PARÓQUIAS DE NISA
Sexta, 01 de janeiro de 2016
SEXTA-FEIRA: Oitava do Natal do Senhor
SANTA MARIA, MÃE DE DEUS – SOLENIDADE
Branco – Ofício da solenidade. Te Deum.
+ Missa própria, Glória, Credo, pf. de Nossa Senhora.
L1 Num 6, 22-27; Sal 66 (67), 2-3. 5- 6 e 8
L2 Gal 4, 4-7
Ev Lc 2, 16-21
* Proibidas todas as Missas de defuntos, mesmo a exequial.
Branco – Ofício da solenidade. Te Deum.
+ Missa própria, Glória, Credo, pf. de Nossa Senhora.
L1 Num 6, 22-27; Sal 66 (67), 2-3. 5- 6 e 8
L2 Gal 4, 4-7
Ev Lc 2, 16-21
* Proibidas todas as Missas de defuntos, mesmo a exequial.
MISSA
Missa
ANTÍFONA DE ENTRADA
Salvé, Santa Mãe, que destes à luz o Rei do céu e da terra.
Ou cf. Is 9, 2.6; Lc 1,33
Hoje sobre nós resplandece uma luz: nasceu o Senhor.
O seu nome será admirável, Deus forte, Pai da eternidade,
Príncipe da paz. E o seu reino não terá fim.
Salvé, Santa Mãe, que destes à luz o Rei do céu e da terra.
Ou cf. Is 9, 2.6; Lc 1,33
Hoje sobre nós resplandece uma luz: nasceu o Senhor.
O seu nome será admirável, Deus forte, Pai da eternidade,
Príncipe da paz. E o seu reino não terá fim.
Diz-se o Glória.
ORAÇÃO
Senhor nosso Deus,
que, pela virgindade fecunda de Maria Santíssima,
destes aos homens a salvação eterna,
fazei-nos sentir a intercessão daquela
que nos trouxe o Autor da vida, Jesus Cristo, vosso filho.
Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I Num 6, 22-27
«Invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel e Eu os abençoarei»
Leitura do Livro dos Números
O Senhor disse a Moisés: «Fala a Aarão e aos seus filhos e diz-lhes: Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo: ‘O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz’. Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel e Eu os abençoarei».
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Salmo 66 (67), 2-3.5.6 e 8 (R. 2a)
Refrão: Deus Se compadeça de nós
e nos dê a sua bênção. Repete-se
Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção,
resplandeça sobre nós a luz do seu rosto.
Na terra se conhecerão os seus caminhos
e entre os povos a sua salvação. Refrão
Alegrem-se e exultem as nações,
porque julgais os povos com justiça
e governais as nações sobre a terra. Refrão
Os povos Vos louvem, ó Deus,
todos os povos Vos louvem.
Deus nos dê a sua bênção
e chegue o seu temor aos confins da terra. Refrão
LEITURA II Gal 4, 4-7
«Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher»
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas
SALMO RESPONSORIAL Salmo 66 (67), 2-3.5.6 e 8 (R. 2a)
Refrão: Deus Se compadeça de nós
e nos dê a sua bênção. Repete-se
Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção,
resplandeça sobre nós a luz do seu rosto.
Na terra se conhecerão os seus caminhos
e entre os povos a sua salvação. Refrão
Alegrem-se e exultem as nações,
porque julgais os povos com justiça
e governais as nações sobre a terra. Refrão
Os povos Vos louvem, ó Deus,
todos os povos Vos louvem.
Deus nos dê a sua bênção
e chegue o seu temor aos confins da terra. Refrão
LEITURA II Gal 4, 4-7
«Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher»
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas
Irmãos: Quando chegou a plenitude dos tempos,
Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar
os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adotivos. E porque sois
filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama:
«Abá! Pai!». Assim, já não és escravo, mas filho. E, se és filho, também és
herdeiro, por graça de Deus.
Palavra do Senhor.
ALELUIA Hebr 1, 1-2
Refrão: Aleluia. Repete-se
Muitas vezes e de muitos modos
falou Deus antigamente aos nossos pais pelos Profetas.
Nestes dias, que são os últimos,
Deus falou-nos por seu Filho. Refrão
EVANGELHO Lc 2, 16-21
«Encontraram Maria, José e o Menino.
ALELUIA Hebr 1, 1-2
Refrão: Aleluia. Repete-se
Muitas vezes e de muitos modos
falou Deus antigamente aos nossos pais pelos Profetas.
Nestes dias, que são os últimos,
Deus falou-nos por seu Filho. Refrão
EVANGELHO Lc 2, 16-21
«Encontraram Maria, José e o Menino.
Evangelho de Nosso Senhor
Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, os pastores dirigiram-se apressadamente para Belém e encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura. Quando O viram, começaram a contar o que lhes tinham anunciado sobre aquele Menino. E todos os que ouviam admiravam-se do que os pastores diziam. Maria conservava todos estes acontecimentos, meditando-os em seu coração. Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes tinha sido anunciado. Quando se completaram os oito dias para o Menino ser circuncidado, deram-Lhe o nome de Jesus, indicado pelo Anjo, antes de ter sido concebido no seio materno.
