem a sua missão na terra: "Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda a criatura" (Mc16,15). O Evangelho que os Apóstolos devem proclamar é o próprio Jesus, a Sua vida e a Sua mensagem, sobretudo o Seu mistério pascal. E esta Boa Nova deve ser proclamada a todas as pessoas, a todos os povos, em todos os tempos.

2. Actos dos Apóstolos: autor, data e personagem

O evangelista São Lucas, para além do seu evangelho, escreveu uma segunda obra conhecida pelo nome de Actos dos Apóstolos. Através dela, Lucas quer mostrar que os Apóstolos cumpriram o mandato de Jesus, que continuaram a sua missão e que o evangelho chegou até ao mundo pagão.
          Esta obra, escrita por volta do ano 85, quando o Evangelho já tinha atravessado as fronteiras de Israel e penetrado no vasto império romano (o mundo pagão), só nos relata alguns dos acontecimentos, considerados mais significativos, da intensa actividade missionária dos Apóstolos e discípulos. Embora o livro se chame Actos dos Apóstolos, ele está dominado pela acção de Pedro e Paulo. Pedro aparece na primeira parte (cc.1-15). Paulo é o protagonista principal de tudo o que é narrado na segunda parte (cc.16-28).
3. Os Apóstolos continuam a missão do ressuscitado
          No início da sua obra, Lucas começa por recordar os grandes acontecimentos da vida de Jesus que vêm narrados nos evangelhos: o que fez e ensinou, a sua paixão, ressurreição e ascensão (1,1-5). Recorda também as últimas palavras e recomendações dirigidas aos Apóstolos: «... recebereis uma força, a do Espírito Santo que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra» (1,8).
          Não basta pregar. É necessário ser testemunha. Os Apóstolos devem testemunhar o que viram e ouviram durante toda a vida pública de Jesus, isto é, desde o baptismo de João até ao dia em que Jesus foi arrebatado para o céu.
          Toda a vida de Jesus, segundo os Evangelistas, se orienta para Jerusalém. Nesta cidade, Jesus conclui a sua missão na terra. Ora, onde Jesus termina a sua missão deve começar a missão dos Apóstolos. Assim, é posta em evidência a continuidade que existe entre Jesus e os Apóstolos, entre a acção e missão de Jesus e a acção e missão dos Apóstolos. Jerusalém é o ponto de partida. Porém, a meta a alcançar será os confins da terra. Na realidade, o livro dos Actos termina quando Paulo chega a Roma, a capital do mundo pagão.
          Para que os Apóstolos possam levar a bom termo a missão que lhes é confiada, Jesus promete-   -lhes o Espírito Santo. Este é o Espírito da verdade que dará força e coragem aos Apóstolos e lhes ensinará toda a verdade, ou seja, ajuda-Ios-á a compreenderem perfeitamente a vida e a mensagem de Jesus que eles devem anunciar e testemunhar.
3.1. A acção do Espírito Santo na pregação dos Apóstolos
1. Esta promessa cumpre-se no dia da festa do Pentecostes (Act 2,1-4). Com efeito, o Espírito Santo desce sobre os Apóstolos, no dia em que os Judeus celebravam a festa do Pentecostes. Esta festa tinha lugar 50 dias após a Páscoa. Era, antes de mais, uma festa agrícola, ligada à cereais, no início do Verão. A partir do séc. III a.C., os judeus celebravam também, nessa altura, o dom da Lei. Lei que Deus entregara ao povo, por ocasião da aliança do Sinai.