Palavra da salvação.
Diz-se o Credo.
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Senhor nosso Deus,
que dais origem a todos os bens
e os levais à sua plenitude,
nós vos pedimos,
nesta solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus:
Assim como celebramos festivamente as primícias da vossa graça,
tenhamos também a alegria de receber os seus frutos.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Prefácio de Nossa Senhora I [na maternidade]
No Cânone
Romano diz-se o communicantes (Em comunhão com toda a Igreja) próprio. Nas Orações
Eucarísticas II e III faz-se também a comemoração própria do Natal.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO Hebr 13, 8
Jesus Cristo, ontem e hoje e por toda a eternidade.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Senhor nosso Deus,
recebemos com alegria os vossos sacramentos
nesta solenidade em que proclamamos
a Virgem Santa Maria, Mãe do vosso Filho e Mãe da Igreja:
fazei que esta comunhão nos ajude a crescer para a vida eterna.
Por Nosso Senhor.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO Hebr 13, 8
Jesus Cristo, ontem e hoje e por toda a eternidade.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Senhor nosso Deus,
recebemos com alegria os vossos sacramentos
nesta solenidade em que proclamamos
a Virgem Santa Maria, Mãe do vosso Filho e Mãe da Igreja:
fazei que esta comunhão nos ajude a crescer para a vida eterna.
Por Nosso Senhor.
«Feliz Aquela que acreditou»
MÉTODO DE ORAÇÃO
BÍBLICA
3.Leitura: Lê, respeita, situa o que lês
- Detém-te no conteúdo de fé e da passagem que leste
2.
Meditação: Interioriza,
dialoga, atualiza o que leste
- Deixa que a passagem da Palavra de Deus que leste “leia a tua vida”
3. Oração: Louva
o Senhor, suplica, escuta
- Dirige-te a Deus que te falou através da Sua Palavra.
LEITURAS
1 Num 6, 22-27: Recitada sobre o
povo, que se havia reunido para o sacrifício da manhã, esta bênção sacerdotal é
um augúrio de paz para os filhos de Israel. Esta «paz», que em si concentra
todos os bens, é um dom de Deus. Invadiu o mundo com o Nascimento de Jesus,
pois o Salvador, realizando em Si as promessas divinas de salvação,
reconciliou-nos com o Pai e estabeleceu relações fraternais entre os homens.
Mas esta Paz, que se fundamenta na Paternidade divina, é também uma conquista
do homem. Na verdade, a paz, antes de ser uma realidade externa, é uma
disposição interior. «Se antes não se travassem guerras em milhões de corações,
também se não travariam no campo de batalha». Cada um de nós deve ser, pois,
construtor da paz verdadeira.
Gal
4, 4-7 :O Mistério da Incarnação realiza-se na plenitude dos
tempos, no termo duma longa expectativa da humanidade, numa maravilhosa
manifestação da benevolência divina. Em Cristo, com efeito, Deus cumula os
homens de todas as bênçãos, concedendo-lhes a filiação divina e libertando-os
da escravidão da lei mosaica. Para produzir, porém, este duplo efeito, a
Encarnação realiza-se pela via normal dos homens e da lei. Cristo aceita um
nascimento humano e a submissão à lei. A lei situa-O na História da Salvação,
na História do Seu Povo; Maria situa-O entre os homens, Seus irmãos, que vem
libertar e salvar, tornando-os, à Sua semelhança, filhos do Pai. Maria assume
assim um papel insubstituível nesta revelação da Paternidade divina. É a Mãe de
Deus, que concebe Seu Filho por obra e graça do Espírito Santo. É a Mãe da
Igreja, Corpo de Cristo na terra.
Lc 2, 16-21: De todos aqueles que virão a ser adotados em Cristo como
filhos de Deus, os pastores são os primeiros a receberem a Boa Notícia da
Salvação. É, porém, junto de Maria, Sua Mãe, a primeira crente, a totalmente
disponível a Deus, que encontram o Salvador e, n’Ele, se encontram com Deus. A
intervenção discreta de Maria ajudou-os, na verdade, a descobrir o verdadeiro
rosto de Seu Filho. «A Virgem Santíssima, predestinada para Mãe de Deus desde
toda a eternidade, simultaneamente com a Encarnação do Verbo, por disposição da
divina providência foi na terra a nobre Mãe do divino Redentor, a Sua mais
generosa cooperadora e a escrava humilde do Senhor – Cooperou de modo singular,
com a sua fé, esperança e ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar
nas almas a vida sobrenatural. É por esta razão nossa Mãe na ordem da graça»
(LG., 61).
ORAÇÃO - Senhor nosso Deus, fazei-nos
sentir a intercessão daquela que nos trouxe o Autor da vida, Jesus Cristo,
vosso filho.
AGENDA
09.30 horas: Missa em Amieira do Tejo
10.45 horas: Missa em Tolosa
11.00 horas: Missa em Arez
11.00 horas: Missa em Nisa – Sra da Graça
15.30 horas: Missa em Montalvão
INTENÇÕES
DO SANTO PADRE
dezembro 2015
Ofereço-Vos, ó meu
Deus, em união com o Santíssimo Coração de Jesus e por meio do Coração Imaculado
de Maria, as orações, os trabalhos, as alegrias e os sofrimentos deste dia, em
reparação de todas as ofensas e por todas as intenções pelas quais o mesmo
Divino Coração está continuamente intercedendo e sacrificando-se nos nossos
altares. Eu Vo-los ofereço de modo particular pelas intenções do Santo Padre
para este mês:
Universal: Experimentar
a misericórdia de Deus
Para que todos experimentemos a misericórdia de Deus, que nunca Se cansa de perdoar.
Para que todos experimentemos a misericórdia de Deus, que nunca Se cansa de perdoar.
Pela Evangelização: Natal,
esperança para as famílias
Para que as famílias, de modo particular as que sofrem, encontrem no nascimento de Jesus um sinal de esperança segura.
Para que as famílias, de modo particular as que sofrem, encontrem no nascimento de Jesus um sinal de esperança segura.
Mensagem
do Papa para o dia da paz 2016
MENSAGEM
DO SANTO PADRE
FRANCISCO
PARA A CELEBRAÇÃO DO
XLIX DIA MUNDIAL DA PAZ
FRANCISCO
PARA A CELEBRAÇÃO DO
XLIX DIA MUNDIAL DA PAZ
1º
DE JANEIRO DE 2016
VENCE A INDIFERENÇA E CONQUISTA A PAZ
1. Deus
não é indiferente; importa-Lhe a humanidade! Deus não a abandona! Com esta
minha profunda convicção, quero, no início do novo ano, formular votos de paz e
bênçãos abundantes, sob o signo da esperança, para o futuro de cada homem e
mulher, de cada família, povo e nação do mundo, e também dos chefes de Estado e
de governo e dos responsáveis das religiões. Com efeito, não perdemos a
esperança de que o ano de 2016 nos veja a todos firme e confiadamente
empenhados, nos diferentes níveis, a realizar a justiça e a trabalhar pela paz.
Na verdade, esta é dom de Deus e trabalho dos homens; a paz é dom de Deus, mas
confiado a todos os homens e a todas as mulheres, que são chamados a realizá-lo.
Conservar as razões da esperança
2. Embora o ano passado tenha sido
caracterizado, do princípio ao fim, por guerras e actos terroristas, com as
suas trágicas consequências de sequestros de pessoas, perseguições por motivos
étnicos ou religiosos, prevaricações, multiplicando-se cruelmente em muitas
regiões do mundo, a ponto de assumir os contornos daquela que se poderia chamar
uma «terceira guerra mundial por pedaços», todavia alguns acontecimentos dos
últimos anos e também do ano passado incitam-me, com o novo ano em vista, a
renovar a exortação a não perder a esperança na capacidade que o homem tem, com
a graça de Deus, de superar o mal, não se rendendo à resignação nem à
indiferença. Tais acontecimentos representam a capacidade de a humanidade agir
solidariamente, perante as situações críticas, superando os interesses
individualistas, a apatia e a indiferença.
Dentre tais acontecimentos, quero recordar
o esforço feito para favorecer o encontro dos líderes mundiais, no âmbito da
Cop21, a fim de se procurar novos caminhos para enfrentar as alterações
climáticas e salvaguardar o bem-estar da terra, a nossa casa comum. E isto
remete para mais dois acontecimentos anteriores de nível mundial: a Cimeira de
Adis-Abeba para arrecadação de fundos destinados ao desenvolvimento sustentável
do mundo; e a adopção, por parte das Nações Unidas, da Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável, que visa assegurar, até ao referido ano, uma
existência mais digna para todos, sobretudo para as populações pobres da terra.
O ano de 2015 foi um ano especial para a
Igreja, nomeadamente porque registou o cinquentenário da publicação de dois
documentos do Concílio Vaticano II que exprimem, de forma muito eloquente, o
sentido de solidariedade da Igreja com o mundo. O Papa João XXIII, no início do
Concílio, quis escancarar as janelas da Igreja, para que houvesse, entre ela e
o mundo, uma comunicação mais aberta. Os dois documentos – Nostra aetate e Gaudium et spes – são expressões emblemáticas da nova
relação de diálogo, solidariedade e convivência que a Igreja pretendia
introduzir no interior da humanidade. Na Declaração Nostra aetate, a Igreja foi chamada a
abrir-se ao diálogo com as expressões religiosas não-cristãs. Na Constituição
pastoral Gaudium et spes – dado que «as alegrias e as
esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos
pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças,
as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo»[1] –, a Igreja desejava estabelecer um
diálogo com a família humana sobre os problemas do mundo, como sinal de
solidariedade, respeito e amor.[2]
Nesta mesma perspectiva, com o Jubileu da
Misericórdia, quero convidar a Igreja a rezar e trabalhar para que cada cristão
possa maturar um coração humilde e compassivo, capaz de anunciar e testemunhar
a misericórdia, de «perdoar e dar», de abrir-se «àqueles que vivem nas mais
variadas periferias existenciais, que muitas vezes o mundo contemporâneo cria
de forma dramática», sem cair «na indiferença que humilha, na habituação que
anestesia o espírito e impede de descobrir a novidade, no cinismo que destrói».[3]
Variadas são as razões para crer na
capacidade que a humanidade tem de agir, conjunta e solidariamente,
reconhecendo a própria interligação e interdependência e tendo a peito os
membros mais frágeis e a salvaguarda do bem comum. Esta atitude de solidária corresponsabilidade
está na raiz da vocação fundamental à fraternidade e à vida comum. A dignidade
e as relações interpessoais constituem-nos como seres humanos, queridos por
Deus à sua imagem e semelhança. Como criaturas dotadas de inalienável
dignidade, existimos relacionando-nos com os nossos irmãos e irmãs, pelos quais
somos responsáveis e com os quais agimos solidariamente. Fora desta relação,
passaríamos a ser menos humanos. É por isso mesmo que a indiferença constitui
uma ameaça para a família humana. No limiar dum novo ano, quero convidar a
todos para que reconheçam este facto a fim de se vencer a indiferença e
conquistar a paz.