          Foi nesse dia que «todos ficaram repletos do Espírito Santo...» (2,4). E é nesse mesmo dia que os Apóstolos, na pessoa de Pedro, começam a proclamar o Evangelho na cidade de Jerusalém, cumprindo a ordem do Senhor. Pedro dirige a palavra a todos aqueles judeus que acorreram até às imediações do Cenáculo, movidos pelos sinais extraordinários que acompanharam a descida do Espírito Santo.
          2. Pedro começa por mostrar aos seus ouvintes que tudo, quanto acaba de acontecer, já tinha sido anunciado por meio do profeta Joel: «Sim, sobre os meus servos e minhas servas derramarei o meu Espírito...» (JI 3,1-5). Em seguida, anuncia-lhes Jesus de Nazaré, centrando-se no mistério da Sua morte e ressurreição: «...vós que matastes, crucificando-O pela mão dos ímpios. Mas Deus O ressuscitou, libertando-O das angústias da morte" (2,23-24). Muitos, naquele dia, acreditam em Jesus e recebem o baptismo.
          Reparai na força e coragem que o Espírito Santo infunde nos Apóstolos. Aqueles que antes estavam fechados no Cenáculo, com medo dos Judeus, agora anunciam com entusiasmo o Evangelho de Jesus! Por outro lado, o Espírito Santo, que é Espírito de amor e de verdade, permite que muitos compreendam e aceitem a pregação dos Apóstolos. O episódio das línguas pode entender-se deste modo: o mesmo Espírito Santo possibilita que povos diferentes, que falam diversas línguas, escutem a mesma linguagem do Evangelho, que é a linguagem universal do amor. Ao tempo em que Lucas escreveu os Actos, isto já era realidade. Nos diversos do império romano, havia pessoas que se encontravam unidas pelo mesmo Evangelho, pela mesma força do Espírito Santo.
          3. A partir de Jerusalém, o Evangelho chega à Samaria, sobretudo através da acção do diácono Filipe. Na Samaria, já estivera Jesus. Todos nós recordamos o episódio de Jesus com a mulher Samaritana, junto ao poço de Jacob. No entanto, é com Filipe que tem lugar o início da evangelização dos habitantes daquela região. Também aí, é com entusiasmo e alegria que as pessoas escutam e acolhem o Evangelho: «E foi grande a alegria naquela cidade» (8,8).
          3.2. O Evangelho é anunciado aos pagãos
          1. Importa também referir que é Filipe quem anuncia Jesus Cristo a um etíope, um alto funcionário de Candace, rainha da Etiópia (8, 27). Este homem não pertencia ao povo judaico, mas era adorador do Deus de Israel e, nessa condição, viera ao templo de Jerusalém. Quando regressava à sua terra, lia um texto do profeta Isaías que dizia respeito a Jesus. Mas, como ele ainda não tinha ouvido falar de Jesus, não conseguia compreender a mensagem do texto. É então que aparece junto dele o diácono Filipe que lhe explica o texto de Isaías aplicando-o a Jesus Cristo: «Como ovelha foi levado ao matadouro..." (Is 53,7-8). Ouvida a explicação de Filipe, o etíope adere a Jesus e pede o baptismo. Deste modo, o Evangelho chega bem longe das fronteiras de Israelà Etiópia.
          Este episódio vem dizer-nos que o homem, só por si mesmo, com dificuldade chega ao verdadeiro conhecimento do Deus de Jesus Cristo.
          2. Avancemos até ao capítulo 10. Surge de novo em acção o apóstolo Pedro. Iluminado por Deus, Pedro é chamado a anunciar o Evangelho a um homem pagão, Cornélio. Este homem era um centurião romano e vivia na cidade de Cesareia marítima. «Era piedoso e temente a Deus, com toda a sua casa; dava muitas esmolas ao povo judeu e orava a Deus constantemente» (10, 2).
          Lucas dá-nos conta de uma visão de Pedro, em que Deus lhe revela claramente que o Evangelho se destina também aos pagãos, sem necessidade destes se submeterem às leis dos judeus. Na verdade, entre os cristãos de origem judaica, havia alguns que hesitavam em anunciar o evangelho aos pagãos e outros queriam que os pagãos aceitassem as leis e costumes dos judeus, antes de serem admitidos à fé e ao baptismo. Ora, através dessa visão, Pedro compreendeu que todas essas posições não tinham qualquer razão de ser.
          E em casa de Cornélio inicia o seu discurso com estas palavras: "Dou-me conta, em verdade, de que Deus não faz distinção de pessoas, mas que, em qualquer nação, quem O teme e pratica a justiça Lhe é agradável" (10,34-35). Com estas palavras, Pedra quer dizer que Deus ama todos os homens e quer a salvação de todos. O que distingue os homens diante de Deus não é o facto de pertencerem a este ou àquele povo, mas praticarem ou não a justiça e procuram sinceramente a Deus. E a mensagem de Pedro a Cornélio é confirmada com a descida do Espírito Santo: «Pedro estava ainda a falar... quando o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a Palavra" (10,44). Se o Espírito Santo desce sobre Cornélio e sobre todos aqueles que escutam e aceitam a Palavra de Deus, independentemente da sua proveniência, os judeus devem entender e aceitar que os gentios são chamados à salvação e não se lhes pode negar o baptismo. «Poderia alguém recusar a água do baptismo para estes, que receberam o Espírito Santo assim como nós?» (10, 44). Abriam-se assim as portas ao anúncio do Evangelho entre os pagãos.
          Conclusão
          O livro dos Actos prossegue o relato da expansão do cristianismo, destacando a fundação da Igreja de Antioquia e a actividade missionária de Paulo. Este, desde Antioquia levará o Evangelho até Chipre, Ásia Menor (actual Turquia), Grécia (Tessalónica, Filipos, Atenas, Corinto) e também anunciará o Evangelho na cidade de Roma.

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