Algumas formas de indiferença
3. Não há dúvida de que o comportamento do
indivíduo indiferente, de quem fecha o coração desinteressando-se dos outros,
de quem fecha os olhos para não ver o que sucede ao seu redor ou se esquiva
para não ser abalroado pelos problemas alheios, caracteriza uma tipologia
humana bastante difundida e presente em cada época da história; mas, hoje em dia,
superou decididamente o âmbito individual para assumir uma dimensão global,
gerando o fenómeno da «globalização da indiferença».
A primeira forma de indiferença na
sociedade humana é a indiferença para com Deus, da qual deriva também a
indiferença para com o próximo e a criação. Trata-se de um dos graves efeitos
dum falso humanismo e do materialismo prático, combinados com um pensamento
relativista e niilista. O homem pensa que é o autor de si mesmo, da sua vida e
da sociedade; sente-se auto-suficiente e visa não só ocupar o lugar de Deus,
mas prescindir completamente d’Ele; consequentemente, pensa que não deve nada a
ninguém, excepto a si mesmo, e pretende ter apenas direitos.[4] Contra esta errónea compreensão que a
pessoa tem de si mesma, Bento XVI recordava que nem o homem nem o seu
desenvolvimento são capazes, por si mesmos, de se atribuir o próprio
significado último;[5] e, antes dele, Paulo VI afirmara que
«não há verdadeiro humanismo senão o aberto ao Absoluto, reconhecendo uma
vocação que exprime a ideia exacta do que é a vida humana».[6]
A indiferença para com o próximo assume
diferentes fisionomias. Há quem esteja bem informado, ouça o rádio, leia os
jornais ou veja programas de televisão, mas fá-lo de maneira entorpecida, quase
numa condição de rendição: estas pessoas conhecem vagamente os dramas que
afligem a humanidade, mas não se sentem envolvidas, não vivem a compaixão. Este
é o comportamento de quem sabe, mas mantém o olhar, o pensamento e a acção
voltados para si mesmo. Infelizmente, temos de constatar que o aumento das
informações, próprio do nosso tempo, não significa, de por si, aumento de
atenção aos problemas, se não for acompanhado por uma abertura das consciências
em sentido solidário.[7] Antes, pode gerar uma certa saturação
que anestesia e, em certa medida, relativiza a gravidade dos problemas. «Alguns
comprazem-se simplesmente em culpar, dos próprios males, os pobres e os países
pobres, com generalizações indevidas, e pretendem encontrar a solução numa
“educação” que os tranquilize e transforme em seres domesticados e inofensivos.
Isto torna-se ainda mais irritante, quando os excluídos vêem crescer este
câncer social que é a corrupção profundamente radicada em muitos países – nos
seus governos, empresários e instituições – seja qual for a ideologia política
dos governantes».[8]
Noutros casos, a indiferença manifesta-se
como falta de atenção à realidade circundante, especialmente a mais distante.
Algumas pessoas preferem não indagar, não se informar e vivem o seu bem-estar e
o seu conforto, surdas ao grito de angústia da humanidade sofredora. Quase sem
nos dar conta, tornámo-nos incapazes de sentir compaixão pelos outros, pelos
seus dramas; não nos interessa ocupar-nos deles, como se aquilo que lhes sucede
fosse responsabilidade alheia, que não nos compete.[9]«Quando
estamos bem e comodamente instalados, esquecemo-nos certamente dos outros
(isto, Deus Pai nunca o faz!), não nos interessam os seus problemas, nem as
tribulações e injustiças que sofrem; e, assim, o nosso coração cai na
indiferença: encontrando-me relativamente bem e confortável, esqueço-me dos que
não estão bem».[10]
Vivendo nós numa casa comum, não podemos
deixar de nos interrogar sobre o seu estado de saúde, como procurei fazer na
Carta encíclica Laudato si’. A poluição das águas e do ar, a
exploração indiscriminada das florestas, a destruição do meio ambiente são,
muitas vezes, resultado da indiferença do homem pelos outros, porque tudo está
relacionado. E de igual modo o comportamento do homem com os animais influi
sobre as suas relações com os outros,[11] para não falar de quem se permite
fazer noutros lugares aquilo que não ousa fazer em sua casa.[12]
Nestes e noutros casos, a indiferença
provoca sobretudo fechamento e desinteresse, acabando assim por contribuir para
a falta de paz com Deus, com o próximo e com a criação.
A paz ameaçada pela indiferença
globalizada
4. A indiferença para com Deus supera a
esfera íntima e espiritual da pessoa individual e investe a esfera pública e
social. Como afirmava Bento XVI, «há uma ligação íntima entre a glorificação de
Deus e a paz dos homens na terra».[13] Com efeito, «sem uma abertura ao
transcendente, o homem cai como presa fácil do relativismo e, consequentemente,
torna-se-lhe difícil agir de acordo com a justiça e comprometer-se pela paz».[14] O esquecimento e a negação de Deus,
que induzem o homem a não reconhecer qualquer norma acima de si próprio e a
tomar como norma apenas a si mesmo, produziram crueldade e violência sem
medida.[15]
A nível individual e comunitário, a
indiferença para com o próximo – filha da indiferença para com Deus – assume as
feições da inércia e da apatia, que alimentam a persistência de situações de
injustiça e grave desequilíbrio social, as quais podem, por sua vez, levar a
conflitos ou de qualquer modo gerar um clima de descontentamento que ameaça
desembocar, mais cedo ou mais tarde, em violências e insegurança.
Neste sentido, a indiferença e consequente
desinteresse constituem uma grave falta ao dever que cada pessoa tem de
contribuir – na medida das suas capacidades e da função que desempenha na
sociedade – para o bem comum, especialmente para a paz, que é um dos bens mais
preciosos da humanidade.[16]
Depois, quando investe o nível
institucional, a indiferença pelo outro, pela sua dignidade, pelos seus
direitos fundamentais e pela sua liberdade, de braço dado com uma cultura
orientada para o lucro e o hedonismo, favorece e às vezes justifica acções e
políticas que acabam por constituir ameaças à paz. Este comportamento de
indiferença pode chegar inclusivamente a justificar algumas políticas
económicas deploráveis, precursoras de injustiças, divisões e violências, que
visam a consecução do bem-estar próprio ou o da nação. Com efeito, não é raro
que os projectos económicos e políticos dos homens tenham por finalidade a
conquista ou a manutenção do poder e das riquezas, mesmo à custa de espezinhar
os direitos e as exigências fundamentais dos outros. Quando as populações vêem
negados os seus direitos elementares, como o alimento, a água, os cuidados de
saúde ou o trabalho, sentem-se tentadas a obtê-los pela força.[17]
Por fim, a indiferença pelo ambiente
natural, favorecendo o desflorestamento, a poluição e as catástrofes naturais
que desenraízam comunidades inteiras do seu ambiente de vida, constrangendo-as
à precariedade e à insegurança, cria novas pobrezas, novas situações de
injustiça com consequências muitas vezes desastrosas em termos de segurança e
paz social. Quantas guerras foram movidas e quantas ainda serão travadas por
causa da falta de recursos ou para responder à demanda insaciável de recursos
naturais?[18]
Da indiferença à misericórdia: a conversão
do coração
5. Quando, há um ano – na Mensagem para o Dia Mundial da Paz intitulada «já não escravos, mas
irmãos» –, evoquei o primeiro ícone bíblico da fraternidade humana, o ícone de
Caim e Abel (cf. Gn 4, 1-16), fi-lo para evidenciar o modo
como foi traída esta primeira fraternidade. Caim e Abel são irmãos. Provêm
ambos do mesmo ventre, são iguais em dignidade e criados à imagem e semelhança
de Deus; mas a sua fraternidade de criaturas quebra-se. «Caim não só não
suporta o seu irmão Abel, mas mata-o por inveja».[19] E assim o fratricídio torna-se a forma
de traição, sendo a rejeição, por parte de Caim, da fraternidade de Abel a
primeira ruptura nas relações familiares de fraternidade, solidariedade e
respeito mútuo.
Então Deus intervém para chamar o homem à
responsabilidade para com o seu semelhante, precisamente como fizera quando
Adão e Eva, os primeiros pais, quebraram a comunhão com o Criador. «O Senhor disse
a Caim: “Onde está o teu irmão Abel?” Caim respondeu: “Não sei dele. Sou,
porventura, guarda do meu irmão?” O Senhor replicou: “Que fizeste? A voz do
sangue do teu irmão clama da terra até Mim”» (Gn 4, 9-10).
Caim diz que não sabe o que aconteceu ao seu
irmão, diz que não é o seu guardião. Não se sente responsável pela sua vida,
pelo seu destino. Não se sente envolvido. É-lhe indiferente o seu irmão, apesar
de ambos estarem ligados pela origem comum. Que tristeza! Que drama fraterno,
familiar, humano! Esta é a primeira manifestação da indiferença entre irmãos.
Deus, ao contrário, não é indiferente: o sangue de Abel tem grande valor aos
seus olhos e pede contas dele a Caim. Assim, Deus revela-Se, desde o início da
humanidade, como Aquele que se interessa pelo destino do homem. Quando, mais
tarde, os filhos de Israel se encontram na escravidão do Egipto, Deus intervém
de novo. Diz a Moisés: «Eu bem vi a opressão do meu povo que está no Egipto, e
ouvi o seu clamor diante dos seus inspectores; conheço, na verdade, os seus
sofrimentos. Desci a fim de o libertar da mão dos egípcios e de o fazer subir
desta terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra que mana leite e mel»
(Ex 3, 7-8). É importante
notar os verbos que descrevem a intervenção de Deus: Ele observa, ouve,
conhece, desce, liberta. Deus não é indiferente. Está atento e age.
De igual modo, no seu Filho Jesus, Deus
desceu ao meio dos homens, encarnou e mostrou-Se solidário com a humanidade em
tudo, excepto no pecado. Jesus identificava-Se com a humanidade: «o primogénito
de muitos irmãos» (Rm 8,
29). Não se contentava em ensinar às multidões, mas preocupava-Se com elas,
especialmente quando as via famintas (cf. Mc 6, 34-44) ou sem trabalho (cf. Mt 20, 3). O seu olhar não Se fixava
apenas nos seres humanos, mas também nos peixes do mar, nas aves do céu, na
erva e nas árvores, pequenas e grandes; abraçava a criação inteira. Ele vê sem
dúvida, mas não Se limita a isso, pois toca as pessoas, fala com elas, age em
seu favor e faz bem a quem precisa. Mais ainda, deixa-Se comover e chora (cf. Jo 11, 33-44). E age para acabar com o
sofrimento, a tristeza, a miséria e a morte.
Jesus ensina-nos a ser misericordiosos
como o Pai (cf. Lc 6, 36). Na parábola do bom samaritano
(cf. Lc 10, 29-37), denuncia a omissão de
ajuda numa necessidade urgente dos seus semelhantes: «ao vê-lo, passou adiante»
(Lc 10, 32). Ao mesmo
tempo, com este exemplo, convida os seus ouvintes, e particularmente os seus
discípulos, a aprenderem a parar junto dos sofrimentos deste mundo para os
aliviar, junto das feridas dos outros para as tratar com os recursos de que
disponham, a começar pelo próprio tempo apesar das muitas ocupações. Na
realidade, muitas vezes a indiferença procura pretextos: na observância dos
preceitos rituais, na quantidade de coisas que é preciso fazer, nos
antagonismos que nos mantêm longe uns dos outros, nos preconceitos de todo o
género que impedem de nos fazermos próximo.
A misericórdia é o coração de Deus. Por
isso deve ser também o coração de todos aqueles que se reconhecem membros da
única grande família dos seus filhos; um coração que bate forte onde quer que
esteja em jogo a dignidade humana, reflexo do rosto de Deus nas suas criaturas.
Jesus adverte-nos: o amor aos outros – estrangeiros, doentes, encarcerados, pessoas
sem-abrigo, até inimigos – é a unidade de medida de Deus para julgar as nossas
acções. Disso depende o nosso destino eterno. Não é de admirar que o apóstolo
Paulo convide os cristãos de Roma a alegrar-se com os que se alegram e a chorar
com os que choram (cf. Rm 12, 15), ou recomende aos de Corinto
que organizem colectas em sinal de solidariedade com os membros sofredores da
Igreja (cf. 1 Cor 16, 2-3). E São João escreve: «Se
alguém possuir bens deste mundo e, vendo o seu irmão com necessidade, lhe fechar
o seu coração, como é que o amor de Deus pode permanecer nele?» (1 Jo 3, 17; cf. Tg 2, 15-16).
É por isso que «é determinante para a
Igreja e para a credibilidade do seu anúncio que viva e testemunhe, ela mesma,
a misericórdia. A sua linguagem e os seus gestos, para penetrarem no coração
das pessoas e desafiá-las a encontrar novamente a estrada para regressar ao
Pai, devem irradiar misericórdia. A primeira verdade da Igreja é o amor de
Cristo. E, deste amor que vai até ao perdão e ao dom de si mesmo, a Igreja
faz-se serva e mediadora junto dos homens. Por isso, onde a Igreja estiver
presente, aí deve ser evidente a misericórdia do Pai. Nas nossas paróquias, nas
comunidades, nas associações e nos movimentos – em suma, onde houver cristãos
–, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia».[20]
Deste modo, também nós somos chamados a
fazer do amor, da compaixão, da misericórdia e da solidariedade um verdadeiro
programa de vida, um estilo de comportamento nas relações de uns com os outros.[21] Isto requer a conversão do coração,
isto é, que a graça de Deus transforme o nosso coração de pedra num coração de
carne (cf. Ez 36, 26), capaz de se abrir aos outros
com autêntica solidariedade. Com efeito, esta é muito mais do que um
«sentimento de compaixão vaga ou de enternecimento superficial pelos males
sofridos por tantas pessoas, próximas ou distantes».[22] A solidariedade «é a determinação
firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum, ou seja, pelo bem de todos
e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos»,[23] porque a compaixão brota da
fraternidade.
Assim entendida, a solidariedade constitui
a atitude moral e social que melhor dá resposta à tomada de consciência das
chagas do nosso tempo e da inegável interdependência que se verifica cada vez
mais, especialmente num mundo globalizado, entre a vida do indivíduo e da sua
comunidade num determinado lugar e a de outros homens e mulheres no resto do
mundo.[24]
Fomentar uma cultura de solidariedade e
misericórdia para se vencer a indiferença
6. A solidariedade como virtude moral e
comportamento social, fruto da conversão pessoal, requer empenho por parte duma
multiplicidade de sujeitos que detêm responsabilidades de carácter educativo e
formativo.
Penso em primeiro lugar nas famílias,
chamadas a uma missão educativa primária e imprescindível. Constituem o
primeiro lugar onde se vivem e transmitem os valores do amor e da fraternidade,
da convivência e da partilha, da atenção e do cuidado pelo outro. São também o
espaço privilegiado para a transmissão da fé, a começar por aqueles primeiros
gestos simples de devoção que as mães ensinam aos filhos.[25]
Quanto aos educadores e formadores que têm
a difícil tarefa de educar as crianças e os jovens, na escola ou nos vários
centros de agregação infantil e juvenil, devem estar cientes de que a sua
responsabilidade envolve as dimensões moral, espiritual e social da pessoa. Os
valores da liberdade, respeito mútuo e solidariedade podem ser transmitidos
desde a mais tenra idade. Dirigindo-se aos responsáveis das instituições que
têm funções educativas, Bento XVI afirmava: «Possa cada ambiente educativo ser
lugar de abertura ao transcendente e aos outros; lugar de diálogo, coesão e
escuta, onde o jovem se sinta valorizado nas suas capacidades e riquezas
interiores e aprenda a apreciar os irmãos. Possa ensinar a saborear a alegria
que deriva de viver dia após dia a caridade e a compaixão para com o próximo e
de participar activamente na construção duma sociedade mais humana e fraterna».[26]
Também os agentes culturais e dos meios de
comunicação social têm responsabilidades no campo da educação e da formação,
especialmente na sociedade actual onde se vai difundindo cada vez mais o acesso
a instrumentos de informação e comunicação. Antes de mais nada, é dever deles
colocar-se ao serviço da verdade e não de interesses particulares. Com efeito,
os meios de comunicação «não só informam, mas também formam o espírito dos seus
destinatários e, consequentemente, podem concorrer notavelmente para a educação
dos jovens. É importante ter presente a ligação estreitíssima que existe entre
educação e comunicação: de facto, a educação realiza-se por meio da comunicação,
que influi positiva ou negativamente na formação da pessoa».[27] Os agentes culturais e dos meios de
comunicação social deveriam também vigiar por que seja sempre lícito, jurídica
e moralmente, o modo como se obtêm e divulgam as informações.
A paz, fruto duma cultura de
solidariedade, misericórdia e compaixão
7. Conscientes da ameaça duma globalização
da indiferença, não podemos deixar de reconhecer que, no cenário acima
descrito, inserem-se também numerosas iniciativas e acções positivas que
testemunham a compaixão, a misericórdia e a solidariedade de que o homem é
capaz.
Quero recordar alguns exemplos de louvável
empenho, que demonstram como cada um pode vencer a indiferença, quando opta por
não afastar o olhar do seu próximo, e constituem passos salutares no caminho
rumo a uma sociedade mais humana.
Há muitas organizações não-governamentais
e grupos sócio-caritativos, dentro da Igreja e fora dela, cujos membros, por
ocasião de epidemias, calamidades ou conflitos armados, enfrentam fadigas e
perigos para cuidar dos feridos e doentes e para sepultar os mortos. Ao lado
deles, quero mencionar as pessoas e as associações que socorrem os emigrantes
que atravessam desertos e sulcam mares à procura de melhores condições de vida.
Estas acções são obras de misericórdia corporal e espiritual, sobre as quais
seremos julgados no fim da nossa vida.
Penso também nos jornalistas e fotógrafos,
que informam a opinião pública sobre as situações difíceis que interpelam as
consciências, e naqueles que se comprometem na defesa dos direitos humanos, em
particular os direitos das minorias étnicas e religiosas, dos povos indígenas,
das mulheres e das crianças, e de quantos vivem em condições de maior
vulnerabilidade. Entre eles, contam-se também muitos sacerdotes e missionários
que, como bons pastores, permanecem junto dos seus fiéis e apoiam-nos sem olhar
a perigos e adversidades, em particular durante os conflitos armados.
Além disso, quantas famílias, no meio de
inúmeras dificuldades laborais e sociais, se esforçam concretamente, à custa de
muitos sacrifícios, por educar os seus filhos «contracorrente» nos valores da
solidariedade, da compaixão e da fraternidade! Quantas famílias abrem os seus
corações e as suas casas a quem está necessitado, como os refugiados e os
emigrantes! Quero agradecer de modo particular a todas as pessoas, famílias,
paróquias, comunidades religiosas, mosteiros e santuários que responderam
prontamente ao meu apelo a acolher uma família de refugiados.[28]
Quero, enfim, mencionar os jovens que se
unem para realizar projectos de solidariedade, e todos aqueles que abrem as
suas mãos para ajudar o próximo necessitado nas suas cidades, no seu país ou
noutras regiões do mundo. Quero agradecer e encorajar todos aqueles que estão
empenhados em acções deste género, mesmo sem gozar de publicidade: a sua fome e
sede de justiça serão saciadas, a sua misericórdia far-lhes-á encontrar
misericórdia e, como obreiros da paz, serão chamados filhos de Deus (cf. Mt 5, 6-9).
A paz, sob o signo do Jubileu da
Misericórdia
8. No espírito do Jubileu da Misericórdia,
cada um é chamado a reconhecer como se manifesta a indiferença na sua vida e a
adoptar um compromisso concreto que contribua para melhorar a realidade onde
vive, a começar pela própria família, a vizinhança ou o ambiente de trabalho.
Também os Estados são chamados a cumprir
gestos concretos, actos corajosos a bem das pessoas mais frágeis da sociedade,
como os reclusos, os migrantes, os desempregados e os doentes.
Relativamente aos reclusos, urge em muitos
casos adoptar medidas concretas para melhorar as suas condições de vida nos
estabelecimentos prisionais, prestando especial atenção àqueles que estão
privados da liberdade à espera de julgamento,[29]tendo
em mente a finalidade reabilitativa da sanção penal e avaliando a possibilidade
de inserir nas legislações nacionais penas alternativas à detenção carcerária.
Neste contexto, desejo renovar às autoridades estatais o apelo a abolir a pena
de morte, onde ainda estiver em vigor, e a considerar a possibilidade duma
amnistia.
Quanto aos migrantes, quero dirigir um
convite a repensar as legislações sobre as migrações, de modo que sejam
animadas pela vontade de dar hospitalidade, no respeito pelos recíprocos
deveres e responsabilidades, e possam facilitar a integração dos migrantes.
Nesta perspectiva, dever-se-ia prestar especial atenção às condições para
conceder a residência aos migrantes, lembrando-se de que a clandestinidade traz
consigo o risco de os arrastar para a criminalidade.
Desejo ainda, neste Ano Jubilar, formular
um premente apelo aos líderes dos Estados para que realizem gestos concretos a
favor dos nossos irmãos e irmãs que sofrem pela falta de trabalho, terra e tecto. Penso
na criação de empregos dignos para contrastar a chaga social do desemprego, que
lesa um grande número de famílias e de jovens e tem consequências gravíssimas
no bom andamento da sociedade inteira. A falta de trabalho afecta, fortemente,
o sentido de dignidade e de esperança, e só parcialmente é que pode ser
compensada pelos subsídios, embora necessários, para os desempregados e suas
famílias. Especial atenção deveria ser dedicada às mulheres – ainda
discriminadas, infelizmente, no campo laboral – e a algumas categorias de
trabalhadores, cujas condições são precárias ou perigosas e cujos salários não
são adequados à importância da sua missão social.
Finalmente, quero convidar à realização de
acções eficazes para melhorar as condições de vida dos doentes, garantindo a
todos o acesso aos cuidados sanitários e aos medicamentos indispensáveis para a
vida, incluindo a possibilidade de tratamentos domiciliários.
E, estendendo o olhar para além das
próprias fronteiras, os líderes dos Estados são chamados também a renovar as
suas relações com os outros povos, permitindo a todos uma efectiva participação
e inclusão na vida da comunidade internacional, para que se realize a
fraternidade também dentro da família das nações.
Nesta perspectiva, desejo dirigir um
tríplice apelo: apelo a abster-se de arrastar os outros povos para conflitos ou
guerras que destroem não só as suas riquezas materiais, culturais e sociais,
mas também – e por longo tempo – a sua integridade moral e espiritual; apelo ao
cancelamento ou gestão sustentável da dívida internacional dos Estados mais pobres;
apelo à adopção de políticas de cooperação que, em vez de submeter à ditadura
dalgumas ideologias, sejam respeitadoras dos valores das populações locais e,
de maneira nenhuma, lesem o direito fundamental e inalienável dos nascituros à
vida.
Confio estas reflexões, juntamente com os
melhores votos para o novo ano, à intercessão de Maria Santíssima, Mãe solícita
pelas necessidades da humanidade, para que nos obtenha de seu Filho Jesus,
Príncipe da Paz, a satisfação das nossas súplicas e a bênção do nosso
compromisso diário por um mundo fraterno e solidário.
Vaticano, no dia da Solenidade da
Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria e da Abertura do Jubileu
Extraordinário da Misericórdia, 8 de Dezembro de 2015.
FRANCISCUS
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